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Direito das obrigações

2016/2017
Aula 11.Out.16
O objeto da relação obrigacional em sentido técnico é uma relação jurídica (art. 397º), sendo esta relação
composta por 2 pólos:

1. Por um lado temos o polo ativo que é ocupado pelo credor - que tem o poder de exigir um
comportamento negativo ou positivo;

2. Do outro lado temos o polo passivo que é ocupado pelo devedor - que tem o dever de prestar um
certo comportamento;

Conceito de Obrigação

Há uma série de sentidos que podem ser imputados à palavra 'obrigação'. Mesmo no domínio do direito,
utiliza-

se este termo em vários sentidos:

1. Obrigação (em sentido genérico):

a) Dever Jurídico (especial e geral) - consiste na necessidade de observar um certo comportamento,


externamente imposto pela ordem jurídica sob cominação de uma sanção (estruturalmente), para
proteger/satisfazer um interesse de outrem - diferente da pessoa a quem é imposto o dever -, falando-se
aqui num interesse alheio ao próprio sujeito (funcionalmente).

• Engloba os deveres jurídicos gerais (que impõem a abstenção de certos comportamentos que
proíbem o direito alheio), bem como os deveres jurídicos especiais - recaem sobre uma pessoa, só
sobre o devedor, enquanto que o dever jurídico geral é imposto a todos os elementos da
comunidade jurídica nao titulares do correspondente direito; trata-se de uma obrigação passiva
universal.
• Desta forma, a todo o dever jurídico corresponde um direito subjetivo - se é especial
corresponderá a um direito de natureza relativa porque apenas é oponível/exigível a uma certa e
determinada pessoa (é um direito direcionado); se é geral corresponderá um direito absoluto, de
natureza erga omnes porque o direito é oponível a todos os membros da comunidade jurídica
(estranho ao titular do respetivo direito), sendo exemplos os direitos reais, os direitos de
personalidade, os direitos de autor, os direitos de propriedade intelectual, etc...

b) Sujeição - difere estruturalmente do dever jurídico que tem no lado ativo um direito subjetivo. Neste
caso, já terá um direito potestativo, o que indica a força que ela tem - o poder de provocar efeitos
jurídicos que se impõem inelutavelmente a outrem, não se exigindo a sua colaboração/cooperação.

• Este outrem está colocado numa posição de sujeição, nada podendo fazer para evitar a produção
de tais efeitos.
• Noutro prisma, enquanto que um dever jurídico pode ser violado, a sujeição não.

c) Ónus Jurídico - estruturalmente são muito semelhantes aos deveres jurídicos, passam pela necessidade
de observância um certo comportamento, mas visa a satisfação de um interesse próprio do onerado (não
alheio ao onerado). Não há nenhuma sanção pela não observância de tal comportamento, mas visa evitar
uma desvantagem ou obter/manter uma vantagem - é uma recomendação da ordem jurídica.

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
2. A obrigação enquadra-se na categoria dos deveres jurídicos especiais, isto é, um dever jurídico de
natureza especial que apenas é oponível ao devedor. Acontece que este conceito não é
bastante/suficiente, porque se conclui que toda e qualquer relação obrigacional, por mais simples que
seja, tem realidades que superam o simples dever de prestar. Assim, é necessário completar com o
conceito de relação obrigacional ampla/complexa - só se se tiver noção da complexidade da relação
obrigacional é que se consegue explicar certas soluções (ex.: despedimento de um trabalhador que
cumpre as prestações, mas que revela segredos de fabrico). Enquanto que a relação obrigacional
simples está plasmada na lei, esta não.

• Sobretudo nas que têm natureza duradoura, existem deveres para além do simples dever de prestar -
não se tem apenas um vínculo, mas dois vínculos de diversa natureza, os quais são todos decorrentes do
mesmo facto jurídico e que estão unificados pela mesma finalidade (não são desconexos, estão ligados
para uma unidade de fim). Esta complexidade de vínculos envolve:

a) Deveres de prestação - em regra só estes são tidos em conta no conceito de relação obrigacional
simples, e em regra existem sempre num relação obrigacional; mas podem não existir. Estes podem ser:

i) Primários/Principais - existem em todas as relações obrigacionais e qualificam o tipo de relação


como tal);

ii) Secundários - podem ou não existir, podem surgir com o contrato ou depois do facto constitutivo
da obrigação (p.ex., dever de conservar a coisa num contrato de compra e venda). Por sua vez, estes
podem ser:

(a) Acessórios da prestação principal - auxiliam/são necessários para o correto cumprimento


da prestação principal, podendo ser de prestação cumulativa (como cumprimento e como
indemnização pelos danos resultantes da mora)

(b) Deveres autónomos - a sua existência já não se justifica pelo correto cumprimento da
prestação principal; tem em conta a satisfação de um interesse diferente (ex.: dever de
indemnização num contrato - não visa o correto cumprimento da prestação principal);

(c) Deveres acessórios de conduta (diferem dos deveres acessórios de prestação) - são deveres
laterais que podem ser convencionados pelas partes, podem resultar da lei ou ainda do
princípio da boa fé (que transporta uma regra de conduta: numa relação obrigacional as partes
devem agir de modo leal, correto e honesto para com a contraparte - é fonte de deveres
acessórios de conduta. São impostos a ambas as partes (devedor e credor) - arts. 762º/2, 334º,
227º CC, algumas normas quanto à integração de lacunas. Fala-se aqui na boa fé em sentido
objetivo (a boa fé em sentido subjetivo corresponde a um estado subjetivo de quem pensa
estar a agir de acordo com o direito, a que o direito atribui relevância (art. 243º, 291º CC -
proteção de certo estado de desconhecimento). Estes dividem-se em:

A. Deveres de lealdade e correção;

B. Deveres de informação ou de notificação - existe sempre um dever de informação


quanto a questões essenciais para a decisão de contratar não facilmente (re)conhecíveis
pela contraparte (desnível de informação) - ex.: contratos de crédito no caso de entidades
bancárias - não vem expressamente da lei/contrato, decorre do princípio da boa fé;

C. Deveres de proteção. (Pg 6)

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Aula 18.Out.2016
Caso prático

1. De acordo com as classificações estudadas, identifique as seguintes obrigações, justificando a


resposta (tentar perceber, no âmbito da relação obrigacional, o tipo de obrigações que se destacam -
devemos percorrer todos os critérios):

a) Obrigação do comproprietário de contribuir para as despesas com a coisa comum (art. 1411º/1 CC)

Existe uma compropriedade quando mais do que um indivíduo possui, em conjunto, uma determinada
coisa, designada comum, possuindo cada um uma alíquota - a coisa comum não está dividida em termos
físicos de forma a que se possa afirmar o que pertence a cada um, ou seja, cada um tem uma percentagem
do todo (ex.: A, B e C são donos de uma determinada coisa em compropriedade; na coisa comum, não se
consegue dizer que A tem direito a 1/3, etc etc; o que podemos dizer é que cada um tem direito a ± 33,3% -
se forem partes iguais - do todo, ou seja, cada um tem uma alíquota, uma quota/percentagem na
compropriedade/coisa comum). Esta alíquota só se fixa quando há divisão, e a lei estabelece que os
comproprietários não são obrigados a permanecer em divisão, podem a qualquer momento sair da divisão,
sem prejuízo de haver muitas coisas que não são divisíveis (mesmo as imóveis muitas vezes não são
divisíveis, e não sendo divisíveis há que haver licitação entre os comproprietários, de forma a que aquele
que não quer comprar, vende àquele que lhe oferecer o preço mais elevado).

Ora, o que diz a lei é que se uma coisa pertence a várias pessoas, todas elas deverão contribuir para as
despesas com a coisa, na proporção das respetivas quotas. Esta obrigação quanto ao objeto, em princípio
será uma obrigação pecuniária - são obrigações de prestação de coisa, sendo essa coisa dinheiro. Quanto
aos sujeitos, não há aqui nenhuma especificidade ('cada um deve contribuir para as despesas com a
respetiva coisa').

A questão principal que se coloca aqui era a da classificação da obrigação como sendo uma obrigação não
autónoma - no âmbito da relação obrigacional e do conjunto das modalidades das obrigações, pergunta-se
se a autonomia é uma das caraterísticas da obrigação em sentido técnico, ou seja, se só entram no
conceito e no regime do Direito das Obrigações as chamadas obrigações autónomas, e se estão fora as
chamadas obrigações não autónomas.

Em primeiro lugar, esta obrigação do comproprietário aparece regulada no livro dos Direitos Reais, e não
no livro dos Direitos das Obrigações, porque ela está ligada a uma outra relação jurídica - a relação jurídica
de propriedade, uma relação jurídica real. Precisamente o que carateriza as obrigações não autónomas é
pressuporem, para surgir, uma outra relação jurídica de natureza diferente (seja uma relação jurídica
real, seja uma relação jurídica familiar, seja uma relação jurídica sucessória). Assim, elas vêm reguladas,
pelo menos parcialmente, noutros capítulos que não o Livro II Das Obrigações, e isso indicia que elas
pressupõem a existência, para surgirem/ desenvolverem, de uma relação jurídica de outra natureza,
uma relação jurídica extra-obrigacional.

É assim evidente que se trata do caso que nos foi apresentado, pois a obrigação só nasce porque existe
uma relação prévia de natureza real entre os sujeitos de compropriedade. Só tem obrigação de contribuir
para as despesas com a coisa comum quem for comproprietário - pressupõe a existência prévia de uma
relação de natureza real.

Mas também podemos apresentar outros exemplos:

• Há determinadas relações de natureza familiar que fazem surgir determinadas obrigações não
autónomas: a obrigação de alimentos - ex.: os pais têm a obrigação de alimentos relativamente aos filhos,
ou muitas vezes de um cônjuge ao outro cônjuge - pressupõe a existência de uma relação familiar
específica que a explica.

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Para se distinguir obrigações autónomas de não autónomas há que ter em conta determinados critérios:

1. Enquanto que as obrigações não autónomas pressupõem para a sua existência/ocorrência dessa tal
relação especial que justifica o nascimento da respetiva obrigação, as autónomas não - decorrem
independentemente da existência de qualquer relação especial pelo simples facto constitutivo, seja ele
contrato, seja ele facto ilícito. (Ex.: uma indemnização é uma obrigação autónoma, apesar de decorrer de
responsabilidade civil, pois antes desta obrigação surgir existia entre as partes uma relação geral - uma
relação que liga um indivíduo a todos os outros indivíduos e que exige que cada um deles respeite os seus
direitos absolutos; assim, antes de surgir a obrigação de indemnizar, não existia nenhuma obrigação
específica entre lesado e lesante que a justifique. Ex.2: pai vende ao filho um automóvel - aqui continua a
ser uma obrigação autónoma, pois apesar de haver uma relação específica prévia, não é esta que justifica/
dá lugar ao nascimento da obrigação de pagar o preço - esta não depende da relação especial que existe
entre pai e filho)

Esta distinção coloca-se a propósito de se saber se às obrigações não autónomas, uma vez que elas vêm
reguladas em capítulos especiais que não o do Direito das Obrigações, lhes é aplicado o regime geral das
obrigações. A resposta é afirmativa - estas obrigações não autónomas estruturalmente são obrigações em
sentido técnico, sendo em tudo semelhantes a estas. E naquilo que não seja excluído ou justificado pela
própria lei por força da relação que lhes subjaze, aplica-se o regime das obrigações em sentido técnico - é
claro que, tendo em conta a natureza da relação que lhes está na base, pode haver desvios de regime, mas
estes são justificamos tendo em conta a relação subjacente que lhes dá origem (ex.: no caso da obrigação
de alimentos - em regra, o objeto de qualquer obrigação é invariável, fixando-se no momento da sua
constituição; já não é assim no caso do direito a alimentos precisamente dada a circunstância que lhe está
na base e as necessidades que a justificam, sendo muito especial porque tem em conta as necessidades de
sobrevivência do credor de alimentos, e assim o legislador protegeu-a de especial maneira: nomeadamente
através da impenhorabilidade do direito a alimentos, da variabilidade, em função das necessidades do
credor de alimentos e das possibilidades do devedor de alimentos).

Também no nosso caso podem haver desvios que justificam a relação que lhe subjaze: o legislador permite
nestas situações uma espécie de renúncia abdicativa (o que não acontece no regime das obrigações em
geral) - de forma a que o devedor que era comproprietário da coisa comum se possa eximir ao pagamento
da respetiva quota nas despesas, renunciando à propriedade da coisa a favor dos respetivos
comproprietários da sua quota na compropriedade.

b) Obrigação do locatário de pagar a renda ou aluguer ao locador (art. 1038º/a CC)

Quanto ao objeto é simples - pagar renda, renda que é paga normalmente em dinheiro, podendo por vezes
ser paga em géneros, estando de qualquer as formas a obrigação de entrega de alguma coisa, a obrigação
de prestação de coisa. Quanto à questão de substituição ou não do devedor, está aqui em causa uma
prestação de natureza fungível, pois ao locador tanto faz que lhe pague a renda o locatário como qualquer
outro terceiro (as prestações de coisa são sempre de natureza fungível). Do ponto de vista do conteúdo da
relação obrigacional, esta obrigação é primária/ principal, uma vez que é o que define o contrato de
compra e venda - não é assim acessória, nem é um dever lateral de conduta.

Neste caso, o que está mais em evidência é a questão do tempo, e da influência do tempo na relação
obrigacional. Segundo este critério, trata-se de uma obrigação duradoura (e não instantânea - o
cumprimento ocorre num único momento temporal) - atendendo-se à forma de execução das obrigações,
uma obrigação que se protela no tempo - e é duradoura em sentido restrito - porque não só se protelam
no tempo, como este influencia decisivamente o próprio objeto da obrigação, o próprio montante global,
mesmo que se saiba previamente a duração do respetivo negócio, pois no caso sub iudice o senhorio não

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
tem um crédito pré-formado relativamente às rendas futuras, mas antes o crédito vai-se formando à
medida que existe cedência do gozo da coisa (ao contrário do que sucede nas chamadas obrigações
fracionadas ou repartidas - são duradouras apenas em sentido amplo, só quanto à execução, uma vez que
quanto à influência do tempo no respetivo objeto, ela não existe). Imagine-se que a meio do mês havia um
terramoto e a casa ficava danificada e sem condições de utilização - o arrendamento cessava e não ficava
devedor da quantia, mesmo que houvesse incumprimento do arrendatário, ou que o arrendatário pusesse
fim ao arrendamento e o senhorio pudesse vir a ter direito a indemnização esta seria devida mas nunca a
título da própria renda.

• Ex.1: o pagamento de um preço numa compra e venda a prestações - um carro que custou 12.000€, e
paga-se duramente 1 ano em 12 prestações de 1000€. Aqui o pagamento do preço vai ser fracionado,
protela-se no tempo, mas o tempo não tem influencia no respetivo objeto, pois este está pré-determinado,
sabendo-se que a execução ao longo do tempo não influência o objeto global - no momento em que se faz
o contrato, o credor fica logo com um direito formado de crédito a 12.000€. A única coisa que o tempo
influencia é no vencimento das várias prestações, não na sua formação.

Estas obrigações duradouras em sentido restrito podem ainda ser de execução continuada - o
cumprimento se faz de forma ininterrupta (ex.: a obrigação do locador de proporcionar o respetivo gozo
da coisa; a obrigação que tem o distribuidor de energia elétrica de distribuir a sua energia; a obrigação que
tem o trabalhador de exercer a sua atividade por conta da entidade patronal; a obrigação que tem o
fornecedor de telecomunicações) - e reiteradas ou de trato sucessivo, que é o nosso caso - obrigações em
que a obrigação se divide em prestações singulares sucessivas com autonomia entre cada uma delas,
devido ao decurso do tempo (ex.: pagamento de uma fatura de energia elétrica; pagamento de uma
fatura de telecomunicações - são prestações singulares que se renovam, mas que são independentes entre
si, apesar de estarem muito ligadas ao tempo para a sua respetiva formação. Assim, p.ex., a EDP - supondo
que estamos no dia 01 de Novembro -, tem credito sobre uma determinada pessoa relativo ao mês que
passou, Outubro, mas já não relativamente aos meses posteriores - Novembro, Dezembro, Janeiro,
Fevereiro... - porque a sua pretensão ao pagamento está dependente do decurso do tempo ). Estas últimas
podem ser periódicas - a sua renovação faz-se em intervalos regulares de tempo - ou não periódicas -
renovam-se mas não em intervalos regulares de tempo. A renda ou aluguer são prestações de natureza
periódica - todos os meses, de 15 em 15 dias, de semana a semana.

Note-se que podem haver obrigações de natureza reiterada que se renovam, mas não de uma forma
regular - ex.: a obrigação de prestação de assistência técnica convencionada aquando da compra de um
computador, sempre que necessário (quando houver alguma dificuldade a instalar os programas no
computador ou quando este avariar), indo a casa do cliente resolver o problema; trata-se de um contrato
de prestação de serviços associado ao contrato de compra e venda (mas não necessariamente); o
engenheiro informático só tem a obrigação de ir lá a casa quando necessário, ou seja, é uma prestação
reiterada que se vai formando com a passagem do tempo, mas não de forma periódica/regular.

Esta não é apenas uma questão dogmática - isto tem implicações determinantes no respetivo regime
jurídico, pois o regime jurídico aplicável às prestações fracionadas não é o mesmo que aplicamos às
prestações duradouras em sentido restrito, nomeadamente às reiteradas ou de trato sucessivo.

c) Obrigação assumida pelo promitente-vendedor

O tipo de obrigação assumida pelo promitente-vendedor não é a mesma, quando se trata de um contrato
de compra e venda, da que resulta do contrato definitivo. O contrato promessa é um contrato
preparatório, preliminário, antecedendo e visando a preparação de um contrato definitivo, e assim o

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promitente-vendedor não assume a obrigação de entregar a coisa tal como o vendedor no contrato de
compra e venda - pelo contrário, ele assume a obrigação de, no futuro, celebrar um determinado contrato.

Esta obrigação do promitente é uma obrigação de prestação de facto. Enquanto que o vendedor no
contrato definitivo assume uma obrigação prestação de coisa (ex.: entregar a coisa vendida), já no contrato
promessa não é assim, pois este não transfere direitos sobre coisa. As partes/parte (conforme seja
bilateral ou unilateral) apenas se obrigam no futuro a emitir uma declaração negocial correspondente a
um determinado contrato.

• Ex.: eu prometi vender o meu carro - eu obriguei-me, em determinado dia, a emitir uma declaração
negocial correspondente à venda do automóvel; não vendi o carro, nem me obriguei a vender o carro -
mesmo que haja acordos de tradição e tenha entregue o carro, não se transferiu nenhum direito sobre o
automóvel, há apenas a traditio rei/tradição de coisa.

Dentro das prestações de facto distingue-se entre prestação de facto positivo e prestação de facto
negativo, consoante o comportamento a que se obriga o devedor seja uma ação ou seja uma omissão. Por
sua vez, dentro das prestações de facto positivo, que é o nosso caso, podemos ter as de facto positivo
jurídico e as facto positivo material, e dentro das de facto negativo podemos ter obrigações de não fazer e
obrigações de tolerar.

No que toca à prestação do promitente-vendedor trata-se de uma obrigação de facto positivo de natureza
jurídica, porque o comportamento do devedor tem efeitos de direito, ao contrario do que sucede nas
obrigações de prestação de facto positivo material (ex.1: a obrigação que assume o pedreiro de concertar
o muro - o comportamento a que se objurgou o pedreiro não tem efeitos jurídicos, não tem efeitos de
direito. Ex.2: a empreitada a prestação de facto é em regra uma prestação de facto material, mas já no
caso do mandato já se trata de uma prestação de facto jurídico em que o mandatário se obriga a praticar
por conta do mandante atos jurídicos, que produzem efeitos de direito).

Mas imaginemos que o promitente vendedor é casado em regime de comunhão de adquiridos, e o que ele
promete vender é um apartamento, e que até é bem próprio dele, mas promete vendê-lo sem o
consentimento da mulher. O Direito Patrimonial da Família diz-nos que, em termos de alienação de bens
imóveis, mesmo que próprios, o outro cônjuge tem de dar consentimento à alienação, a não ser que se
trate do regime de comunhão de separação. Nesta situação o contrato promessa é válido sem o
consentimento do outro cônjuge, uma vez que há normas do contrato prometido que não se aplicam ao
contrato promessa, nomeadamente o contrato promessa não tem efeitos translativos - não se transferem
direitos sobre o imóvel, aquilo que promete a parte do contrato é de vir a celebrar um determinado
negócio. No entanto, para a celebração do negócio definitivo é necessário a intervenção do outro cônjuge,
sem o consentimento deste não se celebra validamente o negocio definitivo - ao mesmo tempo que o
promitente promete um facto próprio, também promete um facto de terceiro (tem de haver a prestação
de um facto de terceiro, ou seja, o próprio devedor obriga-se a obter no futuro um ato de terceiro para
cumprir a obrigação).

Não há vinculação do terceiro, pois este não intervém na promessa nem dá o seu consentimento ao
negócio definitivo.

Esta obrigação de facto de terceiro pode ser:

Obrigação de meios - promete-se que se fará todos os esforços razoavelmente exigíveis para obter o facto
de terceiro; chama-se de meios porque o devedor se obriga à diligência necessária, não se
obrigando/prometendo um certo resultado específico. Até pode vir a acontecer que o terceiro não venha a
praticar o facto prometido e não haja incumprimento da obrigação, desde que o devedor faça prova que
cumpriu aquilo a que se obrigou.

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Obrigação de resultado - obriga-se que um terceiro pratique o facto prometido. Neste caso, como é
evidente, o terceiro não está obrigado a praticá-lo. Se o terceiro não praticar o facto prometido, o devedor
incumpre a obrigação, com as consequências que daí decorrem (nomeadamente ao nível do regime do não
cumprimento - pagamento de uma indemnização). Muitas das vezes nestes contrato promessa de venda
sem consentimento do outro cônjuge, trata-se de uma obrigação de resultado. Note-se que uma promessa
de venda de bem alheio é válida.

d) Obrigação do locatário de tolerar as reparações urgentes, bem como quaisquer obras ordenadas pela
autoridade pública art. 1038º/ e) CC

Quanto ao objeto, esta obrigação (tendo em conta o que fora estabelecido na alínea anterior) é de
prestação de facto negativo de tolerar - aquilo que se exige ao locatário é o chamado patti - uma
tolerância. Há uma certa diferença de grau entre uma obrigação negativa de não fazer e uma obrigação
negativa de tolerar (ex.: uma obrigação de não concorrência, segundo a qual o dono de um
estabelecimento comercial obriga-se a não abrir outro estabelecimento comercial daquele mesmo ramo de
negócio naquela área geográfica, é uma obrigação de prestação de facto negativo de não fazer pois
obriga-se a não fazer determinados atos que prejudiquem a clientela do outro estabelecimento), pois o
tolerar obriga à não intervenção aquando de um ato alheio, de vir a permitir a prática por outrem de
certos atos, que de outra forma não teria que permitir (ex.: A obriga-se a deixar B passar numa estrada de
serventia constituída na sua casa - tolera determinada intervenção que de outra forma não seria
consentida; ex.2: A obriga-se a deixar um grupo de caçadores a caçar na sua quinta, nas suas terras - uma
obrigação de patti/de tolerância). No nosso caso, o locatário não se obriga à omissão de certos atos, mas
antes a permitir a intervenção alheia que de outra forma não seria admitida.

Note-se que o locatário tem o direito de usar, de utilizar e fruir a coisa durante o tempo que dura a
locação, e assim não ter que admitir a intervenção de quem quer que seja, salvo quando a lei ou ele
próprio mediante o respetivo contrato a isso se obriga.

e) Obrigação da entidade fornecedora de energia eléctrica

Quanto ao objeto, é uma obrigação prestação de coisa - a energia elétrica é uma coisa (coisa é tudo o que
é apreensível em todos os sentidos). Onde se coloca aqui a principal questão é sobretudo quanto ao
tempo, quanto à influência que o tempo tem na respetiva prestação (ver alínea b)). Assim, é uma
obrigação duradoura em sentido restrito de execução continuada - o fornecimento é continuado, ou seja,
o cumprimento faz-se de maneira ininterrupta no tempo.

Como já vimos, a obrigação do cliente de pagar a respetiva fatura de energia elétrica é uma obrigação
duradoura em sentido restrito, mas aqui de trato sucessivo ou reiterada, porque se vai renovando em
prestações singulares sucessivas de natureza periódica.

f) Obrigação do médico especialista de realizar um transplante cardíaco

Quanto ao objeto, esta obrigação é uma obrigação de prestação de facto positivo material - a
intervenção do médico não tem efeitos de direito/de natureza jurídica, apesar de poder ter efeitos de
alteração do mundo exterior ou alterações materiais.

No âmbito das obrigações de prestação de facto, nós podemos fazer uma outra distinção, atendendo a
quem pode realizar o cumprimento. Ou seja, perguntamos se o cumprimento tem de ser necessariamente

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realizado pelo devedor - prestação de natureza infungível - ou se o comportamento debitório pode ser
realizado por terceiro em vem do devedor - prestação de natureza fungível. Coloca-se este problema no
âmbito das prestações de facto, porque quanto às prestações de coisa todas elas são fungíveis mesmo
que a coisa seja infungível - quando se fala em obrigações de prestação de coisa, distingue-se entre um
objeto mediato (a própria coisa sobre que incide o comportamento do devedor) e um objeto imediato (o
comportamento do devedor), e para efeitos de fungibilidade ou infungibilidade é o objeto imediato da
obrigação.

Ex.: A compra a B um Cadillac raríssimo e de elevado valor - aqui a coisa é infungível, mas para A é
indiferente quem cumpra a respetiva obrigação, desde que lhe seja entregue o automóvel.

A lei vem estabelecer a regra da fungibilidade das prestações - o cumprimento tanto pode ser efetuado
pelo devedor, como por qualquer terceiro interessado ou não na respetiva obrigação (art. 767º/1 CC).
Muitas vezes o que sucede é que as partes 1) ou convencionam que só o devedor pode efetuar a
prestação, 2) ou então a própria natureza da prestação leva a que a substituição do devedor por um
terceiro no cumprimento prejudique o interesse do devedor - nestes casos, o art. 767º/2 estabelece que
não pode ser o credor constrangido a receber de terceiro a prestação. Com base neste artigo,
distinguimos 2 tipos de infungibilidade:

1. Infungibilidade Convencional - aquela que resulta de convenção das partes, ou seja, o credor que
se assegura por convenção que o cumprimento será levado a cabo apenas pelo devedor, e não por
terceiro.

2. Infungibilidade Natural - quando as partes nada estabelecem e a não possibilidade de substituição


do devedor por terceiro resulta da própria natureza da prestação. Isto sucede sempre que possamos
chegar à conclusão que a substituição do devedor por terceiro no cumprimento prejudica o interesse do
credor - avaliado objetivamente (não basta o credor dizer que lhe causa prejuízo, tem de objetivamente
resultar que a substituição do devedor por um terceiro que prejudica efetivamente o seu interesse).
Nestes casos, o credor não pode ser constrangido a receber a prestação pelo terceiro, e pode exigir a
prestação ao próprio devedor. Ora, o que se acabou de descrever pode ocorrer, por sua vez, em 2
situações:

(a) Quando na determinação/fixação do objeto da prestação se teve em conta as qualidades pessoais do


devedor - as qualidades artísticas, científicas, técnicas foram determinantes para a contratação - é
evidente que se é um terceiro a cumprir a prestação, um terceiro que não tem as mesmas qualidades
(científicas ou artísticas), tem naturalmente qualidades de natureza distinta, e assim prejudicará o
respetivo credor.

Ex.: Um credor encomenda uma escultura a um determinado escultor, e depois o escultor, impedido por
qualquer razão de elaborar a escultura, coloca um terceiro que também é escultor (com o mesmo ou até
mais prestígio - isso não é relevante) a fazer a escultura - não é necessariamente a mesma escultura, e essa
substituição prejudica/pode prejudicar o interesse do credor. Desta forma, o credor não pode ser
constrangido a receber a escultura levada a cabo pelo o outro escultor.

(b) Naqueles casos em que foi determinante para a contratação uma certa relação de confiança que se
estabelece entre credor e devedor, e a substituição pode prejudicar essa mesma relação de confiança.

Ex.1: A contrata um determinado advogado para uma certa causa. Se se estabeleceu entre o advogado e o
cliente uma certa relação de confiança que sai prejudicada pela substituição no patrocínio judiciário, a
substituição do advogado por um outro colega pode não ser legítima (apesar de em geral o poder fazer) e
assim o cliente pode não ser constrangido a aceitar a substituição do respetivo mandatário judicial.

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Ex.2: o caso dos médicos, onde pode de facto, ao fazer um contrato de prestação de serviços para uma
cirurgia com uma determinada equipa médica de cirurgiões, se ter tido em conta a relação e confiança que
o paciente tem nessa equipa, e que sai prejudicada com a respetiva substituição.

Esta infungibilidade pode ser relativa - pode acontecer que a substituição seja possível, mas que seja só
possível relativamente a pessoas determinadas.

Ex.: retomando o exemplo da intervenção cirúrgica, A obriga-se a efetuar a operação a B, mas estabelece-
se que este possa ser substituído por C onde existe a mesma relação de confiança - mas não pode ser
substituído por qualquer cirurgião, de porque isso prejudica o interesse do respetivo credor.

No nosso caso prático, dada a relação de confiança que neste caso se pode estabelecer entre médico e
paciente, pode estar aqui em causa uma prestação de natureza infungível - é claro que existem várias
pessoas com capacidade para realizar o referido transplante, mas pode acontecer que a substituição deste
cirurgião por outro cirurgião prejudique o interesse do respetivo doente, não tendo o segundo cirurgião
uma mesma relação de confiança, do que o primeiro tem com este - absoluta ou relativa - pode acontecer
o doente só ter confiança naquela equipa para efeitos do respetivo transplante, ou ter confiança num
número limitado de pessoas que o podem realizar.

g) Obrigação resultante da promessa pública (art. 459º CC)

A promessa pública insere-se no âmbito dos negócios jurídicos unilaterais - contêm apenas uma
declaração de vontade, e quando contêm mais do que uma declaração de vontade estas são paralelas (e
não de sentido oposto, como no caso do contrato) - vigorando o princípio da tipicidade/do numerus
clausus, ou seja, a declaração unilateral só vincula nos casos expressamente previstos na lei. E um dos
casos expressamente previstos na lei é o da promessa pública do 459º.

Uma promessa pública é uma declaração a prometer um determinado comportamento/uma determinada


prestação a quem venha a praticar certo facto ou se encontre numa dada situação (ex.: eu perdi o meu
gato e afixo em vários locais públicos que darei uma recompensa de 100€ a quem me devolver o gato são e
salvo - é uma promessa pública, mediante a qual se publicita uma determinada prestação a quem venha a
praticar um determinado facto; ex.2: um concurso público é uma promessa pública - abre-se um concurso
público em que há a obrigação de efetuar determinada prestação a quem venha a encontrar-se numa
determinada situação ou pratique um determinado facto). A promessa pública trata-se de um negócio
unilateral, porque a simples promessa de uma determinada prestação, independentemente de qualquer
intervenção de um eventual credor, obriga o promitente - no momento da obrigação já existe obrigação/já
existe vínculo jurídico. Esta obrigação não necessita de qualquer aceitação por parte de quem venha a
estar nas tais condições, ou venha a praticar determinado facto. Inclusivamente, a obrigação existe mesmo
que o facto seja praticado sem conhecimento da respetiva promessa (retomando o exemplo do gato,
alguém vai a passar na rua, vê o gato e entrega-o porque tem pena do animal, desconhecendo da
existência da promessa de recompensa dos 100€ - isso não pode significar uma aceitação tácita, mas antes
que a obrigação existe a partir do momento em que se faz a promessa, independentemente de qualquer
contradeclaração).

Por vezes há alguma dificuldade em distinguir os negócios jurídicos unilaterais de certos tipos de contrato:

1. A doação (alguém obriga-se a transferir para outrem determinada coisa sem qualquer contrapartida),
numa primeira vista devido à sua estrutura, parece um negócio jurídico unilateral, mas não é, é um

9
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
verdadeiro contrato - não há doação validamente celebrada sem a aceitação do donatário (já o testamento
é um negócio jurídico unilateral) - unilateral - existem obrigações apenas para um dos contraentes.
Pressupõe assim 2 declarações de vontade: a declaração do doador - demostrando a vontade de transmitir
determinada coisa, o tal animus donandi - e a declaração do donatário - a aceitar a respetiva doação. Sem
a aceitação do donatário, o contrato não está validamente celebrado, e a propriedade da coisa doada não
se transfere.

Esta obrigação de promessa pública é aquilo a que podemos designar uma obrigação de sujeito ativo
indeterminado. A obrigação é um vínculo entre dois polos: um credor e um devedor. No caso da promessa
pública, no momento em que surge a obrigação já há devedor que se vinculou a praticar determinado
facto, a prestar determinada coisa ou a entregar determinada quantia, a quem vier a estar em
determinadas condições ou vier a praticar determinado facto; mas o credor está indeterminado. Ou seja, a
determinação do credor depende da prática de um facto que é futuro e que será incerto. No art. 511º CC
prevê-se que no momento da constituição da obrigação o sujeito ativo ainda se não encontre
determinado, desde que ele seja determinável (se não o for, a obrigação é nula). Pode ainda acontecer
num outro grupo de situações: naqueles em que a qualidade do credor resulta da assunção de uma
determinada qualidade numa outra relação jurídica - é o caso da obrigação do comproprietário (a
obrigação do comproprietário pode ser também uma obrigação de sujeito ativo indeterminado - de quem é
a titularidade do direito do crédito? É de quem for titular de uma outra relação jurídica), mas também nos
chamados títulos ao portador (a qualidade de um credor de uma certa prestação ou de um certo serviço
resulta da circunstância de se ser possuidor ou portador de um determinado título - ex.: um bilhete de
autocarro ou um bilhete de cinema, cujo credor daquela obrigação é quem for portador do bilhete no
momento da exigência do cumprimento da respetiva obrigação - são títulos não nominados ao portador,
que pode não ser quem adquire o título ou quem celebra o contrato de prestação daquele serviço), ou
ainda nos chamados cheques ao portador (o cheque é uma ordem de um pagamento, sendo que quando
não identifico o nome do titular desse direito, aos olhos do banco é credor quem apresentar esse cheque
para pagamento).

Aula 25.Out.16
h) Obrigação assumida pelo advogado de empreender as diligências necessárias à obtenção de uma
licença camarária

Aula 18.Out.16
Caso Prático I

1. De acordo com as classificações estudadas, identifique as seguintes obrigações, justificando a resposta


(tentar perceber, no âmbito da relação obrigacional, o tipo de obrigações que se destacam - devemos
percorrer todos os critérios):

a) Obrigação do comproprietário de contribuir para as despesas com a coisa comum (art. 1411º/1 CC)

Existe uma compropriedade quando mais do que um indivíduo possui, em conjunto, uma determinada
coisa, designada comum, possuindo cada um uma alíquota - a coisa comum não está dividida em termos
físicos de forma a que se possa afirmar o que pertence a cada um, ou seja, cada um tem uma percentagem
do todo (ex.: A, B e C são donos de uma determinada coisa em compropriedade; na coisa comum, não se
consegue dizer que A tem direito a 1/3, etc; o que podemos dizer é que cada um tem direito a ± 33,3% - se
forem partes iguais - do todo, ou seja, cada um tem uma alíquota, uma quota/percentagem na
compropriedade/coisa comum). Esta alíquota só se fixa quando há divisão, e a lei estabelece que os
comproprietários não são obrigados a permanecer em divisão, podem a qualquer momento sair da divisão,
sem prejuízo de haver muitas coisas que não são divisíveis (mesmo as imóveis muitas vezes não são

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
divisíveis, e não sendo divisíveis há que haver licitação entre os comproprietários, de forma a que aquele
que não quer comprar, vende àquele que lhe oferecer o preço mais elevado).

Ora, o que diz a lei é que se uma coisa pertence a várias pessoas, todas elas deverão contribuir para as
despesas com a coisa, na proporção das respetivas quotas. Esta obrigação quanto ao objeto, em princípio
será uma obrigação pecuniária - são obrigações de prestação de coisa, sendo essa coisa dinheiro. Quanto
aos sujeitos, não há aqui nenhuma especificidade ('cada um deve contribuir para as despesas com a
respetiva coisa').

A questão principal que se coloca aqui era a da classificação da obrigação como sendo uma obrigação não
autónoma - no âmbito da relação obrigacional e do conjunto das modalidades das obrigações, pergunta-se
se a autonomia é uma das caraterísticas da obrigação em sentido técnico, ou seja, se só entram no
conceito e no regime do Direito das Obrigações as chamadas obrigações autónomas, e se estão fora as
chamadas obrigações não autónomas.

Em primeiro lugar, esta obrigação do comproprietário aparece regulada no livro dos Direitos Reais, e não
no livro dos Direitos das Obrigações, porque ela está ligada a uma outra relação jurídica - a relação jurídica
de propriedade, uma relação jurídica real. Precisamente o que carateriza as obrigações não autónomas é
pressuporem, para surgir, uma outra relação jurídica de natureza diferente (seja uma relação jurídica
real, seja uma relação jurídica familiar, seja uma relação jurídica sucessória). Assim, elas vêm reguladas,
pelo menos parcialmente, noutros capítulos que não o Livro II Das Obrigações, e isso indicia que elas
pressupõem a existência, para surgirem/ desenvolverem, de uma relação jurídica de outra natureza,
uma relação jurídica extra obrigacional.

É assim evidente que se trata do caso que nos foi apresentado, pois a obrigação só nasce porque existe
uma relação prévia de natureza real entre os sujeitos de compropriedade. Só tem obrigação de contribuir
para as despesas com a coisa comum quem for comproprietário - pressupõe a existência prévia de uma
relação de natureza real.

Mas também podemos apresentar outros exemplos:

 Há determinadas relações de natureza familiar que fazem surgir determinadas obrigações não
autónomas: a obrigação de alimentos - ex.: os pais têm a obrigação de alimentos relativamente aos
filhos, ou muitas vezes de um cônjuge ao outro cônjuge - pressupõe a existência de uma relação
familiar específica que a explica.

Para se distinguir obrigações autónomas de não autónomas há que ter em conta determinados critérios:

(1) Enquanto que as obrigações não autónomas pressupõem para a sua existência/ocorrência dessa tal
relação especial que justifica o nascimento da respetiva obrigação, as autónomas não - decorrem
independentemente da existência de qualquer relação especial pelo simples facto constitutivo, seja ele
contrato, seja ele facto ilícito. (Ex.: uma indemnização é uma obrigação autónoma, apesar de decorrer
de responsabilidade civil, pois antes desta obrigação surgir existia entre as partes uma relação geral -
uma relação que liga um indivíduo a todos os outros indivíduos e que exige que cada um deles respeite
os seus direitos absolutos; assim, antes de surgir a obrigação de indemnizar, não existia nenhuma
obrigação específica entre lesado e lesante que a justifique. Ex.2: pai vende ao filho um automóvel -
aqui continua a ser uma obrigação autónoma, pois apesar de haver uma relação específica prévia , não
é esta que justifica/ dá lugar ao nascimento da obrigação de pagar o preço - esta não depende da
relação especial que existe entre pai e filho)

11
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Esta distinção coloca-se a propósito de se saber se às obrigações não autónomas, uma vez que elas vêm
reguladas em capítulos especiais que não o do Direito das Obrigações, lhes é aplicado o regime geral das
obrigações. A resposta é afirmativa - estas obrigações não autónomas estruturalmente são obrigações em
sentido técnico, sendo em tudo semelhantes a estas. E naquilo que não seja excluído ou justificado pela
própria lei por força da relação que lhes subjaze, aplica-se o regime das obrigações em sentido técnico - é
claro que, tendo em conta a natureza da relação que lhes está na base, pode haver desvios de regime, mas
estes são justificamos tendo em conta a relação subjacente que lhes dá origem (ex.: no caso da obrigação
de alimentos - em regra, o objeto de qualquer obrigação é invariável, fixando-se no momento da sua
constituição; já não é assim no caso do direito a alimentos precisamente dada a circunstância que lhe está
na base e as necessidades que a justificam, sendo muito especial porque tem em conta as necessidades de
sobrevivência do credor de alimentos, e assim o legislador protegeu-a de especial maneira:
nomeadamente através da impenhorabilidade do direito a alimentos, da variabilidade, em função das
necessidades do credor de alimentos e das possibilidades do devedor de alimentos).

Também no nosso caso podem haver desvios que justificam a relação que lhe subjaze: o legislador permite
nestas situações uma espécie de renúncia abdicativa (o que não acontece no regime das obrigações em
geral) - de forma a que o devedor que era comproprietário da coisa comum se possa eximir ao pagamento
da respetiva quota nas despesas, renunciando à propriedade da coisa a favor dos respetivos
comproprietários da sua quota na compropriedade.

b) Obrigação do locatário de pagar a renda ou aluguer ao locador (art. 1038º/a CC)

Quanto ao objeto é simples - pagar renda, renda que é paga normalmente em dinheiro, podendo por vezes
ser paga em géneros, estando de qualquer as formas a obrigação de entrega de alguma coisa, a obrigação
de prestação de coisa. Quanto à questão de substituição ou não do devedor, está aqui em causa uma
prestação de natureza fungível, pois ao locador tanto faz que lhe pague a renda o locatário como qualquer
outro terceiro (as prestações de coisa são sempre de natureza fungível). Do ponto de vista do conteúdo da
relação obrigacional, esta obrigação é primária/ principal, uma vez que é o que define o contrato de
compra e venda - não é assim acessória, nem é um dever lateral de conduta.

Neste caso, o que está mais em evidência é a questão do tempo, e da influência do tempo na relação
obrigacional. Segundo este critério, trata-se de uma obrigação duradoura (e não instantânea - o
cumprimento ocorre num único momento temporal) - atendendo-se à forma de execução das obrigações,
uma obrigação que se protela no tempo - e é duradoura em sentido restrito - porque não só se protelam
no tempo, como este influência decisivamente o próprio objeto da obrigação, o próprio montante global,
mesmo que se saiba previamente a duração do respetivo negócio, pois no caso sub iudice o senhorio não
tem um crédito preformado relativamente às rendas futuras, mas antes o crédito vai-se formando à
medida que existe cedência do gozo da coisa (ao contrário do que sucede nas chamadas obrigações
fracionadas ou repartidas - são duradouras apenas em sentido amplo, só quanto à execução, uma vez que
quanto à influência do tempo no respetivo objeto, ela não existe). Imagine-se que a meio do mês havia um
terramoto e a casa ficava danificada e sem condições de utilização - o arrendamento cessava e não ficava
devedor da quantia, mesmo que houvesse incumprimento do arrendatário, ou que o arrendatário pusesse
fim ao arrendamento e o senhorio pudesse vir a ter direito a indemnização esta seria devida mas nunca a
título da própria renda.

 Ex.1: o pagamento de um preço numa compra e venda a prestações - um carro que custou 12.000€, e
paga-se duramente 1 ano em 12 prestações de 1000€. Aqui o pagamento do preço vai ser fracionado,
protela-se no tempo, mas o tempo não tem influência no respetivo objeto, pois este está pré-
determinado, sabendo-se que a execução ao longo do tempo não influência o objeto global - no
momento em que se faz o contrato, o credor fica logo com um direito formado de crédito a 12.000€. A
única coisa que o tempo influência é no vencimento das várias prestações, não na sua formação.

12
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Estas obrigações duradouras em sentido restrito podem ainda ser de execução continuada - o
cumprimento se faz de forma ininterrupta (ex.: a obrigação do locador de proporcionar o respetivo gozo
da coisa; a obrigação que tem o distribuidor de energia elétrica de distribuir a sua energia; a obrigação que
tem o trabalhador de exercer a sua atividade por conta da entidade patronal; a obrigação que tem o
fornecedor de telecomunicações) - e reiteradas ou de trato sucessivo, que é o nosso caso - obrigações em
que a obrigação se divide em prestações singulares sucessivas com autonomia entre cada uma delas,
devido ao decurso do tempo (ex.: pagamento de uma fatura de energia elétrica; pagamento de uma fatura
de telecomunicações - são prestações singulares que se renovam, mas que são independentes entre si,
apesar de estarem muito ligadas ao tempo para a sua respetiva formação. Assim, p.ex., a EDP - supondo
que estamos no dia 01 de Novembro -, tem credito sobre uma determinada pessoa relativo ao mês que
passou, Outubro, mas já não relativamente aos meses posteriores - Novembro, Dezembro, Janeiro,
Fevereiro... - porque a sua pretensão ao pagamento está dependente do decurso do tempo). Estas últimas
podem ser periódicas - a sua renovação faz-se em intervalos regulares de tempo - ou não periódicas -
renovam-se mas não em intervalos regulares de tempo. A renda ou aluguer são prestações de natureza
periódica - todos os meses, de 15 em 15 dias, de semana a semana.

Note-se que podem haver obrigações de natureza reiterada que se renovam, mas não de uma forma
regular - ex.: a obrigação de prestação de assistência técnica convencionada aquando da compra de um
computador, sempre que necessário (quando houver alguma dificuldade a instalar os programas no
computador ou quando este avariar), indo a casa do cliente resolver o problema; trata-se de um contrato
de prestação de serviços associado ao contrato de compra e venda (mas não necessariamente); o
engenheiro informático só tem a obrigação de ir lá a casa quando necessário, ou seja, é uma prestação
reiterada que se vai formando com a passagem do tempo, mas não de forma periódica/regular.

Esta não é apenas uma questão dogmática - isto tem implicações determinantes no respetivo regime
jurídico, pois o regime jurídico aplicável às prestações fracionadas não é o mesmo que aplicamos às
prestações duradouras em sentido restrito, nomeadamente às reiteradas ou de trato sucessivo.

c) Obrigação assumida pelo promitente-vendedor

O tipo de obrigação assumida pelo promitente-vendedor não é a mesma, quando se trata de um contrato
de compra e venda, da que resulta do contrato definitivo. O contrato promessa é um contrato
preparatório, preliminário, antecedendo e visando a preparação de um contrato definitivo, e assim o
promitente-vendedor não assume a obrigação de entregar a coisa tal como o vendedor no contrato de
compra e venda - pelo contrário, ele assume a obrigação de, no futuro, celebrar um determinado contrato.
Esta obrigação do promitente é uma obrigação de prestação de facto. Enquanto que o vendedor no
contrato definitivo assume uma obrigação prestação de coisa (ex.: entregar a coisa vendida), já no contrato
promessa não é assim, pois este não transfere direitos sobre coisa. As partes/parte (conforme seja
bilateral ou unilateral) apenas se obrigam no futuro a emitir uma declaração negocial correspondente a
um determinado contrato.

• Ex.: eu prometi vender o meu carro - eu obriguei-me, em determinado dia, a emitir uma declaração
negocial correspondente à venda do automóvel; não vendi o carro, nem me obriguei a vender o carro -
mesmo que haja acordos de tradição e tenha entregue o carro, não se transferiu nenhum direito sobre o
automóvel, há apenas a traditio rei/tradição de coisa.

Dentro das prestações de facto distingue-se entre prestação de facto positivo e prestação de facto
negativo, consoante o comportamento a que se obriga o devedor seja uma ação ou seja uma omissão.

Por sua vez, dentro das prestações de facto positivo, que é o nosso caso, podemos ter as de facto positivo
jurídico e as facto positivo material, e dentro das de facto negativo podemos ter obrigações de não fazer e
obrigações de tolerar.

13
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
No que toca à prestação do promitente-vendedor trata-se de uma obrigação de facto positivo de natureza
jurídica, porque o comportamento do devedor tem efeitos de direito, ao contrário do que sucede nas
obrigações de prestação de facto positivo material (ex.1: a obrigação que assume o pedreiro de concertar
o muro - o comportamento a que se objurgou o pedreiro não tem efeitos jurídicos, não tem efeitos de
direito. Ex.2: a empreitada a prestação de facto é em regra uma prestação de facto material, mas já no
caso do mandato já se trata de uma prestação de facto jurídico em que o mandatário se obriga a praticar
por conta do mandante atos jurídicos, que produzem efeitos de direito).

Mas imaginemos que o promitente vendedor é casado em regime de comunhão de adquiridos, e o que ele
promete vender é um apartamento, e que até é bem próprio dele, mas promete vendê-lo sem o
consentimento da mulher. O Direito Patrimonial da Família diz-nos que, em termos de alienação de bens
imóveis, mesmo que próprios, o outro cônjuge tem de dar consentimento à alienação, a não ser que se
trate do regime de comunhão de separação. Nesta situação o contrato promessa é válido sem o
consentimento do outro cônjuge, uma vez que há normas do contrato prometido que não se aplicam ao
contrato promessa, nomeadamente o contrato promessa não tem efeitos translativos - não se transferem
direitos sobre o imóvel, aquilo que promete a parte do contrato é de vir a celebrar um determinado
negócio. No entanto, para a celebração do negócio definitivo é necessário a intervenção do outro cônjuge,
sem o consentimento deste não se celebra validamente o negocio definitivo - ao mesmo tempo que o
promitente promete um facto próprio, também promete um facto de terceiro (tem de haver a prestação
de um facto de terceiro, ou seja, o próprio devedor obriga-se a obter no futuro um ato de terceiro para
cumprir a obrigação). Não há vinculação do terceiro, pois este não intervém na promessa nem dá o seu
consentimento ao negócio definitivo.

Esta obrigação de facto de terceiro pode ser:

1. Obrigação de meios - promete-se que se fará todos os esforços razoavelmente exigíveis para obter
o facto de terceiro; chama-se de meios porque o devedor se obriga à diligência necessária, não se
obrigando/prometendo um certo resultado específico. Até pode vir a acontecer que o terceiro não
venha a praticar o facto prometido e não haja incumprimento da obrigação, desde que o devedor
faça prova que cumpriu aquilo a que se obrigou.
2. Obrigação de resultado - obriga-se que um terceiro pratique o facto prometido. Neste caso, como
é evidente, o terceiro não está obrigado a praticá-lo. Se o terceiro não praticar o facto prometido,
o devedor incumpre a obrigação, com as consequências que daí decorrem (nomeadamente ao
nível do regime do não cumprimento - pagamento de uma indemnização). Muitas das vezes nestes
contratos promessa de venda sem consentimento do outro cônjuge, trata-se de uma obrigação de
resultado. Note-se que uma promessa de venda de bem alheio é válida.

d) Obrigação do locatário de tolerar as reparações urgentes, bem como quaisquer obras ordenadas pela
autoridade pública art. 1038º/ e) CC

Quanto ao objeto, esta obrigação (tendo em conta o que fora estabelecido na alínea anterior) é de
prestação de facto negativo de tolerar - aquilo que se exige ao locatário é o chamado patti - uma
tolerância. Há uma certa diferença de grau entre uma obrigação negativa de não fazer e uma obrigação
negativa de tolerar (ex.: uma obrigação de não concorrência, segundo a qual o dono de um
estabelecimento comercial obriga-se a não abrir outro estabelecimento comercial daquele mesmo ramo
de negócio naquela área geográfica, é uma obrigação de prestação de facto negativo de não fazer pois
obriga-se a não fazer determinados atos que prejudiquem a clientela do outro estabelecimento), pois o
tolerar obriga à não intervenção aquando de um ato alheio, de vir a permitir a prática por outrem de
certos atos, que de outra forma não teria que permitir (ex.: A obriga-se a deixar B passar numa estrada de
serventia constituída na sua casa - tolera determinada intervenção que de outra forma não seria

14
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
consentida; ex.2: A obriga-se a deixar um grupo de caçadores a caçar na sua quinta, nas suas terras - uma
obrigação de patti/de tolerância). No nosso caso, o locatário não se obriga à omissão de certos atos, mas
antes a permitir a intervenção alheia que de outra forma não seria admitida.

Note-se que o locatário tem o direito de usar, de utilizar e fruir a coisa durante o tempo que dura a
locação, e assim não ter que admitir a intervenção de quem quer que seja, salvo quando a lei ou ele
próprio mediante o respetivo contrato a isso se obriga.

e) Obrigação da entidade fornecedora de energia elétrica

Quanto ao objeto, é uma obrigação prestação de coisa - a energia elétrica é uma coisa (coisa é tudo o que
é apreensível em todos os sentidos). Onde se coloca aqui a principal questão é sobretudo quanto ao
tempo, quanto à influência que o tempo tem na respetiva prestação (ver alínea b)). Assim, é uma
obrigação duradoura em sentido restrito de execução continuada - o fornecimento é continuado, ou seja,
o cumprimento faz-se de maneira ininterrupta no tempo.

Como já vimos, a obrigação do cliente de pagar a respetiva fatura de energia elétrica é uma obrigação
duradoura em sentido restrito, mas aqui de trato sucessivo ou reiterada, porque se vai renovando em
prestações singulares sucessivas de natureza periódica.

f) Obrigação do médico especialista de realizar um transplante cardíaco

Quanto ao objeto, esta obrigação é uma obrigação de prestação de facto positivo material - a intervenção
do médico não tem efeitos de direito/de natureza jurídica, apesar de poder ter efeitos de alteração do
mundo exterior ou alterações materiais.

No âmbito das obrigações de prestação de facto, nós podemos fazer uma outra distinção, atendendo a
quem pode realizar o cumprimento. Ou seja, perguntamos se o cumprimento tem de ser necessariamente
realizado pelo devedor - prestação de natureza infungível - ou se o comportamento debitório pode ser
realizado por terceiro em vem do devedor - prestação de natureza fungível. Coloca-se este problema no
âmbito das prestações de facto, porque quanto às prestações de coisa todas elas são fungíveis mesmo que
a coisa seja infungível - quando se fala em obrigações de prestação de coisa, distingue-se entre um objeto
mediato (a própria coisa sobre que incide o comportamento do devedor) e um objeto imediato (o
comportamento do devedor), e para efeitos de fungibilidade ou infungibilidade é o objeto imediato da
obrigação.

• Ex.: A compra a B um Cadillac raríssimo e de elevado valor - aqui a coisa é infungível, mas para A é
indiferente quem cumpra a respetiva obrigação, desde que lhe seja entregue o automóvel.

A lei vem estabelecer a regra da fungibilidade das prestações - o cumprimento tanto pode ser efetuado
pelo devedor, como por qualquer terceiro interessado ou não na respetiva obrigação (art. 767º/1 CC).
Muitas vezes o que sucede é que as partes 1) ou convencionam que só o devedor pode efetuar a
prestação, 2) ou então a própria natureza da prestação leva a que a substituição do devedor por um
terceiro no cumprimento prejudique o interesse do devedor - nestes casos, o art. 767º/2 estabelece que
não pode ser o credor constrangido a receber de terceiro a prestação.

Com base neste artigo, distinguimos 2 tipos de infungibilidade:

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
1. Infungibilidade Convencional - aquela que resulta de convenção das partes, ou seja, o credor que se
assegura por convenção que o cumprimento será levado a cabo apenas pelo devedor, e não por
terceiro.

2. Infungibilidade Natural - quando as partes nada estabelecem e a não possibilidade de substituição do


devedor por terceiro resulta da própria natureza da prestação. Isto sucede sempre que possamos
chegar à conclusão que a substituição do devedor por terceiro no cumprimento prejudica o interesse
do credor - avaliado objetivamente (não basta o credor dizer que lhe causa prejuízo, tem de
objetivamente resultar que a substituição do devedor por um terceiro que prejudica efetivamente o
seu interesse). Nestes casos, o credor não pode ser constrangido a receber a prestação pelo terceiro, e
pode exigir a prestação ao próprio devedor.

Ora, o que se acabou de descrever pode ocorrer, por sua vez, em 2 situações:

(a) Quando na determinação/fixação do objeto da prestação se teve em conta as qualidades pessoais do


devedor - as qualidades artísticas, científicas, técnicas foram determinantes para a contratação - é
evidente que se é um terceiro a cumprir a prestação, um terceiro que não tem as mesmas qualidades
(científicas ou artísticas), tem naturalmente qualidades de natureza distinta, e assim prejudicará o
respetivo credor.

• Ex.: Um credor encomenda uma escultura a um determinado escultor, e depois o escultor, impedido por
qualquer razão de elaborar a escultura, coloca um terceiro que também é escultor (com o mesmo ou até
mais prestígio - isso não é relevante) a fazer a escultura - não é necessariamente a mesma escultura, e essa
substituição prejudica/pode prejudicar o interesse do credor. Desta forma, o credor não pode ser
constrangido a receber a escultura levada a cabo pelo outro escultor.

(b) Naqueles casos em que foi determinante para a contratação uma certa relação de confiança que se
estabelece entre credor e devedor, e a substituição pode prejudicar essa mesma relação de confiança.

• Ex.1: A contrata um determinado advogado para uma certa causa. Se se estabeleceu entre o
advogado e o cliente uma certa relação de confiança que sai prejudicada pela substituição no
patrocínio judiciário, a substituição do advogado por um outro colega pode não ser legítima
(apesar de em geral o poder fazer) e assim o cliente pode não ser constrangido a aceitar a
substituição do respetivo mandatário judicial.
• Ex.2: o caso dos médicos, onde pode de facto, ao fazer um contrato de prestação de serviços para
uma cirurgia com uma determinada equipa médica de cirurgiões, se ter tido em conta a relação e
confiança que o paciente tem nessa equipa, e que sai prejudicada com a respetiva substituição.
• Esta infungibilidade pode ser relativa - pode acontecer que a substituição seja possível, mas que
seja só possível relativamente a pessoas determinadas.
• Ex.: retomando o exemplo da intervenção cirúrgica, A obriga-se a efetuar a operação a B, mas
estabelece-se que este possa ser substituído por C onde existe a mesma relação de confiança - mas
não pode ser substituído por qualquer cirurgião, de porque isso prejudica o interesse do respetivo
credor.

No nosso caso prático, dada a relação de confiança que neste caso se pode estabelecer entre médico e
paciente, pode estar aqui em causa uma prestação de natureza infungível - é claro que existem várias
pessoas com capacidade para realizar o referido transplante, mas pode acontecer que a substituição deste
cirurgião por outro cirurgião prejudique o interesse do respetivo doente, não tendo o segundo cirurgião
uma mesma relação de confiança, do que o primeiro tem com este - absoluta ou relativa - pode acontecer

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
o doente só ter confiança naquela equipa para efeitos do respetivo transplante, ou ter confiança num
número limitado de pessoas que o podem realizar.

g) Obrigação resultante da promessa pública (art. 459º CC)

A promessa pública insere-se no âmbito dos negócios jurídicos unilaterais - contêm apenas uma declaração
de vontade, e quando contêm mais do que uma declaração de vontade estas são paralelas (e não de
sentido oposto, como no caso do contrato) - vigorando o princípio da tipicidade/do numerus clausus, ou
seja, a declaração unilateral só vincula nos casos expressamente previstos na lei. E um dos casos
expressamente previstos na lei é o da promessa pública do 459º.

Uma promessa pública é uma declaração a prometer um determinado comportamento/uma determinada


prestação a quem venha a praticar certo facto ou se encontre numa dada situação (ex.: eu perdi o meu
gato e afixo em vários locais públicos que darei uma recompensa de 100€ a quem me devolver o gato são e
salvo - é uma promessa pública, mediante a qual se publicita uma determinada prestação a quem venha a
praticar um determinado facto; ex.2: um concurso público é uma promessa pública - abre-se um concurso
público em que há a obrigação de efetuar determinada prestação a quem venha a encontrar-se numa
determinada situação ou pratique um determinado facto). A promessa pública trata-se de um negócio
unilateral, porque a simples promessa de uma determinada prestação, independentemente de qualquer
intervenção de um eventual credor, obriga o promitente - no momento da obrigação já existe obrigação/já
existe vínculo jurídico. Esta obrigação não necessita de qualquer aceitação por parte de quem venha a
estar nas tais condições, ou venha a praticar determinado facto. Inclusivamente, a obrigação existe mesmo
que o facto seja praticado sem conhecimento da respetiva promessa (retomando o exemplo do gato,
alguém vai a passar na rua, vê o gato e entrega-o porque tem pena do animal, desconhecendo da
existência da promessa de recompensa dos 100€ - isso não pode significar uma aceitação tácita, mas antes
que a obrigação existe a partir do momento em que se faz a promessa, independentemente de qualquer
contradeclaração).

Por vezes há alguma dificuldade em distinguir os negócios jurídicos unilaterais de certos tipos de contrato:

1. A doação (alguém obriga-se a transferir para outrem determinada coisa sem qualquer contrapartida),
numa primeira vista devido à sua estrutura, parece um negócio jurídico unilateral, mas não é, é um
verdadeiro contrato - não há doação validamente celebrada sem a aceitação do donatário (já o
testamento é um negócio jurídico unilateral) - unilateral - existem obrigações apenas para um dos
contraentes. Pressupõe assim 2 declarações de vontade: a declaração do doador - demostrando a
vontade de transmitir determinada coisa, o tal animus donandi - e a declaração do donatário - a aceitar
a respetiva doação. Sem a aceitação do donatário, o contrato não está validamente celebrado, e a
propriedade da coisa doada não se transfere.

Esta obrigação de promessa pública é aquilo a que podemos designar uma obrigação de sujeito ativo
indeterminado.

A obrigação é um vínculo entre dois polos: um credor e um devedor. No caso da promessa pública, no
momento em que surge a obrigação já há devedor que se vinculou a praticar determinado facto, a prestar
determinada coisa ou a entregar determinada quantia, a quem vier a estar em determinadas condições ou
vier a praticar determinado facto; mas o credor está indeterminado. Ou seja, a determinação do credor
depende da prática de um facto que é futuro e que será incerto.

No art. 511º CC prevê-se que no momento da constituição da obrigação o sujeito ativo ainda se não
encontre determinado, desde que ele seja determinável (se não o for, a obrigação é nula). Pode ainda
acontecer num outro grupo de situações: naqueles em que a qualidade do credor resulta da assunção de

17
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
uma determinada qualidade numa outra relação jurídica - é o caso da obrigação do comproprietário (a
obrigação do comproprietário pode ser também uma obrigação de sujeito ativo indeterminado - de quem
é a titularidade do direito do crédito? É de quem for titular de uma outra relação jurídica), mas também
nos chamados títulos ao portador (a qualidade de um credor de uma certa prestação ou de um certo
serviço resulta da circunstância de se ser possuidor ou portador de um determinado título - ex.: um bilhete
de autocarro ou um bilhete de cinema, cujo credor daquela obrigação é quem for portador do bilhete no
momento da exigência do cumprimento da respetiva obrigação - são títulos não nominados ao portador,
que pode não ser quem adquire o título ou quem celebra o contrato de prestação daquele serviço), ou
ainda nos chamados cheques ao portador (o cheque é uma ordem de um pagamento, sendo que quando
não identifico o nome do titular desse direito, aos olhos do banco é credor quem apresentar esse cheque
para pagamento).

Aula 08.Nov.2016
Caso II

Contrato de arrendamento, arrendatário deixa de pagar a renda; imóvel degradado e senhorio não faz
obras; ação de despejo e requer o pagamento de todas as rendas atá ao final do contrato (restariam 2
rendas).

O arrendatário quer a resolução do contrato e a devolução das rendas.

São viáveis as pretensões?

Arrendatário tem o dever de comunicar ao senhorio todas as vicissitudes do imóvel – a degradação do


imóvel neste caso – artigo 1038º alínea h) – deveres do ponto de vista da relação obrigacional, são deveres
acessórios da prestação. Não se tratam de deveres primários. Mas o dever de reparação ainda é um dever
de prestação dever acessório para o cumprimento da prestação.

O dever de comunicação tende a se classificar a um dever de conduta – agir modo honesto, correto e leal
(boa-fé).

Ainda que decorra do artigo mesmo que não acontecesse ele existiria da mesma forma.

O senhorio quer resolver o contrato com fundamento no não pagamento e quer receber todas as rendas
até ao final do contrato.

Tendo o fundamento para pôr fim ao contrato há ou não contradição na sua exigência? Obrigação
duradoura em sentido restrito em execução continuada.

Há uma contradição. A resolução e o incumprimento são dois caminhos alternativos não podemos resolver
o contrato e exigir o seu cumprimento, não quer dizer que ele poderia ter direito a uma indeminização. O
senhorio pode resolver o contrato ou manter exigindo apenas o valor das rendas que já se formaram e não
as que ainda não se formaram; ou resolver o contrato e pedir uma indemnização. Não pode é exigir as
duas em simultâneo, não está previsto o artigo 781º.

No caso do arrendatário não pode ser exigida a devolução, a renda já está vencida. O tempo faz parte da
formação destas prestações uma vez formadas não podem ser destruídas. Nos termos do artigo 434º nº2
não tem eficácia retroativa e não seria viável.

Caso III

18
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
A, conhecido humorista, celebra com a empresa proprietária do canal de televisão X, um contrato nos
termos do qual, pelo período de um ano e em regime de exclusividade, se obriga a realizar um programa
humorístico semanal.

Devido ao grande êxito obtido, é contactado pelo canal concorrente, Y, com o qual celebra novo
contrato, desvinculando-se unilateralmente do compromisso firmado com X.

Sentindo-se lesado com a significativa quebra de audiências ocorrida no horário a que habitualmente o
programa de A era transmitido, X pretende ser indemnizado.

Diga, fundamentando legal e doutrinalmente a resposta, contra quem deve ser dirigida esta pretensão.

Distinção entre direitos reais e direitos de crédito


Doutrina da eficácia externa

Três características básicas:

 Quanto aos direitos reais estão sujeitos à tipicidade ou números clausus [1306º] – não há para
além daqueles que a lei consagra - e os direitos de crédito a liberdade contratual [405º].
 Direitos de crédito são direitos a uma prestação os direitos reais são direitos sobre uma coisa –
poder direto e imediato sobre a coisa. Nos direitos de crédito são direitos a uma prestação, há
sempre entre o titular e a coisa o devedor.
 Direitos reais têm natureza absoluta e são oponíveis erga omnes e os direitos de credito têm
natureza relativa.

Como manifestação da sua natureza absoluta, os direitos reais são dotadas de preferência e sequela: ele
prevalece sobre toda e qualquer situação jurídica que venha a ser constituída posteriormente e que seja
incompatível total ou parcialmente com os seus direitos. Prevalece o primeiro constituído.

Nos direitos de crédito a prevalência temporal não constitui prevalência jurídica. Por exemplo, A contraiu
diversas dívidas em Janeiro, Fevereiro e Março com A, B e C no valor de 500 euros aos dois primeiros e mil
euros ao último. A não paga a nenhum e tem património no valor de 1000 euros. No direito de crédito não
é dotada de prevalência, portanto não teria de pagar primeiro a A e B. Previsto no artigo 604º. C receberia
500 e os restantes 250, a preferência é dada proporcionalmente pelo valor da divida.

Artigo 407º prevê o direito que prevalece nos contratos sucessivos no qual está previsto que prevalece por
antiguidade – é uma exceção.

Sequela consiste no seguimento que tem o direito real de seguir e perseguir a coisa e a apreender onde ela
esteja o expoente máximo é o artigo 1311º, ação de reivindicação.

Doutrina da eficácia externa


Podemos encontrar uma certa eficácia dos direitos de crédito a terceiros. O efeito interno é a exigência e
contra quem é exigido o cumprimento – sendo o credor e o devedor. Apenas poderia exigir ao devedor.

Dizem que ao lado deste efeito interno poderia também haver um direito externo. O efeito externo oporia
de alguma forma a terceiros que conhecessem a relação obrigacional a não se imiscuir dela, caso não o
fizesse ficaria responsabilizado também pelo seu cumprimento.

1. Ataque direto ao próprio crédito: A tem contrato de prestação de serviços com a televisão x e vem
a televisão y imiscuir-se dessa relação – outro contrato -, tendo conhecimento da 1ª relação. O
terceiro colabora com A – há um ataque direto. E é nestas situações que se fala a eficácia externa.
2. Ataque a um dos elementos só substrato de crédito – A ser atropelado por B.

Tem de haver o conhecimento da relação obrigacional entre o devedor e o credor.

19
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Se adotássemos esta teoria ao caso, seria responsável.

Resta saber se é desejável a sua consideração no direito das obrigações? Não é.

Existem outros mecanismos para salvaguardar o credor em relação a terceiros.

Se não comunicasse violava um direito real de preferência. Segundo o artigo 1410º pode propor uma ação
de preferência e essa ação deve ser proposta contra C [por A] (que é quem ver/haver a coisa).

B tem o direito geral de aquisição, pode reagir contra um terceiro (a coisa está no domínio jurídico de
outra)  Manifesta-se aqui a ideia de sequela.

(Alguns autores consideram que pode também levar aqui uma possibilidade de impugnação pauliana –
artigo 610º.)

Alguma doutrina avoca que podemos encontrar uma certa eficácia dos direitos obrigacionais a terceiros 
Doutrina da eficácia externa.

Haveria uma eficácia externa: todos os terceiros que conheciam a eficácia obrigacional poderiam ser
apostos e obrigados a não se imiscuir nas relações – caso acontecesse poderia ser indemnizados por
prejuízos causados ao credor.

Podemos caraterizar esta eficácia em duas situações:

(1) Ataque direto ao crédito: no caso o terceiro conhecia a existência de B. obrigacional


(contraprestação de serviços) entre o humorista e o canal A. O terceiro colabora com o devedor.
(2) Ataque a um dos elementos no incumprimento do crédito do substrato do próprio crédito: da
própria pessoa do devedor ou objeto da respetiva obrigação.

A doutrina eficácia externa afirma que é necessária conhecimento da relação e esse conhecimento
presume má-fé e, nesse caso, o terceiro seria responsável.

É uma doutrina de defendida?

1. Desejável no plano do direito constituído?


2. Desejável no plano normativo?

Aula 15.Nov.2016
1) Argumento histórico: no momento dos trabalhos preparatórios do Código Civil, discutia-se na doutrina
e na jurisprudência em que medida e termos os terceiros poderiam ser responsáveis pelos credores – a
doutrina tradicional negava qualquer efeito. Mas isto era bastante discutível, ate por influência alemã
e há inclusive um acórdão do STJ que abre uma porta para a eficácia externa. Mas, se o legislador
quisesse adotar esta doutrina fá-lo-ia expressamente, não o fez existindo vários dados que
comprovam:
2) Artigo 410º/2: exceciona-se a eficácia das obrigações relativas aos terceiros;
3) Artigos 413º e 421º: o primeiro consiste na atribuição da eficácia real ao Contrato Promessa e o
segundo, atribuição da eficácia real ao pacto preferência (e remete para o 413º) – o contrato promessa
e o direito de preferência, em regra, têm a eficácia interpartes. Mas a lei dá possibilidade, nos artigos
413º e 421º, ao c-p e ao pacto de preferência respetivamente, a que as partes deem eficácia real, mas
são necessários requisitos: bens imoveis; registo; vontade expressa das partes; existência de uma
forma especial (mais solene).

20
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Por exemplo, se a obrigação de preferência não cumprir não cumpre o contrato com eficácia real e
transmite o bem a terceiros, o credor pode exercer a ação de preferência e a par o seu direito a
terceiro.
Por argumento a contrario, não teria se tido a legislador ter exigido requisitos especiais para a eficácia
externa, se o legislador quisesse atribuir desde logo eficácia real – não faria sentido atribuir uma
eficácia que só existiria relativamente a outrem. Assim, este artigo prova que, em regra, as obrigações
não têm eficácia externa.
4) Artigo 495º/3: consagra, pelo menos, formalmente, a eficácia relativamente a terceiros, mas situações
em que existe um ataque imediato ao próprio crédito. O credor de alimentos, tem direito a exigir
relativamente a terceiros por não cumprimento da obrigação de alimento.

A – devedor de alimento – B

C mata A – impede a prestação de alimentos: fere mortalmente A

Em regra, o lesado tem o direito a uma indemnização (A), mas a lei confere ao B (credor de alimentos) o
direito a exigir alimentos de C.

A lei não quis consagrar a eficácia exterior: temos que ter em conta que o direito de alimentos tem uma
natureza especial – fazer face a necessidades básicas do credor de alimentos. E a eficácia externa é mais
uma tomada de proteção especial. Esta é uma norma excecional, norma que não são sujeitas a
interpretação extensiva e aplicação analógica.

Se a doutrina de facto existisse, já decorreria das regras gerais que este direito de exigir ao terceiro, o
legislador não teria a necessidade de consagrar esta norma.

5) Artigo 1309º - (…) permite a responsabilização de terceiros, esta norma não teria sentido. Consagra
restrições ao direito de propriedade ao (…) – se fossem oponíveis a terceiro só por si, não teria
distinguir restrições com carater real e sem contrato real. Por exemplo, usufruto tem natureza real;
comodato não tem natureza real (direito real de gozo)  se tivesse eficácia relativamente a terceiros e
tivesse desde logo eficácia real , esta distinção não faria sentido.
6) Artigo 794º: permite nalguns casos que o credor exija a terceiros como detentor prestação –
“commodum de representação”: quando o credor exige a terceiro a primeira prestação fá-lo em
substituição do respetivo devedor do lesado.
Quem tem o direito a ser indemnizado é o próprio devedor, o terceiro apenas pode substituir.
Substituição do devedor pelo credor, a exigir a terceiro.

 Todas estas normas nos parecem dar a indicação da não consagração da doutrina da eficácia
externa.
 Enquanto direito das obrigações que tem a função de funcionalidade dinâmica patrimonial, o
direito real está mais preocupado com a estática e a posse.
 Se consagrassem a teoria estávamos a destruir o objetivo do direito das obrigações, promover a
celeridade e dinâmica do trafego jurídico.
 Também do ponto de vista do direito constituído não é desejável.

Não significa, no entanto, que em certos casos, não pudéssemos responsabilizar terceiros – há que
mobilizar o trafego jurídico, mas não apelando à eficácia externa das obrigações. Este mecanismo têm
requisitos mais exigentes do que o simples ??.

21
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Ainda, o artigo 334º: quando o comportamento é abusivo (tenham agredido C) – abuso do direito. 1. Violar
a boa-fé (direito subjetivo); ou 2. Fim económico e social do direito ou 3. Bons costumes.

1. Tem escasso, pois exige uma relação especial entre as partes e não se aplica a terceiros.
2. Numa sociedade em que os direitos não se encontra funcionalidade, isto tem pouca relevância.
3. É aqui que tem interesse. Tem a ver com a regra de comportamento pessoal e social (ex.: regra da
sã concorrência)  Quando o comportamento de terceiro seja censurável da violação dos bons
costumes (pouco cometo do ponto de vista da moral social), só assim pode responder pelo credor.
Temos que questionar qual a intencionalidade de terceiro? Se for a de prejudicar o credor, mais do
que obter um prejuízo para ele próprio ele será responsável (pretensão/intenção de causar os
prejuízos ao credor).
Mas que direito é que o terceiro tem que esteja a abusar? Falamos aqui de abuso de uma
liberdade – a liberdade de contratar (que só existe se houver violação dos bons costumes).

Muitas vezes, estabelecesse que o comportamento de terceiros pode constituir abuso – indução à queda
do contrato: o terceiro induz o devedor ao não cumprimento da aplicação. Não significa que em todos os
casos de inclusão (indução ??) à queda do contrato exista abuso de direito, mas é, de facto, um indicativo
de tal.

Em termos dogmático e positivos, como justificamos estas duas soluções (a obrigação de indemnizar)? São
necessários vários pressupostos para indemnizar (requisitos gerais para responsabilidade). Para que o
terceiro seja responsável perante o credor é necessário que o comportamento seja ilícito –
responsabilidade civil extra contratual.

Temos três variantes de ilicitude:

 Violação de direitos de outrem


 Violação de norma destinada a proteger bens alheios: 483º/1
 Abuso de direito – 334º

Nós fundamentamos a ilicitude do comportamento de terceiro no artigo 334º e os seguidores da doutrina


da eficácia externa fundamentam-na no 483º/1 primeira parte (no direito de outrem). Mas quando a lei se
refere aos direitos de outrem refere-se aos direitos absolutos de outrem (reais e de personalidade) e não
aos direitos de crédito.

[Para nós, não basta o conhecimento de terceiro, só quando há abuso de direito (334º) é que o terceiro
pode ser responsabilizado.]

Resolução do Caso III: sabemos que o canal x tem direito a ser indemnizado pelo canal y. Aqui, temos
meros indícios. Desde que não tenha utilizado práticas abusivas e desleais de concorrência, o que temos
são indícios. Se nas negociações ficar claro que o profissional assume todas as consequências da sua
prática negocial o terceiro não é responsável; só quando possamos concluir, pela análise dos factos que há
intenção de prejudicar o credor é que o terceiro pode ser responsável.

Caso prático IV

Luísa, numa estadia de fim-de-semana em Coimbra, celebrou com a Minervacar, empresa de locação de
veículos automóveis, um contrato de aluguer de um ligeiro de passageiros para se poder deslocar com a
família.

Num dos passeios pela cidade, devido a uma falha no sistema de travagem, o automóvel chocou contra
um muro, causando ferimentos na condutora e num dos seus filhos.

22
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
a) Na ação proposta por Luísa contra a Minervacar, esta defende que o litígio deve ser resolvido tendo
em conta o modelo contratual que normalmente usa nos negócios que celebra, recomendado pela
“Associação Empresarial das Locadoras do Centro”, que constava de um folheto publicitário
entregue à locatária no momento da celebração do contrato.
Pronuncie-se sobre a pretensão do locador.
b) Nesse modelo contratual pode ler-se a seguinte cláusula: “As partes acordam em afastar qualquer
responsabilidade que por lei caiba ao locador, por quaisquer danos causados pelo veículo ao
locatário.” Aprecie a validade da referida cláusula.
c) Pretendendo-se proibir a utilização daquele modelo contratual em contratos futuros, qual o meio
processual ao dispor, quem poderia utilizá-lo e contra quem poderia ser usado?

Em causa: Clausulas Contratuais Gerais e contratos de adesão

Estudamos x a propósito dos princípios da obrigação, mais especificamente uma limitação ao princípio da
liberdade contratual.

A lei atribui às partes, dentro dos limites legais, a possibilidade de definir o conteúdo dos contratos que
celebrou. O artigo 905º parece a uma dimensão. O princípio da liberdade contratual tem várias dimensões.

 Liberdade de contratar ou não contratar.


 Liberdade de escolha da contraparte.
 Liberdade de modelar o conteúdo dos contratos que celebrou, celebrar contratos típicos, atípicos
ou mistos.

Mas, por vezes, estas liberdades estão limitadas:

 Liberdade de contratar ou não contratar


o Relativamente aos serviços públicos essenciais as entidades que os prestam têm uma
obrigação de contratar;
o Direito a um novo arrendamento?
o Responsabilidade civil automóvel: seguro obrigatório
 Liberdade de escolha da contraparte:
o Direito legal de preferência: a pessoa não tem liberdade de escolha à pessoa que vende
(caso arrendamento).
 Limite relativo ao conteúdo: contratos estabelecidos na lei.

Diferentes dos limites da lei são os limites de facto.

Existem, também, limites de facto: é o próprio limite atípico de contratar que estabelece limite às partes
da liberdade contratual – clausulas contratuais gerais; modelos pré-estabelecidos por um dos contraentes.
Vem falsear a liberdade de fixação do conteúdo dos contratos, que é atribuída apenas a uma das partes, ao
outro contraente só é permitido aceitar ou recusar (que por vezes nem é verdadeira opção).

Este modelo das cláusulas corresponde a institutos legítimos por parte das entidades que as realizaram
(intuito de racionalização, de eficiência). Mas obviamente também comporta perigos, ao monopolizarem o
conteúdo a contratar, impede atender aos interesses da contraparte de celebrar o contrato, porque ao
recorrer aos serviços públicos essenciais as várias alternativas disponíveis são sempre muito semelhantes.

O legislador vai então tentar proteger o aderente e limitar o poder do utilizado, através do Decreto-lei
446/85 que surgiu por uma transposição de uma diretiva comunitária.

Noção de Clausula Contratual Geral (três características – artigo 1º/1):

23
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
1. Clausulas elaboradas sem prévia elaboração individual: há uma pré-elaboração, pré-formulação
por uma das partes, esta ocupa sozinha o poder de celebração do contrato.
2. Estes modelos contratuais são oferecidos a destinatários indeterminados – generalidade.
3. Da parte do aderente há apenas a possibilidade de aceitar ou rejeitar as cláusulas contratuais – o
que significa que elas se apresentam como imodificáveis ou rígidas.

(1)Não se exige que aquele modelo contratual utilizado pelo utilizador seja por ele elaborado – podem ser
recomendados por recomendantes (por exemplo, outras associações). Desde que a elaboração não resulte
de negociação individual, estamos no âmbito deste âmbito contratual.
(2)Destinam-se a fazer parte de um conjunto de contratos.

(3)À contraparte é só dada a possibilidade de aderir ou não aderir.

Artigo 1º nº 2 – este resultou de uma modificação ao decreto-lei 446/86 por ter sido mal transposta a diretiva
comunitária, esta aplicava-se a todos os contratos de adesão, enquanto a nossa lei apenas se aplicava aos contratos
de adesão que continham clausulas gerais.

 Todos os contratos que contêm clausulas gerais são contratos de adesão mas nem todos os contratos de
adesão têm clausulas gerais.

Contratos de adesão: contrato pré-elaborado e imodificável.

Dentro deste contrato amplo, esses modelos podem ser elaborados para fazer parte apenas um contrato de adesão.
Só serão contratos com clausulas gerais quando existam características da generalidade.

Mas este contratos de adesão, quer tutelem ou não clausulas gerais, encerram em si os mesmo perigos (não haver
modelação do conteúdo pela contraparte, etc.) logo, aceita-se que também se aplica aos contratos de adesão
(contenham ou não as clausulas gerais).

Quando estamos perante um contrato de adesão a lei estabelece um modelo/medidas de contrato.

Controlo substancial:

1. Controlo da inclusão: verifica-se o preenchimento dos respetivos requisitos, no âmbito dos


respetivos requisitos, de forma a serem ou não incluídos nos respetivos contratos singulares.
2. Controlo ao nível da interpretação das cláusulas.
3. Controlo do conteúdo.

Controlo processual (ação inibitória):

1. Controlo concreto
2. Controlo abstrato

Resolução do caso: temos pré-formulação e imodificabilidade. À partida pode haver clausula geral mas de
qualquer forma aplicamos o decreto-lei 446/85.

Aula 22.Nov.2016
Neste tipo de contratação uma das partes ocupa em exclusivo o poder de modelação dos contratos, o
decreto-lei é uma tentativa de limitação.

Existem 3 patamares, ou 3 níveis de controlo limitação:

24
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
 Controlo de inclusão: [alínea a) – caso prático], se foram preenchidos os requisitos necessários para
que as cláusulas sejam incluídas nos contratos singulares.

Se estas devem ou não ser incluídas num determinado contrato singular e é necessário um conjunto de
situações. Tem de estar previstos certos requisitos: 1. Dever de comunicação – só existe consenso se as
partes estiverem de acordo, então neste caso como é apenas formulado por uma das partes temos de ter
a certeza que a outra parte está informada sobre as cláusulas. Tem o dever de comunicar integralmente e
adequadamente todas as clausulas, e comunicadas de forma adequada a permitir o conhecimento de
quem use de comum diligência, se só não teve conhecimento porque não foi diligente nesse caso a
responsabilidade será dele. Se não for cumprido em relação alguma das cláusulas, elas serão excluídas; 2.
Dever de informar – aclarar o conteúdo, tornar mais claro o conteúdo das cláusulas [artigo 6º DL]. Não
existe um dever geral de informação, não tem de aclarar todo e qualquer aspeto do contrato só se verifica
tendo em conta as circunstâncias do caso, as próprias circunstâncias do contrato e aos aspetos que seja de
supor que o aderente não conheça. É um dever de conduta imposto pela boa-fé, deve informar a
contraparte de todos os aspeto que ela não tenha conhecimento. O consumidor em relação ao fornecedor
está em desvantagem, não é especialista, tem menor capacidade técnica da informação e menor acesso a
essa informação, por exemplo um contrato de crédito no banco a população em geral não sabe o que é
uma TAEG, tem de ser informado em função do cliente que tem à sua frente. Distinção entre dever de
informação que é ativo e o dever de esclarecimento – este é reativo tem a própria iniciativa do aderente,
este é que questiona o que considera menos claro, o aderente é que pede ao fornecedor esclarecimentos.
Todas as cláusulas cujo conteúdo não foi aclarado não devem ser incluídas.

Proibição de cláusulas surpresa: clausulas que pelo seu aspeto gráfico, pela sua epígrafe e contexto é de
supor que relativamente a elas não houve verdadeiro conhecimento. Se o objetivo era esclarecer então as
clausulas que, por exemplo, estão em pequenino claramente se vê que o aderente não teve
conhecimento. No artigo 8º está previsto que estas cláusulas sejam excluídas do contrato. O contrato não
é nulo, essas lacunas resolvem em recurso a normas supletivas; caso não hajam normas supletivas
recorremos as regras de integração de lacunas, previsto no artigo 239º - vontade hipotética ou conjetural
das partes. O contrato só não subsistiria se persistir uma indeterminação insanável ou que diga respeito a
conteúdos essenciais – artigo 9º DL.

 Controlo de interpretação: regras de interpretação das cláusulas gerais. O que é dito é que se utilizam
as mesmas regras – artigo 236º CC - dos contratos – destinatário razoável colocado no lugar na posição
do real destinatário – interpretação universal. No âmbito da diretiva comunitária colocava-se a
questão da interpretação individual [interpretação das clausulas em cada caso especifico] e uma
interpretação objetiva [à mesma clausula devia ser atribuído o mesmo sentido a qualquer contrato] –
entre nós vigorou a interpretação objetiva. Há um controlo pois há uma regra específica em causa de
dúvida deve permanecer o sentido que favoreça o aderente – in dúbio pro aderente – artigo 11º DL.
Há uma certa distinção entre o risco contratual. Faz mais sentido atribuir a ambiguidade a quem
formula as cláusulas ou as utiliza do que quem apenas as aceitou. Há um certo efeito preventivo, pois
se souber que em caso de duplo sentido prevalece os interesses do aderente então irá ter muito mais
cuidado; utilização de cláusulas ambíguas de forma propositada, que em dúvida favorece o aderente.
 Controlo do conteúdo: [alínea b) caso prático], listas de proibições. Também é controlado o conteúdo
e fá-lo através de um esquema concertado que é formado por uma cláusula forma de controlo previsto
no artigo 15º do DL e diz que são nulas todas as cláusulas contrárias à boa-fé. Nos artigos 18º a 22º DL
estão previstas listas de proibições que se ligam à cláusula geral do artigo 15º, estas apenas
concretizam esse artigo mas que não são de nenhuma forma taxativas, para lá destas pode haver
outras cláusulas. Uma cláusula que não se encontre na lista pode ser considerada proibida pela boa-fé.
Uma distinção que temos de fazer é distinguir o seu âmbito pessoal: temos 2 listas como epigrafe
relações pessoais e outras duas relações profissionais. A nossa lei foi mais protetora tendo um âmbito

25
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
de proteção pessoal mais abrangente o que não quer dizer que se tenha descuidado no consumidor.
Nos artigos 18º e 19º servem para proteger o aderente enquanto profissionais e nos artigos 21º e 22º
são uma proteção suplementar ao consumidor; parecendo que os primeiros apenas se aplicam aos
profissionais não são, estes 18º e 19º são de aplicação geral. Já os artigos 20º e 22º são de aplicação
específica, quando há relação de consumidor temos de verificar as 4 listas. Quando está em causa uma
relação entre um utilizador e um profissional aplicamos as primeiras pois as segundas são de aplicação
específica. 2 Primeiras de aplicação geral e 2 últimas são exclusivas de consumidores finais. Temos
ainda de atender ao modo como as cláusulas funcionam, entre 18º e 19º e 20º e 22º a lei distingue
entre proibições relativas e absolutas. As absolutamente proibidas são as ‘listas negras’ são as que não
deixam duvida – artigo 21º e 18º. Ao lado destas temos relativamente proibidas, são proibidas
mediante o quadro geral, é o julgador que irá decidir essa proibição que podem ser consideras
diferentes em situações diferentes – artigos 19º e 22º. São listas cinzentas, é o julgador que irá decidir.
O que acontece quando tem clausulas proibidas? Pode existir a nulidade de todo o contrato ou manter
o contrato de acordo com os critérios regulativos, previsto no artigo 13º DL. Redução do respetivo
negocio jurídico, remoção da parte viciada.

Podemos resolver o caso prático:

a) Não é um contrato formal, não tem forma obrigatória. O que diz é que as cláusulas foram comunicadas
por um folheto. Será este um modo diligente? Indicia-se aqui uma separação do corpo do contrato e
do folheto publicitário. Se a empresa quisesse levar ao conhecimento do cliente não o faria por um
folheto mas através de um contrato ou de forma verbal. Este não foi o meio adequado de
comunicação das cláusulas, o homem medio diligente não incorpora que o folheto tenha cláusulas de
um contrato que está a celebrar – não é o modo adequado de comunicação. Em princípio estas
cláusulas não deveriam ser incluídas, o contrato pode subsistir mas através de como está previsto no
artigo 239º - violação do dever de informação.
b) A primeira coisa é consultar as listas das cláusulas proibidas. Temos um aderente que é consumidor
final temos de consultar as quatro listas – é uma clausula de exclusão da responsabilidade. Logo no
artigo 18º alínea a) é logo visto a proibição absoluta desta cláusula. Poderia haver uma cláusula que
estabelecesse uma responsabilidade por danos causados por objetos transportados. Neste caso há um
perigo de vida da condutora. Há uma responsabilidade objetiva pela empresa, e aplicando as regras
gerais para responsabilidade por danos.
c) Do ponto de vista processual, distinguimos entre controlo concreto e controlo abstrato. A ação
inibitória é um controlo abstrato.
Numa ação proposta pela Luisa o tribunal vai analisar as cláusulas, é uma fiscalização concreta pois a
decisão da proibição ou não da cláusula é daquele conflito específico, tem efeito apenas neste conflito
concreto – controlo concreto.
No artigo 25º, a lei fala em artigos específicos, esta ação diz respeito ao controlo do conteúdo [é um
controlo abstrato] tem a ver com as características. Esta é o controlo abstrato das cláusulas negociais
gerais que visa retirar estas cláusulas que são contrárias à boa-fé, que são proibidas do comércio
jurídico e a sua fiscalização é levada a cabo independentemente da sua inclusão em contratos
singulares. São proibidas, não tem de haver um caso concreto. É apenas um controlo do conteúdo e
não de inclusão.
Artigo 26º indica quem tem a legitimidade ativa para propor estas ações. Também o consumidor
afetado pelas cláusulas pode propor uma ação – artigo 13º.

26
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
E a legitimidade passiva no artigo 27º.
A Luísa ou a associação podia propor a ação contra a associação e ainda todas as empresas que
utilizam aquele modelo negocial. Aqui a lei tentou favorecer a possibilidade de abranger o maior
número de sujeitos passivos – artigo 28º. Para propor a ação em cada uma de entidades, se fossem de
locais diferentes tinham de propor tantas ações quantas existem em locais diferentes, permitem a
coligação passiva de réus e proposta apenas num dos locais contra todos os outros – artigo 27º.
O tribunal analisa o conteúdo e decide. Pode ser decidido que o tempo que decorre entre a
propositura da ação e a decisão seja demasiado longo havendo uma proibição provisoria enquanto não
se decide definitivamente.
Se se decidir pela proibição contra quem vale esta decisão? Apenas contra as entidades demandadas,
eficácia relativa do caso julgado. Eficácia ultra partes limitada, os ardentes que não propuseram a ação
podem, mais tarde, se a cláusula ainda for utilizada em contratos que façam parte pode pedir uma
declaração para retirar essa cláusula – artigo 32º/2.
Há uma certa tentativa do legislador para facilitar estas ações inibitórias.
Estas decisões estão sujeitas a registo para funcionar como que um precedente judicial.

Aula 29.11.2016
Caso prático V

Em Agosto de 2016, A, casado em regime de comunhão de adquiridos com B, prometeu vender a C e


este prometeu comprar um apartamento, bem próprio de A, e de que o promitente-comprador é
arrendatário. O preço convencionado foi de 100 000€, que C pagou na totalidade no momento da
celebração do contrato. O acordo foi formalizado em documento particular assinado por A. Do contrato
consta ainda uma cláusula que expressamente afasta a execução específica do mesmo.

Em 15 de Novembro, data estabelecida para a celebração do contrato definitivo, C depara-se com a


recusa de A em vender, fundamentada nos seguintes factos:

1. O contrato promessa é inválido por força do disposto no art. 1682.º A, do Código Civil.
2. O seu cônjuge (B), além de não pretender dar o necessário consentimento na venda do
apartamento, propôs uma ação tendente à declaração de nulidade do contrato promessa por
vício de forma.
3. Em Outubro, A e B venderam a D o imóvel em causa.

Aprecie a consistência da argumentação desenvolvida por A, pronuncie-se acerca da possibilidade de


recurso à execução específica do presente contrato e explique que direitos assistem afinal a C e de que
forma os pode fazer valer.

Contrato-Promessa
Contrato-promessa regulado no CC no artigo 410º e ss; 442º; Execução específica 830º.

O Contrato-Promessa é um negócio segundo o qual alguém se obriga a celebrar um negócio jurídico.

27
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Mas, apesar de tudo, já implica uma vinculação contratual, podemos distinguir esta do vínculo que existe
entre os contraentes na fase preparatória do contrato. Não há contrato mas existem deveres de conduta
associados – boa-fé, etc. nesta fase de negociações se uma das partes romper abusivamente as
negociações com base no artigo 227º há a consequência de indemnização dos prejuízos ao lesado mas
nunca há obrigatoriedade de celebrar o contrato.

O Contrato-Promessa já é um verdadeiro contrato e exige execução específica enquanto nestas


negociações não é exigível que se cumpra o contrato.

Podem existir pequenos contratos e estes ficam dependentes da conclusão ou não no negócio final – 232º
- não existe contrato. No Contrato promessa já existe vinculação.

É um contrato preparatório e tem efeitos diferentes do negócio definitivo. Porque celebram? Podem ter
diversos motivos, entre eles, não quererem já assumir um negócio definitivo ou não existem elementos
necessários para a sua execução, não existe financiamento para pagar o preço, etc.. Não estando reunidas
as condições necessárias para celebrar o contrato definitivo celebra-se o Contrato-Promessa.

Tem implicações importantes pois tendo efeitos diferentes tem uma influência no próprio regime. Há
muitas regras do contrato definitivo que não se aplicam ao Contrato-Promessa, por este ser preparatório.

Por exemplo, um contrato de compra e venda enquanto no contrato definitivo há obrigação de entregar a
coisa e de entregar o preço, se for um contrato de compra e venda de Contrato-Promessa que efeitos
decorrem? Não há transferência de propriedade, não há transferência de direitos sobre coisa nenhuma,
não há obrigação de entregar a coisa nem há obrigação de pagar o preço. Então o que decorre deste? A de
emitir no futuro uma declaração negocial, do negócio definitivo e pode ser admitido por uma ou duas das
partes. Tem o consenso dos dois mas apenas um se pode obrigar a celebrar o contrato [“apenas um
assina”].

No caso concreto, temos um Contrato-Promessa Bilateral e obrigam-se a celebrar no futuro um contrato


de Compra e Venda. Existem diversos problemas neste caso.

1. Um dos argumentos o promitente vendedor o que se recusa a vendar: recusa-se a cumprir e diz que o
negócio é inválido pelo artigo 1682º-A que é necessário o consentimento do outro cônjuge para a
alineação de bens imóveis. E o problema é saber se houve falta de consentimento do cônjuge de B e se
invalida ou não este negócio, se é anulável.

Assim, leva-nos ao que estabelecido no artigo 410º - princípio da equiparação – aplicam-se as regras do
contrato prometido ao contrato promessa. Se for um negócio típico aplica-se o regime geral e as regras do
negócio típico.

Neste caso, é um contrato de compra e venda prometido aplicamos o artigo 874º e ss.

No artigo 410º diz-se que se excetuam as normas que pela sua natureza não se aplicam ao Contrato-
Promessa. Deste modo quais são? Todas aquelas que pressupõem efeitos que o Contrato-Promessa não
tem.

Por exemplo:

 Quando são de contratos de compra e venda não se aplicam as regras que pressuponham os efeitos
translativos, pois o Contrato-Promessa não tem esta eficácia – não transmite nem institui direitos
sobre nada.
 Proibição de venda de bens alheios – ninguém pode transferir mais direitos do que tem. Não tenho
legitimidade de produzir esses efeitos. Mas posso prometer vender o computador de pessoa x, que

28
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
daqui a x tempo prometo vender o PC x se não puder cumprir na celebração de negócio definitivo
então aí incorro em incumprimento.
 Proibição de compra e venda entre pais e filhos e avós e netos sem o consentimento dos outros vem
da sucessão legitimaria tem de haver o consentimento dos outros. É assim no contrato definitivo mas
não é assim no Contrato-Promessa, pois não pressupõe essa eficácia.
 No Contrato-Promessa como não se transfere a propriedade também não se transfere o risco e fica de
conta do proprietário [a não ser que as partes digam o contrario], se não se transferir também não se
transfere o risco.

Neste caso, como estamos no Contrato-Promessa não se aplica a regra do artigo 1682-A pois não tem esta
eficácia ativa. Diferente é se no contrato definitivo o cônjuge ainda não tiver dado consentimento aí o
negócio já não é válido.

2. Outro argumento dado pelo promitente faltoso foi a proposta de uma ação tendente à nulidade deste
CP pelo cônjuge [B] tendo em conta um vício de forma.

Temos de olhar à forma para saber se foram preenchidos os requisitos de forma.

Qual a forma do Contrato-Promessa?


Dissemos que pelo princípio de equiparação se aplica o regime do contrato prometido então dizemos que
será a forma do Contrato Prometido.

Mas também se exceciona a forma do contrato, nem sempre se palica ao Contrato-Promessa a forma do
contrato prometido. Então qual é?

É geral e bem estabelecido no artigo 410º/2 – regime geral – promessa respeitante à celebração do
contrato definitivo, a forma do Contrato-Promessa depende da forma do contrato prometido. Esta forma
pode não ser a mesma mas depende deste.

Assim, quando a lei exige para o contrato prometido escritura pública [“documento autêntico”] ou
documento particular o Contrato-Promessa tem de ter, para ser válido, um documento escrito particular.

Assim, perante o 410º/2:

1. Quando não exige forma o contrato prometido não há forma exigida ao Contrato-Promessa;
2. Quando é exigido ao contrato prometido documento particular também é exigido ao Contrato-
Promessa documento particular;
3. Quando é exigido escritura pública ou documento particular autenticado ao contrato prometido, o
Contrato-Promessa tem de ter documento particular – forma já não é a mesma.

Documento particular: opõe-se ao documento autêntico, a sua redação é feita pelos particulares ao
contrário da escritura pública (documento autenticado). Este pode ser autenticado ou simples. O do
Contrato-Promessa é sempre simples.

Pode depois existir reconhecimento das assinaturas mediante se trate de um contrato oneroso de
transmissão ou constituição de um direito real sobre um edifício ou fração já construído ou em construção.

Os nº2 e 3 do artigo 410º nos contratos que transmitem direitos reais, por exemplo contrato de compra e
venda [artigo 875º] se for imóveis é exigível documento particular autenticado ou escritura pública.

No nosso caso, o Contrato-Promessa só seria válido se constasse de documento particular assinado por
ambos os contraentes pois trata-se de um acordo bilateral. Sendo que este foi apenas assinado por A. –
Vício de forma.

29
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Existem indícios se se atribui eficácia real ao Contrato-Promessa e um deles é a forma. Só é eficaz inter
partes nos termos do artigo 213º e as partes podem atribuir eficácia real à promessa, se forem promessas
respeitantes a moveis ou imoveis sujeitos a registo, registo dessa atribuição dessas partes e tem de ter
escritura pública ou documento particular autenticado para ser atribuída esta eficácia.

Neste caso deduzimos que este Contrato-Promessa tem simples eficácia obrigacional.

(…)

O legislador ao consagrar a promessa unilateral.

A nulidade da promessa de comprar pode gerar uma redução e ter um Contrato-Promessa unilateral de
venda em vez de uma promessa bilateral nula.

Não basta que objetivamente que essa divisibilidade sempre uma não depende da outra. Quando
pudermos concluir que o promitente vendedor se teria vinculado independentemente de o promitente-
comprador se ter prometido a comprar, apenas aqui podemos dizer que são divisíveis objetivamente. Por
uma ligação sinalagmática – que faz que as promessas dependam uma da outra.

Artigo 292º aplicando-o ao Contrato-Promessa o legislador presume que as partes ainda se teriam
vinculado ainda que houvesse vício - presume essa divisibilidade.

Quem tem interesse na não manutenção do negócio é que tem de fazer prova que não manteria o negócio
se houvesse esta invalidade.

Se não houver qualquer prova feita considera-se que aceitaram esta divisibilidade reduzindo-se o
contrato.

É apenas inválida uma parte.

O outro contraente pode fazer ainda prova em contrário que não teria assumido esta vinculação se tivesse
previsto esta invalidade. Mas mesmo assim, depois desta prova, pode não atingir os seus desígnios pois o
promitente vendedor não tem nenhum interesse legítimo na nulidade total do negócio. Se o contrato for
considerado válido e ele não cumprir a promessa isso tem consequências indemnizatórias.

Tem de devolver o que recebeu e mais uma indemnização a título de sinal por aquilo que não entregou.

Pela via da conversão obteríamos o mesmo resultado. É a parte interessada na validade que tem de fazer
prova e tem de fazer prova de factos relativos à outra parte, que a outra parte (não?) teria concluído o
negócio sem a parte viciada.

Sendo mais difícil salvar o negócio jurídico se escolhemos a redução e não a conversão.

No caso concreto, este Contrato-Promessa é um regime especial do artigo 410º/3 esse tem de ser
reconhecido presencialmente e tem de haver exibição e certificação pela entidade da licença de
construção do edifício.

Os contratos do artigo 410º/3 tem requisitos:

1. Contrato oneroso;
2. Constitua ou transmita direito reais sobre determinada coisa;
3. Ou contrato de transmissão relativos a um edifício ou fração autónoma dele.

Neste caso há um indício que não houve este reconhecimento presencial.

Existe uma nulidade não invocável pelo promitente vendedor, só pode invocar a nulidade pela omissão
destes requisitos se essa omissão se deveu a culpa da outra parte.

30
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
É um terceiro, a mulher do promitente vendedor, que vem invocar a nulidade deste negócio. O que
queremos saber e se também os terceiros e o tribunal podem invocar esta nulidade.

Aula 06.Dez.2016

Assinatura do C-P
Artigo 410º - regime especial e está sujeito a requisitos suplementares do artigo (assinaturas presenciais;
etc).

 Qual a consequência se não se verificar as condições deste artigo?

Há uma exigência formal que quando não é cumprida é punida pelo artigo 220º: a consequência é a
nulidade. Mas nem todos podem exigir a nulidade, o promitente-vendedor não pode arguir esta
invalidade a menos que faça prova que é culpa da contraparte esta omissão.

Esta norma parece querer proteger o promitente-comprador. Esta conclusão é logica se nos centrarmos do
momento da feitura do código.

Fica a cargo do promitente transmitente o cumprimento dos requisitos e se não o fizer tem de se sujeitar
às consequências a menos que faça prova.

Temos uma norma que afasta do regime de nulidade normal – as partes e qualquer interessado e o
tribunal poderiam invocar a nulidade. Afastando assim este regime.

Então e os terceiros e o tribunal?

No nosso caso é o cônjuge que vem invocar, será enquanto terceiro interessado pode invocar?

A lei não o diz expressamente mas em função da utilidade da norma chegamos à conclusão que não,
assim como na jurisprudência, doutrina e nos tribunais. A razão que justifica este regime é a ideia da
proteção do promitente-comprador – normas de proteção da parte mais fraca.

Porque o estaríamos a desproteger? Por exemplo, o P-C entregou uma quantia (artigo 442º - interpretado
como sinal) aquele que recebeu o sinal tem de entregar o que recebeu e o dobro do sinal. Isto apenas é
assim se for tido como valido ou se ninguém puder invocar a invalidade. Se o P-V decidir invocar esta
quantia já não será entregue. Chega-se ao momento do cumprimento e não há validade de forma, não
pode ser celebrado o negócio definitivo por culpa do promitente-vendedor tendo lugar a indemnização
mais o seu dobro.

Daí que se diga que é uma proteção do promitente-comprador.

O Dr. Almeida Costa dizia que não estava sempre presente o interesse deste mas também o interesse
publico, se não estiver presente uma licença também se protege pois estamos a evitar construções
clandestinas. Não podemos é ao estar a proteger o interesse público em vez do promitente-comprador.
Temos de ter em conta apenas o promitente-comprador.

O que está em causa é uma nulidade atípica – a todo o tempo, apenas pelo promitente-comprador
(pessoa interessada, interesse cuja a lei estabeleceu), não pode ser invocada pelos tribunais nem por

31
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
terceiros. Pode ser sanada por confirmação ou pela verificação dos aspetos que faltavam para a sua
validade.

Atenção apenas nulidade atípica se faltarem os requisitos do 410º/3. Se faltarem dos outros nºs então será
típica.

Deste modo, tendo em conta o caso o cônjuge não poderia invocar tendo em conta a invalidade ser do
410º/3.

Regime do Sinal
Quando uma das partes entrega a outra uma determinada quantia pode ter diversos significados. De facto,
na generalidade dos contratos é isso que se considera.

No artigo 440º, se as partes nada disserem na generalidade tem-se como apenas antecipação do
cumprimento. Há uma presunção a generalidade dos contratos como antecipação do cumprimento a
menos que as partes venham a classificar.

Já não é assim no Contrato-Promessa de compra e venda – artigo 441º - este resulta que neste esta
quantia é havida como sinal. Ainda que seja tida como antecipação do preço é sempre presumido que seja
sinal. As partes podem fazer prova do contrário. A presunção vale na mesma. Temos que partir desta
presunção.

No nosso caso, apesar de ser entrega do preço tendo em conta o artigo 441º temos de presumir que foi
entrega do sinal, o promitente-comprador, se não for, terá de fazer prova de contrário.

 O que é o sinal?

Entrega de uma quantia que poderá ser entregue na totalidade ou parte no cumprimento do contrato.

Pode ter uma função confirmatória para assegurar a sua real intenção de manter e cumprir o contrato.
Também pode ter função em contrário – função penitencial – quando ele é entregue como forma de
assegurar o seu direito a se vir arrepender do contrato. Não pode ter as duas funções ao mesmo tempo,
apenas uma.

Qual delas optar? As partes é que qualificam a natureza do sinal.

Quando não se deduz? Na generalidade dos contratos o sinal tem-se como confirmatório por ser o que
mais se assemelha com os contratos – pacto sum servanta.

Também tem a ver com o artigo 809º - credor não pode renunciar aos seus direitos.

Relativamente ao C-P o sinal funciona, se existe sinal é porque as partes quiseram excluir essa execução
específica. Tem carater penitencial como forma de afastar a execução específica.

Não é apenas nos contratos do 401º/3.

Relativamente ao caso, a cláusula é nula tendo em conta o artigo 410º/3. Não pode antecipadamente ser
afastada pelos contraentes a execução específica assim como o sinal também não vale neste sentido. Na
existência de sinal, os 100 mil euros, mas este não tem natureza penitencial e não afasta a execução
especifica.

32
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Temos de questionar se existe a traditio re? Quando transfere para o p-c de uma espécie de domínio
fático sobre a coisa pode traduzir-se na entrega material da coisa ou um ato simbólico (entrega das chaves
do apartamento) – possa a poder exercer sobre a coisa determinados poderes de facto.

Neste caso, o p-c era já arrendatário do imóvel. Já havia poderes materiais.

Incumprimento
Quando há incumprimento do c-p temos de questionar quais os meios de reação.

Distinguimos dois meios:

1. Mora no cumprimento há um atraso mas ainda é possível e ainda há interesse no credor –


execução específica do contrato.
2. O que era uma situação de mora já se tornou numa impossibilidade e já não há interesse do
credor temos de passar para a indemnização.

Só é possível a execução específica quando não exista impossibilidade de cumprimento, quando exista
mora.

A lei no artigo 808º vem dizer quando a mora se torna incumprimento: quando o atraso torna o credor
desinteressado – perda objetiva do interesse no incumprimento [noiva e vestido]; o credor mantém ainda
o interesse e o devedor teima em não cumprir – inadequação pela interpelação [???].

Se temos um regime de incumprimento já temos de ir para indemnização.

1. Neste caso de execução específica temos de aplicar o artigo 830º/1 – ideia que a ação de execução
específica tem natureza constitutiva e não declarativa. Não pede apenas a condenação do réu mas
pede que o tribunal se substitua à declaração negocial em falta e celebra o contrato. Não é a
condenação do reu do negócio definitivo mas sim a celebração do negócio definitivo. O tribunal
substitui-se ao faltoso. Da declaração ocorre um efeito novo – execução do negócio definitivo.
Quando não é possível a execução específica? Clausula imposta pelas partes que impede esta
execução. Quando se trate do nº3 do artigo 410º - 830º/3 – também não é possível apenas tem
natureza imperativa. As partes não podem antecipadamente renunciar à execução específica. Mas
não esta apenas afastada nestes casos.
Quando resulte da natureza da obrigação assumida exclui a possibilidade da execução específica –
contratos de natureza pessoal – o tribunal não se pode substituir à promessa do faltoso por
exemplo, promessa de casamento ou do promessa de doação ou de trabalho.
Aquilo que se obtém na execução específica é a substituição da ação do promitente faltoso,
sempre que essa ?? não seja suficiente – falta de licença, se bastar a declaração negocial do faltoso
o tribunal pode-se substituir mas se faltar ainda a falta e consentimento de terceiro o tribunal não
se pode substituir.

No caso, falta o consentimento não podendo se proceder à execução específica. E deve indemnização pelo
830º/2.

Ainda falta ver se a venda a terceiro impede a realização do Contrato-Promessa. O C-P tem natureza
obrigacional e não real não se podendo opor a terceiros. Apenas se tivesse natureza real. Neste caso não
se opõe e por regra é assim.

33
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Quando diga respeito a bens móveis e imovíeis sujeitos a registo também a execução específica fica
sujeita a registo, o registo da ação é provisório.

Se D não tivesse registado o direito, quando C propõe a ação em tribunal este mando proceder o registo.
Assim mantem-se a propriedade de C. A ação prossegue e no momento em que o tribunal decide pela
execução e pede o registo definitivo. Este já definitivo retroage até ao momento d registo provisório, é
como se o direito tivesse sido adquirido no registo provisório da ação. Se D não registou até ao provisório é
como se tivéssemos uma dupla alineação. De A a D e do tribunal a C. Segundo as regras do registo
prevalece o direito de C que registou primeiro.

Dr. Almeida Costa dizia que estaríamos a atribuir eficácia real a um contrato promessa quando as partes
não lhe deram esta força. Mas não é o direito da aquisição que é oponível terceiros mas sim o direito de
propriedade por força do direito do registo.

No nosso caso, está excluída a execução específica porque não houve consentimento do cônjuge não
sendo possível – 830º/1 – faltava algo mais do que a declaração [??].

Indemnização em caso de incumprimento havendo sinal


Artigo 442º/2 vem fixar uma indeminização do C-P no valor do sinal. O valor da indemnização é o valor do
sinal.

O nº1 diz respeito do sinal em caso cumprimento –sinal imputado no preço.

Quando há um C-P sinalizado, temos de distinguir quem não cumpre:

 Imputável ao tradens, a quem entrega o sinal – a parte que recebeu a quantia pode fazer sua a
coisa entrega a título de indemnização sendo o valor do sinal.
 Imputável ao ancipiens quem recebeu – tem de devolver em dobro do sinal. Entregar uma parte a
título de restituição e outra a título de indemnização.

Neste caso, como é imputável ao vendedor tem de restituir 100 mil a título de restituição e mais 100 mil a
título de indemnização. A menos que o vendedor venha a provar que esta quantia não tinha valor de sinal
mas sim de preço.

Se fizer prova que não era sinal mas sim antecipação do pagamento do preço já não vale este regime.

Indemnização com base no aumento do valor

O valor da coisa quando aumenta o valor do sinal. (??)

Lei vem estabelecer esta indemnização tendo em conta o preço atual da coisa, por exemplo 100 mil, e
entre o momento de celebração do negocio o P-C entregou metade do valor, entre estes momentos o que
valia 100 mil passou a valer 200 mil. Havendo traditio re o promitente honesto, dos 200 mil diminui os 100
mil e teria a restituição dos 150 mil euros o que desincentiva o P-V a alienar a coisa pois teria de entregar o
valor da respetiva valorização deixando de ter lucro.

Esta indemnização está ‘destituída’ pois já não há esta valorização.

Não se pode cumprir quando esse preço se tenha como um preço de favor, um amigo por exemplo. O
preço já era 200 mil mas porque o p-c era filho ou amigo do p-c faz um preço de amigo e convenciona os
100 mil se no momento não cumprir e o p-c optar por esta estaríamos a permitir um enriquecimento
injusto. Ou seja, não se cumpre nestes casos este tipo de indemnização.

34
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
A regra do nº3 442º não pode obrigar-se o p-v a receber a prestação porque o outro optou pela
indemnização e já em interesse de cumprir o contrato – exceção de cumprimento – porque num pedido
indemnizatório vem o reu defender-se invocando a exceção de querer cumprir o c-p – não tem sido
admitida pois não é compatível com as regras, a mora a já não permite que seja cumprida.

No nosso caso, havia tradição da coisa mas não se verifica nenhum aumento então a indemnização seria
tendo em conta a entrega do sinal a não ser que se fizesse prova do contrário. Não havendo lugar a outra
indemnização.

Se para além de ter havido traditio da coisa mas o promitente vendedor tem feito benfeitorias há outro
regime. Se forem destacáveis da coisa ou não e se não forem se podem ser destacadas – artigo 1273º. Tem
de ser indemnizado.

Aula 13.12.14
Não sendo possível execução específica tem direito a indemnização sendo esta o dobro do valor do sinal.

Alienação a terceiro – nem sempre prejudica a execução específica mas não era o que estava em causa.
Este terceiro era arrendatário e poderia adquirir o seu direito através do direito de preferência, provem da
lei. Esta não consegui obter o seu direito a partir do Contrato-Promessa mas sim através do seu direito de
preferência. E este prevalece sempre.

O arrendatário é detentor de um direito legal de preferência e uma vez violado, violado pois não foi
informado, tem 8 dias para dizer se quer preferir. Se nada for comunicado há uma violação deste. Depois
de ter havido alienação a terceiro no DP pode propor uma ação de preferência previsto no artigo 1410º
pedindo para ser colocado na posição de terceiro preferente. Sendo um dos meios de resolução deste
caso, já não como promitente-comprador mas sim como terceiro preferente.

Alienação a terceiros – nem sempre implica a execução específica do contrato. Mas C era arrendatário do
imóvel, o que significa que tem o direito legal de preferência: pode fazer valer o seu direito numa ação de
preferência. Este direito confere, em igualdade de circunstâncias, o direito de arrendar o imóvel. Prevalece
este direito legal de preferência, mesmo em confronto com direito real de preferência (?).

Deveria ter comunicado as condições do contrato ao preferente, que tem 8 dias para preferir – se nada
disser, o seu direito caduca. Se não lhe for comunicado o projeto de preferência há uma violação do direito
de preferência, e, nos termos do 1410º pode opor uma ação de preferência (no prazo de 6 meses), no
sentido de ser colocado pelo tribunal na posição do preferente.

Quando há a traditio rei, por fora do próprio contrato de arrendamento, enquanto não for paga a
indemnização do CP, tem o promitente fiel o direito de reter a coisa, nos termos do art. 755º. Este direito
de retenção é um direito real de garantia – art. 775º/1/f). Este direito de retenção não prevalece sobre a
venda judicial no caso de ter havido penhora, mas pode o promitente comprador vir à execução e
exercendo o direito da (…) – o promitente comprador será pagão na respetiva execução.

II

Em fevereiro de 2016, Carlos e Dionísio celebraram, em documento escrito assinado por ambos os
contraentes, um contrato nos termos do qual o primeiro prometeu vender e o segundo comprar um
imóvel, destinado à instalação de uma padaria.

No referido contrato as partes previram a possibilidade de Dionísio nomear um terceiro como


promitente-comprador e acordaram no não cumprimento dos requisitos do nº3 do art.º410 do C.C.,

35
Aulas práticas – Dr. Irene Girão
renunciando ao direito de invocar a respetiva invalidade. No momento da celebração do negócio
Dionísio entregou a Carlos 50.000 €.

O contrato de compra e venda deveria celebrar-se até final de agosto de 2016, o que não sucedeu em
virtude da recusa do promitente-comprador, que agora exige a restituição dos 50.000 € entregues,
alegando o seguinte:

a. Não está obrigado a comprar, porque nomeou Esmeralda como promitente compradora, pelo que
é o terceiro nomeado que estará obrigado a celebrar o contrato definitivo.
b. O negócio é nulo por força da omissão dos requisitos do art.º 410, n.º3.
c. Perdeu o interesse na celebração do negócio definitivo, já que adquiriu um outro imóvel, por preço
inferior, onde já instalou a sua padaria.

Comente cada um dos argumentos invocados em sua defesa por Dionísio e diga que direitos assistirão a
Carlos, tendo em conta que este fez, no imóvel, as obras necessárias à instalação da padaria, em julho
obteve a licença de utilização e que, além disso, a sugestão de não proceder ao reconhecimento
presencial das assinaturas foi feita por Dionísio.

O cumprimento imputável ao promitente-comprador.

Forma: 410º/2 – referente a um contrato prometido para qual é exigido documento assinado por ambos
os contraentes [contrato real é necessário documento autenticado – 825º(?)].

Temos de verificar se estamos nos casos do artigo 410º/3.

Não foram cumpridos os requisitos adicionais.

As partes acordaram no não cumprimento dos requisitos e renunciaram a invocar a invalidade.

Estamos no caso dos 410º/3 e faltam requisitos. Mas quem invoca a invalidade por estes requisitos é o
promitente-comprador, tendo legitimidade pela lei a questão é se pode sempre ser invocada por este.

Em regras, estas cláusulas são inválidas, não podem ser apostas no contrato. Não podem invocar esta
recusa se não há licença de construção. Esta ideia de não invocação da invalidade aparece como ideia do
promitente-comprador, podemos por hipótese de quando este vem invocar a invalidade que haja um
venire contra factum próprio, foi ele que teve a ideia de por esta cláusula, torna-se uma espécie de abuso
de direito. Isto quanto à assinatura sem ser presencial.

Já é diferente quanto à licença.

No momento de celebração do contrato promessa não existia licença mas aquando a celebração do
contrato prometido já havia essa licença. Podendo a invalidade ser sanada.

a)

1º: analisar do ponto de vista da forma. Nos termos do art. 410º/2 – referente a contrato definitivo o qual,
nos termos do 745º, a lei exige documento particular autenticado ou escritura publica, ou seja, para o CP é
necessária a forma escrita – a forma está cumprida.

2º: teremos que verificar se estamos perante um caso do 410º/3 e verificar se estão cumpridos os
requisitos: reconhecimento presencial da assinatura e certificação de uma entidade competente. EM
principio, não foram cumpridos estes requisitos adicionais: em primeiro lugar, as partes renunciaram ao
direito de invocar a respetiva validade, como também acordaram ao não cumprimento dos tais requisitos.
O não reconhecimento presencial das assinaturas terá sido sugestão do promitente comprador.

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
Estamos perante um contrato dos do 410º/3 (contrato oneroso de transmissão de direitos reais sobre um
imóvel). Não foram cumpridos os requisitos respeitantes à forma especial. Quem vem invocar a invalidade
é o promitente comprador, e em termos formais, será permitido – mas ser que pode sempre invocar a
invalidade respetiva? As partes terão renunciado ao direito de invocar a respetiva invalidade – em regra,
estas renuncias são nulas: não esta só em causa o interesse das partes, mas também o interesse publico. A
sugestão de não reconhecer a assinatura presencial foi do promitente comprador o que indica que terá ido
ele a ater influencia sobre o não cumprimento dos 410º/3 e podemos por a hipóteses que exista uma
espécie de venire contra factum proprium (…não pode despois vir a defraudar essa confiança com …) – é
uma espécie de abuso de direito, no caso, o direito do 410º/3.

Isto não sucede necessariamente quanto ao não cumprimento dos respetivos requisitos. Esta é uma
nulidade atípica (…), nomeadamente pode ser sanável. No omento do CP não havia licença de utilização,
mas no decurso do CP, o promitente vendedor veio a obter a licença e nesse sentido há uma sanação da
respetiva invalidade – o argumento da invalidade por força do 410º/3 auqi não colhe, não só pelo
reconhecimento presencial das assinaturas e quanto à não existência da respetiva certificação que veio a
ser obtida.

b) O contrato de pessoa a nomear é um contrato pelo qual um dos contraentes reserva a um 3º o direito
de vir a (…).Não se refere a uma pessoa anónima, em causa não está a representação, porque os efeitos da
clausula de nomeação: tem que haver uma declaração de nomeação, conforme a forme o contrato
prometido, como tem que haver a aceitação pelo 3º nomeado dos efeitos do negocio. Se houve nomeação
e a respetiva aceitação, tudo se passa como s o contrato inicial tivesse sido celebrado com ela – ela seria o
contrato promessa e ela tinha o dever de celebrar o contrato definitivo.

Se não houver nomeação válida e a aceitação dos respetivos efeitos, é como se o contrato se refere ao
contraente inicial – os efeitos produzem-se na esfera jurídica do contraente originário. Neste contrato de
pessoa a nomear há uma dupla condição: resolutiva e suspensiva.

Como parece que não houve aceitação por E, os efeitos produzem-se na esfera jurídica do contraente
originário e ele continua como promitente comprador do respetivo negócio – 453º.

c)Temos um contrato válido, que obriga ao contraente originário, que agora não cumpre – quais as
consequências? O argumento de D é que perdeu o interesse do contrato definitivo: esta é absolutamente
relevante, apenas quando essa perda de interesse resulta da mora do devedor e que se pode transformar
em incumprimento definitivo. No caso, a perda de interesse não resulta de nenhum incumprimento
temporário por parte de devedor. Para efeitos da respetiva indemnização ou recurso a indemnização
especifica é irrelevante a perda de interesse do respetivo credor.

Quais as consequências?

Execução específica. À partida seria possível a execução especifica do CP – desde logo existe sinal, que
poderia ser um entrave, mas por força do 830º/2 a execução especifica é permitida, uma vez que estamos
num dos casos do 410º/3. Poderia o C recorrer a execução especifica do contrato, pedindo ao tribunal que
se subsistisse a declaração negocial do faltoso e celebrar-se o contrato.

Tutela indemnizatória. O promitente vendedor, ainda assim, não estava obrigado a execução específica:
poderia transformar a mora em incumprimento definitivo – (o vendedor fez obras no imóvel) – pode faze-
lo através da interpretação admonitória através do 808º: vem interpelar o respetivo promitente faltoso,

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dando um prazo suplementar para este cumprir o contrato; adverte que, caso não o cumpra no prazo, o
transformará a mora em incumprimento definitivo.

Funciona a regra do 442º/2: se o incumprimento do CP for imputável, agora ao tradens do sinal, pode a
outra parte fazer sua a coisa entregue a título de indemnização (o promitente vendedor poderia ficar com
os 5mil euros).

Nota: gestão de negócios e enriquecimento sem causa não sai em caso prático (no máximo nas distinções).

Pacto de preferência
Caso prático

Dina obrigou-se a dar preferência a Estevão na venda do prédio x de que é proprietária. Ao contrato
celebrado através de documento particular autenticada as pares atribuíram eficácia real.

Em agosto de 2016, dina comunicou a e a sua intenção de vender o imóvel por 150 mil euros, não
obtendo deste qualquer resposta.

Em virtude disto, em início de novembro vendeu o prédio a Filipe por 120 mil euros. Tendo no entanto
as partes declarado o preço de 100 mil. Estevão pretende agora reagir invocando a violação da
preferência.

Quid iuris?

Está em casa um pacto de preferência.

Tempos de o distinguir do contrato-promessa, em ambos estamos perante factos positivos. Obrigam-se a


cumprir uma determinada obrigação mas o Contrato-Promessa obriga-se a uma obrigação de concretizar
um determinado negócio.

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No pacto de preferência ficam livres de contratar ou não, no caso de vir a celebrar esse negócio dá
preferência à pessoa com quem celebrou o pacto.

Há uma dimensão de liberdade de escolha da contraparte, apenas uma das partes se autolimita a escolher
o contraente, a lhe dar preferência no caso de estar interessado. Aqui está em causa a escolha da
contraparte.

Este contrato é sempre um contrato unilateral ao contrário do C-P que pode ser uni ou bilateral. Este é
sempre unilateral. Está vinculado a escolher a outra contra parte.

A outra parte é o beneficiário, não está obrigado à celebração do negócio nem a aceitar as condições ou o
negócio em si não tem qualquer vinculação.

Regime e Forma
É a própria lei que remete a forma do pacto de preferência para a forma do contrato-promessa – artigo
415º. Aplica-se o artigo 410º nº2:

 Neste também se exige documento particular assinado por quem se vincula. Se for necessário para
o negócio definitivo documento particular autenticado ou escritura pública para o pacto é
necessário documento assinado. Se for exigido documento assinado também o mesmo para o
pacto de preferência.

Não se entende a remissão para o nº3 mas apenas para o nº2 do 410º.

São necessários os mesmos requisitos para atribuir eficácia real ao pacto de preferência dos que são
exigidos para o Contrato-Promessa. Se para o negócio objeto da preferência for necessário documento
particular autenticado ou escritura pública para ter eficácia real é também necessário essa forma.

Foi o que aconteceu no nosso caso. Por força do artigo 415º com remissão para o artigo 410º bastaria um
documento simples assinado mas as partes queriam atribuir eficácia real sendo necessário documento
particular autenticado. Do ponto de vista da forma o pacto de preferência é valido.

Condições de exercício:
O beneficiário não se obriga mas tem direito de preferência.

A lei diz que o beneficiário tem de ser informado através de notificação de preferência, regulada no artigo
416º. O obrigado tem de comunicar ao beneficiário as cláusulas e o projeto de venda. Este ‘projeto de
venda’ significa que já existe um terceiro interessado em adquirir, em determinadas condições, a coisa.

O obrigado à preferência decide vender e sabe que tem de dar preferência antes de falar com o terceiro
vai ter com o beneficiário e diz que se ele quer comprar, isto não é uma notificação de venda. A
notificação é escolher alguém em detrimento de outrem, tem de haver um terceiro. Tem de haver já um
projeto de venda e este tem de ser comunicado.

Com todas as cláusulas essenciais para que o preferente decida se aceita ou não a celebração do contrato.
É essencial conhecimento da forma de pagamento, o preço, etc. Pode ser também essencial o
conhecimento de quem é o terceiro interessado na compra. Por exemplo, uma preferência em que o
preferente é o arrendatário. Ao arrendatário é essencial saber quem vai ser o seu novo senhorio para
saber se aceita ou não o pacto.

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No caso prático: Aqui era essencial e foi comunicado o respetivo preço – 150 mil. Pode ter havido uma
simples proposta de contrato ou mesmo a comunicação, não é explícito no enunciado. De qualquer modo
o beneficiário não respondeu.

Se não responder no prazo de 8 dias caduca a preferência.

Quer a notificação quer a resposta não tem forma legal imposta. É certo que para o obrigado há toda uma
conveniência de a fazer a comunicação por escrito de modo a que possa fazer prova de que foi feita
efetivamente a notificação.

Este prazo é um prazo supletivo, as partes podem estabelecer outro prazo. Pode, ainda, o preferente
assinalar um prazo unilateralmente desde que seja maior, pode estabelecer unilateralmente o prazo desde
que o aumente nunca o pode diminuir. Em acordo as partes podem estabelecer outro prazo, seja ele maior
ou não.

Há que ter em atenção que o prazo de 8 dias caduca para aquelas condições que foram comunicadas ou
menos favoráveis para o próprio aderente. Por exemplo, acordaram em 150 mil e depois as condições
eram 200 mil.

Se forem mais vantajosas o preferente pode querer estabelecer essas. Se for estalecido com terceiro um
negócio em condições mais favoráveis essas deviam ter sido comunicadas ao preferente.

No caso é o que acontece. Foi comunicada a intenção de vender por 150 mil euros e depois não obtendo
resposta o obrigado vendeu a terceiro por 120 mil euros. Tem de comunicar ao preferente estas novas
condições. Não tendo comunicado viola o direito de preferência.

Que meios pode reagir?


Há violação de um contrato. Poderíamos recorrer à execução específica mas no pacto de preferência não
existe. Há uma exceção pelo artigo 421º é aplicável com eficácia real o disposto no 410º que consagra uma
ação de preferência, como se fosse execução específica – 6 meses para propor ação – e fica o preferente
no lugar de adquirente. Se o pacto tiver eficácia real pode haver recurso a esta ação.

Se não tiver eficácia real a única solução é o recurso a uma indemnização [ 422º] calculada nos termos
gerais previsto no artigo ??? e ss.

Neste caso violou o direito de preferência e tem direito a recorrer ao 410º - o pacto tem eficácia real.
Devem ser demandados tanto o 3º que vai ser substituído mas também o obrigado à preferência.

Há uma situação de preço, apenas declararam 100 mil euros. O preço declarado é inferior ao preço real.
Por vários motivos, pode ser por fuga ao fisco.

Poderá o preferente preferir os 100 mil ou os 121 mil?

Dr. Varela entende nos termos 243º que não é oponível a terreiros de boa-fé, poderia adquirir por 100 mil.

O negócio de 100 mil euros é nulo é uma simulação relativa.

Nos termos do 243º não é oponível a 3º de boa-fé podendo adquirir por 100 mil euros. Temos de ter em
atenção o que se considera por terceiro neste contexto.

Se assim considerássemos estaríamos a atribuir enriquecimento sem causa. Por siso o terceiro não é todo
aquele que é afetado, é o que é prejudicado com a simulação ou nulidade do negócio simulado. Ou deixa

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão
de ser beneficiado senão lhe poder ser imposta a nulidade. Entre nos não é considerado terceiro de boa-fé.
[??]

Deposita os 100 mil e os simuladores podem obtendo uma decisão judicial que prova a existência de
simulação podiam apor a nulidade do negócio simulado e depois o beneficiário teria de decidir se quereria
adquirir por 120 mil.

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Aulas práticas – Dr. Irene Girão

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