03 Pereira-Sentimentos No Exultet-Rev3-Ok
03 Pereira-Sentimentos No Exultet-Rev3-Ok
03 Pereira-Sentimentos No Exultet-Rev3-Ok
Jerônimo Pereira*
Olinda, PE
Síntese: A primeira parte da Vigília Pascal encontra seu ponto culminante no canto
Abstract: The first part of the Easter Vigil has its climax in the diaconal chanting of
the Exultet. The objective of the present article is to present, in a synthetic form, the
*. Dom Jerônimo Pereira é monge beneditino do Mosteiro de São Bento de Olinda, desde
1996. Mestre em Teologia com especialização em Liturgia Pastoral, pelo Instituto de Liturgia
Pastoral de Santa Justina (Pádua – 2012) e doutor em Sagrada Liturgia pelo Pontifício Instituto
Litúrgico de Roma, Santo Anselmo (2016). É membro da Equipe de Reflexão teológico-pastoral
da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB e do Centro de Liturgia Dom Clemente
Isnard. Atualmente é docente de liturgia nos Institutos italianos de Liturgia, de Pádua e de Roma,
na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e nos Cursos de Pós-graduação Lato Sensu
em Liturgia, Arquitetura e Arte Sacra e Música, do Centro Universitário Salesiano
(UNISAL)/Campus Pio XI, São Paulo. O autor tem várias publicações no Brasil (na Revista de
Liturgia) e na Itália. Entre elas destacam-se: “O paradigma Lectio cum cantico no Ordo
Pænitentiæ”. Ecclesia Orans, Roma, v. 32, p. 361-386, 2015; ‘“Quod ore sumpsimus, Domine,
pura mente capiamus’. A sacramentalidade do aparato bucal nos sacramentos da iniciação
cristã”. Roma: CLV-Ed. Liturgiche, 2017; “O culto dos santos no Ofício Divino das Comunidades”.
Revista de Liturgia, São Paulo, v. 46, n. 272, p. 18-22, 2019.
1
elements of the affectus fidei of the redeemed Church, present in the lyricism of the
melodic-textual narration expressed by the deacon. We begin with the
anthropological analysis of human feelings and their inter-subjective dimension; we
introduce the historical and liturgical context of the Exultet and finally analyse the
expression of these feelings. The results, even if summarized, make evident, clearly
and above all, the importance of the lex orandi in the transmission-expression of the
faith/salvation experienced per ritus and preces.
Introdução
Nos últimos anos muito se tem usado os termos lex orandi, lex credendi para
dizer como a oração é a expressão normativa da fé, daquilo em que realmente
acreditamos.
Sabemos bem que os ritos não podem ser improvisados e que, como em todas
as festas bem-sucedidas, eles devem ser preparados de modo que até mesmo a forma
externa exprima a grandeza e a profundidade do que se celebra.
Tendo dito isso como uma reflexão entre o já sabido e o desejado, entramos no
tríptico da Páscoa,1 três momentos de uma única ação salvadora a que estão ligados,
1. Nos fins do IV século, Santo Ambrósio usa a expressão Triduum sacrum para indicar
os dias nos quais fazemos a memória da paixão de Cristo, de seu repouso no sepulcro e de seu
ressurgir dos mortos (AMBROSIUS. Epistula 23,13: Triduum illum sacrum... intra quod et passus
est et quievit et resurrexit). Santo Agostinho, alguns anos depois, o chama de Sacratissimum
triduum crucifixi, sepulti suscitati (Augustinus. Epistula 55, 24). Cf. SCICOLONGE. La
celebrazione del triduo pasquale; CATELLA; REMONDI. Celebrare l’unità del Triduo Pasquale. v.
I: Il Triduo oggi e il Prologo del Giovedì santo; ID. Celebrare l’unità del Triduo Pasquale. v. II:
Venerdì santo; ID. Celebrare l’unità del Triduo Pasquale. v. III: Una Veglia illuminata
dall’Assente. Para os ritos ocidentais não romanos – Rito Ambrosiano, cf. VALLI. La santa messa
in Cena Domini nella liturgia ambrosiana; ID. Passione e deposizione del Signore nel rito
ambrosiano; ID. La vigilia pasquale nel rito ambrosiano. I: I riti lucernali; ID. La vigilia pasquale
nella liturgia ambrosiana. II: La catechesi veterotestamentaria; ID. La veglia pasquale nella
liturgia ambrosiana. III: Dall'anuncio della risurrezione ai riti conclusivi; ID. I formulari eucaristici
del giorno di pasqua nella liturgia ambrosiana; ID. Il triduo pasquale ambrosiano. Rito Moçárabe
ou visigótico, cf. PINEL. La semana santa en el antiguo rito hispânico, p. 237-275.
2
graças à restauração litúrgia iniciada com Pio XII2 e concluída pelo Vaticano II,3 da
Missa in coena Domini à Grande Vigília Pascal, a única desse tríptico, se olharmos
atentamente, que termina com a despedida. Mesmo o pequeno detalhe enfatiza essa
unidade, dado que, na Quinta e na Sexta-Feira Santas, a Assembleia se dissolve em
um silêncio orante que continua, no indivíduo, a adoração da Igreja.
Três dias intensos e preciosos nos quais seguimos os passos de Jesus nos lugares
e acontecimentos que caracterizaram os últimos três dias de sua vida terrena, a partir
da Eucaristia no Cenáculo até a grande vigília pascal.
A vigília pascal
Qualquer pessoa que participa à Liturgia da luz, ou Lucernário, que abre a solene
Vigília Pascal na noite santa, se encontra extasiado diante do canto de louvor à luz, o
Precônio Pascal, entoado pelo diácono. Quem escuta atentamente o canto do anúncio
3
da Páscoa, não pode negar que seu conteúdo exprime abundantemente a presença de
uma linguagem carregada de sentimentos. Tal constatação é o ponto de partida desta
nossa exposição.
Desde a descrição do homem feita por Aristóteles, onde, além da razão, existem
pulsações que o levam a agir com um impulso diferente,6 passando por Pascal com seu
famoso axioma “O coração tem razões que a razão não compreende”7 até chegar aos
tempos modernos, onde filósofos, psicólogos, pesquisadores da neurociência
procuraram dar um nome, um motivo, uma classificação exata às emoções e aos
sentimentos, tão óbvios e tão complexos para todo ser humano, que não há nenhum
4
estudo que comporte um consenso importante. Fato é que emoções e sentimentos
desempenham um papel de máxima relevância na concepção integral do ser humano.
Mesmo assim, segundo as palavras de Fehr e Russell, “todo mundo sabe o que é uma
emoção, até que lhe seja solicitado defini-la; nesse momento, parece que ninguém
sabe”. 8 A melhor evidência desta falta de unidade pode ser encontrada no uso
indiscriminado desses termos, sem mais detalhes e tão frequentemente intercambiáveis
uns com os outros, nas obras filosóficas e psicológicas, do passado e dos nossos dias.
No entanto, em geral, alguns pontos comuns são aceitos, o que pode ser suficiente para
nosso estudo.9 Com base nisso, delineamos algumas definições orientadoras, capazes
de nos conduzir a uma interpretação adequada das mesmas, no campo litúrgico.
1.1 As emoções
5
(alegria, em todas as suas variantes) e thanatos (o medo, a raiva e a tristeza, em suas
diferentes possibilidades); esse pensamento se torna mais claro em Goleman, ao
afirmar que as emoções “realmente representam a diferença entre a vida e a morte”.15
1.2 Os sentimentos
Uma definição possível de sentimento poderia ser: “uma sensação menos intensa
e mais duradoura que uma emoção”, desencadeada por um “evento originador ou sua
memória”, que “modifica o humor e, por vezes, o organismo de um sujeito” e que requer
uma “avaliação subjetiva”, que determina um certo “comportamento como resposta ao
objeto associado” à dita situação. A dependência de memórias e julgamentos subjetivos
fortalece a natureza privada dos sentimentos. Mesmo com essas nuances, sua relação
com as emoções fundamentais e os princípios da vida e da morte permanecem intactos,
criando “sentimentos de alerta”, como mecanismo básico de sobrevivência psíquica.17
A linha de separação entre esses dois conceitos não é muito clara; entretanto,
em todos os estudos analisados, há concordância em diferenciá-los nos seguintes
elementos:
6
• Modificações no sujeito: na emoção, principalmente de tipo fisiológica; no
sentimento, preferivelmente de tipo psicológico.
Estas diferenças estão tão intimamente ligadas entre si que, muitas vezes, as
emoções se tornam sentimentos; mas, quando estes mudam o valor dos objetos de seu
afeto, podem retornar ao estado de emoção e, novamente, gerar novos sentimentos.
Pode-se então concluir que toda emoção é potencialmente um sentimento e que este,
por sua vez, é uma emoção prolongada no tempo.
A pergunta mais obvia é como seja possível integrar os dois aspectos: o primeiro
[a primeira pessoa - subjetividade] e o terceiro [a terceira pessoa - objetividade]. Um
caminho a não desconsiderar é o segundo [a segunda pessoa], isto é, a possibilidade
7
da parte do primeiro de confrontar suas próprias experiências subjetivas com as
experiências subjetivas dos outros.19
• Evento originador: Redução à escravidão (Ex 1,13), morte dos filhos dos
hebreus (Ex 1,16.22), trabalho escravo (Ex 1,14; 5,9), pragas contra o Egito (Ex 7,14-
12,36) e proteção dos israelitas (Ex 8,18; 9,4.7.26; 11,7), perseguição após a partida
(Ex 14,9), morte do inimigo (Ex 14,28).
8
• Estado de perturbação ou sensação do povo: vida insuportável com trabalhos
forçados (Ex 1,14), medo intenso (Ex 14,10.13), salvação (Ex 12,27; 14,30), contínua
companhia (Ex 13,22), segurança (Ex 14,8.19-20).
Bento XVI recordou que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou
uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa”.21 Por
esta razão, também na Páscoa de Jesus, a partir da perspectiva do discípulo, podemos
encontrar uma série de sentimentos que constituem o momento fundamental do próprio
cristianismo e, ao mesmo tempo, da vida cristã pessoal:
• Evento originador: traição (Mt 26,25; Mc 14,18; Lc 22,21), negação (Mt 26,34;
Mc 14,30; Lc 22,55-60), captura (Mt 26,50; Mc 14,46; Lc 22,54), sentença de morte
(Mt 26,66; Mc 14,64), ultrajes (Mt 27,26-31; Mc 14,65; 15,15-20; Cf. Mt 26,69-74; Mc
14,66-72; Lc 22,55-60.63-65), crucifixão (Mt 27,35; Mc 15,24), morte (Mt 27,50; Mc
15,37; Lc 23,46), ressurreição (Mt 28,2.6), aparição (Mt 28, 9-10. 16-20; Mc 16, 9-19;
Lc 24, 13-52).
9
• Perturbação ou sensação dos discípulos: aflição e tristeza (Mt 26,22; Mc 14,19;
16,10), remorso (Mt 27,3-4), surpresa (Mc 16,5), temor (Lc 24,5), admiração (Lc
24,12.32), ausência de medo (Mt 28,5; Mc 16,6), temor e alegria intensa (Mt 28,8; Mc
16,8; Lc 24,37), incredulidade (Mc 16,11.13; Lc 24,11).
10
e difíceis, como o sofrimento, a traição, a dor, o abandono, o pecado, e o seu momento
posterior de graça e salvação, oferecido por Deus; ainda mais especificamente, a tensão
de um catecúmeno esperando para ser admitido, apesar de seus pecados; a ansiedade
de um penitente que espera a remissão dos pecados; a angústia de um moribundo que
se encontra às portas da morte, entre muitas outras situações. Todos eles, através da
recordação de um evento que desencadeia sentimentos, podem renovar a carga
emotiva e sentimental que os leva a expressar a alegria de uma salvação iminente.
11
3. Um canto que expressa o sentimento de ser salvo
12
Daquele lugar elevado e reservado para a proclamação da Palavra de Deus, o diácono,
segundo a mistagogia dos Padres do Oriente, representa o anjo que traz as boas novas
da ressurreição de Cristo.
O texto começa com a palavra Exultet, vocábulo do qual vem o nome dos rótulos
de pergaminho sobre o qual era escrito; ainda hoje esse hino é geralmente conhecido
com esse nome, em alternativa a Laus cerei, Benedictio cerei ou Praeconium Paschale.
O Precônio Pascal, que entrou no rito romano já na Baixa Idade Média, tem uma
origem muito remota: entre os exemplos mais antigos estão as fontes galicanas do
Missale Gothicum de Autun (século VII) e do Missale Gallicanum Vetus (séc. VII-VIII);
destes passou para os Sacramentários francos gelasianos, depois para os
Sacramentários gregorianos; e, finalmente, entrou definitivamente na liturgia romana,
como muitos outros cantos e ritos galicanos.
O rito da luz desenvolveu-se tanto nas liturgias orientais quanto ocidentais; entre
as fórmulas cristãs mais antigas chegou até nós a da bênção da luz vespertina, confiada
ao diácono, contida na Traditio apostolica (século II) e nas Constituições Apostólicas
(século IV). Tal celebração litúrgica tornou-se a eucharistia lucernalis, nos ritos
ambrosianos e moçárabes. Em Roma (séc. I-II) celebrava-se o lucernário em grego,
para o qual foram compostos hinos, tais como o antiquíssimo Phôs ‘ilaròn, Luz alegre,
que remonta ao I século. A Peregrinatio Aetheriae testemunha o rito da luz celebrado
28. A luz sempre teve um valor simbólico central na teologia cristã (é suficiente recordar
o Evangelho de João). O ritual de acender a vela entrou na liturgia já no III século; antes não
havia o costume do uso de velas de cera na liturgia, mas o acendimento das luzes (lamparinas)
sempre teve grande importância ritual, especialmente quando a Eucaristia era realizada na
madrugada.
29. Cf. GIRAUDO. Questa è la notte di cui fu scritto.
13
em Jerusalém na Basílica do Santo Sepulcro. Durante esse tipo de liturgia, a tarefa de
acender as lâmpadas e iluminar a igreja era confiada aos diáconos; muito cedo este
ministério também foi enriquecido com a tarefa de compor e proclamar/cantar a relativa
oração.30
Somente no V século essa Laus cerei entrou em Roma, embora ainda não na
liturgia papal, mas na liturgia dos Títulus. Parece, no entanto, que em Milão esse canto
de louvor à luz já fosse conhecido no século IV, porque Santo Agostinho (413-426) diz
que compôs um deles, ainda que breve: “Eu expressei brevemente esses conceitos em
um elogio à vela (círio): estas coisas são Tuas e são boas porque Tu que és bom as
criaste. Nada de nós existe nelas, exceto que, ao violar a ordem, pecamos amando não
a Ti, mas o que por Ti é criado”.31
30. Cf. PEREIRA SILVA. O “Lucernário” no Oficio Divino das Comunidades, p. 4-9.
31. AGOSTINHO. De Civitate Dei, XV, 22. Essa laus cerei foi escrita quando Agostinho
era diácono, de acordo com a epígrafe contida no Sacramentarium Gallicanum, publicado por J.
Mabillon (1632-1707) (Incipit benedictio cerei sancti padri Augustini episcopi quam adhuc
diaconus cum esset edidit e cecinit feliciter). Segundo o testemunho de Righetti (Storia Liturgica,
p. 268-270, v. I), a partir dessa passagem, os autores medievais acreditavam poder identificar
Agostino como o autor do Exultet. Não apenas Agostinho, mas outros também escreveram
Benedictio cerei: Ennodius (473-521), bispo de Pavia, mas de origem galicana, escreveu duas
Benedictiones cerei, compostas quando era diácono do bispo Lorenzo, em Milão. Enquanto o
texto de Agostino é evidentemente um resumo, as duas óperas ennodianas são integrais e,
portanto, muito interessantes e indicativas. Alguns estudiosos, tanto modernos quanto dos
séculos passados, também colocaram entre os testemunhos mais antigos um hino de Prudêncio
(348-405) Ad incensum lucernae, mas nem todos compartilham a opinião de que a oração se
referisse ao círio pascal. É certamente parte da família das Benedictiones a bênção do círio na
liturgia hispano-moçárabe, atribuída a Isidoro de Sevilha (560-636). O Precônio Pascal franco-
romano contido nos Sacramentários galicanos (Missal Gothicum de Autun e Missal Gallicanum
Vetus) foi incluído no Suplemento de Alcuíno e, depois, no Pontifical Romano-Germânico de
Magonza (século X), onde, no entanto, foram feitas algumas depurações de textos considerados
inadequados (em particular, a seção O certe necessarium ... redemptorem, onde se fala do
pecado de Adão e da felix culpa que foi causa de confusão). O Gallicanum Vetus o intitula com
a atribuição a Agostinho. A fonte celta, provavelmente compilada em Bobbio (final do século VII
– o Antifonário de Bangor), contém um Hymnum quando caeria benedicitur. O texto anônimo é
a versão completa de uma bênção atribuída a Santo Ambrósio e citada, em parte, em uma carta
de Alcuíno a Carlos Magno. A mais antiga evidência de uma laus cerei na liturgia de Roma (século
VII) encontra-se no Sacramentarium Gelasianum. O rito simples no Sacramentarium Gelasianum
usou a fórmula antigo-romana Deus mundi conditor, mas depois de algumas décadas,
juntamente com muitos outros elementos galicanos ou franco-romanos incluídos na liturgia, a
fórmula foi substituída pelo Exultet. Dos Ordines Romani (séc. VIII-IX) vêm outros testemunhos
importantes.
14
O texto pertence ao gênero literário da bênção de ação graças bíblica, muito
próximo à nossa Oração Eucarística. Como forma literária, temos uma narração dirigida
a Deus pelas obras que ele operou a nosso favor. Todo o texto explicita uma consciência
teológica de tipo sapiencial e contemplativa, nutrida pela admiração e adoração. O texto
nasce da contemplação da história da salvação, desde a criação do cosmos e do homem,
até o renascimento de todas as coisas através da Páscoa de Cristo, meditado, assimilado
na lectio divina, e, finalmente, escrito/traduzido em canto.
Sabemos que não existe uma maneira unívoca de abordar este argumento,
porque a riqueza do texto permite uma ampla gama de possibilidades: uma análise
semiológica, uma abordagem de tipo exegético, uma reconstrução evolutiva do texto...
para citar alguns. De nossa parte, vamos procurar sua estrutura narrativa, vinculada
às palavras que se referem à estrutura das emoções ou dos sentimentos, como até
agora temos abordado, e, então, desenvolver suas ideias no contexto da
intersubjetividade eclesial, dentro do espectro das pulsões de vida ou de morte. Para
tanto, dividimos o texto em cinco partes, a saber: convite à alegria e ao louvor;
recordação que motiva toda essa alegria; o louvor; o sacrifício do círio e a petição.33
15
Exsúltet iam angélica turba Exulte de alegria a multidão dos
cælórum: exsúltent divína mystéria et Anjos: exultem as assembleias celestes,
pro tanti Regis victória tuba ínsonet ressoem hinos de glória para anunciar o
salutáris. Gáudeat et tellus, tantis triunfo de tão grande Rei. Rejubile-se a
irradiáta fulgóribus et ætérni Regis terra, que em meio a tantas luzes
splendóre illustráta tótius orbis se séntiat resplandece, sabendo que o esplendor
amisísse calíginem. Lætétur et mater do eterno Rei dissipou a treva de todo o
Ecclésia tanti lúminis adornáta fulgóribus: mundo. Alegre-se a Igreja, nossa mãe,
et [magnis populórum vócibus hæc aula adornada com os fulgores de tão grande
resúltet]. luz e [ressoem neste templo as
aclamações do povo de Deus].
16
A escuridão que desaparece é o fato que desencadeia esses sentimentos e que
determina a ideia central, tanto nesta seção quanto do restante do texto. Essa é a
pulsão negativa de morte que abre o desenvolvimento do evento narrado: a escuridão,
percebida como o inimigo a ser vencido, foi derrotada por um poderoso Rei, pulsão
positiva, por meio de seu esplendor, que alcança toda a terra. Esta é a causa da alegria,
que se converte no mesmo momento na razão pela qual os louvores e as aclamações
do povo em comemoração devem ressoar, porque a luz que o círio traz é o mesmo
esplendor que pode vencer o mal, e sua causa eficiente é o próprio Deus, a quem os
pensamentos dos presentes devem ser dirigidos, com o convite do diálogo que conclui
essa parte.
A partir deste momento, como se pode deduzir pelo uso dos verbos, o
destinatário ao qual se dirige o ministro deixará de ser a Igreja congregada e passará
a ser Deus, que é o autor da ação admirável que mudou esta situação:
17
Hæc nox est, in qua primum patres Esta é a noite em que [libertastes]
nostros, fílios Israel [edúctos] de Ægypto do cativeiro do Egito os filhos de Israel,
Mare Rubrum sicco vestígio [transíre] nossos pais e os fizestes [atravessar] a pé
fecísti. Hæc ígitur nox est, quæ enxuto o Mar Vermelho. Esta é a noite em
peccatórum ténebras colúmnæ que a coluna luminosa as trevas do
illuminatióne purgávit. Hæc nox est, quæ pecado dissipou. Esta é a noite na qual
hódie per univérsum mundum in Christo por todo o mundo, [banidas] as trevas do
credéntes, a vítiis sæculi et calígine pecado, os crentes em Cristo são lavados.
peccatórum [segregátos], reddit grátiæ, Noite que os restitui à graça e os reúne
sóciat sanctitáti. Hæc nox est in qua, na sociedade dos santos. Esta é a noite na
destrúctis [vínculis mortis] Christus ab qual Cristo, destruindo as [cadeias da
ínferis victor [ascéndit]. Nihil enim morte] se [levantou] glorioso do túmulo.
nobis nasci prófuitnisi rédimi De nada nos serviria ter nascido se
profuísset. não tivéssemos sido resgatados.
3.2.3 O louvor
18
méruit habére Redemptórem! O vere mereceu um tão grande Redentor! Ó noite
beáta nox, quæ sola méruit scire tempus realmente bendita, somente tu
et horam, in qua Christus ab ínferis mereceste conhecer o tempo e a hora em
resurréxit! [Hæc nox est], de qua que Cristo ressuscitou do sepulcro! [Esta
scriptum est: et [nox sicut dies é a noite], da qual está escrito: a [noite
illuminábitur]: et nox illuminátio mea in iluminará como o dia] e me ilumina para
delíciis meis. Huius ígitur sanctificátio o meu deleite. Esta noite santa afugenta
noctis fugat scélera, culpas lavat et reddit os crimes, lava as culpas, restitui a
innocéntiam lapsis et mæstis lætítiam. inocência aos pecadores e aos tristes a
Fugat ódia, concórdiam parat et alegria. Dissipa os ódios estabelece a
curvat impéria. concórdia e dobra os poderosos.
19
præcónia nóvimus, quam in honórem Dei Igreja. Eis agora a coluna luminosa que,
rútilans ignis accéndit. Qui, [lícet sit em meio a cantos de louvor, uma chama
divísus in partes, mutuáti tamen lúminis de fogo acende em honra de Deus. Esta
detrimenta non novit]. Alitur enim [não perde o seu brilho ao ser dividida em
liquántibus ceris quas in substántiam partes]. Esta chama se alimenta de cera
pretiósæ huius lámpadis apis mater produzida pelo trabalho das abelhas para
edúxit. formar este precioso luzeiro.
Tendo a Louvação chegado ao seu ápice na seção anterior, essa de agora coroa,
magistralmente, a simbologia desta liturgia. A “noite verdadeiramente feliz”,
transformada pela luz que é o próprio Cristo, se concretiza na profissão de fé na
divindade encarnada, que se faz mistagogicamente visível no sinal sensível do círio,
portador do esplendor do Rei que rompeu os grilhões, que, todavia, se apresenta
revestido de uma natureza criada representada pela coluna de cera, que carrega em si
as chagas-marcas da paixão (cf.: Jo 20,24-29). Agora o sacrifício que é oferecido, não
é somente o fato de ver como se derrete a cera para manter viva a chama, mas a
significação de Cristo sacrificado que, mesmo após a oferta de si mesmo, continua vivo
em todo crente, sem diminuir sua natureza.
3.2.5 Apetição
Orámus ergo te, Dómine, ut céreus Nós Vos pedimos, Senhor, que este
iste in honórem tui nóminis consecrátus, círio, consagrado ao vosso nome [para
[ad noctis huius calíginem destruéndam], destruir as trevas da noite] arda
indefíciens persevéret. Et in odórem incessantemente e, aceito por Vós como
suavitátis accéptus, supérnis lumináribus suave perfume, misture a sua claridade à
misceátur. Flammas eius lúcifer das estrelas do céu. Que sua chama
matutínus invéniat: ille, inquam, lúcifer, (permaneça) até a chegada da luz
qui nescit occásum: Christus Fílius tuus, matutina: Aquela luz que não conhece
qui, regréssus ab ínferis, humáno géneri ocaso: Jesus Cristo, vosso Filho, que,
serénus illúxit, et vivit et regnat in ressuscitando de entre os mortos,
sæcula sæculórum. R/ Amen. iluminou o gênero humano com a sua
paz, e vive e reina pelos séculos dos
séculos. R / Amém.
20
Depois do movimento descendente do início da Louvação e a passagem pelas
realidades terrenas, a última petição voltou a levantar os olhos ao céu, implorando ao
Pai elevar ao mais alto a luz que gerou tanta glória na terra, para que de lá possa
cumprir sua principal função e repetir o motivo da alegria que agora sente a humanidade
toda, vendo destruídas as trevas que abraçavam o mundo. Encontramos apenas uma
palavra que se refere diretamente aos sentimentos expressos no exórdio deste rito:
Serénus. Não há, praticamente, uma palavra mais adequada para recolher todos os
sentimentos de um itinerário tão agitado, como este que foi escolhido pelo autor; os
cristãos, que são os que elevam a petição ao Pai, têm a certeza de que a presença de
Cristo, que venceu a morte e destruiu a escuridão com o esplendor de sua luz, já
encontrou a paz, a soma de todos os bens que podem ser alcançados e que todo homem
deseja abundantemente.
O mundo das trevas é transpassado pela Luz, o Cristo ressuscitado, no qual Deus
realizou definitivamente seu plano de salvação. Nele, o primogênito dos que
ressuscitam dos mortos (Cl 1,18), o destino do homem e sua identidade de “imagem e
semelhança de Deus” (Gn 1,26-27), são iluminados. Nele, irrupção do divino no
21
humano, o caminho da história se abre à esperança de novos céus e nova terra. A
tradição cristã definiu os catecúmenos e os batizados como “iluminados”; por causa de
sua adesão vital a Cristo-Luz, eles sabem que sua existência mudou radicalmente. Deus
“os chamou das trevas para sua admirável luz” (1Pe 2,9) e abriu um horizonte de vida
e liberdade diante deles. É por isso que se eleva o “novo canto” (o Precônio pascal)
como memória das maravilhas operadas pelo Senhor em nossa história de “salvos”, e
como agradecimento por uma vida de luz.
Endereço do Autor:
Mosteiro de São Bento de Olinda, s/n
22
Varadouro
53020-080 Olinda – PE/BRASIL
E-mail: <[email protected]>
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