Download
Download
Download
RESUMO
DESCRITORES: Saúde mental. Enfermagem psiquiátrica. Serviços de saúde mental. Enfermagem. Prática
profissional. Reforma psiquiátrica.
COMO CITAR: Peres MAA, Martins GCS, Manfrini GC, Cardoso L, Fonseca PIMN, Shattell M. Vinte anos da Lei da
Reforma Psiquiátrica brasileira: significados para a enfermagem psiquiátrica e em saúde mental. Texto Contexto Enferm
[Internet]. 2022 [acesso MÊS ANO DIA]; 31:e20220045. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0045pt
ABSTRACT
Objective: to develop arguments supporting Psychiatric and Mental Health Nursing as a baseline force of
qualified and indispensable work in the evolution of mental health care and policies.
Method: argumentation of a reflective nature, considering the path of Psychiatric and Mental Health Nursing
over the twenty years of the legal framework of the Psychiatric Reform, as well as the publications pertinent
to discussion of the topic in vogue.
Results: two topics emerged, namely: From Psychiatric Nursing to Mental Health Nursing: a change of
paradigm; and Mental Health Nursing: a new praxis.
Conclusion: Psychiatric and Mental Health Nursing presents itself as a resilient and sustainable practice
despite the crises caused by institutionalizing policies implemented at the governmental level. The profession,
increasingly politicized and attentive to the relevant guidelines of the Unified Health System, struggles and
reinvents itself in its way of caring, in line with the reform guidelines, not subjected to stigmatizing regressions
or outside the community territory.
DESCRIPTORS: Mental health. Psychiatric Nursing. Mental health services. Nursing. Professional practice.
Psychiatric Reform.
RESUMEN
Objetivo: desarrollar una argumentación que sustente a la Enfermería Psiquiátrica y en Salud Mental como
una fuerza base de trabajo calificado e indispensable para la evolución de la atención y las políticas de salud
mental.
Método: argumentación de carácter reflexivo, considerando el trayecto de la Enfermería Psiquiátrica y en
Salud Mental a lo largo de los veinte años de vigencia del marco legal de la Reforma Psiquiátrica, al igual que
las publicaciones pertinentes al debate del tema en boga.
Resultados: se presentaron dos temas: de la Enfermería Psiquiátrica a la Enfermería en Salud Mental: un
cambio de paradigma; y Enfermería en Salud Mental: una nueva praxis.
Conclusión: la Enfermería Psiquiátrica y en Salud Mental se presenta como una práctica resiliente y
sustentable con respecto a las crisis originadas por políticas institucionalizantes implementadas al nivel
gubernamental. La profesión, cada vez más politizada y atenta a las pautas relevantes del Sistema Único de
Salud, lucha y se reinventa en su forma de ofrecer atención, alineada con las directrices de la reforma y no
sujeta a regresiones de carácter estigmatizante o fuera del territorio comunitario.
DESCRIPTORES: Salud mental. Enfermería psiquiátrica. Servicios de salud mental. Enfermería. Práctica
profesional. Reforma psiquiátrica.
mental” no lugar de “Enfermagem Psiquiátrica”, de modo algum interfere na constituição dos saberes
estabelecidos na especialidade, uma vez que persistem como fundamentais nos dispositivos
destinados ao atendimento das pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, o qual requer
a participação do enfermeiro especialista na área e define as principais teorias e procedimentos
deste cuidado: Enfermagem Psiquiátrica. A história não deve ser apagada e, sim, servir de exemplo
para impedir a repetição das práticas evidenciadas como inúteis para o cuidado. Sendo assim,
pode-se dizer que a especialidade Enfermagem Psiquiátrica se expandiu e subsidiou as práticas da
Enfermagem em saúde mental, as quais são aplicáveis em diferentes cenários de cuidado, podendo
(as de saúde mental) ser propagadas, inclusive, aos profissionais não especialistas que atuam na
Atenção Primária à Saúde, de modo a permitir maior abrangência do cuidado de Enfermagem no
território e organização do acesso das pessoas com transtornos mentais aos dispositivos da RAPS.
Assim, ao longo desses vinte anos, o cuidado de Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental
evoluiu e seus profissionais se dispõem a fazê-lo com, e não pelo usuário. Neste sentido, profissionais,
especialistas, pesquisadores, mestres e doutores produziram evidências científicas importantes
que consagraram suas contribuições para a construção de um arcabouço teórico-prático, visando
à atenção psicossocial como cerne do cuidado de Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental8,10.
Os cursos de graduação se aprimoraram, cursos de pós-graduação (lato e stricto senso) se
expandiram e a Enfermagem Psiquiátrica e de saúde mental, como especialidade, passou a ser
mais bem reconhecida, sem deixar de trazer à tona as lacunas na formação de recursos humanos
qualificados e os desafios a serem ainda enfrentados tanto na prática quanto na construção de políticas
públicas nesta área, que não raro sofrem ataques traduzidos como retrocessos ao preconizado pela
Reforma Psiquiátrica11–12.
diretas com usuários e familiares em saúde mental, por meio da prática baseada em evidências,
inovações tecnológicas, conhecimento científico, tecnologias leves e práticas integrativas.
Acrescenta-se, ainda, a aplicação do Processo de Enfermagem de maneira sistematizada,
com escuta terapêutica qualificada, acolhimento, estabelecimento de vínculos, desenvolvimento
de oficinas terapêuticas, intervenções preventivas e de educação em saúde, visitas domiciliares,
consulta de enfermagem, manejo de crise, apoio matricial, entre outras estratégias de cuidado
psicossocial, nos diversos dispositivos que compõem a RAPS, assumindo um papel de resistência
e de enfrentamento aos movimentos retrógrados e institucionalizantes.
MÉTODO
Argumentação de natureza reflexiva, que considera o percurso da Enfermagem Psiquiátrica e
em saúde mental ao longo dos últimos vinte anos do marco legal da Reforma Psiquiátrica, bem como
as publicações pertinentes à discussão do tema in voga. As referências foram selecionadas tanto
pela sua relevância no campo da história da enfermagem psiquiátrica (ensino e prática) quanto por
discussões feitas por pesquisadores que tratam criticamente o movimento de reforma psiquiátrica.
RESULTADOS
As alterações advindas e garantidas pela Reforma Psiquiátrica permitiram à Enfermagem
Psiquiátrica e em saúde mental se mover por novos caminhos, contemplando: ampliação da procura
por especialização na área; aumento da consciência e ação política frente às constantes ameaças e
políticas de retrocesso na área; produção de estudos sobre temas pertinentes à reforma, corroborando
foram inseridos nas instituições psiquiátricas e, apenas a partir de 1975, foi criado o primeiro curso
de pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica no país11.
Diante disso, a Enfermagem Psiquiátrica, apesar de ter sido desviada por muito tempo do
seu papel de cuidar, desenvolveu certa capacidade de adaptação a novas formas desse cuidado e
conhecimentos teórico-práticos e científicos para aprimorar a profissão e qualificar sua atuação8. A
justificativa para seus avanços científicos e tecnológicos no campo psicossocial, mesmo considerando
apenas vinte anos da promulgação da lei que consolidou pela primeira vez os princípios e diretrizes
da Reforma Psiquiátrica no Brasil, é a substituição de práticos de Enfermagem por enfermeiros,
auxiliares e técnicos de Enfermagem ao longo do tempo10.
Sem desconsiderar a atuação da Enfermagem em Saúde Pública (1930-1950) que, baseada
na higiene mental, atuou como mais um agente da atenção psiquiátrica fora do hospital devido à sua
capacidade educativa na prevenção de doenças mentais10. A Enfermagem Psiquiátrica tem peculiar
importância na Reforma Psiquiátrica, pois, investiu no aprimoramento teórico-prático, produção de
conhecimentos científicos, formação de recursos, ou ainda, nos dispositivos sociais de controle e
formulação das políticas públicas, reestruturou-se e rompeu com o paradigma manicomial para atuar
na promoção qualificada de cuidado em saúde mental8–9.
No processo de desinstitucionalização, ainda dentro do hospital psiquiátrico, a Enfermagem
Psiquiátrica promoveu cuidados para tornar possível a alta das pessoas internadas, participando
ativamente na redução de leitos. Ocorreram movimentos antimanicomiais fora e dentro da instituição.
Nesse último, a Enfermagem trabalhou para dar o mínimo de autonomia para essas pessoas saírem
para o convívio em suas casas ou SRT.
multidimensionalidade18–20.
É importante também destacar a evolução Processo de Enfermagem para a implantação de
um elenco de recursos para o cuidado baseados no relacionamento interpessoal e terapêutico20–21.
Nos novos dispositivos de saúde mental a Enfermagem tem se colocado para além do atendimento
da pessoa, individualmente, cobrindo todo o seu cenário de vida e saúde. Também atuou na produção
e atualização do conhecimento científico na área de saúde mental, com quantitativo expressivo de
artigos, a partir de 2001, indexados nas bases de dados mais relevantes. Isto nos permite identificar
mais claramente a ampliação da Enfermagem Psiquiátrica em Enfermagem de saúde mental nos
últimos 20 anos22.
universitária em pesquisas-intervenção-ação29.
Apesar de tantos desafios, alguns aqui registrados, é necessário destacar também que, devido
às diferenças político-sociais vigentes nas regiões do país, vem se sobressaindo um movimento
potente da Enfermagem em favor da aquisição e produção de conhecimentos que estreitam, cada
vez mais, a relação entre Enfermagem e o campo da saúde mental. Assim, financiamentos públicos
devem não apenas continuar, mas aumentar, devido às crescentes demandas por serviços de saúde
mental e aos tempos de espera excessivamente longos pelos serviços.
CONCLUSÃO
Uma consideração das mais importantes é que, nos últimos vinte anos, a Reforma Psiquiátrica
impactou profundamente na diminuição da perversa desumanização no cuidado, o que traçou longo
caminho, marcado pela trajetória manicomial. A absorção de novos conceitos, globalmente aceitos
no processo de transição do modelo manicomial para o psicossocial no Brasil, consolidou o que hoje
é Enfermagem Psiquiátrica e em Saúde Mental.
O atual conceito de saúde mental envolve todos os profissionais de saúde e nasce da expansão
dos espaços de cuidado às pessoas em sofrimento psíquico. Por essa razão, já não prescinde dos
cuidados da Enfermagem e habita o contexto dessas práticas, corroborando com a prospectiva de
trabalho de toda a equipe de saúde atuando interprofissionalmente.
As teorias e conceitos criados para sustentar o cuidado terapêutico de Enfermagem Psiquiátrica
são atuais e pertinentes ao cuidado psicossocial, tanto assim que se defende sua aplicação em
cenários onde há práticas de Enfermagem Psiquiátrica e em saúde mental na RAPS. A elas foram
incorporados fundamentos que emergiram com o SUS e com a Reforma Psiquiátrica para chegar
REFERÊNCIAS
1. Pitta AMF, Guljor AP. A violência da contrarreforma psiquiátrica no Brasil: um ataque à democracia
em tempos de luta pelos direitos humanos e justiça social. Cad CEAS [Internet]. 2019 [acesso
2022 Jan 24];(246):6-14. Disponível em: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2019.n246.p6-14
2. Amarante P. Saúde mental e a atenção psicossocial. Rio de Janeiro, RJ(BR): Fiocruz; 2011. 123 p.
3. Clementino FS, Miranda FAN, Pessoa JM Jr, Marcolino EC, Silva JA Jr, Brandão GCG. Atendimento
integral e comunitário em saúde mental: avanços e desafios da reforma psiquiátrica. Trab
Educ Saude [Internet]. 2019 [acesso 2022 Jan 24];17(1):e0017713. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/1981-7746-sol00177
4. Gibbert PC, Figueiredo LMV, Dias LS, Rezio LA, Bittencourt MN, Volp ACP. A interprofissionalidade
e o cuidado em saúde mental: vivências de um grupo PET - Saúde na região Centro-Oeste.
Res, Soc Dev [Internet]. 2020 [acesso 2022 Jan 24];9(12):e33591211153. Disponível em: http://
doi.org/10.33448/rsd-v9i12.11153
5. Saraceno B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Rio de
Janeiro, RJ(BR): TeCorá; 1999. 176 p.
6. Martins GCS, Peres MAA, Santos TCF, Queirós PJP, Paiva CF, Almeida AJ Filho. Teaching
undergraduate nursing in mental health as allied to the consolidation of the Psychiatric Reform
movement. Esc Anna Nery [Internet]. 2018 [acesso 2022 Jan 24];22(4):e20180164. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0164
7. Magnago C, Tavares CMM. O ensino de enfermagem psiquiátrica nas Universidades Públicas do
Estado do Rio de Janeiro. Rev Eletronica Enferm [Internet]. 2012 [acesso 2022 Jan 24];14(1):50-
8. Disponível em: https://doi.org/10.5216/ree.v14i1.10626
8. Martins GCS, Peres MAA, Bergold LB, Santos TCF, Queirós PJP, Almeida AJ Filho. Care
strategies adopted by nurses for the implementation of Psychosocial Care Centers. Rev Rene
[Internet]. 2018 [acesso 2022 Jan 24];19:e33319. Disponível em: https://doi.org/10.15253/2175-
6783.20181933319
29. Conselho Regional de Enfermagem, Rio Grande do Sul. Carta de Florianópolis da Enfermagem
em Saúde Mental. 3º Colóquio Brasileiro de Enfermagem em Saúde Mental. 2021 [acesso 2022
Jan 24]; Florianópolis. Disponível em: https://www.portalcoren-rs.gov.br/docs/carta-floripa-cben.pdf
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA
Concepção do estudo: Peres MAA; Martins GCS.
Coleta de dados: Peres MAA; Martins GCS, Manfrini GC.
Análise e interpretação dos dados: Martins GCS; Manfrini GC; Cardoso L.
Discussão dos resultados: Manfrini GC; Cardoso L; Fonseca PIMN.
Redação e/ou revisão crítica do conteúdo: Peres MAA; Fonseca PIMN.
Revisão e aprovação final da versão final: Shattell M; Peres MAA; Martins GCS.
CONFLITO DE INTERESSES
Não há conflito de interesses.
EDITORES
Editores Associados: Leticia de Lima Trindade, Ana Izabel Jatobá de Souza.
Editor-chefe: Roberta Costa.
HISTÓRICO
Recebido: 12 de março de 2022.
Aprovado: 09 de junho de 2022.
AUTOR CORRESPONDENTE
Gizele da Conceição Soares Martins
[email protected]