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Maio 2024

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News

— MAIO 2024 —

JULGADOS EM DESTAQUE
Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Os honorários advocatícios são devidos à Defensoria Pública mesmo quando ela atua contra
a pessoa jurídica de direito público à qual pertença; a Súmula 421 do STJ foi cancelada

Caso concreto: o jornal Folha de São Paulo pediu para que o Governo do Estado fornecesse O STF,
por ocasião do julgamento do RE 1.140.005/RJ, ao considerar a autonomia administrativa, funcional
e financeira atribuída à Defensoria Pública, concluiu pela ausência de vínculo de subordinação
ao Poder Executivo, e consequente superação do argumento de confusão patrimonial, definindo
tese que assegura o pagamento de honorários sucumbenciais à instituição, independentemente
do ente público litigante, os quais devem ser destinados, exclusivamente, ao aparelhamento das
Defensorias Públicas, sendo vedado o rateio dos valores entre os membros (Tema 1.002/STF).
Cabível, portanto, a condenação do ente federado ao pagamento de verba sucumbencial à
Defensoria Pública.
Fica cancelada a Súmula 421 do STJ: Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria
Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença.
STJ. Corte Especial. Súmula 421 cancelada em 17/4/2024 (Info 808).

Lei estadual pode criar cadastros de pedófilos e de pessoas condenadas definitivamente por
violência contra a mulher; o acesso público ao banco de dados não deve conter nomes das
vítimas ou informações capazes de permitir sua identificação

É constitucional lei estadual que institui cadastro de pessoas com condenação definitiva por
crimes contra a dignidade sexual praticados contra criança ou adolescente ou por crimes
de violência contra a mulher, desde que não haja publicização dos nomes das vítimas ou de
informações que permitam a sua identificação.
STF. Plenário. ADI 6.620/MT, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/04/2024 (Info 1133).
JULGADOS EM DESTAQUE 2

Não viola a súmula n. 7/STJ a majoração de valor irrisório de danos morais coletivos em razão
da publicação na Internet de artigo ofensivo à honra dos povos indígenas

Caso concreto: determinado jornalista publicou, em um periódico, artigo intitulado “Índios e o


Retrocesso”, com violentas ofensas à dignidade da comunidade indígena.
O MPF ajuizou ação civil pública contra o autor do artigo pedindo a sua condenação ao
pagamento de danos morais a serem revertidos em favor de cada membro das comunidades
indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul.
O TJ fixou a indenização em R$ 5.000,00.
O MPF interpôs recurso especial pedindo a majoração.
O STJ conheceu do recurso especial, afastando a súmula 7 (a pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial) considerando que o valor fixado nas instâncias ordinárias foi
considerado irrisório.
A jurisprudência do STJ afasta a aplicação da Súmula 7/STJ e conhece do recurso especial que
busca a revisão do valor estabelecido pelas instâncias ordinárias a título de danos morais quando
o montante é considerado irrisório ou abusivo.
O STJ aumentou o valor da condenação para R$ 50.000,00.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.112.853-MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 20/2/2024 (Info 808).

São constitucionais os arts. 13-A e 13-B do CPP, inseridos pela Lei 13.344/2016

É constitucional norma que permite, mesmo sem autorização judicial, que delegados de polícia e
membros do Ministério Público requisitem de quaisquer órgãos do Poder Público ou de empresas
da iniciativa privada o repasse de dados e informações cadastrais da vítima ou dos suspeitos
em investigações sobre os crimes de cárcere privado, redução a condição análoga à de escravo,
tráfico de pessoas, sequestro relâmpago, extorsão mediante sequestro e envio ilegal de criança
ao exterior (art. 13-A, CPP).
É constitucional norma que possibilita, mediante autorização judicial, a requisição às empresas
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática da disponibilização imediata de
sinais, informações e outros dados que viabilizem a localização da vítima ou dos suspeitos
daqueles mesmos delitos (art. 13-B, CPP).
Logo, são constitucionais os arts. 13-A e 13-B do CPP, inseridos pela Lei nº 13.344/2016.
STF. Plenário. ADI 5.642/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/04/2024 (Info 1133).

DOD CAST
Ouça os informativos comentados pelo professor Márcio Cavalcante,
do Dizer o Direito.
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JULGADOS EM DESTAQUE 3

É constitucional a utilização de vestimentas ou acessórios relacionados a crença ou religião


nas fotos de documentos oficiais, desde que não impeçam a adequada identificação
individual, com rosto visível

Desde que viável a adequada identificação individual, é assegurada, nas fotografias de


documentos oficiais, a utilização de vestimentas ou acessórios que representem manifestação
da fé, à luz do direito à liberdade de crença e religião (art. 5º, VI, CF/88) e com amparo no
princípio da proporcionalidade, de modo a excepcionar uma obrigação a todos imposta
mediante adaptações razoáveis.
Tese fixada pelo STF: É constitucional a utilização de vestimentas ou acessórios relacionados
a crença ou religião nas fotos de documentos oficiais, desde que não impeçam a adequada
identificação individual, com rosto visível.
STF. Plenário. RE 859.376/PR, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 17/04/2024 (Repercussão
Geral – Tema 953) (Info 1133).

É inconstitucional norma que permita mais de uma reeleição consecutiva para os cargos de
direção do TCE; vale ressaltar que a norma pode prever uma única reeleição consecutiva

São inconstitucionais normas estaduais (seja Constituição, lei ou regimento interno) que permitam
mais de uma reeleição consecutiva para o mesmo cargo diretivo do Tribunal de Contas estadual.
A norma que permite várias reeleições consecutivas viola os princípios republicano e democrático.
Vale ressaltar que é constitucional a previsão em norma estadual que permita uma única
reeleição consecutiva para os cargos diretivos do TCE. Assim, por exemplo, a Constituição do
Estado pode prever que o Presidente e o Vice-Presidente do TCE seja reconduzido para mais
um único mandato. O que o STF proibiu foi mais de uma reeleição consecutiva. Obs: para você
entender melhor, é a mesma lógica da reeleição para a chefia do Executivo.
STF. Plenário. ADI 7.180/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/04/2024 (Info 1133).

É inconstitucional lei estadual que trate sobre corte de energia elétrica ou água por falta de
pagamento

É inconstitucional lei estadual que proíbe, sob pena de multa, o corte de energia elétrica e/ou
água por falta de pagamento sem que o consumidor seja avisado previamente.
Essa lei viola a competência da União para dispor sobre a exploração de serviços e instalações de
energia elétrica (art. 21, XII, “b”, da CF/88) e para legislar sobre energia (art. 22, IV), bem como a
competência dos municípios para legislar sobre o fornecimento de água, serviço público essencial
de interesse local (art. 30, I e V).
STF. Plenário. ADI 7.576/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/04/2024 (Info 1134).
JULGADOS EM DESTAQUE 4

DIREITO ELEITORAL

Em processos eleitorais, é ilícita a prova obtida por gravação ambiental clandestina, sem
autorização judicial, ainda que produzida por um dos interlocutores, e sem o conhecimento
dos demais; será válida se a gravação for em local público, sem controle de acesso

(i) No processo eleitoral, é ilícita a prova colhida por meio de gravação ambiental clandestina, sem
autorização judicial e com violação à privacidade e à intimidade dos interlocutores, ainda que
realizada por um dos participantes, sem o conhecimento dos demais.
(ii) A exceção à regra da ilicitude da gravação ambiental feita sem o conhecimento de um dos
interlocutores e sem autorização judicial ocorre na hipótese de registro de fato ocorrido em local
público desprovido de qualquer controle de acesso, pois, nesse caso, não há violação à intimidade
ou quebra da expectativa de privacidade.
STF. Plenário. RE 1.040.515/SE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/04/2024 (Repercussão Geral –
Tema 979) (Info 1134).

DIREITO AMBIENTAL

A concessão florestal não constitui concessão ou alienação de terras públicas; por esse
motivo, não se enquadra no art. 49, XVII, da CF, não sendo necessária aprovação do
Congresso Nacional

A instituição da Polícia Penal (art. 144, § 5º-A, da CF/88, inserido pela EC nº 104/2019), novo A
concessão florestal não constitui propriamente uma concessão ou alienação de terras públicas,
razão pela qual não necessita da autorização prévia do Congresso Nacional (art. 49, XVII, da
CF/88), isto é, do controle político sobre os atos do Poder Executivo.
Na concessão florestal não existe transferência do domínio de terras públicas. A sua finalidade
é outorgar a um particular, a título oneroso e mediante licitação, o direito de praticar o manejo
florestal sustentável em determinada parcela de uma floresta pública, por meio da exploração de
produtos e serviços para fins de obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Uma das etapas do procedimento legal que antecede a possível concessão é a sua inclusão no
Plano Plurianual de Outorga Florestal (PPAOF). Contudo, ela não obriga o Poder Público a efetivar
a outorga à iniciativa privada, pois, além de diversos outros procedimentos administrativos
prévios previstos na Lei nº 11.284/2006, o poder concedente possui discricionariedade para
decidir, sob os critérios de conveniência e oportunidade.
Assim, a implementação de uma concessão florestal configura proteção adicional às florestas
públicas, em face do reforço da presença e da atuação estatais nessas áreas para fiscalizar e
acompanhar os contratos firmados com o propósito de sustentabilidade ambiental. Essa medida
resulta na diminuição dos conflitos relacionados ao uso e à ocupação dessas terras e no controle
do desmatamento, da grilagem de terras, da mineração ilegal e de outras atividades prejudiciais
ao meio ambiente.
STF. Plenário. ADI 3.989/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/04/2024 (Info 1134).
JULGADOS EM DESTAQUE 5

Indivíduo foi autuado pelo IBAMA por infração ambiental; no processo administrativo, ele foi
intimado, por edital, para apresentar alegações finais (deveria ter sido via postal); somente
haverá anulação se ficar demonstrado prejuízo à defesa

Nos processos administrativos ambientais previstos no art. 70, §§ 3º e 4º, da Lei nº 9.605/98, somente
é admissível a declaração judicial de nulidade processual, decorrente da intimação editalícia para
apresentação de alegações finais, se comprovado prejuízo concreto à defesa do autuado.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.933.440-RS, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 16/4/2024 (Info 808).

Foram suspensos os dispositivos do Decreto 10.935/2022 que permitia a realização de


empreendimentos em cavernas, grutas, lapas e abismos e em suas áreas de influência

O Decreto nº 99.556/1990 previa normas de proteção das cavidades naturais subterrâneas


existentes no território nacional (cavernas, grutas, lapas, abismos etc.).
Em 2022, foi editado o Decreto nº 10.935/2022, que trouxe um novo regramento para a proteção
das cavidades naturais subterrâneas. O Decreto nº 10.935/2022 revogou expressamente o
Decreto nº 99.556/1990.
O art. 4º do Decreto nº 10.935/2022 permitiu que cavernas classificadas como de máxima
relevância sofram impactos irreversíveis, desde que cumpridas algumas condições que são
incompatíveis com a necessidade de proteção do patrimônio natural.
O art. 6º do Decreto nº 10.935/2022, por sua vez, afirma que, área de influência de cavidade
natural subterrânea, independentemente do seu grau de relevância, poderão existir
empreendimentos e atividades.
O STF entendeu que esses dispositivos representam um retrocesso na legislação ambiental, pois
a norma anterior vedava expressamente a possibilidade de práticas de natureza predatória nesse
importante patrimônio ambiental. Ademais, a exploração das cavidades naturais subterrâneas,
além de ameaçar espécies em extinção, possibilita a destruição de sua biodiversidade, o
desaparecimento de sítios arqueológicos e aumento do risco à saúde humana, com o potencial
surgimento de novas epidemias ou pandemias.
Diante disso, o STF decidiu suspender, até julgamento final, a eficácia do art. 4º, I, II, III e IV, e do
art. 6º, do Decreto nº 10.935/2022. Como consequência, o STF determinou a imediata retomada
dos efeitos do então revogado art. 3º do Decreto nº 99.556/1990.
STF. Plenário. ADPF 935 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redatora do acórdão Ministra
Cármen Lúcia, julgado em 26/04/2024 (Info 1134).

DOD PÉDIA
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JULGADOS EM DESTAQUE 6

Não há estado de coisas inconstitucional na política ambiental de proteção do bioma


amazônico, uma vez que está em curso um processo de retomada do efetivo exercício desse
dever constitucional
Está havendo um processo de reconstitucionalização do combate ao desmatamento ilegal da
Amazônia e do exercício da função protetiva do meio ambiente, o que pode ser verificado com a
reativação de programas e das obrigações assumidas, especialmente, através do Plano de Ação
para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
Assim, embora ainda se identifiquem falhas estruturais na realização de políticas públicas do
Governo Federal, não se pode falar que atualmente esteja ocorrendo uma violação massiva de
direitos fundamentais na política ambiental.
O STF determinou ao Governo Federal que assuma um “compromisso significativo” (meaningful
engagement) referente ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica. Para tanto, foram
impostas algumas medidas à União.
STF. Plenário. ADPF 760/DF e ADO 54/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. André
Mendonça, julgado em 03/04/2024 (Info 1132).

DIREITO ADMINISTRATIVO

O pagamento da Vantagem Pecuniária Individual (VPI) instituída pela Lei 10.698/2003 deve
ser considerado como interrompido a partir do momento em que os valores constantes no
Anexo I da Lei 13.317/2016 foram pagos pela Administração Pública
A controvérsia diz respeito ao momento em que deve ser interrompido o pagamento da
Vantagem Pecuniária Individual (VPI) instituída pela Lei nº 10.698/2003: se em julho de 2016,
quando entrou em vigou a Lei nº 13.317/2016, ou se em janeiro de 2019, quando foi paga a última
parcela do reajuste.
O art. 6º da Lei 13.317/2016 dispõe: “A vantagem pecuniária individual, instituída pela Lei nº
10.698, de 2 de julho de 2003, e outras parcelas que tenham por origem a citada vantagem
concedidas por decisão administrativa ou judicial, ainda que decorrente de sentença transitada
ou não em julgado, incidentes sobre os cargos efetivos e em comissão de que trata esta Lei, ficam
absorvidas a partir da implementação dos novos valores constantes dos Anexos I e III desta Lei”.
No Anexo I, encontra-se a tabela remuneratória para os cargos de Analista Judiciário, Técnico
Judiciário e Auxiliar Judiciário. O Anexo III trata dos valores referentes aos cargos em comissão.
O Anexo II, por outro lado, explicita, ano a ano - de julho de 2016 a janeiro de 2019 - o
escalonamento do pagamento do reajuste previsto no Anexo I.
O art. 6º da Lei 13.317/2016 não determinou a absorção da VPI a partir da implementação
dos valores previstos no Anexo II, mas no Anexo I. Isso significa que a verba só poderia ser
considerada absorvida a partir do momento em que os valores constantes no Anexo I fossem
pagos pela Administração Pública.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 2.085.675-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/3/2024
(Info 810)
JULGADOS EM DESTAQUE 7

Anuidade da OAB não possui natureza tributária e, portanto, deve ser cobrada mediante
execução de título extrajudicial, sob o rito do CPC

A anuidade cobrada pela Ordem dos Advogados do Brasil não tem natureza jurídica tributária.
Logo, a cobrança das anuidades não pagas pelos advogados não está sujeita ao regime da Lei de
Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80).
STJ. 2ª Turma. AREsp 2.451.645-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2024 (Info 807).

Se o município movimenta apenas gás natural ou petróleo de origem terrestre, ele não faz
jus aos royalties da lavra marítima, mesmo que tenha a estrutura que seria necessária para
movimentar hidrocarbonetos de lavra marítima

A distribuição dos royalties pela exploração de petróleo e de gás natural depende da origem do
hidrocarboneto que percorre as instalações de extração e transporte, de modo que os municípios
que movimentam gás natural ou petróleo de origem terrestre não fazem jus aos royalties da lavra
marítima quando não comprovado o efetivo trânsito de hidrocarbonetos provenientes desta lavra.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.992.403-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para acórdão Min.
Paulo Sérgio Domingues, julgado em 9/4/2024 (Info 807).

Direito de extensão nos casos de desapropriação por necessidade ou utilidade pública

Admite-se a aplicação subsidiária do Direito de Extensão aos casos de desapropriação por


necessidade ou utilidade pública previsto na Lei Complementar n. 76/1993 quando a área
remanescente for reduzida à superfície inferior a da pequena propriedade rural.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.937.626-RO, Rel. Min. Regina Helena Costa, Rel. para acórdão Min. Gurgel de
Faria, julgado em 12/3/2024 (Info 808).

A tela do SIAPE é suficiente para comprovar que houve transação administrativa do governo
com o servidor para pagamento da vantagem de 28,86%?

I) É possível a comprovação de transação administrativa, relativa ao pagamento da vantagem


de 28,86%, por meio de fichas financeiras ou documento expedido pelo Sistema Integrado de
Administração de Recursos Humanos - SIAPE, conforme art. 7º, § 2º, da MP n. 2.169-43/2001,
apenas em relação a acordos firmados posteriormente à vigência dessa norma.
II) Quando não for localizado o instrumento de transação devidamente homologado, e buscando
impedir o enriquecimento ilícito, os valores recebidos administrativamente, a título de 28,86%,
demonstrados por meio dos documentos expedidos pelo SIAPE, devem ser deduzidos do valor
apurado, com as atualizações pertinentes.
STJ. 1ª Seção. REsps 1.925.176-PA, 1.925.194-RO e 1.925.190-DF, Rel. Min. Afrânio Vilela, julgado
em 18/4/2024 (Recurso Repetitivo – Tema 1102) (Info 809).
JULGADOS EM DESTAQUE 8

É possível a aplicação da Lei nº 14.230/2021, com relação à exigência do dolo específico para
a configuração do ato ímprobo, aos processos em curso

Ao julgar o Tema 1.199, o STF decidiu que as alterações benéficas ao réu previstas na Lei nº
14.230/2021 não poderiam incidir caso já houvesse condenação transitada em julgado. Por
outro lado, o STF decidiu que as alterações benéficas da Lei nº 14.230/2021 poderiam ser
aplicadas aos processos em curso, mesmo que já houvesse condenação, desde que ainda não
tivesse coisa julgada.
Desse modo, o STF autorizou a aplicação da Lei nº 14.230/2021 aos processos ainda não cobertos
pelo manto da coisa julgada.
O que estava sendo discutido no Tema 1.199 era a supressão da modalidade culposa de
improbidade administrativa pela Lei nº 14.230/2021. Assim, no Tema 1.199 não se debateu
o fim do dolo genérico e a exigência agora de dolo específico para configuração do ato de
improbidade. A despeito disso, o raciocínio ali construído também pode ser aplicado para a
questão do dolo específico.
Assim, se, em um processo de improbidade administrativa que estava tramitando quando a Lei
nº 14.230/2021 entrou em vigor, ficar comprovado que o réu não agiu com dolo específico, ele
deverá ser absolvido. Isso porque a Lei nº 14.230/2021 passou a exigir dolo específico e essa
exigência se aplica aos processos em curso, mesmo que haja condenação, desde que não tenha
havido trânsito em julgado.
STJ. 1ª Turma. REsp 2.107.601-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/4/2024 (Info 809).

Estado tem responsabilidade por morte ou ferimento de vítimas de armas de fogo em


operação policial; é possível que o poder público comprove alguma causa excludente de
responsabilidade

Em operações de segurança pública, à luz da teoria do risco administrativo, será objetiva a


responsabilidade civil do Estado quando não for possível afastá-la pelo conjunto probatório,
recaindo sobre ele o ônus de comprovar possíveis causas de exclusão.
Tese fixada pelo STF:
(i) O Estado é responsável, na esfera cível, por morte ou ferimento decorrente de operações de
segurança pública, nos termos da Teoria do Risco Administrativo;
(ii) É ônus probatório do ente federativo demonstrar eventuais excludentes de responsabilidade civil;
(iii) A perícia inconclusiva sobre a origem de disparo fatal durante operações policiais e militares
não é suficiente, por si só, para afastar a responsabilidade civil do Estado, por constituir elemento
indiciário.
STF. Plenário. ARE 1.385.315/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/04/2024 (Repercussão
Geral – Tema 1237) (Info 1132).
JULGADOS EM DESTAQUE 9

O candidato que foi aprovado no concurso fora do número de vagas ou dentro do cadastro
de reserva, caso tenha sido preterido, pode ajuizar ação pedindo a sua nomeação, mas desde
que essa preterição tenha ocorrido durante o prazo de validade do certame

A ação judicial visando ao reconhecimento do direito à nomeação de candidato aprovado fora das
vagas previstas no edital (cadastro de reserva) deve ter por causa de pedir preterição ocorrida na
vigência do certame.
STF. Plenário. RE 766.304/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 02/05/2024 (Repercussão Geral – Tema 683) (Info 1135).

Não possui repercussão geral a discussão sobre o desligamento voluntário do serviço militar,
antes do cumprimento de lapso temporal legalmente previsto, de praça das Forças Armadas
que ingressa na carreira por meio de concurso público

Impõe-se o afastamento da repercussão geral inicialmente reconhecida para o Tema 574 em


virtude:
(i) da alteração promovida no Estatuto dos Militares, que extinguiu a exigência de um período
mínimo de serviço para praça de carreira das Forças Armadas fazer jus ao licenciamento a pedido;
(ii) da verificação de ofensa reflexa à Constituição com relação à suposta afronta a alguns
princípios; e
(iii) das particularidades do caso concreto e da consequente necessidade de reexaminar a causa à
luz do conjunto fático-probatório constante dos autos.
STF. Plenário. RE 680.871/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 07/05/2024 (Repercussão Geral –
Tema 574) (Info 1135).

DIREITO CIVIL

Qual é o prazo prescricional da ação de indenização proposta pela segurada contra a


seguradora em razão de descumprimento de contrato individual de seguro de vida dotal com
cláusula de sobrevida?

10 anos, nos termos do art. 205 do Código Civil.


Aplica-se o prazo de prescrição decenal à ação que visa ao reconhecimento do direito ao resgate,
após o prazo assinado em contrato, de capital segurado de seguro de vida com cláusula de
sobrevivência.
A cláusula de sobrevivência no seguro dotal caracteriza direito pessoal, justificando a aplicação do
prazo decenal, já que o pagamento pode ocorrer ao segurado em vida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.678.432-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/4/2024 (Info 809).
JULGADOS EM DESTAQUE 10

O reconhecimento de obrigação de natureza contratual de pagar verba de natureza alimentar


a ministro de confissão religiosa inativo não caracteriza interferência indevida do poder
público na organização e funcionamento das organizações religiosas

A côngrua (católica) ou prebenda (evangélica) é uma verba de caráter alimentar que uma
organização religiosa (cristã) paga a seus ministros de confissão religiosa (padre ou pastor) com
finalidade de prover seu sustento.
A obrigatoriedade do pagamento da côngrua que justifica o controle judicial pode ser
compreendida pela evolução histórica de seu caráter tributário/fiscal para moral/natural e, em
determinadas situações, contratual/civil.
O caráter contratual da côngrua passa a existir quando a entidade prevê seu pagamento:
i) de forma obrigatória;
ii) fundamentado em regulamento interno; e
iii) registrado em ato formal.

O art. 44, § 2°, do CC confere às organizações religiosas liberdade de funcionamento. Essa


liberdade não é absoluta, pois está sujeita a reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus
atos com seus regulamentos internos e com a lei.
Quando a côngrua assume caráter contratual, seu eventual inadimplemento pode ser apreciado
pelo Poder Judiciário sem que implique em interferência indevida do poder público no
funcionamento da organização religiosa.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.129.680-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/4/2024 (Info 808).

João celebrou concessão onerosa de uso perpétuo de um jazigo com um cemitério; o


contratante pagou um valor à vista e se comprometeu com prestações mensais; desistiu do
contrato; terá direito de receber de volta o que pagou, descontado um percentual

O direito que alguém tem sobre a sepultura (jus sepulchri) tem natureza jurídica própria,
assemelhando-se ao direito real de uso. Em se tratando de jazigo em cemitério particular, o
regime jurídico aplicável é o direito privado, incidindo o CDC.
No contrato de concessão onerosa de direito real de uso perpétuo de jazigo em cemitério
particular, o valor pago é pela titularidade desse direito real, distinguindo-se da hipótese de jazigo
temporário, cujo pagamento é o equivalente ao período utilizado.
A resolução do contrato implica o retorno das partes ao estado anterior à avença, devendo a
titularidade do direito real retornar ao mantenedor do cemitério, com a restituição do respectivo
valor pago, admitindo-se a retenção de percentual suficiente para indenizar pelo tempo
de privação de uso do jazigo. Exclui-se da devolução eventuais taxas pagas por serviços de
manutenção e administração já prestados pelo cemitério.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.107.107-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 11

Não é possível se rediscutir, em embargos de terceiros opostos pelo filho da executada, a (im)
penhorabilidade de bem de família já analisada em exceção de pré-executividade ajuizada
pela executada

Caso hipotético: Pedro alugou um apartamento para morar. Regina, amiga de Pedro, aceitou
figurar no contrato como fiadora. Após um ano, Pedro devolveu o apartamento ao locador,
ficando devendo, contudo, quatro meses de aluguel. O proprietário/locador ingressou com
execução contra Pedro (devedor principal) e Regina (fiadora) cobrando os aluguéis atrasados.
O juiz determinou a penhora da casa em que Regina mora e que está em seu nome.
A executada apresentou exceção de pré-executividade, na qual argumentou que o imóvel
era impenhorável por ser bem de família. A tese de Regina não foi aceita. Isso porque a
impenhorabilidade do bem de família não se aplica no caso de dívidas do fiador decorrentes do
contrato de locação. É isso o que diz o inciso VII do art. 3º da Lei nº 8.009/90.
Após o trânsito em julgado dessa decisão, Lucas, filho de Regina, ingressou com embargos
de terceiro. Alegou que reside no imóvel objeto da penhora e que, por isso, a propriedade se
caracterizava como bem de família. Por não ter vínculo com a relação jurídica existente entre
as partes do cumprimento de sentença, sustentou que seria inaplicável a sua pessoa qualquer
exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família.
O pedido de Lucas não foi aceito.
Embora a jurisprudência do STJ reconheça a legitimidade do filho para suscitar em embargos de
terceiro a impenhorabilidade do bem de família em que reside, isso não pode ser usado para, por
via transversa, modificar decisão que já rechaçou a impenhorabilidade do referido bem.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 2.104.283-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 4/3/2024
(Info 810).

Se uma empresa fizer notificação extrajudicial para o intermediador de comércio eletrônico


(ex: Mercado Livre) informando que há empresas concorrentes fazendo anúncios que violam
os termos de uso da plataforma, esse intermediador não é obrigado a retirar os anúncios

Caso adaptado: Alfa Ltda é uma empresa que fabrica e vende colchões magnéticos. A empresa
utiliza o Mercado Livre para anunciar e vender seus produtos. Todos os colchões da Alfa são
certificados pelo INMETRO, conforme exigido pelos termos de uso do Mercado Livre, garantindo
assim segurança e qualidade aos consumidores.
A Alfa constatou que outros fornecedores estão anunciando colchões magnéticos sem a devida
certificação do INMETRO, o que viola claramente os termos de uso estipulados pelo Mercado Livre.
Preocupada com a concorrência desleal e a segurança dos consumidores, a Alfa notifica
extrajudicialmente o Mercado Livre, solicitando a remoção desses anúncios.
O Mercado Livre não é obrigado a retirar esses anúncios.
Não é possível atribuir ao intermediador de comércio eletrônico a obrigação de excluir, em razão
de notificação extrajudicial, anúncios de vendas que violem os termos de uso da plataforma.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.088.236-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 12

Laura e Felipe foram se casaram e a mulher passou a adotar o sobrenome do marido; depois
de vinte anos casos, eles se divorciaram e o ex-marido queria que ela deixasse de usar o
patronímico; o STJ não concordou

O art. 1.578 do Código Civil prevê a perda do direito de uso do nome de casado para o caso de o
cônjuge ser declarado culpado na ação de separação judicial. Mesmo nessas hipóteses, porém, a
perda desse direito somente terá lugar se não ocorrer uma das situações previstas nos incisos I a
III do referido dispositivo legal. Assim, a perda do direito ao uso do nome é exceção, e não regra.
A alteração do nome civil para exclusão do patronímico adotado pelo cônjuge, em razão
do casamento, é inadmissível se não houver circunstâncias que justifiquem a alteração,
especialmente quando o sobrenome se encontra incorporado e consolidado em virtude de seu
uso contínuo por longo período de tempo.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.550.337-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/3/2024 (Info 808).

É vedada a pactuação da cláusula del credere nos contratos de agência ou distribuição por
aproximação

O art. 721 do Código Civil prevê que, além das regras do Código Civil, também devem ser
aplicadas as normas da legislação especial para os contratos de agência e distribuição:
Art. 721. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras concernentes
ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial.
Assim, o Código Civil, apesar de disciplinar esse contrato, não afasta a incidência das normas
especiais que não forem substancialmente incompatíveis com a última regulamentação.
Os doze artigos do Código Civil que disciplinam os contratos de agência e distribuição por
aproximação (arts. 710 a 721) não tratam sobre a cláusula del credere. Logo, existe essa lacuna no
Código Civil.
O art. 43 da Lei nº 4.886/65, por sua vez, proíbe a inclusão de cláusulas del credere no contrato de
representação comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.784.914-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 23/4/2024 (Info 810).

Jornal não pode divulgar fato verídico envolvendo crime de estupro, mas fazendo menções
injuriosas à honra da vítima

Comete ato ilícito, por abuso de direito, o órgão de imprensa que, apesar de divulgar fato
verídico e sem a indicação de dados objetivos quanto aos partícipes do fato, relaciona a notícia
à manchete de caráter manifestamente ofensivo à honra da vítima de crime de estupro de
vulnerável, atribuindo à adolescente conduta ativa ante o fato ocorrido, trazendo menções
injuriosas a sua honra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.875.402-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/4/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 13

DIREITO DO CONSUMIDOR

Não incide o CDC no caso de concessionária de serviços públicos pertencente a grande grupo
econômico

Situação adaptada: a CEMAT é uma concessionária de energia elétrica. Ela integra, juntamente
com outras oito concessionárias, um grande grupo econômico. O Banco com quem a CEMAT
matinha relações comerciais h avia realizado empréstimos para o grupo.
Sem a anuência expressa da CEMAT, o Banco realizou o resgate das aplicações financeiras da
empresa para amortizar dívidas da controladora do grupo.
Insatisfeita, a concessionária ajuizou ação contra o Banco pedindo que a instituição financeira
fosse condenada a abster-se de fazer novas movimentações em sua conta corrente ou conta de
investimento. A concessionária invocou, como fundamento jurídico para seu pedido, o CDC.
Incide o CDC neste caso? Não.
O STJ adota, como regra, a teoria finalista segundo a qual somente se qualifica como consumidor,
de forma a atrair a incidência da legislação consumerista, o destinatário fático ou econômico de
bens ou serviços. Vale ressaltar, contudo, que a partir de uma interpretação teleológica, o STJ tem
admitido temperamentos à teoria finalista, de forma a reconhecer sua aplicabilidade a situações
em que, apesar de o produto ou serviço ter sido adquirido no fluxo da atividade empresarial,
seja comprovada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica do contratante perante o
fornecedor. Trata-se do que ficou conhecido como teoria finalista mitigada.
Ocorre que, no caso concreto, o STJ entendeu que não se poderia considerar a autora
como consumidora, nem mesmo com base na teoria finalista mitigada porque não há
vulnerabilidade da empresa.
Não incide o CDC no caso de concessionária de serviços públicos pertencente a grande grupo
econômico, que pressupõe elevado nível de organização e planejamento para participação de
processos licitatórios e sujeição a agências de regulação setorial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.802.569-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2024 (Info 807).

A natureza taxativa ou exemplificativa do rol da ANS não importa para fins de análise do
dever de cobertura de medicamentos para o tratamento de câncer

No âmbito do REsp 1.733.013/PR, a 4ª Turma do STJ firmou o entendimento de que o rol de


procedimentos editado pela ANS não pode ser considerado meramente exemplificativo.
Em tal precedente, contudo, fez-se expressa ressalva de que a natureza taxativa ou exemplificativa
do aludido rol seria desimportante à análise do dever de cobertura de medicamentos para o
tratamento de câncer, em relação aos quais há apenas uma diretriz na resolução da ANS.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 2.057.814-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 29/5/2023 (Info 12
– Edição Extraordinária).
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 2.017.851-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 26/2/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 14

Antes do consumidor ser inscrito nos cadastros restritivos de crédito (exs: SPC/Serasa), ele
precisa ser previamente notificado. Essa notificação deve ser por e-mail?

É possível que a prévia notificação exigida pelo § 2º do art. 43 do CDC seja feita por e-mail?
3ª Turma do STJ: NÃO
A notificação prévia à inscrição do consumidor em cadastro de inadimplentes, prevista no §2º, do
art. 43, do CDC, não pode ser realizada, exclusivamente, por e-mail ou por mensagem de texto de
celular (SMS).
Na sociedade brasileira contemporânea, fruto de um desenvolvimento permeado, historicamente,
por profundas desigualdades econômicas e sociais, não se pode ignorar que o consumidor, parte
vulnerável da relação, em muitas hipóteses, não possui endereço eletrônico (e-mail) ou, quando o
possui, não tem acesso facilitado a computadores, celulares ou outros dispositivos que permitam
acessá-lo constantemente e sem maiores dificuldades, ressaltando-se a sua vulnerabilidade
técnica, informacional e socioeconômica.
A notificação do consumidor acerca da inscrição de seu nome em cadastro restritivo de crédito
exige o prévio envio de correspondência ao seu endereço, sendo vedada a notificação exclusiva
por meio de e-mail ou mensagem de texto de celular (SMS).
STJ. 3ª Turma. REsp 2.056.285-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/4/2023 (Info 773).

4ª Turma do STJ: SIM


É válida a comunicação remetida por e-mail para fins de notificação do consumidor acerca da
inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes, desde que comprovado o envio e entrega
da comunicação ao servidor de destino.
Considerando que é admitida até mesmo a realização de atos processuais, como citação e
intimação, por meio eletrônico, inclusive no âmbito do processo penal, é razoável admitir a
validade da comunicação remetida por e-mail para fins de notificação prevista no art. 43, § 2º, do
CDC, desde que comprovado o envio e entrega da comunicação ao servidor de destino.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.063.145-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2024 (Info 808).

Operadora só pode aplicar o reajuste por aumento de sinistralidade se demonstrar, com


extrato pormenorizado, o aumento na proporção entre as despesas assistenciais e as receitas
diretas do plano

O reajuste por aumento de sinistralidade só pode ser aplicado pela operadora, de forma
complementar ao reajuste por variação de custo, se demonstrado, a partir de extrato
pormenorizado, o incremento na proporção entre as despesas assistenciais e as receitas diretas
do plano, apuradas no período de doze meses consecutivos, anteriores à data-base de aniversário
considerada como mês de assinatura do contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.108.270-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 15

É possível a cobrança diferenciada de mensalidade entre calouros e veteranos, desde que


demonstrado o aumento do custo pela alteração no método de ensino

Caso hipotético: o Centro Universitário Saber cobra mensalidade de R$ 7 mil para os alunos de
Medicina matriculados até 2018. Em 2019, a instituição estabeleceu que a mensalidade seria de R$
8 mil para os alunos que estivessem entrando naquele ano e que permaneceria R$ 7 mil para os
demais. Os calouros de 2019 não concordaram e ingressam com ação contra a instituição de ensino
pedindo que fosse declarada a abusividade dessa cobrança diferenciada do valor da mensalidade.
O STJ afirmou que essa diferenciação nos valores das mensalidades era justificada porque isso
se deu em razão do custo para a implementação de um novo método pedagógico, o que ficou
comprovado no caso dos autos.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.087.632-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Moura Ribeiro,
julgado em 16/4/2024 (Info 808).

O simples fato de uma pessoa ter esperado mais tempo do que é fixado pela Lei da Fila não é
suficiente para, obrigatoriamente, ensejar indenização por danos morais

O simples descumprimento do prazo estabelecido em legislação específica para a prestação de


serviços bancários não gera por si só dano moral in re ipsa.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.962.275-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/4/2024
(Recurso Repetitivo – Tema 1156) (Info 809).

DIREITO DO EMPRESARIAL

À luz do DL 7.661/1945, a anulação de negócio jurídico realizado pela empresa falida


após a decretação da quebra prescinde do ajuizamento de ação revocatória, podendo ser
pronunciada, de ofício, pelo juízo falimentar

Caso hipotético: a empresa Alfa Ltda ingressou com pedido de autofalência, que foi decretada
pelo juiz no dia 21/03/1988. Em 10/03/1992, João, diretor da Alfa, sem conhecimento ou
autorização do síndico da falência, vendeu um bem da empresa para Ricardo. Em 2017, o juízo
falimentar, descobrindo esse fato, de ofício, decretou a nulidade do contrato de cessão, nos
termos do § 1º do art. 40 do DL 7.661/45.
A decisão foi correta. O juiz responsável pelo processo de falência pode declarar, nos autos
do processo falimentar, a nulidade de negócio jurídico de compra e venda de imóvel realizado
pela empresa falida após a decretação da quebra, independentemente da propositura de ação
revocatória.
O art. 40, § 1º do DL 7.661/45 não exige a propositura de ação revocatória para a anulação de
negócio jurídico realizado por empresa falida, após a decretação da quebra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.958.096-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/3/2024 (Info 807).
JULGADOS EM DESTAQUE 16

É inválido o instrumento de confissão de dívida cuja origem decorre de valores cedidos em


contrato de fomento mercantil (factoring), ainda que o referido instrumento de confissão,
assinado pelo devedor e duas testemunhas, tenha força executiva

Situação hipotética: João emitiu uma nota promissória de R$ 50 mil em favor da Alfa Ltda., com
vencimento para depois de 3 meses. A empresa precisava de fluxo de caixa e, por isso, firmou
contrato de fomento mercantil (factoring) com a empresa Beta Fomento Comercial Ltda.
A Alfa cedeu a nota promissória para a Beta recebendo em troca, à vista, R$ 30 mil. Assim, quando
João pagasse a nota promissória, já iria pagar para a Beta, que ficaria com um “lucro” de R$ 20 mil.
Ocorre que João não pagou. Diante disso, o sócio da Beta foi até o sócio da Alfa e afirmou que ele
não poderia ficar sozinho com esse prejuízo.
O sócio da Alfa aceitou, então, quitar uma parte e assinou um instrumento particular de confissão
de dívida comprometendo-se a pagar R$ 10 mil em favor da Beta.
Sucede que a Alfa, mesmo tendo assinado esse termo, não pagou os R$ 10 mil.
A Beta ingressou, então, com execução de título extrajudicial cobrando os R$ 10 mil previstos no
instrumento de confissão de dívida.
A Alfa apresentou embargos à execução alegando que esse instrumento de confissão de dívida
não é válido. Isso porque no fomento mercantil, a faturizadora (em nosso exemplo, a Beta)
adquire os riscos da inadimplência dos créditos cedidos, de modo que a cobrança contra a
faturizada (em nosso exemplo, a Alfa) desnatura completamente o contrato.
Os argumentos da Alfa foram acolhidos pelo STJ? Sim. O instrumento de confissão de dívida tem
como fundamento a prévia operação de fomento mercantil estabelecida entre as partes. Trata-se
de título executivo inválido, uma vez que a origem do débito corresponde à dívida não sujeita a
direito de regresso
STJ. 3ª Turma. REsp 2.106.765-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/3/2024 (Info 807).

A participação indireta do administrador na aprovação de suas contas configura um vício de


voto, sendo essa deliberação passível de anulabilidade e não nulidade

Caso adaptado: Eduardo, administrador da companhia, às vésperas da assembleia geral,


transferiu a totalidade de sua participação acionária na companhia para uma outra empresa na
qual era sócio juntamente com a sua mulher. Essa empresa votou na assembleia e aprovou as
contas de Eduardo.
Os acionistas minoritários, em vez de ingressarem com ação de anulação da assembleia,
ajuizaram ação de responsabilidade contra Eduardo. O pedido não foi acolhido.
O vício de voto, na hipótese de acionista votar nas deliberações de assembleia-geral de sociedade
anônima relativa à aprovação de suas próprias contas como administrador, conduz a sanção de
anulabilidade, sendo necessária a prévia desconstituição da assembleia para que se autorize a
responsabilização do sócio administrador.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.095.475-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 9/4/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 17

Em contrato estimatório, se as mercadorias forem vendidas a terceiros após o processamento


da recuperação judicial, os créditos das consignantes possuem natureza concursal,
submetendo-se aos efeitos do plano de recuperação judicial

O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: O Grupo Abril faz a impressão, publicação
e distribuição de diversas revistas. Como ele era o maior distribuidor do país, outras editoras
entregavam para o grupo as suas revistas, em consignação, para também serem distribuídas pela
Abril. Funcionava assim: a Editora Globo, por exemplo, entregava suas revistas para o Grupo Abril
Comunicações, que ficava responsável por fazer a distribuição delas para as bancas e demais
canais de venda. Ao final do prazo estipulado, o Grupo Abril fazia o recolhimento das revistas e 1)
devolvia as revistas não vendidas; e 2) apurava e pagava para a Editora Globo o valor das revistas
efetivamente vendidas.
Ocorre que o Grupo Abril enfrentou severas dificuldades financeiras que o obrigou a pedir
recuperação judicial, cujo processamento foi deferido em 16/08/2018.
Na data em que foi deferido o pedido de recuperação judicial, o Grupo Abril possuía em sua posse
um grande número de revistas de outras editoras, que foram distribuídas/vendidas nos dias
seguintes à recuperação judicial.
Na relação de credores, o Grupo Abril registrou essas revistas em consignação como obrigação
de fazer, ou seja, as mercadorias não vendidas seriam devolvidas às editoras e as vendidas
comporiam o crédito concursal.
As editoras credoras, que tinham revistas entregues em consignação antes do processamento da
falência não concordaram.
Na visão delas, apesar de as revistas terem sido entregues antes do processamento, a venda
ocorreu em momento posterior. Logo, o dinheiro obtido com essas vendas não deveria se sujeitar
aos efeitos da recuperação judicial.
O argumento das editoras foi acolhido? Não.
O contrato estimatório apenas se aperfeiçoa com a efetiva entrega do bem móvel com o preço
estimado ao consignatário, tratando-se, portanto, de contrato real.
Nesse cenário, o consignante, ao entregar o bem móvel, cumpre com a sua prestação, com o que
passa a assumir a condição de credor, ocasião em que é conferido à outra parte (consignatário/
devedor) um prazo para cumprir com a sua contraprestação, qual seja, a de pagar o preço
ajustado ou restituir a coisa consignada.
O fato gerador do crédito em discussão ocorreu no momento em que as mercadorias foram
entregues ao Grupo Abril (consignatário), isto é, antes do ajuizamento do pedido de recuperação
judicial, quando se perfectibilizou o vínculo jurídico entre as partes, decorrente do contrato
estimatório firmado, independente do transcurso do prazo que elas teriam para cumprir com
a sua contraprestação (pagar o preço ou restituir a coisa), ou seja, ainda, que o crédito fosse
inexigível e ilíquido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.934.930-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/4/2024 (Info 807).
JULGADOS EM DESTAQUE 18

Os acionistas da instituição financeira têm legitimidade para intervir no processo de falência


instaurado a pedido do liquidante; não há necessidade de prévia autorização da assembleia
geral em se tratando de falência decorrente de liquidação extrajudicial

Caso adaptado: o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Rural em razão de
grave crise financeira. O BACEN nomeou, na oportunidade, um liquidante (João) para administrar
a instituição, revogando o controle dos acionistas então administradores.
Algum tempo depois, constatando ser inviável a continuidade das atividades econômicas, o
BACEN autorizou a liquidante a requerer a falência da instituição financeira, o que foi deferido.
Alguns acionistas do Banco recorreram alegando que seria necessária a prévia deliberação da
Assembleia Geral dos acionistas do Banco, nos termos do art. 122, IX, da Lei nº 6.404/76 para se
pedir a falência.
Primeira pergunta: os acionistas ex-administradores e controladores do Banco Rural têm
legitimidade para intervir no processo de falência instaurado a pedido do liquidante? Sim. Os
acionistas ex-administradores e controladores da instituição financeira têm legitimidade para
intervir no processo de falência instaurado a pedido do liquidante.
Segunda pergunta: para que o liquidante pedisse a autofalência da instituição financeira era
necessário que, antes disso, ele tivesse obtido autorização da assembleia geral do Banco? Não.
Não há necessidade de prévia autorização da assembleia geral em se tratando de falência
decorrente de procedimento de liquidação extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.852.165-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 23/4/2024 (Info 810).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O terceiro juridicamente interessado tem legitimidade para ajuizar a ação declaratória de


nulidade (querela nullitatis insanabilis) sempre que houver algum vício insanável na sentença
transitada em julgado

A querela nullitatis insanabilis não possui previsão no ordenamento jurídico, sendo uma criação da
doutrina e jurisprudência destinada a declarar vício insanável de sentença transitada em julgado.
Por essa razão, não há parâmetro legal para se verificar, de forma objetiva, os seus requisitos
processuais, dentre os quais a legitimidade das partes.
A querela nullitatis se assemelha à ação rescisória, visto que ambas possuem como finalidade a
desconstituição da coisa julgada.
Assim, considerando a semelhança entre a ação rescisória e a querela nullitatis, bem como a
ausência de previsão legal desta, as regras concernentes à legitimidade para o ajuizamento da
rescisória devem ser aplicadas, por analogia, à ação declaratória de nulidade.
Nesse cenário, a legitimidade está configurada pelo inciso II do art. 967 do CPC, que atribui ao
terceiro juridicamente interessado a legitimidade para propor ação rescisória: Art. 967. Têm
legitimidade para propor a ação rescisória: (...) II - o terceiro juridicamente interessado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.902.133-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/4/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 19

O CPC de 2015 alberga a coisa julgada progressiva e autoriza o cumprimento definitivo de


parcela incontroversa da sentença condenatória

Situação hipotética: Alfa Ltda ajuizou ação pedindo para que os valores que ela paga a título de
ICMS e de ISS fossem excluídos da base de cálculo do PIS/COFINS que ela tem que recolher.
O juiz julgou os pedidos improcedentes. O acórdão foi mantido pelo TRF4. Ainda inconformada, a
empresa interpôs recurso extraordinário.
O recurso extraordinário foi sobrestado porque o STF havia afetado para julgar esses assuntos
sob a sistemática da repercussão geral:

• Tema 69 STF: Inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS.


• Tema 118 STF: Inclusão do ISS na base de cálculo do PIS e da COFINS.
Em 2017, o STF julgou o Tema 69 e o resultado do julgamento foi favorável aos contribuintes.
Diante disso, o TRF4, em juízo de retratação, acompanhou o entendimento do STF em relação
ao ICMS (Tema 69) e determinou que a Fazenda Nacional fizesse a restituição das quantias que
a empresa pagou indevidamente. Por outro lado, o TRF4 afirmou que não podia reanalisar o
capítulo referente ao ISS porque o Tema 118 (Inclusão do ISS na base de cálculo do PIS e da
COFINS) ainda não foi julgado pelo STF.
Assim, chegamos ao seguinte cenário:

• Capítulo referente ao ICMS na PIS/COFINS: TRF4 decidiu que não integra a base de cálculo,
sem possibilidade de novo recurso.
• Capítulo referente ao ISS na PIS/COFINS: o recurso extraordinário ainda está sobrestado
aguardando decisão do STF no paradigma (Tema 118).
A empresa Alfa pode pedir a execução parcial do título formado.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AgInt no REsp 2.038.959-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
16/4/2024 (Info 808).

A pretensão de fazer cessar a cobrança de tributo, mesmo que já anteriormente declarado


inconstitucional, contém discussão de natureza tributária, ensejando a ilegitimidade ativa do
Ministério Público para a ação

Caso adaptado: a ALE/RJ aprovou lei aumentando a alíquota do ICMS. O TJ/RJ, de forma incidental,
declarou a inconstitucionalidade dessa lei. Mesmo assim, a alíquota continuou a ser exigida.
Diante disso, o MP/RJ ajuizou ação civil pública contra a concessionária e o Estado do Rio de
Janeiro argumentando que os réus estariam desobedecendo entendimento firmado pelo Órgão
Especial do TJ/RJ sobre a inconstitucionalidade da lei e que essa decisão teria efeito vinculante.
O STJ entendeu que o MP é parte ilegítima para essa ação.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.641.326-RJ, Rel. Min. Afrânio Vilela, julgado em 11/3/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 20

Compete ao Plenário do STF julgar agravos internos e embargos de declaração em recursos


extraordinários (RE) e em recursos extraordinários com agravos (ARE) interpostos em face de
acórdãos proferidos em ações diretas estaduais

Situação hipotética: uma associação ajuizou ADI no Tribunal de Justiça alegando que a Lei
estadual XXX violou a autonomia dos Municípios do Estado, sendo esta autonomia prevista no art.
144 da Constituição Estadual que corresponde a uma norma de reprodução obrigatória já que a
autonomia dos municípios também é consagrada pelo art. 18 da CF.
O TJ julgou improcedente o pedido, mantendo a validade da Lei estadual XXX.
Neste caso, por ser tratar de norma de reprodução obrigatória, a associação poderá interpor
recurso extraordinário.
Suponhamos que a associação interpôs o recurso.
O Ministro do STF, sorteado como relator, constata que a decisão do TJ contrariou a jurisprudência
pacífica do Supremo. Em razão disso, o Ministro, monocraticamente, deu provimento ao recurso
extraordinário, declarando a lei estadual inconstitucional.
A Assembleia Legislativa não concordou com a decisão do Ministro. Existe algum recurso que ela
pode interpor? Sim. Existem dois recursos possíveis: i) embargos de declaração; ii) agravo interno.
Esses recursos podem ser julgados por uma das Turmas do STF ou deverão ser obrigatoriamente
apreciados pelo Plenário da Corte? O Plenário.
STF. Plenário. RE 913.517 QO/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/03/2024 (Info 1132).

Se houve a renúncia de mandato, devidamente comunicada pelo patrono (advogado) ao seu


constituinte (cliente) conforme prevê o art. 112 do CPC, não é necessário que a parte seja
intimada judicialmente para constituir novo advogado; ela tem esse ônus por força de lei

Caso hipotético: Regina ajuizou ação contra João. O juiz julgou o pedido procedente, sentença que
foi confirmada pelo Tribunal de Justiça. Ainda inconformado, João, assistido pelo seu advogado
(Dr. Rafael), interpôs recurso especial. Antes que o recurso fosse julgado, Rafael renunciou ao
mandato. O advogado enviou uma comunicação, por escrito, a João, informando a renúncia. Além
disso, Rafael juntou nos autos a prova dessa comunicação, cumprindo assim o art. 112 do CPC. Se
João não constituir novo advogado, seu recurso não será conhecido.
Vale ressaltar que o órgão jurisdicional não é obrigado a intimar João para constituir novo
advogado.
A renúncia de mandato devidamente comunicada pelo patrono ao seu constituinte prescinde de
determinação judicial para a intimação da parte com o propósito de regularizar a representação
processual nos autos, incumbindo à parte o ônus de constituir novo advogado.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.343.002-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
26/2/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 21

O prazo de 30 dias para a formulação do pedido principal previsto no art. 308 do CPC possui
natureza jurídica processual e, consequentemente, sua contagem deve ser realizada em dias
úteis, nos termos do art. 219 do CPC

Deferido o pedido de concessão de tutela cautelar requerido em caráter antecedente, o autor


deverá adotar as medidas necessárias para que a tutela seja efetivada dentro de 30 dias, sob pena
de cessar a sua eficácia (art. 309, II, do CPC/2015).
Após a sua efetivação integral, o autor tem a incumbência de formular o pedido principal no prazo
de 30 dias, o que deverá ser feito nos mesmos autos e independentemente do adiantamento de
novas custas processuais (art. 308 do CPC/2015).
O prazo de 30 (trinta) estabelecido no art. 308 do CPC/2015, diferentemente do que ocorria no
CPC/1973, não é mais destinado ao ajuizamento de uma nova ação para buscar a tutela definitiva,
mas à formulação do pedido principal no processo já existente. Desse modo, a formulação do
pedido principal é um ato processual, que produz efeitos no processo em curso. Consequentemente,
esse prazo tem natureza processual, devendo ser contado em dias úteis (art. 219 do CPC/2015).
Desatendido o prazo legal, a medida cautelar concedida perderá a sua eficácia (art. 309, I, do
CPC/2015) e o procedimento de tutela cautelar antecedente será extinto sem exame do mérito.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.066.868-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2023 (Info 780).
STJ. Corte Especial. EREsp 2.066.868-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 3/4/2024
(Info 807).

É inconstitucional o art. 78 do ADCT, incluído pela EC 30/2000, que permite o parcelamento de


precatórios vencidos

É inconstitucional o regime excepcional de parcelamento de precatórios previsto no art. 78 do


ADCT, instituído pela EC nº 30/2000.
Esse regime viola o princípio da separação dos Poderes (art. 2º, CF/88), além de ofender os
direitos fundamentais à propriedade (art. 5º, XXII e XXIV), à isonomia (art. 5º, caput), ao devido
processo legal substantivo (art. 5º, LIV) e ao acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV).
STF. Plenário. ADI 2.356/DF e ADI 2.362/DF, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 07/05/2024 (Info 1135).

Se a credora estrangeira, com base no contrato, ajuizou execução no Brasil, a justiça


brasileira será competente para julgar os embargos à execução podendo analisar, inclusive, o
direito estrangeiro no qual estava baseada a dívida

Caso exista previsão contratual que faculte ao credor a escolha do foro de execução e este opte
pela execução dos contratos de empréstimos celebrados no exterior perante a Justiça brasileira,
deve haver submissão à forma processual típica de tal via processual, inclusive quanto ao
conhecimento e julgamento dos respectivos embargos à execução.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.966.276-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 9/4/2024 (Info 807).
JULGADOS EM DESTAQUE 22

A licitação entre pretendentes (art. 876 do CPC) não se confunde com concurso de
preferências (art. 908 do CC); o concurso se instaura em caso de disputa sobre o dinheiro
arrecadado pela adjudicação do bem a terceiro; a licitação diz respeito ao bem penhorado

Caso hipotético: Pedro iniciou execução contra João cobrando R$ 600.000,00 e conseguiu a
penhora de um galpão avaliado em R$ 1.000.000,00. Ricardo ingressou com outra execução
contra João cobrando R$ 1.100.000,00 e também foi penhorado o mesmo galpão.
Ricardo requereu a adjudicação do imóvel penhorado (art. 876 do CPC). Pedro não pediu a
adjudicação.
O juiz deferiu a adjudicação em favor de Ricardo.
Pedro recorreu alegando que deveria ocorrer um rateio proporcional dos seus valores com
o crédito de Ricardo, nos termos do art. 962 do Código Civil: Art. 962. Quando concorrerem
aos mesmos bens, e por título igual, dois ou mais credores da mesma classe especialmente
privilegiados, haverá entre eles rateio proporcional ao valor dos respectivos créditos, se o produto
não bastar para o pagamento integral de todos.
Não é possível que se aplique à licitação entre os pretendentes à adjudicação de bem penhorado
as regras relativas ao concurso de credores na hipótese de múltiplos credores com créditos de
valores distintos.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.098.109-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2024 (Info 807).

É possível a penhora de faturamento mesmo sem que tenha havido o esgotamento das
diligências

I - A necessidade de esgotamento das diligências como requisito para a penhora do faturamento


foi afastada após a reforma do CPC/1973 pela Lei n. 11.382/2006.
II - No regime do CPC/2015, a penhora do faturamento, listada em décimo lugar na ordem
preferencial de bens passíveis de constrição judicial, poderá ser deferida após a demonstração
da inexistência dos bens classificados em posição superior, ou, alternativamente, se houver
constatação, pelo juiz, de que tais bens são de difícil alienação; finalmente, a constrição judicial
sobre o faturamento empresarial poderá ocorrer sem a observância da ordem de classificação
estabelecida em lei, se a autoridade judicial, conforme as circunstâncias do caso concreto, assim o
entender (art. 835, § 1º, do CPC/2015), justificando-a por decisão devidamente fundamentada.
III - A penhora de faturamento não pode ser equiparada à constrição sobre dinheiro.
IV - Na aplicação do princípio da menor onerosidade (art. 805 e parágrafo único do CPC/2015;
art. 620 do CPC/1973): a) a autoridade judicial deverá estabelecer percentual que não inviabilize
o prosseguimento das atividades empresariais; e b) a decisão deve se reportar aos elementos
probatórios concretos trazidos pelo devedor, não sendo lícito à autoridade judicial empregar o
referido princípio em abstrato ou com base em simples alegações genéricas do executado.
STJ. 1ª Seção. REsps 1.835.864-SP, 1.666.542-SP e 1.835.865-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 18/4/2024 (Recurso Repetitivo – Tema 769) (Info 769).
JULGADOS EM DESTAQUE 23

Não é possível, antes do trânsito em julgado da sentença, a intimação da empresa


seguradora para depositar o valor do seguro oferecido como garantia de execução fiscal

Caso hipotético: a Fazenda Pública ingressou com execução fiscal contra Alfa Ltda. A empresa
ofereceu em garantia do juízo uma apólice de seguro-garantia, emitida por uma seguradora. Em
seguida, a executada apresentou embargos à execução. Vale ressaltar, contudo, que os embargos
foram recebidos sem efeito suspensivo. Diante disso, a Fazenda Pública requereu a excussão
do seguro-garantia. A excussão do seguro-garantia é o processo pelo qual o beneficiário de um
seguro-garantia aciona a seguradora para que esta cumpra a obrigação de pagar a indenização
prevista na apólice.
O Tribunal de Justiça concordou com o pedido da Fazenda Pública e determinou que a seguradora
transferisse para a conta do juízo os valores previstos na apólice.
Agiu corretamente o TJ? Não. Se o propósito da execução é satisfazer a dívida, não há sentido
no ato judicial que intima a seguradora para realizar o depósito do valor assegurado antes do
trânsito em julgado, pois somente depois do trânsito em julgado é que será possível entregar
o dinheiro ao credor (por conversão em renda da Fazenda Pública). Logo, se antes do trânsito
em julgado não é possível entregar o dinheiro ao Fisco, não há sentido ou utilidade de, antes do
trânsito em julgado, obrigar a seguradora a depositar o valor do seguro.
As garantias apresentadas na forma do II do caput deste artigo somente serão liquidadas, no todo
ou parcialmente, após o trânsito em julgado da decisão de mérito em desfavor do contribuinte,
vedada a sua liquidação antecipada (art. 9º, § 7º, da LEF, introduzido pela Lei 14.689/2023).
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 2.310.912-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min.
Gurgel de Faria, julgado em 20/2/2024 (Info 808).

DIREITO PENAL

O patrimônio de terceiro que praticou a lavagem de dinheiro, mas não cometeu o crime
antecedente, só poderá ser atingido, se for demonstrado que determinados bens, direitos ou
valores constituem instrumento, produto ou proveito do crime anterior

O § 2º, do art. 4º, da Lei nº 9.613/98, deve ser interpretado restritivamente, sob pena de criar
indevidas hipóteses de responsabilidade integral ou solidária não previstas em lei.
É inviável a tese de que o agente que lavou parcela dos recursos ilícitos deve responder
solidariamente pelo prejuízo total decorrente de infração penal antecedente que foi praticada
exclusivamente por terceiro.
Há autonomia entre a lavagem de dinheiro e o crime antecedente, no que se refere à
quantificação do proveito econômico, motivo pelo qual só podem ser constritos os bens, direitos
ou valores que tenham relação com a lavagem de capitais.
Em outras palavras, aqueles que lavam dinheiro só possuem a obrigação de indenizar os danos
causados pela infração antecedente enquanto subsistir patrimônio ou proveito que guarde
relação direta com os bens, direitos ou valores obtidos de forma ilícita.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.970.697-PR, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em
19/3/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 24

Suspeito correu para dentro da casa quando percebeu a viatura; os policiais o perseguiram e
entraram na residência mesmo sem autorização; viram então o suspeito jogar droga por cima
do muro; para o STJ, o ingresso na casa foi ilícito

Caso concreto: policiais militares faziam patrulhamento de rotina quando notaram João, que
estava parado na frente de um imóvel em localidade conhecida como ponto de venda de drogas.
Ao avistar a viatura policial, João rapidamente correu para dentro da casa. Os policiais foram atrás
do suspeito e ingressaram, mesmo sem autorização, na residência.
Quando já estavam no interior da casa, os policiais viram João arremessar por cima do muro, um
saco plástico que foi imediatamente localizado e apreendido. Neste saco havia cocaína.
O STJ entendeu que a prova obtida com a invasão de domicílio foi ilícita. Isso porque não havia
elementos concretos para indicar que estaria havendo comércio de drogas. Além disso, não
foram realizadas investigações prévias para se confirmar eventual suspeita. Por fim, não houve
consentimento do morador para o ingresso na casa.
Como obiter dictum, a despeito de não ser exatamente o caso dos autos, o Relator ainda
citou que a permissão para ingresso no domicílio, proferida em clima de estresse policial, não
deve ser considerada espontânea, a menos que tenha sido por escrito e testemunhada, ou
documentada em vídeo.
STJ. 6ª Turma. REsp 2.114.277-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 9/4/2024 (Info 807).

Obs: para complementar seus estudos, é importante ler os comentários à decisão do STF no qual
se consignou o seguinte:
Não há ilegalidade na ação de policiais militares que — amparada em fundadas razões sobre
a existência de flagrante do crime de tráfico de drogas na modalidade 'ter em depósito' —
ingressam, sem mandado judicial, no domicílio daquele que corre, em atitude suspeita, para o
interior de sua residência ao notar a aproximação da viatura policial.
STF. Plenário. HC 169.788/SP, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 04/03/2024 (Info 1126).

As medidas protetivas de urgência, embora tenham caráter provisório, não possuem prazo de
vigência, devendo vigorar enquanto persistir a situação de risco à ofendida

As medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006, por visarem resguardar a integridade física
e psíquica da ofendida, possuem feição de tutela inibitória e reintegratória, conteúdo satisfativo e
não se vinculam, necessariamente, a um procedimento principal.
Ainda, embora tenham caráter provisório, não possuem prazo de vigência, mas devem vigorar
enquanto persistir a situação de risco à ofendida, o que deverá ser avaliado pelo Juízo de origem.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 2.422.628-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
2/4/2024 (Info 807).
JULGADOS EM DESTAQUE 25

Não houve estupro de vulnerável em caso de jovem de 20 anos, trabalhador rural e com pouca
escolaridade, que se relacionou com uma adolescente de 12 anos, sobrevindo uma filha

O STJ, no julgamento do Tema 918 e na Súmula 593, fixou o entendimento de que o crime de
estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
A conduta de estupro de vulnerável imputada a um jovem de 20 anos, trabalhador rural e com
pouca escolaridade, que se relacionou com uma adolescente de 12 anos, que havia sido, em
um primeiro momento, aceito pela família da adolescente, sobrevindo uma filha e a efetiva
constituição de núcleo familiar, apesar de não estarem mais juntos como casal, embora
formalmente típica, não constitui infração penal, tendo em vista o reconhecimento da ausência de
culpabilidade por erro de proibição, bem como pelo fato de que se deve garantir proteção integral
à criança que nasceu dessa relação.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.389.611-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
12/3/2024 (Info 807).

Súmula 668 do STJ


Súmula 668-STJ: Não é hediondo o delito de porte ou posse de arma de fogo de uso permitido,
ainda que com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 18/4/2024 (Info 808).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

A Receita Estadual, a Polícia Civil e o Ministério Público realizaram operação conjunta para
apurar supostas fraudes fiscais; os agentes fazendários não poderão fazer busca e apreensão
na sede da empresa investigada sem prévia autorização judicial

O STJ entende que a administração fazendária, no exercício da sua missão institucional, não
necessita de autorização judicial para apreender documentos que considere relevantes na
configuração de ilícito, tendo em vista a publicidade dos livros e documentos contábeis (AgRg nos
EDcl no AREsp 1.124.517/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 11/5/2021).
Vale ressaltar, contudo, que esse entendimento não se aplica no caso em que houve uma
verdadeira força-tarefa envolvendo diferentes órgãos de polícia e fiscalizatórios. Isso porque,
neste caso, não há que se falar em atuação de rotina.
Extrapola a atuação de rotina dos órgãos de polícia fazendária, a exigir o controle jurisdicional
prévio do ato, quando se evidencia a realização de verdadeira força-tarefa entre diferentes órgãos
de polícia e fiscalizatórios.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 62753-SP, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 2/4/2024 (Info 809).
JULGADOS EM DESTAQUE 26

STF reiterou que o Ministério Público pode realizar investigações de natureza penal, no
entanto, definiu novos parâmetros e exigências

1. O Ministério Público dispõe de atribuição concorrente para promover, por autoridade própria, e
por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias
que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado. Devem
ser observadas sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição
e, também, as prerrogativas profissionais da advocacia, sem prejuízo da possibilidade do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante
14), praticados pelos membros dessa Instituição (Tema 184 RG);
2. A realização de investigações criminais pelo Ministério Público tem por exigência: (i)
comunicação imediata ao juiz competente sobre a instauração e o encerramento de
procedimento investigatório, com o devido registro e distribuição; (ii) observância dos mesmos
prazos e regramentos previstos para conclusão de inquéritos policiais; (iii) necessidade
de autorização judicial para eventuais prorrogações de prazo, sendo vedadas renovações
desproporcionais ou imotivadas; iv) distribuição por dependência ao Juízo que primeiro conhecer
de PIC ou inquérito policial a fim de buscar evitar, tanto quanto possível, a duplicidade de
investigações; v) aplicação do artigo 18 do Código de Processo Penal ao PIC (Procedimento
Investigatório Criminal) instaurado pelo Ministério Público;
3. Deve ser assegurado o cumprimento da determinação contida nos itens 18 e 189 da Sentença
no Caso Honorato e Outros versus Brasil, de 27 de novembro de 2023, da Corte Interamericana
de Direitos Humanos - CIDH, no sentido de reconhecer que o Estado deve garantir ao Ministério
Público, para o fim de exercer a função de controle externo da polícia, recursos econômicos e
humanos necessários para investigar as mortes de civis cometidas por policiais civis ou militares;
4. A instauração de procedimento investigatório pelo Ministério Público deverá ser motivada
sempre que houver suspeita de envolvimento de agentes dos órgãos de segurança pública na
prática de infrações penais ou sempre que mortes ou ferimentos graves ocorram em virtude da
utilização de armas de fogo por esses mesmos agentes. Havendo representação ao Ministério
Público, a não instauração do procedimento investigatório deverá ser sempre motivada;
5. Nas investigações de natureza penal, o Ministério Público pode requisitar a realização de
perícias técnicas, cujos peritos deverão gozar de plena autonomia funcional, técnica e científica na
realização dos laudos.
STF. Plenário. ADI 2.943/DF, ADI 3.309/DF e ADI 3.318/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
02/05/2024 (Info 1135).

A busca pessoal sem mandado judicial não pode ser motivada pela raça, sexo, orientação
sexual, cor da pele ou aparência física da pessoa

Tese fixada pelo STF: A busca pessoal independente de mandado judicial deve estar fundada em
elementos indiciários objetivos de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos
ou papéis que constituam corpo de delito, não sendo lícita a realização da medida com base na
raça, sexo, orientação sexual, cor da pele ou aparência física.
STF. Plenário. HC 208.240/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/4/2024 (Info 1132).
JULGADOS EM DESTAQUE 27

A função das guardas municipais é restrita à proteção de bens, serviços e instalações


municipais, não lhes sendo permitido realizarem atividades ostensivas ou investigativas
típicas das polícias militar e civil

A função das guardas municipais, insculpida no art. 144, § 8º, da Constituição Federal, é restrita
à proteção de bens, serviços e instalações municipais, não lhes sendo permitido realizarem
atividades ostensivas ou investigativas típicas das polícias militar e civil.
Recentemente a Terceira Seção do STJ destacou que, no julgamento da ADPF 995, em 25/8/2023,
o STF reafirmou sua posição de que as guardas municipais integram o Sistema de Segurança
Pública, mas, novamente, não lhes conferiu poderes idênticos aos dos órgãos policiais. O Min.
Relator Alexandre de Moraes afirmou que: as Guardas Municipais têm entre suas atribuições
primordiais o poder-dever de prevenir, inibir e coibir, pela presença e vigilância, infrações penais ou
administrativas e atos infracionais que atentem contra os bens, serviços e instalações municipais.
Caso concreto: a guarda municipal atuou ostensivamente com a finalidade de reprimir a
criminalidade urbana em atividade tipicamente policial e completamente alheia às suas
atribuições constitucionais. Isso porque realizou busca pessoal em razão de visualizar o suspeito
em local conhecido como ponto de venda de drogas (Cracolândia). Neste caso, o STJ reconheceu
a ilicitude das provas colhidas com base nessa diligência e de todas as que delas derivaram (art.
157, § 1º, do CPP).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 833.985-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/2/2024 (Info 808).

É possível a utilização de ações encobertas, controladas virtuais ou de agentes infiltrados no


plano cibernético, inclusive via espelhamento do Whatsapp Web, desde que o uso da ação
controlada na investigação criminal esteja amparada por autorização judicial

As ações controladas, incluindo o uso de agentes infiltrados virtuais, são admissíveis no


ordenamento jurídico brasileiro quando amparadas por autorização judicial. Isso confere
legalidade ao monitoramento de comunicações por meio do espelhamento do WhatsApp Web,
uma técnica importante para a investigação de crimes no ambiente virtual.
A Lei das Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/2013) e outras legislações específicas, como a
Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) e a Lei de interceptação telefônica (Lei nº 9.296/96), permitem
a infiltração de agentes e a quebra de sigilo de comunicações, sob condições rigorosamente
definidas e com autorização judicial.
Desse modo, o agente policial pode valer-se da utilização do espelhamento pela via do Whatsapp
Web, desde que respeitados os parâmetros de proporcionalidade, subsidiariedade, controle
judicial e legalidade, calcado pelo competente mandado judicial.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.318.334-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
16/4/2024 (Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 28

São constitucionais os arts. 13-A e 13-B do CPP, inseridos pela Lei 13.344/2016

É constitucional norma que permite, mesmo sem autorização judicial, que delegados de polícia e
membros do Ministério Público requisitem de quaisquer órgãos do Poder Público ou de empresas
da iniciativa privada o repasse de dados e informações cadastrais da vítima ou dos suspeitos
em investigações sobre os crimes de cárcere privado, redução a condição análoga à de escravo,
tráfico de pessoas, sequestro relâmpago, extorsão mediante sequestro e envio ilegal de criança
ao exterior (art. 13-A, CPP).
É constitucional norma que possibilita, mediante autorização judicial, a requisição às empresas
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática da disponibilização imediata de
sinais, informações e outros dados que viabilizem a localização da vítima ou dos suspeitos
daqueles mesmos delitos (art. 13-B, CPP).
Logo, são constitucionais os arts. 13-A e 13-B do CPP, inseridos pela Lei nº 13.344/2016.
STF. Plenário. ADI 5.642/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/04/2024 (Info 1133).

A interceptação telefônica demanda ordem judicial fundamentada em elementos concretos


que justifiquem sua necessidade, bem como que afastem a possibilidade de obtenção das
provas por outros meios

O STJ entende que é lícita a autorização para interceptação telefônica quando observados os
ditames normativos previstos na Lei nº 9.296/96 e, dentre eles, o de haver indícios razoáveis da
prática de delitos penais punidos com reclusão e não haver possibilidade de a prova ser obtida
por outros meios.
No caso, todos os requisitos e critérios legais foram observados.
As instâncias ordinárias evidenciaram a imprescindibilidade da interceptação ao apontar que
Daniel e os corréus estavam envolvidos no tráfico de grandes quantidades de entorpecentes. Os
elementos probatórios indicavam a movimentação de drogas entre diferentes estados e a estreita
ligação do recorrente com os demais membros da organização.
A interceptação telefônica permitiu rastrear essa rede de contatos e obter provas concretas da
atuação conjunta nos crimes investigados.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 183.085-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
16/4/2024 (Info 809).

Súmula 667 do STJ

Súmula 667-STJ: Eventual aceitação de proposta de suspensão condicional do processo não


prejudica a análise do pedido de trancamento de ação penal.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 18/4/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 29

A tentativa de se esquivar da guarnição policial evidencia a fundada suspeita de que o agente


ocultava consigo objetos ilícitos, na forma do art. 240, § 2º, do CPP, o que justifica que os
policiais façam a busca pessoal no suspeito, em via pública

Caso concreto: após receber denúncia anônima de que um homem estaria com uma sacola
de drogas em via pública, os policiais militares foram ao local. O suspeito tentou fugir ao ver a
polícia, mas foi alcançado. Os policiais realizaram busca pessoal e encontraram com ele maconha,
crack e cocaína.
Denúncias anônimas e impressões subjetivas baseadas exclusivamente na prática policial não são
suficientes, por si sós, para caracterizar fundada suspeita e autorizar a busca pessoal.
No entanto, o fato de o suspeito ter tentado fugir ao avistar os policiais evidencia a fundada
suspeita de que o homem trazia consigo objetos ilícitos, o que legitimou a busca pessoal em via
pública e assegurou a legalidade das provas obtidas.
STJ. 6ª Turma. HC 889.618-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/4/2024 (Info 810).

Compete às Turmas da Terceira Seção do STJ julgar pedido de direito de resposta amparado
na antiga Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67) das demandas em andamento

O caso concreto envolvia uma ação proposta com o único pedido de direito de resposta, vinculado
a suposta injúria e calúnia em editorial jornalístico e fundamentado nos dispositivos da antiga Lei
de Imprensa (Lei nº 5.250/67).
O STJ entende que o direito de resposta que era previsto na antiga Lei de Imprensa possuía
natureza de sanção penal submetendo-se às normas do Código de Processo Penal e devendo
a ação ser processada no Juízo Criminal. Logo, a competência para apreciá-lo – caso ainda não
tenha sido julgado – de um dos órgãos julgadores com competência criminal (5ª ou 6ª Turmas).
STJ. Corte Especial. CC 195.616-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 21/2/2024 (Info 807).

DIREITO TRIBUTÁRIO

O portador de Alzheimer possui direito à isenção do IRPF quando a doença resultar em


alienação mental

A Lei nº 7.713/88, em seu art. 6º, XIV, dispõe que ficam isentos do imposto de renda os proventos
de aposentadoria percebidos pelos portadores de alienação mental, mas não faz referência
específica ao mal de Alzheimer. Apesar disso, em razão da doença de Alzheimer poder resultar
em alienação mental, o STJ em entende que é possível os portadores desse enfermidade tenham
direito à isenção do imposto de renda caso ela tenha resultado em alienação mental.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2.082.632-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/3/2024
(Info 810).
JULGADOS EM DESTAQUE 30

Para identificação do sujeito ativo da obrigação tributária em sede de ISSQN deve-se verificar
se há unidade empresarial autônoma no local da prestação do serviço, sendo irrelevante a
sua denominação (se de sede ou filial)

Situação hipotética: Alfa Ltda, com sede em Contagem/MG, é uma empresa que presta serviços
de manutenção de máquinas não apenas na cidade como também em toda a região.
Ao realizar esses serviços, a Alfa pratica o fato gerador do ISS porque esse serviço é previsto
no subitem 14.01 da Lista Anexa à Lei Complementar 116/2003, que trata especificamente de
“manutenção e conservação de máquinas”.
A Alfa realizou um serviço em Conselheiro Lafaiete/MG.
A empresa deverá pagar ISSQN para qual Município: Contagem ou Conselheiro?
Depende.

• Se existir unidade autônoma no local da prestação do serviço: o ISSQN será devido para o Fisco
desse Município. Ex: se houve unidade autônoma da Alfa em Conselheiro Lafaiete, o tributo
será devido a ele.
• Por outro lado, se não existir estabelecimento do prestador no local da prestação do serviço: o
ISSQN será devido ao Município do local da empresa que efetivou a prestação.
STJ. 2ª Turma. REsp 2.079.423-MG, Rel. Min. Teodoro Silva Santos, julgado em 9/4/2024 (Info 807).

Cobrança de PIS e COFINS sobre locação de móveis ou imóveis é constitucional; isso porque
o conceito de faturamento (art. 195, I, da CF) abrange os valores auferidos com todas as
atividades operacionais das empresas

O art. 833, X, do CPC estabelece que são impenhoráveis a quantia depositada em caderneta de
O texto constitucional autoriza a incidência do PIS (Programa de Integração Social) e da COFINS
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) sobre as receitas obtidas por meio da
locação de bens móveis ou imóveis e decorrentes da atividade empresarial do contribuinte, pois essa
operação enseja resultado econômico coincidente ao conceito de faturamento ou receita bruta.
Tese fixada pelo STF:
“É constitucional a incidência da contribuição para o PIS e da COFINS sobre as receitas auferidas
com a locação de bens móveis ou imóveis, quando constituir atividade empresarial do contribuinte,
considerando que o resultado econômico dessa operação coincide com o conceito de faturamento
ou receita bruta, tomados como a soma das receitas oriundas do exercício das atividades
empresariais, pressuposto desde a redação original do art. 195, I, da Constituição Federal”.
STF. Plenário. RE 599.658/SP, Rel. Min. Luiz Fux, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/04/2024 (Repercussão Geral – Tema 630) (Info 1132).
STF. Plenário. RE 659.412/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/04/2024 (Repercussão Geral – Tema 684) (Info 1132).
JULGADOS EM DESTAQUE 31

O pedido de habilitação de créditos apresentado ao fisco acarreta a suspensão do prazo


prescricional para o pleito compensatório

A Instrução Normativa da Receita Federal estabelece que os pedidos de compensação tributária


feitos pelos contribuintes dependem de uma habilitação prévia do crédito. Esse procedimento
começa com a submissão de um pedido formal em processo administrativo.
Assim, o processo de compensação administrativa é dividido em duas fases: primeiro, a
habilitação do crédito e, em seguida, a compensação propriamente dita.
Essa fase prévia de habilitação administrativa do crédito, momento em que se faz a análise de
requisitos essenciais para a efetiva compensação tributária, é capaz de causar a interrupção do
prazo prescricional de 5 anos que o contribuinte possui para pedir a compensação? Não.
O pedido de habilitação de créditos apresentado ao fisco acarreta a SUSPENSÃO do prazo
prescricional para o pleito compensatório (não é caso de interrupção).
Aplica-se o art. 4º do Decreto nº 20.910/1932, que prevê a suspensão) do prazo prescricional
enquanto o poder público analisa o pedido administrativo.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.729.860-SC, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em
23/4/2024 (Info 810).

Não há crédito de PIS e Cofins sobre despesas com frete de veículos destinados a revenda

É incabível o reconhecimento do direito à exclusão dos custos de frete nas operações de revenda
de veículos automóveis na base de cálculo da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.691.475-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 28/2/2024 (Info 807).

Súmula 666 do STJ

Súmula 666-STJ: A legitimidade passiva, em demandas que visam à restituição de contribuições de


terceiros, está vinculada à capacidade tributária ativa; assim, nas hipóteses em que as entidades
terceiras são meras destinatárias das contribuições, não possuem elas legitimidade ad causam
para figurar no polo passivo, juntamente com a União.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/4/2024 (Info 808).
JULGADOS EM DESTAQUE 32

DIREITO PREVIENCIÁRIO

Nas ações de acidente do trabalho, se o INSS for vencedor da demanda, os honorários


periciais que foram adiantados pela autarquia serão pagos pelo Estado-membro nos mesmos
autos, sendo desnecessário o ajuizamento de ação autônoma

Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão
despesa a cargo do Estado, nos casos em que sucumbente a parte autora, beneficiária da isenção de
ônus sucumbenciais, prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei nº 8.213/91, sendo desnecessário
o ajuizamento de ação autônoma para tanto.
STJ. 2ª Turma. REsp 2.126.628-SP, Rel. Min. Afrânio Vilela, julgado em 23/4/2024 (Info 809).

DIREITO DO TRABALHO

É constitucional a exclusão, do âmbito de incidência da Lei 12.690/2012, das cooperativas de


profissionais liberais cujos sócios exerçam as atividades em seus próprios estabelecimentos

A Lei nº 12.690/2012 criou o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho e, no


seu art. 1º, parágrafo único, III, excluiu do âmbito de incidência da legislação as cooperativas de
profissionais liberais cujos sócios exerçam atividades em seus próprios estabelecimentos:
Art. 1º A Cooperativa de Trabalho é regulada por esta Lei e, no que com ela não colidir, pelas Leis nos
5.764, de 16 de dezembro de 1971, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -Código Civil.
Parágrafo único. Estão excluídas do âmbito desta Lei: (...) III - as cooperativas de profissionais liberais
cujos sócios exerçam as atividades em seus próprios estabelecimentos; e
O STF decidiu que é constitucional o art. 1º, parágrafo único, III, da Lei 12.690/2012;
Essa lei não viola os princípios da proporcionalidade e do livre exercício de atividade profissional (art.
5º, XIII, CF/88).
STF. Plenário. ADI 4.849/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 07/05/2024 (Info 1135).
DIZER O DIREITO NEWS 33

O boletim Dizer o Direito News é uma publicação mensal do Buscador Dizer o Direito,
a única ferramenta de pesquisa da jurisprudência do STF/STJ com julgados comentados,
coordenada por Márcio André Lopes Cavalcante.

SOBRE O IDEALIZADOR

Márcio André Lopes Cavalcante é o idealizador e editor


do Buscador Dizer o Direito.
Atua como Juiz Federal (TRF da 1ª Região).
Antes disso, foi Defensor Público, Promotor de Justiça
e Procurador do Estado.
Possui grande experiência em concursos públicos, tendo
sido aprovado em inúmeros outros certames, como Técnico
e Analista Judiciário, Procurador do Município, Procurador
de Contas e Juiz de Direito.
É autor de 8 livros e dedica-se intensamente ao estudo e análise
da jurisprudência por acreditar que se trata, atualimente, de
uma das fontes do Direito, sendo, aliás, a mais dinâmica delas.
Atua como "professor virtual" de milhares de alunos das mais
diversas partes do país por meio do site "Dizer o Direito"
(www.dizerodireito.com.br) do qual é fundador.
E lançou o Buscador "Dizer o Direito" para expandir ainda
mais a sua distribuição de conhecimento.

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