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REVISTA DE ODONTOLOGIA DA UNESP

ARTIGO ORIGINAL

Rev Odontol UNESP. 2012 Nov-Dec; 41(6): 408-414 © 2012 - ISSN 1807-2577

Correlação entre saúde periodontal e idade gestacional


Correlation between periodontal health and gestacional age

Vinícius Ibiapina MASCARENHASa, Laís Aires Lima VILARINHOb,


Lúcia de Fátima Almeida de Deus MOURAc, Marcoeli Silva de MOURAc, Leonardo Borges FERROd

Mestrando, Área de Periodontia, Faculdade de Odontologia, UNESP – Univ Estadual Paulista,


a

14801-903 Araraquara – SP, Brasil


b
Cirurgiã-dentista, Centro de Ciências da Saúde, UFPI – Universidade Federal do Piauí,
64049-550 Teresina – PI, Brasil
c
Departamento de Patologia e Clínica Odontológica, Centro de Ciências da Saúde,
UFPI – Universidade Federal do Piauí, 64049-550 Teresina – PI, Brasil
d
Departamento de Morfologia, Centro de Ciências da Saúde, UFPI – Universidade Federal do Piauí,
64049-550 Teresina – PI, Brasil

Resumo
Introdução: O baixo peso de recém-nascidos (RN) é considerado um problema de saúde pública e, geralmente, é
associado à prematuridade. A etiologia do parto prematuro é bastante complexa e, frequentemente, está relacionada
a vários fatores. Diversas teorias têm correlacionado a saúde periodontal de gestantes com o nascimento de bebês
prematuros (idade gestacional) e/ou com baixo peso ao nascer. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar
a possível correlação de saúde periodontal com idade gestacional e/ou com nascimento de bebês com baixo peso.
Material e método: Estudo observacional longitudinal prospectivo com gestantes que foram atendidas em um
projeto de extensão da Universidade Federal do Piauí - Programa Preventivo para Gestantes e Bebês – PPGB. A
coleta dos dados foi estruturada em dois momentos: 1º- Preenchimento de ficha contendo dados relativos à saúde
geral e exame periodontal completo, e 2º- Coleta de dados referentes a tipo de parto, duração da gestação, peso e
condição de saúde do bebê. Resultado: De 62 gestantes atendidas, 43 participaram do segundo momento do estudo.
Ocorreu uma predominância de gestantes com idade entre 25 e 35 anos (55,81%). O índice de sangramento gengival
variou de 1,19% a 92,50%. A média do peso dos bebês foi 3.365,33 g e do tempo gestacional foi 39,33 semanas.
Conclusão: Os resultados deste estudo não deram suporte à hipótese de que a doença periodontal está associada à
idade gestacional.
Descritores: Periodontia; prematuros; baixo peso ao nascer.

Abstract
Introduction: The birth of newborn (NB) underweight is considered a public health problem and is often associated
with prematurity. The etiology of preterm birth is complex and often is related to several factors. Several theories
have correlated the periodontal health of pregnant women with preterm birth (gestational age) and / or with low
birth weight. Objective: The objective of this study is to evaluate the possible correlation between periodontal
health with gestacional time and/or with low birth weight. Material and method: A Prospective longitudinal
observational study with pregnant women that were attending a extension project of UFPI - Preventive Program
for Pregnant Women and Babies – PPPWB. Data collection was structured in two moments: 1st fill sheet containing
questions related to health of the pregnant woman, complete clinical and periodontal examination of the oral cavity
and 2nd data collection on the type of delivery, gestation length, baby’s weight and health condition. Result: A total
of 62 pregnant women were attended and only 43 patients participated in the second moment of the study. There
was a predominance of women aged between 25 to 35 years (55.81%). The bleeding index ranged from 1.19% to
92.50%. The average weight of infants was 3365.33 g and gestational time was 39.33 weeks. Conclusion: The results
of this study did not support the hypothesis that periodontal disease is associated with gestacional time and/or low
birth weight.
Descriptors: Periodontics; premature; low birth weight.
Rev Odontol UNESP. 2012; 41(6): 408-414 Correlação entre saúde periodontal e idade gestacional 409

INTRODUÇÃO e Bebês – PPGB, desenvolvido no Instituto de Perinatologia Social


do Piauí (IPSP). O referido projeto tem por objetivo orientar as
O baixo peso de recém-nascidos (RN) é considerado um gestantes sobre a importância do atendimento odontológico
problema de saúde pública e geralmente está associado ao parto durante a gravidez e do pré-natal médico para a saúde da criança.
prematuro, indicado como causa de cerca de 70% das mortes O convite para participar do estudo foi feito em um momento
de bebês. Evidências científicas demonstram que crianças durante as palestras educativas ministradas diariamente por
que nascem com peso inferior a 2.500 g têm maior chance de alunos estagiários do PPGB7.
mortalidade do que aquelas com peso normal. Dados apontam Antes do início da coleta de dados, o projeto foi aprovado pelo
que 95% dos RN com baixo peso em todo o mundo ocorriam em Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UFPI (n.º 0128.0.045.000‑09),
países em desenvolvimento; no Brasil, 10% das crianças nascidas de acordo com a Resolução n.º 196/96 do Conselho Nacional de
na década de 1990 eram de baixo peso1,2. Saúde (CNS), que regulamenta diretrizes e normas de pesquisas
O Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Brasileiro de envolvendo seres humanos. As gestantes que aceitaram participar da
Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de baixo pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
peso ao nascer tem aumentando numa proporção de 1,2% ao
ano, principalmente em regiões menos desenvolvidas do País3. 1. População do Estudo
Em Teresina-PI, no ano de 2004, cerca de 9,41% de nascidos
A população atendida foi constituída por 62 gestantes entre
vivos eram de baixo peso, sendo que tal índice aumentou com
a 13ª e a 32ª semana de gestação, na faixa etária de 14 a 42 anos,
o decorrer dos anos, de acordo com o Sistema de Informações
considerando-se, como critério de elegibilidade, todas as gestantes
sobre Nascidos Vivos (SINASC)3.
que procuraram atendimento no PPGB no período de outubro de
O nascimento de baixo peso e/ou prematuro aumenta o risco
2009 a março de 2010. Foram incluídas no estudo todas as gestantes
de desenvolvimento de inúmeras doenças crônicas no bebê,
que possuíssem mais de 20 dentes e que aceitassem participar da
incluindo: síndrome do desconforto respiratório; paralisia cerebral;
referida pesquisa; como critério de exclusão, foram considerados
patologias cardíacas; epilepsia; transtornos de déficit de atenção, e
casos especiais, como pacientes diabéticas, com gravidez múltipla,
retardo mental, além de elevar os índices de mortalidade2.
que fizessem uso durante a gestação de álcool, tabaco ou drogas
A etiologia do parto prematuro é bastante complexa e ilícitas, além de pacientes que apresentassem comprometimento
alguns fatores, como uso de drogas, álcool ou tabaco durante sistêmico que aumentaria o risco de parto prematuro (hipertensão
a gestação; cuidado pré-natal inadequado; etnia; baixo status arterial e infecção do trato genito-urinário). De acordo com esses
socioeconômico; hipertensão arterial; hemorragia ou isquemia critérios, 60 gestantes participaram do estudo, pois uma gestante
placentária; alta ou baixa idade materna; diabetes, e infecção e apresentou menos de 20 dentes e outra não aceitou participar.
inflamação do trato geniturinário já estão bem estabelecidos O baixo peso ao nascer (<2.500 gramas) e o parto prematuro
como fatores de risco; entretanto, estes não estão presentes em (<37 semanas) foram definidos de acordo com a OMS1.
25% dos casos de nascimento prematuro de baixo peso, levando
Em relação ao exame periodontal, foi apresentada a
a uma busca constante por outras causas, como infecções
classificação de dois grupos: G1 - grupo exposto, pacientes
subclínicas ou crônicas, a exemplo da doença periodontal4.
com três ou mais sítios com nível de inserção maior do que
Diversas teorias tentam correlacionar a saúde periodontal
três milímetros e com sangramento à sondagem, e G2 - grupo
de gestantes com RN prematuros e/ou com baixo peso. Uma
não exposto, que poderia ter, no máximo, um sítio com nível
das hipóteses mais aceitas é de que a infecção e a inflamação
de inserção maior do que três milímetros e sem sangramento à
periodontal são veículos para organismos Gram-negativos e
sondagem.
lipopolissacarídeos, que podem se disseminar no organismo por
meio de grandes vasos, elevando os mediadores inflamatórios, como 2. Exame das Gestantes
PGE2 (Prostaglandina E2) e TNF (Fator de Necrose Tumoral),
tornando‑se, assim, uma ameaça potencial à placenta fetal4-6. A coleta dos dados foi estruturada em dois momentos:
A partir de então, diversos pesquisadores têm estudado a 1. Preenchimento de ficha com questionamentos relativos à
correlação da doença periodontal com RN prematuros e/ou com condição socioeconômica e à saúde da gestante, e exame clínico
baixo peso ao nascer, mostrando resultados contraditórios. O e periodontal completo da cavidade bucal; 2. Coleta de dados
objetivo do presente estudo é avaliar a correlação entre a saúde referentes ao tipo de parto, à duração da gestação, ao peso e à
periodontal de gestantes com a idade gestacional e o peso do condição de saúde do bebê, pela ficha obstétrica das pacientes ou
recém-nascido. por contato telefônico.
Os exames foram realizados em consultório odontológico
MATERIAL E MÉTODO convencional, sob iluminação direta do refletor odontológico,
utilizando campo seco com sugador de saliva e seringa
O estudo caracterizou-se como observacional longitudinal tríplice. A saúde bucal foi avaliada com a aplicação dos índices
prospectivo. epidemiológicos de cárie dentária (CPOD), que possibilita a
A pesquisa foi realizada com gestantes atendidas em um expressão quantitativa da severidade da doença cárie na dentição
projeto de extensão da UFPI - Programa Preventivo para Gestantes permanente e do exame periodontal completo.
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O exame periodontal constou de: Na Tabela 3, foi registrado o teste t de student para comparar
• Registro da profundidade de sondagem periodontal de as médias dos dois grupos (exposto e não exposto). A diferença foi
todos os dentes (excetuando-se os terceiros molares, estatisticamente significante (p < 0,05) entre o número de sítios
excluídos da pesquisa), utilizando-se sonda milimetrada com perda de inserção, o índice de sangramento à sondagem, a
Williams. Foram registrados seis valores por dente presente: média de nível de inserção e a idade das pacientes.
mesiovestibular, vestibular, distovestibular, mesiolingual,
lingual e distolingual;
• Foram registrados todos os valores de recessão gengival e os
valores referentes à profundidade de sondagem periodontal para Tabela 1. Perfil da amostra (n= 43)
o cálculo do nível de inserção pela soma da recessão gengival e
da profundidade de sondagem, assim como foram registrados Característica n %
os sítios que apresentavam sangramento à sondagem; Idade (anos)
• Sondagem de furca utilizando-se sonda de Nabers com
marcação de cor para classificar as lesões de furca presentes 14 |-- 25 14 32,56
de acordo com a Academia Americana de Periodontia; 25 |-- 34 24 55,81
• Avaliação do grau de mobilidade dos dentes utilizando-se o
cabo de dois espelhos bucais. >35 5 11,63
A presença de doença periodontal diagnosticada foi Média 26,74
classificada de acordo com a Academia Americana de Periodontia.
Renda Familiar (salário mínimo)
Os exames clínicos foram realizados por dois examinadores,
Até 1 salário 16 37,21
sob a supervisão dos professores orientadores. Os examinadores
usaram óculos, máscaras, gorros, luvas de procedimentos, sonda 2 a 3 salários 24 55,81
periodontal milimetrada de Williams e Nabers, e espelho bucal plano 4 ou mais salários 3 6,97
para os exames referidos. Os examinadores foram previamente
Média 2,05
treinados e calibrados para a execução dos procedimentos.
Em caso de detecção clínica da presença de doenças bucais, as Escolaridade (anos)
pacientes foram tratadas no próprio IPSP pelos alunos estagiários Ensino fundamental 10 23,25
do PPGB ou encaminhadas para as Clinicas Odontológicas da
Ensino médio 29 67,44
UFPI.
Sem informações 4 9,30
3. Análise Estatística Estado Civil
Os dados foram digitados em planilhas eletrônicas no Casada 28 65,12
programa Excel, tendo sido utilizados o teste estatístico t de
Solteira 15 34,88
student e o de correlação bivariada (Correlação de Pearson) com
intervalo de confiança de 95%, pelo programa SPSS versão 17.0. Fonte: Pesquisa direta.

Tabela 2. Característica da gestação e nascimento do bebê (n = 43)


RESULTADO
Característica n %
Das gestantes selecionadas, uma paciente possuía menos de
Gestação (semanas)
20 dentes e outra não aceitou participar do estudo; assim, 60 foram
incluídas na pesquisa, de acordo com os critérios estabelecidos. <37 semanas 2 4,65
Destas, 43 (72%) participaram do segundo momento, no qual >37 semanas 41 95,35
foram coletados dados referentes ao tipo de parto, à duração da
Média 39,33
gestação, ao peso e à condição de saúde do bebê. O grupo exposto
(três ou mais sítios > 3 mm e com sangramento à sondagem) foi Peso do bebê (gramas)
composto por 22 gestantes e o grupo não exposto (no máximo um <2.500 g 1 2,33
sítio > 3 mm e sem sangramento à sondagem), por 21 gestantes.
>2.500 g 42 97,67
Os resultados estão descritos nas Tabelas de 1 a 4, anexas a
Média 3.365,33
este trabalho.
A condição bucal da amostra mostrou-se bastante heterogênea, Tipo de parto
como relatado nas tabelas; no entanto, da população estudada, Cesariana 21 48,84
apenas quatro gestantes apresentaram dentes com mobilidade
Normal 22 51,16
(todos com grau 1), o que não caracterizou gravidade de doença
periodontal na amostra. Em relação às gestações, duas gestantes Gênero do bebê
tiveram partos prematuros (<37 semanas), correspondendo Feminino 22 51,16
a 4,65% da amostra, e apenas um RN nasceu com baixo peso
Masculino 21 48,84
(<2500 g) (Tabela 2).
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Pelo teste de correlação de Pearson, que permite uma de estes serem fatores de risco para mortalidade infantil e,
comparação bivariada, observou-se que a correlação foi positiva também, para inúmeras desordens crônicas, como problemas
e estatisticamente significante (p < 0,05) entre tempo gestacional respiratórios, cerebrais e cardiovasculares, epilepsia e problemas
e peso do RN, entre média de nível de inserção e número de sítios de aprendizado, mesmo em países desenvolvidos. Mais de 60%
com perda de inserção > 3 mm, e entre média de nível de inserção da mortalidade infantil sem defeitos congênitos era atribuída
e índice de sangramento à sondagem (Tabela 4). ao parto prematuro e/ou de baixo peso ao nascer9,10. Diversos
estudos5,6,11,12 mostram uma associação entre doença periodontal
DISCUSSÃO materna e nascimento prematuro e/ou de baixo peso; entretanto,
não está claro se essa associação é causal, em razão da falta de
Galloway8, em 1931, foi um dos primeiros a sugerir que controle de outras causas que poderiam promover interferências.
infecções da cavidade oral poderiam ter efeitos potencialmente A caracterização social da amostra deste estudo evidenciou
nocivos sobre a gestante e o feto em desenvolvimento. Na época, uma população jovem, com média de 26,7 anos de idade, renda
a preocupação eram as infecções focais, na sua maioria de origem média de 2,05 salários mínimos e a maioria tendo concluído o
endodôntica (infecções por anaeróbicos Gram-negativos). Até Ensino Médio (67,44%), o que demonstra ser esta uma amostra
então, não se sabia qual era a etiopatogenia da doença periodontal, com um razoável nível de educação e, possivelmente, com melhor
tampouco se conheciam os tipos de periodontite existentes. Não qualidade de higiene bucal (Tabela 1). Avaliações na literatura
se conhecia nem mesmo sua natureza bacteriana e falava-se indicam que a saúde bucal/periodontal é influenciada pela
em periodontose (degeneração dos tecidos periodontais). Esse situação socioeconômica do indivíduo, destacando-se ainda o
estudo8, já no início da década de 1930, sugeria, então, a ideia nível educacional, que influi na prática incorreta de uma higiene
de que a falta de saúde na cavidade oral possuía repercussões bucal adequada ou até mesmo na não realização da mesma13,14.
sistêmicas, podendo afetar negativamente o organismo da Borrell, Crawford14 (2012) relataram que a prevalência de
gestante e o seu complexo feto-placentário. periodontite em pacientes que não fizeram o Ensino Médio foi
A importância de se conhecer a etiologia do parto prematuro quase três vezes maior do que nos pacientes que completaram
e/ou do nascimento de bebês com baixo peso deve-se ao fato esse nível de educação. Além disso, sabe-se que as condições

Tabela 3. Comparação de médias (Teste T de student)

n = 22 n = 21 p
Grupo exposto Grupo não exposto (significância)
Tempo gestacional 39,00 ± 2,29 39,67 ± 1,39 0,26

Média de níveis de inserção 2,22 ± 0,39 1,56 ± 0,30 0,00*

Índice de sangramento à sondagem 40,25 ± 24,17 20,06 ± 17,93 0,00*

Peso do bebê 3300,91 ± 695,16 3432,80 ± 508,48 0,48

N.º de sítios com perda de inserção 12,55 ± 10,52 0,29 ± 0,46 0,00*

Idade 29,45 ± 6,40 23,90 ± 5,74 0,00*


*Estatisticamente significante.

Tabela 4. Correlação bivariada (Correlação de Pearson). Grupo exposto n = 22

Variáveis Coeficiente de correlação Índice de significância


Média de nível de inserção × N.º de sítios com perda de inserção 0,82 0,00*

Média de nível de inserção × Índice de sangramento à sondagem 0,70 0,00*

Média de nível de inserção × Peso do bebê 0,01 0,95

Média de nível de inserção × Tempo gestacional 0,01 0,97

N.º de sítios com perda de inserção × Índice de sangramento à sondagem 0,35 0,12

N.º de sítios com perda de inserção × Peso do bebê –0,02 0,93

N.º de sítios com perda de inserção × Tempo gestacional 0,00 0,99

Índice de sangramento à sondagem × Peso do bebê 0,27 0,22

Índice de sangramento à sondagem × Tempo gestacional 0,05 0,84

Peso do bebê × Tempo gestacional 0,67 0,00*


*Estatisticamente significante.
412 Mascarenhas, Vilarinho, Moura et al. Rev Odontol UNESP. 2012; 41(6): 408-414

socioeconômica e educacional estão inversamente relacionadas inserção, e entre números de sítios com perda de inserção > 3 mm
ao nascimento prematuro e/ou de baixo peso, o que pode ser e média de nível de inserção.
explicado pela falta de acesso das pessoas a serviços de saúde de A associação entre doença periodontal e nascimento prematuro
qualidade ou mesmo pelo desconhecimento da necessidade de e/ou de baixo peso tem sido relatada em muitos estudos5,9,11,19-23.
tais serviços11. Esses estudos baseiam-se na hipótese de que a destruição dos
De acordo com a Tabela 3, ao comparar as médias dos dois tecidos periodontais libera mediadores inflamatórios que podem
grupos com a utilização do teste t de student, foi constatada induzir o parto prematuro; logo, quanto mais grave a doença
diferença estatisticamente significante entre o número de sítios periodontal, maior a quantidade de mediadores liberados e,
com perda de inserção, a média de nível de inserção e o índice de consequentemente, maior risco de parto prematuro. Entretanto,
sangramento à sondagem, que foram os critérios utilizados para tal associação não foi observada no presente estudo, assim como
a separação dos grupos. O tempo gestacional e o peso do bebê em outros estudos pesquisados10,24-28. A inconsistência de como
não apresentaram diferença estatisticamente significante entre os conceitos de doença periodontal são definidos, além dos tipos
os grupos estudados, observando-se uma homogeneidade da de exames considerados para a sua confirmação, são possíveis
amostra quanto a esse critério. Em relação à idade das pacientes, fatores relacionados às controvérsias existentes nas pesquisas
foi observada uma diferença significante entre os grupos, já atuais acerca da relação entre doença periodontal e nascimento
que o grupo exposto (29,45 anos) apresentou maior média de prematuro e/ou de baixo peso24.
idade do que o grupo não exposto (23,90 anos), provavelmente Uma das possíveis razões de o presente estudo não ter
pelo fato de a doença periodontal necessitar de mais tempo encontrado correlação estatisticamente significante pode ter sido
para se desenvolver e se manifestar clinicamente15. Susin et al.15 pelo fato de o perfil da amostra utilizada ser de pacientes que
(2011) observaram em seu estudo que, dos pacientes na faixa possuíam um relativo cuidado com a higiene bucal. Santana et al.29
etária de 25 a 29 anos, 72% apresentavam periodontite crônica (2005) relataram em seu estudo que a doença periodontal (leve,
e, dos pacientes de 20 a 24 anos, 43% apresentavam a doença, moderada e severa) foi encontrada em 91,2% da população
corroborando os resultados do presente estudo. estudada. Diversamente, as pacientes envolvidas neste estudo
Na Tabela 4, por meio do teste de correlação de Pearson, apresentaram condição periodontal com média de sangramento à
evidenciou-se correlação positiva e estatisticamente significante sondagem de 30,39% e média de nível de inserção de 1,90 mm, ao
entre tempo gestacional e peso do bebê, entre média de nível contrário de outros estudos2,22, que relataram maior gravidade de
de inserção e índice de sangramento à sondagem, e entre média periodontopatias em suas pacientes. Tal fato pode ser justificado
de nível de inserção e números de sítios com perda de inserção pela conduta das pacientes da pesquisa de já realizarem pré-natal
(>3 mm). De acordo com a OMS1, o baixo peso do bebê ao médico no IPSP e procurarem o serviço odontológico em busca
nascer geralmente é resultado de um menor tempo gestacional de melhores condições bucais, motivadas por palestras educativas
(antes de 37 semanas). Em um estudo2 de caso-controle realizado ministradas na própria instituição, demonstrando, assim, algum
com 718 gestantes, das quais 360 tiveram parto prematuro grau de cuidado com a saúde oral, apesar de não terem sido
(grupo caso), 19,4% delas possuíam doença periodontal. Ainda submetidas a tratamento periodontal prévio. O cuidado com a
segundo o mesmo estudo, ao correlacionarem os grupos, os escovação pode ser um reflexo do cuidado geral com a saúde.
autores concluíram que existiu uma associação significante Outro fato importante a ser observado é que as pacientes
entre parto prematuro e nascimento de baixo peso. Além disso, examinadas foram, quando necessário, submetidas a tratamento
segundo os autores, o baixo tempo gestacional proporciona odontológico durante o período gestacional, melhorando, dessa
um crescimento fetal restrito e, consequentemente, um peso forma, sua condição periodontal e, possivelmente, influenciando
fetal diminuído, fortalecendo, desse modo, os resultados aqui no nascimento do bebê, o que, por motivos éticos, era
apresentados2. imprescindível, mesmo sendo prejudicial ao estudo. Lopez et al.30
A doença periodontal é uma doença infecciosa causada (2005) observaram, em seu estudo, uma menor quantidade
por bactérias predominantemente Gram-negativas, que resulta de partos prematuros e de baixo peso entre as grávidas que
em inflamação dos tecidos gengivais e periodontais, e perda receberam tratamento periodontal antes do parto do que aquelas
progressiva do osso alveolar. O sangramento à sondagem é uma que, estando com doença periodontal, não se submeteram a
das características importantes da doença periodontal, que pode tratamento constante durante a gravidez. Sugeriu-se, assim, que
apresentar-se de duas formas: gengivite e periodontite, sendo esta o tratamento periodontal durante a gravidez pode reduzir as
última uma doença que envolve destruição dos tecidos de suporte taxas de nascimento prematuro. Já outro estudo25 mostrou que,
dentário, levando, consequentemente, a uma maior perda de entre as gestantes encaminhadas para a realização de tratamento
inserção clínica16-18. Santa Cruz et al.18 (2012), em um estudo com periodontal, as que não realizaram nenhum tipo de intervenção
162 pacientes, verificaram que, das pacientes que apresentavam terapêutica tiveram maiores taxas tanto de nascimentos
periodontite, 69,82% dos dentes com mais de três milímetros prematuros, como de bebês com baixo peso e ocorrência de
de nível de inserção apresentavam sangramento à sondagem. abortos. Concluiu-se que a realização de tratamento periodontal
Confirmam, deste modo, a associação positiva relatada nesta na gestação pode ter um efeito protetor contra resultados adversos
pesquisa entre sangramento à sondagem e média de nível de na gravidez.
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Uma terceira possibilidade que justificaria a falta de associação AGRADECIMENTOS


entre a doença periodontal e o nascimento de prematuros/baixo
peso foi o tamanho reduzido da amostra, visto as dificuldades
Ao Instituto de Perinatologia Social do Piauí, pela
de se conseguirem os dados completos no segundo momento da
disponibilização do espaço para a pesquisa.
pesquisa, o que se pode observar pela análise bivariada da Tabela 4.
De acordo com a metodologia utilizada, concluiu-se que os À Universidade Federal do Piauí e à Fundação de Amparo
resultados deste estudo não deram suporte à hipótese de que a à Pesquisa do Estado do Piauí, pelo apoio econômico com a
doença periodontal estaria associada ao tempo gestacional e/ou disponibilização de recursos financeiros e Bolsas de Pesquisa.
RN com baixo peso. À Universidade de São Paulo, pelo auxílio técnico-científico.

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CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA

Vinícius Ibiapina Mascarenhas


Área de Periodontia, Departamento de Diagnóstico e Cirurgia, Faculdade de Odontologia de Araraquara – FOAr,
UNESP – Univ Estadual Paulista, Rua Humaitá, 1680, Centro, 14801-903 Araraquara – SP, Brasil
e-mail: [email protected]

Recebido: 04/09/2012
Aprovado: 30/11/2012

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