Lages de Castro - Capítulo V - Grécia - 2023-1 - P. 65-75

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

História do Direito

Professora Doutora Zildete Inácio de Oliveira Martins

CAPÍTULO V – GRÉCIA

Referência bibliográfica:
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral
e Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
Capítulo V – Grécia, p. 65-75.

1. INTRODUÇÃO

Grécia não indica um nome de um país ou de uma unidade política na Antiguidade.


Antes de tudo, por suas condições geográficas e econômicas, Grécia na Antiguidade
significava uma região. Nas palavras de Rostovtzeff:

"A organização política da Grécia era ditada pelas condições


geográficas e econômicas. A natureza a dividira em pequenas
unidades econômicas e era incapaz de criar grandes sistemas
políticos. (...) Cada vale era independente (...). As melhores regiões
do país, especialmente seus férteis vales, estão abertas para o mar e
vedadas a terra (...). Eles estão mais em contato com os vizinhos
separados pelo mar do que com os que a terra aproxima."1

Quando se fala em Grécia, pode-se, também, falar até certo ponto de uma unidade
cultural, com deuses, dialetos e alguns hábitos em comum. Portanto, compreender esta
"não unidade" que era a Grécia significa buscar a compreensão do que seja uma Cidade
Estado.
A cidade não tinha o significado que hoje tem; cidade "era a associação religiosa e
política das famílias e das tribos"2. Era na cidade que o coração e a vida se centravam e o
território era somente um apêndice. O Estado ateniense, por exemplo, compreendia todos
os indivíduos livres que viviam em Atenas e mais todos aqueles que vrviam nos territórios da
Ática - região a que pertencia Atenas.3
Comum a todas as Cidades-Estado gregas era a crença - independente dos regimes
políticos a que se submetiam - de que na Cidade Estado:

"Governavam, não os homens, mas as leis. A legitimidade da 'lei


consuetudinária' - nomos (lei) ou pátrios politéia (constituição
1
ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986, p. 53s.
2
COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 1975, p. 106.
3
FOWLER, W. W. The city State os the greeks and romans. Londres: Macmillan, 1916, p. 8.
ancestral) para os gregos (...) - decorria da antiguidade venerável que
lhe era atribuída em forma histórica, ou, com maior frequência,
miticamente."4

Nos séculos VIII e VII a.C, as cidades gregas conheceram um grande


desenvolvimento urbano. Este não se deu de forma igual, mas explicava-se pelo grande
crescimento populacional do período somado a uma retomada do progresso tecnológico,
artesanal e comercial.
Este progresso gerou a queda das monarquias e o início de turbulências sociais que
acabaram por produzir legislações e famosos legisladores. Entre eles podemos citar: Zaleuco
de Locros, Carondas de Catania, Licurgo de Esparta, Dracon e Sólon de Atenas. Destes, so-
mente os dois últimos têm comprovada existência histórica.5
São numerosas as Cidades-Estado gregas, são numerosos seus legisladores e, em
momentos históricos diferentes, elas sobressaíram-se individualmente. Entretanto, duas
cidades apresentam-se como as mais intrigantes no tocante ao Direito: Esparta e Atenas.
Destas duas, a partir dos séculos VIII e VII a.C, ocuparemo-nos de forma mais atenta.

2 - ESPARTA

Esta foi uma das primeiras Cidades-Estado a surgir na Grécia, fundada no século IX
a.C. por invasores dórios nas margens do rio Eurotas, na Planície da Lacônia. O nome da
cidade deriva de uma planta da região.
A partir do século VII a.C. Esparta inicia um processo que vai culminar em um quase
total refreamento de qualquer tipo de evolução. Este processo é indicado pelos próprios
habitantes de Esparta como sendo obra de um legislador, não necessariamente histórico,
Licurgo.
"A evolução foi completamente detida, e toda a energia da raça
consagrou-se à manutenção destas instituições arcaicas que,
enrijecendo-se ainda mais, acabaram por esclerosar-se. Embora os
Antigos tenham todos afirmado e admitido sem discussão que as leis
(...) eram devidas a sabedoria do legislador Licurgo, tão ilustre quanto
desconhecido, pensa-se atualmente que esta atribuição de patrono
servia para disfarçar a obra de poderosas famílias, desejosas de
perpetuar o estado de coisas que mais lhe dava proveitos."6

2.1. SOCIEDADE
Esparta apresentava três camadas sociais:
 Os Espartíatas: eram os dórios, guerreiros que recebiam educação militar
especial.

4
CARDOSO, C. F. S. A cidade estado antiga. São Paulo: Ática, 1985, p. 12.
5
PETIT, P História Antiga. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1964, p. 80s.
6
Ibidem, p. 88
 Os Periecos: eram os aqueus, tinham boas condições materiais de vida, mas
nenhum direito político.
 Os Hilotas: eram escravos de propriedade do Estado, não tinham proteção
da lei e sua condição humana era uma das mais insuportáveis de todo o
mundo antigo.7

Embora possamos, à primeira vista, subentender que os espartíatas estariam com


uma situação de tal forma privilegiada nesta sociedade que a vida deles era tranquila, o
formato extremamente militarista da sociedade e da ideologia deste Estado fazia com que,
não obstante não precisassem calejar suas mãos pela sobrevivência diária em um arado, seu
cotidiano não era, de nenhuma maneira, sereno.

"É então que a sociedade adquire seus traços definitivos: hilotas,


servos do Estado, e periecos, sem direitos políticos, são dominados
pelos espartanos de raça pura, pouco numerosos desde o começo
(10.000 guerreiros), aliviados de qualquer preocupação material, que
se consagram desde os sete até os sessenta anos ao treinamento
militar, casam-se patrioticamente [aos] 30, mas dormem no quartel
até os 40, pagando com esta servidão militar a grandeza de serem os
melhores infantes do mundo e a austera alegria do dever cumprido."8

Para uma melhor compreensão do papel do espartíata na mentalidade militarista


deste estado, convém descrever sua educação, que, mesmo hoje, é indicada como um
adjetivo, significando rigidez extrema: a educação espartana.9
Desde a primeira infância, o espartíata era educado para viver para o Estado. Um
bebé, se julgado saudável por uma comissão especial de anciãos, estava imediatamente sob
supervisão pública. As crianças que não eram aprovadas por este julgamento eram
enjeitadas pelo governo e acabavam morrendo ou sendo acolhidas por algum hilota de bom
coração.
Até os sete anos a criança recebia cuidados de sua mãe e de amas especiais do
governo. Aos sete os meninos eram afastados de suas famílias e ingressavam em um grupo
militar comandado por um jovem espartíata, onde marchavam, faziam muita ginástica e
aprendiam alguma coisa de música e leitura.
Dos doze aos dezessete anos, estes meninos deviam ir para o campo, onde
deveriam sustentar-se somente com seu próprio esforço.

7
“Periodicamente, os mais vigorosos dentre eles eram assassinados. Os espartanos mais prudentes e
inteligentes eram mandados como agentes secretos do governo, aparecendo onde eram menos esperados
e matando os hilotas indesejáveis sem julgamento. A posição dos hilotas não era ruim: seu tributo de
produção aos seus senhores era estritamente definido e não era oneroso (...)." ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., p.
95.
8
PETIT, P. Op. cit., p. 88s.
9
Cf. ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., p. 95.
Estes garotos comiam alimentos preparados por eles mesmos e suas camas nada
mais eram que uma forragem de palha que eles próprios recolhiam nas margens do rio
Eurotas. Constantemente participavam de competições militares e de ginástica.

Com o intuito de desenvolver a independência destes meninos, eles eram


incentivados a roubar, principalmente alimentos. Entretanto, se mal-sucedido, o garoto era
surrado impiedosamente. O detalhe era que a surra não era dada por ele ter roubado, mas
por ter sido pego.
Aos dezessete anos o rapaz passava pela Kriptia, que consistia em esconder-se pelo
campo, munido de punhais e à noite degolar quantos escravos conseguisse apanhar. Quem
passasse por esta prova tornava-se adulto e recebia um lote de terra, ia viver então no
quartel, recebendo uma refeição por dia ao cair da tarde.
Os espartíatas não podiam casar-se até os trinta anos; poderiam apenas coabitar. A
partir desta idade podiam participar da Assembleia, se casar e deixar o cabelo crescer. Aos
sessenta, aposentavam-se do exército e podiam tomar parte do Conselho de Anciãos.
As meninas recebiam, praticamente, o mesmo treinamento físico dos meninos, para
que pudessem ser boas mães de espartíatas. Elas tinham mais liberdade que as mulheres de
outras Cidades-Estado da Antiguidade. Podiam receber herança e podiam enriquecer com o
comércio, atividade vedada totalmente aos homens.

2.2. ECONOMIA
A economia de Esparta também transformou-se a partir do século VII a.C. Surgiu
uma vasta propriedade estatal no lugar das antigas propriedades coletivas. Esta grande
propriedade era dividida, provavelmente, em 8.000 a 9.000 lotes, chamados cleros.
Distribuídas entre os guerreiros dórios, as terras não podiam ser cedidas ou
vendidas. O Estado detinha a posse legal e o cidadão (espartíata), o usufruto. Para o trabalho
nestas terras o Estado emprestava seis escravos por lote, já que estes eram, também,
propriedade dele.
Os periecos se dedicavam à agricultura e, mais esparsamente, à criação de
pequenos animais, ao artesanato, à mineração de ferro e ao comércio. Eles tinham a
propriedade de suas terras, mas estas eram sempre as da periferia, não necessariamente as
melhores.
Era, mesmo na economia, uma cidade diferente e, embora demonstrado de
maneira um tanto romântica, mostra-nos Xenofonte as bases econômicas "anti-
enriquecimento" atribuídas a Licurgo:

"Eis ainda as regras pelas quais Licurgo opôs Esparta aos outros
gregos. Nas outras cidades, sabe-se, todos se esforçam por ganhar
tanto dinheiro quanto possível. Um trabalha a terra, o outro arma um
navio, um outro pratica o grande comércio, outros ainda vivem dos
ofícios artesanais. Mas Esparta proibiu aos homens livres o
dedicarem-se a uma atividade lucrativa e prescreveu-lhes não ter por
dignas deles senão as actividades pelas quais as cidades se
constituem e permanecem livres. E, com efeito, por que se procuraria
a riqueza em um país onde o legislador fixou até a contribuição de
cada um dos produtos necessários à vida e à repartição igualitária, a
fim de impedir a aspiração à riqueza e às doçuras a que ela conduz?
Também não é para ter bons mantos que é necessário enriquecer; é
a beleza do corpo, não a sumptuosidade das roupas, que é seu
ornamento. Também não precisam amontoar dinheiro para
despender em largueza com seus comensais, pois o legislador deu
melhor renome ao esforço físico que se realiza para ajudar os
companheiros do que às despesas efetuadas com eles; mostrou que
as primeiras são o acto da alma; as segundas, da riqueza. Eis ainda
como ele impediu que enriquecessem injustamente. Primeiramente
instituiu uma moeda tal que dez minas não poderiam penetrar numa
casa sem o conhecimento dos senhores e dos domésticos (pelo seu
grande tamanho e peso): uma tal soma teria a necessidade de um
grande espaço e de uma carroça para transportar. Para mais, o ouro
e a prata são objeto de buscas e se se descobre algum em qualquer
lado, o seu possuidor é castigado. Por que se esforçaria, pois, alguém
para ganhar dinheiro onde a sua posse arranja mais aborrecimento
que o seu uso prazeres?"10

2.3 - POLÍTICA
Após o século em questão, a política espartana também se tornou extremamente
conservadora. O poder passou a ser monopolizado exclusivamente pela Gerúsia, ou
Conselho de Anciãos, esta era composta por vinte e oito Gerontes - cidadãos acima dos
sessenta anos -que tinham cargo vitalício e eram escolhidos por aclamação na Assembleia
(composta exclusivamente por espartíatas), que era somente um órgão consultivo, visto que
decidia por aplauso.
A Gerúsia escolhia - sob a ovação da Assembleia - o poder executivo: os Éforos,
cinco magistrados com mandato de um ano que tinham por função cuidar da educação das
crianças espartíatas (que era dever do Estado), fiscalizar a vida pública e julgar os processos
civis.

2.4 – CULTURA E IDEOLOGIA


Claramente, pelo acima exposto, fica claro que Esparta, do século VIII ao século IV
a.C, tinha uma característica cultural marcante e absoluta: o militarismo levado às últimas
consequências.
A este militarismo somava-se um esforço contundente e eficaz – como prova a sua
história – de manutenção do seu modo de vida, do status quo. Eles foram plenamente
vitoriosos neste campo, gerando por séculos a sociedade provavelmente mais imóvel da
história.
10
XENOFONTE apud AUSTIN, Michel et alli. Economia e sociedade na Grécia antiga. Lisboa: 70, 1986, p. 63.
Para explicar esta imobilidade é necessário entender três características dos
espartanos largamente incentivadas pelo Estado: a xenofobia, a xenelasia e o laconismo.
A xenofobia é a aversão, desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ou
por tudo que venha de outro lugar. Desta forma os espartanos de antemão rejeitavam
quaisquer ideias ou influências estrangeiras.
Xenelasia é o banimento ou impedimento de estadia de estrangeiros. Assim, os
espartanos não entravam em contato com ideias estranhas ao seu meio.
O Laconismo existe quando se fala somente o mínimo necessário e, mesmo assim,
utilizando-se do menor número de palavras possível. Esta é a característica que mais
proporcionalmente pode causar um refreamento nas mudanças de uma sociedade, visto
que, se levado ao extremo, diminui, inclusive, a atividade intelectual e criativa.

3. ATENAS

Atenas localiza-se na Península da Ática e estende-se pelo mar na direção leste. Ela
é separada do resto da Grécia por montanhas muito altas, porém de fácil acesso. Sua
situação geográfica protegeu-a das invasões, principalmente de Dórios, e facilitou-lhe a vida
política à medida que:

"(...) Nessa região as condições eram favoráveis à união de


considerável território em torno de um centro político. Ela forma
uma só unidade geográfica da qual a saída mais conveniente para o
mar é formada pelos dois portos de Atenas (...)."11

No século VIII a.C. a economia de Atenas era, ainda, basicamente, rural. Entretanto,
as atividades artesanais e comerciais já cresciam e ultrapassavam os limites da região.
Com o desenvolvimento comercial, os georgoi - agricultores que possuíam terras
pouco férteis junto as montanhas - se viram, cada vez mais, em situação difícil, porque, com
a importação de cereais e algumas crises climáticas, a concorrência os aniquilava, gerando
um endividamento com os eupátridas - que, além de monopolizar o poder, monopolizavam
também as melhores terras, possuindo-as em latifúndios cultivados por rendeiros ou
escravos.
Este endividamento gerava não somente a perda de terras, mas também, caso
houvesse a penhora do próprio corpo, a escravidão por dívida. Para piorar a situação, outros
que não tornavam-se escravos iam para as cidades engrossar a camada dos desvalidos.
Os eupátridas monopolizavam o poder, tanto quando ainda existia um rei (chamado
Basileu) quanto quando posteriormente eles passaram a governar sozinhos, formando uma
Oligarquia.12
11
ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., p. 98.
12
Oligarquia: "Termo que na Grécia antiga, designava governo de uma minoria aristocrática (...). Os governos
oligárquicos (de oligoi, 'pequeno grupo') caracterizavam-se pela presença de conselhos políticos restritos e
limitados em número, escolhidos por sua posição social." AZEVEDO, A. C. do Amaral. Dicionário de nomes,
termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 289.
Com o passar do tempo, esta situação de empobrecimento dos georgoi aumentou e
somou-se à insatisfação de comerciantes e artesãos que se tornavam cada vez mais ricos e
desejavam participar da vida política.
A oligarquia estava então entre dois problemas: novos ricos desejosos de participar
do governo que lhes era vedado e pobres, exigindo o fim da escravidão por dívida e a
repartição das grandes propriedades. Os insatisfeitos formaram o Partido Popular e o
governo oligár-quico ficou do outro lado, com o Partido Aristocrático.
A crise era grave porque a aristocracia não tinha mais o monopólio de armas. Com a
introdução de armas mais baratas, os pobres puderam armar-se também, participar do
exército e, porque não, exigir também maior participação política.
No meio desta luta entre os dois partidos, um aristocrata, de nome Cílon (em 623
a.C), tentou tomar - sem sucesso - o poder à força e, como a resposta do Partido Popular foi
imediata, a oligarquia se viu obrigada a lhes oferecer, para acalmá-los, reformas.

3.1 – DRACON
Surgiram os legisladores – os primeiros a redigirem as leis em Atenas, o primeiro
(em 621 a.C.) de nome Dracon, é famoso até hoje pela severidade de suas leis, tanto que,
mesmo nos dias atuais, a palavra "draconiano" significa nos dicionários: "referente a ou o
severo e duro código de leis a ele [Dracon] atribuído. Que ou o que é excessivamente
rigoroso ou drástico."13
Esta severidade pode ser compreendida pelo fato de Dracon ser um eupátrida, e
como tal ele:

"Conservava todos os sentimentos da sua casta e era instruído no


direito religioso. Não parece ter feito outra coisa mais do que passar
a escrito os antigos costumes, sem nada alterar. Sua primeira lei é
esta: 'devemos honrar os deuses e os heróis e oferecer-lhes
sacrifícios anuais, sem nos afastarmos dos ritos seguidos pelos
antepassados'.”14

Em não tendo criado nenhuma novidade, Dracon reproduziu o direito antigo, ditado
por uma religião implacável que via em todo erro uma ofensa às divindades e em toda
ofensa às divindades um crime odioso. Assim, quase todos os crimes eram passíveis de pena
de morte.

3.2 – SÓLON
Embora as leis de Dracon tenham reconhecido uma existência legal aos cidadãos e
indicado o caminho da responsabilidade individual, ele não atingiu - e, provavelmente, nem

13
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
14
COULANGES, Foustel. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 1975, p. 250.
era sua intenção - o problema econômico-social e, consequentemente, o problema político.
Desta forma, ao cabo de poucos anos, o Partido Popular voltou a exigir reformas.
Em 594 a.C. foi indicado um novo legislador, de nome Sólon. Este tinha a vantagem
de ser aristocrata de nascimento e comerciante de profissão. Era como comerciante que
Sólon pensava e foi assim que legislou.
Pode-se afirmar que as leis de Sólon correspondem a uma grande revolução social.
A eunomia - igualdade de todos perante a lei - está presente em todos os artigos que ele
escreveu; assim, não há distinção entre eupátridas e não-eupátridas.
A reforma de Sólon atingiu toda a estrutura do Estado Ateniense, no que diz
respeito à economia, sociedade e política.

3.2.1. Economia
Sem dúvida, a legislação de Sólon preparou Atenas para ser uma potência
econômico-comercial. Em todos os sentidos ele indicava um incentivo ao desenvolvimento
comercial e industrial que fariam de Atenas a principal e mais poderosa Cidade-Estado da
região.
Como forma de ajudar a produção interna e, consequentemente, o comércio, Sólon
incentivou a ida de artesãos estrangeiros para Atenas. Desta forma a produção tornava-se
local, o que não somente barateava o custo dos produtos, como também a médio e longo
prazos poderia fazer da cidade uma exportadora.
Para melhorar e simplificar as transações comerciais, o legislador dotou Atenas de
um padrão monetário fixo e incentivou a exploração de minas de prata. Desta maneira,
Atenas teria uma melhor e maior circulação monetária. Ainda no intuito de simplificar o
comércio, Sólon instituiu um sistema de pesos e medidas único.

3.2.2. Sociedade
Para minimizar os efeitos da crise política, Sólon concedeu anistia geral, estando
perdoados de crimes políticos todos que tivessem cometido um. Neste mesmo sentido ele
suavizou a legislação draconiana, buscando apaziguar os ânimos exaltados da cidade.
Ele limitou o direito de herança dos primogênitos, que anteriormente eram
herdeiros universais. É importante salientar que, embora todos os filhos após Sólon
recebessem herança, somente os filhos e nunca as filhas tinham este direito. Se houvesse
somente uma mulher como herdeira, ainda assim esta não receberia nada, um parente
próximo seria o herdeiro.15 Sólon introduziu também o testamento na legislação ateniense,
sendo a mulher sempre impossibilitada de testar.
Para atingir objetiva e definitivamente o problema principal que gerava a revolta do
povo, o legislador decretou a seisachtéia que consistia na suspensão dos marcos de
hipoteca, na devolução das terras aos antigos proprietários e, principalmente, na proibição
da escravidão por dívidas em Atenas.

15
COULANGES, F. Op. cit., p. 251s.
3.2.2. Política
Sólon pensava através da economia e não poderia ser diferente quando fez leis
relativas ao comando do Estado ateniense. No comando efetivo ficariam aqueles com mais
riquezas e, abaixo deles, com menos poder e sucessivamente, os que tivessem menos
dinheiro.

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