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CAPÍTULO V

GRÉCIA

1. Introdução

Grécia não indica um nome de um país ou de uma unidade política


na Antiguidade. Antes de tudo, por suas condições geográficas e eco-
nômicas, Grécia na Antiguidade significava uma região. Nas palavras
de Rostovtzeff:

“A organização política da Grécia era ditada pe-


las condições geográficas e econômicas. A natu-
reza a dividira em pequenas unidades econô-
micas e era incapaz de criar grandes sistemas
políticos. [...] Cada vale era independente [...]. As
melhores regiões do país, especialmente seus
férteis vales, estão abertas para o mar e vedadas
a terra [...]. Eles estão mais em contato com os
vizinhos separados pelo mar do que com os que a
terra aproxima.”86

Quando se fala em Grécia, pode-se, também, falar até certo ponto


de uma unidade cultural, com deuses, dialetos e alguns hábitos em
comum. Portanto, compreender esta “não unidade” que era a Grécia
significa buscar a compreensão do que seja uma Cidade-Estado.
A cidade não tinha o significado que hoje tem; cidade “era a asso-
ciação religiosa e política das famílias e das tribos”.87 Era na cidade
que o coração e a vida se centravam, e o território era somente um
apêndice. O Estado ateniense, por exemplo, compreendia todos os
indivíduos livres que viviam em Atenas e mais todos aqueles que
viviam nos territórios da Ática – região a que pertencia Atenas.88

86 ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986, p. 53 e ss.


87 COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 1975, p. 106.
88 FOWLER, W. W. The city State os the greeks and romans. Londres: Macmillan, 1916, p. 8.
Comum a todas as Cidades-Estado gregas era a crença – inde-
pendente dos regimes políticos a que se submetiam – de que na Cida-
de-Estado:

“Governavam, não os homens, mas as leis. A


legitimidade da ‘lei consuetudinária’ – nómos (lei)
ou pátrios politéia (constituição ancestral) para os
gregos [...] – decorria da antiguidade venerável
que lhe era atribuída em forma histórica, ou, com
maior freqüência, miticamente.”89

Nos séculos VIII e VII a.C., as cidades gregas conheceram um


grande desenvolvimento urbano. Este não se deu de forma igual, mas
explicava-se pelo grande crescimento populacional do período somado
a uma retomada do progresso tecnológico, artesanal e comercial.
Esse progresso gerou a queda das monarquias e o início de
turbulências sociais que acabaram por produzir legislações e famosos
legisladores. Entre eles podemos citar: Zaleuco de Locros, Carondas de
Catânia, Licurgo de Esparta, Drácon e Sólon de Atenas. Destes, so-
mente os dois últimos têm comprovada existência histórica.90
São numerosas as Cidades-Estado gregas, são numerosos seus
legisladores e, em momentos históricos diferentes, elas sobressaíram-
se individualmente. Entretanto, duas cidades apresentam-se como as
mais intrigantes no tocante ao Direito: Esparta e Atenas. Destas duas,
a partir dos séculos VIII e VII a.C., ocuparemo-nos de forma mais
atenta.

2. Esparta

Esta foi uma das primeiras Cidades-Estado a surgir na Grécia, fun-


dada no século IX a.C. por invasores dórios nas margens do rio Eurotas,
na Planície da Lacônia. O nome da cidade deriva de uma planta da
região.
A partir do século VII a.C. Esparta inicia um processo que vai
culminar em um quase total refreamento de qualquer tipo de evo-
lução. Esse processo é indicado pelos próprios habitantes de

89 CARDOSO, C. F. S. A cidade estado antiga. São Paulo: Ática, 1985, p. 12.


90 PETIT, P. História Antiga. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964, p. 80 e ss.
Esparta como sendo obra de um legislador, não necessariamente
histórico, Licurgo.

“A evolução foi completamente detida, e toda a


energia da raça consagrou-se à manutenção des-
tas instituições arcaicas que, enrijecendo-se
ainda mais, acabaram por esclerosar-se. Embora
os Antigos tenham todos afirmado e admitido
sem discussão que as leis [...] eram devidas a
sabedoria do legislador Licurgo, tão ilustre quan-
to desconhecido, pensa-se atualmente que esta
atribuição de patrono servia para disfarçar a obra
de poderosas famílias, desejosas de perpetuar o
estado de coisas que mais lhe dava proveitos.”91

2.1. Sociedade

Esparta apresentava três camadas sociais:

√ Os Espartíatas: eram os dórios, guerreiros que recebiam educa-


ção militar especial.

√ Os Periecos: eram os aqueus, tinham boas condições materiais


de vida, mas nenhum direito político.

√ Os Hilotas: eram escravos de propriedade do Estado, não ti-


nham proteção da lei e sua condição humana era uma das mais
insuportáveis de todo o mundo antigo.92

Embora possamos, à primeira vista, subentender que os espartía-


tas estariam com uma situação de tal forma privilegiada nessa socie-
dade que a vida deles era tranquila, o formato extremamente mili-
tarista da sociedade e da ideologia desse Estado fazia com que, não

91 Ibidem, p. 88.
92 “Periodicamente , os mais vigorosos dentre eles eram assassinados. Os espartanos mais
prudentes e inteligentes eram mandados como agentes secretos do governo, aparecen-
do onde eram menos esperados e matando os hilotas indesejáveis sem julgamento. A
posição dos hilotas não era ruim: seu tributo de produção aos seus senhores era estrita-
mente definido e não era oneroso [...].” ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., 95.
obstante não precisassem calejar suas mãos pela sobrevivência diária
em um arado, seu cotidiano não era, de nenhuma maneira, sereno.

“É então que a sociedade adquire seus traços


definitivos: hilotas, servos do Estado, e periecos,
sem direitos políticos, são dominados pelos
espartanos de raça pura, pouco numerosos desde
o começo (10.000 guerreiros), aliviados de qual-
quer preocupação material, que se consagram
desde os sete até os sessenta anos ao treina-
mento militar, casam-se patrioticamente [aos] 30,
mas dormem no quartel até os 40, pagando com
esta servidão militar a grandeza de serem os
melhores infantes do mundo e a austera alegria
do dever cumprido.”93

Para uma melhor compreensão do papel do espartíata na


mentalidade militarista deste estado, convém descrever sua educação,
que, mesmo hoje, é indicada como um adjetivo, significando rigidez
extrema: a educação espartana.94
Desde a primeira infância, o espartíata era educado para viver
para o Estado. Um bebê, se julgado saudável por uma comissão espe-
cial de anciãos, estava imediatamente sob supervisão pública. As
crianças que não eram aprovadas por esse julgamento eram enjeitadas
pelo governo e acabavam morrendo ou sendo acolhidas por algum
hilota de bom coração.
Até os sete anos, a criança recebia cuidados de sua mãe e de amas
especiais do governo. Aos sete, os meninos eram afastados de suas
famílias e ingressavam em um grupo militar comandado por um jovem
espartíata, onde marchavam, faziam muita ginástica e aprendiam
alguma coisa de música e leitura.
Dos doze aos dezessete anos, esses meninos deviam ir para o
campo, onde deveriam sustentar-se somente com seu próprio esforço.
Esses garotos comiam alimentos preparados por eles mesmos e
suas camas nada mais eram que uma forragem de palha que eles
próprios recolhiam nas margens do rio Eurotas. Constantemente,
participavam de competições militares e de ginástica.

93 PETIT, P. Op. cit., p. 88 e ss.


94 Cf. ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., p. 95.
Com o intuito de desenvolver a independência desses meninos,
eles eram incentivados a roubar, principalmente alimentos. Entretanto,
se mal-sucedido, o garoto era surrado impiedosamente. O detalhe era
que a surra não era dada por ele ter roubado, mas por ter sido pego.
Aos dezessete anos, o rapaz passava pela Kriptia, que consistia
em esconder-se pelo campo, munido de punhais e, à noite, degolar
quantos escravos conseguisse apanhar. Quem passasse por essa prova
tornava-se adulto e recebia um lote de terra, ia viver então no quartel,
recebendo uma refeição por dia ao cair da tarde.
Os espartíatas não podiam casar-se até os trinta anos; poderiam
apenas coabitar. A partir dessa idade podiam participar da Assem-
bleia, se casar e deixar o cabelo crescer. Aos sessenta, aposentavam-
se do exército e podiam tomar parte do Conselho de Anciãos.
As meninas recebiam, praticamente, o mesmo treinamento físico
dos meninos, para que pudessem ser boas mães de espartíatas. Elas
tinham mais liberdade que as mulheres de outras Cidades-Estado da
Antiguidade. Podiam receber herança e podiam enriquecer com o co-
mércio, atividade vedada totalmente aos homens.

2.2. Economia

A economia de Esparta também se transformou a partir do século


VII a.C. Surgiu uma vasta propriedade estatal no lugar das antigas
propriedades coletivas. Essa grande propriedade era dividida, prova-
velmente, em 8.000 a 9.000 lotes, chamados cleros.
Distribuídas entre os guerreiros dórios, as terras não podiam ser
cedidas ou vendidas. O Estado detinha a posse legal e o cidadão (es-
partíata), o usufruto. Para o trabalho nessas terras, o Estado empres-
tava seis escravos por lote, já que estes eram, também, propriedade
dele.
Os periecos se dedicavam à agricultura e, mais esparsamente, à
criação de pequenos animais, ao artesanato, à mineração de ferro e ao
comércio. Eles tinham a propriedade de suas terras, mas estas eram
sempre as da periferia, não necessariamente as melhores.
Era, mesmo na economia, uma cidade diferente e, embora de-
monstrado de maneira um tanto romântica, mostra-nos Xenofonte as
bases econômicas “antienriquecimento” atribuídas a Licurgo:

“Eis ainda as regras pelas quais Licurgo opôs


Esparta aos outros gregos. Nas outras cidades,
sabe-se, todos se esforçam por ganhar tanto
dinheiro quanto possível. Um trabalha a terra, o
outro arma um navio, um outro pratica o grande
comércio, outros ainda vivem dos ofícios arte-
sanais. Mas Esparta proibiu aos homens livres o
dedicarem-se a uma atividade lucrativa e pres-
creveu-lhes não ter por dignas deles senão as
actividades pelas quais as cidades se constituem
e permanecem livres. E, com efeito, por que se
procuraria a riqueza em um país onde o legislador
fixou até a contribuição de cada um dos produtos
necessários à vida e à repartição igualitária, a fim
de impedir a aspiração à riqueza e às doçuras a
que ela conduz? Também não é para ter bons
mantos que é necessário enriquecer; é a beleza
do corpo, não a sumptuosidade das roupas, que é
seu ornamento. Também não precisam amontoar
dinheiro para despender em largueza com seus
comensais, pois o legislador deu melhor renome
ao esforço físico que se realiza para ajudar os
companheiros do que às despesas ecfetuadas
com eles; mostrou que as primeiras são o acto da
alma; as segundas, da riqueza. Eis ainda como
ele impediu que enriquecessem injustamente.
Primeiramente instituiu uma moeda tal que dez
minas não poderiam penetrar numa casa sem o
conhecimento dos senhores e dos domésticos
(pelo seu grande tamanho e peso): uma tal so-
ma teria a necessidade de um grande espaço e
de uma carroça para transportar. Para mais, o
ouro e a prata são objeto de buscas e se se des-
cobre algum em qualquer lado, o seu possuidor
é castigado. Por que se esforçaria, pois, al-
guém para ganhar dinheiro onde a sua posse
arranja mais aborrecimento que o seu uso
prazeres?”95

95 XENOFONTE apud AUSTIN, Michel et alli. Economia e sociedade na Grécia antiga.


Lisboa: 70, 1986, p. 63.
2.3. Política

Após o século em questão, a política espartana também se tornou


extremamente conservadora. O poder passou a ser monopolizado
exclusivamente pela Gerúsia, ou Conselho de Anciãos, esta era com-
posta por vinte e oito Gerontes – cidadãos acima dos sessenta anos –
que tinham cargo vitalício e eram escolhidos por aclamação na As-
sembleia (composta exclusivamente por espartíatas), que era somente
um órgão consultivo, visto que decidia por aplauso.
A Gerúsia escolhia – sob a ovação da Assembleia – o poder exe-
cutivo: os Éforos, cinco magistrados com mandato de um ano que ti-
nham por função cuidar da educação das crianças espartíatas (que
era dever do Estado), fiscalizar a vida pública e julgar os processos
civis.

2.4. Cultura e Ideologia

Claramente, pelo acima exposto, fica claro que Esparta, do século


VIII ao século IV a.C., tinha uma característica cultural marcante e
absoluta: o militarismo levado às últimas consequências.
A esse militarismo somava-se um esforço contundente e eficaz –
como prova a sua história – de manutenção do seu modo de vida, do
status quo. Eles foram plenamente vitoriosos nesse campo, gerando
por séculos a sociedade provavelmente mais imóvel da história.
Para explicar essa imobilidade, é necessário entender três caracte-
rísticas dos espartanos largamente incentivadas pelo Estado: a xeno-
fobia, a xenelasia e o laconismo.
A xenofobia é a aversão, desconfiança, temor ou antipatia por
pessoas estranhas ou por tudo que venha de outro lugar. Dessa forma,
os espartanos de antemão rejeitavam quaisquer ideias ou influências
estrangeiras.
Xenelasia é o banimento ou impedimento de estadia de estran-
geiros. Assim, os espartanos não entravam em contato com ideias
estranhas ao seu meio.
O Laconismo existe quando se fala somente o mínimo neces-
sário e, mesmo assim, utilizando-se do menor número de palavras
possível. Esta é a característica que mais proporcionalmente pode
causar um refreamento nas mudanças de uma sociedade, visto que,
se levado ao extremo, diminui, inclusive, a atividade intelectual e
criativa.
3. Atenas

Atenas localiza-se na Península da Ática e estende-se pelo mar na


direção Leste. Ela é separada do resto da Grécia por montanhas muito
altas, porém de fácil acesso. Sua situação geográfica protegeu-a das
invasões, principalmente de Dórios, e facilitou-lhe a vida política à me-
dida que:

“[...] Nessa região as condições eram favoráveis à


união de considerável território em torno de um
centro político. Ela forma uma só unidade geográ-
fica da qual a saída mais conveniente para o mar
é formada pelos dois portos de Atenas [...].”96

No século VIII a.C. a economia de Atenas era, ainda, basicamente,


rural. Entretanto, as atividades artesanais e comerciais já cresciam e
ultrapassavam os limites da região.
Com o desenvolvimento comercial, os georgoi – agricultores que
possuíam terras pouco férteis junto às montanhas – se viram, cada vez
mais, em situação difícil, porque, com a importação de cereais e algu-
mas crises climáticas, a concorrência os aniquilava, gerando um
endividamento com os eupátridas – que, além de monopolizar o poder,
monopolizavam também as melhores terras, possuindo-as em latifún-
dios cultivados por rendeiros ou escravos.
Esse endividamento gerava não somente a perda de terras, mas
também, caso houvesse a penhora do próprio corpo, a escravidão por
dívida. Para piorar a situação, outros que não se tornavam escravos iam
para as cidades engrossar a camada dos desvalidos.
Os eupátridas monopolizavam o poder, tanto quando ainda existia
um rei (chamado Basileu) quanto quando posteriormente eles pas-
saram a governar sozinhos, formando uma Oligarquia.97
Com o passar do tempo, essa situação de empobrecimento dos
georgoi aumentou e somou-se à insatisfação de comerciantes e arte-

96 ROSTOVTZEFF, M. Op. cit., p. 98.


97 Oligarquia: “Termo que na Grécia antiga, designava governo de uma minoria aristo-
crática [...]. Os governos oligárquicos (de oligoi, ‘pequeno grupo’) caracterizavam-se pela
presença de conselhos políticos restritos e limitados em número, escolhidos por sua
posição social.” AZEVEDO, A. C. do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos
históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 289.
sãos que se tornavam cada vez mais ricos e desejavam participar da
vida política.
A oligarquia estava então entre dois problemas: novos ricos dese-
josos de participar do governo que lhes era vedado e pobres, exigindo
o fim da escravidão por dívida e a repartição das grandes proprie-
dades. Os insatisfeitos formaram o Partido Popular, e o governo oligár-
quico ficou do outro lado, com o Partido Aristocrático.
A crise era grave, porque a aristocracia não tinha mais o
monopólio de armas. Com a introdução de armas mais baratas, os
pobres puderam armar-se também, participar do exército e, porque
não, exigir também maior participação política.
No meio dessa luta entre os dois partidos, um aristocrata, de nome
Cílon (em 623 a.C.), tentou tomar – sem sucesso – o poder à força e,
como a resposta do Partido Popular foi imediata, a oligarquia se viu
obrigada a lhes oferecer, para acalmá-los, reformas.

3.1. Drácon

Surgiram os legisladores – os primeiros a redigirem as leis em


Atenas, o primeiro (em 621 a.C.) de nome Drácon, é famoso até hoje
pela severidade de suas leis, tanto que, mesmo nos dias atuais, a pala-
vra ‘draconiano’ significa nos dicionários: “referente a ou o severo e
duro código de leis a ele [Drácon] atribuído. Que ou o que é excessiva-
mente rigoroso ou drástico.”98
Essa severidade pode ser compreendida pelo fato de Drácon ser
um eupátrida, e como tal ele:

“Conservava todos os sentimentos da sua casta e


era instruído no direito religioso. Não parece ter
feito outra coisa mais do que passar a escrito os
antigos costumes, sem nada alterar. Sua primeira
lei é esta: ’devemos honrar os deuses e os heróis
e oferecer-lhes sacrifícios anuais, sem nos afastar-
mos dos ritos seguidos pelos antepassados’.”99

98 HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2001.
99 COULANGES, Foustel. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 1975, p. 250.
Em não tendo criado nenhuma novidade, Drácon reproduziu o
direito antigo, ditado por uma religião implacável que via em todo erro
uma ofensa às divindades e em toda ofensa às divindades um crime
odioso. Assim, quase todos os crimes eram passíveis de pena de morte.

3.2. Sólon

Embora as leis de Drácon tenham reconhecido uma existência


legal aos cidadãos e indicado o caminho da responsabilidade indivi-
dual, ele não atingiu – e, provavelmente, nem era sua intenção – o
problema econômico-social e, consequentemente, o problema político.
Dessa forma, ao cabo de poucos anos, o Partido Popular voltou a exigir
reformas.
Em 594 a.C., foi indicado um novo legislador, de nome Sólon. Este
tinha a vantagem de ser aristocrata de nascimento e comerciante de
profissão. Era como comerciante que Sólon pensava e foi assim que
legislou.
Pode-se afirmar que as leis de Sólon correspondem a uma grande
revolução social. A eunomia – igualdade de todos perante a lei – está
presente em todos os artigos que ele escreveu; assim, não há distinção
entre eupátridas e não-eupátridas.
A reforma de Sólon atingiu toda a estrutura do Estado Ateniense,
no que diz respeito à economia, sociedade e política.

3.2.1. Economia

Sem dúvida, a legislação de Sólon preparou Atenas para ser uma


potência econômico-comercial. Em todos os sentidos, ele indicava um
incentivo ao desenvolvimento comercial e industrial que fariam de
Atenas a principal e mais poderosa Cidade-Estado da região.
Como forma de ajudar a produção interna e, consequentemente, o
comércio, Sólon incentivou a ida de artesãos estrangeiros para Atenas.
Dessa forma, a produção tornava-se local, o que não somente
barateava o custo dos produtos, como também a médio e longo prazos
poderia fazer da cidade uma exportadora.
Para melhorar e simplificar as transações comerciais, o legislador
dotou Atenas de um padrão monetário fixo e incentivou a exploração
de minas de prata. Dessa maneira, Atenas teria uma melhor e maior
circulação monetária. Ainda no intuito de simplificar o comércio, Sólon
instituiu um sistema de pesos e medidas único.
3.2.2. Sociedade

Para minimizar os efeitos da crise política, Sólon concedeu anistia


geral, estando perdoados de crimes políticos todos que tivessem come-
tido um. Nesse mesmo sentido, suavizou a legislação draconiana, bus-
cando apaziguar os ânimos exaltados da cidade.
Ele limitou o direito de herança dos primogênitos, que anterior-
mente eram herdeiros universais. É importante salientar que, embora
todos os filhos após Sólon recebessem herança, somente os filhos e
nunca as filhas tinham esse direito. Se houvesse somente uma mulher
como herdeira, ainda assim esta não receberia nada, um parente
próximo seria o herdeiro.100 Sólon introduziu também o testamento na
legislação ateniense, sendo a mulher sempre impossibilitada de testar.
Para atingir objetiva e definitivamente o problema principal que
gerava a revolta do povo, o legislador decretou a seisachteia que
consistia na suspensão dos marcos de hipoteca, na devolução das
terras aos antigos proprietários e, principalmente, na proibição da
escravidão por dívidas em Atenas.

3.2.3. Política

Sólon pensava através da economia e não poderia ser diferente


quando fez leis relativas ao comando do Estado ateniense. No comando
efetivo, ficariam aqueles com mais riquezas e, abaixo deles, com menos
poder e sucessivamente, os que tivessem menos dinheiro.

100 COULANGES, F. Op. cit., p. 251s.

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