A Logística Reversa E O Princípio Do Poluidor-Pagador Na Visão Do Superior Tribunal de Justiça
A Logística Reversa E O Princípio Do Poluidor-Pagador Na Visão Do Superior Tribunal de Justiça
A Logística Reversa E O Princípio Do Poluidor-Pagador Na Visão Do Superior Tribunal de Justiça
FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO STRICTO SENSU
MESTRADO EM ALTERIDADE E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Salvador
2022
MARCIA BITTENCOURT BARBOSA MATIAS
Salvador
2022
TERMO DE APROVAÇÃO
_ _ _ _ _
Prof. Dr. Heron José de Santana Gordilho – Orientador
Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
_ _ _ _ _
Profa. Dra. Fernanda Ravazzano
Doutora em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
_ _ _ _ _
Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva
Doutor em Direito pela Pontificia Universidade Catolica de São Paulo (PUC-SP).
E. Didier
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, ao meu Pai que não esta mais entre nós, a Emanuele, Teia, Martinha,
Lindinha Vicktória e a todos familiares e amigos por acreditarem em mim e por todo amor
depositado.
Ao meu querido orientador professor Dr. Heron José Santana Gordilho, pelos seus
ensinamentos, incentivos, troca de ideias e paciência. Ao professor Dr. Jadson Correia de
Oliveira por todas as contribuições, atenção e cuidado. À professora Dra. Monica Neves
Aguiar pelos ensinamentos e atenção.
The dissertation uses the logical-systematic method, based on a qualitative research, aiming to
understand the reverse logistics of plastic packaging, from the perspective of the Polluter Pays
Principle. Thus, it questions whether the polluter-pays can be applied, regardless of legal
provision, in view of the understanding of the 4th Panel of the Superior Court of Justice in
Special Appeal 684,753 - PR, judged in 2014, which determined the collection of PETS bottles
, based on the direct application in the PPP. As a specific objective, it verifies the possibility of
applying reverse logistics, regardless of the conclusion of sectoral agreements, terms of
commitment and regulations for plastic packaging. Initially, it is situated in the understanding
of the new neoconstitutionalist hermeneutics. In a second moment, it makes a study on the
assumptions of the polluter pays principle, namely: the effectiveness of the Environmental Rule
of Law and environmental scarcity, as well as investigates the relationship of the PPP with the
principles of prevention and civil liability. In a third moment, it analyzes the institute of reverse
logistics and its application through agreements, regulations and terms of commitment. To then
analyze, from the perspective of the judgment, in comment, the possibility of applying the PPP
independent of legislative intermediation to minimize or remedy the negative environmental
externalities caused by the use of plastics in the production process by the business chain.
1 INTRODUÇÃO
A dissertação fará uma revisão de jurisprudência sobre o instituto da logística reversa criado
pela Lei n.12.305/2010, denominada Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (LPNRS), que
obriga fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes a internalizarem os custos
decorrentes das externalidades negativas provocadas pelo descarte inadequado de resíduos sólidos
no pós-consumo.
A LPNRS, no artigo 33, I-VI, obriga os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de agrotóxicos de pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas
fluorescentes; produtos eletrônicos e seus componentes a implementarem a logística reversa, mas
não inclui entre eles, os produtos de natureza plástica.
O Art. 33, §1º e §2, da LPNRS, obriga a implantação da logística reversa às embalagens
plásticas mediante acordo setorial com o Poder Público, considerando, prioritariamente, o grau e a
extensão do impacto desses resíduos a saúde pública e ao meio ambiente.
Todavia, em 2014, considerando os danos que as embalagens plásticas causam ao meio
ambiente, em sede do Recurso Especial n.684.753/PR, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) obrigou a Empresa Imperial a recolher as embalagens plásticas dos rios, dos córregos e das
praças, com fundamento no Princípio Poluidor Pagador, tendo em vista que os lucros obtidos pela
empresa decorriam do uso desses resíduos.
Na decisão, o referido tribunal entendeu pela aplicação do Princípio Poluidor Pagador, sem
indermediação legislativa, porquanto, o julgado referia-se a uma época, na qual não havia uma lei
para disciplinar o “ descarte” das embalagens plásticas, tal como ocorre, atualmente, com a Política
Nacional dos Resíduos Sólidos.
Partindo da importância do instituto do poluidor pagador previsto no Art. 4, VII, da Lei
6938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente) e da logística reversa, como um instrumento
social, econômico e ambiental para eliminar ou reduzir as externalidades ambientais, avalia-se,
partindo da teoria do Direito pós-positivista, se foi equivocado ou não o julgamento do Superior
Tribunal de Justiça que determinou a responsabilização civil da Empresa Imperial, com
fundamento no Princípio Poluidor Pagador.
A partir desse questionamento, indaga-se, ainda, a respeito da possibilidade, à luz do pós-
positivismo, de obrigar as atividades empresariais que comercializam embalagens ou produtos
14
2 DO POSITIVISMO AO PÓS-POSITIVISMO
1
MORAES, Ricardo Quantim de. A evolução histórica do Estado liberal ao Estado Democratico de Direito e a sua
relação com o constitucionalismo dirigente. Revista de informação legislativa, v. 51, n. 204, p. 259-277, out./dez.
2014. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/509938. Acesso em 10 mai. 2022, p.271.
2
Ibidem, loc.cit.
3
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do Direito
Constitucional no Brasil). Revista Opinião Jurídica, v. 3, n. 6, 2005. Disponível em:
https://periodicos.unichristus.edu.br/opiniaojuridica/article/view/2881. Acesso em 14 mai. 2022, p. 4.
4
LIMA, Simone Alvarez. Neoconstitucionalismo no Brasil do positivismo à nova leitura Constitucional a respeito
dos valores. Revista Acadêmica de Direito Constitucional, Curitiba v. 8, n. 14, jan – jun .2016. Disponível em:
https://abdconst.com.br/revista15/neoSimone.pdf Acesso em: 16 jan. 2022, p. 302.
5
BARROSO, loc.cit, p. 4.
6
Para Lênio Streck, a maior preocupação não é o juiz chamado “boca da lei”. A teoria do Direito Contemporânea,
através do neoconstitucionalismo vai muito além do enfrentamento ao positivismo exegético, representado pelo juiz
que professa a “letra fria da lei” ou confunde o texto com norma jurídica. Mas, o que tem mais instigado a essa posição
doutrinária, é o retorno da discricionariedade judicial, presente no positivismo normativo e assinalada por Hans Kelsen,
em sua teoria pura do Direito, por meio Direito na da aplicação inadequada da teoria dos princípios de Dworkin e
Alexy. Assim, a discricionariedade, que se sustenta na impossibilidade do “fechamento semântico” do direito pelos
magistrados, é o que preocupa a teoria do Direito Contemporânea, uma vez, que pode trazer decisões arbitrárias.
Assinala, Streck que embora reconheça que os juízes, em suas decisões, sejam afetados por razões subjetivas, pois a
relação do sujeito e objeto, é o modo como cada um ver esse objeto, entende o referido autor que o magistrado não
17
o texto conforme a realidade, e sim, exprimir a vontade do legislador. Vigia um tempo, em que
imperava a separação da moral em relação ao Direito.
Desse modo, caberia ao magistrado na aplicação da lei, utilizando o método subsuntivo e
em um pensamento lógico dedutivo, analisar se o caso concreto amoldava-se ao preceito normativo
em abstrato. A hermenêutica jurídica estava adstrita a exprimir a vontade da lei ou a intenção do
legislador.7
O maior problema causado pela era positivista, foi a busca de assegurar efetividade dos
direitos individuais ou políticos em dimensão formal, deixando aquém a dimensão material dos
direitos sociais, individuais ou políticos já que esses últimos direitos não eram garantidos a todos
de forma isonômica.
A Constituição restringia-se a tratar de normas de competência de órgãos e normas
indispensáveis para a defesa do indivíduo contra o Estado. O texto constitucional tratava-se de uma
mera declaração política, que objetivava apenas limitar os Poderes Estatais. 8
Com efeito, a hermenêutica constitucional não se utilizava de métodos interpretativos
específicos para interpretar a norma constitucional, contentando-se apenas com o direito, no caso
concreto, por meio dos métodos tradicionais, aplicados às normas em geral de interpretação, a
saber: gramatical, histórico, sistemático e teleológico.
No processo interpretativo de normas constitucionais e infraconstitucionais, os princípios
eram preteridos pelas leis. Embora presentes no ordenamento jurídico, as normas principiológicas
não possuíam posição de destaque, sendo apenas utilizados para a solução de lacunas, ao lado dos
bons costumes. Assim, sustenta Melo9:
devem, no processo interpretativo, permitir-se por conduzir por razões pessoais, politicas. Sendo assim, para Streck,
para evitar as arbitrariedades, os juízes se deixar contaminar por questões de ordem intersubjetivas como os valores
Constitucionais. STRECK, Lênio Luiz. O (Pós-) positivismo e os propalados modelos de juiz (Hércules, Júpiter e
Hermes) - dois decálogos necessários. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, n. 7, p. 13-44, 17 fev. 2010.
Disponível em: https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/77. Acesso em 11 mai. 2022.
7
GROSSI, Paolo. Da interpretação como invenção: A redescoberta pós-moderna do papel incentivo da interpretação.
Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito. vol. 13 n. 1. 2021. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/22661. Acesso em: 12 mai. 2021, p. 7.
8
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022,
p.433-435.
99
MELO, Adriana Zawada. Funções dos Princípios Constitucionais. Revista do Mestrado em Direito, São Paulo, v.
8, n. 2, p. 11-27, jul./dez. 2008, p. 16.
18
10
MAGALHAES FILHO, Glauco e DAMASCENO, Daniel. Ainda sobre ativismo judicial: desfazendo mitos e
equívocos para um conceito definitivo. Revista do Programa de Pos-Graduação, vol. 20 n.1 jan/jun. 2020.
Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/43350. Acesso em: 16 jan. 2022, p. 169.
11
AQUAD, Denise. Os Direitos Sociais na Constituição de Weimar como um paradigma do modelo atual da
Constituição Federal Brasileira. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v. 103, p. 337-
355, jan-dez, 2008, p. 342.
12
Ibidem, p. 344.
19
vinculados à dignidade da pessoa humana, que foi o caso da Constituição Brasileira de 1988.
Para Ingo Sarlet, os direitos fundamentais são normas supralegais, que se encontram
submetidas aos limites formais (procedimento agravado) e materiais (cláusula pétrea) da reforma
constitucional.13
Para o referido autor, em sentido jurídico-constitucional, um direito pode ser considerado
fundamental não apenas pela relevância do bem jurídico tutelado à comunidade em si, mas também
pela importância desse bem, tendo em vista as opções do constituinte, a hierarquia correspondente
e o regime jurídico constitucional assegurado pelo mesmo às normas fundamentais.14
Em uma dimensão material, os Direitos fundamentais representam valores expressamente
consagrados em uma ordem constitucional dominante. Isso significa que Direito Fundamental é o
direito, consensualmente, aceito pela maioria de uma ordem constitucional vigente, considerando
as circunstâncias sociais, políticas e econômicas da referida. 15
Apesar do conteúdo axiológico dos Direitos Fundamentais variar de um Estado para outro,
há alguns, cuja dimensão axiológica é universal. Entre esses direitos estão a liberdade, a vida e a
igualdade da pessoa humana. Sendo assim, estes direitos devem ser concebidos contextualmente,
uma vez que são suscetíveis a valoração distinta e condicionada a realidade social cultural fática16.
Os Direitos fundamentais foram estabelecidos nas Constituições no Pós-Positivismo como
conceitos materiais e formais abertos (genéricos e universais), a fim de permitir a sua adaptação ao
Direito Constitucional Positivo.
Ainda segundo Ingo Sarlet, há uma distinção entre direitos fundamentais formais e os
direitos materiais. Os Direitos fundamentais formais, a exemplo do catalogo de Direitos
fundamentais presente no artigo 5 º da Constituição Federal Brasileira, são aqueles expressos ao
longo do texto Constitucional, em um catálogo de direitos, por decisão do legislador-constituinte.
Os Direitos fundamentais materiais são os que apesar de não se encontrarem definidos em um
catálogo de direitos, tendo em vista o seu conteúdo e a sua importância, podem ser equiparados aos
Direitos Fundamentais. 17
Refletindo sobre isso, o direito ao meio ambiente equilibrado, presente no art. 225 da
13
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 13ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018, p. 75.
14
Ibidem, p. 60.
15
Ibidem, p. 62.
16
Ibidem, p. 60.
17
Ibidem, p. 62.
20
Constituição Federal, apesar de ser considerado um Direito fundamental está situado fora do
catálogo de Direitos fundamentais, é considerado um Direitos Fundamental de 3ª dimensão. 18
Assim, ao lado dos Direitos fundamentais existente em um catalogo, há os Direitos fundamentais
existentes fora do catalogo, entre os quais consta o Direito da geração atual e futura a um meio
ambiente equilibrado.
19
Nessa perspectiva, através da previsão constante no Art. 5, § 2, da CF, o Constituinte
ofereceu proteção aos Direitos fundamentais implícitos previstos fora do catalogo, 20 na ordem
nacional e internacional, em que o Brasil faça parte. Por conta disso, através do mencionado
dispositivo, o Constituinte predispôs-se a defender não apenas os direitos e garantias expressos na
Constituição, como também, assegurou a proteção dos direitos e garantias fundamentais, tendo em
vista o regime e os princípios por ela adotado ou decorrente de tratados, no qual o Brasil tenha
aderido.
Em que pese, para Ingo Sarlet, ser possível a aplicação direta de normas que se referem aos
Direitos Fundamentais, o referido autor reconhece a importância da regulamentação deste tipo de
norma, através de normas infraconstitucionais pelos Poderes Executivos e Legislativos para a
garantia do Direito Fundamental do devido processo democrático. Segundo este autor, a invasão
da Politica pelo direito para assegurar os Direitos fundamentais deve ser de forma excepcional.
Dessa forma, na compreensão de Ingo Sarlet, para a validação do processo democrático revela-se
imperiosa a participação dos Poderes Executivo e Legislativo, ambos eleitos pelo povo, através de
21
seus atos normativos, definindo os sujeitos passivos e ativos e as questões processuais.
A par disso, não pode esquecer-se que o direito aos procedimentos democráticos e a divisão
de poderes, constante o artigo 2 º da Constituição Federal são também Direitos fundamentais
protegidos por Cláusula Pétrea, nos termos do Art. 60, § 4, da Constituição Federal, ao lado dos
Direitos e das Garantias Individuais.
Na Constituição Federal de 1988, os Direitos fundamentais e sociais foram deslocados para
um capítulo próprio, em um passo distinto das Cartas anteriores, as quais, posicionavam direitos
18
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 13ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018, p. 53.
19
Ibidem, p. 257.
20
Ibidem, p. 70.
21
Ibidem, p. 69.
21
sociais na ordem econômica e social com um mero caráter programático, salvo algumas exceções. 22
Interessante observar que, ao contrário da Inglaterra que apresenta uma evolução linear dos
Direitos fundamentais, os direitos políticos e sociais no brasil desenvolveram em tempos de crise
da democracia.
Preleciona com que Willians Marques Junior:
Não obstante, os direitos sociais não serem novos postulados expressamente formulados,
serem reconhecidos na Constituição Francesa de 1793 e 1948, a exemplo do Direito do Trabalho,
é apenas no século XX, que há a conversão desses direitos em standard do Constitucionalismo.
Observou-se isso na Constituição Mexicana de 1917, cujo Estado nacionalizou todas as riquezas
naturais, na mesma medida em que tomou para si a responsabilidade de garantir uma existência
digna a todos. A Constituição de Weimar, de 1919, embora mescle coletivismo com liberalismo
clássico contribui para divulgar e expandir os direitos sociais.24 A maioria dos Estados
contemporâneos, principalmente aqueles que vivenciaram períodos ditatoriais, puseram em prática
a expansão dos Direitos Fundamentais Constitucionais e Sociais, através de suas Constituições
analíticas. 25
22
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 13ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018, p. 70.
23
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 378.
24
Ibidem, p. 380.
25
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.
435.
22
26
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 395 et seq.
27
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 642536 AP – Primeira Turma. Relator: Min.
Luiz Fux. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 27 fev. 2013. Disponível em:
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23065179/agreg-no-recurso-extraordinario-re-642536-ap-stf/inteiro-
teor-111273356. Acesso em 11 mai. 2022.
28
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1608044/DF – Segunda Turma. Relator: Min. Herman
Benjamin. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 05 nov. 2019. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/859932297/recurso-especial-resp-1608044-df-2016-0157018-0/inteiro-
teor-859932307. Acesso em 11 mai. 2022.
29
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.322.879/DF. Relator: Alexandre
de Moraes. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 03 ago. 2021. Disponível em:
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1257012480/recurso-extraordinario-com-agravo-are-1322879-df-
0701236-2220208070018/inteiro-teor-1257012492. Acesso em 11 mai. 2022.
30
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 381.
23
Neste sentido, para fazer-se consagrar o previsto no Art. 5, §1 e §2, da Constituição Federal,
para Willians Marques Junior, as mais altas cortes do país tem se posicionado para assegurar o
mínimo existencial, nos termos dos valores adotados pelo Constituinte de 1988, em sua
Constituição, especialmente diante da omissão do legislativo e executivo. Com isso, sem adentrar
em minucias sobre o tema, já que não é o objetivo direto no nosso trabalho, não há dúvidas de que
no entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, os Direitos
fundamentais programáticos prestacionais possuem sua juridicidade ou efetividade garantida32.
2.1 O CONSTITUCIONALISMO
31
VANZELLA, José Marcos Miné; SANTOS, Rafael Pinto dos. Analise da pratica do Ativismo Judicial no Brasil, a
partir das garantias da democracia, princípio da separação dos poderes e controle de constitucionalidade. Revista
Brasileira de Teoria Constitucional, v. 7, p. 55-70, ju/jul 2021. Disponível em:
https://www.indexlaw.org/index.php/teoriaconstitucional/article/view/7703. Acesso em 01 mai. 2022, p. 63.
32
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p.381.
33
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da constituição. 7 ed. Coimbra: Editora
Almedina: 2003, p. 51.
24
políticos aos mais pobres, o constitucionalismo determinou “a aprovação de leis que interessavam
a maioria, período chamado de liberdade política.”34
Ressalta-se que os textos iniciais que deram origem ao movimento não traziam em seu bojo
tantos direitos fundamentais, como é visto hoje. A Constituição Americana veio somente tratar de
diretos em 1791. Na verdade, apenas ao ratificar sobre as 10 emendas, em 1791, que o referido
documento disciplinou despeito de direitos. A Constituição Francesa, de 26.08.1789, por sua vez,
sendo anterior a Declaração do Direito do Homem e do cidadão, fez menção a esta declaração em
seu preâmbulo. 35
Decerto, o mais relevante a destacar é que a introdução da Constituição Americana e da
Constituição Francesa no ordenamento dos respectivos países em nada acrescentaram em termos
de Direitos Sociais (2ª dimensão) ou Direitos de Solidariedade ou Direitos Intergeracionais (3ª
Dimensão), uma vez que as referidas constituições se mantiveram direcionadas à limitação do
Poder Estatal ou à consagração de Direitos Individuais/Políticos (1ª dimensão). Desse modo, não
importava o bem-estar do cidadão, e sim, garantir formalmente direitos políticos para a burguesia,
que embora tivesse com o poder econômico, necessitava estabelecer um ambiente institucional
para se consolidar no poder e expandir seus interesses de expansão econômica. Esse foi o ponto
central do constitucionalismo.
Como assinalado acima, além de questões ideológicas ou dogmáticas, essas constituições
desencadearam um pensamento paradigmático positivista que perdurou durante o século XIX até
meados do século XX. Por esse pensamento, o Poder Estatal deveria ser conduzido, “por um
conjunto de normas extraídas de um texto escrito e único, produzido em determinado momento
histórico, por um órgão designado para tanto. ”36
Como um verdadeiro movimento para a preservação das liberdades políticas, o
Constitucionalismo representou a consagração da concepção do dever para a preservação da
vontade do Poder Constituinte, órgão produtor da Constituição.
O juiz era apenas o aplicador da vontade do legislador. Essa vontade, se traduzia pela
satisfação dos interesses da elite burguesa, que havia conquistado os direitos políticos. Neste
sentido, as decisões dos magistrados não representavam os interesses da maioria, pois, eram
34
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 4.
35
Ibidem, loc. cit.
36
Ibidem, loc. cit.
25
decisões que apenas preocupavam-se em garantir uma igualdade formal de direitos políticos e não
material. Esse modelo constitucionalista foi atribuído a maior parte dos países, exceto os países:
Reino Unido, Nova Zelândia e Israel.37 38
37
DIPPEL, Horst. História do constitucionalismo moderno: novas perspectivas. Tradução: Antônio Manuel
Espanha, 2007, p. 1.
38
Contrapondo o modelo constitucionalista tem-se um modelo de Constituição adotado por Países ora mencionados,
que está embasado em:: “Constituição material, em que as normas constitucionais são identificadas pelo conteúdo e
não por estarem inseridas num texto específico; Constituição parcialmente não escrita, em que as normas são extraídas
de fontes escritas, como tratados internacionais e leis do Parlamento, e não escritas, como os costumes; Constituição
histórica, não elaborada em um momento específico, mas ao longo da história; e Constituição flexível, que pode ser
alterada pelo mesmo processo previsto para a elaboração de leis. Em resumo: o modelo do constitucionalismo adota a
Constituição escrita, codificada, dogmática, rígida, suprema e formal, em contraposição à Constituição parcialmente
escrita, histórica, flexível e material.” MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica
da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 4 et seq.
39
DEMARCHI, Clovis; CADEMATORI, Daniela. Da Constituição ao Neoconstitucionalismo. Anais do XIX
Encontro Nacional do CONPEDI. Fortaleza, 2010, p. 5687- 5687. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/4244.pdf. Acesso em: 10. jun. 2020, p.
5681.
40
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do Direito
Constitucional no Brasil). Revista Opinião Jurídica, v. 3, n. 6, 2005. Disponível em:
https://periodicos.unichristus.edu.br/opiniaojuridica/article/view/2881. Acesso em 14 mai. 2022.
41
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação Constitucional e Direitos Fundamentais: uma contribuição ao
estudo das restrições aos direitos fundamentais na perspectiva da teoria dos princípios. Rio de Janeiro: Renovar, 2006,
p. 42.
26
O pensamento positivista de que o direito é o que consta na lei, sem, portanto, refletir as
dimensões sociais, começa a ser repudiado, após as constituições absorverem diversos valores que
integram a sociedade plural. Partindo do conteúdo axiológico, constante na Constituição Federal,
o Direito infraconstitucional passa ser interpretado.43 O magistrado já não poderia estar mais alheio
às interpretações trazidas pelos intérpretes da sociedade aberta.44 Isso quer dizer que todos os
destinatários da norma se tornam um intérprete da Constituição. Assim, para obter uma
legitimidade, a interpretação constitucional deveria atender os anseios minimamente fundamentais
da sociedade aberta.
Neste sentido, esclarece Willian Marques:
42
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.
435.
43
POZZOLLO, Susanna. Un constitucionalismo ambíguo. In: CARBONELL, Miguel. Neoconstitucionalismo(s).
Trotta: Madrid, 2003, p. 193.
44
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: A sociedade aberta dos interpretes da Constituição:
Contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira
Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
45
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 9.
27
46
SENS, Sheila Catarina. A teoria interpretativa de Dworkin: um modelo construtivo. Revista da Faculdade Mineira
de Direito, v. 16, n. 31, 2013. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/P.2318-
7999.2013v16n31p119. Acesso em 11 mai. 2022, p. 19.
47
SARMENTO, Daniel. O Neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Disponível em:
http://www.danielsarmento.com.br/wp-content/uploads/2012/09/O-Neoconstitucionalismo-no-brasil.pdf. Acesso em
17 fev. 2022.
48
Pensando no Constitucionalismo Norte Americano pode-se afirmar que Dworkin é adepto à teoria da intenção
legislativa na medida em que para este autor “as leis devem ser interpretadas não de acordo com o que os juízes
acreditam que iriam torna-las melhores mas de acordo com o que pretendiam os legisladores que realmente a
adotaram.” DWORKIN, Ronald. O império do Direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo Martins
fontes, 2003, p. 278. Assim, embora Dworkin, compreenda o lugar de destaque dos princípios fundamentais, consoante
estabelece a nova hermenêutica, o referido autor não desconsidera na interpretação das normas jurídicas, de acordo
com a pratica americana, “ a análise das múltiplas declarações feitas pelos membros do Congresso e outros legisladores
nos relatórios das comissões a respeito da finalidade de uma lei. Tais declarações formam a “história legislativa” a que
os juízes devem respeitar.” SENS, Sheila Catarina. A teoria interpretativa de Dworkin: um modelo construtivo. Revista
da Faculdade Mineira de Direito, v. 16, n. 31, 2013. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/P.2318-7999.2013v16n31p119. Acesso em 11 mai.
2022, p. 19.
49
JUNIOR MARQUES, Wilians. Influxos do neoconstitucionalismo inclusivo na realização dos direitos fundamentais
sociais: analise da primazia do Poder Judiciário na perspectiva das teorias da reserva do possivel, do mínimo existencial
e da máxima efetividade. Direitos Sociais e Políticas Públicas, p. 374- 403. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96b8ee525c85be84 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 329.
50
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.436.
51
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a
construção do novo método. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 361-362.
28
A partir de 1988, e mais notadamente nos últimos cinco ou dez anos, a constituição passou
a desfrutar não apenas da supremacia formal que sempre teve, mas também de uma
supremacia material, axiológica, potencializada pela abertura do sistema jurídico e pela
normatividade dos princípios. Com grande ímpeto, exibindo força normativa sem
precedente, a constituição ingressou na paisagem jurídica do país e no discurso dos
operadores do direito.53
52
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do Direito
Constitucional no Brasil). Revista Opinião Jurídica, v. 3, n. 6, 2005. Disponível em:
https://periodicos.unichristus.edu.br/opiniaojuridica/article/view/2881. Acesso em 14 mai. 2022, p. 21.
53
Ibidem, loc.cit.
54
Ibidem, loc.cit.
55
Ibidem, loc.cit.
56
Ibidem, loc.cit.
57
SANTOS, Larissa Maia Freitas Salerno; GERAIGE NETO, Zaiden. A oposição entre procedimentalismo e
substancialismo ainda faz algum sentido. Revista da Faculdade de Direito do Sul de Minas, v. 34, n. 1, p 1-15,
jan./jun. 2018. Disponível em: https://revista.fdsm.edu.br/index.php/revistafdsm/article/view/227. Acesso em 11 mai.
2022, p. 4.
29
situação decorre de um raciocínio lógico do operador, ainda que este não deixe explicitado; ou na
aplicação da norma, o intérprete deverá buscar o sentido da norma, ou melhor, os fins
constitucionais inseridos na referida norma. Em posse disso, o mesmo fará a aplicação da norma
infraconstitucional, orientado pela finalidade encontrada58.
O neoconstituicionalismo trouxe novas bases teóricas ao Direito Constitucional, pautadas
no desenvolvimento e na disseminação da teoria dos Direitos fundamentais, a fim de promover um
redirecionamento jurídico do Estado de Direito, fundamentado em um positivismo legalista e
formalista para um Estado de Direito democrático, cujas premissas básicas são amparadas na
substantivação de Direitos Fundamentais essenciais à vida digna e humana. Por esse interim, o
neoconstitucionalismo vem demonstrar a força normativa da Constituição e a expansão da
Jurisdição Constitucional.59 60
No campo semântico, a ideia de neoconstitucionalismo, cujo conceito, segundo Ricardo
Martins, foi cunhado por Alexandre Hamilton e consiste na compreensão da superioridade da
Constituição sobre as leis. Deste modo, ante o surgimento de conflitos entre a Lei Suprema e as
leis inferiores, é dado ao judiciário, com o auxílio da hermenêutica jurídica, a opção de anular as
normas inferiores contrarias à Constituição.
Isso foi o que ocorreu com o caso Marbury X Madson, no qual o juiz John Marshall admite
a teoria do controle difuso de Constitucionalidade. A partir desse precedente, seria possível a
qualquer juiz anular uma norma contrária a Constituição. Isso é chamado de controle difuso de
constitucionalidade.
Apesar disso, na maior parte dos países do ocidente por influência de Hans Kelsen, é
possível a anulação contrária a Constituição, através de um órgão pertencente a um Tribunal
Jurisdicional, por intermédio do controle concentrado de constitucionalidade.
58
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (o triunfo tardio do Direito
Constitucional no Brasil). Revista Opinião Jurídica, v. 3, n. 6, 2005. Disponível em:
https://periodicos.unichristus.edu.br/opiniaojuridica/article/view/2881. Acesso em 14 mai. 2022, p. 22.
59
A Jurisdição Constitucional pretende a efetivação da Constituição, através do judiciário. Aos juízes, afastando-se de
pre compreensões, preconceitos e subjetivismos, é dada a tarefa de interpretar o ordenamento jurídico, em consonância
com os Direitos fundamentais, a fim de amparar a dignidade humana. MORAES, George Rezende. Jurisdição
Constitucional e racionalidade jurídica no contexto do neoconstitucionalismo pós-positivista. Revista Brasileira de
Direito, v. 10, n. 2, p. 16-27, fev. 2015. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/688. Acesso em 15 mar. 2022. p. 22.
60
STRECK, Lênio Luiz. O papel do direito e da jurisdição constitucional. Revista da Defensoria Pública do Estado
do Rio Grande do Sul, n. 26, p. 595–619, 2020. Disponível em:
https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/view/54. Acesso em 15 mar. 2022, p. 605.
30
atos contrários à Constituição, mas também para invalidar a omissão estatal, ou o não cumprimento
do programa constitucional.”61
Embora o termo neoconstitucionalismo tenha sido criado pela Escola de Gênova, foi consagrado
por constitucionalistas espanhóis e latinos americanos.62 Ele foi utilizado para designar o grupo de
filósofos do direito que compartilhavam um modo peculiar de tratar o direito. Entre eles estavam
Ronald Dworkin e Robert Alexy. Mauro Barberie, um dos primeiros a definir o conceito de
neoconstitucionalismo, afirma que se trata de uma teoria que busca um ponto de interseção entre
Jusnaturalismo e positivismo. Em outras palavras, segundo o referido autor, essa teoria trata de
conectar o direito à moral. 63
De uma forma resumida, em uma perspectiva histórica, o neoconstitucionalismo trata de
um contra-ataque ao positivismo. Neste sentido, como já afirmado, o referido paradigma incumbiu-
se de elevar a compreensão do Direito a um nível além do referido pela autoridade competente.
Assim, pretendeu falsear o entendimento de Kelsen64 e Hart,65 que defendem o pensamento de que
o dever ser e o ser, o direito e a moral devem estar em universos separados. 66
Adentrando na teoria destes teóricos afirma-se que:
Para Kelsen, uma norma inferior encontra sua validade, a partir da sua compatibilidade com
a superior, sendo a Constituição a norma que consta no topo da pirâmide para garantir a efetividade
das demais normas.67
Hart, por sua vez, sustenta que o direito é dividido em normas primárias e secundárias. As
normas secundárias dividem-se em normas: de reconhecimento, a partir da qual pode-se reconhecer
as demais normas jurídicas; normas de alteração, que permitem modificação de regras; normas de
julgamento destinadas para solução de conflitos ou controvérsias entre normas jurídicas.
Vale afirmar que, do mesmo modo que a teoria de Kelsen, as normas de reconhecimento
pretendem garantir a efetividade do direito.
61
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 6.
62
BARBERIS, Mauro. Neoconstitucionalismo. Revista brasileira de Direito Constitucional, jun./jul. vol. 1, n° 7, p.
18-30, 2006. Disponível em: http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC-07/revista07-vol1.pdf. Acesso em 18 dez. 2021.
63
Ibidem, p. 19.
64
HANS, Kelsen. Teoria pura do direito. 6. ed. Trad. por João Baptista Machado. Coimbra: Arménio Amado, 1984.
65
HART, Hebert. Lionel. Adolphus. O conceito de direito. Trad. por Antônio de Oliveira SetteCâmara. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2012.
66
MARTINS, op.cit., p. 11.
67
HANS, Kelsen, Op. cit.
32
Ressalta-se, porém que para ambos os autores, a moral somente será observada pelo Direito,
se emanada autoridade competente. Hart dispensa que as normas de reconhecimento integrem em
si elementos relacionado à moral. Apesar disso, de uma forma geral, Kelsen e Hart entendem que
não há vinculação do direito com a moral. 68
Embora afaste a moral do direito, para a teoria de Kelsen, há diversas formas de se
interpretar uma norma. O que irá definir o caminho mais adequado para uma interpretação é a
vontade do agente competente. Desta forma, Kelsen entende que toda norma jurídica é uma decisão
política.
Hart entende que considerando a linguagem aberta, é difícil distinguir os casos claros dos
difíceis, em que pese os casos claros possuírem conceitos normativos definidos, enquanto nos casos
difíceis estes conceitos são abertos. Por isso, para este autor os casos difíceis portariam maior
discricionariedade. 69
Apesar de Kelsen e Hart discutirem sobre a discricionariedade das decisões emanadas pelos
magistrados, para fim da nossa pesquisa, importa entender a possibilidade ou não da aplicação de
um princípio como o PPP, independente de uma regra jurídica. No caso em específico, sob a
perspectiva da hermenêutica constitucional, vale verificar se a aplicação do Princípio Poluidor
Pagador é adequada ou não, independente de uma regra jurídica editada pelo Poder Legislativo.
Poderia o magistrado definir o conteúdo na norma jurídica perfazendo o papel do legislador?
Nesse sentido, para o positivismo, estabelecendo-se a obediência ao princípio da separação
dos poderes e da segurança jurídica, o executivo e o legislativo seriam os responsáveis pela edição
dos atos normativos, enquanto o magistrado seria o responsável pela aplicação da lei, limitando-se
à autoridade do legislador - eleito pelo povo. Sendo assim, caberia ao mesmo a aplicação da lei
sem questionar o conteúdo subjetivo da norma.
68
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p.12.
69
Ibidem, p. 23-25.
33
“de fato”, conforme pensam os positivistas. Ao contrário disto, os “processos judiciais suscitam
questões de fato, de direito e as questões interligadas de moralidade, política e fidelidade.” 7071
Nesta linha de pensamento, Dworkin, em sua obra “levando o direito a sério”, em uma
crítica à teoria de Hart, afirma que as normas jurídicas não podem ser identificadas por seu
72
reconhecimento ou seu pedigree. Explica o referido autor que o magistrado no exercício da
função jurisdicional não tem poder de escolha sobre a interpretação a ser seguida, e sim, deve
obedecer também a aspectos valorativos por sua comunidade. Não sendo a atividade do magistrado
uma atividade discricionária, em que pesa a vontade no magistrado, o autor deixa inequívoco que
o sistema jurídico do direito não é formado apenas por regras, em que no processo interpretativo,
o operador do Direito procede com subsunção do fato à norma, mas também é formado por normas-
princípios que devem ser aplicados tendo em vista à um finalidade econômica, política ou social
que possa ser favorável a comunidade, mas sim, por ser “uma exigência de justiça, de equidade
ou de outra dimensão de moralidade.” 73
Para Dworkin os argumentos, com base em princípios, destinam-se a proteger os direitos
do indivíduo, ao passo em que, os fundamentados em políticas defendem o interesse da
coletividade.74 Contudo, o próprio Dworkin esclarece que essa distinção é inócua quando se depara
com argumentos utilitaristas, como por exemplo, propor (a proposição de) uma política pública
que proporcione felicidade ou utilidade para um maior números de indivíduos, 75 deixando de lado
os interesses de uma minoria.
Assim, em um salto evolutivo para a teoria do direito, Ronald Dworkin, com o escopo de
70
SENS, Sheila Catarina. A teoria interpretativa de Dworkin: um modelo construtivo. Revista da Faculdade Mineira
de Direito, v. 16, n. 31, 2013. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/P.2318-
7999.2013v16n31p119. Acesso em 11 mai. 2022, p. 4.
71
Para Sheila Catarina Sens interpretando Dworkin, “conforme este autor, o direito não pode ser tratado como um
simples dado objetivo, visto que tal foco não permite entender os conflitos interpretativos, e também, que o direito não
é apenas uma questão semântica, mas sim de concepção. Ainda segundo a referida, autora os filósofos do Direito,
muitas das vezes, subestimam tais divergências concedendo explicações sem fundamentos suficientes para justifica-
las. Assim, para cessar Dworkin problema propõe a extração do “agulhão semântico, que traduz na ideia de limitar a
interpretação o direito tão somente de acordo com o conceito semântico. SENS, Sheila Catarina. A teoria interpretativa
de Dworkin: um modelo construtivo. Revista da Faculdade Mineira de Direito, v. 16, n. 31, 2013. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/P.2318-7999.2013v16n31p119. Acesso em 11 mai.
2022, p. 4.
72
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução: Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, pp.
23-72.
73
Ibidem, p. 22.
74
Ibidem, p. 90.
75
Ibidem, p. 23.
34
76
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.436.
77
Princípios “não determinam, quando verificado um caso de sua aplicação, uma decisão concludente segundo uma
formulação pronta e acabada. Diversamente, os princípios veiculam motivos, que falam por uma decisão. Outros
princípios que, de seu lado, segundo sua formulação seriam também aplicáveis, podem preceder um outro princípio no
caso concreto.” GUEDES, Neiviton. A importância de Dworkin para a teoria dos princípios. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2012-nov-05/constituicao-poder-ronald-dworkin-teoria-principios#_ftn11 Acesso em
15.01.2022.
78
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução: Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 200, p. 42-
46.
79
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo:
Malheiros, 2017.
80
Ibidem, p.90.
81
RODRIGUES, André; LEAL, Rogerio. Estudo de casos concretos à luz da proporcionalidade. In: BEDIN, Gilmar;
TEIXEIRA, João Paulo (coords.). Teoria do direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/bx47d9jb/6QtI2vEVjlzp4j69.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 241-
243.
82
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo:
Malheiros, 2017, p. 104.
35
de um princípio não é resolvido no âmbito da validade, mas sim de averiguar-se o peso de outro
princípio. Assim, os princípios são considerados definitivos, quando não instaurado o conflito com
outro princípio. Após instaurado o conflito, a realização do princípio ou não, depende da
ponderação. 83 Por conta disso, os princípios são realizáveis em grau e não qualitativamente.
Por outro lado, as regras são definidas como determinações aplicáveis no âmbito de
circunstâncias fáticas e juridicamente possíveis e utilizando-se o método da subsunção. Elas cabem
uma distinção qualitativa diferentemente dos princípios que é em grau. Assim, a regra é válida ou
não é válida. 84
A fim de distinguir, as normas, regras e princípios, Alexy elege alguns critérios de
classificação, a saber:
Inicialmente, aponta o critério de generalidade. Segundo esse critério, os princípios são
normas com alto grau de generalidade e regras de baixo grau. Como exemplo, cita a liberdade de
crença como o mais alto grau de generalidade. Situando a liberdade de crença como um princípio,
afirma que o direito de um preso converter outro é uma regra e não um princípio, tendo em vista o
baixo grau de generalidade.
Outro critério apontado por Alexy para diferenciar as regras dos princípios, está na
“determinabilidade” do caso de aplicação. Neste critério, o mesmo estabelece uma distinção entre
normas criadas e normas desenvolvidas. Considerando a ordem jurídica como um todo, a
determinabilidade refere-se à responsabilidade pelo conteúdo axiológico da norma. Assim, o
hermeneuta possui a responsabilidade de valorar, se uma determinada norma jurídica justifica supra
direitos ou direitos comuns.85 Como consequência, os princípios podem fundamentar regras ou
servirem de justificativas para eles próprios. 86
Quanto às classes de normas, as regras e princípios diferenciam gradualmente e
qualitativamente. Neste sentido, explica Alexy que os princípios são mandatos de otimização a
serem realizados na maior medida possível e nos mais variados graus, a depender das
circunstancias fáticas envolvidas. Por um outro lado, as regras devem ser aplicadas no âmbito do
83
LIMA, André Caluto de F. A teoria dos princípios de Robert Alexy. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/31472/a-teoria-dos-principios-de-robert-alexy. Acesso em: 16 jan. 2022.
84
ALEXY, op.cit., p. 90 et. Seq.
85
Ibidem, p. 88.
86
Ibidem, p. 89.
36
tudo ou nada. 87 Para Alexy, justificado pela teoria de Dworkin, as regras são aplicadas de acordo
com as circunstâncias fática e jurídicas estritas. Assim sendo, não há que se falar sobre hierarquia
entre princípios e regras, pois ambas são espécies de normas jurídicas que fundamentam o dever
ser. 88
Robert Alexy distingue regras e princípios quanto a solução de antinomias. 89 Diante de um
conflito de normas-regras, a solução para a antinomia é dada pela invalidade de uma das regras ou
pela introdução de uma cláusula de exceção. Assim, não havendo uma cláusula de exceção, uma
das regras colidentes é expelida no ordenamento. Outra forma de resolver antinomias entre regras,
é utilizando critérios de especialidade ou cronológico. Por intermédio do critério de especialidade,
a norma especial prepondera ou revoga a geral. A regra posterior sobrepõe sobre a anterior.
Por sua vez, segundo Alexy a solução das antinomias em face dos princípios, opera-se
atraves do referido sopesamento. 90 No caso concreto, um princípio prepondera sobre o outro, sob
determinadas condições, conquanto não tornando inválido o princípio precedido, pois em outra
situação, poderá o princípio preterido preponderar. Os princípios se colidem na dimensão do peso,
não na dimensão da validade. 91
Não há hierarquia entre princípios. A precedência de um princípio sobre o outro é vista nas
92
circunstâncias concretas, a partir do sopesametento. Os princípios também não são absolutos.
Até mesmo a dignidade humana no ordenamento alemão, ora funciona como princípio, ora como
regra. Os princípios ainda podem se referir ao direito individual ou coletivo, sendo inadequado
87
As regras existem para serem satisfeitas ou não satisfeitas. Se não há uma exceção uma das regras colidentes são
validas. “Ao contrário do que ocorre com o conceito de validade social ou importância da norma, o conceito de
validade jurídica não é graduável. Ou a norma é válida, ou não é.” ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos
Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo: Malheiros, 2017, p. 92.
88
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo:
Malheiros, 2017, p. 90, et.seq.
89
KALSHEUER, Fiete. A teoria kantiana da ponderação. Revista de Estudos Constitucionais, Hemenetica e Teoria
do Direito, / v. 13 n. 1, 2021. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/22464
Acesso em: 12 mai. 2021, p.43.
90
Para explicar o sopesamento, Robert Alexy traz um caso conhecido como lebach em que o condenado por um crime,
já estava ao final do cumprimento da pena e uma emissora pretendia exigir um documentário mencionando o nome e
a foto do referido condenado. Neste caso narrado houve a colisão do interesse da persecução penal e a integridade
física e a liberdade de informar. Realizado o sopesamento, o tribunal entendeu, considerando as circunstancias fáticas
e jurídicas, o princípio da proteção individual personalidade do condenado deveria prevalecer sobre o direito coletivo
de informar. ALEXY, Robert. A estrutura das normas de direitos fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da
Silva São Paulo: Malheiro, 2008, p. 99–103.
91
ALEXY, op cit., p. 93 et seq.
92
RODRIGUES, André; LEAL, Rogerio. Estudo de casos concretos à luz da proporcionalidade. In: BEDIN, Gilmar;
TEIXEIRA, João Paulo (coords.). Teoria do direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/bx47d9jb/6QtI2vEVjlzp4j69.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 242.
37
restringir o conteúdo destes. Por fim, entende o referido autor, que somente deve-se admitir a
colisão de princípios em situações concretas, ou seja, no interior do ordenamento jurídico. Assim,
não cabe falar em colisão de princípios em abstrato ou hipoteticamente. Ressalta ainda, o mesmo,
que o princípio colidente se mantém válido no ordenamento jurídico, momentaneamente, de um
tendo em vista a sua procedência. 93
Partindo da compreensão de que os princípios não são absolutos, Alexy aduz que os
mesmos podem ser restringidos. Os Direitos fundamentais podem sofrer restrições, desde que não
atinjam seu núcleo imanente, uma vez que a restrição é algo natural do pluralismo democrático.
Para resolver o conflito de interesse, o autor sugere o uso do balanceamento (ponderação), já
presente nas constituições contemporâneas modernas. 94
Segundo Ricardo Martins, Robert Alexy explica “o caráter obscuro da regra “ do tudo ou
nada” proposta por Dworkin”, na medida em que afirma que presente os critérios de aplicação de
uma regra ela será aplicada (tudo) ou não será aplicada (nada.) 95
Na compreensão de Alexy, toda regra carrega em si um princípio. Assim, mediante um conflito de
um princípio que fundamenta uma regra com um princípio oposto, é possível que uma exceção
implícita à regra seja enunciada. 96
Embora as teorias de Dworkin e Alexy pareçam complementares, elas divergem, na medida
em que para Dworkin é possível, ao menos teoricamente, dispor de uma nova cláusula de exceção,
já Alexy entende que não se pode ter certeza de que em um novo caso poderá ser introduzida uma
exceção. 97
As teorias de Dworkin e Alexy trouxeram muitos avanços ao direito, uma vez que no
momento em que o Direito deixou de se embasar apenas em critérios formais para centrar-se em
critérios substantivos, podem ser resguardados Direitos Fundamentais imprescindíveis para a
proteção à dignidade da pessoa humana. A partir disso, pôde-se impedir que normas e regras
93
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo:
Malheiros, 2017, p. 110-117.
94
RODRIGUES, André; LEAL, Rogerio. Estudo de casos concretos à luz da proporcionalidade. In: BEDIN, Gilmar;
TEIXEIRA, João Paulo (coords.). Teoria do direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/bx47d9jb/6QtI2vEVjlzp4j69.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 244.
95
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p.13.
96
Ibidem, loc cit., p. 13.
97
ALEXY, op cit., p. 104.
38
98
afrontosas à dignidade da pessoa humanas fossem validadas no ordenamento jurídico.
Assim, com a compreensão de que os princípios são normas e não dependem
necessariamente de apoio institucional, 99 como ora salientado, pode-se impedir momentos futuros
como os vivenciados na 2ª guerra mundial. 100 Os juízes, na aplicação das normas-regras, deverão
observar a adequação das mesmas à finalidade do princípio que as fundamentam. Como ferramenta
para atingir esse fim, foi disponibilizado o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade.
Se por um lado, a razoabilidade controla a discricionariedade do Poder Público, uma vez
que determina que a norma seja aplicada da forma mais condizente com o seu fim constitucional,
por outro a proporcionalidade, por um outro lado, obriga ao judiciário tornar inválidos atos
legislativos ou administrativos, quando se observe que: não há uma adequação entre o ato emanado
e o fim da norma perseguida; o ato a ser aplicado não é exigível ou desnecessário; os custos
demonstram superar o benefício da norma. 101
De fato, as atrocidades acometidas pelo Estado Alemão foram fundamentadas em leis. Os
nazistas, conduzidos a julgamento justificaram suas decisões no devido cumprimento de lei e na
jurisprudência prevalente.
O Estado Nazista foi um Estado Legal: as leis raciais foram formalmente aprovadas no
Parlamento de Nuremberg – daí serem chamadas de leis de Nuremberg – foram
consideradas válidas por boa parte da doutrina e, em várias oportunidades, pela
jurisprudência alemã.102
98
LESSA, Paula Constantino Chagas. Jurisdição Constitucional: Uma evolução ou um expansionismo do Poder
Judiciário?. Revista Brasileira de Teoria Constitucional, v. 7, n. 1, p. 55-70, jan/jul. 2021. Disponível em:
https://indexlaw.org/index.php/teoriaconstitucional/article/view/7785. Acesso em 17 nov. 2021, p. 62.
99
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução: Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p.
34 et. Seq.
100
Hanna Arenth retrata, em um relato sobre a banalidade do mal, a que ponto pode chegar um formalismo legal em
excesso. ARENDT, Hanna. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. Tradução: José Rubens
Sirqueira. 27 reeimpressão. São Paulo: Companhia das letras, 1999.
101
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.439.
102
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p.14.
39
regras e princípios estabelecidos ordenamento jurídico, antes de mais nada perpassa pelo crivo dos
Direitos fundamentais edificados na Constituição Federal.
Contudo, releva notar que a teoria dos princípios, em relação a qual o Brasil fez adesão foi
feita pensando-se em sistemas jurídicos estrangeiros. Dworkin traça sua teoria com base no sistema
commow law e Alexy com base no sistema civil law alemão.
Com o pós-positivismo ou neoconstitucionalismo, a “comunidade jurídica passou, então, a
não tolerar a fundamentação da imputação normativa apenas e tão somente na vontade do agente
competente.” 103
Na esteira do pensamento de Theodor Viehweg - um dos autores que primeiro trataram
sobre o neoconstitucionalismo - já não é mais admissível a imputação normativa apenas justificada
no formalismo legalista. Este, através da aplicação do método subsuntivo, contenta-se em apenas
observar a adequação da hipótese normativa abstrata à concreta. 104 O direito seria o enfrentamento
de diferenciados pontos de vistas (topoi), em que a solução do problema se daria, a partir do caso
concreto. 105
Apesar da teoria de Viehweg ser apontada como a origem do neoconstitucionalismo, a
mesma foi rejeitada pela comunidade jurídica, pois demonstrava insegurança jurídica, ao reduzir a
lei a mero topoi. O direito não poderia ser reduzido apenas a ponto de vistas. Mas mesmo assim,
não dava para retornar ao tempo de Kelsen, uma vez que a sua teoria traria muito mais insegurança
jurídica. 106
Assim, com fundamento na análise do caso concreto, embora não reduza a solução do caso
a meros pontos de vistas, surgem os concretistas, entre eles Friedrick Muller, Konrad Hesse, Peter
Habele e Roberty Alexy.
Em uma sucinta explicação sobre as teorias, afirma Ricardo Martins que:
103
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p.14.
104
VIEHWEG, Theodor. Tópica e jurisprudência: uma contribuição à investigação dos fundamentos jurídico-
científicos. Tradução da 5ª. edição alemã por Kelly Susane Alflen da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008.
105
Ibidem, p. 33.
106
MARTINS, op cit., p. 15.
40
107
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 16.
108
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução: Virgilio Afonso da Silva, 2ªed. São Paulo:
Malheiros, 2017, p. 80-84.
109
MARTINS, op cit., p. 14.
110
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022,
p.436-437.
41
diferentes pesos”111 .
Como visto, as regras são aplicadas no plano de validade, enquanto que os princípios devem
ser sopesados. Isso quer dizer que quando há conflito entre duas regras, apenas uma será válida. Já
o conflito entre dois princípios, no caso concreto, um prevalece sobre o outro. Com isso, o princípio
prescindido não é expurgado do ordenamento, ao contrário do que ocorre com a regra.
Um outro ponto importante a destacar, diz respeito ao papel das regras do ordenamento
jurídico. Nesta ordem de pensamento, as regras traduzem uma maior segurança jurídica ao
ordenamento jurídico. Os princípios por sua vez, têm a função de orientar o intérprete na tomada
da decisão. O conteúdo aberto destes últimos, torna possível “ a atuação integrativa e construtiva
do intérprete, facilitando a produção de uma melhor solução para o caso em análise. ” 112
111
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 13.
112
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.
437.
113
Ibidem, p. 440.
114
E agora com a guerra instaurada pela Rússia contra a Ucrânia, com a violação de direitos humanos, torna mais
evidente ainda a necessidade de refletirmos, sobre a existências de direitos fundamentais transindivuais, que
ultrapassam a questão da nacionalidade, ainda que não seja este o nosso objetivo de trabalho em especifico. Se depara
com a era da subjetivação de direitos fundamentais transnacionais. RÚSSIA diz que uma terceira guerra mundial seria
nuclear e destrutiva. CNN Brasil, 02 mar. 2022. Internet. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-diz-que-uma-terceira-guerra-mundial-seria-nuclear-e-destrutiva/.
Acesso em 14 mai. 2022.
42
teoria do Direito voltada ao estabelecimento de normas jurídicas para além das normas-regras, estas
justificadas tão somente na competência da autoridade, se fizeram necessária para evitar a violação
dos Direitos fundamentais, sob o núcleo da dignidade da pessoa humana. Porquanto, a capacidade
humana em quebrar valores mínimos para a existência digna em sociedade permitiu que a moral,
de alguma forma, perpetrasse no Direito. Como consequência disso, a subjetividade na forma da
intersubjetividade imerge no Direito, especialmente por tratar-se de valores com conceitos
normalmente abertos.
Não obstante, a Teoria dos Princípios professada por Dworkin e Alexy tenha se tornado um
paradigma, ela tem sido alvo de críticas ou controvérsias, em especial dos procedimentalistas. 115116
Por um outro lado, observa Ricardo Martins que:
Imergindo para as referidas críticas, inicialmente, há quem diga que a Teoria dos Princípios,
115
A luz do entendimento de Jungen Habermas, a tese procedimentalista consiste numa crítica à invasão da política
e sociedade pelo Direito. Assim, a referida tese acredita na capacidade regulatória da sociedade. Desse modo a tese
procedimentalista propõe que se faça a interpretação da Política e da lei, à luz do discurso. Em outras palavras, os
adeptos desse entendimento professam o entendimento de que uma norma jurídica deve ser considerada válida, desde
que, passe pelo crivo social. HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia–entre facticidade e validade. v. 1.
Tradução Flavio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p.190. O procedimentalismo acredita
que somente é possível invasão do Direito, em situações excepcionais para garantir a autonomia do cidadão, como é o
caso de reafirmação dos valores democráticos. O substancialismo, que a Constituição guarda valores para serem
concretizados, sustenta que é possível a invasão da política pelo Direito para garantir a afirmação dos Direitos
fundamentais Sociais. DUARTE, Isabel Cristina Bretas, MADERS, Angelina Maria. Procedimentalismo e
substancialismo: Diferentes perspectivas sobre jurisdição Constitucional. Revista Constituição e Garantia dos
Direitos, p. 11-12, 2014. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/5811/4641. Acesso em: 01 mar. 2022
116
Lenio Streck um dos defensores da teoria substancialista, afirma que o procedimentalismo não é adequado para o
Brasil, tendo em vista as peculiaridades do sistema Brasileiro. Neste sentido, considerando a carência de instrução
para a população Brasileira e a satisfação de necessidades básicas, entende o referido autor, que resta ausente
pressupostos básicos da teoria procedimentalista, tais como condições subjetivas para o agir comunicativo suficiente.
SANTOS, Larissa Maia Freitas Salerno; GERAIGE NETO, Zaiden. A oposição entre procedimentalismo e
substancialismo ainda faz algum sentido. Revista da Faculdade de Direito do Sul de Minas, v. 34, n. 1, p 1-15,
jan./jun. 2018. Disponível em: https://revista.fdsm.edu.br/index.php/revistafdsm/article/view/227. Acesso em 11 mai.
2022. p. 13.
117
MARTINS, Ricardo Marcondes. Neoconstitucionalismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017, p. 14.
43
justificada na garantia substantiva dos Direitos Fundamentais, acaba por incidir na invasão dos
poderes, estabelecido no artigo 2 º da Constituição Federal. 118
Seguindo os passos da referida teoria, em algum momento, o juiz atuaria na função de
legislador, o que não lhe é permitido. Isto porque, a Constituição assegurou a definição das normas
de condutas, mediante escolha popular aos membros do legislativo.
Desse modo, para essa corrente, nos termos do Art. 60, § 4 da Constituição Federal, quando
o juiz decide para além de anular a decisão, dizendo respeito a conduta a ser tomada, afronta o
sistema representativo majoritário. O artigo referido, entendido como cláusula pétrea, impede que
a Constituição seja emendada no sentido de abolir o princípio da separação de poderes, voto direto.
Assim, conforme o artigo 60 § 4:
Deste modo, ao imergir para decidir conflitos normativos não previstos em norma editada
pelo competentes, assim estaria o judiciário ultrapassando os limites garantidos pelo Ordenamento
Jurídico para a solução de conflito de interesses subjetivos. 119
Assim, os defensores da doutrina da autocontenção judicial, com o escopo de garantir o
balanceamento entre os poderes e os abusos, sustentam que o judiciário não possui a competência
de adentrar em questões políticas 120. Na dúvida, pregam estes, que se deve respeitar a opção do
legislador, o qual provavelmente teria entendimento diverso. 121
118
“A concepção moderna de separação dos poderes, fundada em instituições estatais, foi construída gradativamente
por filósofos políticos, ganhando contornos mais nítidos com John Locke e vindo a atingir o seu cume máximo em
Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, segundo quem existiriam três poderes harmônicos e
independentes entre si, de modo que um poder não pudesse usurpar as funções do outro”. MAGALHAES FILHO,
Glauco e DAMASCENO, Daniel. Ainda sobre ativismo judicial: desfazendo mitos e equívocos para um conceito
definitivo. Revista do Programa de Pos-Graduação, vol. 20 n.1 jan/jun. 2020. Disponível em:
http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/43350. Acesso em: 16 jan. 2022, p. 166.
119
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 131.
120
STRECK, Lênio Luiz. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: Perspectivas e Possibilidades de Concretização
dos Direitos Fundamentais Sociais no Brasil. Novos Estudos Jurídicos, v. 8, nº 2, p.257-301, maio/ago. 2003.
Disponível em: https://redib.org/Record/oai_articulo1596186-jurisdi%C3%A7%C3%A3o-constitucional-e-
hermen%C3%AAutica-perspectivas-e-possibilidades-de-concretiza%C3%A7%C3%A3o-dos-direitos-fundamentais-
sociais-brasil. Acesso em 11 maio 2022, p. 263.
121
MAGALHAES FILHO, Glauco e DAMASCENO, Daniel. Ainda sobre ativismo judicial: desfazendo mitos e
equívocos para um conceito definitivo. Revista do Programa de Pos-Graduação, vol. 20 n.1 jan/jun. 2020.
Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/43350. Acesso em: 16 jan. 2022, p. 164.
44
O papel do juiz é reafirmar a vontade do legislador, deste modo, o mesmo deveria apenas
verificar se “as regras do jogo estão sendo cumpridas”. 122
Essa posição, não apoia a interferência do judiciário em relação aos outros poderes,
deixando para os referidos poderes a tarefa de concretizar a Constituição. Neste sentido, segundo
Barroso, a doutrina da autocontenção entende que o judiciário deve: evitar aplicar diretamente a
Constituição em situações, que demandem de pronunciamento do legislador ordinário; utilizar
critérios mais rígidos, quando declarada a inconstitucionalidade, deve utilizar critérios mais
rígidos; abster-se em definir políticas públicas.123
Neste ínterim, os pensadores contemporâneos que fazem parte da corrente neopositivista,
vêm tecendo críticas à teoria dos Princípios, direcionando a hermenêutica ao velho positivismo.
Para Glauco Magalhaes Filho e Daniel Damasceno, há quem diga que a referida corrente
depara-se com o retorno do velho magistrado mero reprodutor dos comandos normativos. Para os
adeptos da mesma, em respeito ao princípio da separação dos poderes, ao voto e a democracia
representativa, não seria permitido o juiz criativo, defendido por Marthin Heidegger e Hans George
Gadamer, que alegam existir possibilidades de escolhas pelo legislativo e que essas devem ser
feitas pelos órgãos constitucionalmente competentes para tanto. Desse modo, “caberia ao juiz tão
somente verificar a competência legal do órgão prolator do ato e a sua adequação silogística aos
124
fatos”.
Observa-se que essa corrente parece confundir a norma com texto. Por óbvio que, não cabe
uma interpretação totalmente dissociada do texto. Glauco Filho e Daniel Damasceno apontam que
“a concretização do direito é operada em dois momentos: do texto legal a norma jurídica e desta
para a decisão.” 125 Neste sentido, coloca Coloca-se um fim na ideia de separar o sujeito do objeto,
preconizada por Gadamer, através do chamado ciclo hermenêutico. 126
122
SANDER, Oliver Holmes; OLMES, Oliver Wendell. Collected legal papers. New York: Peter Smith, 1952, p.
307.
123
BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. [Syn]Thesis, v. 5, n. 1, p.
23-32; 2012. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/synthesis/article/view/7433. Acesso em 14
mai. 2022, p. 26.
124
MAGALHAES FILHO, Glauco e DAMASCENO, Daniel. Ainda sobre ativismo judicial: desfazendo mitos e
equívocos para um conceito definitivo. Revista do Programa de Pos-Graduação, vol. 20 n.1 jan/jun. 2020.
Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/43350. Acesso em: 16 jan. 2022, p. 170.
125
Ibidem, loc. cit.
126
ZANON, Pedro Henrique Nascimento; ADEODATO, João. A ética da tolerância como possibilidade de abertura
hermenêutica do Direito: uma analise sobre Jurisdição Constitucional Brasileira. Revista Juris Poiesis, v. 23, n. 33 p.
375-394, 2020. Disponível em:
45
Se o sujeito cogniscente tem que partir de preconcepções para construir o sentido do objeto
a ser analisado, significa que um pouco desse objeto é projeção das precompreensões que
o sujeito carrega. Por exemplo, se um índio (sujeito) ver uma caravela (objeto) pela
primeira vez é diferente de um navegador (sujeito) que enxerga a mesma caravela. O
objeto que se enxerga é fruto da preconcepção que se projeta. A ideia de tempo que
compartilhávamos antes da teoria de Einstein é diferente da ideia que os físicos
compartilham hoje, porque eles tem bagagem que projetam quando discutem um problema
de passagem. Isto constitui a maneira como enxergamos o mundo e aquilo a que
chamamos de realidade, que a construção a partir de precompreensões.127
Afinal de contas, o legislador não teria condições de prever todas as possibilidades fáticas
presentes no mundo real, por isso o enunciado não é a própria norma. Para manter a própria unidade
da Constituição, faz-se necessário juízes criativos, conquanto o magistrado não pode
deliberadamente manipular o conteúdo para colocar casos não previstos ou incompatíveis com a
legislação. 128
Justamente nesse ponto, que especificamos o nosso ponto de vista. Em que pese, o
magistrado poder fazer o controle de constitucionalidade para que se confira uma interpretação às
leis em consonância com a ordem constitucional, não entende que ele deva criar condutas sem o
mínimo de conteúdo com a norma regra ou princípio fundante, principalmente, quando há a
possibilidade do juízo de discricionariedade do legislador. Por isso, entende-se que o magistrado,
em casos em que não há qualquer familiaridade semântica entre um princípio fundamental e uma
norma pretensa, a nível de Tribunal Constitucional, deve notificar o legislador para exercer seu
papel, a fim de que não contrarie o princípio fundamental da divisão de poderes, democracia,
devido processo legal.
Vê a magnitude deste problema, como poderá observar na leitura dos próximos capítulos,
quando o magistrado contraria a expectativa do jurisdicionado e impõe condutas de natureza
sancionatória tal como determinou a responsabilização civil ambiental para recolher as garrafas
Pets à empresa Imperial, sem que houvesse previsão legal para tanto, porquanto, viola o princípio
http://191.252.194.60:8080/bitstream/fdv/1131/1/Ade_A%20%C3%A9tica%20da%20toler%C3%A2ncia%20como
%20possibilidade9352-47980769-1-PB.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 385.
127
ZANON, Pedro Henrique Nascimento; ADEODATO, João. A ética da tolerância como possibilidade de abertura
hermenêutica do Direito: uma analise sobre Jurisdição Constitucional Brasileira. Revista Juris Poiesis, v. 23, n. 33 p.
375-394, 2020. Disponível em:
http://191.252.194.60:8080/bitstream/fdv/1131/1/Ade_A%20%C3%A9tica%20da%20toler%C3%A2ncia%20como
%20possibilidade9352-47980769-1-PB.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 385.
128
MAGALHAES FILHO, Glauco e DAMASCENO, Daniel. Ainda sobre ativismo judicial: desfazendo mitos e
equívocos para um conceito definitivo. Revista do Programa de Pos-Graduação, vol. 20 n.1 jan/jun. 2020.
Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/43350. Acesso em: 16 jan. 2022, p. 170.
46
129
HABERMAS, Jungen. Comentário a ética do discurso. Tradução Gilda Lopes Encarnação. Portugal: Instituto
Piaget, 1999.
130
HABERMAS, Jurgen, Teoria do Agir Comunicativo. Tradução: Paulo Astor Soethe, Revisão Tecnica: Flavio
Beno Siebeneichler, São Paulo, Martins Fontes, 2019, p.176 et.seq.
131
KANT, Immanuel. Critica da razão pura. Tradução: Manuela Pinto dos Santos, Alexandre Fradique
Mojuão.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenki, 2001.
132
HABERMAS, op cit, 2019, p.166 et. Seq.
133
HABERMAS, op cit, 1999.
134
CAMARGO, Margarida Maria Lacome. Hermeneutica e Argumentação: Uma contribuição ao Estudo do Direito.
Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 198.
135
CITADINO, Gisele. Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva. Rio de Janeiro: Lumes Iuris, 2004, p. 94.
47
aplicação direta dos princípios, quando para sua concretização exigem a participação da sociedade.
Por esta senda, a aplicação de princípios constitucionais a situações não contempladas violaria o
sistema democrático e o princípio da separação dos poderes porque não passa pelo crivo da
sociedade, manifestando seus contentamentos ou descontentamentos e num processo de
convencimento para um consenso majoritário.
Alerta Daniel Barcelo Vargas que:
Para Habermas, este ativismo arrisca servir para usurpar competência de a soberania
popular aprofundar a instabilidade do regime. O ativismo judicial pode provocar a
pulverização de normas, mitigando a capacidade de a sociedade enxergar o que “vale”
e o que “não vale” no regime. Sem clareza sobre o que é regra geral e o que não é, amplia-
se a incerteza coletiva – e a opacidade do regime. Ao mesmo tempo, o canal de
justificação normativa é obstruído, reduzindo o escopo da política mitigando a capacidade
de a sociedade enxergar o que “vale” e o que “não vale” no regime. Sem clareza sobre
o que é regra geral e o que não é, amplia-se a incerteza coletiva – e a opacidade do regime.
Ao mesmo tempo, o canal de justificação normativa é obstruído, reduzindo o escopo da
política.136
136
VARGAS, Daniel Barcelos. A democracia à meia luz: uma crítica ao liberalismo constitucional de John Rawls e
Jungen Habermas. Direitos Fundamentais e Justiça, v. 13, n. 40, p. 115- 143, jan/jun, 2019. Disponível em:
https://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/649#:~:text=Rawls%20subscreve%20a%20uma%20opacidade,luz%20s
obre%20os%20desafios%20profundos. Acesso em 11 mai. 2022, p. 132.
137
Neste sentido, Daniel Barcelos Vargas assevera que para Habermas “ o papel do Judiciário na aplicação da
norma é prioritariamente garantir a estabilidade do regime. Nesta função, deve limitar-se a depuração das
normas jurídicas no caso concreto, respeitando regras processuais do contraditório entre as partes. O que garante a
legitimidade em sociedade bem organizada, pensa Habermas, é a manutenção permanentemente aberta do canal
de produção normativa. Nesta dinâmica reflexiva institucionalmente assegurada, as normas são feitas e refeitas pelo
Congresso, mediante inputs produzidos pela sociedade civil. Ibidem, p. 133.
138
HABERMAS, Jurgen. A ética da discussão e a questão da verdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipola, Martins
Fontes: São Paulo, 2018, p. 15-16.
139
GIDDENS, Anthony, LASH, Scott, BECK, Ulrich. Modernidade reflexiva: Politica, tradição e estética na
ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 2012, p. 232-233.
48
jurisprudência. Assim, no Commow law não haveria essa afronta tão latente, porquanto, o próprio
sistema jurídico, tendo em vista, autorização do próprio povo, admite a participação do judiciário
na formação das normas de conduta.
Esclarece Isabela Lucas e Thiago H. D. S. Jordace que:
140
JORDACE, Thiago Helves Domingues Silva; LUCAS, Isabella Pena. Reflexões sobre o Ativismo Judicial praticado
pelo Supremo Tribunal Federal de acordo com as Teorias de Jurgen Habermas. In: Carlos Eduardo A. Japiassú;
Cleyson de Moraes Mello; Leonardo Rabelo; João Eduardo de Alves Pereira; Vanderlei Martins; Vania Siciliano Aieta.
(Org.). Direito, Pesquisa e Inovação Estudos em Homenagem ao Professor Maurício Jorge Pereira da Mota. 1ª
ed. Juiz de Fora: Editar Associada LTDA, v. 1, p. 269-285, 2016, p. 280.
49
Sobre o ativismo judicial pode-se constatar na decisão uma intervenção do judiciário para
além das funções estabelecidas para o Poder Judiciário, nos termos da teoria habermasiana.
Lenio Streck aponta que com o escopo de “superar o positivismo exegético” os magistrados,
de um modo geral, têm utilizado a teoria de ponderação de valores de Robert Alexy, decidindo
entre um princípio ou outro, de forma equivocada. Para tanto, afirma o referido autor que:
Cada intérprete parte de um “grau zero” de sentido. Cada intérprete reina nos seus
“domínios de sentido”, com sentidos “lhe pertencem”, como se estes estivessem a sua
disposição, em uma espécie de reedição da “relação de propriedade” (neo)feudal. Nessa
guerra entre intérpretes – afinal cada um impera solispiticamente nos seus “ domínios de
sentido” – reside a morte do sistema jurídico.142
Com isso, para Lenio Streck, advogando um “positivismo crítico” 143, é preciso superar a
compreensão do direito, pautado no esquema sujeito-objeto e para aplicar o direito levando em
conta os pressupostos teóricos de cada teoria neoconstitucionalista apresentada, os magistrados não
podem aplicar, ao seu modo, a teoria da ponderação de valores de Alexy ou escolher qual norma
141
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132/RJ. Relator:
Min. Ayres Britto. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 14 out. 2011. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633. Acesso em 11 mai. 2022.
142
STRECK, Lênio Luiz. O (Pós-) positivismo e os propalados modelos de juiz (Hércules, Júpiter e Hermes) - dois
decálogos necessários. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, n. 7, p. 13-44, 17 fev. 2010. Disponível em:
https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/77. Acesso em 11 mai. 2022, p. 29.
143
STRECK, Lenio Luiz. A hermenêutica filosófica e as possibilidades de superação do positivismo pelo (neo)
constitucionalismo. Revista do Programa de Pós-graduação em Direito da UNISINOS. Porto Alegre, 2005, p. 157.
50
A ponderação – nos termos propalados por seu criador, Robert Alexy – não é uma
operação em que se colocam os dois princípios em uma balança e se aponta para aquele
que “pesa mais” (sic), algo do tipo “entre dois princípios que colidem, o intérprete escolhe
um” (sic). Nesse sentido é preciso fazer justiça a Alexy: sua tese sobre a ponderação não
envolve essa “escolha direta”;144
144
STRECK, Lênio Luiz. O (Pós-) positivismo e os propalados modelos de juiz (Hércules, Júpiter e Hermes) - dois
decálogos necessários. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, n. 7, p. 13-44, 17 fev. 2010. Disponível em:
https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/77. Acesso em 11 mai. 2022, p. 34.
145
Ibidem, loc. cit.
146
ALEXY, Robert. Direitos fundamentais, balanceamento e racionalidade. Tradução de Menelick de Carvalho Netto.
Ratio Juris, V. 16, n. 2, jun. 2003. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4191688/mod_resource/content/%201/Leitura%20Obrigat%C3%B3ria%20
Semin%C3%A1rio%2007%20%28texto1%29.pdf. Acesso em 14 mai. 2022.
51
Constitucional, quando os direitos são elevados ao nível de valores e finalidades. 147 Assim, para
Habermas a ausência de critérios objetivos do sopesamento pode conduzir a decisões arbitrárias e
irracionais.
Habermas não acata a técnica do sopesamento, pois esta retira as decisões judiciais do
universo da objetividade do que é certo ou errado, da correção ou incorreção, da seara da
justificação para alocar no universo do que é adequado ou inadequado. Assim, o sopesamento
poderia trazer algum resultado, mas não o justifica. 148
Para André Rodrigues e Rogério Leal, Habermas indica graves falhas com a aplicação do
sopesamento. Inicialmente, aponta que o uso da técnica para Habemas poderia representar um
retrocesso aos Direitos fundamentais, já que esses são reduzidos a valores.
Com isso, é gerada a redução do poder normativo desses direitos, uma vez que esses são
reduzidos a valores. Outro ponto, sustentado pelos autores, é que a técnica do sopesamento pode
representar uma irracionalidade para as decisões judiciais, tendo em vista uma justificação
consistente e a presença de critérios que impeçam o subjetivismo e o decisionismo do julgador. Por
último, afirmam que para Habermas, o sopesamento apresenta dificuldade de se visualizar o que
seria uma decisão correta ou incorreta e compreender o que é uma justificativa adequada ou
inadequada. 149
Em que pese as críticas feitas por Habermas, Alexy defende sua metodologia do
balanceamento, aduzindo que a mesma comporta justificação e racionalidade. Assim, para o
mesmo, o balanceamento é justificável, desde que vinculado a teoria da argumentação jurídica e
associado a um enunciado, preferencialmente racional fundamentado. Desse modo, a
fundamentação pode afastar a arbitrariedade das decisões. Neste sentido, argumenta esse autor,
que Habermas somente teria razão se não pudessem ser feitos juízos racionais, sobre o grau ou
intensidade da interferência. Para explicar a situação, Alexy traz um Julgamento da Corte
Constitucional sobre alerta dos males causados pelo tabaco, os quais podem ser avaliados em uma
147
ALEXY, Robert. Direitos fundamentais, balanceamento e racionalidade. Tradução de Menelick de Carvalho Netto.
Ratio Juris, V. 16, n. 2, jun. 2003. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4191688/mod_resource/content/%201/Leitura%20Obrigat%C3%B3ria%20
Semin%C3%A1rio%2007%20%28texto1%29.pdf. Acesso em 14 mai. 2022, p. 132.
148
RODRIGUES, André; LEAL, Rogerio. Estudo de casos concretos à luz da proporcionalidade. In: BEDIN, Gilmar;
TEIXEIRA, João Paulo (coords.). Teoria do direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/bx47d9jb/6QtI2vEVjlzp4j69.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 245.
149
Ibidem, loc cit.
52
escala de leve, moderado ou severo. A partir daí, têm-se imputações válidas. 150
A doutrina e a jurisprudência têm demonstrado preocupações no que tange aos rumos
tomados pela teoria dos princípios.
Absorvendo as críticas de Alexy, sobre a importância de utilizar a metodologia do
sopesamento vinculada à teoria da argumentação jurídica e ao enunciado fundamentado, o Tribunal
Superior do Trabalho, nos autos do Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n. 1649/2001-
001-03-00.7151 decidiu que o uso de mensagens pornográficas, por e-mail corporativo não consiste
em violação da intimidade/privacidade, tendo como base o uso do princípio da proporcionalidade.
Assim como, o envio de mensagens pornográficas para outros colegas, através de e-mail
coorporativo, desde que haja regulamentação da empresa quanto ao uso do e-mail corporativo não
constituiria uma violação da intimidade ou da privacidade.
Essas ferramentas tecnológicas seriam ferramentas de trabalho, cujo monitoramento dessas,
por parte do empregador, é cabível. Neste sentido, o envio desse tipo de mensagem tão somente
constituiria uma violação das regras internas da empresa, a qual expressamente proíbe a utilização
de mensagens coorporativas para esse fim.
Como se pôde ver, a decisão do tribunal que afastou a norma constante no Art. 5, X e XII
da CF, a qual garante a inviolabilidade da privacidade, não tornou a mesma inválida, uma vez que
os princípios são realizados na maior medida do possível, comportando diferentes graus e quando
colidem, um cede ao outro.
Conquanto, para que seja possível esse entendimento, é fundamental que o empregador
regulamente o uso das mensagens cooperativas, o uso de e-mails e garanta publicidade delas. 152
Entendendo, a teoria dos princípios e suas críticas, parte-se para a análise a possiblidade do
uso da aplicação direta dos princípios, independente de normas-regras, elaboradas pelo poder
competente.
150
ALEXY, Robert. Direitos fundamentais, balanceamento e racionalidade. Tradução de Menelick de Carvalho Netto.
Ratio Juris, V. 16, n. 2, jun. 2003. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4191688/mod_resource/content/%201/Leitura%20Obrigat%C3%B3ria%20
Semin%C3%A1rio%2007%20%28texto1%29.pdf. Acesso em 14 mai. 2022, p. 137-141.
151
BRASIL. Tribunal Superior Do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso de Revista sob n. 164900-
57.2001.5.03.0001 164900-57.2001.5.03.0001 - Sétima Turma. Relator: Pedro Paulo Manus. Diário de Justiça, 05
dez. 2008. Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2174144/agravo-de-instrumento-em-recurso-de-
revista-airr-1649005720015030001-164900-5720015030001/inteiro-teor-10411514. Acesso em 11 mai. 2022.
152
RODRIGUES, André; LEAL, Rogerio. Estudo de casos concretos à luz da proporcionalidade. In: BEDIN, Gilmar;
TEIXEIRA, João Paulo (coords.). Teoria do direito. Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/bx47d9jb/6QtI2vEVjlzp4j69.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 256.
53
153
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 69-71.
154
ZANON, Pedro Henrique Nascimento; ADEODATO, João. A ética da tolerância como possibilidade de abertura
hermenêutica do Direito: uma analise sobre Jurisdição Constitucional Brasileira. Revista Juris Poiesis, v. 23, n. 33 p.
375-394, 2020. Disponível em:
http://191.252.194.60:8080/bitstream/fdv/1131/1/Ade_A%20%C3%A9tica%20da%20toler%C3%A2ncia%20como
%20possibilidade9352-47980769-1-PB.pdf. Acesso em 11 mai. 2022, p. 387 et.seq.
155
Ibidem, loc cit.
54
156
Carolina Medeiro Bahia e Melissa Ely Melo sustentam que a necessidade de prevenir dos riscos na sociedade
contemporânea determinou a imposição de um Estado que avançasse para além de irradiar valores imanentes ao Estado
de Direito ou Social, fazendo surgir um Estado focado prioritariamente a defesa do meio Ambiente. Para as referidas
autoras, pautadas nas críticas de Michael Koepler, a atuação rasa das governanças públicas, desde da 1ª Conferencia
Mundial de Estocolmo, 1972, sem introduzir instrumentos jurídicos e econômicos suficientes para impedir a
instauração da crise ambiental que assola a humanidade impõe o redirecionamento da política econômica ambiental
pelos Estados para a obtenção de uma “virada ecológica”. Nas palavras das autoras “para uma mudança no quadro
atual, boa parte da doutrina reconhece a necessidade imperativa de se atribuir a prioridade mais elevada à proteção
ambiental como um objetivo político, e limitar o crescimento econômico e o consumo no sentido tradicional, por meio
da constituição de outro modelo de Estado – o Estado de Direito Ecológico.” MEDEIRO, Carolina; MELO, Melissa
Ely. O Estado de Direito Ecológico como Instrumento de concretização de Justiça Ambiental. Revista de Direito
Ambiental e Socioambientalismo, n. 4, n. 2, p. 38- 59, 2018. Disponível em:
https://indexlaw.org/index.php/Socioambientalismo/article/view/4795. Acesso em: 12 mai. 2022, p. 40-41.
157
LEITE, José Rubem Morato; BECKHAUSER, Elisa Fiorini. Pressuposto para o Estado Direito Ecológico e
reflexões sobre agrotóxicos no contexto de retrocesso ambiental. Desenvolv. Meio Ambiente, Vol. 57, p. 208-228,
2021, p. 213.
158
O crescimento sustentável, sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável consiste no desenvolvimento
econômico da geração atual, sem comprometer as necessidades físicas e psíquicas da geração futura. Previsto no artigo
225 da Constituição Federal, repudiando um desenvolvimento econômico amparado no PIB o paradigma da
sustentabilidade aborda o desenvolvimento econômico e social, conquanto, em consonância com o dever de se respeitar
o equilíbrio ecológico ambiental. Deste modo, o referido princípio determina a todos - Estado, a Sociedade e os meio
de produções a realização de esforços para a garantir um ecossistema saudável.
159
Os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável surgiram durante a realização da conferencia Rio + 20, em 2012,
após os 193 Estados membros reunidos reconhecerem os benefícios acarretados pela introdução uma norma de
crescimento sustentável, cujo modo de aferição restasse estabelecido de forma mais especifica ou objetivo, tal como
ficou definida nos anos 2000, a partir da introdução 8 objetivos do Milênio. Os objetivos do Milênio por sua vez, foram
metas de crescimento sustentável que deveriam ser alcançadas pelos Países Signatários entre os anos 2000 a 2015. Os
chamados 17 objetivos do desenvolvimento sustentável são um plano de ação que definiu de 17 objetivos e 169 metas
a serem alcançadas para o crescimento sustentável entre os anos de 2015 e 2030. Oportunamente, afirma-se que é
preciso ficar atento que os objetivos se interconectam ou inter-relacional. Assim, por exemplo, o objetivo 14 que trata
sobre o uso sustentável do oceanos e mares e preservação dos animais marinhos, prescinde de que seja colocado em
funcionamento o objetivo 12, que versa sobre produção e consumo sustentável. SORICE, Gabriela. Os objetivos do
Direito Sustentável. Espaço do conhecimento UFMG. Internet. Disponível em:
https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/os-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/. Acesso em 12 mai. 2021.
160
AYALA, Patrick de Araújo; LEITE, José Rubens Morato. A transdisciplinaridade do direito ambiental e sua
equidade intergeracional. Revista Sequência, v. 21, n. 41 p.113-136, 2000. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15418. Acesso em 14 mai. 2022, p. 41.
161
Ibidem, p.53.
162
MEDEIRO, Carolina; MELO, Melissa Ely. O Estado de Direito Ecológico como Instrumento de concretização de
56
Justiça Ambiental. Revista de Direito Ambiental e Socioambientalismo, n. 4, n. 2, p. 38- 59, 2018. Disponível em:
https://indexlaw.org/index.php/Socioambientalismo/article/view/4795. Acesso em: 12 mai. 2022, p. 43.
163
BENJAMIN, Antonio Herman. O Estado de Direito à luz dos ODS. In: 26º Congresso de Direito Ambiental e
16º Congresso Internacional de Direito Ambiental, Instituto Planeta verde, 24 a 30 de setembro de 2020, Online.
164
KOEPLER, Michael. O caminho do Estado Ambiental: A Transformação do sistema Politico da Alemanha
através da proteção ambiental especialmente desde da perspectiva da ciência jurídica. Tradução Carlos Alberto
Molinaro, 1989, p. 8.
165
O artigo 90 revogou o decreto 6.514/2008 que passou a vigorar com as seguintes alterações:
Art. 62..................................
§2 Os consumidores que descumprirem as obrigações previstas nos sistemas de logística reversa e de coleta seletiva
ficaram sujeitos à penalidade de advertência. (grifos, nossos)
§ 3 Na hipótese de reincidência no cometimento da infração prevista no §2 poderá ser aplicada a penalidade de multa
no valor de R$ 50 (cinquenta reais) a R$ 500, (quinhentos reais).
57
em reconduzir aos pontos de coletas, os produtos inservíveis referidos no artigo 33 I –IV da PNRS,
como pneus, eletrônicos, entre outros.
De outra parte, pode surgir o Estado, por meio da atuação do seu órgão Ministerial,
propondo termos de ajustes de condutas ou ações civis públicas para compelir a cadeia produtiva
à estruturação ou à implementação da logística reversa obrigatória, 166 a exemplo de eletrônicos,
em face da ausência ou insuficiência de pontos de coletas.
Ademais, cabe salientar, que ao Estado é imputado o dever de estabelecer novos
instrumentos jurídicos e econômicos para garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado
para a gerações futura e atual. Assim, incumbe ao Poder Público, para garantir efetividade do
direito ora referido, consoante explica o Art. 225, § V, realizar o controle da produção, inibindo
técnicas que possam causar riscos à saúde, à qualidade de vida e ao meio ambiente e buscar
introduzir normas, ou interpretá-las de forma que proteja a fauna ou flora consoante previsto no
Art. 225, § VII da CF, vedando-se práticas que as coloquem em extinção ou reduzam a sua função
ecológica.
Ainda é possível sustentar que é dever fundamental do Estado criar normas ou garantir uma
eficácia às normas estabelecidas determinando aos que explorarem recursos minerais, na forma da
lei, a recuperação do meio ambiente degradado, de acordo com as soluções técnicas exigidas pelo
Poder Público, conforme estabelece o artigo 225, § 2º. Esta colocação além de nos remeter às taxas
ou aos tributos ecológicos, nos remete também ao princípio do poluidor pagador e a logística
reversa.
Para Michael Kopler:
As bases naturais da vida transformam-se em bens da comunidade, cuja preservação e
futura possibilidade de aproveitamento é de interesse (inclusive existencial) de todos os
indivíduos pertencentes à comunidade. Mas também onde não está em jogo a defesa contra
perigos que ameaçam os bens legítimos das pessoas, o Estado se faz necessário como
poder regulador superior por causa da relevância geral desses bens comunitários – em todo
caso, na medida em que os mecanismos sociais de regulação não são (suficientemente)
apropriados para atingir os propósitos citados. Esse poder regulador deve concretizar e
impor o interesse geral na preservação das bases naturais da vida, na medida em que este
interesse tiver mais peso do que outros interesses. Da dimensão em que é posta a referida
tarefa estatal, decorre o reconhecimento de que, em última análise, só o Estado – entre
outras coisas, em virtude do seu monopólio de poder – dispõe dos meios requeridos e do
poder para realizá-la. 167
166
O conceito do instituto da logística reversa encontra-se no Art. 3 XII da lei 12305/2010, segundo o qual logística
reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos
e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;
167
KOEPLER, Michael. O caminho do Estado Ambiental: A Transformação do sistema Politico da Alemanha
58
Neste sentido, com o objetivo de garantir um meio ambiente equilibrado para todos,
acompanhando as lições de Michael Koepler, e observando o quanto estabelecido no artigo 225
da Constituição Federal, que determina a existência de um Estado Democrático de Direito
direcionado não apenas para econômico e social, mas elege como princípio fundamental o respeito
a capacidade de resiliência do meio ambiente, compete ao Estado Brasileiro atuar para promoção
de políticas públicas instrumentais e economicas, através de seus Entes Federativos, na mesma
medida em que é atribuído a esse mesmo Estado o estabelecimento de normas jurídicas para o
controle da poluição, tal como, foi, em 2010, a partir da criação da lei 12.307/2010 , que instituiu
a política nacional para o gerenciamento dos resíduos sólidos.
Neste sentido, no século XVI, após a era feudal, com o surgimento do mercantilismo, inicia-
se a centralização política, a partir da qual, surge um Estado forte voltado para o favorecimento
através da proteção ambiental especialmente desde da perspectiva da ciência jurídica. Tradução Carlos Alberto
Molinaro, 1989, p. 8.
168
Aliás para Polanski todas as sociedades anteriores à revolução industrial não tinham o desejo pelo lucro ou ainda
se poderia afirmar o desejo pela riqueza, com exceção para a aquisição de objetos e adornos, os quais diferenciavam
uns indivíduos dos outros, dentro da sua própria classe social. POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens
da nossa época. Tradução de Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Editora Campus Ltda, 1980, p. 25-35.
169
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa, v.
52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 300.
59
dos desejos da burguesia que florescia, após as cruzadas.170 Com as cruzadas, os comerciantes se
encorajaram a transitar pelas estradas que estavam desabitadas após as invasões dos mouros.
Inicialmente, buscando afastar as trocas comerciais dos campos, os burgos se estabelecem
em cidades, favorecendo o crescimento do comércio. Com o crescimento e o fortalecimento da
burguesa, esta, cada vez mais “abarrotada de capitais, alia-se ao
Rei contra os senhores feudais e exige daquele que unifique moedas, pesos
e medidas, dando origem aos primeiros estados nacionais centralizados”. 171
Interessante dizer que, apesar da era mercantilista, o desejo do lucro ou a busca do mesmo,
por parte dos burgueses, era menos alarmante do que o anseio pelo lucro visto na sociedade
industrial. É possível afirmar que na sociedade mercantil, o lucro passa a ser uma preocupação dos
governantes. 172
Deste modo, com o mercantilismo, surge a denominada sociedade de mercado. A referida
sociedade é marcada pela influência ou pela interferência da economia sobre as relações sociais.
Neste sentido, vê-se que na sociedade mercantil, as relações sociais terminavam sendo subjugadas
pela economia, de modo que, em primeiro lugar estavam o favorecimento das relações econômicas
e os objetivos econômicos, depois que os governantes pensavam nas relações sociais.
Nos tempos atuais, as relações econômicas são moldadas pelo sistema social e até mesmo
devem obedecer o sistema ambiental. Assim, se necessário, para a proteção do sistema social e
ambiental, o Estado poderá intervir. A ideia de um mercado autorregulável deu-se apenas com a
revolução industrial. Nem mesmo no período mercantilista, vê-se a livre regulação do mercado. A
esteira disso, o Estado ainda exercia o controle sobre o sistema econômico, embora os mercados,
durante o referido período, tentassem libertar-se dessas amarras, ou seja, eximir-se das
interferências do Estado sobre si. Deste modo, poder-se-ia sustentar que no período mercantilista
deu-se início ao movimento político-social e econômico-burguês para a consolidação de um
mercado livre ou autorregulável.
A par disso, com a revolução industrial iniciada no século XVIII, a partir de um novo
tratamento dado ao trabalho, a terra e o dinheiro, os quais passaram a terem valores fictícios, passa
170
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa,
v. 52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 300.
172
Ibidem, p. 301.
60
a ser considerada a existência de um mercado autorregulável, sem amarras. 173 Como resultado
disso, em grande parte dos países do mundo, entre o século XVIII até meado do século XX, um
sistema político, jurídico e econômico voltado para o liberalismo econômico, que é o resultado de
movimentos sociais, como a Revolução Gloriosa no Reino Unido, 1688-1689, a Revolução
Francesa de 1789 e a Independência da América 1776.
Na seara política, com reflexos no campo do Direito, a fim de contribuir para a expansão
do liberalismo econômico, a coroa passou a submeter-se às deliberações dos parlamentos, como é
o caso da Inglaterra ou os reis absolutos foram depostos do poder, a exemplo da França.
No campo jurídico, houve a sedimentação de Direitos fundamentais de defesa nos
ordenamentos jurídicos. Os direitos de defesa ou direitos de primeira dimensão (ex.direito à vida,
à propriedade), com seu caráter negativo, exigia apenas do Estado, principal destinatário, que se
abstivesse de agir. 174 Nesse momento, não havia a preocupação em satisfazer os Direitos Sociais
da classe operária, que disponibilizava sua força de trabalho apenas para os detentores das forças
produtivas usufruírem como melhor lhe aprouvessem, a fim de atingir a persecução do seu objetivo
que era a maior geração de lucros.
Para Cláudio Gonçalves Pacheco, na conformação do Direito, para atender às necessidades
do Estado Liberal, teve fim a insegurança jurídica e houve a “centralização dos poderes executivo,
legislativo e judiciário, os quais se encontravam enfeixados nas mãos dos soberanos”. 175 No campo
econômico, imperou o mercado livre, com o mínimo de interferência do Estado na economia.
Nesta sequência de acontecimentos, resultado de um sistema jurídico, econômico e social,
para a expansão da sociedade industrial, viu-se a exploração do trabalho humano e da natureza
173
Cláudio Gonçalves Pacheco explica o sentido da ficção criada na era industrial sobre trabalho, terra e dinheiro e
como esses conceitos interferiram na transformação a total da sociedade econômica e política para a chegada do novo
sistema liberal que estava, por vir. Para o autor, o trabalho, a terra e o dinheiro são mercadorias fictícias, já que eles
“Configuram uma ficção por não serem produzidas para venda. Trabalho é uma atividade inerente à vida humana.
Terra é uma das expressões da própria natureza. E dinheiro apenas simboliza o poder de compra. Entretanto, essa
ficção é o que dá sentido ao mercado autorregulável. A autorregulação da vida econômica não estava presente no
sistema feudal nem no sistema mercantil. Essa grande transformação significou a passagem dos mercados
reguláveis para os mercados autorreguláveis, no final do século dezoito, consistindo numa transformação completa na
estrutura da sociedade, cindindo-a nas esferas econômica e política.” PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras
de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa, v. 52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível
em: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 301.
174
ARENDT, Hannah. A condição Humana. tradução Margaret Canovan. Revisão técnica e apresentação: Adriano
Correia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2020, p. 134- 137.
175
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa, v.
52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 302.
61
como jamais vista. Uma vez que surgiram os movimentos operários, com suas ideologias social-
filosófica-política, em busca de melhores condições de trabalho e remuneração.
Apenas preocupados com a expansão do capital, os contemporâneos da revolução industrial
utilizavam os bens ambientais sem preocupar-se com os limites de resiliência da natureza, na
mesma medida em que exploravam a mão de obra, sem refletir sobre as condições de trabalho e a
remuneração a que estavam submetidos seus trabalhadores.
Como resposta à essas condições indignas a que se encontravam, sujeitos a mão de obra, o
Estado Liberal cede espaço para a instituição do Estado Social, “cujos anseios foram,
primeiramente, formatados na notável Constituição Mexicana de 1917” 176. Apesar de ser uma das
primeiras constituições a regulamentar os direitos dos trabalhadores, como a reforma agrária, a
referida Constituição não teve uma relevância no contexto internacional. Em 1919, como já
mencionado, tem o surgimento da Constituição de Weimar, que traz para a Constituição não apenas
direitos individuais, como também, disciplina direitos sociais, a exemplo do direito à educação e à
cultura. 177
Vale assinalar que, entre os séculos XVI e XVIII, teve vigente a era moderna, com o sistema
econômico mercantilista, que se fundamentava no capitalismo comercial. No sistema mercantilista,
os lucros eram obtidos através da circulação comercial.
A partir do século XVIII, com a chegada da Revolução Industrial, tem-se inaugurada a
sociedade contemporânea e se estende até meados do século XX. Com a sociedade industrial,
inaugura-se a sociedade de riscos. 178
Ao acreditar na superioridade das ciências, a sociedade de riscos entende que era possível
ao ser humano controlar os riscos oriundos do modo de produção industrial. Assim, partindo da
ideia de que os seres humanos não viviam mais sob riscos inexplicáveis, advindos da natureza, os
176
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa, v.
52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 303.
177
Ibidem, loc cit.
178
Gabriel Wendy esclarece que na sociedade liberal do século XIX, no primeiro tempo da história do risco, o risco
era um acontecimento imprevisto e exterior. Ele ocorria na forma de acidentes, ao tempo em que surgia de forma
individual e repentina. No século XX, ele toma outras proporções, no segundo tempo, o risco passa a ser coletivo,
provável, previsível e voluntarista. Esse segundo período, deu-se durante o Estado Social, no início do século XX, com
o aparecimento da sociedade da prevenção de doenças, de crimes, acidentes. No século XXI tem-se o terceiro “ período
do risco”, em que predomina os riscos catastróficos, em grande escala, irreversível e relativamente previsível. Como
ex. temos os riscos nucleares, riscos alimentares, climáticos. WENDY, Gabriel. O princípio Constitucional da
precaução como instrumento do meio ambiente e da saúde públicas: de acordo com o Direito de Mudanças
Climáticas e o Direitos dos Desastres. 3ª edição revista, atualizada e ampliada. Belo Horizonte: Forum, 2020, p. 67-
68.
62
mesmos poderiam ser evitados pelas autoridades cientificas com o uso de experimentos, teorias e
instrumentos de medição cientifica, que tornariam aqueles previsíveis ao perigo.
A ciência, em seus mais variados ramos, estaria desenvolvida o suficiente a ponto de poder
decifrar, antecipadamente, os perigos advindos do uso dos sistemas industriais. Deste modo, era
possível, a partir da ciência, controlar os riscos proveniente dos sistemas industriais, garantindo
segurança ao público. Nesta senda, confiando em uma sociedade, na qual a ciência estava evoluída
o bastante para proteger seus cidadãos dos riscos advindos do sistema produtivo industrial, surge
então a sociedade de riscos. 179
Explica Cláudio Gonçalves Pacheco, fundamentado nas lições de Urilck Beck que:
179
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa, v.
52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 303.
180
Ibidem, p. 304.
181
Ibidem, loc. cit.
182
Ibidem, loc cit.
63
Com isso, tem a passagem do Estado Social para o Estado de Direito Ambiental, o qual está
orientado a assegurar a participação efetiva dos cidadãos. Para melhores esclarecimentos, depara-
se com um tipo de Estado, cujo objetivo está além da satisfação de direitos individuais, sociais e
coletivos para alcançar a efetivação de direitos transindividuais, como é o caso da questão do
controle da poluição dos mares, dos rios, dos oceanos e do solo. Sob uma perspectiva
antropocêntrica alargada, o Estado, em nome de todos, intergeracionalmente e
intrageracionamente, está imbuído em reunir esforços legislativos (ex principio poluidor pagador
e logistica reversa) e promover políticas públicas que favoreçam o controle da poluição, a fim de
não trazer prejuízo ao equilíbrio ambiental. Neste sentido, a questão a ser solucionada, é fomentar
direitos ou garantir a eficácia dos direitos constituídos, ultrapassando a nacionalidade, uma vez
que, com fundamento no princípio da solidariedade 185, o problema ambiental envolve todos, a fim
de garantir a efetividade do princípio da sustentabilidade ambiental constante no Art. 225 da CF, a
garantia da sujeição de direitos à fauna e à flora.
Deste modo, compreendendo que o meio ambiente é um bem de todos e que o Estado deverá
elaborar instrumentos normativos jurídicos para assegurar que não falte bens ambientais essenciais
para as gerações atual e futura, conforme dispõe o Art. 225 da Constituição Federal, tem-se firmado
o Estado de Direito Ambiental. Ciente de que os problemas ambientais de segunda geração não
183
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Tradução de
Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2006, p. 273.
184
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa,
v. 52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 305.
185
“A solidariedade expressa a necessidade (e, na forma jurídica, o dever) fundamental de coexistência (e cooperação)
do ser humano, em um corpo social, formatando a ceia de relações intersubjetivas e sociais que se traçam na
comunidade Estatal. Só que aqui, para além de trazer uma obrigação ou dever unicamente moral de solidariedade, há
que se trazer para o plano jurídico- normativo tal compreensão. SARLET, Ingo Wolfgang Sarlet; FENSTERSEIFER,
Tiago. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 65.
64
estão adstritos às fronteiras nacionais, sendo, estes, relativos a uma sociedade de risco mundial, o
Estado de Direito Ambiental objetiva mitigar a soberania dos Estados a favor de uma organização
política que garanta o exercício do Poder Político em uma escala global.186
O Estado de Direito Ambiental não foi somente captado pela Constituição Brasileira.
Diversos Países do Mundo direcionaram-se a assegurar o bem-estar e a justiça ambiental, por meio
dos quais, é garantido o acesso a bens ambientais de maneira equitativa a todos. Entre os países
constam: Grécia (Art. 24), Portugal (Art. 66), Espanha (Art. 45), Suécia em seu texto supremo de
1977, Holanda (1983), Bélgica (revisão de 1994), Alemanha (reforma de 1994), Finlândia (reforma
de 1995), China (1982), Chile (1981), Filipinas (1987), Moçambique (1990), Angola (1992) e
Namíbia (1990).187
186
PACHECO, Claudio Gonçalves. As desventuras de um Estado Ambiental. Revista de Informação Legislativa,
v. 52, n. 205, p. 297-317, jan./mar. 2015. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/205/ril_v52_n205_p297. Acesso em 11 mai. 2022, p. 306.
187
SILVA, Anderson Furlan Freire de; FRACALOSSI, William. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2010,
p. 61-62.
188
O Estado do Direito Ambiental implica no estabelecimento de políticas econômicas, sociais e jurídicas direcionadas
para a sustentabilidade Ambiental. Demanda em um Estado que busque alcançar o desenvolvimento econômico, mas
sem deixar de reproduzir justiça social e ambiental. O modo de produção capitalista da mais valia precisa garantir, ao
menos uma vida saudável e digna à toda humanidade e a geração, que está por vir. Para tanto, é imperativo estabelecer
mecanismos econômicos e jurídicos ou garantir efetividade aos mecanismos existentes, que garantam recursos
ambientais intergeracionalmente. A compreensão da preservação de recursos ultrapassa a percepção mera preservação
da natureza, como dispõe a ecologia rasa. Mas, requer a compreensão de que meio ambiente equilibrado integra
sobretudo, os aspectos relacionais entre homem e natureza. Deste modo, o Estado tem o dever normativo de estabelecer
políticas públicas para a conservação dos recursos ambientais em sentido estrito (recursos naturais), ao tempo em que
precisa para a garantia do meio ambiente equilibrado, promover políticas públicas como saúde, educação básica,
educação ambiental, moradia, fomentar emprego
e renda para garantir uma vida digna para a população. Neste sentido, a título exemplificativo, não adianta promover
políticas públicas para preservar as margens dos rios, se o Estado não buscar remanejar eventual população que viva
as suas margens. Não adianta também apenas dar o “peixe”, relocando as populações, simplesmente, é preciso garantir
que elas consigam obter seu sustento, através de um emprego. Não adianta o Estado promover a implantação do sistema
de coletas dos resíduos plásticos por meio dos acordos setoriais ou mesmo obrigara sua implantação na forma do artigo
65
Sob uma perspectiva econômica, o Estado de Direito Ambiental não se limitou a propagar
social, jurídica e economicamente a persecução do lucro, presente no Estado de Direito ou no
Estado Liberal. Amenizando o capitalismo selvagem, estabelecido no referido Estado, o Estado
Democrático de Direito se estabeleceu para concretizar e executar leis ou Politicas Publicas
Econômicas que coadunem com os interesses econômicos, sociais e ambientais.
Deste modo, se poderia afirmar que o Estado de Direito Ambiental ou Democrático de
Direito, representam em si, a soma de normas do Estado de Direito e da Economia. Conquanto,
com o escopo de proceder com a integração das minorias e obedecer ao princípio fundamental do
pluralismo democrático, o referido Estado não é limitado a reduzir o Direito à economia.
Aliás, com um plus em relação ao Estado de Direito Social, o Estado de Direito Ambiental
integra nele Direitos tidos como fundamentais que interessam a todos em um nível transnacional
ou global, como por exemplo, o direito de viver em um meio ambiente física e psicologicamente
saudável.
Nessa senda, pode-se afirmar que o Estado de Direito Ambiental é regido pelo Direito
Econômico, o qual não consiste na pura aplicação de regras econômicas às relações sociais. As
regras econômicas ou paradigmas econômicos, tal como a aplicação do critério de Pareto e seu
189 190 191
ótimo devem ser interpretados para atender interesses sociais de grupos distintos, não
33 da lei 12.305/201 0, se não são promovidas ou são cobradas politicas publicas educativas para que o consumidor
conscientize-se a levar o produto ao final do ciclo de vida ao ponto de coleta.
189
O critério de Pareto, conceito desenvolvido pelo economista Vilfred Pareto é uma regra econômica paradigmática
aplicável as ciências sociais, informáticas e outras diversas, que foi estabelecida para julgar a eficiência da alocação
de um determinado recurso, segundo a qual, um Estado de alocação é considerado eficiente, quando não for possível
realizar uma realocação de um participante, sem causar piora em qualquer outro.
Deste modo, “um estado da economia é eficiente no sentido de Pareto quando não há nenhuma possibilidade de se
melhorar a posição de pelo menos um dos agentes dessa economia sem que com isso a posição de um outro agente
seja piorada. Também chamada de alocação ótimo de Pareto e recursos de Pareto, otimização de Pareto, máximo de
Pareto e critério de Pareto.
Esse critério tem é de extrema a importância quando buscamos estabelecer um ponto de equilíbrio entre produção e
poluição. O ponto ótimo se dará quando a sociedade definir o nível de poluição aceitável e as industrias limitares sua
produção a um nível economicamente viável e satisfatório as condições estabelecidas pela sociedade. COSTA, Simone
Thomazi. Introdução a Economia do meio Ambiente. Análise, v. 16, n. 2, p. 301-323, ago/dez.2005. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/view/276. Acesso em 14 mai. 2022, p. 305.
190
Aplicável em diversas áreas, o princípio de Pareto foi criado por Vilfred Pareto, com a publicação do livro “Court
Economie Politiq”, 1897. Pareto observou que cerca de 20% das pessoas detinham 80 % das riquezas. Não obstante,
o paradigma tenha sido criado por Pareto, somente foi difundido no final dos anos 40 por Dr. José M Juran - pai do
controle de qualidade. Juran cria a regra 80/20, designando-a de princípio de Pareto. A regra destina-se a demonstrar
que é possível reduzir 80 por cento dos erros de uma linha de produção, pautado em 20 por cento das suas causas.
NEVES, Brendo Rodrigues. Características do Setor Princípio de Pareto no setor bancário Brasileiro.
Orientadora: Fátima de Souza Freire. 2016. 40 fls. Bacharelado em Ciências Contábeis. Universidade de Brasília,
Brasília, 2016. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/14408. Acesso em 10 mai. 2022, p. 12. et. Seq.
191
É preciso atentar-se que ótimo de Pareto não esbarra necessariamente em equidade social. Como podem haver
66
vários pontos ótimos em uma estrutura econômica, o resultado eficiente não indica em um mais socialmente relevante.
Para entender isto, traz-se como exemplo a concessão de uma mesada por uma mãe no valor de 100 reais para um filho
de 18 anos e R$ 30,00 um filho de 10 anos. A genitora poderia entender que o ótimo socialmente eficiente seria
concentrar a renda maior com o mais velho, um vez que, este tem gastos maiores gastos com condução, cinema, ao
passo em que, o mais jovem gastaria com guloseimas. Deste modo, observa-se que ótimo de Pareto não tem uma
relação direta com equidade social. Pode-se ter um Estado socialmente ótimo em um Pareto eficiente, conquanto, o
contrário pode não ocorrer. Porém a importância do Ótimo de Pareto para fins da pesquisa é que a referida teoria é
uma formula para encontrar a minimização das externalidades ambientais. A sociedade, os governos e mercados podem
negociar o nível ótimo de poluição suportada, por obvio levando-se em conta o Estado de Direito Ambiental. BARR,
Nicholas. The relevance of efficiency to different theories of society. Economics of the Welfare State. 5 ed. Oxford:
Oxford University Press, 2016.
192
Vale lembrar que, é possível ainda que o Estado seja demandado para prestar uma ação positiva na qual o objeto é
uma normativa. Ela consiste no Direito subjetivo que o cidadão tem de que seja criada uma determinada norma. Estas
também chamadas de prestações em sentido amplo. ALEXY, Robert. A estrutura das normas de direitos
fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva São Paulo: Malheiro, 2008, p. 203.
193
BENJAMIM, Antônio. Herman. Princípio da proibição de retrocesso ambiental. In: WALCACER, F.; PURVIN,
G.; PITOMBEIRA, S. (Orgs). Direito ambiental e o princípio da vedação de retrocesso, p. 43-53. Florianópolis:
Tribo da ilha. 2020, p. 48.
194
LEITE, José Rubem Morato; BECKHAUSER, Elisa Fiorini. Pressuposto para o Estado Direito Ecológico e
reflexões sobre agrotóxicos no contexto de retrocesso ambiental. Desenvolv. Meio Ambiente, Vol. 57, p. 208-228,
2021, p. 217.
195
BENJAMIM, op cit, p. 45 et.seq.
67
e sociais próprias do capitalismo, assim como, com o objetivo de buscar a pacificação de conflitos
de interesses, na maioria das vezes antagônicos, são estabelecidas normas jurídicas e econômicas,
sem, contudo, ser permitido a elas sufocarem interesses existenciais mínimos e básicos de qualquer
representação social. 196
Partindo da nova hermenêutica Constitucional, que elege o status supralegal para os
princípios concernentes a direitos fundamentais ou relativos ao mínimo existencial, como visto no
primeiro capítulo, para Cristiane Derani, o Direito Econômico pode ser entendido como mutável,
motivo pelo qual, a fim de conformá-lo a situações fáticas exsurgentes, sempre que necessário,
sobretudo para atender os valores adotados na Constituição Federal, o referido Direito se amolda
para abranger novos fatos, através da adoção de novas regras ou se conferem novas interpretações
aos velhos textos.197
Contudo, essa característica atribuída ao Direito Econômico, não pertence exclusivamente
ao referido Direito. Como visto, no pós-guerra, o positivismo jurídico não dever ser mais aplicado
no Direito, nos termos da teoria de Kelsen e o juiz deixou de estar limitado a fazer uma mera
operação de subsumir o fato à norma geral para ter a obrigação de verificar a carga valorativa da
norma, quando necessário.
Nessa senda, com a elevação da força normativa dos princípios na Constituição Federal de
1988, em um movimento dialético, o Direito como um todo, inclusive o Direito Ambiental, que
abandonou a sua visão antropocêntrica para amparar novos direitos, tal como o Direito dos animais,
teve de render-se a nova hermenêutica constitucional que determina a leitura do ordenamento
jurídico para a satisfação de Direitos Fundamentais essenciais, sob a ótica da dignidade da pessoa
humana. Neste sentido, os princípios de Direitos fundamentais passam a nortear todo o
196
Quando se refere a bens essenciais básicos, tem-se aqui os bens fundamentais existenciais mínimos, como o direito
à saúde, vida. Deve-se, contudo, evitar a banalização dos direitos fundamentais. O interprete em sua atividade deve ter
o cuidado de ampliar demasiadamente o rol dos direitos fundamentais, tendo em vista as consequências práticas. Tem
de ater-se em extrair do texto legal Direitos essencialmente necessários para uma existência digna para evitar a
desvalorização dos Direitos Fundamentais. Se assim não for, liberdades mínimas poderão ficar cobertas. Assim,
intervenção do Estado nas liberdades individuais, a fim de restringir Direitos outros fundamentais como o direito de
propriedade, livre iniciativa deve ser na medida suficiente para proteger o núcleo essencial do interesse fundamental
em conflito. Ver: RAWLS, John. O Liberalismo Político. Tradução: Dinah Abreu Azevedo. Revisão de Tradução:
Álvaro de Vita. 2ª ed. 2ª impressão. São Paulo: Ática, 2000,p. 350; NABAIS, José Casalta. Algumas reflexões críticas
sobre os direitos fundamentais: 75 anos da Coimbra Editora 1920-1995. In: VARELA, João (ed.). Ab Vno Ad Omnes,
p. 965-1004. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 980; SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da Pessoa) Humana
e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10ª ed. Rev, Atual e Amp. 3ª triagem. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2019, p. 116.
197
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p. 65.
68
ordenamento jurídico.
O ponto nefrálgico, como visto no capítulo anterior, é buscar entender os limites de
interpretação das normas relacionadas aos Direitos fundamentais. Até que ponto o magistrado
poderia estabelecer condutas, sob o pretexto de garantir a tutela dos direitos fundamentais, sem
afrontar princípios fundamentais como a segurança jurídica, a separação dos poderes e a
democracia.
Por este viés, cabe compreender qual é o limite de uma interpretação realizada por um
hermeneuta, que é compatível com a princípios de Dworkin e Alexy. Neste sentido, é valido
perceber, diante da abertura semântica das normas–princípios, se uma decisão judicial, ainda que
verse sobre o Direito essencial do equilíbrio ecológico, em confronto com a liberdade de iniciativa
ultrapassa os limites da jurisdição constitucional para adentrar no ativismo judicial. 198 Não é
porque os princípios possuem um campo semântico aberto, que é permitido ao magistrado deliberar
com discricionariedade, ao modo como faziam os positivistas normativos, adeptos a Kelsen. Como
foi esclarecido no primeiro capítulo, os magistrados não podem se afastar da intersubjetividade.
Toda decisão judicial deve ser justificada, sem levar em conta questões morais, políticas e pessoais,
mas sim refletir, minimamente, os valores fundamentais Constitucionais, nos termos estabelecidos
pelas principais vertentes teóricas do Neoconstitucionalismo.
Em uma crítica ao ativismo judicial, autores como Streck, Barreto e Oliveira, alertam que
é preciso ter cuidado com o avanço da jurisprudência da valoração. Para os referidos autores, tem-
se “criado uma abertura de espaço jurídico para a criação de algo que depende de regulamentação
do poder legislativo.” 199
Por essa linha de raciocínio, reconhecem os autores que tem crescido o
número de casos em que os juízes decidem por preferenciais pessoais .200
Apesar disso, Streck, Barreto e Oliveira admitem a possibilidade de interferência do
judiciário na política, embora, para os referidos autores, a intervenção mencionada, apenas deva
ocorrer quando estiver em jogo um princípio. Neste sentido, oferecem repudia a decisões proferidas
pelo judiciário, orientadas para preferenciais pessoais de seus membros ou mesmo de parcela da
198
PEREIRA, José Matias. Impactos da judicialização da Política e ativismo judicial no Brasil. Brazilian Journal of
Development, v.7, n.3, 2021. Disponível em: https://brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/26844.
Acesso em 11 mai. 2022.
199
Ibidem, p. 29307.
200
Ibidem, loc cit.
69
sociedade.201 202
No campo prático, os três autores acima assinalados alertam que, apelando para a jurisdição
constitucional, o judiciário tem exarado muitas decisões nos últimos anos, no sentido do ativismo
judicial para dar solução aos problemas do sociais e políticos do dia-dia, tal como regulamentar o
casamento com pessoas do mesmo sexo. Assinala os referidos autores que, “Embora, fundada em
boas intenções, tal medida representaria um grave risco democrático, pois transformaria a
jurisdição constitucional em verdadeiro poder constituinte permanente. ” 203
Recentemente, na ADI 4277 (ação interposta pela procuradoria Geral da República e na
ADPF 132 (ação apresentada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro) reconheceu como entidade
familiar a união afetiva homossexual ao interpretar o artigo 226 § 3 da CF e artigo 1.723 do código
civil de 2002, de acordo com os ditames normativos da Constituição Federal. Por um outro lado na
ADPF n. 4277 teve o propósito de garantir aos casais “homoafetivos” benefícios previdenciários,
de licença e assistência. 204
Apesar das preocupações com o ativismo judicial, tendo em vista a sedimentação do
paradigma neconstitucionalista, acompanhando o pensamento de Cristiane Derani, após a
Constituição Federal de 1988, importa registrar que a sociedade brasileira passa a exigir o
cumprimento de outros valores que necessariamente não são vocacionados pelo sistema produtivo.
Assim, exige ao lado do princípio da livre iniciativa, a persecução de princípios de Direitos
fundamentais, tais como o princípio do meio ambiente equilibrado e o princípio da sustentabilidade
ambiental205.206
Decerto, que a vocação nata do sistema produtivo está na perseguição do lucro, como fator
201
STRECK, Lenio Luiz; BARRETTO, Vicente.; OLIVEIRA, Rafael T. Ulisses e o canto das sereias: sobre ativismos
judiciais e os perigos da instauração de um “terceiro turno da constituinte”. Revista de Estudos Constitucionais,
Hermenêutica e Teoria do Direito, v. 1, n°2, p. 75-83, jul/dez. 2009. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/47. Acesso em 11 mai. 2022, p.79.
202
PEREIRA, José Matias. Impactos da judicialização da Política e ativismo judicial no Brasil. Brazilian Journal of
Development, v.7, n.3, 2021. Disponível em: https://brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/26844.
Acesso em 11 mai. 2022, p. 29308 et.seq.
203
STRECK; BARRETTO; OLIVEIRA, op cit, p.75.
204
PEREIRA, José Matias. Impactos da judicialização da Política e ativismo judicial no Brasil. Brazilian Journal of
Development, v.7, n.3, 2021. Disponível em: https://brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/26844.
Acesso em 11 mai. 2022, p. 29307.
205
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p.34-41.
206
Por um outro lado, ainda que note-se importância, destes dois princípios acima mencionados não cabe falar em
precedência de princípios em abstrato. Como se viu no primeiro capítulo, Alexy deixa claro que os princípios
demandam da análise das situações fáticas e jurídicas. Assim, a ponderação de valores entre dois princípios
fundamentais como a livre iniciativa e equilíbrio ecológico, somente poderá ocorrer em um aprofundamento do caso
concreto pelos juízes e Tribunais.
70
prioritário. Logo, o princípio da livre iniciativa teve seu lugar de destaque ou seu peso sobrelevado
durante séculos, com a satisfação prioritária dos direitos e das liberdades individuais de 1ª
dimensão.207 Contudo, após a II Guerra Mundial, no sentido de evitar situações degradantes à
dignidade da pessoa humana evidenciadas na referida guerra, conforme assinalado no 1º capitulo,
em uma mudança paradigmática, surgem como um temperamento ao capitalismo, novos valores
jurídicos, a saber: justiça social, função social da propriedade, igualdade material e Direitos
fundamentais e com isso os Direitos Sociais, e mais tarde, surgem os Direitos Transindividuais,
embasados na solidariedade intergeracional. 208
Ultrapassando a concepção clássica do conceito de Direito, como um conjunto de normas
postas, erigiu-se em 1988, um ordenamento jurídico que congregava as diretrizes do sistema
capitalista, através do estímulo da livre iniciativa e concorrência e do estabelecimento da
propriedade privada, ao mesmo tempo em que absorvia os anseios de uma sociedade que, para vê-
se pacificada, determinava a formulação de normas jurídicas que: a) assegurassem a todos uma
existência digna, como uma medida de justiça social; b) buscassem a valorização do trabalho
humano e função social da propriedade; c) defesa do consumidor e defesa do meio ambiente por
todos (Estado, Sociedade e o próprio sistema produtivo). Este último, deve executar medidas para
evitar a degradação ambiental no desenvolvimento das suas atividades. 209
Nas sábias palavras de Cristiane Derani:
207
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p.34-41.
208
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da Pessoa) Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 10ª ed. Rev, Atual e Amp. 3ª triagem. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019, p. 100.
209
DERANI, op cit, loc cit..
210
Ibidem, p. 67.
211
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
71
que devem ser perseguidos pela atividade econômica, impõe a constituição de uma relação
equilibrada entre fatores de produção, sociedade e meio ambiente.
Assim, dispõe o artigo 170 da Constituição Federal Brasileira:
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
I – soberania nacional;
II – propriedade privada;
III – função social da propriedade;
IV – livre concorrência;
V – defesa do consumidor;
VI– defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; (Nova redação dada por Emenda Constitucional nº 42 de 19/12/2003)
VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII – busca do pleno emprego;
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Nova redação dada por
Emenda Constitucional nº 6 de 15/08/1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em
lei. 212
Neste sentido, para Cristiane Derani o Direito não pode, a partir da nova Ordem Política,
Econômica e Social ficar adstrito, atemporadamente, ao que vem descrito no texto legal, mas deve
acompanhar as demandas sociais e ambientais, que se apresentam em constante mudança. Ás vezes,
o que é escrito hoje em um texto jurídico, futuramente, para obter conformação Constitucional
necessita de uma reorientação interpretativa, tendo em vista, a evolução das necessidades
socioambientais. 213
Como visto no capítulo anterior, já não cabe há muito tempo, um juiz emitir um juízo de
valor limitado à interpretação estritamente literal ou gramatical. Assim, no contexto hermenêutico
212
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
213
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p. 67.
72
214
A transnacionalidade para alcançar uma justiça equitativa planetária é fonte de preocupação de grandes filósofos
como Amartya Sen. Sen, propondo uma democracia global, sugere o resgate à Adams Smith para resolver o conflito
de interesses globais. Assim, o expectador imparcial deveria recorrer para solucionar as questões globais os valores
nacionais e supranacionais, porquanto, se depara atualmente em uma imparcialidade aberta, em que, “ o dialogo global,
que é de vital importância para justiça global, ocorre não apenas através de instituições como as Nações Unidas ou a
OMC, mas muito mais amplamente através da mídia, da agitação política, do trabalho, empenhado de organização de
cidadãos e muitas ONGS, e através do trabalho social que recorre não somente as identidades nacionais mas também
a outras características comuns, como os movimentos sindicais, as operações cooperativas, as campanhas de diretos
humanos ou atividades feministas. A causa da imparcialidade aberta não é inteiramente negligenciada no mundo
contemporâneo. ” SEN, Amartya. A ideia de justiça. Tradução: Denise Bottmann, Ricardo Doninelli, Mendes. 6ª
reimpressão. São Paulo: Companhia de Letras, 2011, p.. 182.
215
Não custa refrescar a memória e lembrar que, para Robert Alex os princípios são meros mandamentos de
otimização, em que, havendo o conflito de interesses entre dois princípios, no caso concreto um princípio pode subsistir
o outro, porém não implicando na invalidade do princípio perante o ordenamento jurídico. Contudo, com as regras não
ocorre a mesma situação. Estas, diante de um conflito de interesses entre regras jurídica, uma regra anula a outra, em
que, retira-se uma delas do ordenamento jurídico. ALEXY, Robert. A estrutura das normas de direitos
fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva São Paulo: Malheiro, 2008, p.90-98.
216
Sociedade Aberta dos Interpretes constitucionais consiste na possibilidade concedida a todos àqueles que vivem a
Constituição de interpreta-la, não sendo apenas esta tarefa restrita aos interpretes jurídicos. Inclui aí desde a mídia a
qualquer cidadão. HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: A sociedade aberta dos interpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Tradução:
73
social, tal como ocorreu no século XVIII até meado do século XX com o positivismo. Nesse
período, a fim de consolidar os ensejos da burguesia, nascia um Estado de Direito que se
movimentava para afirmação dos direitos individuais e da liberdade econômica, que se satisfazia
em afirmar uma mera igualdade formal.
Não interessava em que condições viviam os trabalhadores, as crianças, a que alimentação
estavam sujeitos, muito menos se havia recursos ambientais suficientes tanto para os
contemporâneos como para a geração futura. Centrado em manter o status quo da burguesia, o
Direito presente nestes períodos assinalados não tinha preocupações natas com o desenvolvimento
da personalidade do indivíduo para realizar justiça social. 217
Contudo com o neoconstitucionalismo, como visto, tem-se o estabelecimento de um novo
paradigma direcionado para a satisfação dos Direitos fundamentais, sob a perspectiva da dignidade
da pessoa humana.
Como consequência disso, interpretação das normas estabelecidas no ordenamento jurídico
passam a ser feitas, a partir da Constituição Federal. O juiz fica incumbido, então realizar uma
interpretação das normas jurídicas presentes no ordenamento jurídico, de acordo com os princípios
fundamentais estabelecidos ao longo do texto constitucional, ainda que as contribuições
legislativas ocorram de forma lenta, uma vez que a lei vem apenas registrar ou deveria registrar,
após um exaustivo debate político entre as representações sociais, a conformação em um texto de
interesses sociais prevalecente, em consonância com os valores fundamentais presentes na
Constituição Federal.
Essa é a matriz filosófica da jurisdição constitucional. De acordo com a mesma, o juiz não
exterioriza em suas decisões posições políticas, mas sim, garante a força normativa de princípios
de Direitos fundamentais presente na Constituição Federal, os quais não podem ser abolidos por
emendas à Constituição, conforme estabelece o artigo 60 § 4 da Constituição Federal. 218
Nos termos da nova hermenêutica Constitucional, observando que o momento da
exteriorização legislativa com a aprovação de projeto de lei nas casas e de forma competente poderá
Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
217
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p.30-31.
218
Jurisdição Constitucional não implica em violação do princípio constante no artigo 2 º da Constitucional, já que
apenas é garantida uma interpretação Constitucional adequada a uma norma editada pelos Poderes legiferantes
competentes. Sem confundir norma com texto, por meio da jurisdição Constitucional é possível reorientar o texto para
a compreensão condizente com os valores fundamentais.
74
não coincidir com o surgimento de atendimento a novas necessidades sociais, é atribuído aos
magistrados conferir interpretações jurídicas novas às velhas regras jurídicas, com o objetivo de
garantir direitos fundamentais essenciais, a exemplo do Direito fundamental a um meio ambiente
equilibrado previsto no Art. 225 da CF.
Neste contexto, percebendo-se que o individualismo apregoado pelo capitalismo pode
deixar a humanidade sem amanhã, reafirma-se que a Constituição Federal de 1988 estabeleceu um
Estado de Direito Democrático que foi edificado pautado em normas abertas e genéricas para
comportar mudanças interpretativas ou acompanhar a evolução da sociedade, porquanto, o estado
das coisas, o ser humano, o ecossistema e o meio ambiente estão em constante transformação,
considerando a natureza holística do sistema planetário.
Hoje um animal que não está em extinção, amanhã poderá estar. Assim, o constituinte no
Art. 225, VII, de forma aberta abordou a defesa da fauna pelo Estado e vedou, por toda a sociedade,
atividades econômicas e quaisquer práticas que possam levá-lo à extinção ou o submeta à
219
crueldade. Neste sentido, o Poder Público é obrigado a adotar instrumentos normativos,
econômicos ou administrativas para proteger o equilíbrio dos ecossistemas. Outro exemplo bem
claro, ocorreu com o advento da Lei 12305/10 (Política Nacional dos Resíduos Sólidos), em que
220
os legisladores, aprioristicamente, entenderam por bem deixar escrito em seu Art. 33, § 1 e 2,
a análise da potencialidade dos riscos causados pelos produtos de natureza plástica ao meio
ambiente, à saúde das pessoas, à viabilidade técnica e à viabilidade econômica para que fossem
firmados regulamentos ou acordos setoriais e termos de compromissos com o Poder Público, a fim
da estruturação e implementação da logística reversa.
Vale conferir o artigo 33, § 1º e 2 da PNRS:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço
público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
§ 1o Na forma do disposto em regulamento ou em acordos setoriais e termos de
compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas previstos
no caput serão estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas
219
OLIVEIRA, Jadson Correia; MATIAS, Marcia Bittencourt Barbosa; CHAVES, Patrícia Leão. A impossibilidade
da utilização de animais em atividades de pesquisa: a evolução da legislação brasieira e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. Revista Latino-Americana de Direitos da Natureza e dos Animais, v. 4, n. 2, p. 62-85, jul./dez.
2021. Disponível em: https://periodicos.ucsal.br/index.php/rladna/article/view/968/771. Acesso em 15 fev. 2022.
220
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
75
Observando-se os impactos ambientais que podem ser causados pela má disposição dos
plásticos no meio ambiente 222223, uma abordagem literal em relação ao Art. 33, § 1 e 2 da PNRS,
pode não figurar a interpretação mais adequada, uma vez que não coaduna com os princípios do
equilíbrio ecológico, sustentabilidade ambiental, da prevenção e da precaução, ora estabelecidos
como fundamentais na Constituição Federal. 224
Pelo contrário, os riscos de danos proporcionados pelo mau acondicionamento das
embalagens plásticas, pós-consumo, determinam ações preventivas como a imposição do retorno
221
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
222
SABOIA, Elaine. Plásticos nos oceanos colocam em risco a saúde humana e a fauna. Unisanta – Notícias. 2018.
Internet. Disponível em: http://noticias.unisanta.br/campus/graves-riscos-a-saude-humana-e-mortandade-da-fauna-
marinha-inspiram-o-movimento-internacional-break-from-plastic-na-semana-do-meio-ambiente. Acesso em: 20 jun.
2020.
223
A diretiva 904/2019 da União Europeia demonstra no item 5 que é preciso mudar o quadro de poluição marinha
por produtos plásticos para evitar um desequilíbrio ecológico de difícil reversibilidade. Por isso, afirma no item 6 da
referida diretiva, que União deverá promover políticas públicas, a fim de garantir que até 2030, as embalagens plásticas
sejam reutilizadas ou facilmente recicláveis. Nas palavras da própria diretiva: “Na União, 80 % a 85 % do lixo
marinho é constituído por plástico segundo medições realizadas por meio de contagens nas praias, sendo que os
artigos de plástico de utilização única representam 50 % e os artigos relacionados com a pesca representam 27 % do
total. Os produtos de plástico de utilização única incluem um leque variado de produtos de consumo corrente em rápida
evolução, que são descartados após terem sido usados uma única vez para os fins a que se destinam, são raramente
reciclados e tendem a tornar-se lixo. Uma percentagem significativa das artes de pesca colocadas no mercado não é
recolhida para fins de tratamento. Os produtos de plástico de utilização única e as artes de pesca que contêm plástico
representam, portanto, um problema particularmente grave no âmbito do lixo marinho, acarretam um sério risco para
os ecossistemas marinhos, a biodiversidade e a saúde humana, e causam prejuízos a atividades como o turismo, as
pescas e o transporte marítimo.” UNIÃO EUROPEIA. Diretiva (UE) 2019/904 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 5 de junho de 2019. Relativa à redução do impacto de determinados produtos de plástico no ambiente.
2019. Internet. Disponivel em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32019L0904. Acesso
em 20 jun. 2020.
224
Como alerta Streck, o interprete passa por um processo compreensivo, o qual é filosófico. Após, essa primeira
etapa, ele deve conduzir-se para a compreensão propriamente dita, que é logica argumentativa. A soma do processo
compreensivo e da compreensão deflui na interpretação. Nesta segunda etapa, o magistrado expõe (explicita)
compreensão. Dito isto, não há como confundir-se hermenêutica jurídica com teoria da argumentação. Nesta direção,
à luz do pensamento de Streck e Gaddmer, é possível afirmar que a pre-compreensão vem antes do texto, texto não
equivale a norma. Por esta ótica, tem-se justificado o pedido de declaração de inconstitucionalidade contra normas,
cujo conteúdo semântico violam princípios fundamentais previstos na Constituição. Até aí, não vê grandes celeumas.
O problema se agiganta, quando contrariando a teoria Alexiana e Dworkin e a própria democracia, magistrados
decidem: fundamentados por princípios em abstrato; sem aprofundar para o caso concreto; sem explicitar as razões da
sua compreensão (intersubjetiva) em um sentido ou outro para os membros da sua comunidade. STRECK Lenio Luiz.
Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 403.
76
obrigatório destes produtos ao sistema produtivo, no fim do ciclo de vida, através da logística
reversa obrigatória, tal como ocorre com a logística reversa de pneus, constante no artigo 33 da
PNRS.225
Assim, a certeza científica dos males que os plásticos podem causar ao meio ambiente e à
saúde humana parece demonstrar que o legislador se equivocou ao redigir uma redação que
conduzisse à comprovação da danosidade dos plásticos ao meio ambiente e à saúde humana para a
tomada da medida preventiva de instituição da logística reversa pós- consumo.
226
Observada a sociedade de risco, na qual a humanidade está inserida, é preciso proferir
uma interpretação adequada às normas jurídicas postas para a sua devida implementação,
227
considerando os aspectos socioeconômicos estabelecidos pela Constituição Cidadã. A
humanidade não pode ser subjugada ao dano ou perigo de dano, decorrente do desenvolvimento da
225
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após
o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: (Regulamento)
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo
perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas
estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 10 jun. 2020
226
Merece entender conteúdo semântico conferido ao termo de sociedade de risco pretenso por Urilck Beck. Neste
sentido, para Urilck Beck sociedade de risco consiste em uma situação de perigo de danos políticos, sociais,
econômicos e ambientais, em que a sociedade pos industrial está submetida, cujas proporções globais são globais. Na
compreensão do autor: “É certo que os riscos não são uma invenção moderna. Quem – como Colombo – saiu em busca
de novas terras e continentes por descobrir assumiu riscos. Estes era, porém, riscos pessoais, e não situações de ameaça
global, como as que surgem para toda a humanidade com a fissão nuclear ou com o acumulo de lixo nuclear. A palavra
“risco” tinha, no contexto daquela época, um tom de ousadia, contexto daquela época, um tom de ousadia e aventura,
e não o da possível autodestruição da vida na Terra.” BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra
modernidade. Tradução Sebastião Nascimento, 3ª edição, São Paulo: Editora 34, 2019, p.25.
227
Apesar de, segundo Ronald Dworkin no processo interpretativo, é interessante que o julgador adentre na história
dos instituto, na aplicação deste instituto para fugir de uma discricionariedade. DWORKIN, Ronald. Uma questão de
princípios. Tradução: Luiz Carlos Borges, São Paulo: Martins Fontes, 2001. Contudo isto não implica na vinculação
ad eterna do magistrado ao ideal prospectado pelo Constituinte originário, pois, as vezes é necessário o
aperfeiçoamento do referido Poder para viabilizar o próprio exercício democrático. De fato, coaduna com a jurisdição
Constitucional, o entendimento doutrinário, segundo o qual o Constituinte originário não é absoluto e permanente.
TOVAR, Leonardo Zehuri. Promessas da modernidade e Ativismo Judicial. Revista Brasileira de Políticas Públicas,
v. 5, n. 2, p. 518-536, 2015. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/3059.
Acesso em 11 mai. 2022, p.526.
77
ciência.
Quem (empresário) arrisca-se a adentrar no mundo da técnica ou tecnologia para auferir
lucros particulares, expondo milhares de pessoas aos perigos de dano da sociedade Contemporânea,
tem de permitir-se a suportar os custos das despesas referentes às medidas Estatais (ex.
equipamentos, medidas antipoluição, licenciamento, normas de qualidade ambiental) para garantir
um meio ambiente equilibrado para todos. Isto é uma medida de equidade econômica e justiça.
Sobre os perigos da sociedade de risco alerta Urilck Beck:
Dessa forma, a implementação de uma política econômica adequada deve destacar, como
palavra de ordem, as diretrizes econômicas, porém em consonância com o pluralismo
constitucional, notadamente fundamentado no direito da coexistência de diferentes tipos de vida,
em sua melhor condição física e psíquica. Para alcançar este propósito, é necessário que o Estado
adote medidas jurídicas, administrativas e econômicas que garantam a sobrevivência de todas as
formas de vida, principalmente, por conta da percepção holística da vida planetária.
Nessa pauta do pluralismo jurídico poder-se-ia dizer, que sob a égide da Constituição de
1988, a natural divergência de interesses entre os atores sociais merece ser contida com a definição
de normas econômicas e jurídicas que não sufoquem os interesses essenciais dos partícipes ao
ponto de atingir a dignidade dos mesmos. Deste modo, não se pode privilegiar sempre o interesse
econômico de uma categoria em detrimento do interesse relacionado a bens fundamentais de cada
individuo, tal como o direito a viver em um meio ambiente equilibrado. A ideia é buscar
alternativas visando a pacificação dos interesses, de modo que sejam preservados, em alguma
medida, os interesses fundamentais minimamente existenciais das antagônicas funções sociais.
Nessa percepção e buscando garantir a efetividade dos mandamentos impostos pelo Direito
Ambiental Econômico, com o objetivo de romper definitivamente com o paradigma implementado
desde a baixa idade média, de que a natureza existe para ser explorada pelo homem e de forma
228BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução Sebastião Nascimento, 3ª edição,
São Paulo: Editora 34, 2019, p.26
78
229
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Como as Nações Unidas apoiam os objetivos de desenvolvimento sustentavel
no Brasil. Disponivel em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 19 mar. 2021.
230
Bioma grande comunidade estável e desenvolvida, adaptada às condições ecológicas de uma certa região, e
geralmente caracterizada por um tipo principal de vegetação, como, p.ex., a floresta temperada; Bioma das savanas.
79
231
Aqui, vê-se bem situado o princípio poluidor pagador, porquanto o referido princípio tem como principal
destinatário o Estado. Por meio do PPP, o Estado fica compelido a criar normas para obrigar aos contaminadores à
internalizarem às externalidades negativas, a fim de reduzir ou cessar a poluição.
232
BEGER, Mauricio, PEREIRA, Reinaldo. A concretização do Estado de Direito Ambiental segundo a proposta da
União Internacional para a Conservação da Natureza: Limites e possibilidades. Revista Faculdade UFMG, n. 73, pp.
639-670, jul/dez 2018. Disponível em: https://revista.direito.ufmg.br/index.php/revista/article/view/1961. Acesso em
14 mai. 2022, p. 641-642.
233
Ibidem, p. 642.
234
Ibidem, loc cit.
235
Ibidem, p. 655.
80
promover a gestão dos riscos, de modo que os efeitos secundários deste não ultrapassem o limite
do tolerável. Neste sentido, cabe a este Estado, a criação de instrumentos normativos e econômicos
que evitem a ocorrência do dano, a partir do uso de elementos de outras ciências, já que, como
assinalado anteriormente, o Direito Ambiental apresenta em contexto sistemático aberto e passível
de mudanças de ordens físicas, culturais e conceituais para uma melhor adequação à proteção
ambiental. 236
Com uma reorientação do Estado para prospectar Direitos de terceira dimensão
(solidariedade), o Estado de Direito Ambiental sai da lógica estabelecida no Estado de Direito e no
Estado de Direito Social determinada pelo enfrentamento relacional conflitivo do Eu contra o
Estado e do Nós contra o estado, para fundamentar-se na lógica do “ Nós todos – em favor do
planeta. ”237
Com isso, pode-se afirmar que a aplicação adequada da hermenêutica jurídica pos
positivista garante o uso dos bens ambientais equitativamente, de modo que reste também o
suficiente para garantir uma vida saudável à geração futura. Por isso, em se tratando da aplicação
das normas ou políticas econômicas, não é possível adotar fórmulas matemáticas para eliminar
conflitos de interesses, que surgem com o desenvolvimento das relações sociais e ambientais.
Em se tratando da atuação do Tribunal Constitucional para assegurar Direitos fundamentais
como o equilíbrio ecológico é incabível a aplicação da Jurisdição Constitucional, sem imersão ao
caso concreto. É preciso aplicar a teoria dos princípios apossando-se das particularidades do caso
e com o auxílio da teoria da argumentação para a devida justificação democrática. Assim,
justamente por causa da jurisdição Constitucional, por maior que seja a fundamentalidade do
Direito envolvido, no sentido de preservar o princípio da separação dos poderes e a própria
democracia, os julgadores estão obrigados a explicitarem para os afetados por sua decisão os
motivos de sua compreensão em face do caso submetido ao seu juízo, através de argumentos
intersubjetivos (não morais, políticos e pessoais). A fundamentalidade do direito fundamental
envolvido não torna o “caso difícil” em um “caso fácil,” que possa ser resolvido por subsunção. 238
236
BEGER, Mauricio, PEREIRA, Reinaldo. A concretização do Estado de Direito Ambiental segundo a proposta da
União Internacional para a Conservação da Natureza: Limites e possibilidades. Revista Faculdade UFMG, n. 73, pp.
639-670, jul/dez 2018. Disponível em: https://revista.direito.ufmg.br/index.php/revista/article/view/1961. Acesso em
14 mai. 2022, p. 646.
237
Ibidem, p. 655.
238
No Brasil o ativismo judicial tem uma conotação distinta da ideia conjecturada na doutrina Norte Americana. De
uma maneira pejorativa, o ativismo judicial é intromissão Poder judiciário em questões legislativas e partidária, como
por exemplo casos que envolvem a perdas de mandatos, por troca de partido; analise de caso de verticalização de
81
coligação partidária. A corte deixa de limitar-se a sua função interpretativa para adentrar na criação de condutas, Por
um outro lado, o “bom ativismo” é o avanço, em razão dos valores Constitucionais do Jurisdição Constitucional para
decidir assuntos relacionados a questões sociais presente na constituição, como os Direitos e Garantias Fundamentais.
Em que pese, a distinção merece que, o ativismo é diferente da judicialização na Política, este é a reafirmação da
vontade do Constituinte, sem majorar o alcance e sentido das normas, ultrapassando o legislador ordinário.
ROMANELLI, Sandro Luís Tomás Ballande; TOMIO, Fabricio Ricardo de Limas, KANAYAMA, Rodrigo Luis.
Tribunais Constitucionais, governos e parlamentos: para além do ativismo e da judicialização, instituições no processo
decisório – um balanço da literatura. In: SCHELEDER, Adriana; ROBL FILHO, Ilton (org). Jurisdição
Constitucional e Democracia. Univali, 2016.
239
OLIVEIRA, Jadson Correia; SOUSA, Jordânia Oliveira. Direito à Saúde no Brasil e a inaplicabilidade da
reserva do possível. Porto Alegre: Editora Fi, 2020.
82
ecossistema, consoante previsto no Art. 225, parágrafo 1 e VII da Constituição. Embora, não se
fale de “reserva do possível” aos Direitos de defesa ou 1ª geração, estes direitos prescindem de
disponibilidade financeira para o Estado, na mesma medida que Direitos prestacionais Sociais.
240
Assim, a realização tanto de políticas públicas garantindo, por exemplo empréstimos ao pequeno
empresário para expansão dos seus negócios, como o remanejamento de uma espécie por outra
região possuem uma dimensão no mínimo econômica que precisa ser levada em conta, uma vez
que, ambos os Direitos custam dinheiro.241
Por este caminho, poder-se-ia afirmar, desde da implantação Constitucional do Estado
Democrático de Direito, em uma direção oposta do que ocorria no Estado de Direito, o Estado tem
a obrigação de promover políticas para estimular livre iniciativa, na mesma medida em que esse
mesmo Estado deve estabelecer mecanismos que protegem os processos ecológicos e preservem a
fauna e flora. Nesta direção, imperou-se o equilíbrio, de modo que o Estado não pode mais deixar
os interesses econômicos preponderarem sobre os interesses ecológicos, principalmente na escolha
da priorização de suas políticas públicas.
Por isso, reconhecendo a importância e a posição de destaque das forças produtivas no
ordenamento jurídico brasileiro e a necessidade de uma mínima regulação para a manutenção de
equilíbrio não somente social e econômico, como também ambiental, o Art.170, IV da Constituição
Federal, determinou que a atividade econômica buscasse executar as suas funções em consonância
com a defesa do meio ambiente.
Aliás, merece destacar que não é somente dever do Estado garantir ou proteger os processos
ecológicos, restaurando-os se preciso, pois no Ordenamento pós 1988, nos termos do Art. 225,
caput, ficou definido que um meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem de uso e
propriedade comum, sendo a manutenção do seu equilíbrio ecológico um dos requisitos mínimos
para uma vida digna, devendo não apenas o Poder Público, mas todos garantirem sua defesa ou
preservação em uma perspectiva intergeracional.
240
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 13ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018, p. 293.
241
HOLMES, Stephen; SUSTEIN, Cass. R. The Cost of Rights: why liberty dependes on taxes. New York: W.W.
Norton & Company, 1999, p. 15.
83
242
LEITE, José Rubens Morato Leite, AYALA, Patrick de Araujo. Dano ambiental. 8ª ed revista, atualizada e
reformulada. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p.121.
243
FRANCISCO. Carta encíclica laudato si’do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum. 2015.
Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-
francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 13 jan. 2021.
244
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
1992. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf.
Acesso em 19 fev. 2021.
84
245
Conferência Mundial de Meio ambiente– a ECO 92 (ONU, 1992) com a adoção da agenda 21 ,
na declaração do Rio 92246 e na Declaração Rio + 20, em que os países reafirmaram, no seu
documento final intituado O FUTURO QUE QUEREMOS, o compromisso de alcançar o
desenvolvimento com a proteção do meio ambiente, outrora firmado na Rio 92.” 247
Outrossim, observando-se que o Desenvolvimento Sustentável foi posto de uma forma não
objetiva, aberta ou mais ideológica na declaração de Estocolmo, 1972, 248 na Declaração Rio 92 e
na agenda 21, sendo esta última referida por Edis Milaré como um código de boas intenções, por
conta disso, temendo-se que o princípio do Desenvolvimento Sustentável ficasse na inefetividade,
mas buscando repetir o sucesso dos objetivos do milênio, que trouxe grandes resultados ao
desenvolvimento sustentável entre 2000 e 2015, a partir da implementação dos 8 objetivos do
Milênio; em 2015, 193 Estados-Membros da ONU reunidos aprovaram a agenda 2030, composta
de 17 objetivos do desenvolvimento sustentável para serem implementados entre os anos de 2016
a 2030. Por esse caminho, esperava-se que os Estados, a sociedade e as forças produtivas tomassem
iniciativas jurídicas, técnicas e econômicas para construírem um mundo que estivesse embasado
na proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado na mesma medida que busca o
desenvolvimento social e econômico.249
No ordenamento Jurídico Brasileiro, o Desenvolvimento Sustentável está presente no Art.
225 da Constituição Federal, segundo o qual: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
245
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 Global. Disponível em:
https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global.html. Acesso em 10 jun.
2021.
246
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
1992. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf.
Acesso em 19 fev. 2021.
247
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10 jun. 2020
248
Renata Marques Ferreira e Celso Antônio Pacheco Fiorillo sustentam que o princípio desenvolvimento sustentável
estabelecido na Conferência de Estocolmo de forma mais genérica. “Todavia a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente criada em 1984 (Relatorio de Brundtland – 1987) ao estabelecer que o desenvolvimento sustentável, em
essência “ é um processo de transformação no qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a orientação
do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro a
fim de atender às necessidades e aspirações humanas, se dirigindo também à empresa privada, deixou explicitado que
“o “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer ao possibilidade
de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. FIORILLO, Celso Antônio Pachego, FERREIRA,
Renata Marques. Liberdade Economica ( Lei 13.874/19) em face do direito ambiental constitucional brasileiro:
o enquadramento juridico das atividades econômicas vinculadas ao desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro:
Lumens Juris, 2020, p. 54.
249
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 12ª ed. Atual. Ampliada. Revista dos Tribunais, 2020, p. 83.
85
3.1.5 Custo “zero” dos bens ambientais e o aparecimento das externalidades ambientais
Para entender o aparecimento das externalidades ambientais, antes de mais nada, é preciso
compreender o regime juridico dos bens ambientais. Assim, passa-se a sua compreensão.
Os bens ambientais são aqueles considerados úteis, escassos e imprescindíveis à a
sobrevivência humana. Por conta dessa última característica, nos mais diversos ordenamentos
jurídicos, os bens ambientais foram definidos como bens de propriedade comum a todos e de uso
livre251
No Brasil, o uso livre e comum dos bens ambientais, não permite que uma pessoa possa
apropriar-se, individualmente, atribuindo aos mesmos um preço pelo consumo. Esta norma restou
definida como direito fundamental no Art. 225 da Constituição Federal.
250
BARBIERI José Carlos. Desenvolvimento e ambiente as estratégias de mudanças e agenda 21. 15. Ed. São
Paulo: Vozes, 2014, p.32.
251
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.23.
86
Não se poderia imaginar que alguém pudesse apropriar-se da água, do ar, admitindo-se que
os demais só pudessem acessá-los pagando um preço. Por conta disso, embora os bens ambientais
sejam escassos por natureza, tendo em vista a sua finitude no planeta, a adminstração da escassez
ambiental não foi atribuída à ciencia econômica, a qual é responsavel pela administração da
escassez de bens úteis, escassos e qualificados pela acessibilidade a todos. 252
Nas explicações de Heron Gordilho e Paulo Pimenta:
Nem todo bem escasso pode ser qualificado como econômico. Ao lado desses, há bens
escassos em termos absolutos, por existir uma quantidade finita no planeta. Eles não estão
submetidos ao sistema de preços, como econômicos, ou seja, não integram o circuito
econômico. Tais bens são denominados bens livres. O que caracteriza é que a sua
utilização não implica em custos, não tendo, pois, valor econômico. Ademais, a maioria
deles está submetida a utilização não exclusiva, isto é, o uso por parte de um sujeito não
impede que seja utilizado por outro. (ex: a água, o ar, etc.)253
Visto que os bens ambientais são de propriedade comum e de uso livre254, não cabendo
imputá-lhes um preço, eles encontraram-se excluídos dos circuitos econômicos. Deste modo, os
problemas advindos da escassez dos bens ambientais ficavam sem solução. Assim, se por um lado,
o problema da escassez dos bens econômicos pode ser resolvido pelo controle de mercado, através
da lei da oferta e da procura, o mesmo não se pode dizer, em face dos bens ambientais, gerando
assim, as falhas de mercado, as imperfeições e as inoperacionalidades. 255 256
Com isso, pode-se dizer que a falta de atribuição de um preço aos bens ambientais ou
atuação da economia mensurando-lhes um preço, de acordo com as leis de mercado, permite que
252
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 364.
253
Ibidem, loc cit.
254
Parte da doutrina atribui o problema da escassez ambiental a não rivalidade. Os bens são de acesso livre a todos
(sem limite de uso), nao existindo portando uma relação de rivalidade. Não havendo ameaça pelo consumo dos demais,
uma vez que, a qualquer tempo o rival pode acessar, uns acabam consumindo mais desses bens essencias do que outros.
COSTA, Carlos; SILVA, Bruno. O princípio poluidor pagador: da eficiência econômica à realização da Justiça.
Revista de Direito da Cidade, v. 4, n. 2, 2012. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/9714. Acesso em 14 mai. 2022.
Com isso pode ocorrer, o Garrent Hardin, em 1968, em a “tragedia dos bens comuns” previu. Ao se deparar com o
acesso livre a bens comuns, em uma postura “free rider”, uns tenderão a buscar a maximização dos bens comuns em
beneficio próprio, deixando os demais a mingua. HARDIN, Garret. The Tragedy of Commons. Science, v. 162, 1968,
p. 1243-1248. Disponível em: http://www.garretthardinsociety.org/articles/art_tragedy_of_the_commons.html.
Acesso em: 05 dez. 2021.
255
NUSDEO, Fabio. Curso de Economia. 6ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.139.
256
GORDILHO; PIMENTA, op cit, loc cit.
87
os agentes econômicos os sobreutilizem, uma vez que não implica aos mesmos custos na sua
produção257.
Deste modo, ocorre o aparecimento das externalidades ambientais. Com as mesmas, o
empresário não computa os custos para a manutençao de um meio ambiente equilibrado, como por
exemplo, internaliza os custos de mão de obra ou insumo. É certo que com o aparecimento da
externalidade, o preço do produto não reflete o que deveria ser, já que a sociedade assume parte do
custo social, que deveria ficar a cargo do poluidor258.
Para Hans Wiesmeth, apesar de as unidades econômicas estarem cientes dos efeitos
negativos provocados pelas externalidades negativas e que estas geram um custo social, nem
sempre são compensadas financeiramente por meio de um mecanismo de preços. Assim sendo,
segundo o referido autor pode-se afirmar que a ausência de compensação pecuniária no sistema de
preços dos efeitos negativos de uma externalidade negativa permite um desequilíbrio nos
mecanismos de alocação de preços. 259
Claro que seria ideal que as empresas, sem qualquer coação ou força coativa, computassem
de forma consciente o custo da prevenção ou reparação aos danos ambientais, mas na maioria das
vezes não é o que ocorre.
Para verificar isto, não é preciso ir longe. É possível comparar o poder regulador do Estado
para prevenir a formação das externalidades ambientais, com a possibilidade de intervenção Estatal
para garantir a livre concorrência. A formação de trusts, cartéis ou quaisquer meios de reserva de
marcado demonstram que nem sempre os mercados são capazes de se autorregularem na solução
dos problemas deles decorrentes.
Em sentido contrário, situações como estas, apenas comprovam que mesmo havendo regras
estabelecidas, a fim de garantirem o autoajuste dos mercados, condutas humanas podem burlar as
regras de controle de mercado, tornando indispensável a atuação do Estado, como principal
garantidor da saúde do sistema econômico para evitar as referidas afrontas ao princípio da livre
concorrência, através da formulação de políticas públicas e normas jurídicas.
257
HANSJÜRGENS, Bernd. Umweltabgaben im Steuersystem. Baden-Baden: Nomos, 1992, p. 24.
258
BECHARA, Erika. Princípio do poluidor pagador. Enciclopédia Jurídica da PUCSP – Tomo Direitos Difusos e
Coletivos. 1ª ed. São Paulo: Pontificia Universidade Cátolica de São Paulo, 2020. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/334/edicao-1/principio-do-poluidor-pagador. Acesso em 14 mai. 2022.
259
WIESMETH, Hans, Umweltabgaben im Steuersystem. Baden: Nomos, 1992, p.24.
88
260
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.25-26.
261
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 364.
89
262
PIGOU, Arthur C. Economics of Welfare. 4. Ed. Londres: Macmillan & Co, 1932. Disponível em:
https://www.econlib.org/library/NPDBooks/Pigou/pgEW.html. Acesso em 06 dez. 2021.
263
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 31.
264
COESE, Ronald H. O problema do custo social. Tradução por Francisco Kummel Alves e Renato Cavoilla. The
Journal of law Economy, v. 3, p. 1-36, 1960. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3806050/mod_resource/content/1/custosocial.pdf. Acesso em 10 jul. 2021.
265
FILHO SILVA, Carlos Costa. O princípio poluidor pagador: Da eficiência econômica à realização da justiça.
Revista de Direito da Cidade, v.4, n.2, p. 111- 128, 2012. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/9714/7613 Acesso em: 17 mai. 2022, p. 120.
90
266
NASSAR, Luiz Henrique Andrade de. A aplicação das teorias de Cecil Pigou e Ronald Coese na análise das
externalidades ambientais: Um estudo sobre logística reversa no Estado do Paraná. Dissertação (Mestrado), Setor de
Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-graduação em desenvolvimento econômico. Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, 2017. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/53029/R%20-%20D%20-
%20LUIZ%20HENRIQUE%20DE%20ANDRADE%20NASSAR.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 10
mai. 2022.
267
MOREIRA, Danielle de Andrade. Responsabilidade ambiental pós-consumo. São Paulo: Letras Jurídicas, 2015,
p.35.
268
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 364.
269
Ibidem, loc cit.
91
custo interno de produção. A ideia é fazer a internalização dos custos externos somando-se aos
internos. A soma dos referidos custos implica no custo social. 270
Trazendo a distinção entre externalidades negativas e positivas, Erica Bechara sustenta que,
se por um lado, nas externalidades positivas os custos são repassados ao fornecedor, apesar dos
benefícios serem usufruídos pela sociedade, por outro lado, nas externalidades negativas os custos
das repercussões negativas causadas por terceiros-empreendedores são assumidos pela sociedade
ou pelo Estado.271
As externalidades positivas podem ser entendidas como bônus externos à atividade
empresarial repassados para terceiros, sem que estes tivessem que desprender de qualquer valor
para auferi-los, ao passo em que, as externalidades negativas são os efeitos negativos causados pela
ação de uma pessoa sobre a outra, abstendo-se de imputar ao causador destes os custos advindos
da sua conduta.
Não obstante, a referida autora afirma sobre a importância de concentrarmos nos desenlaces
jurídicos afetos às externalidades negativas ambientais, tendo em vista as consequências destas
para o meio ambiente e para a saúde humana. A mesma reforça, ainda, que as externalidades
positivas têm seu lugar de destaque no Desenvolvimento Sustentável. Neste sentido, as
externalidades positivas representam benefícios usufruídos pela sociedade, sem que esta precise
desembolsar qualquer valor a expensas da atividade econômica272.
Emília Soares sustenta que as externalidades são geradas pela interação entre os agentes
econômicos, os quais, sem nenhuma intencionalidade acabam gerando consequência positiva ou
negativa para terceiros. Por meio delas, dentro de uma relação de mercado, são impostos efeitos
externos a terceiros. 273
De outra parte, Vitor Carvalho Pinto define as externalidades como:
270
BECHARA, Erika. Princípio do poluidor pagador. Enciclopédia Jurídica da PUCSP – Tomo Direitos Difusos
e Coletivos. 1ª ed. São Paulo: Pontificia Universidade Cátolica de São Paulo, 2020. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/334/edicao-1/principio-do-poluidor-pagador. Acesso em 14 mai. 2022,
p.03.
271
Ibidem, p.04.
272
Ibidem, p.03.
273
SOARES, Emilia Salgado. Externalidades negativas e seus impactos no mercado. Orientador: Henrique
Fingermann. Coorientadora: Maria Cristina Siqueira de Souza Campos. Dissertação apresentada ao curso de Pós-
Graduação da FGV/EAESP. Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. São
Paulo, 1999. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/5362/1199901398.pdf.
Acesso em 11 mai. 2022, p.13.
92
Uma indústria que gera empregos e, assim contribui para a redução da pobreza e da
274
PINTO, Victor Carvalho. Direito urbanístico, plano diretor e direito de propriedade. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005, p. 53.
275
Apesar disso, recentemente fomos surpreendido com a saída da Fábrica Ford do Brasil, deixando muitos de
desempregados e afetando a indústria afim, não obstante os incentivos fiscais concedidos por década. VIECELLI,
Leonardo e PITOMBO, João Pedro. Saída da Ford deixa rastro de desemprego e devasta a economia de Camaçari.
Folha, 2022. Internet. em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/01/saida-da-ford-deixa-rastro-de-
desemprego-e-devasta-economia-de-camacari-
ba.shtml#:~:text=Rio%20de%20Janeiro%20e%20Cama%C3%A7ari%20(BA)&text=O%20an%C3%BAncio%20de
%20encerramento%20das,cascata%20na%20economia%20de%20Cama%C3%A7ari. Acesso em 20.jan. 2022.
93
276
BECHARA, Erika. Princípio do poluidor pagador. Enciclopédia Jurídica da PUCSP – Tomo Direitos Difusos e
Coletivos. 1ª ed. São Paulo: Pontificia Universidade Cátolica de São Paulo, 2020. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/334/edicao-1/principio-do-poluidor-pagador. Acesso em 14 mai. 2022,
p.03.
277
SIQUEIRA, Lyssandro Norton. Qual o valor do meio ambiente? Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017 .p. 36.
278
SOARES, Emilia Salgado. Externalidades negativas e seus impactos no mercado. Orientador: Henrique
Fingermann. Coorientadora: Maria Cristina Siqueira de Souza Campos. Dissertação apresentada ao curso de Pós-
Graduação da FGV/EAESP. Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. São
Paulo, 1999. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/5362/1199901398.pdf.
Acesso em 11 mai. 2022, p.16.
279
GORDILHO, José Heron Santana; MATIAS, Marcia Bittencourt Barbosa A logística reversa das embalagens
plasticas na interpretação do Superior Tribunal de Justiça, à luz do princípio poluidor pagador. Revista de direito e
Sustentabilidade, v. 7, n. 2, p. 01 – 18, jul/dez, 2021. Disponível em:
https://www.indexlaw.org/index.php/revistards/article/view/8141. Acesso em 18 mai. 2022.
94
preocupação para o mundo, já que podem provocar o esgotamento dos recursos ambientais e a
consequente impraticabilidade da vida na terra. Assim, torna-se necessária a elaboração de normas
jurídicas e econômicas como o Princípio Poluidor Pagador e a logística reversa, a seguir analisados.
Ambos incumbidos garantir o repasse os custos sociais ao poluidor para evitar o dano ambiental
ou, em outras palavras, evitar o aparecimento das externalidades ambientais, apesar do poluidor
pagador ter como destinatário o Estado.
Visto que o regime jurídico imposto aos bens ambientais, o uso comum e livre do povo e a
impossibilidade da atuação do controle da economia para administrar a escassez dos bens
ambientais permite a ocorrência das falhas de mercado ou externalidades ambientais, uma vez que
as atividades poluidoras não computam nos custos da produção, as despesas ou medidas necessárias
para, preferencialmente, evitar o dano ambiental ou repará-lo.
Observada ainda, a incapacidade de autoajuste dos mercados para sanar as referidas
externalidades, tendo em vista o seu objetivo de maximização de lucros, foram impostas
281
redescobertas jurídicas e econômicas.
Estas últimas, se materializaram em instrumentos economicos e juridicos como o poluidor
pagador previsto no artigo 4, VII da Lei 6938/1981282 e a logística reversa prevista na Lei
12.305/2010 283para que o máximo ecológico se traduzisse no máximo econômico.284
O Princípio Poluidor Pagador foi estabelecido como uma norma econômica, política,
jurídica e ambiental para que o poluidor arcasse com os custos sociais das despesas das medidas
administrativas, econômicas e normativas efetuadas pelo Estado para evitar o risco ou perigo de
dano ambiental, as quais, como visto no capítulo anterior não são internalizas pela produção, uma
281
Acompanhando o pensamento de Paulo Affonso Leme Machado é preciso, de algum modo conter a invasão à
propriedade pertencente a todos, tendo em vista o uso gratuito dos bens. Nas palavras do autor, aquele que vem lança
“os poluentes invade a propriedade pessoal de todos os outros que não poluem, confiscando o direito de propriedade
alheia”. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2019, p. 66.
282
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, 1981. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
283
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 10 jun. 2020.
284
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996 , p.113-116.
95
vez que é permitido o acesso livre ao bens ambientais por todos. Assim, o PPP, atraves da
introdução de mecanismos economicos(ex. Impostos ecologicos), normativos (ex. ato normativo
indicando qualidade ambiente) e administrativos (ex.licenciamento), visa promover a
internalização das externalidades ambientais, a fim de viabilizar a administração dos bens
ambientais naturalmente escassos e indispensáveis à sobreviência da vida humana e não humana
no Sistema Terrestre, assim como evitar as distorçoes de mercado.285
Vale alertar que, antes de tornar-se um princípio jurídico, o poluidor pagador foi instituído
como um princípio econômico para garantir equidade econômica ambiental. Dessa forma, como
visto, em uma reunião sobre recursos hídricos do Conselho de Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), por meio da aprovação da RECOMENDAÇÃO C (72),
128 de 26 de maio de 1972, o mesmo foi estabelecido como um princípio econômico internacional
destinado a corrigir as distorções no mercado, provocadas por políticas ambientais distintas, uma
vez que alguns Estados promoviam investimentos para a proteção do meio ambiente, enquanto
286
outros não possuíam qualquer proteção. Fato este, que configurava verdadeiros subsídios
ambientais. 287
Neste sentido, com o objetivo de permitir a “livre” concorrência no mercado, evitando-se
as distorções de preço dos produtos no mercado, tendo em vista, os investimentos ambientais
operacionalizados por alguns países, a fim de evitar danos ambientais, a OCDE formulou o
Princípio do Poluidor Pagador, para promover, a partir do estabelecimento de normas jurídicas
285
Apenas recapitulando, as externalidades ambientais se traduzem em repercussões positivas ou negativas que certas
ações provocam na esfera de terceiros, os quais, não possuem relação direta com a atividade desenvolvida. O terceiro
é afetado pela decisão ou ação de outrem, seja positiva ou negativamente, mas não possui um poder decisório sobre o
ato executado. MAKIW. Gregory N. Introdução à Economia. 1 ed. 3. Reimpre. Thomson Learning. São Paulo, 2007.
286
GORDILHO, José Heron Santana; MATIAS, Marcia Bittencourt Barbosa A logística reversa das embalagens
plasticas na interpretação do Superior Tribunal de Justiça, à luz do princípio poluidor pagador. Revista de direito e
Sustentabilidade, v. 7, n. 2, p. 01 – 18, jul/dez, 2021. Disponível em:
https://www.indexlaw.org/index.php/revistards/article/view/8141. Acesso em 18 mai. 2022, p.3.
287
A recomendação C (74) editada em 14 de novembro de 1974 pela OCDE, fica claro que o Estado, de uma forma
geral, está impedido por força do ppp de conceder subsídios ou subvenções. Os subsídios poderão ser concedidos aos
poluidores de forma excepcional. Assim, a assistência aos poluidores é possível, desde que os referido auxilios estejam
“limitados a períodos de transição, ou adaptado a situações regionais particulares, observado ainda o não
comprometiimento do equilíbrio concorrencial do mercado internacional.” OLIVEIRA, Adriano.; TUPIASSU, Lise;
GROS-DESORMEAUX, Jean-Raphael. Princípio do poluidor pagador: A análise da sua evolução sob a perspectiva
da organização para o desenvolvimento e cooperação econômica (OCDE). Duc In Altum - Cadernos de Direito, v.
11, n. 24, 2019. Disponível em: https://revistas.faculdadedamas.edu.br/index.php/cihjur/article/view/1139. Acesso em
01 mai. 2022, p. 246 e 247.
96
pelos Estados, a internalização dos custos ambientais das externalidades negativas produzidas
pelos poluidores.288
Vale salientar que somente em 1973, o Princípio Poluidor Pagador apresentou um conteúdo
normativo mais definido, uma vez que, através da Recomendação do Conselho nº 75/436, de 3 de
março, relativa à imputação dos custos e à intervenção dos poderes público no que tange ao meio
ambiente, a OCDE editou critérios normativos mais específicos para torná-lo mais exequível, tendo
em vista a dificuldade de identificação de elementos essenciais para a sua efetividade, a exemplo
da identificação do poluidor em uma cadeia múltipla de agentes poluidores.289
Sem muitas delongas, pode-se afirmar que o poluidor pagador tem a finalidade de promover
a correção das externalidades ambientais, determinando que os agentes contaminadores
internalizem os custos ambientais necessários, que antes ficavam com a sociedade e o Estado, para
manter um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações atual e futura.
Para Cristiane Derani, poder-se-ia afirmar que a norma do poluidor pagador vem
proporcionar a “privatização das perdas e socialização dos lucros”. 290 Assim, os custos de medidas
despoluidoras ou reparatórias que antes ficavam com a sociedade são repassados aos
empreendedores, pois não é equitativo social nem economicamente que estes fiquem com os bônus,
exclusivamente, repassando os prejuizos ambientais à sociedade, personificada pelo Estado.
Em uma análise do item 2291 e 4292 da Recomendação ora referida, pode-se afirmar que,
conforme aponta Heron Gordilho e Paulo Pimenta, o poluidor pagador surgiu de uma função
288
ANDRADE, Daniele Moreira; LIMA, Leticia Maria Rego; MOREIRA, Isabel Freire. O princípio do poluidor
pagador na jurisprudência do STF e do STJ: uma análise crítica. Veredas do Direito, v.16, n 34 p.367-432, jan./abr.
2019. Disponível em:
http://revista.domhelder.edu.br/index.php/veredas/article/view/1341#:~:text=O%20reconhecimento%20da%20impor
t%C3%A2ncia%20e,socioambientais%2C%20com%20o%20objetivo%20de. Acesso em 14 mai. 2022, p. 370.
289
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 96.
290
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p. 141-143.
291
Item 2 da Recomendação:
“Os recursos ambientais em geral são limitados e o seu uso na produção e nas atividades de consumo pode conduzir à
sua deterioração. Quando o custo desta deterioração não é adequadamente levado em conta no sistema de preços, o
mercado falha ao refletir a escassez de tais recursos em ambos os níveis, nacional e internacional. Medidas públicas
são então necessárias para reduzir a poluição e para alcançar uma melhor alocação de recursos assegurando que os
preços dos bens dependendo da qualidade e/ou da quantidade dos recursos ambientais reflita rigorosamente sua relativa
escassez e que os agentes econômicos interessados reajam adequadamente. OCDE. Recommendation of the Council
on Guiding Principles concerning International Economic Aspects of Environmental Policies. Disponível em:
https://legalinstruments.oecd.org/public/doc/4/4.en.pdf. Acesso em 08 out. 2021.
292
Ao abordar o conceito do PPP, afirma o Item 4:
“O princípio a ser utilizado para a alocação dos custos da prevenção da poluição e do controle das medidas que favorece
o uso racional dos recursos ambientais escassos e evita distorções no comércio internacional e investimentos é assim
denominado de “Princípio do Poluidor- Pagador”. Este princípio significa que o poluidor deve suportar as despesas
97
preventiva, com pretenções de “estimular uma atuação protetora do meio ambiente, harmonizando
os custos da produção, para evitar distorções nos preços dos produtos no âmbito internacional.”293
Porém, mais tarde, a referida organização amplia o conceito do poluidor pagador que passa
a integrar não apenas a contabilização dos custos ambientais para evitar o dano ambiental, com fins
de proporcionar equilíbrio econômico, como também amparo no entendimento de Daniele
Moreira294 e Etal e de Antônio Herman Benjamin de Vasconcelos 295, o PPP vem exteriorizar os
custos necessários à reparação do dano ambiental. 296 Neste mesmo caminho, converge Heron
Gordilho e Paulo Pimenta, para os quais, visando combater as poluições acidentais, foram
agregadas outras funções ao poluidor pagador, em 1988, além da preventiva, a partir da
Recomendação do Conselho C (89) da OCDE. 297
Por esta ótica, o PPP passa, também a ter a função de promover a reparação dos danos
ambientais pela atividade poluidora, levando em conta indenizações de um modo genérico e
reparação às vítimas. Alerta os referidos autores que, a partir de 1991, o agente contaminador torna-
se responsável em arcar com todos os custos da poluição, no sentido de repará-la e promover todas
as medidas para preveni-la.298
Uma das primeiras menções sistemáticas desse princípio, que determina a distribuição dos
custos ambientais, com o objetivo de promover a prevenção e a reparação dos danos ambientais,
foi a nível da Comunidade europeia.299 Neste sentido, o Princípio do Poluidor Pagador foi
relativas às medidas acima mencionadas, emanadas de autoridades públicas para que o meio ambiente permaneça num
estado aceitável. Em outras palavras, o custo dessas medidas deverá repercutir nos custos dos bens e serviços que estão
na origem da poluição pelo fato de sua produção e/ou consumo. Tais medidas não devem ser acompanhadas de
subsídios que criariam distorções significantes no comércio e investimento internacional”. OCDE. Recommendation
of the Council on Guiding Principles concerning International Economic Aspects of Environmental Policies.
Disponível em: https://legalinstruments.oecd.org/public/doc/4/4.en.pdf. Acesso em 08 out. 2021.
293
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 365.
294
ANDRADE, Daniele Moreira; LIMA, Leticia Maria Rego; MOREIRA, Isabel Freire. O princípio do poluidor
pagador na jurisprudência do STF e do STJ: uma análise crítica. Veredas do Direito, v.16, n 34 p.367-432, jan./abr.
2019. Disponível em:
http://revista.domhelder.edu.br/index.php/veredas/article/view/1341#:~:text=O%20reconhecimento%20da%20impor
t%C3%A2ncia%20e,socioambientais%2C%20com%20o%20objetivo%20de. Acesso em 14 mai. 2022.
295
BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos e. O princípio do poluidor-pagador e a reparação do dano ambiental.
In BENJAMIN, Antonio Herman V. (coord.). Dano Ambiental: Prevenção, Reparação e Repressão. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993, p. 226-236.
296
ANDRADE, op cit, p.370.
297
GORDILHO; PIMENTA, op cit, p. 366.
298
GORDILHO; PIMENTA, op cit, p. 367.
299
BUHRING, Marcia Andreia. Poluidor-Pagador: Princípio Estruturante Das Grandes linhas orientadoras do regime
europeu de responsabilidade ambiental. In: CALGARO, Cleide; REZENDE, Elcio Nacur; TYBUSCH, Jerônimo
Siqueira (coords.). Direito e Sustentabilidade I. Florianópolis: CONPEDI, 2020. Disponível em:
98
concebido com um princípio constitucional, também inserido no Art. 130R do Ato Único Europeu
de 1986, que tinha o objetivo de orientar a Política Comunitária Europeia do meio Ambiente.
Mesmo antes de vê-se inserido no ato Único Europeu, aliás por várias décadas anteriores,
o poluidor pagador foi contemplado por diversas recomendações e programas de ação em matéria
de meio ambiente. 300
No âmbito normativo Internacional, o poluidor pagador foi incluído nos artigos 13 e 16 da
Declaração Rio do Meio Ambiente, em 1992, cuja literalidade transcreve-se:301
ambiente, de acordo com as normas técnicas cabíveis. No âmbito inconstitucional está previsto no
Art. 4, VII, da Lei 6938/1998, in verbis.
O PPP é considerado, tanto pela doutrina nacional quanto pela internacional, como um dos
principais responsáveis pela responsabilização pós-consumo.303
A doutrina tem afirmado que o Princípio do Poluidor Pagador pode ser confundido com o
princípio da responsabilidade. Porém, para Talden Farias, na esteira do pensamento de Paulo
Bessa304 esse argumento é falseável, uma vez que, “o seu objetivo não é recuperar um bem lesado
e nem criminalizar uma conduta lesiva ao meio ambiente, e sim afastar o ônus econômico da
coletividade e voltá-lo à atividade econômica utilizadora de recursos ambientais”. 305
Assim, adotando uma postura ética equitativa, o poluidor pagador, em sua consideração
etimológica, vem cuidar para que os agentes econômicos causadores da poluição se
responsabilizem pelas repercussões negativas causadas ao meio ambiente em consequência dos
seus atos, evitando que a sociedade, por meio do Estado, arque com estes custos.
Um ponto importante, que merece deixar inequívoco no nesse estudo é a relação do
princípio poluidor pagador com seu principal destinatário: o Estado. Neste sentido, como já foi
dito, o princípio poluidor pagador destina-se a obrigar ao Estado a criar normas para combater as
iniquidades ambientais. Essa condição assegurada ao Poder Executivo e Legislativo ficou bem
evidente na ora mencionada recomendação n. 128 de 26 de maio de 1972, item 4 da OCDE. Para
a OCDE, “ Este princípio significa que o poluidor deve suportar as despesas relativas às medidas
acima mencionadas, emanadas de autoridades públicas para que o meio ambiente permaneça num
303
MOREIRA, Danielle de Andrade et al. Responsabilidade Ambiental pos consumo à luz do princípio poluidor
pagador: uma análise do nível de implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
prevista na política nacional de resíduos sólidos. Revista Direito da Cidade, v.8, n. 4, p. 1442- 1467, 2016. Disponível
em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/25492 Acesso em: 20 jun. 2020.
304
ANTUNES, Paulo de Bessa. Política nacional do meio ambiente – PNMA: Comentários à Lei 6.938, de 31 de
agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 37.
305
FARIAS, Talden. Princípios gerais do direito ambiental. Prim Facie, v. 5, n. 9, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/7206. Acesso em: 17 mai. 2022, p. 137-138.
100
estado aceitável.”306 Assim, restou estabelecido pela OCDE, o dever de os Poderes Públicos
normatizarem para a concretização do PPP.
De acordo com a doutrina Portuguesa de Gomes Canotilho, a Constituição pode instituir
dois tipos de normas, as quais se subdividem em: (I) normas tipos e (I) normas de Direitos. Se por
um lado as normas tipos são aquelas que estabelecem deveres para os Estados, esse é o caso do
PPP, por outro lado as normas Direitos consistem em normas asseguradoras de Direitos subjetivos
individuais ao ambiente a o respectivo direito de acesso ao Direito e aos tribunais para obter
cumprimento de direitos. O doutrinador vê a importância de os interpretes compreenderem
adequadamente a distinção entre as duas mencionadas manifestações normativas para garantir uma
tutela ambiental efetiva. 307
Posto isso, política comunitária Europeia do Meio Ambiente atentou-se para o fenômeno
da “poluição normativa.”. Em uma explicação simples, a poluição normativa não é nada menos do
que o mau legislador. Ela demonstra um legislador displicente ou omisso na elaboração na norma
jurídica.
Para Alexandra Aragão, a “poluição normativa” consiste naquele ato normativo elaborado
pelos Poderes Legislativos ou Executivos competentes, contudo o seu conteúdo ou modo de
aplicação não reverbera o princípio do poluidor pagador. Por conta da “poluição normativa”, os
atos normativos editados pelo Executivo ou Legislativo acabam sendo verdadeiras licenças para
poluir. Como exemplos de poluição normativa constam: a) elaboração de atos normativos com
conceitos imprecisos; b) criação de atos normativos, sem mencionar os seus destinatários; c) ampla
admissão de exceções em relação aos casos concretos; d) incertezas da aplicação da lei no tempo,
bem como, adiamento de vigência de lei; d) parca aplicação das sanções. 308
Assim, a poluição normativa ocorre, a partir da elaboração pelos Estados de atos normativos
que são de difícil aplicação, uma vez que eles não deixam claro quem é o seu destinatário ou seus
deveres ou ainda as consequências do descumprimento da norma.
306
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 60.
307
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Publico do Ambiente: Direito constitucional e Direito
administrativo. Curso promovido pelo CEDOUA e a Faculdade de Direito de Coimbra, 1995, p. 25).
308
ARAGÃO, op cit, p.51-52.
101
A referida poluição, pende pela ineficácia do poluidor pagador, já que atos normativos
imprecisos favorecem que os poluidores inescrupulosos façam interpretações contra a tutela
ambiental e favorável ao próprio interesse.309
A nosso ver, compreender o rol o constante no artigo 33, I-VI, da PNRS como enunciativo
é uma forma de poluição normativa, pois particulariza por meio de ato legislativo amplo as
atividades ou produtos sujeitos a logística reversa obrigatória favorecendo poluidores, quando essa
função deveria ter sido feita pelo Poder Executivo, por meio de ato normativos concreto, uma vez
que, esse Poder é o responsável em garantir a aplicabilidade da norma abstrata.
Apesar dos Tribunais Brasileiros não terem o devido cuidado em relação “poluição
normativa”, os tribunais de Justiça Europeus tem proferido entendimentos contra este tipo de
poluição310.
Em relação controle judicial sobre os atos emanados pelo Poder Executivo com base no
princípio poluidor pagador, segundo a doutrinadora Portuguesa Alexandra Aragão, não há qualquer
impedimento para referido controle. Entretanto, esclarece a autora que a doutrina majoritária
Européia compreende que o ppp possui uma natureza política, ao invés de jurídica. Neste sentido,
para autora assinalada acompanhando a doutrina de Auke Haasgman, é possível anular atos
abusivos editados pelo executivo e legislativo com fundamento no PPP, desde que este ato esteja
eivado de desvio de poder e excesso de discricionariedade 311.
Por um outro lado, no que concerne a aplicabilidade direta do PPP, para referida autora, o
principio poluidor pagador não é aplicável diretamente, pois falta elementos em sua norma, que
lhe permita a sua aplicação independente de intermediação legislativa no caso concreto (ex.
explicitação de destinatário, definição da obrigação).
Essa, também, segundo a autora, é a posição seguida pelos Tribunais de Justiça Europeus
na efetivação da Política Comunitária Europeia do Meio Ambiente. Esse entendimento deve-se em
razão da força normativa dos Princípios de direitos fundamentais, sob a égide do
constitucionalismo contemporâneo, como visto no primeiro capítulo.
Neste sentido, o PPP depende de que sejam elaboradas medidas concretizadoras, através de
instrumentos normativos ou econômicos para que lhe seja garantido efetividade. Cabe ainda, alertar
309
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 52 et seq.
310
Ibidem, p. 51 et seq.
311
Ibidem, p.71.
102
312
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.71, 72.
313
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 13ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018.
314
Ibidem, p.165.
315
Ibidem, p. 87.
316
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Publico do Ambiente: Direito constitucional e Direito
administrativo. Curso promovido pelo CEDOUA e a Faculdade de Direito de Coimbra, 1995, p. 25.
317
Nas palavras de José Levi Mello do Amaral Junior “Canotilho coloca várias dificuldades ao reconhecimento de
um direito subjetivo à legiferação e conclui que a tarefa da realização constitucional é uma tarefa politco normativa de
todos órgão de direção politica e de todos os cidadão com vontade de constituição. JUNIOR AMARAL, José Levi
Mello. Constitucionalismo e conceito de Constituiçao. Revista de Direito Publico, vol. 18, n. 98, p.673-723, mar/abr,
2021. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/5583 Acesso em: 12 mai
2021, p. 715.
103
Ainda que, para garantir uma devida proteção ao meio ambiente, o Direito ambiental tenha
se consagrado como um conjunto de normas jurídicas destinado a regular a relação entre a
sociedade, os governos, as empresas e o meio ambiente, 319 há quem confunda e procure reduzir,
sobretudo em tratando-se de PPP, um princípio a outro, como é caso de pretender resumir o
princípio da prevenção ou precaução ou a responsabilidade civil ao PPP, cujo instituto tem
preceitos próprios e fundamentais para garantir uma efetividade ou eficácia da tutela do meio
ambiente.
Alexandra Aragão sustenta que o PPP:
tem sido sujeito a muitas interpretações, umas mais defensáveis que outras. Desde
intepretações que se transportam para o campo penal, até aos que ainda lhe dão uma
interpretação que o identifica como princípio da responsabilidade. Em Direito civil, o
conteúdo doutrinal atribuído ao PPP tem evoluído muito. 320
Assim, de acordo com parte da doutrina, observa-se que têm ocorrido avaliações
epistemológicas inadequadas quanto aos aspectos normativos do PPP, tendo em vista, as
funcionalidades apresentadas pelo mesmo, as quais, podem estar presentes também em outros
institutos, a exemplo menciona-se a função da prevenção que existe no PPP e na responsabilidade
civil ambiental. Assim, para avançar na avaliação do problema apresentado, justifica-se a
identificação dos equívocos doutrinários que ocorrem com o poluidor pagador e com os demais
institutos presentes no macro sistema ambiental.
Afinal de contas, nos passos em que anda o avanço da poluição é preciso garantir uma
318
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 213 et seq.
319
LEITE, R. M. de O. Os princípios do poluidor pagador e da precaução. Consultor Jurídico, 2009. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2009-set-17/principios-poluidor-pagador-precaucao-direito-ambiental. Acesso em 17 nov.
2021.
320
Ibidem, p. 105-106.
104
efetividade aos institutos que compõem o Direito Ambiental, sobretudo aos que se referem ao
controle da poluição. Em Direito Ambiental, que lida com matérias de suma importância para a
sobrevivência do sistema ecológico, não se acredita na introdução de normas que impliquem em
bis in idem. Cada norma extraída das relações sistêmicas e ecológicas possui sua relevância para a
efetivação do princípio do equilíbrio ecológico.
Deste modo, para assegurar uma devida tutela ao meio ambiente, cabe ao intérprete, com
base no conhecimento dos aspectos normativos que envolvem cada instituto do sistema ambiental
macro, diante de uma hipótese normativa apresentada, identificá-los e proceder com a devida
aplicação. Assim, de antemão, já não dá para reduzir o Princípio Poluidor Pagador ao princípio da
responsabilidade civil, somente porque ele apresenta funções similares, a exemplo da função
preventiva ou reparatória, nem mesmo resumir esse princípio, que possui grande relevância, para
a eliminação ou redução das externalidades ambientais ao instituto da prevenção.
Em relação a identificação das funções no PPP, destaca-se que Heron Gordilho, Paulo
Pimenta321e Alexandra Aragão 322 descrevem 3 funções para o mesmo, que são; função distributiva,
função reparatória e função preventiva, ao passo em que, Nicolas de Sadeleer atribui 4 funções
para o PPP, a saber: “função de integração econômica, função redistributiva, função preventiva e
função curativa” 323
Em que pese a importância de saber distinguir a incidência normativa dos institutos que
compõem o macro sistema de direito do ambiente, buscando entender os aspectos normativos e
semânticos de cada um deles, com o escopo de possibilitar a eficácia do princípio fundamental do
equilíbrio ambiental ecológico, é necessário compreender que os referidos institutos, normalmente
não se aplicam de forma isolada. 324
O Princípio Poluidor Pagador, por exemplo, a depender da hipótese normativa incidente,
interage com o princípio da prevenção, precaução ou ainda da responsabilidade civil. Neste sentido,
321
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 368.
322
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 105-111.
323
SADELEER, Nicolas de. Le principes du pollueur-payeur, de prévention et de précaution : essai sur la genèse
et la portée juridique de quelques principes du droit de l'environnement. Bruxelas: Bruyllant, 1999, p. 65.
324
FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser; SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. Microsssistema do direito
ambiental: formação e operabilidade. Scientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 2, p.148-184, jul.. Disponível em:
https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/view/27547 Acesso em: 17 mai. 2022, p. 166-172.
105
o PPP, norma-fim que é, tem assegurada a sua efetividade normativa por meio de outras normas,
princípios ou regras, tais como: a imposição, a estruturação e a operacionalização da logística
reversa obrigatória, visando a garantia da prevenção do dano ambiental, nos termos do Art.33 I-
VI, da Lei 12.305/2010, uma vez reconhecidos os danos que podem ser causados ao meio ambiente,
pelo acondicionamento inadequado dos produtos, constantes naquele artigo.
A propósito Amós Ribeiro Costa mostra que:
Apesar de o poluidor pagador integrar nele algumas funções que lhe permitem uma
confusão doutrinária com alguns institutos que compõem o sistema macro ambiental, a exemplo
do instituto da prevenção e da precaução, é preciso tomar cuidado e compreender cada uma das
funções presentes nos institutos afins para que possa assegurar uma devida proteção ao meio
ambiente.
Assim, é importante que os aplicadores do direito busquem compreender os aspectos
semânticos, normativos e doutrinários de cada instituto, a fim de não incorrer em uma inefetividade
ou ineficácia do princípio fundamental do equilíbrio ecológico.
Debruçando-se sobre o instituto poluidor pagador, pôde-se perceber que o mesmo consiste
num mecanismo de imputação de custos pela prevenção, eliminação e reparação do dano
325
SOUZA, Amós Ribeiro de;COSTA, João Francisco Wanderley da. Princípio Poluidor Pagador: Características
e sua aplicação. JusBrasil, 2017. Internet. Disponível em:
https://amosribeiro.jusbrasil.com.br/artigos/516891395/principio-poluidor-pagador-caracteristicas-e-sua-aplicacao.
Acesso em 15 set. 2021.
106
ambiental” 326ao agente poluidor. Numa linguagem comum, mexe com o bolso dos empresários,
imputando aos mesmos os custos necessários para evitar ter de indenizar ou ressarcir as vítimas do
dano ambiental. Assim, o poluidor pagador tem finalidade de repassar os encargos da poluição do
agente econômico ao agente contaminador.
A partir dessa função assinalada, surge a vocação distributiva do poluidor pagador, pois o
mesmo tem a vocação de repartir o ônus/ encargos da poluição com os agentes causadores da
mesma, tanto preventivamente quanto em sentido reparatório.
Por meio da função distributiva repassando os custos das despesas relativas ao controle da
poluição aos agentes causadores da mesma, o poluidor pagador, além proporcionar equidade
econômica evitando as distorções econômicas, possibilita justiça social. Assim, se o PPP for
aplicado com isonomia a todos, haverá o desestímulo do uso de produtos poluentes, já que estes
possuirão um valor mais elevados do que os produtos não poluentes. Desta maneira, ocorrendo,
os poluidores sentiram-se incentivados a adotar tecnologias limpas para reduzir os custos da
produção.327 Surge então a função incentivadora do PPP. 328
Smet observa que da função distributiva, originou-se a dimensão especial do PPP,
denominada de princípio do utilizador pagador (PUP) que consiste na atribuição da verdade de
preços ou da recuperação integral dos custos329.
Em uma mudança de paradigma, em razão da vocação distributiva, já não caberia ao Estado
absorver as consequências negativas ou externalidades negativas causadas ao meio ambiente pelos
agentes poluidores, quaisquer que sejam.
Muito pelo contrário, todos os encargos que seriam operacionalizados pelo Estado para
reparação, prevenção ou indenização das vítimas, em decorrência da atuação da atividade
econômica, deveriam serem repassados ao contaminador ambiental para corroborar com a proteção
ambiental. Assumindo custos, qualquer que seja a modalidade (preventiva ou reparatória),
326
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 367.
327
GORDILHO, Heron José Santana; MATIAS, Marcia Bittencourt Barbosa A logística reversa das embalagens
plasticas na interpretação do Superior Tribunal de Justiça, à luz do princípio poluidor pagador. Revista de direito e
Sustentabilidade, v. 7, n. 2, p. 01 – 18, jul/dez, 2021. Disponível em:
https://www.indexlaw.org/index.php/revistards/article/view/8141. Acesso em 18 mai. 2022, p. 6.
328
GORDILHO; PIMENTA, op cit, p. 373-374.
329
SMETS, Henri. Le Principe Pollueur Payeur, un Principe Économique Erigé en Principe de Droit de
l'Environnement? Revue de Droit International Public, n. 2, Avril/juin 1993, p.465.
107
empresários buscariam meios ou mecanismos para não agredirem o meio ambiente, a fim de reduzir
os referidos custos.
Em relação a distribuição dos custos, não há nada que impeça a transferência dos custos
sociais ao consumidor, que antes ficavam com a sociedade, acrescendo ao valor do bem
comercializado no mercado, os custos das medidas tomadas para prevenir ou reparar danos
ambientais. É até interessante esse repasse, pois, os produtos que não são pró-ambiente teriam seu
custo mais elevado, levando-se em conta, aqueles que não possuem essa característica. Assim,
ocasionaria a redução do uso de produtos poluentes pelos consumidores, atingindo a função
preventiva da norma. 330
Outro ponto importante a esclarecer, é que em sua a função distributiva, o poluidor não
pode ser entendido como um mero princípio que cujo escopo principal é atribuir custos. Ele não
funciona como um mero atribuidor de custos, visando compensar a sociedade pelos gastos
empreendidos pela mesma para realizar a prevenção ou reparação do bem ambiental. Isto porque
se assim fosse, poderia haver quem pensasse, que é possível pagar para ter o direito de poluir.
Assim, pode-se afirmar que o PPP não é pagar para poluir. Com função prioritária, de
garantir o repasse dos custos da prevenção ao agente contaminador, o poluidor pagador não tem
uma função de compensar gastos efetuados pelo Estados, a favor da sociedade.
Discorrendo em minúcias, o poluidor pagador, com uma finalidade essencialmente
preventiva de proteger o meio ambiente, oferece repudia a qualquer tipo de interpretação que se
fundamente no Direito de pagar para poluir.
Dito isto, a responsabilização financeira e material é no sentido de prevenir o dano
ambiental. Por esta ótica, a função distributiva garantindo o repasse das despesas materiais e
financeiras aos agentes poluidores, é associada, primeiramente, ao conceito da prevenção do dano
ambiental. Para Canotilho, o “PPP está na gênese do principio da precaução ou potencial
poluidor.”331
Conquanto, se não for possível a exteriorização dessa última função, entra a função
reparatória, segundo a qual, os poluidores procederam com a internalização dos custos necessários
para reparar o dano ambiental ocorrido.
330
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 375.
331
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Publico do Ambiente: Direito constitucional e Direito
administrativo. Curso promovido pelo CEDOUA e a Faculdade de Direito de Coimbra, 1995, p. 25.
108
Assim, com amparo em uma justiça distributiva, ao imputar-se os custos necessários aos
agentes contaminadores para resguardar ou reparar os bens ambientais, reafirma-se que é possível,
pensar que a fim de livrar-se dos custos das ações e medidas, os referidos poluidores buscam
tecnologias que não agridam o meio ambiente.
Contudo, isso somente é possível, se a medida for aplicada a todos e identificado o custo
real dos bens ambientais. Para garantir a eficácia da função distributiva do PPP, torna-se imperativo
garantir que sua aplicação recaia sobre todos os agentes poluentes, a fim de promover justiça social
e equidade econômica. Por isso, a é importância identificar os custos, agentes, formas de
manifestação da poluição e, sobretudo, compreender seu ponto de equilíbrio ótimo.
A despeito do referido equilíbrio ou ótimo de Pareto, cuja teoria teve uma relevância para
a evolução da economia do bem-estar, já que não considera apenas a soma de utilidades individuais,
sem considerar valores intrínsecos como critério de eficiência econômica, o clássico ótimo de
Pareto “indica a existência de uma situação ótima para todos os envolvidos em uma situação, se
um indivíduo optar em sair deste “ótimo” para obter maiores ganhos, outra pessoa poderá ter
perdas.”332
O interessante da teoria de Pareto está no critério utilizado para encontrar o equilíbrio
econômico. O respeito a intersubjetividade e as diferenças torna a teoria de Pareto aceitável, no
contexto do pluralismo democrático, conjecturado pela Constituição de 1988. Um critério
econômico só pode ser utilizado, se não piora a situação de quem encontra-se bem. Não se pode
melhorar a situação de uma pessoa e piorar de outra. Tanto é assim, que Pareto faz uma crítica a
teoria utilitarista de Jeremy Bentham. Para este autor, a decisão moralmente correta é aquela que
traga prazer para a maioria dos afetados por esta decisão. 333
Indo contra filosofia Benthamiana, Pareto entende que uma decisão somente é viável ou
aceitável, se não piorar a situação de quem está em melhores condições. Em uma sociedade
democrática ou refletindo-se sobre direitos de 3ª dimensão (transindividuais), uma interpretação
baseada no equilíbrio de Pareto permite alocar interesses de grupos de interesses distintos ( a ex.
332
GIACOMELLI, Giana Silva. A teoria do Bem Estar da Origem às criticas. Revista de Desenvolvimento
Econômico,vol. 2 - n. 38, p. 6-27, 2017, p. 15.
333
PARETO, V. Manual de Economia Política. Tradução de João Guilherme Vargas Netto. São Paulo: Nova
Cultural, 1996, p. 174.
109
do interesse das classe mais favorecidas em relação as mais favorecidas) em um mesmo espaço,
defendendo interesses comuns, como é o caso da defesa por um ambiente saudável.334
Dito isto, é importante ficar claro que a teoria de Pareto é bastante utilizada com o objetivo
de encontrar o ponto de equilíbrio para a eliminação das externalidades ambientais, oriundas da
poluição, considerando questões valorativas pertencentes a grupos sociais e econômicos com
interesses distintos.
Em sendo assim, o ponto de equilíbrio do critério de Pareto, tendo em vista a
sustentabilidade ambiental, justamente é aquele que entrega bens econômicos ao mesmo tempo em
que não põe em risco o equilíbrio ambiental.
Tendo em conta, que podem ser identificadas diversas formas de contaminação ao meio
ambiente, parece que se a norma descrevesse com exatidão a conduta, os agentes ou até mesmo os
liames causais, possivelmente ocorreria uma inefetividade ou uma ineficácia da norma jurídica.
Ana Maria Oliveira Nudseu explica que os cientistas ecológicos estão tentando sempre
desenvolver técnicas que possam aferir o valor do meio ambiente. As técnicas desenvolvidas
buscam avaliar a capacidade de resiliência do ecossistema. “Nem sempre é possível decidir-se pela
preservação de um recurso natural com base no seu valor econômico”. 335
Por isso, é preciso que
sejam desenvolvidos métodos que promovam a ponderação de interesses econômicos,
ecossistêmicos e valores ecológicos e socioculturais.336
334
SEN, A. K. Sobre ética e economia. Tradução: Laura Teixeira Motta. Revisão: Ricardo Doninelli Mendes. São
Paulo: Companhia das letras, 1999.
335
NUDSEU, Ana Maria de Oliveira. O direito Ambiental e Economia. Curitiba: Juruá, 2018, p. 38.
336
Ademar Romeiro enuncia 3 métricas de valoração, que se dividem em 3 dimensões: ecológica, sociocultural e, se
possível, econômica. A dimensão ecológica, tendo em conta os conhecimentos científicos, avaliam-se as contribuições
de um suposto projeto econômico ao ecossistema como um todo. Aí tem-se avaliada a capacidade de fornecimento de
serviços ecossistêmicos, considerando a intervenção humana. Em posse de uma avaliação ecológica, adentra-se na
dimensão econômica, responsável em atribuir um valor monetário aos serviços de um dado ecossistema. Ademais, a
partir da dimensão sociocultural, avalia-se os aspectos socioculturais do ecossistema para sociedade, através dos meios
participativos. ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Economia ecológica e valoração da natureza. Leituras de Economia
Política, v. 20, p. 149-161, dez. 2012/jul. 2013. Disponível em:
https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/artigos/3309/Prim%20secao%20Artigo%206.pdf. Acesso em 11 mai.
2022.
110
337
NUDSEU, Ana Maria de Oliveira. O direito Ambiental e Economia. Curitiba: Jurua, 2018, p. 38.
338
ALEXY, Robert. A estrutura das normas de direitos fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva São
Paulo: Malheiro, 2008.
111
no nível desejável pelas autoridades. Não se fala de “nível zero” de poluição, tendo em vista a
relevância que as atividades econômicas possuem para o funcionamento dos sistemas político,
econômico, social e ambiental. Com isso, dificilmente pode-se conseguir estabelecer, nos dias de
hoje, o nível zero de poluição.339
340
Não há como desvencilhar disso como pretendem os ecologistas profundos. Assim,
parece utópico, de uma forma simples, querer desmerecer a relevância do desenvolvimento
tecnológico ou da representatividade das atividades econômicas para o funcionamento dos sistemas
socioeconômico e ambiental. Afinal de contas, é a atividade econômica uma das responsáveis pelo
custeio das atividades estatais para manter a vida social organizada, por exemplo, sem ocorrência
de Estados paralelos, como o diligenciado pelo tráfico de drogas.
É através dos tributos arrecadados pelas empresas que é possível oferecer saúde e educação
para quem não pode pagar. Outro argumento mensurável são as atividades econômicas que
oferecem a maior capacidade de empregabilidade, garantindo assim, uma vida digna à imensa
população mundial.
Pretendendo demonstrar que o pensamento dos ecologistas profundos parece distante da
realidade, vale lembrar que os avanços tecnológicos na seara da saúde têm garantido não apenas
longevidade, mas também qualidade vida à população humana e não humana.
Na área econômica, a tecnologia assegurou o funcionamento mínimo dos sistemas
político-social e econômico, durante uma crise pandêmica da Covid-19, por exemplo. Os avanços
tecnológicos, com acesso a UTIs e a telemedicina, 341 asseguraram que uma grande parte da
população mundial não desfalecesse.
Sendo assim, ainda que a tecnologia possa nos trazer problemas sérios como os ambientais
339
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 156.
340
Para Elisaide Trevisam e Julio Braga Trevisan a ecologia profunda, segundo Arnne Naess é um o movimento que
posiciona igualitariamente o ser humano em relação à natureza. Assim, considerando a relação sistêmica do planeta
terra, em uma visão biocentrica, Naess sustenta que a natureza possui um valor próprio (inerente), por isso não pode
instrumentalizada, à favor dos interesses humanos. Na concepção dos autores referidos, o filosofo apenas prega
responsabilidade do homem com a capacidade de resiliência do meio ambiente. À luz disso, o interesse individual,
em uma visão utilitária, cederia pelo todo. TREVISAM, Elisaide; TREVISAM BRAGA, Julio; TREVISAM BRAGA,
Isaque. Da ecosofia à ecologia profunda: por um novo paradigma ecológico e sustentável. Revista Brasileira de
Direito, v. 16, n. 1, p. 1-19, fev. 2021. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/4307. Acesso em 19 mar. 2022, p. 15-16.
341
COSTA, Danielle Conte Alves Riani et al. Oferta pública e privada de leitos e acesso aos cuidados à saúde na
pandemia de Covid-19 no Brasil. Saúde em Debate, v. 44, n. 4, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/sdeb/a/39jsyjTLxGZHFQXrs4VVMRS/?lang=pt. Acesso em 14 mai. 2022.
112
que devem ser controlados, ela pode trazer soluções, inclusive ambientais, como é o caso do uso
de embalagens comestíveis, que não deixam resíduos 342. Inúmeros casos poderiam ser
demonstrados para afirmar que parece um pouco utópico caminhar seguindo as linhas filosóficas
biocentrista sugeridas por Arne Naess e George Session 343.
Como se não bastassem os argumentos cabe ainda aduzir que o ser humano, ainda
considerando o sistema holístico, não se pode ver dissociado, sem quaisquer justificativas, de suas
razões culturais. Assim sendo, não se imagina que a volta às origens paleolíticas seja a solução
mais eficaz para resolver a crise ambiental que ameaça deixar não apenas a geração presente, mas
a futura, sem bens ambientais tão preciosos à sua sobrevivência.
Em alusão aos argumentos apresentados, mais uma razão para compreender o porquê do
PPP não ter sido conjecturado para ter aplicação no âmbito de validade: do tudo ou nada, mas sim,
o referido foi feito para ser evidenciado no plano da dimensão do peso, segundo o qual, diante de
um conflito de interesses entre princípios relevantes, em um caso concreto (frisa-se), um princípio
pode preceder o outro, sem que o torne inválido.
Partindo dessas divagações, avaliam-se, agora as medidas ou o montante de custos a serem
atribuídos, em face do PPP, por atividades que possam provocar riscos de perigo ao equilíbrio
ambiental, tal como atividades nucleares. Em situações como estas, há uma probabilidade de dano
ambiental previsivel. Nestes casos, as autoridades poderão exigir medidas processuais,
procedimentais, relacionada ao funcionamento da atividade, a exemplo da logística reversa.
Contudo, se há dúvidas de que os meios não são suficientes para garantir o equilíbrio ambiental ou
existe uma forte probabilidade de ocorrência do dano ambiental, recorre-se a ponderação de bens
e decide-se a favor da natureza.344
O artigo 225, V da Constituição Federal demonstrou a inquietação do Constituinte em evitar
o dano ambiental, tendo em vista a atuação das atividades poluentes. Por conta disso, o referido
artigo exigiu para o funcionamento de atividade econômica capaz de causar desequilíbrio ambiental
342
FERREIRA, Degson, TIFFANI, Paola Silva. MADEIRA, Fernandes. Embalagens verdes, conceitos, aplicações.
Real Paranagua. v. 1, n. 2, 2019. Disponível em: https://periodicos.unespar.edu.br/index.php/raei/article/view/2780.
Acesso em 18 mai. 2022, p. 36-38.
343
NAESS, Arne; SESSIONS, George. Basic Principles of Deep Ecology. The Anarchist Library [internet], 1984.
Disponível em: https://theanarchistlibrary.org/library/arne-naess-and-george-sessions-basic-principles-of-deep-
ecology. Acesso em 10 nov. 2021.
344
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 150.
113
O Estado, posicionado como qualquer dos 3 (três) entes federativos, como o principal
destinatário do poluidor pagador, não pode legislar, nem exigir iniciativas materiais que fiquem
aquém do alertado no artigo 225 da Constituição Federal. A preocupação de definir por meio de
regras ou através da elaboração de políticas públicas, o montante de custo ambientais suficiente
para resguardar um meio ambiente equilibrado, está presente nas doutrinas nacional e internacional.
Para Heron Gordilho e Paulo Pimenta o maior desafio da economia ambiental reveste-se
em:
Buscar uma formula para internalizar tais efeitos, ou seja, atribuir os custos de tais efeitos
para seu causador, fazer com que os custos incidam porque os gerou. É necessária, então
uma intervenção do Estado, para alcançar esse disserato realizada por meio da formulação
de políticas públicas que podem ser implementadas por meio de regulação direita ou
instrumentos econômicos. 345
Assim, reconhecem os autores que não é fácil encontrar uma formula única que se impute
ao poluidor os custos para evitar as externalidades ambientais negativas, geradas pelo próprio
sistema econômico. 346
Apesar disso, não há dúvidas de que no ordenamento jurídico brasileiro não faltam
instrumentos jurídicos para prevenir ou reparar danos ambientais. A logística reversa é um desses
mecanismos, garantindo o retorno dos resíduos à cadeia produtiva para que, assim, não sejam
depositados indevidamente no meio ambiente.
Em países, como a Suécia, 347 o sistema de logística reversa em razão do apoio Estatal
cominado com o engajamento sócio e empresarial funciona muito bem. 348
345
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 365.
346
Ibidem, p. 369.
347
BRASKEN. Como que a Suécia consegue reciclar 99 por cento do lixo no pais. Disponivel na internet em:
https://bluevisionbraskem.com/inteligencia/como-que-a-suecia-consegue-reciclar-99-do-lixo-do-pais/
Acesso em: 10.11.2021.
348
A Suécia é um sucesso no âmbito da logística reversa das embalagens plásticas, porque, neste País, a partir da
portaria n. 2005: 220, baixada por seu Ministério da Agricultura, foi instituído o sistema deposito para todos os
estabelecimentos que comercializassem, no pais, produtos em embalagens plásticos e alumínios. Esse sistema de
deposito, operado por empresas privadas (depositárias), vinculadas ao Ministério do meio Ambiente Sueco e
114
Contudo, no Brasil não se observa a mesma eficácia social. Diversas razões poderiam ser
alegadas pelo insucesso. Elas variam desde a precariedade das políticas fiscalizatórias até a
elaboração de atos normativos pelo poderes executivos repletos de “poluição normativa”, em
relação aos quais não se descreveu elementos normativos suficientes para garantir uma efetividade
imediata aos mesmos. (ex. inicio de vigência)
Vale ressaltar que, em face da aferição do montante de custos, destaca-se que o poluidor
pagador se imbui do dever de encontrar o montante de custos suficiente para imputá-lo ao agente,
a fim de que este deixe de poluir o meio ambiente. “O montante deverá alcançar as despesas diretas,
ou seja, as relativas às medidas de prevenção e precaução da poluição, bem como as indiretas,
concernentes ao desenvolvimento de políticas do ambiente e às despesas públicas de sua
proteção.”349
Em relação a medida de assunção de custos ambientais pela atividade produtiva, na
compreensão de Cristiane Derani acompanhada por Heron Gordilho e Paulo Pimenta, os custos a
serem definidos não podem ultrapassar o valor do custo de produção da atividade econômica. Do
contrário, observam os referidos autores que pode ocorrer uma estagnação das relações de
fiscalizado pelo Ministério da agricultura, tem o propósito de garantir o retorno das embalagens plásticas e de alumínio
para reciclagem, na mesma medida em que pretende assegurar o futura restituição ao consumidor de uma quantia paga
pela embalagem na aquisição do produto.
Neste sentido, na aquisição de um determinado produto envolvido em embalagem plástica ou alumínio, o consumidor
pagará um valor a mais pela a embalagem. Porém, após o seu consumo, na devolução da embalagem junto aos
estabelecimentos comerciais, o consumidor se verá restituído da quantia monetária paga, através da empresa
depositária. Na análise do sistema de deposito da Suécia, observa-se destacam-se duas finalidades do PPP. A primeira
é a função incentivo. O referido sistema de deposito, por meio da restituição do valor pago pela embalagem ao
consumidor, sem sombra de dúvidas, induz comportamentos ambientalmente sustentáveis em relação aos
consumidores, pois, estes não querendo ver-se destituído do valor pago pelas embalagens, retornará, depois de
consumir o produto aos estabelecimentos para devolver a embalagem vazia, a fim de reaver a quantia paga pela
embalagem. Por um outro lado, na iniciativa normativa Sueca, é possível identificar a essencial função preventiva do
princípio poluidor pagador, por meio da transferência dos custos das despesas das medidas precaucionais para a
poluidora que tem maiores condições de interromper o ciclo da poluição, uma vez que é responsável pela confecção
dos produtos (domínio), a saber: atividade empresarial. JORDBRUSKYVERKET. Retursystem för plastflaskor och
metallburkar. Disponivel em: https://jordbruksverket-se.translate.goog/mat-och-drycker/handel-och-
marknad/retursystem-for-plastflaskor-och-metallburkar?_x_tr_sl=sv&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-
BR&_x_tr_pto=op,sc, Acesso em: 19 out. 2021.
349
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 374.
115
mercado.350 351352
Outrossim, em relação a situação apontada acima e o agravamento do equilíbrio ecológico,
frisa-se, que a mesma deve ser resolvida com a análise da ponderação de valores. Se a atividade
econômica propicia um desequilíbrio ecológico, seja colocando em risco a saúde das pessoas, seja
extinguindo espécies da fauna ou da flora, e não havendo meios ou mecanismos de controle,
entende-se que a mesma não deve ser licenciada.
Não há dúvidas de que, sob a dignidade humana (Art. 1, III da CF), deve está amparada a
atuação da atividade econômica (Art. 170 da CF). Da mesma forma, deve ocorrer o estímulo estatal
à livre iniciativa (Art. 1, IV) ou mesmo está garantida o direito de propriedade. Neste sentido,
somente é legitima a atuação do Estado ou atividades produtivas que respeitem os processos
ecológicos necessários à manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (Art. 225
da CF). Por esta razão, como visto em capítulo antecedente, o constituinte defende uma ordem
econômica que garanta a livre iniciativa e a propriedade privada, ao tempo em que esta mesma
ordem assegure a defesa do meio ambiente com uso de técnicas que: evitem o impacto ambiental;
assegurem a defesa do consumidor e a função social da propriedade. Assim, se a atividade
econômica não tem capacidade de assumir custos ou não dispõe de técnicas suficientes para afastar
o risco de desequilíbrio ecológico, a referida tampouco deverá obter a licença ambiental para
operar.
Quanto a identificação do poluidor, qualquer um pode ser identificado como agente
353
poluidor. Se por um lado, para ser considerado poluidor basta apenas estar na cadeia causal,
assim, em um sentido amplo, o poluidor consiste em todo aquele que é capaz de causar algum tipo
de degradação ambiental, por um outro lado, em sentido estrito, o conceito de poluidor integra a
capacidade de provocar danos ambientais e compõe a situação jurídica daquele que tem mais
condições de atender os mecanismos jurídicos entregues pelo Estado para proteger o meio
350
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 374.
351
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max limonadi,1996, p. 144.
352
Para as atividades autorizadas, de acordo com as normas editadas pelo Poder Publico, as quais econtram-se em
consonância material com o princípio poluidor pagador, poderá ser exigido do empreendedor, que suporte os custos
relativos ao uso da melhor técnica e melhor disponibilidade financeira considerando a disponibilidade tecnológica para
a sociedade. Isso é o que Alexandra Aragão chama de MDT – Uso da melhor técnica possivel. ARAGÃO, Maria
Alexandra de Sousa. Direito Comunitário do Ambiente. Cadernos Cedoua, 2002. p.5-58. Disponível em:
https://eg.uc.pt/bitstream/10316/17431/1/cadernos%20CEDOUA%20direito%20comunitario.pdf Acesso em 14 mai.
2022, p. 54.
353
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Direito Tributário Ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 136-137.
116
ambiente.354
A cadeia de poluidores, deste modo, é a mais extensa possível, alcançando desde
fornecedores a consumidores. A Lei brasileira identifica como poluidor, consoante determina o
Art. 3 da Lei 6938/1981, “ a pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, responsável
direta ou indiretamente, por atividades causadoras de degradação ambiental. ” A doutrina
reconhece que não é simples identificar o poluidor, nem mesmo quantificar o montante dos custos
para a proteção ambiental, uma vez que a poluição não se contenta a limites temporais, espaciais,
nacional, nem mesmo internacional.
Contudo, argumenta acertadamente parte dos doutrinadores, que a dificuldade da
identificação clara dos poluidores não permite concluir que este princípio é ineficaz para a proteção
do meio ambiente.355
De outra parte, Maria de Alexandra Aragão afirma que ao se deparar com uma cadeia de
poluidores, a responsabilidade deverá ser imputada sobre aquele que tem mais condições de cessar
a poluição, através de medidas precaucionais ou preventivas. Em razão disso, o consumidor seria
preterido pela atividade econômica, porquanto, o empreendedor tem um maior controle do fato
jurídico, pois são quem fabricam os produtos 356.
Na esteira disso, Heron Gordilho e Paulo Pimenta salientam que a imputação dos custos
das externalidades sobre o produtor é interessante, tendo em vista que pode haver situações em que
haja dificuldade de identificar o poluidor, uma vez que a poluição é oriunda de diversas causas, ou
se a contaminação vem do próprio bem. Assim, entendem os referidos autores que deve ser seguido
“o critério da eficiência econômica e administrativa na imputação dos custos e na possibilidade de
internalizar os custos pelos contaminadores”.357
Pensando na da repercussão financeira interna e externa, a nosso sentir, vê-se a
possibilidade de repassar os custos das despesas ambientais efetuadas pelo Estado aos
consumidores.
Esclarece que na repercussão interna se alocam os custos para a produção e na externa
354
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 376.
355
Ibidem, p.373.
356
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 132.
357
GORDILHO; PIMENTA, op cit, p. 377.
117
358
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p .376.
359
Ibidem, p. 374.
118
Michael Kopler vislumbra na função preventiva, a maior vocação do PPP. Tanto assim, que
o referido autor afirma que, embora a função reparativa seja importante, o principal objetivo do
poluidor pagador está na prevenção. 361
Para Heron Gordilho e Paulo Pimenta, o Poluidor pagador, apesar da relevância das funções
preventiva e reparatória do PPP, uma das principais finalidades do PPP é induzir comportamentos
para a prevenção. Assim, a preferência é fomentar comportamentos favoráveis à proteção do meio
ambiente, ao invés de fazer o uso da força ou coação.362
Ainda que haja entendimentos contrários, não se pode confundir a função preventiva do
poluidor pagador com o princípio da precaução, tampouco com o princípio da prevenção, apesar
destes dois princípios serem subprincípios do poluidor pagador. 363
No que tange ao princípio da prevenção há de se distinguir o princípio da prevenção em
sentido estrito e a precaução.
Inicialmente, destaca-se que há uma confusão terminológica, não havendo um consenso na
doutrina sobre a denominação do princípio. Nesta senda, há quem prefira denominar princípio da
360
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p.369.
361
KLOEPFER, Michael. Umweltrecht. 3.ed. München: Beck, 2004, p. 191.
362 362
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021, p. 368.
363
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 107 -111.
119
364
prevenção, em vez de cautela ou precaução. Partindo para a raiz etimológica, a palavra
precaução trata de uma medida para impedir a ocorrência do dano, indicando: dever, cuidado,
prudência ou cautela. 365
Compulsando as obras de Celso Fiorillo366 e Sirvinkas367, observa-se que estes autores
somente mencionam nestas, o princípio da prevenção. Por outro lado, constata-se que Edis
Milaré368 tem preferência pela nomenclatura da prevenção, tendo em vista a abrangência
terminológica da palavra. Afinal de contas, para Edis Milaré, a prevenção abarca a própria
precaução. Apesar disto, o referido autor não condena quem prefere o uso da terminologia
precaução.
Embora, seja possível a confusão terminológica entre os termos, há muitos anos as doutrinas
estrangeira e nacional de direito, com o propósito de conferir uma maior tutela ambiental aos bens
ambientais, buscam realizar uma distinção conceitual entre os termos.369
Num aprofundamento histórico, no que se refere aos princípios da prevenção e precaução,
assinala Philippes Sands, que o princípio da prevenção, já existe desde os anos 30 nos tratados de
direito internacional do século XX. 370 Apesar disso, para Amós Ribeiro, “o princípio da prevenção
teve sua origem na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992)
em seus princípios 10, 15 e 16 ”. 371 Outrossim, há quem afirme que o princípio da prevenção pode
ser visto, antes mesmo de 1992, na Declaração Universal do Meio Ambiente de 1972 – Declaração
de Estocolmo, a seguir transcrita:372
364
SOUZA, Amós Ribeiro de;COSTA, João Francisco Wanderley da. Princípio Poluidor Pagador: Características e
sua aplicação. JusBrasil, 2017. Internet. Disponível em:
https://amosribeiro.jusbrasil.com.br/artigos/516891395/principio-poluidor-pagador-caracteristicas-e-sua-aplicacao.
Acesso em 15 set. 2021.
365
NUNES, Cleucio Santos, Direito tributário e Meio Ambiente. São Paulo: Dialética, 2005, p 55.
366
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7 ed. atual. e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2006, p. 39-40.
367
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 35-36.
368
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 165-166.
369
WENDY, Gabriel. Prevenção no Direito Ambiental não quer dizer o mesmo que prevenção. Consultório
Jurídico (CONJUR). Internet. Disponivel em: https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-
direito-ambiental-nao-prevencao. Acesso em 15 out. 2021.
370
SANDS, Philippe. O princípio da precaução. In: PLATIAU, Ana Flávia Barros; VARELLA, Marcelo Dias (orgs.).
Princípio da precaução. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 29.
371
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
1992. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf.
Acesso em 19 fev. 2021.
372
FARIAS, Talden. Princípios gerais do direito ambiental. Prim Facie, v. 5, n. 9, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/7206. Acesso em: 17 mai. 2022, p. 134.
120
Princípio 6 - Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que
liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa
neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-
se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição.373
Este princípio abarca a ideia de que, “em vez de se contabilizar estragos e repará-los, sejam
evitados os danos”. 374 Evidentemente, a recuperação de danos ambientais é muito mais custosa e
demorada do que a adoção de medidas que os antecipem.
Às vezes, sequer consegue-se retornar ao estado ecológico anterior, ou mesmo às medidas
reparatórias intentadas não são suficientes para recuperar a função ecológica. Considerando isso, a
prevenção tem se mostrado como a maior ou melhor alternativa a ser manejada por todos (Estado,
empreendedores, consumidores e sociedade), a fim de assegurar a efetividade do direito
fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.375 Portanto, pensar em
ressarcimentos de danos ou impor medidas punitivas, nesta ordem, somente se não houver uma
alternativa para evitar a lesão ambiental. 376
No contexto nacional, o princípio pode ser encontrado nos artigos 2º II, III, IV, V, VI, VII,
IX e X c/c 4º, III, IV, V da Lei 6938/81:
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV- proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a
proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
373
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estolcomo. 1972. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/posgraduacao/wp-content/uploads/sites/33/2016/09/Declara%C3%A7%C3%A3o-de-
Estocolmo-5-16-de-junho-de-1972-Declara%C3%A7%C3%A3o-da-Confer%C3%AAncia-da-ONU-no-Ambiente-
Humano.pdf. Acesso em 19 fev. 2021.
374
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.65.
375
FARIAS, Talden. Princípios gerais do direito ambiental. Prim Facie, v. 5, n. 9, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/7206. Acesso em: 17 mai. 2022, p. 135.
376
NOGUEIRA, Ana Carolina Casagrande. O conteúdo jurídico do princípio da precaução no direito ambiental
brasileiro. In: FERREIRA, Heline Sivini; LEITE, José Rubens Morato (orgs). Estado de direito ambiental:
tendências:aspectos constitucionais e diagnósticos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p 198.
121
Por sua vez, o princípio da precaução remonta uma origem mais recente. O princípio de
precaução, ainda segundo Philippes Sands, fez-se constar nos instrumentos jurídicos
internacionais, a partir dos anos 80 do século XX. 377
De outra parte, Alexandra Aragão ensina que o princípio da precaução apareceu no contexto
internacional, em 1987, com o propósito de causar a redução do nível de poluição no mar do Norte.
Embora sem evidências científicas que ações preventivas teriam a capacidade de reduzir a poluição
e de garantir um equilíbrio ambiental e ecológico ao meio ambiente, justifica-se a tomada de
decisão no sentido assinalado, independente da comprovação entre o nexo de causalidade da
conduta e o resultado.378
379
Segundo Taldem Farias, é possível afirmar que a Declaração do Rio de Janeiro sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento consagrou, pioneiramente, o princípio da precaução no âmbito
internacional, emancipando-o em relação ao princípio da prevenção, ao estabelecer no Princípio
15, que:
De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente
observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios
ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para
postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.380
377
SANDS, Philippe. O princípio da precaução. In: PLATIAU, Ana Flávia Barros; VARELLA, Marcelo Dias (orgs.).
Princípio da precaução. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 29.
378
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 64.
379
FARIAS, Talden. Princípios gerais do direito ambiental. Prim Facie, v. 5, n. 9, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/7206. Acesso em: 17 mai. 2022, p. 135.
380
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
1992. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/sites/36/2013/12/declaracao_rio_ma.pdf.
Acesso em 19 fev. 2021.
122
Alerta Gabriel Wendy que o magistrado não pode aplicar de qualquer modo o princípio da
prevenção. Assim, ele não pode impedir o funcionamento das atividades econômicas, com
argumentos infundados ou em suposições. Para o referido impedimento, de tem de restar marcada
na hipótese normativa a verossimilhança dos fatos. Para ilustrar esse tipo de situação, o autor
aponta a desproporcionalidade de uma eventual norma editada pelo Estado-legislador que proibisse
a comercialização de refrigerantes pela com base em coca (Coca-Cola, Pepsi-cola), fundamentada
em um suposto vícios ou prejuízo a estrutura óssea dos consumidores. Seguir por esta compreensão
não desproporcional ou inviável juridicamente, uma vez que as bebidas com base em coca,
segundo as ciências médicas possui um quantitativo mínimo de substâncias viciantes e afetam de
forma insignificante aos organismos humanos.381
Conquanto, longe das questões terminológica e semântica, com o objetivo de assegurar uma
tutela adequada do meio ambiente, os princípios mencionados merecem sua distinção conceitual.
De uma forma simples, o princípio da prevenção consiste na monção de forças para afastar
o dano ambiental concreto. Assim, se existe uma possibilidade de um risco de um dano ambiental,
recorre-se a prevenção.
Todavia, se há a risco de perigo da ocorrência de uma dano ambiental, será necessária a
aplicação do princípio da precaução. A precaução incide no dever de cuidado para que o dano não
ocorra. O termo precaução tem origem da palavra Vorsorgprinzip e do ordenamento jurídico
alemão e implica uma atuação antecipada ao princípio da prevenção com sua força preventiva. 382
De forma sintética, enquanto a prevenção atua para evitar o dano ambiental em um plano
fático concreto, a precaução está presente em uma situação, em que existe a possibilidade da
ocorrência do dano ambiental, porém não é certa.
Merecem destaque as principais diferenças entre ambos os princípios383 em estudo:
381
WENDY, Gabriel. O princípio Constitucional da precaução como instrumento do meio ambiente e da saúde
públicas: de acordo com o Direito de Mudanças Climáticas e o Direitos dos Desastres. 3ª edição revista, atualizada e
ampliada. Belo Horizonte: Forum, 2020, p. 127.
382
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 64.
383
Para Deltan Carvalho o princípio da prevenção se caracteriza pela probabilidade da ocorrência de um evento
causador desequilíbrio ecológico. Este princípio pode ser quantificado e as consequências são mensuráveis, enquanto
o princípio da precaução é observável em situações, em que há incertezas, falta de conhecimento e ambiguidade da
ocorrência de um evento danoso ao meio ambiente. CARVALHO, Deltan Winter de. Desastres Ambientais e sua
regulação jurídica: Deveres de prevenção, resposta e compensação ambiental. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2015. p. 135.
123
A primeira das diferenças, inicia-se pelo fato de que o princípio da precaução, quando
aplicado, trata-se de uma medida que tende a evitar o mero risco de perigo abstrato ou risco
potencial e o princípio da prevenção é aplicado para evitar diretamente o dano potencial ou risco
conhecido. Neste sentido, para Gabriel Wendy, “quando se aborda o princípio da prevenção, deve-
se passar da avaliação de risco de perigo – utilizada na análise do princípio da precaução – para a
avaliação de concreto e forte risco de dano.” 384
Gabriel Wendy sustenta que Kourislky e Viney “utilizam o perigo para caracterizar a
essência do princípio da prevenção e referem que a mesma é aquilo que ameaça ou compromete a
segurança, a existência de uma pessoa ou de uma coisa, e o risco utilizado por eles para caracterizar
o princípio da precaução, é a concretização de um perigo eventual mais ou menos previsível ”. 385
Desta forma, não se tendo dados científicos concretos ou estes sejam insuficientes para
alertar sobre os perigos que podem ser ocasionados ao meio ambiente por uma determinada
atividade, porém se forem conhecidos o potencial de risco e a nocividade que a mesma pode causá-
lo, ainda que não seja possível quantificar ou qualificar riscos, estar-se-á diante da aplicação do
princípio da precaução.
O princípio da precaução, na medida em que não reconhece o nível ótimo de poluição,
busca reduzir ao máximo a poluição para, deste modo, evitar acidentes ambientais. Para Alessandra
Aragão, “ o princípio reflecte, ainda, a obrigação de adoptar medidas de prevenção específicas
contra acidentes ambientais e significa que cabe ao poluidor, o ônus da prova de que não vão
ocorrer acidentes ambientais e de que estão a ser adoptadas medidas preventivas específicas. ” 387
Interessante ressaltar, que quanto maior for o risco de o meio ambiente ser afetado
negativamente, maior será a atuação do princípio da precaução. Embora haja quem discorde deste
384
WENDY, Gabriel. Prevenção no Direito Ambiental não quer dizer o mesmo que prevenção. Consultório
Jurídico (CONJUR). Internet. Disponivel em: https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-
direito-ambiental-nao-prevencao. Acesso em 15 out. 2021.
385
Ibidem.
386
Ibidem.
387
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 65.
124
Estaria, porém, o princípio da precaução, no que tange a sua aplicação, em regra, mais
distante do hipotético dano. Isso porque o princípio da precaução deve ser aplicado quando
não houver certeza científica de que a atividade sindicada não oferece risco de dano, e o
princípio da prevenção deve ser aplicado, após, ou seja, quando a atividade sindicada
causar danos com prévia comprovação científica.389
Ainda poder-se-ia afirmar que enquanto o princípio da prevenção destina-se a evitar danos
previsíveis, o princípio da precaução, por sua vez, visa a afastar os riscos, que não são previstos
completamente. 390
Noutro giro, buscando demonstrar a atuação do princípio da prevenção, Alexandra Aragão
assevera que:
O princípio da ação preventiva implica que, na falta de normas de qualidade do meio
ambiente, seja dada uma atenção particular ao controle das fontes de poluição. Um grande
número de instrumentos pode ser utilizado para este fim: avaliação do impacto de certos
projectos sobre o meio ambiente; definição de condições de exploração para instalação
industriais, testes e procedimentos de notificação prévios à colocação no mercado de
novos produtos, máxime, produtos químicos; estabelecimento de valores limites.391
388
WENDY, Gabriel. Prevenção no Direito Ambiental não quer dizer o mesmo que prevenção. Disponivel na
internet: https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-direito-ambiental-nao-prevencao , acesso
em: 15.10.2021.
389
Ibidem, p. 2.
390
Ibidem, loc cit.
391
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.65.
125
392
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.65.
393
WENDY, Gabriel. Prevenção no Direito Ambiental não quer dizer o mesmo que prevenção. Disponivel na
internet: https://www.conjur.com.br/2014-mai-30/gabriel-wedy-precaucao-direito-ambiental-nao-prevencao , acesso
em: 15.10.2021, p. 3.
394
SALLE, Carollina, O poluidor Pagador. Disponivel na internet:
https://carollinasalle.jusbrasil.com.br/artigos/112196648/o-principio-do-poluidor-pagador , acesso em> 10.06.2021
126
395
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 63
396
Ibidem,p. 151.
127
taxas, impostos)397 398, a fim de compelir aos poluidores a arcar com os custos para a inocorrência
do dano ambiental.399 400
Explica a autora Lusitana que, o ato de reduzir, por exemplo, simboliza que o dano já
ocorreu. Neste sentido, para evitar sua repetição, torna imperioso a adoção de determinadas
medidas preventivas. A autora diz que esta ação ocorre na eliminação e na redução das atividades
perigosas. Assim, para a mesma, reduzir é prevenção, em sentido estrito. 401
Conquanto, afirma a autora que embora a principal função do poluidor pagador esteja na
prevenção, não se pode considerar, apenas a mesma. Embora, uma vasta doutrina opte por uma
interpretação restritiva, ela não é mais adequada para a proteção do meio ambiente, pois princípio
comporta outras finalidades tais como: a finalidade incentivo, reparatória, entre outras402.
Luciano Butti alerta para os cuidados em se interpretar o Princípio Poluidor Pagador
somente em sua finalidade preventiva. Ainda que o ideal seja prevenir, a atuação preventiva não
afasta os riscos da ocorrência do dano ambiental pelo exercício da atividade econômica. Neste caso,
397
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, 177.
398
No artigo 85 do novo decreto sob n. 10936/2010 aponta alguns instrumentos econômicos, de forma exemplificativa
entre eles constam: incentivos fiscais, financeiros e creditícios; cessão de terrenos públicos; subvenções econômicas;
pagamentos por serviços ambientais, na forma prevista na legislação. Em analise dos instrumentos discriminados neste
artigo, chama atenção as subvenções. Isto porque com apoio nos ensinamentos de Alexandra Aragão não devem ser
utilizadas, uma vez que condizem com redistributividade do PPP. Decerto, que os custos das despesas das medidas
despoluidoras, administrativas, via de regra, devem ser transferidos aos poluidores. Quando isto não ocorre ainda
impacta na função incentivadora (Ibidem, p. 173).
399
Ibidem, p.115
400
Vale anotar, conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça Julgamento do RESP 1221.170, os custos
realizados pela atividade produtiva para a proteção do meio ambiente, tendo em vista obrigação legal, poderão ser
creditados, para fins de COFINS e PIS. Essa é também é a orientação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
CARF, em decisão proferida pela 3ª turma da primeira Câmara, em seção, ocorrida em 29 de janeiro de 2019. Para
esse órgão, as despesas relacionadas à proteção ao meio ambiente serão consideradas insumo para fins de COFINS e
PIS. A Câmara entende que “insumo dedutível” é tudo aquilo que esteja relacionado indiretamente ou diretamente com
a produção do contribuinte e que afete as receitas tributadas pelas contribuições sociais. Daí se extrair que poderia
ser incluído no conceito de “insumo” todas as despesas consideradas essenciais e relevantes ao processo produtivo da
empresa. Esse é o caso das obrigações por imposição do Poder Público. Nesta direção, as despesas efetuadas pela
atividade produtiva, haja vista imposição legal para proteger o meio ambiente poderão ser enquadradas como insumo,
consequente, gerando direito de obtenção de credito para fins de COFINS E PIS. Apesar de o caso julgado pelo CARF
referir a uma empresa de extração de carvão mineral, o entendimento proferido naquele julgado é aplicável a todas as
empresa realizem despesas ambientais, decorrente de obrigação legalmente imposta pelos Poderes Públicos. Vale
salientar, que a referida restituição poderá ocorrer diante de restrições ou condicionantes previstas em licença e termos
de ajustamento de conduta, assim como a, inclui –se aí as despesas com contratação de outros serviços tais como:
implantação do sistema de logística reversa, auditoria ambiental, locação de maquinas para recuperação ambiental,
serviços de elaboração de Estudos e Impactos ambientais sobre o meio ambiente. (CASSEB, Felipe Diego.apuração
de créditos de PIS e COFINS, sobre despesas com tratamento ambiental. Revista Consultor Jurídico, 2 de julho de
2019)
401
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.114
402
Ibidem, p.107.
128
reforça Luciano Butti, que o surgimento do dano ambiental aciona a função reparatória do PPP,
determinando que o empreendedor arque com os custos da reparação ambiental. 403 Com um
pensamento na mesa direção, segue Pereira Reis 404e Sandford Gines. 405
Vale ressaltar que na Alemanha, segundo Eckard Rehbinder, o PPP configura-se pela
406
redistribuição de encargos, com o caráter preventivo. Seguindo a direção da doutrina Alemã e
o pensamento de autores como Alexandra Aragão defende a impropriedade de reduzir o poluidor
pagador a qualquer princípio do Direito Ambiental, inclusive ao princípio da prevenção.
Afinal de contas, o princípio do poluidor pagador pode acionar o princípio da prevenção,
mas não se resume ao mesmo, porquanto inclui no mesmo as finalidades distributiva, de incentivo
e reparatória, a qual será objeto de análise no próximo capitulo.
403
BUTTI, Luciano. L' ordinamento italiano ed il principio 'chi inquina paga'. Rivista Giuridica dell' Ambiente, n. 3,
Ano 5, p. 411-449, 1990. Disponível em: https://www.ecolex.org/details/literature/l-ordinamento-italiano-ed-il-
principio-chi-inquina-paga-ana-044219/. Acesso em 14 mai. 2022.
404
PEREIRA, Reis. Contributos para uma teoria do meio ambiente. Secretaria do Estado e Meio Ambiente e dos
recursos Naturais, 1987.p. 51 e 53.
405
GAINES, Sanford. The polluter-pays principle: from economic equity to environmental ethos. Texas
International Law Journal, Albuquerque, v. 26, 1991, p. 463
406
REHBINDER, Eckard. O direito do Ambiente na Alemanha. Conferências do Instituto Nacional de
Administração, 1994, p. 257.
407
LEMOS, Patricia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 137.
408
FRANÇA, Limongi. Reparação do dano Moral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 29-38.
129
Direitos, que está voltado à proteção da dignidade da pessoa humana, à promoção prioritária à
saúde, a vida, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o ressarcimento ao dano ambiental
busca-se tutelar muito mais do que o ressarcimento em relação ao dano injusto. Assim, a reparação
ambiental além de assegurar interesses jurídicos tutelados por lei, alcança também interesses
fundamentais.409
Com a evolução do direito para abranger um conteúdo imaterial, tal como o Direito a um
equilíbrio ecológico, uma atividade poluente, que não possui técnica suficiente para conter riscos
ao equilíbrio ecológico ou que não possua suporte financeiro suficiente para operar com
tecnologias limpas, não poderá ter o deferimento da sua licença ambiental para operar. Agora, a
propriedade privada deve exercer sua função social (art. 186 da CF) e a atividade economica tem
de exercer sua função em consonância com a proteção da natureza (art. 170 da CF)
Como visto, diante da colisão entre o princípio fundamental do direito de propriedade
privada, da livre iniciativa e do direito fundamental de viver em um meio ambiente equilibrado,
partindo do princípio nuclear interpretativo da dignidade da pessoa humana, o princípio do
equilíbrio ecológico predomina sobre os primeiros. Deste modo, não é possível o funcionamento
da atividade que apresente o risco, ora apontado. 410 Contudo, ressalta-se que a análise sobre
precedência entre os valores assinalados deve ser operada em um nível concreto e jamais abstrato.
Como bem apontado por Antonio Herman Benjamim, é preciso introduzir nas relações
jurídicas, sociais e econômicas, os princípios essenciais para garantir um Estado Ecológico de
Direito. Somente, interpretando-se os institutos jurídicos, a exemplo do poluidor pagador e da
responsabilidade civil ambiental, de acordo com os pilares do Estado Social Democratico de
Direito, entre eles: princípio da solidariedade, princípio da igualdade material, 411 princípio da
dignidade da pessoa humana e princípio da manutenção das bases ecológicas da vida, a
Constituição Federal estará livre de um atentado. 412
Para Patrícia Faga Inglecias Lemos, com a ampliação da responsabilidade civil para a seara
ambiental, a partir da constitucionalização dos Direito, não se pode mais fazer uma confusão do
409
MORAES, Maria Celina Bodin de. A constitucionalização do direito civil e seus efeitos sore a responsabilidade
civil. Direito, Estado e Sociedade, v. 9, n. 29, p .233-258, jul./dez. 2006. Disponível em:
http://arquivos.integrawebsites.com.br/36192/4c97d92004aee47b8a3eac4f7b9c4e05.pdf. Acesso em 10 mai. 2022.
410
MORAES, Maria Celina Bodin de. Op. cit, loc. cit.
411
BENJAMIN, Antonio Herman. O Estado de Direito à luz dos ODS. In: 26º Congresso de Direito Ambiental e
16º Congresso Internacional de Direito Ambiental, Instituto Planeta verde, 24 a 30 de setembro de 2020, On line.
412
Ibidem, loc.cit.
130
413
LEMOS, Patricia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição, atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 39.
414
Não custa lembrar, mas o estudo do impacto ambiental, por obvio, de acordo com a resolução 237 de 1997, em seu
artigo 11, é feito às expensas da atividade poluidora. Nisso, pode-se já observar a atuação do PPP. Por um outro lado
no artigo 13 desta resolução observa-se a determinação de ressarcimento do Poder Público pelas despesas
empreendidas para a obtenção da licença ambiental.
Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente
habilitados, às expensas do empreendedor.
Art. 13 - O custo de análise para a obtenção da licença ambiental deverá ser estabelecido por
dispositivo legal, visando o ressarcimento, pelo empreendedor, das despesas realizadas pelo
órgão ambiental competente. Parágrafo único. Facultar-se-á ao empreendedor acesso à planilha de custos realizados
pelo órgão ambiental para a análise da licença.
415
Como resultado de uma pesquisa para a revista cientifica Environment International, após analisar amostras de
sangue de 22 doadores voluntários e anônimos, chegou-se à conclusão que 17 entre as 22 amostras estavam
contaminadas com microplástico. Os cientistas não sabem ao certo os efeitos dessas partículas para a saúde , mas
afirmam que os mesmos não deveriam estar lá. ( FRI. Estudo holandês detecta microplástico em sangue humano
pela primeira vez. Disponível na internet: https://www.rfi.fr/br/europa/20220325-estudo-holand%C3%AAs-detecta-
micropl%C3%A1stico-em-sangue-humano-pela-primeira-vez. Acesso em: 27.03.2022)
416
Art. 3º da resolução 237 do 1997 do Conama dispõe que:
A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetivas ou potencialmente causadoras de
significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto
sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas,
quando couber, de acordo com a regulamentação.
417
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)
131
418
Art. 2 da complementar lei 140/2011 Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental;
419
Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de
recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.
420
Aborda-se, em razão da fácil interpretação, alguns conceitos importantes para a compreensão do instituto do
licenciamento ambiental, avaliação de impacto entre outros, constante na resolução 237/1997 do Conama,
principalmente para compreender a necessidade de concessão de licenças ambientais para a atividade que pretenda
operar com produtos de natureza plástica, somente se evidenciado nos autos do licenciamento a estruturação e
operacionalização da logística reversa. É comprovado, como visto, que os plásticos causam não apenas impactos, se
não for bem administrado os resíduos pós-consumo, em âmbito local, regional ou nacional, mas avançam para além
das fronteiras brasileira.
Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. (grifos, nossos)
II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as
condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades
utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento,apresentado como
subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental,
relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e
análise preliminar de risco.
III - Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (área
de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados.
421
Interessante observar o acordo artigo 2 da resolução 237 de 1997 do Conama, é inequívoco ao dispor sobre a
exigência do licenciamento ambiental para permitir o funcionamento de atividades que sejam capazes de provocar
qualquer tipo de degradação ambiental. Esse é o caso de atividades que utilizem de alguma forma produtos de natureza
plástica.
art. 2º - A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bemcomo os empreendimentos
capazes, sob qualquer forma, de
causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de
outras licenças legalmente exigíveis.
132
422
SÃO PAULO. Decisão de Diretoria Nº 008/2021/P, de 29 de janeiro de 2021. Companhia Ambiental do Estado
de São Paulo. Estabelece procedimento para licenciamento ambiental de estabelecimentos envolvidos nos sistemas de
logística reversa e para dispensa do CADRI no âmbito do gerenciamento dos resíduos que especifica. São Paulo, 2021.
Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/02/DD-008-2021-P-Estabelece-procedimento-para-
licenciamento-ambiental-de-sistemas-de-logistica-reversa-e-para-dispensa-do-CADRI.pdf. Acesso em 20 dez. 2021.
423
Com mais detalhes verá a problemática no próximo subcapitulo 4.6, quando se discorre sobre a obrigatoriedade da
estruturação da logística reversa, mediante acordos setoriais, nos termos do artigo 27 do decreto sob n. 10.936 de 2022
publicado em 12 de janeiro de 2022, que alterou o artigo 2 º decreto n. 9.177 de 23 de outubro de 2017. De uma forma
mais explicita, segundo o mencionado dispositivo, mantendo-se os termos assinalados no decreto anterior, com o
objetivo de garantir a isonomia de tratamento na fiscalização e cumprimento da obrigações entre os participantes da
cadeia produtora de resíduos constante no artigo 33 da lei 12.307/2010 e 33, §1 e §2, independente da adesão destes
empresários ao acordo setorial ou termo de compromisso firmado com o Poder Público, é obrigatória a estruturação
e implementação logística reversa das embalagens ou produtos nos moldes enfrentados no acordo ou termo de
compromisso firmado.
133
CONAMA,424 425
um plano de estruturação e operacionalização do procedimento de logística
reversa. Deste modo, o empresário deverá demonstrar que, como mecanismo para proteger o meio
ambiente, estruturou e definiu o modo de operacionalização da logística reversa para retorno das
embalagens plásticas ao final do ciclo de vida do produto. Somente assim, a atividade licita, embora
exponha a sociedade a riscos, pode ter viabilizado o funcionamento, após encerrado o
procedimento de licenciamento ambiental.
Em uma abordagem conceitual, a responsabilidade civil ambiental é um instrumento
424
Art. 8º da resolução 237 CONAMA - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as
seguintes licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou
atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações
constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a
verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,
características e fase do empreendimento ou atividade.
425
Art. 10 da resolução 237 CONAMA - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:
I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos
documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à
licença a ser requerida;
II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos
ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade; III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do
SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando
necessárias;
IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente,
integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais
apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e
complementações não tenham sido satisfatórios;
V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;
VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências
públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não
tenham sido satisfatórios;
VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;
VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.
§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura
Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação
aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para
o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes.
§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto ambiental - EIA, se verificada a
necessidade de nova complementação em decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o
órgão ambiental competente, mediante decisão motivada e com a participação do empreendedor, poderá formular novo
pedido de complementação. Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por
profissionais legalmente habilitados, às expensas do empreendedor.
Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos previstos no caput deste artigo serão
responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais.
134
jurídico destinado à proteção ambiental. Diante da ocorrência de um dano ambiental 426, impõe-se
a sua responsabilização civil. É um mecanismo jurídico que se destina a garantir a reparação
ambiental.
No âmbito Constitucional o Instituto da Reparação Civil está previsto no Art. 225 da CF,
in verbis:
Art 14 – […] § 1º – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
426
Releva notar que o atendimento das medidas preventivas ou precaucionais, através da estruturação e
operacionalização da logística reversa não impede a responsabilização do empreendedor, por um eventual dano
causado ao meio ambiente.426 Assim, ainda que promovido o dever de cuidado ao ambiente, advindo um dano ao meio
ambiente, restaria ao empreendedor, independente de apuração culpa ou responsabilidade de terceiro, o dever de
reparação aos danos causados ao meio ambiente. (LEMOS, Patricia Faga Iglecias. Meio ambiente e responsabilidade
civil do proprietário: analise do nexo causal. São Pulo: Ed. RT, 2008, Op cit. p 103 -105 e 123)
427
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014., p. 109
135
jurídica, o que significa dizer que para as gerações atuais e futuras, é preciso justificar juridicamente
a imputação da obrigação de reparar o dano.” 428
A distinção entre o nexo causal físico e o nexo
causal jurídico tem possibilitado a imputação da responsabilidade pós-consumo.
Sobre essa busca pelo nexo jurídico, que dista do liame cientifico, é necessário admitir a
dificuldade de limitação dos comportamentos humanos à causa cientifica. Se
notadamente, uma coincidência não equivale a uma causalidade, é necessário refletir de
forma diversa caso haja concomitância. Mesmo com a abstração desse dado, aplicando-se
normalmente a teoria da causalidade adequada, os tribunais acabam por filtrar, nesse
sentido, aproximar-se de uma causa mais adequada que outra, declarando que essa causa
tem um papel preponderante na realização do dano. 429
Assim, esse passo evolutivo dado ao nexo de causalidade, garantindo-lhe uma autonomia
ao liame causal naturalístico, possibilita a reparação da vítima, seja porque ela não tem provas do
nexo ou não a conheça.
Arremata, Patrícia Faga Iglecias Lemos que:
A flexibilização do nexo causal permite que se admita não apenas um liame certo e
determinado, mas também um elo provável, que se insere na referida visão da
responsabilidade civil como disciplina preventiva, o que tem sido amplamente debatido
no Continente europeu. Ora, flexibilização da definição da prova da causalidade jurídica
tende a atenuar a exigência de um nexo de causalidade certo entre o fato gerada da
responsabilidade e o dano, admitindo-se um nexo causal provável. Tal evolução acaba por
favorecer a consideração dos riscos somente suspeitos atinentes à noção de precaução, o
que acentua o papel preventivo da responsabilidade, como instrumento para evitar a
concretização do dano. 430
428
LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio ambiente e responsabilidade civil do proprietário: analise do nexo causal.
São Pulo: Ed. RT, 2008, p. 177.
429
Ibidem, p. 139, p. 150.
430
Ibidem, p.152.
431
Alerta Patricia Faga Iglesias Lemos que “ é no direito ambiental que as novas teorias do nexo causal encontram
campo mais fértil de aplicação. Isso porque, no mais das vezes, os danos ambientais, além de decorrerem de múltiplas
causas, em atuação concorrente de inúmeros atores, podem se manifestar somente depois de transcurso de um longo
período de tempo. Em muitos casos, aliás, a manifestação do dano se apresenta em locais distantes daqueles em que
estão instaladas as atividades geradoras, caracterizando em algumas ocasiões, os chamados danos transfronteiriçoes.
Essas dificuldades levaram àquilo que Jose Afonso da Silva chama de atenuação na relevância do nexo de causalidade.”
LEMOS, Patrícia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p 183.
136
432
LEMOS, Patrícia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p 182.
433
Ibidem, p 182- 183.
434
Ibidem, p. 184.
435
O código civil reconhece os riscos, em que a sociedade brasileira está sujeita diante da atuação das atividades
econômica, uma vez, que no artigo 927, § único previu que “haverá obrigação de reparar o dano, impendentemente de
culpa, nos caos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza riscos ao direito de outrem.” Por conta disso, a responsabilidade de atividades que representem riscos
ao direitos é objetiva. Na mesma linha observa-se que seguiu o Direito Ambiental, consoante se observa do quanto
disposto no artigo 225 § 3 da CF.
436
LEMOS, op cit, p. 186.
137
Entre tantos instrumentos asseguratórios, que permitem a prévia socialização dos riscos,
surgem os seguros obrigatórios e os fundos de garantia, os quais, na opinião de Patrícia Lemos
Faga, com fundamento nos ensinamentos de Teresa Ancona Lopes:
437
LEMOS, Patrícia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p.182.
438
Ibidem, p. 187
439
LOPEZ, Teresa Ancona. Princípio da precaução e evolução da responsabilidade civil. São Paulo: Quartier Latin,
2010, p. 48.
138
abalo ao meio ambiente são apenas alguns dos diversos instrumentos que a legislação
ambiental prevê em matéria de prevenção e precaução.440
440
LEMOS, Patrícia Faga Iglesias. Resíduos sólidos e reponsabilidade civil pós-consumo. 2ª edição atualizada e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 188.
441
Ibidem, p. 188
442
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 121.
443
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021.
444
“Para uma determinada concepção doutrinaria, o princípio pode ser identificado com a responsabilidade civil.
Defende-se, por exemplo, que se trata de um princípio basilar da responsabilidade ambiental ou que a aplicação do
139
princípio epigrafado decorre da ideia de responsabilidade. Os mais exagerados chegam a afirmar que o princípio da
responsabilidade é conhecido no âmbito ambiental como princípio do poluidor pagador.” (GORDILHO; PIMENTA,
p. 370)
445
Esta é a conclusão de Vinicius da Fonseca, em sua pesquisa. Nesta pesquisa avaliou, a partir da ferramenta de
pesquisa do Site do STJ, a incidência do termo poluidor pagador, nos julgamentos entre os anos de 2005 e 2018. (
FONSECA, Vinicius de Azevedo Fonseca. Levando o princípio do poluidor-pagador a sério: uma analise de
precedentes do Superior Tribunal de Justiça. BrazilianJournal of DevelopmentBraz. J. of Develop.,Curitiba, v.6,
n.11,p. 92218-9 2235, nov.2020.ISSN 2525-8761 , p. 92227)
446
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021. p. 370.
447
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente.
Instituto do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p.109.
140
alterando-se os preços dos produtos poluentes para provocar a mudança de postura do poluidor. 448
Dito isto, ao refletir sobre as diversas vocações ou finalidades sobre o ppp, pode-se concluir,
com apoio nos pensamentos de Paulo Pimenta e Heron Gordilho, estes embasados na convicção de
Alexandra Aragão, que o PPP “não reconduz a um simples princípio de responsabilidade civil. Se
o princípio em pauta pudesse ser equiparado à responsabilidade civil, os seus fins, então seriam os
mesmos da responsabilidade civil: preventivo e sancionador.” 449
Deste modo, é preciso concluir que embora o poluidor pagador seja um princípio que vise
a reparação ambiental, cuja função seja pareça similar à função da responsabilidade civil, a função
principal do PPP consiste no repasse dos custos ambientais – aumentando os custos privados dos
empresários - a fim de obrigá-los a utilizarem instrumentos como a logística reversa, a fim de evitar
danos comprovados cientificamente ou não.
448
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014, p. 111-112.
449
GORDILHO, Heron José de Santana Gordilho; PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Fins do princípio poluidor-
pagador. Revista Brasileira de Direito. Passo Fundo. Vol. 14, n. 1, p. 364, 2018. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/2080 Acesso em: 12 mai. 2021. p. 370.
449
ARAGÃO, op cit, p. 370 e 371.
141
450
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2010a].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 10. jun. 2020.
451
BRASIL . Decreto 1093, de 12 de janeiro de 2022. Regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponivel: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2022/Decreto/D10936.htm#art91, Acesso em: 12 jan. 2022.
452
BRASIL. Decreto n 7404, de 23 de dezembro de 2010. Dispõe Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de
2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de
Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2010b]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm. Acesso em: 10 jun. 2020.
453
BRASIL. Decreto n. 9177, de 23 de outubro de 2017. Regulamenta o artigo 44 da Lei 12.305, de 2 de agosto de
2010, que instituti a Politica Nacional de Residuos Solidos, e complementa os artigo 14 e art. 17 do Decreto n. 7404,
de 23 de dezembro de 2010. Disponivel na internet: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Decreto/D9177.htm, acesso em 10 jun. 2022.
454
BENJAMIN, Antonio Herma.10 anos da Política Nacional de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto
o direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.
455
Desde já esclarece que a logística reversa, nos termos do artigo 3XII da PNRS, é um instrumento social e econômico,
composto de ações e procedimentos, pelo qual, se garante o retorno do resíduo para devida destinação ambiental ou
disposição, pos consumo.
142
456
“É o caso dos estabelecimentos de serviços de saúde, portos e aeroportos, terminais ferroviário e rodoviário que
tinham procedimentos mínimos para o gerenciamento de resíduo sólidos dados pela Resolução CONAMA 0005/1993,
substituída pela Resolução 358/2005 no que se refere aos resíduos dos serviços de saúde. Os resíduos da construção
civil são tratados pela Resolução do Conama 307/2002. Já os resíduos industriais têm previsão desde a Resolução
Conama 006/1998, substituída pela Resolução 313/2002. Cabe dizer que a inserção de regras nesse sentido em lei
implica sistematização e maior coerência e segurança.” (ARAUJO; JURAS, 2011, p.133).
457
JURAS, Mara Vaz Guimaraes de. MARTINS, Ilidiada da Ascenção Garrido. Comentários à Lei dos Resíduos
Sólidos: Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. São Paulo: Pilares, 2011, p.132.
143
relevância do tratamento adequado de cada um destes institutos para uma eficaz proteção ao meio
ambiente.
Nesse sentido, não se pode confundir o instituto da responsabilidade compartilhada
constante no Art. 30 da Lei 12.305/2010 (PNRS) com o instituto responsabilidade civil objetiva
presente no Art. 14 §1 da Lei 6938/1981. Esse é o pensamento de Antônio Herman Benjamin, para
o qual, o objetivo principal da Politica Nacional de Resíduos Sólidos não é disciplinar a
responsabilidade civil ambiental, que está tratada no Art. 14, §1 Lei 6.938/1981, mas tem uma
incumbência material de garantir efetividade no tratamento dos resíduos sólidos.458
Com base nesta percepção, é preciso aproveitar ao máximo o potencial de cada intituto
trazido pela PNRS e não confundir o sistema de Logistica Reversa com a Avaliação do Ciclo de
Vida, embora haja imprescindibilidade desta avaliação para a eficácia do instituto do ciclo reverso.
Antes de entender a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto por parte
da cadeia produtora de resíduos e sua relação com a logística reversa, e assim, adentrar em sua
análise acerca da logística reversa dos resíduos sólidos na LPNRS, vale demarcar a relevância do
conceito de análise do ciclo de vida do produto (ACV), uma vez que a mesma interfere diretamente
na escolha do processo mais adequado de gerenciamento dos resíduos sólidos, no final do ciclo de
vida. A ACV tem relação direita com a implementação do instrumento de logística reversa.
De uma forma simples, é através do recurso técnico da Avaliação do Ciclo de Vida do
Produto, consoante estabelece o Art. 3, VII da LPNRS, que se encontra respaldo decisório para
escolher entre a técnica de reciclagem ou reutilização, como formas de destinação do resíduo sólido
pós-consumo.
Assim, poder-se-ia afirmar que a ACV traz argumentos técnicos e jurídicos para combater
a escassez ambiental, pois a mesma auxilia na formação das regras de condutas elaboradas tanto
no legislativo quanto no executivo, a fim de que seja possível garantir os recursos ambientais para
todos em uma medida intra e intergeracional.
458
BENJAMIN, Antonio Herma.10 anos da Política Nacional de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto
o direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.
144
459
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO 14040 Gestão Ambiental –
Avaliação do ciclo de vida – Princípios e estrutura. 2009. Disponível em: http://licenciadorambiental.com.br/wp-
content/uploads/2015/01/NBR-14.040-Gest%C3%A3o-Ambiental-avaliac%C3%A3o-do-ciclo-de-vida-principios-e-
estrutura.pdf. Acesso em 10 mai. 2022.
460
PIRES, Adriana Dias Moreira; DANTAS, Ceres Virginia da Costa. Estudo do uso de ferramentas de gestão
sustentável da produção: Avaliação do ciclo de Vida e Logística Reversa. V Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa
e Inovação, 2010. Disponível em:
http://connepi.ifal.edu.br/ocs/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/232/190. Acesso em 26 dez. 2021, p.
2.
461
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, op cit.
462
MOTTA. Vladimir Henrique. Análise do ciclo de vida e logística reversa. In: X Simpósio de Excelência em Gestão
e Tecnologia. Resende: 2013. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/42318514.pdf. Acesso
em 10 mai. 2022.
145
que dados e informações são coletados, vários aspectos do escopo podem exigir modificações
visando a atender ao objetivo original do estudo.”463
Disso pode-se inferir que as normas de condutas jurídicas a serem seguidas pelos produtores
de resíduo, estas com escopo preventivo ao dano ambiental, variam de acordo com o resultado das
ACV. Sendo assim, o Poder Púbico, pode exigir das atividades poluentes a adoção de medidas
técnicas para evitar a escassez ambiental, a exemplo, os filtros poluentes.
Com base na análise do ciclo de vida, é que se pode produzir ou optar por método produtivo
resultante em bens que sejam compatíveis com o pós-consumo, com a reutilização, com a
reciclagem ou com qualquer outra forma de destinação adequada (Art. 31, I, a da PNRS) ou ainda
se permite a fabricação de produtos que gere a menor quantidade de resíduos sólidos possível (31,
I, b da PNRS).
Por este mesmo raciocínio teleológico, considerando o dever de os fabricantes produzirem
embalagens aptas para o reuso ou para a reciclagem (Art. 32, caput), a ACV possibilita a produção
de embalagens: “restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à
comercialização do produto; ” (Art. 32, § 1º, I); projetadas tecnicamente para uma posterior
reutilização, condicionada às normas técnicas do produto nela contido. (Art. 32, § 1º, II); que
possibilitem a reciclagem, se a reutilização não for possível. (Art. 32, §,1º, III)
Pensando-se em garantia dos recursos ambientais suficientes para atender as necessidades
socioeconômicas e ambientais das gerações atuais e futuras, a análise do ciclo de vida traz
parâmetros técnicos para a escolha entre o acondicionamento do conteúdo de um determinado
produto em embalagens de plástico ou vidro.
Nesse sentido, a ACV justificaria o porquê se optar pelo uso de embalagem plástica ou
metal na produção em vez de embalagem de vidro, tendo em vista as repercussões do
processamento de reciclagem destes materiais para o equilíbrio do meio ambiente. Esse foi o
resultado de uma pesquisa, na Suécia, acerca da Análise do Ciclo de Vida das embalagens de
463
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO 14040 Gestão Ambiental –
Avaliação do ciclo de vida – Princípios e estrutura. 2009. Disponível em: http://licenciadorambiental.com.br/wp-
content/uploads/2015/01/NBR-14.040-Gest%C3%A3o-Ambiental-avaliac%C3%A3o-do-ciclo-de-vida-principios-e-
estrutura.pdf. Acesso em 10 mai. 2022.
146
plástico, vidro e metal, encomendada pela empresa privada Returdpack, que é responsável pelo
sistema de depósito de garrafas de metal e de plásticos para reciclagem 464 465.
Através desta análise, obtém-se respaldo para a elaboração de regras jurídicas que obriguem
a adoção de embalagens plásticas de um tamanho e não de outro. 466 Nesta senda, a análise do ciclo
464
Como visto no subcapitulo 3.2.1.2. a Suecia opera o sistema de logística reverá por meio deposito (penhor). Neste
País, a estruturação e a implantação do sistema de logística reversa tem sido um exemplo a ser seguido no Mundo,
tendo em vista a sua eficácia social. Cerca de 85% dos produtos colocados tem seu retorno garantido para reciclagem.
Esta eficácia tem sido garantida, em razão da implantação do sistema de logística reversa, por meio de implantação de
sistema de deposito, através da portaria 220/2005 do Ministerio do Meio Ambiente. Com a edição da retro assinalada
portaria, todas a empresas que comercializem produtos inseridos em embalagens de plásticos e metal tornaram-se
obrigadas, no licenciamento, a aderir ao sistema de deposito, operacionalizado por empresas privadas, fiscalizadas pelo
Ministério da Agricultura Sueco.
Antes de entrar em funcionamento, as empresas devem firmar um contrato com as mencionadas empresas privadas,
no qual é exigido delas uma contrapartida financeira anual para a manutenção do próprio sistema. Se a empresa deixar
de comercializar com embalagens ou produtos envolvidos com os materiais ora mencionados, também deixa de
contribuir com essa taxa.
O funcionamento do sistema é bem simples. Na aquisição de um produto ou embalagem contemplado no sistema de
deposito, o consumidor paga uma importância financeira pela embalagem. Este consumidor é ressarcido do valor pago,
após a devolução da embalagem consumida para os estabelecimentos ou pontos de vendas.
Na adesão ao sistema de deposito sueco, as empresas devem comprovar o atendimento da dimensão (tamanho) de suas
embalagens às exigências técnicas do referido sistema.
É valido observar, que, na Suécia, todas as empresas licenciadas no País, que comercializem com embalagens plásticas
ou metais devem adotar embalagens apropriadas ao sistema de deposito. Isto é, dentro das exigências normativas do
sistema de deposito.
Por um outro lado, as empresas que comercializam embalagens, cuja dimensão esteja fora do sistema de deposito
(grandes dispensadores) deverá junto ao Ministério Sueco solicitar a dispensa de sua integração ao referido sistema.
Esta última situação é excecional, pois, naquele País, tem-se exigido das empresas o uso de embalagens compatíveis
com o sistema de deposito. (Disponivel emt: https://pantamera.nu/sv/privatperson/).
465
A avaliação do ciclo de vida investiga dispõe acerca da forma mais adequada de processar a logística. Assim, por
exemplo, avalia-se, por meio do mecanismo da ACV, se é mais vantajoso para o controle da escassez dos bens
ambientais, utilizar o reuso das garrafas de vidro ou manter o uso das garrafas plásticas pelo consumidor, com a garantia
da reciclagem. De repente, por causa da distância percorrida valha mais a pena a reciclagem de plásticos, se este
processamento garanta menos emissão de CO2 no meio ambiente. Neste sentido, vê-se a importância do papel do
executivo, em seu Poder Regulamentar. Ele dará viabilidade aos propósito da lei, em abstrato, através da edição de
seus instrumentos normativos. (ARAGÃO, Alexandra. Direito Administrativo dos Resíduos. P. 33 In: OTERO, Paulo.;
GONÇALVES, Pedro Costa. Tratado de Direito Administrativo Especial. Coimbra: Almedina, v.1, 2009. p.11-
158.)
466
Com base em uma pesquisa, sobre a analise ciclo de vida das embalagens de plástico, metal ou vidro encomendada
pela empresa returdpack - empresa privada responsável pelo sistema de depósito de garrafas de metal e plásticos para
a reciclagem na Suécia, em 2020, pode perceber que a reciclagem de material de vidro oferece mais impacto ambiental
do que embalagens de plásticos e metal, uma vez, essas embalagens referem-se a materiais mais pesados. Na mesma
Avaliação Ciclo de Vida em que se comparou o processo de reciclagem de embalagens de plástico de tamanhos
distintos, quais sejam 33 cl e 50 cl, pode-se constatar que quanto maior embalagens, por incrível que pareça menor é
impacto ao clima, quanto menor a embalagem maior impacto. Segunda Sara Bergendroff- especialista em materiais da
Returdpack- isto ocorre porque menos material é necessário por litro de bebida. Outro fato interessante que o estudo
confirma, é que quanto mais materiais são recolhidos adequadamente para reciclagem menor são os impactos ao clima.
(Quatro analise do ciclo de vida em 3 anos. Tradutor Google. Disponível na internet: https://pantamera-
nu.translate.goog/sv/om-oss/hallbarhet/fyra-livscykelanalyser-pa-tre-ar/?_x_tr_sl=sv&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-
BR&_x_tr_pto=op,sc Acesso em: em 26.12.2021)
147
de vida possui uma relação direta com o ecodesign 467 das embalagens, previsto nos artigos 31, I,
a) e b) 468e 32, §1, I, II, III469 da Política Nacional dos Resíduos Sólidos. A ACV pode resultar em
compreensões técnicas que podem vir a ser normas de condutas a serem exigidas pelo poder
executivo, garantindo fiel execução da lei.
Releva notar, que antes mesmo da concepção de ciclo de vida está inserida na LPNRS,
observa-se que a mesma pode ser vista em uma pesquisa encomendada pela Coca-Cola, na qual, a
referida empresa pretendeu avaliar os impactos dos diversos tipos de embalagens ao meio
ambiente. Com a pesquisa, a Coca-Cola visava adotar, em seu sistema produtivo, embalagens que
demonstrassem maior conservação aos recursos ambientais e causassem menor impacto470.
A análise do ciclo de vida do produto somente passou a ter uma relevância na década de
80, quando houve, em algumas partes do globo, o estímulo à reciclagem. A prova disso, foi que a
comunidade Europeia vem recomendar, em 1985, a avaliação do ciclo de vida “como melhor
técnica de automonitoramento de consumo de materiais energéticos em quaisquer empresas
467
Segundo o Ministério do Meio Ambiente Brasileiro, ecodesign é todo o processo que contempla os aspectos
ambientais onde o objetivo principal é projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que de alguma
maneira irão reduzir o uso de recursos não renováveis ou ainda minimizar o impacto ambiental dos mesmos durante
seu ciclo de vida. Isto significa reduzir a geração de resíduos e economizar custos de disposição final.” (Ministério do
meio Ambiente. Ecodesign, disponível na internet https://antigo.mma.gov.br/clima/politica-nacional-sobre-mudanca-
do-clima/siderurgia-sustentavel/item/7654-ecodesign.html, acesso em 08.01.2022)
468
Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos sólidos e com
vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes têm responsabilidade que abrange:
I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:
a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação
ambientalmente adequada;
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
469
Art. 32. As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.
§ 1o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:
I - restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à comercialização do produto;
II - projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível com as exigências
aplicáveis ao produto que contêm;
III - recicladas, se a reutilização não for possível.
470
PIRES, Adriana Dias Moreira; DANTAS, Ceres Virginia da Costa. Estudo do uso de ferramentas de gestão
sustentável da produção: Avaliação do ciclo de Vida e Logística Reversa. V Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa
e Inovação, 2010. Disponível em:
http://connepi.ifal.edu.br/ocs/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/232/190. Acesso em 26 dez. 2021,
p.2
148
instaladas naquele continente.”471 472Sob esta ótica, surge a análise do ciclo de vida, que se satisfaz
na avaliação dos impactos ofertados por um produto colocado no mercado, desde a obtenção de
matérias-primas até a sua destinação ou disposição final, depois do consumo.
Apesar disso, foi em 1993, que a avaliação do ciclo de vida do produto torna-se uma
exigência internacional com uma série de normas ISO 14000. Quem quisesse manter sua
competitividade no mercado internacional deveria seguir as medidas protetivas ambientais,
consagradas pela ISO 14000. Assim, as séries de normas ISO 14000 passam a ser símbolo de boa
gestão ambiental, a serem perseguidas pelas empresas. Deste modo, para ganhar o mercado
internacional, as empresas deveriam seguir, entre outras normas de condutas, as diretrizes
oferecidas pela ISO assinalada.
A ISO 14000, foi definida pela International Organization for Standartization – ISSO
(Organização Internacional para Padronização), o intuito de sua criação foi a redução do
impacto causado pelas empresas
ao meio ambiente. Sendo assim, se a empresa seguir as normas propostas pela ISO 14000
e implementar os processos indicados, ela pode obter a certificação da ISO. Como
benefícios a empresa pode considerar: uma maior aceitação no mercado internacional;
retenção de cliente se melhores resultados financeiros. 473
Enfim, sem maiores aprofundamentos, a ISO 14000 foi desenvolvida pela Comissão
Técnica 207 da ISO (TC 207) e no entender de Vladimir Motta veio:
Em resposta à demanda mundial por uma gestão ambiental mais confiável, reforçando o
novo papel das questões ambientais, como fatores considerados de forma direta na
471
PIRES, Adriana Dias Moreira; DANTAS, Ceres Virginia da Costa. Estudo do uso de ferramentas de gestão
sustentável da produção: Avaliação do ciclo de Vida e Logística Reversa. V Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa
e Inovação, 2010. Disponível em:
http://connepi.ifal.edu.br/ocs/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/232/190. Acesso em 26 dez. 2021,
p.2
472
Alexandra Aragão, interpretando a Política Comunitária do Meio Ambiente, entende que é dever do empresário
adotar a melhor tecnologia disponível (MDT) não importando o custo, desde que a (I) tecnologia esteja disponível em
uma larga escala, (II) a tecnologia aplicada em condições econômica e tecnicamente viáveis. Neste segundo parâmetro,
é considerado o custo e benefício da tecnologia a ser implantada e à acessibilidade financeira da tecnologia ao operador.
Segundo a referida autora, a prova da indisponibilidade da tecnologia nos sentidos referidos cabe aos agentes
econômicos. (Aragão, Cadernos Cedouas, p. 55-56)
No Direito Brasileiro, precisamente na própria PNRS, poderia encontrar o uso do conceito de melhor tecnologia
disponível (MDT), nos termos do artigo 33, § 2. Por este viés, pode ser visto o referido conceito quando, PNRS
condiciona o uso do instrumento da logística reversa para embalagens de metais e vidro à viabilidade técnica,
econômica da logística reversa e demonstração de que as referidas embalagens podem causar danos ao meio ambiente
e saúde pública. Com isso, de acordo com artigo 33, §1e 2, da PNRS, e a logística reversa das embalagens plásticas
depende da comprovação de potencial lesividade embalagens plásticas ao meio ambiente e na saúde humana;
viabilidade técnica e econômica resíduos gerados.
473
MOTTA. Vladimir Henrique. Análise do ciclo de vida e logística reversa. In: X Simpósio de Excelência em Gestão
e Tecnologia. Resende: 2013. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/42318514.pdf. Acesso
em 10 mai. 2022. p. 7.
149
estratégia dos negócios empresariais, sendo a ISO 14000 estruturada em duas grandes
áreas, uma com foco nas organizações e outra com foco nos produtos e serviços.474
Em relação a estrutura metodológica do ciclo de vida, afirmamos que ela foi definida em 4
etapas principais que estão presentes na ISO 14040. Elas são embasadas em definição de objetivo
e escopo, momento em que são definidos os sistemas, as funções, os limites e os impactos grados;
a análise de inventário, que implica na coleta de dados, a fim de quantificar as entradas e saídas
relativas a um sistema produtivo; avaliação de impacto, que pretende analisar os impactos
considerados com fundamento na análise de inventário. Por fim, tem-se a interpretação dos
resultados, que resulta da análise entre as respostas advindas da análise do inventário e da avaliação
de impactos ambientais, considerando o escopo definido com o objetivo de obter conclusões e
recomendações475.
Instituída de forma mais especifica no Art. 30 da Lei 12.305/2010 (Política Nacional dos
Resíduos Sólidos), a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, consiste em
um conjunto de atribuições realizadas de forma encadeada e individualizada pelos produtores de
resíduos sólidos - fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. Como visto no capítulo
anterior, a introdução da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto no
ordenamento jurídico Brasileiro é uma das maiores inovações do legislador brasileiro. A referida
responsabilidade foi incluída na ordem jurídica no Brasil, a partir da promulgação da Lei
12.305/2010.
Segundo João Mendes, observando-se o disposto no Art. 3, XVII c/c Art. 30 da PNRS, a
responsabilidade compartilhada é um instituto que vem estabelecer deveres individuais e
encadeados em relação ao ciclo de vida do produto e à cadeia de produtores de residuos,476 desde
474
MOTTA. Vladimir Henrique. Analise do ciclo de vida e logística reversa. Simpósio de Gestão Tecnológica para a
Competividade. 23.24.25 de outubro. P. 7 Disponível na internet:
https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/42318514.pdf
475
PIRES, Adriana Dias Moreira; DANTAS, Ceres Virginia da Costa. Estudo do uso de ferramentas de gestão
sustentável da produção: Avaliação do ciclo de Vida e Logística Reversa. V Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa
e Inovação, 2010. Disponível em:
http://connepi.ifal.edu.br/ocs/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/232/190. Acesso em 26 dez. 2021, p.
3.
150
476
Qualquer um pode ser produtor de resíduo, nos termos do artigo 3, IX da PNRS. Deste modo, são geradores de
resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado que gerem resíduo solido por meio de suas
atividades incluído o consumo.
477
MENDES, Mucio Amado João. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos na cadeia
eletrônicos. Orientadora: Patrícia Faga Iglesias Lemos. 2015. 195 fls. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade
de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-01122015-
142705/publico/Dissertacao_JOAO_MUCIO_AMADO_MENDES_REEE.pdf. Acesso em 10 mai. 2022, p. 69.
478
Art. 14. Os fabricantes, os importadores, os distribuidores e os comerciantes dos produtos a que se referem os
incisos II, III, V e VI do caput do art. 33 da Lei nº 12.305, de 2010, e dos produtos e das embalagens de que tratam os
incisos I e IV do caput e o § 1º do art. 33 da referida Lei deverão:
I - estruturar, implementar e operar os sistemas de logística reversa, por meio do retorno dos produtos e das embalagens
após o uso pelo consumidor; e
II - assegurar a sustentabilidade econômico-financeira da logística reversa.
§ 1º Para fins do disposto nocaput, os fabricantes, os importadores, os distribuidores e os comerciantes ficam
responsáveis pela realização da logística reversa no limite da proporção dos produtos que colocarem no mercado
interno, conforme metas progressivas, intermediárias e finais estabelecidas no instrumento que determinar a
implementação da logística reversa.
479
MENDES, op cit, p. 69.
151
Com a adoção da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, o Brasil
passa a trilhar o caminho iniciado pela Alemanha e que se amplia para toda a União
480
Ver § §22 a 26 da Lei Alemã para a Promoção da Gestão Integrada do Ciclo Fechado de Resíduo Sólidos, apud
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentário à Lei dos Resíduos
Solidos: Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. São Paulo> Pilares, 2011p.133.
481
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de Araújo, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentários à Lei dos
resíduos sólidos: Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 (e seu regulamento). Imprenta: São Paulo, Pillares, 2011, p.
135.
482
Ibidem, p. 135.
483
Ibidem, p. 135.
152
Europeia, com a abordagem moderna da gestão dos residuos solidos, que não se retringir
à um eficiente sistema de coeta, tratamento e disposição do lixo, mas inclui incentivos à
redução geração e da preiculosidade dos residuos e ao aumento do seu aproveitamento.
Começa-se a aplicar efetivamente o principio do poluidor pagador.484
484
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de Araújo, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentários à Lei
dos resíduos sólidos: Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 (e seu regulamento). Imprenta: São Paulo, Pillares,
2011, p. 135.
486
Ibidem, p.133.
487
ARAGÃO, Alexandra. O princípio poluidor pagador: pedra angular da politica comunitário do ambiente. Instituto
do Planeta Verde: São Paulo, 2014. p. 132.
488
Essa provisão de informação, esclarece Mara Araújo e Ilida Juras, que esse dever está presente somente na legislação
Brasileira. Assim, a legislação Alemã garante a ‘provisão de informações no que concerne às possibilidades ou
obrigações de retorno, reutilização e recuperação, tem guarida na legislação Alemã”. (ARAUJO; JURAS, 2011, p.135.)
153
reutilização. Qualquer caso que excepcione esse regramento, consoante Art. 32, §2, por razão
técnica ou econômica, deverá ser disposto em regulamento.
Em consequência da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, no Art.
32, § 1, I, foi atribuído aos fabricantes o dever de garantir que as embalagens sejam suficientes
apenas para proteger o conteúdo e sua comercialização. Neste raciocínio, no Art. 32, § 1º II, da
PNRS, o legislador também atribuiu o dever de o produtor projetar tecnicamente as embalagens,
de modo que seja possível a reutilização.
Outrossim, se não for viável o reuso das embalagens, a Lei 12.305/2010, em seu Art. 32, §
1, III, estabeleceu o dever de o fabricante garantir que as referidas embalagens sejam produzidas
de materiais que permitam o processo de reciclagem no fim do ciclo de vida.
Por conta da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, prevista no Art.
489
30 da PNRS, os fornecedores possuem a obrigação de estruturar e implementar o sistema da
logística reversa de certos resíduos sólidos, a exemplo de pneus e eletrônicos, para garantir seu
retorno, conforme Art. 33 I – VI, a fim de dar tratamento adequado aos mesmos, sem impor
quaisquer condições. Por um outro lado, ainda reflexo da citada responsabilidade compartilhada,
o Art. 33, §1 afirma que produtos como embalagens plásticas em geral terão seu retorno garantido
à cadeia produtiva, mediante um acordo setorial e termos de compromissos490firmado entre o Poder
Público e os fornecedores. Nesta mesma linha, segue o artigo 18, I e III c/c o artigo 21 e 25 do
decreto 10936/2022
489
Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma
individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores
e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e
procedimentos previstos nesta Seção.
Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo:
I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e
mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis;
II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias
produtivas;
III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais;
IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade;
V - estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados
e recicláveis;
VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade;
490
O acordo setorial, como o próprio artigo 3, I da PNRS, define, é “um ato de natureza contratual firmado entre Poder
Público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade
compartilhada do ciclo de vida.” Para a doutrina, o acordo setorial tem uma natureza contratual. (KOZLOWSKI,
Luzia Hilda; ARRAES, Ricardo Velloso Arraes. O princípio do poluidor pagador aplicado à responsabilidade
ambiental pós consumo: implementação incipiente da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos. [201-?]. Disponível em: http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2016/relatorios_pdf/ccs/DIR/DIR-
Hilda%20e%20Ricardo%20Arraes.pdf. Acesso em: 20 jun. 2020. p.3)
154
Para fortalecer a responsabilidade compartilhada em prejuízos das leis, sem prejuízos dos
instrumentos exarados pelo Poder Público (Regulamentos) e os acordos setoriais, termos de
compromissos firmados entre empresários e Poder Público, os fabricantes e importadores deverão
utilizar medidas que assegurem a implementação e a operacionalização da logística reversa. Entre
essas medidas: (a) nos termos do Art. 33, § 3, I da PNRS, “implantar procedimento de recompra
ou embalagens usadas”; (b) poderá o empresário disponibilizar postos para entrega dos resíduos
com fins de reutilização ou reciclagem, consoante inteligência do Art. 33, § 3, II da PNRS e (c) de
acordo com o artigo 33 §3, III buscar parcerias com cooperativas ou formas de associações de
materiais reutilizáveis e recicláveis em relação às embalagens de plástico, vidro e metais.
Observadas as obrigações dos fabricantes, decorrentes da responsabilidade compartilhada
e da leitura detida do Art. 30 da PNRS, perceber-se-á que qualquer um pode ser produtor de resíduo,
não escapando dessa condição o consumidor.491 Para cumprir este dever, o Art. 33 § 4, entende que
os consumidores deverão, sob sua responsabilidade, encaminhar os produtos sujeitos à logística
reversa obrigatória para a devolução junto aos comerciantes ou distribuidores (Art. 33, I-VI) ou
mediante acordo setorial (Art. 33 §1).
A colaboração do consumidor com o sistema de logística reversa pode ser vista, também,
no Art. 35, II, da PNRS. De acordo com este artigo, o consumidor é obrigado “ a disponibilizar
adequadamente os resíduos reutilizáveis para coleta e devolução “, os quais estão sujeitos à
logística reversa, constante no Art. 33 da PNRS.
Nesse contexto normativo jurídico, não desconhecendo a importância do consumidor para
garantir a eficácia da Lei 12.305/2010, a referida Politica Nacional dos Resíduos Sólidos defende
que deverá ser aplicada uma pena de advertência ao consumidor que não colabora com o sistema
491
Para atribuir o conceito semântico ao termo consumidor, à lei 12.305/2010 volta-se para as diretrizes normativas
do artigo 2º da lei 8078/1990 (Código de Defesa do consumidor). O Código de Defesa do Consumidor considera
consumidora toda pessoa física e jurídica que adquire ou utilize o produto como destinatário final, não importando se
esta pessoa utiliza pessoal ou profissionalmente. Por um outro lado, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos entende
que é gerador de resíduo solido qualquer atividade que seja capaz de gerar resíduos, o que não exclui o consumidor.
Para Velazques e Marcon, a adesão a teoria Maximalista pela PNRS na integração da figura do consumidor como
produtor de resíduo, fica clarividente que é produtor de resíduo, tanto o consumidor que utiliza o produto na sua vida
pessoal, quanto aquele que usufrui o produto no âmbito profissional ou na sua atividade produtiva. (VELÁZQUEZ,
Victor Hugo Tejerina; MARCON, Victor Trevilin Benatti, Aspecto relevante da logística reversa na política nacional
de resíduos sólidos. Revista Direito Ambiental e sociedade, v. 7, n. 3, 2017
155
10.936/2022 o Poder Publico fica incumbido “de promover a articulação da educação ambiental na
gestão de resíduos sólidos com a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela lei
9795/1999.” Observa mais um compromisso do legislador com a responsabilidade compartilhada,
que impõe a todos produtores de resíduos, deveres individuais e encadeado, em relação aos próprios
resíduos produzidos.
De que vale exigir a logistica reversa, se o consumidor sequer conhece o seu significado492
ou ainda desconhece seu dever de conduzir a pilha ou a bateria de celular que não lhe serve mais,
ao ponto de coleta? Na pior das hipóteses, parece distante alcançar a eficácia social da PNRS, se
ainda há consumidores que acreditam que o problema do lixo é somente do Estado.
Por um outro lado, mesmo que se reconheça o dever do Estado em estimular a educação
formal e não formal, nos termos dos Artigos 10 e 13 da Lei 9795/99 (POLÍTICA NACIONAL DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL) e por força do Decreto 4281/2002 que a regulamenta, bem como,
de acordo com o assinalado no Art. 8 da PNRS e no Art. 82, § 2, II, IV do Decreto 10936/2022, é
preciso lembrar que nos termos do artigo 82, § 3o do decreto 10936/2022, as políticas públicas
promovidas pelo poder público não “excluem as responsabilidades dos fornecedores referentes ao
dever de informar ao consumidor sobre o cumprimento dos sistemas de logística reversa”. Neste
sentido as políticas públicas educacionais promovidas pelo Poder Público não afastam as ações
para conscientização dos consumidores sobre o sistema de logística reversa, a ser articulado pelos
produtores.
492
Em uma pesquisa realizada com acadêmicos de direitos da Universidade de Caixias do Sul, campus Bento
Gonçalves, no Município de Bento Gonçalves, município este que, segundo a referida pesquisa possui uma das maiores
per captas (em torno de 32.000,00), entre os Municípios brasileiros, constatou-se que, cerca de 60 % dos entrevistados
não sabiam ou nunca tinham ouvido falar da logística reversa. Apesar do desconhecimento apontado, a maior parte
dos entrevistados, em torno de 99% dos entrevistados reconhece a importância da devolução dos produtos, após uso
do consumidor para uma devida destinação ou disposição adequada. A pesquisa revelou ainda, que cerca de 99%
entendem que o Poder Público tem o dever de garantir Politica Publicas, que demonstrem a aplicação prática deste
grande instrumento a serviço do controle preventivo à danos ao meio ambiente, tendo em vista, os valores disseminados
pela sociedade de consumo. Assim, entre outras conclusões pôde-se perceber, segundo a pesquisa referida, que não
chega informação suficiente ao consumidor sobre o que é logística reversa e quais são suas atribuições desse
consumidor, assim como, pôde-se constatar que não “conhece seu papel na gestão dos resíduos sólidos e
principalmente na logística do residuo até o fabricante.” (RAMOS; REGINATO, 2015).
157
Reversa dos Resíduos Sólidos493 no Art. 3, XII e no Art. 33, obrigando os empresários realizarem
um conjunto de ações e procedimentos, a fim de dar destinação ou disposição final adequada do
produto no final do ciclo de vida, após devolução pelo consumidor para evitar danos ao meio
ambiente494.
Em outras palavras, a logistica reversa, compulsando-se o referido artigo 3, XII da PNRS,495
como um instrumento de desenvolvimento econômico e social, é formada por um conjunto de ações
e procedimentos, que garantem destinação final adequada do resíduo sólido ou disposição final
adequada do rejeito, após consumo 496.
A destinação final, ambientalmente adequada nos termos do Art. 3, VII da Lei 12.305/2010,
cuja compreensão do seu conteúdo normativo e semântico revela-se fundamental para a
compreensão do instituto da logística reversa, consiste em uma das formas de reintroduzir o resíduo
na cadeia produtiva empresarial, ainda passível de reaproveitamento em outros ciclos produtivos
como insumo.
Por um outro lado, a disposição final ambientalmente adequada, segundo o artigo 3, VIII
da PNRS, compreende na deposição do resíduo (rejeito), que não pode ser mais reinserido no ciclo
reverso, em aterros controlados de forma ordenada em aterros, de acordo com normas operacionais
especificas, a fim de evitar danos ao meio ambiente ou a saúde pública.
Em uma leitura do Art. 33 § caput, c/c o Art. 33, §3, resta claro que a cadeia produtiva é
responsável por estruturar e implementar o sistema de logística reversa dos produtos mencionados
no Art. 33 I – VI e 33, § 1 e do Art. 14 do Decreto 10.936 de 2022 que revogou o Decreto 7404/10,
independente do serviço de limpeza urbana, para dar o tratamento adequado aos resíduos ou
493
Artigo 3, XVI da PNRS - Resíduos Sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
494
VELÁZQUEZ, Victor Hugo Tejerina; MARCON, Victor Trevilin Benatti. Aspecto relevante da logística reversa
na política nacional de resíduos sólidos. Revista Direito Ambiental e sociedade, v. 7, n. 3, p. 201-229, 2017, p.207
495
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2010a].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 10. jun. 2020.
496
Merece a distinção de resíduo sólidos e rejeito. O resíduo solido, nos termos do artigo, 3, XVI da PNRS, é o
material descartado, mas que pode ser utilizado reintroduzido em outros ciclos produtivos ou no mesmo ciclo. Em
contra ponto, rejeito nos termos do artigo 3, XV da PNRS é o resíduo sólido, que não pode ser reaproveitado em outros
ciclos produtivos, observados os recursos tecnológicos e meios econômicos disponíveis. Daí que, só lhe resta a
disposição final adequada de acordo com as normas técnicas vigentes, a fim de que estes não causem prejuízos ao
equilíbrio ecológico e saúde humana.
158
rejeitos. Não sendo assim, essa responsabilidade atribuída ao Poder Público497 498, nem mesmo ao
consumidor.499
Quanto a este ultimo ator social (consumidor), é preciso ficar inequívoco, em uma análise
conjunta do Art. 30 c/c artigo 3, XII e Art. 33 § 4, todos da PNRS, que sua relacão com a logística
reversa decorre da responsabilidade compartilhada. A reponsabilidade compartilhada, por sua vez,
como visto, é uma responsabilidade fundamentada em deveres ou obrigações que são atribuídas de
forma individualizada e encadeada a cada participante da cadeia produtiva de resíduos sólidos.
Com isso, esta distingue-se da responsabilidade civil ambiental para reparar o dano ambiental,
constante no Art. 14, §1, Lei 6.938/1981 (Politica Nacional do Meio Ambiente), a qual é objetiva,
sólidária500 e integral.501
497
“Consoante o espírito da responsabilidade compartilhada contido na lei 12.305/2021, o Poder Público local poderia,
até, participar da operacionalização da logística reversa, conforme previsto no inciso XV do caput do art. 19. Contudo,
tal participação, nos termos do artigo, 33 §7 da PNRS, prevista em acordo setorial ou termo de compromisso firmado
entre Poder Público e Cadeia Empresarial, deve ser devidamente remunerada pela atividade empresarial. (JURAS;
MARTINS, 201, p.141).
498
A previsão disposta no artigo 33, § 7, demonstra à relação simbiótica entre o poluidor pagador e o instrumento de
Logística Reversa. Neste sentido, emprestando uma efetividade à vocação distributiva do poluidor pagador, o
legislador da PNRS impediu que o Poder Público trouxesse para si os custos para a implementação e operacionalização
da logística reversa. Em assim sendo, as atividades econômicas devem internalizar os custos para a introdução do
sistema de logística reversa para a prevenção de danos ambientais decorrentes dos resíduos sólidos, ainda que este
fosse operacionalizado pelo Poder Público. Correta posição do legislador, pois, acompanhando o sentimento do ppp,
na mesma medida, em que, os empresários guardam o lucro proveniente da atividade para si, devem, também, absorver
os custos sociais relativos à introdução de mecanismos preventivos, tal como a logística reversa. Não é justo que a
sociedade arque com despesas para reparação de danos ambientais causados por terceiros atividades poluidoras),
tampouco, pela implementação de instrumentos preventivos ao dano, como taxas, filtros, logística reversa e etc.). Veja
que não representa justiça social, como também não é o melhor caminho para cessar a poluição. O pagamento pelo
próprio empresário pelas medidas anti-poluição somente ativará sua consciência para fazer cessa-la ou reduzi-la.
499
Conforme o § 3 do artigo 14 do. 10.936/2022, as cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis e
reutilizáveis poderão integrar o sistema de logística reversa, desde que devidamente constituídas e cadastradas e
habilitadas nos termos dispostos no artigo 40 e 42 do referido decreto (art. 14 §3, I) e mediante de instrumento legal
devidamente firmado entre cooperativas ou associações e as empresas ou entidades gestoras para a prestação do
serviço, nos termos da legislação. (art. 14, § 3, II). Esse mandamento já era previsto no artigo 18 § 1 do decreto
7404/2010, ainda que sem os mesmos as mesmas imposições formais para a contratação das cooperativas e
associações.
Vale mencionar, que antigo decreto que regulamentava a PNRS priorizava a participação de cooperativas e outras
formas de associações de materiais reutilizáveis e recicláveis constituídas por físicas de baixa renda no sistema de
logística reversa no artigo 40 do decreto 7404/2010.
500
Como visto, não pode se confundir a responsabilidade solidária, em face da responsabilidade compartilhada. A
primeira forma de responsabilidade implica na possibilidade acionar qualquer agente contaminador, cujo nexo de
causalidade normativo se opere, a fim de reparar o dano ambiental. De outra parte, a segunda indica nos deveres ou
obrigações individuais e encadeado, nos termos assinalado no artigo 30 da PNRS, impostos as atividades econômicas,
responsáveis por estruturar e operacionalizar a logística reversa dos produtos e embalagens constante no artigo 33, I-
V c/c o artigo 33,§ 1 º e 2º da lei 12.307/2010
501
Por esse interim, a responsabilidade civil ambiental pelo dano causado não depende da comprovação de culpa,
respondendo o poluidor na esfera cível, independentemente da penal e administrativa. De outra parte, em decorrência
da solidariedade, significa afirmar que poderá impor a responsabilização para a reparação ao dano ambiental à qualquer
um dos poluidores da cadeia da poluição.
159
502
Uma devolução adequada, nos termos do artigo 4º do decreto 10.936/2022 e do 6º do decreto 7404/2010 revogado
é aquela que respeita os modos de acondicionamento apropriado, de modo que, permita uma futura reutilização ou
reciclagem por parte da cadeia responsável pela logística reversa.
503
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de Araújo, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentários à Lei
dos resíduos sólidos: Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 (e seu regulamento). Imprenta: São Paulo, Pillares,
2011, p.141.
160
504
Talvez, tentando trazer uma alguma eficácia para o sistema de logística reversa, artigo 15 § 2 do decreto
10.936/2022, dispõe que além das informações de transporte de resíduos, os responsáveis pelo sistemas de logística
reversa integrarão e manterão atualizadas as informações, entre outras solicitadas pelo Ministério do Meio Ambiente
sobre: I localização de pontos de entrega voluntaria, II- os pontos de consolidação; e III – os resultados obtidos,
consideradas as metas estabelecidas.
Outrossim, não adianta disponibilizar informações atualizadas sobre os pontos de coletas de entrega voluntaria para o
Ministério do Meio Ambiente, se este mesmo Ministério não buscar formular regulamentos para que as informações
sejam divulgadas em meio de comunicação em massa ou disponibilizadas em sites, com ampla divulgação para o
consumidor.
505
CIPRIANO, Tasso Alexandre.10 anos da Política Nacional de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto
o direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.
506
KOZLOWSKI, Luzia Hilda; ARRAES, Ricardo Velloso Arraes. O princípio do poluidor pagador aplicado à
responsabilidade ambiental pós consumo: implementação incipiente da responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos. Disponível em: http://www.puc-
rio.br/pibic/relatorio_resumo2016/relatorios_pdf/ccs/DIR/DIR-Hilda%20e%20Ricardo%20Arraes.pdf. Acesso em:
20 jun. 2020. p. 3
161
507
MIRANDA, Murilo Carvalho; MAYA; Fernando Joaquim Ferreira. A Logística reversa como instrumento de
efetividade do Princípio Poluidor Pagador na redução dos impactos ambientais. Scientia Iuris, v. 19, n. 02, p.101-126,
2015. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/view/19873. Acesso em 10 mai. 2022.
, p.114.
508
FILHO TODE, Sergio et al. A Logística Reversa e a Política Nacional de Resíduos Sólidos: Desafios para a realidade
brasileira. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental Santa Maria, v. 19, n. 3, p. 529-538,
2015. Disponível em: https://tratamentodeagua.com.br/artigo/a-logistica-reversa-e-a-politica-nacional-de-residuos-
solidos-desafios-para-a-realidade-brasileira/ Acesso em: 17 mai. 2022.. p.535.
162
509
CIPRIANO, Tasso Alexandre.10 anos da Política Nacional de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto
o direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.
510
JUNCAL, Luana Figueiredo. Possibilidade de responsabilidade ambiental pós consumo do consumidor e
responsabilização pós consumo do fabricante pelo Poder Judiciário Brasileiro. In: REZENDE, Elcio Nacur;
GOMES, Magno Federici (Coord.). Responsabilidade civil frente aos desastres ambientais Belo Horizonte: ESDH,
2017. p-87-102. p. 90
511
FILHO SILVA, Carlos Costa. O princípio poluidor pagador: Da eficiência econômica à realização da justiça.
Revista de Direito da Cidade, v.4, n.2, p. 111- 128, 2012. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/9714/7613 Acesso em: 17 mai. 2022, p.122.
512
MENDES, Mucio Amado João. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos na cadeia
eletrônicos. Orientadora: Patrícia Faga Iglesias Lemos. 2015. 195 fls. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade
de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-01122015-
142705/publico/Dissertacao_JOAO_MUCIO_AMADO_MENDES_REEE.pdf. Acesso em 10 mai. 2022.
513
ARAGÃO, Alexandra. 10 anos da Política Nacional de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto o
direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.
514
Merece destacar a importância de que o Poder Público edite normas jurídicas, por meio de instrumentos normativos,
definindo parâmetros sobre o ecodisigne das embalagens. Por obvio que estas normas devem se balizar por regras já
definidas na própria política Nacional como avaliação de ciclo de vida, por exemplo, as quais devem ser atualizadas
de acordo com o desenvolvimento das ciências.
163
logística reversa, atrelado à concepção de majoração de lucros para os empresários, através da ciclo
invertido da produção.
Neste sentido, há uma leve impressão, com fundamento nesta pesquisa, que nas ciências
não jurídicas (administração, contabilidade e economia), a logística reversa vem sendo tratada, com
mais cuidado e como sinônimo de circularidade econômica, tendo em vista a percepção inequívoca
sobre o valor econômico do resíduo.
Assim, para as referidas searas, o ciclo reverso representa ser mais uma solução econômica
que poderá reforçar os lucros do capital, do que uma noção de custos ou indicativos de prejuízos
para o empresário.
Por esse raciocínio, malgrado, não se faria necessária a proibição do uso de plásticos, desde
que fosse evitada a dispersão desse tipo de resíduo pelo meio ambiente, através do ciclo reverso,
que é o responsável em trazer solução econômica, social e ambiental para sociedade.
Mas, a concepção de que logistica reversa indica custos e não uma solução econômica
decorre do desvalor dado ao resíduo no passado.
Para os empresários do século passado, a logistica reversa era sinônimo de custos. Não se
mensurava, na mesma proporção que os dias atuais, o uso do lixo descartado como materia-prima
secundária, a ser utilizada em outros ciclos produtivos.
Sendo assim, o interesse dos empresários em relação ao ciclo reverso não era o mesmo
quanto ao ciclo de saída. Bem na verdade, a preocupação era mais em atender a legislação
consumerista, ainda que desde de 1970 (Estocolmo), houvesse a recomendação de que os países
buscassem adotar formas de desenvolvimento que aliassem desenvolvimento econômico, social e
ambiental.
Contudo, com a noção do valor econômico, social e ambiental dado ao resíduo, há uma
mudança do referido quadro. Deste modo, o empreendedor começa a emprestar maior valor
econômico à logistica reversa, ao lado do valor ambiental e social. A literatura técnica nas ciencias
econômicas, inclusive passa a dar mais enfoque a logistica reversa.515
Na seara econômica, não há um conceito universal para o termo logística reversa. Alias,
este termo tem um conceito bem amplo, trazendo diversos significados.
515
DAHER, Cecilio Elias; SILVA, Edwin Pinto de la Sota; FONSECA, Adelaida Pallavincini. Logística Reversa:
Oportunidade para Redução de Custos através do Gerenciamento da Cadeia Integrada de Valor. Brazilian Business
Review, v.3, n. 1, pp. 58 -73, Jan./Jun. 2006. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12550/1/ARTIGO_LogisticaReversaOportunidade.pdf. Acesso em 11 mai.
2022., p. 59.
164
Em outras palavras, a logística reversa trata de mover o produto da destinação final para
o retorno ao ciclo de negócios, ou para disposição final adequada. A proposta do conceito
de logística verde como uma vantagem estratégica evidencia um grande sinergismo entre
gestão ambiental e logística.519
516
DAHER; SILVA; FONSECA, Op.cit., 2006, p. 59.
517
SOUZA, Sueli Ferreira; FONSECA, Sergio Ulisses Lage da. Logística reversa oportunidade para redução de custos
em decorrência da evolução do fator ecológico. Revista Terceiro Setor, v. 3, n.1, p.29-39, 2009. Disponível em:
http://revistas.ung.br/index.php/3setor/article/view/512. Acesso em 11 mai. 2022. p..31.
518
ROGERS, Dale S, LEMBKE, Ronald S. Going backwards: Reverse Logistics Trends and Practices. The
University of Nevada, Reno. Center for Logistics Management, Reverse Logistics Council, 1998. p.2.
519
MORAES, Rinaldo, MARTINS, Marcio, BARRADAS, Sarah , MARINHO, Sarah Barradas, BOTELHO, Mario
Augusto da Silva , JUNIOR, Souza Oswaldo Gomes de. Responsabilidade Socio Ambiental no Setor de Bebidas.
VIII Simpódio de Excelencia em Gestão e Tecnologia, 2011, p. 6
520
ROGERS, op cit.
165
521
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2003, p. 7
522
Ibidem, p. 16 e 17.
523
ROGERS, Dale S, LEMBKE, Ronald S. Going backwards: Reverse Logistics Trends and Practices.
TheUniversity of Nevada, Reno. Center for Logistics Management, Reverse Logistics Council, 1998. P.8
524
GUARNIERI, Patrícia. Logística Reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Clube de Autores. 2011.
P.45 Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=I-worBqsMTcC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR#v=onepage&q&f=false, acesso:05.01.2022.
525
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade. 2. ed. São Paulo: PearsonPrentice
Hall, 2009.
526
“De acordo com a pesquisa Green Brads Global Survey de 2009, 73% dos Brasileiros planejam aumentar gastos
com produtos e serviços verdes e 28% deles (apenas 8% dos britânicos) estão dispostos a gastar até 30% a mais em
produtos verdes e valorizar empresas que possuam praticas ambientalmente corretas.” (GUARNIERI, Patrícia.
Logística Reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Clube de Autores. 2011. P.45) Disponível em:
https://books.google.com.br/books?id=I- worBqsMTcC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false ),
acesso: 05.01.2022.
166
d) canal distributivo mais limpo; e) f) proteção maior a margem de lucro; transformação de resíduo
em ativos.527
Assim, a logistica reversa poderia se resumir a um mecanismo apropriado para trazer
desenlace a deterioração ambiental e social, ao tempo em que pode propiciar lucros – desenlace
economico - ao empresariado ao reintroduzir o resíduo pós-consumo em outros ciclos produtivos,
se possível. 528
Certamente, a logistica de retorno pode indicar custos, contudo se bem estruturada pode
mojorar o capital do empresário. Isso é o que dizem diversos grandes estudiosos do ciclo reverso
529
do resíduo pós-consumo, como Dale Rogers e Ronald Tibben Lambke.
Através das pesquisas dos referidos autores, ficou demonstrado que parte dos lucros de uma
empresa pode advir de um adequado gerenciamento de sua logística reversa. Deste modo,
constataram os autores estrangeiros, em pesquisa com varejista, que em torno de 25% dos lucros
eram provinientes do ciclo reverso de produtos, obviamente, bem conduzidos. 530 531
Por sua vez, Cadwell sustenta que a Ester Lauder Corporation obteve uma economia de 30
milhões com produtos que deixara de jogar fora com a estrutaração e implementação adequada da
logística revera. Isto equivaleu, aproximadamente, 50% a menos de perda, considerando-se o
volume anterior.532 533
527
REV LOG, 20? Apud: DAHER, Cecilio Elias, SILVA, Edwin Pinto de la Sota, FONSECA, Adelaida Pallavincini.
Logistica Reversa: Oportunidade para Redução de Custos através do Gerenciamento da Cadeia Integrada de Valor.
Brasilian Business Review. Vol. 3, n. 1, Vitória – ES, Brasil – Jan/Jun 2006, pp. 58 -73, 2006, p. 63.
528
BARBOSA, Tailine Silva Pinheiro. A logística Reversa como um instrumento de vantagem competitiva. UNG:
Universidade, v. 11, n.1, 2017, p. 9
529
ROGERS, S. Dale; ROGERS, LEMBKE Ronald S. Tibben – Going Backwards: Reverse Logistics Trends and
practices. University of Nevada, Reno Center for Logistics Management, 1988, p. 8.
530
Ibidem, 1988, p. 8.
531
Na Palestra de 10 anos dos resíduos sólidos, Tasso Cipriano demonstrou preocupação de que o instrumento de
logística reversa não fosse exigido de todas as empresas. (CIPRIANO, Tasso Alexandre.10 anos da Política Nacional
de resíduos sólidos. In: Seminário virtual do instituto o direito por um planeta verde, 2, 2020, Online.) Esse problema
está relacionado à má condução de Politicas Publicas Fiscalizatórias pelo Estado. Evidentemente, se algumas empresas
se virem cobradas de implementarem o sistema de logística reversa e outras não, essas ultimas estariam subsidiadas.
Por conta disso, o acordo setorial mostra-se um instrumento diferenciado para garantir a eficácia da PNRS,
especialmente quanto ao sistema de logística reversa. Por meio deste acordo contratual as empresas podem definir de
forma conjunta suas atribuições.
532
CADWELL, 1999, apud: DAHER, Cecilio Dias; SILVA, Edwin Pinto de la Sota; FONSECA, Adelaida
Palaviccini. Oportunidade para a redução de custos através do gerenciamento da Cadeia de Valor. Brazilian Business
Review, Vol. 3, n. 1, Vitoria –Es, BR, jan/jun, 2006 p. 58-73,p. 61
533
Cecilio Dias Daher e etal, apontam, em sua pesquisa, o desempenho das empresas do ramo de engarrafamento de
Bebidas, durante a década de 90, tendo em vista à estruturação sobretudo operacionalização de Sistema de logística
reversa adequado. Sinalizam os referidos atores que “o desempenho que as empresas no ramo de engarrafamento de
bebidas com vasilhames e engradados retornáveis se beneficiam enormemente de uma boa Logística Reversa. Caldwell
167
Com esse espírito, para Taliane Barbosa, a logística reversa é indicativa de benefícios
socioeconomicos eambientais, se bem implementada. Nas palavras da autora:
Entre outras causas, para implantação da logística reversa, está à redução dos custos,
através da reciclagem e/ou reaproveitamento do material descartado. Levando em
consideração os aspectos econômicos, a reciclagem contribui para a utilização mais
racional dos recursos naturais e a reposição daqueles recursos que são passíveis de
reaproveitamento, além de contribuir para a redução dos resíduos, sendo importante
destacar que o seu serviço logístico deve ser bem estruturado, pois falhas no processo
podem acarretar custos de ordem financeira, de imagem corporativa etc. Nota-se uma
preocupação crescente das empresas para maximizar as vantagens que a logística reversa
oferece, sempre diminuindo os custos da mesma.534
A orientação é evitar a geração do residuo,535 a fim de se conter o avanço da poluição, se
não puder reduzir, se assim também não for possível, deve-se partir para a reutilização; para a
relata grandes economias incorridas por uma engarrafadora de Coca-Cola, no México, após a implementação de um
sistema de gerenciamento da Logística Reversa. Estes ganhos se deram desde uma melhor coordenação entre
promoções e picos esperados no retorno de vasilhames, reduzindo a necessidade de produção de novos vasilhames, até
a redução na produção de garrafas plásticas não-retornáveis, aproveitando o maior controle sobre os vasilhames
retornáveis e que já haviam sido pagos. No caso do Brasil a reciclagem das embalagens de alumínio vem gerando
excelentes resultados do ponto de vista ecológico e financeiro, já que está diminuindo consideravelmente os volumes
importados de matérias primas, colocando a indústria deste setor entre os maiores recicladores de alumínio do mundo
(Ibidem, p. 62).
534
BARBOSA, Tailine Silva Pinheiro. A Logística Reversa como um instrumento de vantagem competitiva. Revista
Terceiro Setor e Gestão de Anais, v. 11, n.1, 2017. Disponível em:
http://revistas.ung.br/index.php/3setor/article/view/2098. Acesso em 14 mai. 2022, p. 9.
535
Em ordem prioridade para o gerenciamento do residuo solido adotada pela PNRS, vê-se a preocupação do
legislador em satisfazer da finalidade preventiva do ppp. Por meio da mencionada ordem, este legislador quis,
assegurar que as atividades economicas não causassem danos ao meio ambiente com os seus produtos, ainda que pos
consumo. Assim, para garantir uma segurança ao meio ambiente, o gerenciamento mais adequado seria aquele que
evitasse a formação de residuo.
168
reciclagem536; para o tratamento dos resíduos e, por fim, para a disposição final adequada dos
rejeitos 537538.
A ordem de prioridade de gestão e destinação final ambientalmente, trazida no artigo 9 da
PNRN, é apenas uma sugestão539. A definição da ordem de prioridades, ou seja, se é mais
proveitoso ao ambiente reciclar ou reutilizar, dependerá dos recursos ambientais em jogo.
Desse modo, como já demonstrado anteriormente, a decisão pelo reuso de garrafas de
vidro está condicionada a analise da escassez dos recursos ambientais envolvidos no processo de
reutilização, tal como o uso de detergentes, água e distância percorrida540.
Vê-se uma situação típica de reuso, quando um veículo passa por vários donos. Em relação
ao veículo usado, no final do ciclo de vida, as peças que podem ser aproveitadas são
comercializadas no mercado de usados. As peças inserviveis, quando há condições, podem passar
por um processo de reciclagem e são destinadas ao referido processo. Sem condições de reciclagem
ou qualquer outro processo de aproveitamento no ciclo podutivo as peças (rejeitos) são conduzidas
536
Para Paulo Roberto Leite “A Reciclagem é o canal reverso de revalorização, em que os materiais constituintes dos
produtos descartados são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias ou recicladas
que são reincorporadas à fabricação de novos produtos.” (LEITE, Paulo Roberto. Logística reversa: meio ambiente e
competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003, p.6) Paralelamente, ao conceito trazido por Leite, o artigo 3 XIV da
PNRS entende que a reciclagem consiste em um processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a
alteração de suas propriedade físicas, físico químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos
produtos, observadas as condições e padrões estabelecidos nos órgãos competentes do Sisnama, e, se couber, do SNVS
e do Suasa.
537
Para que não somem duvidas e em face da importância de compreender alguns conteúdos de certos institutos
criados na PNRS, a fim de promover uma gestão e gerenciamento adequado do resíduo solido, reiteira-se o conceito
de rejeito, constante para o artigo 3 º XVI da PNRS .
Para o referido artigo o rejeito consiste no “resíduos solido que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade que não disposição final ambientalmente adequada.” (grifos, nossos) À luz do conteúdo semântico de
rejeito vê-se a relevância da análise do ciclo de vida do produto, conceito e instituto abarcado em capítulo anterior.
Ainda observa-se, na leitura do referido artigo, o dever de atualização tecnológica. Neste sentido, o empresário que
pretende operar com atividades que representem riscos ao equilíbrio ambiental deve adotar as melhores tecnologias
disponíveis e economicamente viáveis. Vislumbrando essas questões emblemáticas, o artigo 8º XVII, “d” determinou
o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.
538
MENDES, Mucio Amado João. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos na cadeia
eletrônicos. Dissertação. (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-01122015-142705/pt-br.php Acesso em: 16 jan.
2022., p. 51.
539
O artigo 3º, VII da PNRS, dispõe que, destinação final ambientalmente adequada, consiste na “destinação de
resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras
destinações admitidas pelos órgãos competente do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final,
observando-se as normas operacionais especificas de modo a evitar danos ou riscos à saúde públicas e segurança e
minimizar os impactos ambientais adversos.”
540
ARAGÃO, Alexandra. Direito Administrativo dos Resíduos. In: OTERO, Paulo.; GONÇALVES, Pedro Costa.
Tratado de Direito Administrativo Especial, v.1. Coimbra: Almedina, 2009, p. 33.
169
para uma disposição final adequada. Contudo, não é o que ocorre sempre. Muitas vezes, as peças
sem condições de uso são direcionadas para o lixão.541
Com efeito, é priorizado tudo que possa reinserir o produto no ciclo produtivo,
preferencialmente, na medida de uma circularidade econômica, evitando-se a formação de rejeitos
para descartes.
Iniciativas e formas variam para a circularidade econômica, desde a reutilização das
embalagens retornáveis, como é o caso da Coca-Cola, que no ano de 2018, segundo dados da
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), deixou de
colocar no ambiente 1,6 bilhões de garrafas novas, até o reaproveitamento de fabricantes do meio
de eletrônicos, como a HP, que têm transformado equipamentos descartados em matéria-prima para
novos produtos.542
Em relação aos plásticos, em especifico, há o compromisso global por uma nova economia
de plástico, composta por mais de 450 organizações direcionadas à construção de uma economia
circular direcionada aos plásticos543.
Apesar desses dados, o Brasil é considerado o 4º maior produtor de lixo plástico de mundo.
Cerca de apenas 1,28% das 11,3 toneladas de lixo plásticos544 seguem para a reciclagem. Isso quer
dizer que “ os demais, vão para a natureza e levam 400 milhoes de anos para se decompor.”545
Deste modo, somente, se bem conduzido, o sistema de logistica reversa, ao invés de ser
um problema, pode ser uma solução econômica para o empresariado, mesmo em relação aos
plásticos que têm provocado desequilíbrios à fauna, à flora e à saúde humana.
Ao passo em que anda a evolução tecnólogica, de um modo geral, parece que não há
desculpas para a eficácia jurídica da logistica reversa não ser assegurada, nos termos disposto na
541
MORAES, Rinaldo, MARTINS, Marcio , BARRADAS, Sarah , MARINHO, Sarah Barradas, BOTELHO, Mario
Augusto da Silva , JUNIOR, Souza Oswaldo Gomes de. Responsabilidade Socio Ambiental no Setor de Bebidas.
VIII Simpodio de Excelencia em Gestão e Tecnologia, op. Cit., 2011, p. 6
542
SILVA, Cleide. Porque mais empresas apostam em economia circular: Alternativa ao modelo de produção,
consumo e desencarte, conceito prevê a transformação de resíduos em novas matérias-primas na indústria. 2020.
Disponível em: https://www.estadao.com.br/infograficos/economia,por-que-mais-empresas-apostam-na-economia
circular,1117170. Acesso em: 12 out. 2020.
543
Ibidem, loc.cit.
544
WORLD WILD FUND FOR NATURE. Brasil é o quarto País do Mundo que gera mais lixo. 2019. Disponivel
em : https://www.wwf.org.br/?70222/Brasil-e-o-4-pais-do-mundo-que-mais-gera-lixo-plastico, acesso em 16.01.2021
545
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe . Analise da logística reversa Brasileira: compreensão legal diante a gestão de resíduos com
bese no estudo da revisão da literatura, Brasil Journal Development, Curitiba, v. 7, p.50759 -50744, may, 2021,
p.50761
170
lei da Politica Nacional dos Residuos Solidos sobretudo, porque esta garante o reaproveitamento
do resíduos sólidos em outros ciclos, através de processo como a reciclagem, sendo permitida, em
último caso, a disposição final do rejeito, ambientalmente adequada. De outra forma, vê-se, já na
propria LPNRS algumas alternativas para implantaçao do sistema, de indole concreta e de facil
operacionalização, tal como a possibilidade de implantação e operacionalização de sistemas de
logistica reversa, por meio da introdução dos pontos de coletas nos estabelecimentos empresariais
para residuos solidos, cuja logistica reversa é obrigatória., consoante estabelece o artigo 33 caput
da LPNRS . Estes existentes, mas de aparente ineficacia, tendo em vista os parcos postos de coletas
distribuidos pelos Municípios.
Observada a relevância do sistema de logística reversa e sua eficácia para evitar danos
ambientais, decorrente de atividade poluidora, mostra-se imperioso explicar no próximo capítulo
como a Lei 12.305/2010, a concebeu.
Para tanto, apresenta-se, inicialmente, a logistica reversa obrigatória dos produtos previstos
no Art. 33 I, IV, da PNRS (ex: pneus e eletrônicos). Logo em seguida aborda-se a logistica reversa
mediante acordos setoriais (ex: embalagens plásticas, metais).
A politica Nacional dos Residuos Solidos no caput do Art. 33, in verbis, e no Art. 14, I, II
do Decreto 10936/2022, dispõe que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
devem estruturar e implementar o sistema de logistica reversa mediante garantia de retorno dos
produtos, pós-consumo, independentemente de sistema público de limpeza e manejo de resíduos
sólidos.
Art. 33 da PNRS - São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,
mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do
serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes de: (Regulamento)
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem,
após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos
perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
171
Para o legislador, os produtos referidos no Art. 33, I-VI, representam um dano presumido
ao meio ambiente, motivo pelo qual, esse legislador determinou que as atividades econômicas que
operassem com produtos ou embalagens elencadas no mencionado no Art. 33, I-VI, eram
responsáveis em implementar e operacionalizar obrigatóriamente o sistema de logística reversa
para dar a destinação adequada aos resíduos produzidos pós-consumo.
Conquanto, como visto antes mesmo da publicação da Politica Nacional dos Resíduos
Sólidos, a responsabilidade pós-consumo para a estruturação e operacionalização da logística
reversa pela cadeia produtiva, em relação a alguns desse produtos relacionados no referido Art.
33, I-V, já encontrava-se inserida em legislações espaças. Esse é o caso de agrotóxicos, seus
resíduos e suas embalagens. As normas para a responsabilização pós- consumo em face de produtos
agrotóxicos e embalagens foram estabelecidas, a princípio, Lei nº 7802/1989, modificada pela Lei
9.974/2000.
Nesta mesma ótica, a Resolução nº 257/1999, substitutida pela Resolução 401/2008,
incumbiu-se de disciplinar a responsabilização pós-consumo em relação à pilhas e baterias. A
Resolução 258/1999, substuida pela Resolução 416/2009 e a Resolução 362/2005,
respectivamente, abordaram sobre a responsabilização pós-consumo de pneus inservíveis e oléos e
lubrificantes.
No que se refere a responsabilidade pós-consumo, em face de lâmpadas florescentes, de
vapor de sódio e luz mista e de produtos eletrônicos, embora tenha sido objeto de discussão no
CONAMA, antes da edição da PNRS, nenhuma legislação sobre o tema vingou.”546 Em 12 de
fevereiro de 2020, o planalto publicou a lei 10.240, que trata sobre a implantação do sistema de
logistica reversa de produtos eletronicos e seus compontentes de uso domestico.547
Desse modo, a responsabilidade pós-consumo, através da imposição de uma logística
reversa obrigatória pelos produtores, tendo em vista os produtos relacionados no Art. 33 I-IV, não
é uma novidade. O que foi considerado um aspecto inovativo, ao tempo de publicação da Politica
546
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de Araújo, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentários à Lei
dos resíduos sólidos: Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 (e seu regulamento). Imprenta: São Paulo, Pillares,
2011, p. 139.
547
BRASIL, Decreto 10.240, publicado em 12 de feverereiro de 2020, Regulamenta o inciso VI do caput do art. 33
e o art. 56 da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e complementa o Decreto nº 9.177, de 23 de outubro de 2017,
quanto à implementação de sistema de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e seus componentes de
uso doméstico. Disponivel na internte em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/decreto/D10240.htm, acesso em: 10.05.2022
172
548
ARAUJO, Mara Vaz Guimaraes de Araújo, JURAS, Ilidiada da Ascenção Garrido Martins. Comentários à Lei
dos resíduos sólidos: Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 (e seu regulamento). Imprenta: São Paulo, Pillares,
2011, p. 139.
549
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe. Analise da logística reversa Brasileira: compreensão legal diante a gestão de resíduos com bese
no estudo da revisão da literatura, Brasil Journal Development, Curitiba, v. 7, p.50759 -50744, may, 2021 p. 50765
550
BENJAMIM, Antonio H. op. Cit, 2020, On line.
551
MENDES, João Amado Mucio. Op.cit., p. 106
552
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação Cível 7397466320178070001 DF
0739746-63.2017.8.07.0001 – Oitava Turma Cível. Relator: Mario-Zam Belmiro. Publicado no PJE, 18 out. 2019.
173
Contudo não foi o que ficou assentado no julgamento da apelação oriunda da 8ª turma do
DF, interposta pela Associação Brasileira de Proteção ao Patrimônio Público e Privado
(ABRAPEC), Associação Brasileira de Proteção do Patrimonio Publico e Privado, Cultura e dos
Consumidores, em desfavor da Ford Motors Companhia553.
Nesse julgado, o Tribunal do Distrito Federal, corroborando com a sentença do juiz de 1ª
instância, entendeu que não poderia o referido Tribunal responsabilizar a empresa Ford pela
ausência de estruturação e implementação da logística reversa para automóveis inservíveis pós-
consumo, consoante dispõe o Art. 33, I-IV da PNRS, tendo em vista, ausência de previsão legal,
porque o mencionado Art. 33, caput, não dispõe entre seus incisos o produto “automóveis”.
Nas razões da apelação, é interessante observar que o Ministério Público do Distrito
Federal pretendendo ingressar como substituto processual e a ABRAPEC defendem que, apesar de
os produtos automotores não estarem “ listados no rol do Art. 33 da Lei 12.305/2010, inserem-se
como modalidade de resíduos sujeitos à logística em pauta.”
Para o relator Mário Zamb Belmiro, “em que pese os veículos automotores possuírem
alguns dos itens elencados no Art. 33, como baterias, pneus e óleos lubrificantes, por exemplo, o
legislador optou em não incluí-los no aludido rol, não cabendo ao Poder Judiciário fazê-lo” 554.
A fim de reforçar a sua fundamentação, o relator argumenta que a lei da PNRS não
mencionou os “automóveis” entre os produtos listados, nem mesmo o Decreto 9177/2017, que
regulamentou o Art. 33 da Lei 12.305/2010.
Trazendo elementos da sentença, sustenta o relator que não é possivel seguir interpretando
além do querer do legislador. Este sabe muito bem distinguir automóveis e de suas partes
integrantes. Se não mencionou, foi porque não quis:
O raciocínio pelo qual um automóvel deve ser considerado não como um produto final,
mas como o conjunto dos itens que o compõem não convence, na medida em que se
considera que o legislador por certo sabe bem o que é um carro, e se quisesse incluir esse
tipo de produto no sistema de logística reversa haveria de fazê-lo expressamente, como o
fez com outros produtos complexos mencionados no mesmo Art. 33 da Lei da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, tais como pilhas e baterias (que são compostas por
materiais diversos), lâmpadas fluorescentes, de vapor sódio e mercúrio (que, além dos
553
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação Cível 7397466320178070001 DF
0739746-63.2017.8.07.0001 – Oitava Turma Cível. Relator: Mario-Zam Belmiro. Publicado no PJE, 18 out. 2019.
554
Ibidem.
174
componentes químicos referidos na lei, são também compostas por vidro, ferro e outros
materiais), ou "produtos eletroeletrônicos e seus componentes". 555
Com fundamento no princípio da legalidade (Art. 5II CF), para o relator não poderia o
judiciário decidir lege ferenda. Menciona ainda, que a responsabilização tão somente da montadora
Ford para implementação da logística reversa, deixando as demais de fora, resultaria na quebra da
isonomia. Assim, para esse julgador tem-se violado para o princípio da legalidade e isonomia.
Ademais, apresentados os argumentos do relator pela legalidade, segurança júridica e
isonomia para justificar a impossibilidade de realização da logística reversa além dos produtos e
embalagens previstos no caput do Art. 33, os demais desembargadores: Diaula Costa Ribeiro e
Estaqui Castro acompanharam o seu voto.
Em que pese, a posição do Tribunal de Justiça do Distrito Federal no julgado do DF sob
n.: 0739746-63.2017.8.07.00, da 18ª turma do DF, publicado em 11 de Julho de 2019, à luz do
princípio o Direito fundamental ao equilibrio ecologico, sustentabilidade ambiental, do princípio
do poluidor pagador, que determina a internalização das externalidades ambientais negativas ou
adoção de medidas preventivas, a fim de garantir os escassos recursos ambientais às gerações atual
e futura, não fere o princípio da legalidade a interpretação teleologica e sistemática do dispositivo
referido para abranger a responsabilização dos fabricantes de automoveis para implantarem a
logística reversa, principalmente porque os veículos automotores são formados por peças constante
no Art. 33 I-IV, e 33 § 1, em sua grande maioria.
Outro caso, em que uma das Cortes Brasileiras trouxe um pensamento mais positivista, foi
no julgamento do TJPR do Agravo de Intrumento 1654975-6 proviniente da 5 ª Câmara Civel556,
em que teve como agravantes a Associação Brasileira de Indústria e Iluminação (ABRILUX) e a
Associação dos Importadores de Produtos de Iluminação (ABILUMI) e como agravado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
No referido Julgado, a 5ª Camara Paranaense, em julgamento do agravo de instrumento n.
1654975-6, entendeu que a falta de um cronograma, através de um regulamento jurídico, para
implantação progressiva da logística reversa referente às lampadas de vapor, de sódio e mercúrio
555
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação Cível 7397466320178070001 DF
0739746-63.2017.8.07.0001 – Oitava Turma Cível. Relator: Mario-Zam Belmiro. Publicado no PJE, 18 out. 2019.
556
PARANÁ. Tribunal de Justiça do Paraná. Agravo de Instrumento 16549756 PR 1654975-6 (Acórdão) - Quinta
Câmara Cível. Relator: Desembargador Nilson Mizuta Diário de Justiça, 03 ago. 2017. Disponível em: https://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/837248323/agravo-de-instrumento-ai-16549756-pr-1654975-6-acordao/inteiro-
teor-837248343. Acesso: 10 dez. 2021.
175
557
O artigo 56 da PNRS afirma que a logística reverá de lâmpadas florescente, vapor de sódio e mercúrio ( 33-V) e de
produtos eletrônicos e seus componentes (33 VI) será implementada progressivamente e de acordo com regulamento.
A regulamentação dos produtos e eletrônicos somente veio mais tarde, por meio de decreto de 10240 de 2020.
558
Com o adiamento da vigência do conteúdo normativo presente no artigo 56 da PNRS vê-se um caso clássico de
“poluição normativa”, cuja analise do instituto deu-se no capitulo 2. O manifesto protelatório dos efeitos normativos
proposto pela norma, adia a efetivação dos fins preventivos do princípio poluidor pagador em relação a esses produtos,
causadores de riscos de danos ao meio ambiente. Veja bem, que, em relação aos produtos eletrônicos, a norma
mencionada no artigo 56 da PNRS, recentemente, em 2020, a partir da edição do decreto sob n. 10.240/2020. A edição
de normas com conceitos abertos, como visto, sem destinatários especificados ou obrigações, os poluidores favorecem
apenas os poluidores inescupulos e a inefetividade do PPP. É preciso que os Poderes Públicos e os Tribunais Nacionais,
no mesmo sentido que os Tribunais de Justiça Europeus combatam esse tipo de “poluição”.
559
PARANÁ. Tribunal de Justiça do Paraná. Agravo de Instrumento 16549756 PR 1654975-6 (Acórdão) - Quinta
Câmara Cível. Relator: Desembargador Nilson Mizuta Diário de Justiça, 03 ago. 2017. Disponível em: https://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/837248323/agravo-de-instrumento-ai-16549756-pr-1654975-6-acordao/inteiro-
teor-837248343. Acesso: 10 dez. 2021.
560
PARANÁ. Tribunal de Justiça do Paraná. Agravo de Instrumento 15074434 PR 1507443-4 (Acórdão). Quarta
Câmara Cível. Relator: Desembargador Abram Lincoln Calixto. Diário de Justiça, 13 jun. 2017. Disponível: https://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/836804531/agravo-de-instrumento-ai-15074434-pr-1507443-4-acordao/inteiro-
teor-836804541. Acesso: 10 dez. 2021.
561
Ibidem.
176
Para justificar a decisão, afirmou a referida turma do Tribunal de Justiça do Paraná, que as
referidas associações representantes das empresas do setor de lâmpadas de e mercúrio estariam
enquadradas na definição de poluidor atribuída pelo Art. 3, IV, da Lei 6938/1991, tendo em vista
os danos que o mau armazenamento das referidas lâmpadas poderia causar ao meio ambientes.
Assim sendo, no caso submetido a juizo desse tribunal, a hipótese normativa da
responsabilidade civil ambiental objetiva, a qual determina nos termos do 14, § 1 da Lei 6938 de
1991, aos poluidores tomarem medidas para prevenção ou reparação de danos, independente de
culpa e de forma solidária, compreende a 4ª turma do Tribunal de Justiça do Paraná que as
associações ABRILUX E ABILUMI deverão promover a destinação adequada das lâmpadas de
vapor de sódio e mercúrio, no Município de Campo Mourão.
Nesse último julgado, além de a 4ª turma Tribunal de Justiça do Paraná ter fundamentado
a sua decisão na responsabilidade civil ambiental objetiva, à luz do princípio fundamental da
prevenção, esta mesma turma, para justificar a direção tomada pelo julgamento, reporta a função
principiológica preventiva do PPP, assim como os elementos normativos legais da logística reversa
estabelecidos no Art. 3, §3, da PNRS. Em razão disso, a 4ª turma do Tribunal de Justiça do Paraná
repudia a ideia do recolhimento, pelo Poder Público Municípal, dos resíduos de lâmpadas de vapor
e de mercúrio dos depósitos mantidos de forma inadequada pelas cadeia produtiva empresarial, a
fim dar-lhe a destinação adequada.562
Assim, observa-se que, em tempos recentes, os Tribunais Brasileiros, em matéria de
logística reversa dos resíduos sólidos, têm sido mais cautelosos em aplicar diretamente o PPP para
invalidar normas estabelecidas pelo legislador. Desse modo, os juízes têm evitado de enunciar
normas de condutas em seus julgados, deixado essa tarefa para o legislativo ou executivo.
Mesmo porque, atualmente, há em vigência a Lei 12.305/2010 (Política Nacional dos
Resíduos Sólidos), que disciplina de forma inequívoca as atribuições, oriundas da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida do produto para toda a cadeia produtiva de resíduos (fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e Poder Público), na mesma medida em
562
Nesta mesma linha do julgado tem-se o agravo de instrumento no processo sob n. 12077142 do Tribunal de Justiça
do Paraná. (Tribunal de Justiça Paraná. Processo AI 12077142 PR 1207714-2 (Acórdão)Órgão Julgador4ª Câmara
Cível. Relatora Desembargadora: Maria Aparecida Blanco de Lima Data de Publicação DJ: 1428 06/10/2014.
Disponivel na internet https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/839643636/agravo-de-instrumento-ai-12077142-
pr-1207714-2-acordao/inteiro-teor-839643646 , acesso em 12.12.2021
177
que dispõe sobre a sistemática da logística dos resíduos sólidos para todo produto ou embalagem
que ofereça risco ou dano ao meio ambiente.
Apesar disso, é indubitável que a normatização em abstrato do gerenciamento dos residuos
sólidos - pos consumo gerados - pelas atividade economicas potencialmente causadoras de danos
ambientais pelo Poder Legislativo, não dispense a sua normatização, através do Poder Executivo
competente, com o proposito de garantir uma aplicabilidade concreta da referida lei, tendo em vista
as particularidades da dimensão socioeconomica e ecologica. Justamente, a falta de
regulamentação que leva os magistrados a se conduzirem para a Jurisdição Constitucional ou
Ativismo Judicial.
Primeiramente, cabe salientar que, consoante apregoa o Art. 33, §1, da PNRS, os produtos
comercializados em embalagens plásticas, metais e vidros e outros produtos e embalagens, tendo
em vista os danos que estes podem causar ao meio ambiente e a saúde pública, poderão mediante
acordo setorial, termos de compromissos e regulamentos, estarem sujeitos ao sistema de logistica
reversa obrigátoria, tal como os produtos previstos no Art. 33, I-VI, da PNRS.
Assim, em uma interpretação gramatical, a implantação ou a operacionalização do sistema
de logística reversa por fabricantes, importadores, distribuiores e comerciantes desses produtos e
embalagens acima referidos, dependem de acordos setoriais, termos de compromisso ou
regulamentos do Poder Publico563.
Refletindo a direção tomada pelo legislador e pelo Executivo, há quem sustente que isso foi
apenas uma aparente falta técnica do mesmo, uma vez que, o legislador, confundiu-se conceitos na
referida Política Nacional dos resíduos.564.
Um argumento, conforme comentado em tópico anterior, que milita a favor da extensão da
logística reversa das embalagens plásticas, metais e vidros, independente de acordo setorial, é que
563
KOZLOWSKI, Luzia Hilda et al. Responsabilidade Ambiental pos consumo à luz do princípio poluidor pagador:
uma análise do nível de implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos prevista na
política nacional de resíduos sólidos. Revista Direito da Cidade, v.8, n. 4, p. 1442- 1467, 2016, p.1446.
564
KOZLOWSKI, Luzia Hilda; ARRAES, Ricardo Velloso Arraes. O princípio do poluidor pagador aplicado à
responsabilidade ambiental pós consumo: implementação incipiente da responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos. Disponível em: http://www.puc-
rio.br/pibic/relatorio_resumo2016/relatorios_pdf/ccs/DIR/DIR-Hilda%20e%20Ricardo%20Arraes.pdf. Acesso em:
20 jun. 2020.
178
segue Antonio Herman Benjamin565e João Amado Mucio Mendes, 566 os produtos referidos no Art.
33, I –VI, da PNRS compõem apenas um rol exemplificativo de produtos ou embalagens, cuja
logística reversa é obrigatória. Poderia então, no rol apresentado pelo Art. 33, serem inseridos
outros produtos ou embalagens que representassem um grau de perigo de dano ou dano para o
equilíbrio ambiental.
Contudo, conforme demonstrado no tópico anterior, a partir da análise de alguns julgados
no país sobre a aplicação da PNRS, após a edição da mesma, o judiciário tem tido cuidado de não
invadir a seara do legislativo ou do executivo, tendo em vista, princípios como a separação dos
poderes e segurança jurídica.
Isso tem chegado ao extremo, ao ponto de os julgadores não reconhecem a Jurisdição
Constitucional, que impõe a força normativa dos princípios Constitucionais fundamentais, sob a
perspectiva da dignidade da pessoa humana em relação as normas editadas pelos Poderes
Legislativos e Executivo.
Outro ponto importante a salientar é que, segundo o Art. 33, § 2º,, somente é possível exigir
a implantação de um sistema de logística reversa, para as atividades econômicas que comercializem
produtos ou embalagens cujos resíduos sejam potencialmente causadores de danos à saúde pública
ou meio ambiente, desde que seja comprovada a viabilidade técnica e econômica da logística
reversa, bem como comprovada a potencialidade dos danos causados por esses resíduos ao meio
ambiente ou a saúde pública.
Preleciona Alessandra Aragão, no âmbito da Política Comunitária Europeia, que
viabilidade técnica e econômica consiste no dever de os empresários adotarem a melhor tecnologia
disponível, considerando a disponibilidade econômica dessa tecnologia a um operador médio.
Traduzindo em minuciais, a tecnologia deve estar disponível financeiramente a um operador médio
e em larga escala. 567 568
565
BENJAMIN, Antonio Herman, op. cit 2020.
566
MENDES, Mucio Amado João. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos na cadeia
eletrônicos. Orientadora: Patrícia Faga Iglesias Lemos. 2015. 195 fls. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade
de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-01122015-
142705/publico/Dissertacao_JOAO_MUCIO_AMADO_MENDES_REEE.pdf. Acesso em 10 mai. 2022, p.106.
567
ARAGÃO, Maria Alexandra de Souza. Direito Comunitário do Ambiente. Curso de Direito do Ordenamento,
do Urbanismo e do Ambiente, 2002, p. 55-57.
568
Por conta disso, para João Mendes dificilmente a logistica reversa se estenderia a todos os residuos gerados, nem
mesmo em um futuro distantes, a todos os residuos, substituindo o serviço de limpeza Publica, especialmente,
considerando à sobredita viabilidade técnica, econômica e ambiental. Assim para o referido autor ha que verificar a
referidas viabilidades (MENDES, 2015, p.106).
179
569
ARAGÃO, Maria Alexandra de Souza. Direito Comunitário do Ambiente. Curso de Direito do Ordenamento, do
Urbanismo e do Ambiente, 2002, p.55-57.
570
JORNAL DA USP. Cientistas brasileiras desenvolvem embalagens biodegraveis ativas e inteligentes.
Disponivel na internet:https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/cientistas-brasileiras-desenvolvem-
embalagens-biodegradaveis-ativas-e-inteligentes/. Acesso em: 25.fev. 2022.
180
são considerados como produtos potencialmente danosos ao meio ambiente e a saúde publica,
consoante dispõe o Art. 33, §1, da PNRS.
Essa celeuma fica resolvida, com a edição Decreto 9177/2017, revogado pelo Decreto n.
10936/2022, publicado, recentemente, em 12 de janeiro de 2022 que previu a aplicação do sistema
de logística reversa mediante acordos setoriais ou termos de compromisso, tanto para os produtos
e embalagens previstas no Art. 33, I-IV, da PNRS, quanto aos relacionados no Art. 31, §1, da
PNRS.
Com o objetivo de assegurar um tratamento isonômico entre participantes e não
participantes de acordos setoriais e termos de compromissos, o referido decreto determinou que
fosse exigido o cumprimento de obrigações ou aplicadas as mesmas regras de fiscalização para os
não signatários, na mesma proporção em que eram exigidas dos signatários.
Assim, à luz do art. 28 do Decreto nº 10936/2022, que revogou o Art. 2 do Decreto nº
9177/2017, editado no governo de Michael Temer, as empresas não signatárias de acordo setorial
ou termo de compromisso com a União estão obrigadas a implementarem e operacionalizarem o
sistema de logística reversa referente aos produtos e suas embalagens referidos no Art. 33, caput
(ex. Pneus e eletrônicos), bem como os produtos e embalagens previstos no Art. 33, §1 (embalagens
de plásticos, vidro, metais e produtos, embalagens e resíduos potencialmente causadores de danos
ao meio ambiente), nos mesmos termos imputados aos signatários de acordos setoriais ou termos
de compromisso com a União. Isso significa dizer que os signatários ou não signatários terão de
cumprir os mesmos deveres ou obrigações estipuladas nos acordos setoriais ou termo de
compromisso firmado.
Quanto a aplicação da referida norma aos Estados e Municípios, compreende que é possível
sua aplicação em relação aos referidos Entes Político, tendo em vista que a mesma versa sobre a
garantia da isonomia procedimental no processo.
Assim, considerando que a União tem a competência concorrente para legislar sobre norma
geral, nos termos do artigo 24, XI c/c §1, na medida em que aos Estados cabe a referida
competência par dispor sobre norma especifica, entende que as atividades empresariais que não
aderirem aos acordos setoriais e termos de compromisso nos âmbitos Estaduais deverão cumprir
compulsoriamente, as mesmas obrigações e prazos determinados aos signatários.
Os municípios, por sua vez devem obedecer a regra do artigo 28 do novel decreto
10936/2022, pois a eles é dado dispor sobre especifico, consoante estabelece o artigo 30, I da
182
571
BRASIL, DELIBERAÇÃO CORI n. 11/17, de 25 de setembro de 2017, Disponivel na internet:
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/19314302/do1-2017-09-26-deliberacao-
no-11-de-25-de-setembro-de-2017-19314284, Acesso em 10.12.2021
572
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa;
REZENDE, Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE,
Amanda Luiza de Lima Seaghe . Analise da logística reversa Brasileira: compreensão legal diante a gestão de resíduos
com bese no estudo da revisão da literatura, Brasil Journal Development, Curitiba, v. 7, p.50759 -50744, may, 2021,
p.50769 -50770
573
Ibidem, loc. Cit,
574
SÃO PAULO, , Decisão da Diretoria n. 008/2021-P, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo,
Disponivel na internet em : DD-008-2021-P-Estabelece-procedimento-para-licenciamento-ambiental-de-sistemas-de-
logistica-reversa-e-para-dispensa-do-CADRI.pdf (cetesb.sp.gov.br) Acesso em: 10.12.2021
183
575
Correta a posição da CETESB, em adequar a norma Estadual, às exigências normativas da Norma Constitucional,
haja vista, o princípio da simetria. O referido princípio exige que os Estados respeitem as normas que representam
paradigmas adotados pela Constituição Federal, a exemplo das normas organizacionais e principiológica). Em se
tratando de norma que indique um alicerce do Estado Constitucional, o mandamento Constitucional terá uma
reprodução obrigatória no ordenamento Estadual.
Como ressalva princípio da autonomia, as normas de reprodução obrigatória podem ser expressas ou não durante o
texto Constitucional. As normas expressas, a exemplo do artigo 27 §1, artigo 125 §2 e artigo 75 da CF, conferem uma
maior segurança jurídica. As normas de repartição de competências podem serem citadas como um exemplo de norma
de repetição obrigatória implícita no texto Constitucional.
Conquanto, disso tudo o que interessa saber é que, as normas de repetição obrigatória impedem a edição pelos Estados,
em seus processos legislativos, de normas-regras que violem princípios, tal como o princípio da isonomia, assim como,
evita que os Entes Políticos Municipais e Estaduais transgridam normas de ordem organizacionais, a exemplo de regras
de repartição de competências, estabelecidos na Constituição Federal.
Nesta ordem de pensamento, consoante estabelece o artigo 5, caput da CF, os Estados possuem Constitucional dever,
tendo em vista, o princípio poluidor pagador, isonomia e Simetria Constitucional de estabelecer regras em seus
ordenamentos, que garantam tratamento isonômico para os aderentes e não aderentes de acordo setorial, constante
estabelece o artigo 28 do decreto 10936/2022. O Município deve seguir no mesmo caminho. (DIAS, Eduardo Rocha;
GONÇALVES, Ana Cristina Viana Loureiro. O papel das normas de reprodução obrigatória na Autonomia Estadual.
Revista Academica da Escola Superior do Ministério Publico do Ceára. P. 93-94, p. 85- 106, 2018)
576
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe .op. cit, 2021, p.50770
577
SÃO PAULO. RESOLUÇÃO SMA Nº 45, DE 23 DE JUNHO DE 2015 Resolução SMA 045 de 23 de junho de
2015. Define as diretrizes para implementação e operacionalização da responsabilidade pós- consumo no Estado
de São Paulo, e dá providências correlatas. Disponivel na internet:
https://sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/repositorio/506/documentos/Resolu%C3%A7%C3%A3o-SMA-045-
2015.pdf
184
578
faz-se presente no Estado de São Paulo, desde 2018, com a decisão de diretoria n. 076/2018/C
579
da CETESB, ainda que a exigência para a demonstração de plano de implementação e
operacionalização de um sistema de logística durante a renovação do licenciamento fosse de forma
gradativa, consoante as condições descritas no item 2.4.2 e seguintes da mencionada decisão do
CETESB. 580 581
Com o advento da decisão da diretoria 08/2021/P, de 29 de janeiro de 2021 revogam-se
as condições previstas na decisão da CETESB n. 076/2018/C. Sendo assim, o órgão passa a exigir
durante o processo de licenciamento ambiental inicial ou renovação, a demonstração de um plano
de implantação e operacionalização do sistema logística passa a ser obrigatória, consoante dispõe
o ponto 1 da decisão da diretoria 08/2021/P para as embalagens de alimentos; embalagens de
bebida; embalagens de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos; embalagens de
produtos de limpeza e afins; embalagens vazias de agrotóxicos; embalagens vazias de saneantes
desinfetantes de venda restrita a empresas especializadas; embalagens vazias de tintas imobiliárias,
conforme definido na Resolução CONAMA nº 469, de 29 de julho de 2015. 582
Apesar da decisão da diretoria do CESTESB n. 08/2021/P vigente, não mencionar o termo
“embalagem plástica” em seu texto, essa mesma decisão no item 1, aponta para a obrigatoriedade
da estruturação e da implementação do sistema de logística reversa referente a produtos, como:
578
SÃO PAULO, LEI 12.300/2006, em 16 de março de 2006, institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define
princípios e diretrizes. Disponivel na internet: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2006/lei-12300-
16.03.2006.html , acesso em 10.12.2021 , acesso em 10.12.2021
579
SÃO PAULO, Decisão da Diretoria n. 76/2018/C, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo,
Disponivel na internet: https://cetesb.sp.gov.br/decisoes-de-diretoria/dd-076-2018-c , acesso em 10.12.2021
580
A decisão da diretoria 076/2018/C da CETESB, publicada em 03 de abril de 2018 decidiu que à obrigatoriedade
da exigência da logística reversa no procedimento de licenciamento ambiental deveria ocorrer de forma gradativa.
Assim, em relação à alguns produtos como produtos de limpeza e suas embalagens ou bebidas e suas embalagens, por
exemplo, deveria exigir no prazo de 180 dias da publicação de sua publicação a logística reversa dos estabelecimentos
que possuíssem instalação com área construída acima de 10 mil metros quadrado. Em relação a estabelecimento
acima de 1 mil metros quadrados, a obrigatoriedade da logística reversa seria apenas a partir do ano de 2019, quando
da solicitação ou renovação da licença e operação. Por fim, em 2021, todos os empreendimentos que fossem sujeitos
à licenciamento ordinário deveriam apresentar o plano de estruturação e implementação do sistema de logística reversa,
quando da solicitação ou renovação da operação.
581
Vale esclarecer que o Estado de São Paulo, através da lei 12.300/2006, em seu artigo 19, “o Plano de Gerenciamento
de Resíduos Sólidos, a ser elaborado pelo gerenciador dos resíduos e de acordo com os critérios estabelecidos pelos
órgãos de saúde e do meio ambiente, constitui documento obrigatoriamente integrante do processo de licenciamento
das atividades e deve contemplar os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, armazenamento,
coleta, transporte, tratamento e disposição final, bem como a eliminação dos riscos, a proteção à saúde e ao ambiente,
devendo contemplar em sua elaboração e implementação.” (grifos, nossos)
582
SÃO PAULO, Decisão da Diretoria n. 76/2018/C, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo,
Disponivel na internet: https://cetesb.sp.gov.br/decisoes-de-diretoria/dd-076-2018-c/ acesso em 10.12.2021
185
embalagens de bebida ou embalagem de produto de limpeza e afins, pois esses produtos são, em
grande parte, confeccionados com materiais plásticos.
Apesar disso, a recem publicada decisão do CETESB n. 127/2021/P no Estado de São Paulo
determina a demonstração pela cadeia empresarial de estruturaçao e operacionalização da logistica
reversa de embalagens plasticas, nos termos legais e tecnicos, como pre requisito para emissão ou
renovação de licença 583.
O § 1, do Art. 28 do Decreto 10936/2021, por sua vez, dispõe sobre normas sobre:
operacionalização, prazos, metas dos sistemas de logística reversa; planos de comunicação,
avaliações e monitoramentos dos sistemas de logística reversa; penalidades e às obrigações
especificas imputadas à cadeia de produtores. Por sua vez, esclarece o Art. 28, § 2, do mencionado
decreto que as eventuais revisões dos termos e condições previstas no acordo setorial deverão ser
prontamente atendidas pelo fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos
relacionados no Art. 33, §1 e §2, da PNRS
Em termos procedimentais, observa-se que para a implantação do sistema de logística
reversa por meio de instrumento de acordo setorial, termo de compromisso ou regulamentos, exige
no minimo que se faça constar em seus respectivos instrumentos conforme dispõe o artigo 18 § 1
do decreto 10.936/2022:
I - definições;
II - objeto;
III - estruturação da implementação do sistema de logística reversa;
IV - operacionalização do sistema de logística reversa e do seu plano operativo;
V - financiamento do sistema de logística reversa;
VI - governança para acompanhamento de performance;
VII - entidades gestoras;
VIII - forma de participação dos consumidores no sistema de logística reversa;
IX - obrigações dos fabricantes, dos importadores, dos distribuidores e dos comerciantes;
X - planos de comunicação e de educação ambiental;
XI - objetivos, metas e cronograma;
XII - monitoramento e avaliação do sistema;
XIII - viabilidade técnica e econômica do sistema de logística reversa; e
XIV - gestão de riscos e de resíduos perigosos.
583
SÃO PAULO. DECISÃO DE DIRETORIA Nº 127/2021/P, de 16 de dezembro de 202. Estabelece Procedimento
para a demonstração do cumprimento da logística reversa no âmbito do licenciamento ambiental, em
atendimento à Resolução SMA 45, de 23 de junho de 2015 e dá outras providências. Disponivel emt:
https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/12/DD-127-2021-P-Procedimento-para-a-demonstracao-da-
logistica-reversa-no-ambito-do-licenciamento.pdf
186
584
Em que pese, a disposição normativa Federal verse, acerca a prevalência dos acordos setoriais Federais, sem
quaisquer condições, tal como fazia o artigo 15 §1 do velho decreto 7404/2010, sobre os de ordem Estaduais e
Municipais entendemos, considerando a competência comum de todos os Entes Políticos, nos termos do artigo 23, V,
VI e VII da CF em proteger o meio ambiente e combater a poluição, que deverá ser avaliada casuisticamente, o campo
de incidência da norma editada pelo Ente Político.
Em hipótese de disputa competência entre os Entes Federados, em homenagem ao pacto Federativo, caberá ao
judiciário avaliar, a natureza das obrigações assumidas.
Neste sentido, se dois Entes Políticos avocam-se competentes para dispor sobre uma determinada obrigação, deverá
verificar, por exemplo, termos do artigo 24, VII, VIII da CF, se a obrigação estabelecida no referido acordo setorial,
versa sobre norma geral, cuja competência concorrente é da União ou essa obrigação tem uma natureza especifica,
sendo assim, da referida competência pertence aos Estado.
Consequentemente, restará para o judiciário avaliar a ocorrência ou não, do princípio da predominância de interesses
dos Estados sobre a União. Nesta mesma linha de pensamento, é preciso também, nos termos do artigo 30 da CF, em
tendo como parte de um determinado Acordo Setorial ou Termo de Compromisso Ente Político Municipal. Resta então,
nessa hipótese analisar, se é uma hipótese da predominância de interesse local.
Além dessa disputa entre entes Federativos, uma eventual decisão judicial deverá, conformar na mesma elementos
que garantam a proteção dos escassos bens ambientais tão essenciais para a sobrevivência física e psíquica da geração
atual e futura. Essa era a direção pelo decreto 7404/2010. O referido decreto, em seu artigo 15 §1, norma está suprimida
no decreto 10936/2022, na direção do artigo 225 da CF e do artigo 23 da CF afirmava que os acordos setoriais firmados
em menor abrangência poderiam até se sobrepor sobre os de maior abrangência, desde que oferece maior proteção
ambiental.
187
585
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe . op. Cit., 2021, p.50766
189
sobre o peso total das embalagens colocadas no mercado, informações por meio de uma listagem
dos municípios cobertos pelo sistema, listagens dos comerciantes e varejistas visitados pelos
fabricantes e importadores, peso e volume dos resíduos devolvidos pelos comerciantes e varejistas,
listagens dos comerciantes que utilizam ou nao utilizam o sistema ou que destinam
inadequadamente as embalagens e o quantitativo em kilograma destinado para a reciclagem.
O acordo setorial das embalagens de oléos e lubrificantes, na cláusula quarta não apenas
aponta os deveres dos empresários em cumprirem com as atribuições previstas no próprio acordo
e legislação, como também, reforça algumas obrigações, decorrentes do sistema da
responsabilidade compartilhada prevista na Lei 12.305/10, tal com o dever dos signatários em
realizar campanhas para conscientização do consumidor.
Em relação aos acordos setoriais das embalagens em geral, entre os quais incluem-se as
embalagens plásticas, por um lado, afirma-se que o referido acordo disciplina acerca da obrigação
de os fabricantes importadores de embalagens garantirem a destinação adequada às suas
embalagens, após o consumo; por outro lado, neste mesmo acordo tem-se determinado o dever de
os comerciantes e os varejistas que comercializam produtos envolvidos por embalagens plásticas
cederem espaços em seus estabelecimentos para implantação do sistema de logistica reversa.
Em outro ponto, seguindo as diretrizes da PNRS, o acordo setorial firmado sobre
embalagens em geral prevê a possibilidade da participação de cooperativas e associações de
catadores no sistema de logística reversa.
Nesse sentido, foi estabelecido neste acordo setorial, o dever de os fabricantes investirem
nas estruturas físicas, colaborarem para a aquisição de equipamentos e capacitação de suas centrais
de triagens, mas também foi estabelcida a obrigação de os fabricantes investirem nas cooperativas
que participem do seu sistema de logística reversa.
Seguindo as diretrizes da responsabilidade compartilhada, o dever informacional, o
estímulo ao ecodesigne estabelecido na Lei 12.305/2010, no acordo setorial de embalagens
firmado com a União, foi imputado aos fabricantes e importadores o dever: de recompra de
embalagens recicláveis das cooperativas ou dos centros de triagens mantidos pelo titulares de
serviços públicos de limpeza urbana e manejo de residuos; de divulgar entre os consumidores
informações sobre manejo adequado dos resíduos produzidos para possibilitar a reciclagem. Essa
última atribuição foi também repassada para os comerciantes e varejistas.
190
586
MAZZILLI, H. N. A defesa dos interesses difusos em juízo, 30ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017, p. 497.
191
logistica reversa constante no artigo 33 I—VI e artigo 33§ da PNR apresentam uma proposta
formal de termo compromisso para o Ministério do Meio Ambiente, com os aspectos formais
normativos minimos, constante no artigo 18 §1 do decreto 10936/2022 e os documentos elencados
no artigo 18 § 2 do decreto 10936/2022.
A referida proposta seguirá para analise e manifestação, no prazo de 15 dias, das autoridades
Federais, relacionadas com matéria.
O resultado dessa analise, é encaminhado para a avaliação do Ministério do Meio
Ambiente, que poderá: não tendo chegado à um consenso na negociação do termo de
compromisso, solicitar o arquivamento ou poderá o referido Ministério aquiescer com a proposta.
Em assim sendo, o referido Ministério convocará os representantes do setor empresarial para
assinatura do termo de compromisso, com a publicação do extrato deste instrumento no diário
oficial da União.
Poderá ainda, o Ministerio do Meio Ambiente solicitar seja realizado ajustes na proposta
apresentada, a qual segue para reanalise pelas autoridades Federais, competentes da matéria. Com
a manifestação das autoridades e retornado os autos para Ministerio do meio Ambiente, a proposta
ou será aprovada, assinada pelas partes acordantes e publicada em diario oficial da União ou ela
seguira para arquivamento.
Em âmbito Nacional, há vigente o Termo de Compromisso de Logistica Reversa Aço
(2018), que tem o escopo de garantir a destinação final ambientalmente adequada dos residuos de
Aço.
No que se refere a termos de compromissos Estaduais, existem alguns termos de
compromissos na Região Sul Sudeste. No Paraná, a secretaria Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hidricos- SEMA, firmou 18 termos de compromissos, com a imposição de penalidades
administrativas e criminais, a fim de prospectar o cumprimento das obrigações constante no artigo
33 da Lei 12305/2010.587
587
OLIVEIRA, Thais Gomes, et. al. Análise da logística reversa brasileira: compreensão legal diante a gestão de
resíduos com base no estudo da revisão da literatura. Brasil Journal Development, v. 7, n. 5, mai. 2021. Disponível
em: https://brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/30101. Acesso em 10 mai. 2022.
192
4.5.3 Regulamentos
Regulamentos nos termos do artigo 84, IV da CF são atos administrativos expedidos pelo
Poder Executivos que possui a função de detalhar a lei com a definição de obrigações, por exemplo
viabilizando sua execução e aplicação em casos especificos.
A logistica reversa dos produtos constante no artigo 33 I-IV e 33, §1 poderá ocorrer por
meio de um regulamento exarado pelo Poder Executivo. Isso é o que afirma o 23 do decreto
10936/2022.
Porém, o aprimoramento do sistema de logistica reversa mediante regulamento, na esfera
Federal deverá obedecer alguns procedimentos constantes no artigo 24 do decreto 10936/2022.
Compulsando a forma procedimental contida no artigo 24 ora assinalado, observa-se que,
ela se assemelha com o procedimento estabelecido para os termos de compromisso.
Assim, durante o seu procedimento para a formalizaçao dos regulamentos do executivo, a
proposta emanada pelo Ministerio do Meio ambiente, perpassará por consulta pública;
Depois a proposta é repassada para avaliação de autoridades Federais competentes para
analise da matéria, para somente, então ser ajustada e aprovada pelo Ministério Ambiente, que
encaminhará para a presidência para apreciação do Presidente da Republica ou poderá este orgão
arquivar, se entender inviavel a proposta.
Em conhecimento, no prazo estabelecido para a consulta publica, poderá os Fabricantes,
Importadores, Distribuidores e Comerciantes poderá apresentar propostas de estudos e viabilidades
tecnicas e economica da logistica reversa para aprimorar a proposta. Conquanto, essa intervenção
não condiciona aprovação da proposta pelo Ministerio do Meio Ambiente.
588
No Estado de São Paulo foi editada a Resolução SMA 45/2015 que determinou que a
liçença para operação está condicionada à comprovação de estruturação e implementação da
logistica reversa. Para tanto, como visto, em 2018, a Companhia Ambiental do Estado de São
588
SÃO PAULO. Resolução Sma Nº 45, De 23 De Junho De 2015 Resolução SMA 045 de 23 de junho de 2015.
Define as diretrizes para implementação e operacionalização da responsabilidade pós- consumo no Estado de
São Paulo, e dá providências correlatas. Disponivel na internet:
https://sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/repositorio/506/documentos/Resolu%C3%A7%C3%A3o-SMA-045-
2015.pdf
193
Paulo ( CETESB) editou o a Decisão da Direitoria (DD), 076/2018,589 reeditada pela DD. N.
114/2019/P/C,590 exigindo a incorporação da logistica reversa no licenciamento ambiental.
Neste sentido, as licenças para operar e a sua renovação somente é possivel mediante o
cumprimento da exigencia legal de estruturação e implementação da logistica reversa. Na Decisão
da Direitoria (DD), 076/2018, a direitoria da CETESB estabeleceu metas progressiva para a
referida estruturação e implementação de acordos com certas condições apontadas nas referidas
decisões, mas conforme explicou-se anteriormente, com a decisão da diretoria n. LR. (DD n,
008/2021/P CETESB)591, a partir de 2021, todos os empreendimentos que operem com produtos
relacionados nesta ultima decisão deverão durante a renovação da licença de operação ou pleito
inicial, apresentar um plano de sistema de logistica reversa.
Recentemente, como mencionado anteriormente, em dezembro de 2021 foi editada a
decisão de Diretoria n. 127/2021/P no Estado de São Paulo que estabelece procedimento para
demonstração de cumprimento da logistica reversa no ambito do licenciamento ambiental.
Interessante observar, que a demonstração ao atendimento às exigencias legais e tecnica é
condicionante para emissão e renovação da licença ambiental. 592
Seguindo a mesma linha do Estado São Paulo, o Estado do Rio de Janeiro edita a Lei
593
8151/2018, entendendo pela obrigatóriedade da estruturação e implementação do sistema de
logistica reversa para qualquer tipo de embalagens e residuos produzidas e comercializada neste
589
SÃO PAULO. Decisão De Diretoria Nº 076/2018/C, de 03 de abril de 2018 Estabelece Procedimento para a
incorporação da Logística Reversa no âmbito do licenciamento ambiental, em atendimento a Resolução SMA
45, de 23 de junho de 2015 e dá outras providências Disponivel na internet em: https://cetesb.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2018/04/DD-076-2018-C.pdf
590
SÃO PAULO. Decisão De Diretoria N. 114/2019/Pc Estabelece o “Procedimento para a incorporação da
Logística Reversa no âmbito do licenciamento ambiental”, em atendimento à Resolução SMA 45, de23 de junho
de 2015 e dá outras providências disponível na internet em: https://cetesb.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2019/10/DIVULGA%C3%87%C3%83O-DA-DD-114-2019-P-C-Procedimento-pa-
incorpora%C3%A7%C3%A3o-da-Logistica-Reversa-no-lic.ambiental.pdf , acesso em: 20.12.2021.
591
SÃO PAULO DECISÃO DE DIRETORIA Nº 008/2021/P, de 29 de janeiro de 2021. Estabelece procedimento
para licenciamento ambiental de estabelecimentos envolvidos nos sistemas de logística reversa e para dispensa
do CADRI no âmbito do gerenciamento dos resíduos que especifica. Disponivel na internet:
https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/02/DD-008-2021-P-Estabelece-procedimento-para-licenciamento-
ambiental-de-sistemas-de-logistica-reversa-e-para-dispensa-do-CADRI.pdf
592
SÃO PAULO. DECISÃO DE DIRETORIA Nº 127/2021/P, de 16 de dezembro de 202. Estabelece Procedimento
para a demonstração do cumprimento da logística reversa no âmbito do licenciamento ambiental, em
atendimento à Resolução SMA 45, de 23 de junho de 2015 e dá outras providências. Disponivel na internet:
https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/12/DD-127-2021-P-Procedimento-para-a-demonstracao-da-
logistica-reversa-no-ambito-do-licenciamento.pdf
593
RIO DE JANEIRO. Lei n. 8151 de 01 de novembro de 2018. Institui o sistema de logística reversa de embalagens
e resíduos de embalagens, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, de acordo com o previsto na Lei Federal nº 12.305,
de 2010 e no Decreto nº 7.404, de 2010. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em:
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=368998. Acesso em 20 dez. 2021.
194
Estado. Para viabilizar a aplicação da lei, a Secretaria do Estado do Rio de Janeiro, do Ambiente
e Sustentabilidade, editou a resolução SEAS n. 13 de 13 de maio de 2019. Por meio dessa resolução,
a secretaria regulamentou o ato declaratório de embalagens e planos de Metas e investimentos,
estabelecido no plano de logistica reversa de embalagem. 594
Como mais uma forma de viabilizar a lei Carioca, a secretaria do Estado do Ambiente e
595
Sustentabilidade edita, também a Resolução INEA N. 183 de 12.07. 2019. Esta resolução
estabelece a não obrigatóriedade do Estabelecimento de licenciamento para PEV (ponto de Entrega
Voluntária), tendo em vista, no entender do Executivo que trata-se de atividade de baixo potencial
lesivo ao meio Ambiente.
596
Para finalizar, o Estado do Mato Grosso do Sul edita o decreto 15.340/2019, que
determina obrigatóriedade da estruturação e Implementação do Sistema de logistica reversa das
Embalagens em Geral pelos Fabricantes, Importadores, Distribuidores e Comerciantes.597
594
RIO DE JANEIRO. Resolução SEAS de 13 de maio de 2019.Regulamenta o ato regulatório das embalagens
e o plano de metas e investimentos estabelecidos no sistema de logística reversa de embalagens e residuos.
Disponivel na internet: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/05/Resolu%C3%A7%C3%A3o-SEAS-
n%C2%BA-13_2019.pdf , acesso em 20. 12. 2021
595
RIO DE JANEIRO. Resolução INEA Nº 183 DE 12/07/2019. Dispõe sobre a inexigibilidade de licenciamento
ambiental de Ponto de Entrega Voluntária (PEV) de logística reversa no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.
Disponivel na internet: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=380155, acesso em 10.12.2021
596
MATO GROSSO DO SUL. D ECRETO Nº 15.340, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2019. Define as diretrizes para
implantação e implementação da logística reversa de embalagens em geral no Estado de Mato Grosso do Sul, e
dá
providências. Disponivel na internet: http://www.semagro.ms.gov.br/wp content/uploads/2020/05/Decreto-15.340-
de-23.12.19.pdf
597
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe . op. Cit, 2021, p.50767
195
as mesmas normas imputadas aos signatários e aderentes. Assim, a fiscalização seria única. As
obrigações exigidas para empresas signatárias seriam as mesmas para as não signatarias.
Em relação mais especificamente às embalagens plásticas, constante no artigo 33, §1, como
foi dito no capitulo anterior, há um acordo setorial vigente para embalagens em geral. O acordo
setorial traz uma série de obrigações para os mais diversos atores, incluindo as coopertativas de
catadores.
Em que pese, à relevancia das obrigações estabelecidas para a cadeia empresarial no
mencionado acordo setorial, é importante consignar que, nos termos do artigo 28 do decreto
10936/2022, os fabricantes, importadores, os distribuidores de produtos envolvidos por plasticas
e respectivas embalagens, que não aderiram a aquele acordo não estão desobrigados à obedecerem
às mesmas regras imputadas aos signátarios do referido acordo. Neste sentido, queM não aderiu ao
acordo setorial, também deverá cumprir as normas imputada aos aderentes.
O decreto editado pela União sob n. 10936/2022, em seu artigo 28, faz uma conformação
do artigo 33, §1 e §2 da PNRS ao princípio fundamental do equilibrio ecologico, sustentabilidade
ambiental princípio da prevenção, precaução e poluidor pagador.
É valido destacar que a Politica Nacional dos Residuos Solidos, em seu artigo 6, estabelece
que a interpretação do seu texto deve ser compativel com os princípios ora mencionados. De fato,
o que tem hoje é um“ordeamento juridico constitucionalizado, caracterizado por uma constituição
invasora, intrometida, mostrando-se capaz de condicionar a legislaçao, a doutrina, a jurisprudencia
os atos politicos e sociais.”598
No ambito estadual, mais especificamente do Estado de São Paulo, o executivo foi mais
além. Nesta otica, como visto, com a decisão CETESB n. 08/2021/P, a estruturação e
implementação do sistema de logistica reversa fica estabelecida como um item obrigatório no
procedimento de licenciamento ambiental em relação às embalagens de alimentos, embalagens de
bebidas, embalagens de perfumária e produtos cosméticos entre outros.
Neste sentido, apesar de não haver norma expressa no ambito da União, que compreenda
pela obrigatoriedade de a estruturação da logistica reversa durante o procedimento de
licenciamento ambiental, o Poder Executivo Estadual, evolutivamente exerceu o seu papel na
defesa do equilibrio ambiental, transcrito no artigo 225 da Constituição Federal.
598
GONÇALVES, Rogerio Mognus Varela Gonçalves. O direito constitucional ecológico e sua importância para a
sustentabilidade do planeta. In: Direito e Desenvolvimento Sustentavel: Desafios e Perspectivas, Curitiba: Jurua,
2013, p. 284
196
Seguindo a mesma linha do executivo Estadual, o Poder Executivo Municipal de São Paulo,
para garantir normas suficientes a fim de proteger os processos ecologicos como dispõe o artigo
225 §1,I da CF; em função da competencia comum estabelecida aos Entes Federativos para
proteger o meio ambiente e combater a poluição nos termos do artigo 23, VI e de sua competencia
legislativa para tratar de interesse local, em 30 de setembro de 2020, a partir da promulgação da
lei 17.471 de 2020 estabelece, em seu artigo 2º VII a obrigatoriedade da implantação de logitica
para recolhimento de embalagens: a) alimentos; b) bebidas; c) produtos de higiente pessoal,
perfumaria e cosmético, d) produtos de limpeza e afins.599
O advento do decreto 9177/2017 foi muito importante para obrigar os Entes Federativos e
empresas que se escusavam a implementar o sistema de logistica reversa. Segundo Thais Oliveira,
antes da edição do decreto referido, para obrigar os entes Federativos à cumprirem o dever de
implementar a logistica reversa a alternativa que restava era a judicialização, por meio de ação civil
publica, impetrada pelo Ministério publico. Esse foi o caso de Lajeado, em que o Ministério Publico
impetrou uma ação civil Publica de n, 017/1.06.0000766-6, que tramitou na 1ª vara civel.600
Outro caso, foi a ação civil publica movida pela Habitat (ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E
EDUCAÇÃO AMBIENTAL) em face da Refrigerantes Imperial LTDA, em que o Tribunal de
Justiça do Paraná, orientado pelo princípio poluidor pagador, entende pela responsabilidade pos
consumo dessa empresa, em decorrencia do uso de insumos altamente poluentes em seu processo
produtivo.
Por conta disso, com fundamento na responsabilidade civil objetiva, resultante da Lei
7347/85, artigos 1º e 4º da lei Estadual n. 12.943/99 e artigos 3º e 4º, § 1 da lei 6938/81, o Tribunal
de Justiça do Estado do Paraná, no julgamento da apelação civel sob n. 1186521 condenou a
empresa Imperial a obrigação de fazer de dar uma destinação adequada as embalagens plasticas
de seus produtos, assim como, determinou o mesmo Tribunal que a referida empresa destinasse
parte de gastos com publicidades relacionadas a educação ambiental.601
599
MUNICIPIO DE SÃO PAULO. Lei 17.471 de 30 de setembro de 2020. Estabelece obrigatoriedade
de implantação de logística reversa no Município de São Paulo pra recolhimento de produtos que especifica e
dá outras providencias. Disponivel em:
http://diariooficial.imprensaoficial.com.br/nav_v6/index.asp?c=29623&e=20201001&p=1.
600
OLIVEIRA, Thais Gomes, BARROS; Malu de Mendonça, COSTA; Rhynaldo Ribeira da Costa; REZENDE,
Sthefania Dalva da Cunha; BOSCATTI, Lucas; XIMENES, Sara de Lima Seaghe Alcanfor, REZENDE, Amanda
Luiza de Lima Seaghe . op. Cit., 2021, p.50770.
601
Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR – Apelação Cível: AC 1186521 PR Apelação Cível – 0118652-1. Rel. Ivan
Bartoleto. DJ 26/08/2002, Paraná, 2002.. Disponível em: https://tj-
197
Esse julgado foi objeto de recurso no Superior Tribunal de Justiça, através do Resp
602
684753PR, julgado na 4ª turma. Nele a Fabricante pugna pela não responsabilização pos
consumo, aduzindo, entre outros argumentos rumptura do nexo causal. Desse modo, alega que não
poderá ser responsabilizado pela conduta do consumidor.
Esse precedente, no qual basicamente condenou o Superior Tribunal de Justiça,
fundamentado no princípio poluidor pagador, será objeto de analise no proximo capitulo, uma vez
que é nosso caso paradigma.
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4561664/apelacao-civel-ac-1186521-pr-apelacao-civel-0118652-1/inteiro-teor-
11284655. Acesso em: 10 jul. 2020.
602
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA- REsp: 684753 PR 2004/0080082-9, Relator: Ministro ANTONIO
CARLOS FERREIRA, Data de Julgamento: 04/02/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
18/08/2014.
198
603
A Associação Habitat de Educação Ambiental argumentando a defesa dos interesses difusos do meio ambiente,
chega a pleitear a reforma da sentença, em seu recurso de apelação, “para que fosse suspenso o envasamento por parte
da recorrida, por serem prejudiciais ao meio ambiente, já que não vinham sido por ela recolhida e destinada
adequadamente, ocasionando danos ambientais graves: como entupimento de galerias pluviais, proliferação de insetos,
prejuízo a navegação e a biota, contaminação de lençol freático e dano estético.” TJP. Tribunal de Justiça do Paraná
TJ-PR – Apelação Cível: AC 1186521 PR Apelação Cível – 0118652-1. Rel. Ivan Bartoleto. DJ 26/08/2002, Paraná,
2002. Disponível em: https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4561664/apelacao-civel-ac-1186521-pr-apelacao-
civel-0118652-1/inteiro-teor-11284655. Acesso em: 10 jul. 2020.
Como assevarado, em capítulos anteriores entende, que desde que se tenha o uso responsável dos produtos derivados
de plásticos, garantindo, através da logística reversa sua reinserção a cadeia produtiva não vê-se a agressão à normas
Constitucionais e infraconstitucionais o uso de embalagens plásticas no processo produtivo. Não obstante, a
importância de investir no uso de plásticos renováveis.
604
TJPR. Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR – Apelação Cível: AC 1186521 PR Apelação Cível – 0118652-1.
Rel. Ivan Bartoleto. DJ 26/08/2002, Paraná, 2002. Disponível em: https://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4561664/apelacao-civel-ac-1186521-pr-apelacao-civel-0118652-1/inteiro-teor-
11284655. Acesso em: 10 jul. 2020.
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logradouros, rios e praças. Custos estes, que antes eram arcados pela sociedade, através do Estado
Brasileiro.
Assim, pautada no Princípio Poluidor Pagador, a decisão de 2ª instância entendeu que não
era justo que a Empresa Imperial605 ficasse com os lucros oriundos da atividade e deixasse os
prejuízos ora assinalados para a terceiros alheios não integrantes da atividade produtiva (Sociedade
ou Estado), ainda que a atividade produtiva não fosse a causadora direta da poluição, porquanto as
embalagens eram jogadas no meio ambiente pelos consumidores, após o consumo de seus produtos.
É evidente que, se a empresa não fosse compelida a tomar as providências para o
recolhimento das garrafas Pets dos rios, por exemplo, o Estado teria de fazer, a fim de evitar a
morte da fauna ou da flora.
Reduzindo o Princípio Poluidor Pagador à finalidade reparatória do instituto da
responsabilidade civil objetiva, estabelecida na Lei 7347/85, Art. 1 e 4, nos dispositivos constante
na Lei Estadual sob n. 12.943/1999 e Artigos 3º e 14º § 1 da Lei 6938/81 (POLÍTICA NACIONAL
DO MEIO AMBIENTE), o julgamento do referido Tribunal de Justiça, seguindo uma tendência
da maioria dos Tribunais Brasileiros, 606 determinou que a Empresa Imperial procedesse com a
destinação final adequada dos resíduos sólidos plásticos pós consumo e investisse parte dos seus
gastos com campanhas educativas.
Inconformada com o resultado do julgamento da apelação, a referida empresa interpôs
recurso perante o Superior Tribunal de Justiça.
Em seu recurso especial, a Empresa Imperial alegou que o acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça julgou extra petita ao condená-la para o recolhimento, após consumo das garrafas
encontradas nas ruas, praças; ou alternativamente para garantir a recompra, após uso do
consumidor, de no mínimo 50 % das garrafas plásticas que produzisse por ano, por um preço justo,
para que ocorresse qualquer um dos modos de destinação final ambientalmente adequada (ex.
605605
Atribui-se a responsabilidade civil objetiva para a empresa imperial, em razão da posição da mesma na cadeia de
poluidores. A doutrina, como visto, afirma que a atividade produtiva tem a melhor posição para prevenir, através da
adoção de mecanismos preventivos como a logística reversa ou produtos ecosustentáveis. Deste modo, fica rompida o
ciclo da poluição, logo em sua fonte. Ao lado disso, a taxação, por exemplo do consumidor não traria a mesma eficácia,
vez que não tem acesso aos meios de produção.
606
De acordo com os ensinamentos de Daniele Moreira e etal, a maior parte dos autores Brasileiros tendem a resumir
o poluidor pagador a responsabilidade civil. Apesar desse entendimento ser a nivel nacional, esta não é a posição
adotada pela maioria dos autores estrangeiros, tal como Alexandra Aragão. Essa, também é segundo a referida autora
a posição seguida pelo STJ MOREIRA, Daniele de Andrade, LIMA, Leticia Maria Rêgo Texeira, MOREIRA, Isabel
Freire. O Princípio Poluidor Pagador na Jurisprudencia do STF e STJ: Uma analise critica. Veredas do Direito,
16, n.34 p. 367-432, 2019, p.373-374).
200
reciclagem ou reutilização).
Para tanto, a recorrente argumenta que a decisão apresentou contrariedade aos Artigos 460
e 461 do CPC. Entendeu, em suas razões de recurso, a referida empresa que era extra petita,
também a determinação, pelo Tribunal de Justiça do Paraná, da obrigação de fazer campanha
publicitária, ainda que fosse para provocar uma conscientização da população sobre os danos
ambientais, que podem resultar do descarte inadequado. 607
Argumenta, em sede de embargos de declaração, que o acórdão vergastado não poderia ter
determinado a adoção coercitiva de campanha publicitária, tampouco este poderia ter obrigado esta
empresa a investir 20% dos seus recursos financeiros com divulgação para provocar a
conscientização do consumidor sobre o acondicionamento adequado após consumo. Isto porque,
faltaria legitimidade ao referido Tribunal de Justiça para definir condutas à revelia dos Poderes
Legislativo e Executivo - órgãos competentes para tanto.608 Assim, restava contrariado o princípio
da legalidade.
Quanto ao mérito, a recorrente (Imperial) trazendo impressões da contestação, a partir de
dados do Instituto Ambiental do Paraná - IAP e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, afirma que a recorrida não traz provas cientificas de que a ação da recorrente
era capaz de provocar danos ao meio ambiente. Fato este que é exigível para a imputação da
responsabilidade objetiva em face da recorrente. Alerta, que para a condenação seria exigível um
estudo técnico sobre possíveis impactos ambientais causados pela disposição inadequada dos
resíduos plásticos no meio ambiente.
Nessa perspectiva, argumentou que a “associação autora, apesar de enorme esforço
discursivo, não trouxe a juízo elementos que apontem pelo menos indícios que a empresa requerida
tenha causado ou venha causar dados ao meio ambiente do Estado do Paraná” 609 Para a recorrente,
a recorrida não consegue demonstrar quais produtos foram objetos de acondicionamento
inadequado.
Quanto a esses dois pontos, a nosso ver, observa-se que a recorrente ignorou a tese
607
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p. 3.
607
Ibidem, Loc cit.
608
Ibidem, loc cit.
609
BRASIL. Op cit. p.5.
201
610
SARLET, Ingo Wolfgang Sarlet. FENSTERSEIFER, Thiago. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, p. 532
611
A dispensa do nexo de causalidade física e a adoção do nexo legal, é entendimento pacifico no Superior Tribunal
de Justiça, segundo o qual é impossível a aplicação da teoria do fato consumado, em hipótese de edificação em área
de proteção ambiental. Para o esse Tribunal, os deveres relativos à referidas áreas de proteção ambiental tem a natureza
propter rem, ou seja acompanha o domínio da posse. O novo proprietário tem o dever de não modificar o ecossistema
protegido, além de ser responsável, por eventual recuperação, mesmo que não seja o responsável agressão ao meio
ambiente. Vale lembrar que, a corte Superior firmou o entendimento que não há responsabilidade do antigo
proprietário, desde modo não cabe o seu chamamento ao processo, em eventual ação civil público promovida pelo
Ministério público, com o propósito de repara os danos ecológicos. (Superior Tribunal de Justiça, Resp 1.056.540/GO,
2ª Turma, Rel. Min Elian Calmon, j. 25.08.2020)
202
que o Tribunal de Justiça, sem previsão legal, determinasse que a Empresa Imperial recolhesse as
garrafas Pets usadas em seu processo produtivo ou garantisse a recompra de parte das embalagens
lançadas no mercado a preço justo, a fim de cessar os danos ambientais causados pelas embalagens
Pets poluentes.
Por um outro lado, afirma o relator do acordão exarado pela 4ª Turma do STJ, em analise,
que para a recorrente não há provas do nexo de causalidade entre a ação da autora em envasar os
refrigerantes e danos provocados pelo descarte das embalagens Pets, pós consumo.
Aduzindo a quebra do nexo de causalidade, uma vez que é responsável somente pelo
envasamento do produto, alega a Empresa Imperial que não poderia ser enquadrada como agente
poluidor nos termos do Art. 3º, inciso III e IV da Lei 6938/81. Neste sentido, as garrafas Pets não
poderiam ser compreendidas como resíduos industriais. Nas palavras da empresa recorrente, para
reforçar sua tese de defesa sobre a impossibilidade da responsabilização sobre as embalagens de
garrafas Pets descartadas indevidamente por terceiros: “embalagem PET, como a própria
denominação já diz, nada mais é ou pode ser considerada do que embalagem de produto”. 612
Utilizando este argumento, a Empresa Imperial defendeu que não poderia ser
responsabilizada civilmente e ambiental pelo descarte inadequado das embalagens plásticas pelo
consumidor, nem mesmo poderia responsabilizar-se pela omissão do Estado para a administração
adequada dos resíduos sólidos de natureza plástica. Assim transferindo a responsabilidade para
outros agentes da cadeia poluidora, a referida empresa pretende a ruptura do nexo de causalidade.
Para evitar que a Empresa Imperial se veja desobrigada a assumir a responsabilidade civil
pelos danos causados ao meio ambiente por seus produtos lançados no mercado, o Tribunal de
Justiça viu-se obrigado a condenar a empresa pelo Princípio Poluidor Pagador, porém o associando
à regra da responsabilidade civil, cujo conceito é também aberto. 613
Confiando no quanto indicado no do Art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil antigo,
alegou a recorrente, que a associação de defesa ao meio ambiente (recorrida) não fez prova dos
danos ambientais, de que a ação da recorrente poderia provocar os danos ambientais mencionados.
612
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022, p. 6.
613
Pensando, apenas no dano causado, já causado pelo descarte inadequado das garrafas Pets e não perspectiva
preventiva do poluidor pagador, condenou para a responsabilização civil constante no artigo 14§ 1 da Política Nacional
do Meio Ambiente. Veja bem que o caso não se trata do lançamento de garrafas Pets pós-Política Nacional dos
Resíduos Sólidos. Se assim fosse, poder-se-ia lançar mão da logística reversa
203
Assim, a recorrente refuta o argumento trazido pela associação de defesa e educação ambiental, de
que a disposições inadequadas de garrafas Pets no meio ambiente é capaz de provocar danos ao
meio ambiente.
Então, em questões preliminares e processuais, a Empresa Imperial impugnou o acórdão
proferido no julgamento da Apelação sob n. Apelação Cível – 0118652-1 proferido no Tribunal de
Justiça, principalmente, o argumento sobre a quebra do nexo de causalidade físico.
Nesta senda, a recorrida fundamentou as razões do seu recurso, na tese ultrapassada do nexo
de causalidade físico, sem aprofundar-se na norma da responsabilidade civil prevista no Art. 14,
§1, da Política do Meio Ambiente, nem mesmo quanto os aspectos normativos do poluidor pagador.
Deixando de questionar as normas ora salientadas, o Superior Tribunal de Justiça, tendo em
vista a súmula de seu próprio Tribunal n. 283, não pode aprofundar-se na questão de direito
material, de acordo com o aduzido pela maioria dos ministros no julgamento do recurso especial,
ora analisado.
Cabe ainda salientar, que para reforçar a sua tese centrada na ausência do nexo de
causalidade entre a conduta da empresa com o resultado do dano ambiental, a recorrente arguiu a
ausência de instrução da ação pela recorrida na petição inicial, conforme disposto no Art. 396 do
CPC. Por esta senda, a referida empresa afirmou que a associação Habitat de Defesa e Educação
Ambiental foi desidiosa, ao não juntar documentos suficientes para comprovar as alegações
apresentadas em juízo.
Mais uma vez, insistindo na tese no nexo físico, assevera-se que não poderia ser imputada
a responsabilização civil ambiental contra a mesma, pois, a recorrida não demonstrou autenticidade
do negativo das fotos acostadas na inicial. Para a recorrente, a associação recorrida pecou ao não
comprovar se as embalagens pertenciam ou não aos fabricantes- recorrentes.
Passamos, então, para a análise da adequação ou não dos argumentos trazidos pelos
Ministros no Justiça no Recurso Especial 684.753 –PR.
Neste interim, observa-se que o relator deixa claro que a inicial trata de uma ação pública
de responsabilização civil ambiental, para a reparação de danos ambientais causados por disposição
inadequada de resíduos sólidos plásticos no meio ambiente. Não se trata, portanto, da aplicação da
logística reversa obrigatória dos resíduos plásticos para a Empresa Imperial. Neste sentido,
observou o relator que a associação recorrida requereu:
Explica o relator, diante de tudo isso acima aventado, que em sede de sentença, a ação foi
julgada improcedente, apesar de terem sido comprovados nos autos, os danos causados pela
disposição de garrafas plásticas Pets no meio ambiente. A sentença, embora tenha entendido que
os resíduos assinalados causem danos, entendeu que não houve culpa da ré.
Esse entendimento, afronta o disposto no Art. 14, §1, da Lei 6938 de 1981, segundo o qual
a responsabilidade civil para o ressarcimento de danos ambientais é objetiva, integral e não cabe a
alegação de culpa. 614
Observou o relator, que o juiz de primeiro grau, afastou a responsabilidade civil ambiental
da empresa de refrigerantes, em juízo, pois, para o mesmo não restou comprovada, se as
embalagens eram realmente lançadas na natureza. Para o referido julgador, não se observou um
nexo de causalidade físico entre a ação da recorrente (produzir refrigerantes com embalagens Pets)
e o dano ambiental. Desconsiderando a tese do liame causal normativo, os princípios da prevenção
614
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.11.
205
e do Poluidor Pagador, para o juízo de 1º grau, há uma ruptura do liame causal necessário para
impor a responsabilização civil por dano causado ao meio ambiente, já que a empresa é
responsável, somente pelo envasamento. Sendo assim, quem era responsável por poluir o meio
ambiente era o consumidor.
Conquanto, a situação começa a mudar quando o Tribunal de Justiça de 2º Grau do Paraná
reforma a decisão e imputa a responsabilidade pós-consumo à Empresa Imperial, tendo em vista,
o Princípio Poluidor Pagador. Este princípio veio estabelecer o nexo de causalidade entre a ação
da atividade produtiva e o resultado da poluição, após o consumo.
Com fundamento no Princípio Poluidor Pagador, a responsabilidade da fabricante em
relação aos danos ambientais provocados por seus produtos lançados no mercado, deveriam seguir
para a relação pós-consumo, por causa dos lucros percebidos pela atividade.
Ressalta o relator, corroborando com o entendimento firmado no acórdão proferido pelo
Tribunal de 2º Grau do Paraná, que se o empreendedor visa à percepção dos lucros inerentes à
atividade produtiva, este deve responsabilizar-se por todos os prejuízos, no sentido de adotar todas
as medidas necessárias para proteger a esfera patrimonial de terceiros afetados por seu
empreendimento.
Em compreensão do caso, o relator afirma que a responsabilidade pós-consumo está
fundamentada no princípio da sustentabilidade ambiental e no Estado de Direito Ambiental,
constante no Artigos 225 e 170 da Constituição Federal. Para o ministro-relator, as normas
infraconstitucionais, tal como a Lei 6938/1981, devem ser interpretadas conforme a orientação
dada pela norma princípiológica extraída dos artigos mencionados.
O referido reafirma em seu voto, que na época da sentença (2001), não havia lei especifica
sobre resíduos sólidos. A lei especifica foi regulamentada somente em 2010, com a Lei
12.305/2010 (Política Nacional dos Resíduos Sólidos).
Com isso, reconhece o relator, que o Tribunal não poderia considerar a mencionada lei para
deslinde do caso. Apesar disso, de uma forma genérica, sem mencionar a lei ou o regulamento,
afirma o referido julgador que à época da sentença já havia regulamentação do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA), disciplinando acerca do gerenciamento dos resíduos sólidos.
Preliminarmente, observa-se que apesar do caso analisado pelo relator não versar sobre a
obrigatoriedade da implantação ou da estruturação do sistema de logística reversa das embalagens
plásticas pós-consumo por parte da Empresa Imperial, e sim, sobre a pertinência ou não da
206
responsabilização civil ambiental da referida empresa, em relação aos danos causados por suas
embalagens descartadas inadequadamente pelos consumidores, por meio de um princípio ou sem
uma previsão legalmente estabelecida pelos poderes competentes (Legislativo e Executivo), os
julgadores fazem menção sobre o citado sistema para fundamentar seus votos, apesar de não
especificar o seu dispositivo normativo vigente.
Apesar de o relator não especificar a norma do CONAMA, a que se refere, ao consultar o
arcabouço normativo anterior a 2010, poderia imaginar-se que o mesmo esteja referindo-se à
resolução do CONAMA n. 313 de 29/10/2002, pois a referida lei trata do gerenciamento dos
resíduos sólidos industriais. Mas quando o leitor compulsa o relatório, verá que esse, se equivocou
e mencionou que a Lei 12.305 foi editada no ano de 2002. Neste sentido, talvez o relator tenha
tido o propósito de referir-se a Lei 12305/2010, mas acabou mencionando o ano de 2002. O
problema é que este relator pode ter induzido os demais ministros a um erro, já que mencionam
uma suposta lei existente em 2002, sem especificar a que se referem.
Assim dispôs o relator em seu voto que: “Até a edição da Lei 12.305, de 02/08/2002, que
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a matéria era tratada em legislação esparsa
inclusive em leis no âmbito estadual e em resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA.”615
Já nesse ponto, pode ser enxergada uma postura ativista do relator, pois este não faz
referência, em sua fundamentação, acerca da regra jurídica editada pelo Poder Legislativo, que
determina o retorno dos resíduos sólidos plásticos, após o consumo, para a cadeia produtiva, a fim
616
de garantir destinação adequada aos mesmos. Apenas de forma genérica remete a força
normativa dos princípios relacionados ao direito Ambiental, como se estes princípios pudessem ser
aplicados de forma abstrata.
Vale frisar que, à época da sentença não havia uma legislação que regulamentasse a
responsabilidade compartilhada da cadeia produtiva de resíduos nos termos do Art. 30 da PNRS,
assim como não existia uma regra jurídica, dispondo sobre a obrigatoriedade da logística reversa
dos resíduos sólidos plásticos pela cadeia produtiva, na esteira do que ficou asseverado no Art. 3,
XII e artigo 33 da Lei 12.307/2010.
615
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.14.
616
Ibidem. Loc cit.
207
Acompanhando a teoria dos princípios de Robert Alexy, que oferta o poder criativo dos
juízes, a fim de assegurar os Direitos fundamentais, não constituindo estes meros “boca da lei”,
para o relator, na hipótese normativa submetida ao seu juízo tem-se a incidência dos Princípios da
Sustentabilidade Ambiental, Princípio do Estado de Direito Ambiental e do Princípio Poluidor
Pagador.
Sem fazer uma leitura adequada da teoria do Robert Alexy, em uma postura ativista, o
relator entende adequado o direcionamento do alcance da norma jurídica pelo Tribunal de Justiça
do Paraná no acórdão vergastado, à margem do legislativo.
A posição tomada pelo tribunal parece não ter sido a mais adequada, porém, os motivos da
direção tomada por esse Tribunal, são compreendidos, principalmente, porque o Princípio Poluidor
Pagador é considerado um princípio conduzido à preservação dos Direitos Fundamentais, tal como
o direito a um meio ambiente equilibrado, e possui uma definição abstrata e finalística. Assim
sendo, há quem pense que o PPP possibilita interpretações diversas a favor dos Direitos
Fundamentais. Porém, é preciso saber o que é uma interpretação aceitável ou não, de acordo com
os pressupostos teóricos de Alexy.
Vale esclarecer, que a abertura normativa garantida ao Princípio Poluidor Pagador é,
notadamente, para permitir, aos Poderes Publicos na criação das normas concretas, a sua adequação
às realidades dos Estados, porquanto, como visto o principal propósito do poluidor pagador é
induzir os Poderes Públicos a elaborarem normas ou mecanismos, tal como a logística reversa para
a internalização preventiva das externalidades ambientais negativas, decorrentes do processo
produtivo.
Neste sentido, não caberia aos juízes, ainda que o poluidor pagador seja uma norma de
Direito Fundamental, estabelecer o alcance da norma (ex. sujeitos passivos, obrigações) Essa
atribuição é assegurada pelo Poder Legislativo ou Executivo, eleitos pelo povo, sob pena de violar
o princípio da separação dos poderes, legalidade, segurança jurídica e o princípio da
representatividade democrática.
Poder-se-ia afirmar que a postura ativa de juízes especificando condutas, qualificando
sujeitos normativos, pode ser considerada uma usurpação de competência, já que cabe aos eleitos
pelo povo trazer, após uma ampla discussão, definir o alcance da lei.
O ativismo, em uma postura contramajoritária, permite uma interpretação expansiva da
Constituição Federal, a fim de suprimir omissões, notadamente, no que tange aos Direitos
208
Fundamentais.
Em relação ao pedido extra petita, vale afirmar que: para o relator, não há pedido ultra
petita, a partir do momento em que o acordão admite, que a empresa recorrente, ao invés de
recolher as garrafas Pets dos rios e logradouros, em um prazo de 60 dias, após o trânsito em julgado,
possa, alternativamente, garantir a recompra de no mínimo 50 por cento das embalagens que a
referida empresa produzisse por ano, após o uso pelos consumidores.
Para o Julgador, no acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Paraná, não houve
condenação da empresa para cumprimento da obrigação, e sim uma “permissão para que a
obrigação postulada na inicial e acolhida no acórdão da apelação fosse cumprida de outro modo,
por opção exclusiva da própria condenada, se ela é mais benéfica e de fácil satisfação. ” 617
Por
isso, o relator compreende a falta de interesse recursal por parte da ré.
Entende-se que há ainda uma postura ativista no julgado, quando o julgador, sem amparo
a ato regulamentar ou a dispositivo de lei, dispõe que cerca de 20% dos recursos oriundos do
marketing sejam destinados à promoção de informações sobre a toxidades das embalagens plásticas
pets e para gastar com a divulgação de informações nas embalagens plásticas, no que tange a
reutilização, recompra e divulgação de informação aos consumidores, sobre os danos ao meio
ambiente com a disposição inadequada das referidas embalagens. Neste caso, há também uma
invasão do poder regulamentar, atribuído ao executivo, que é responsável por explicitar o alcance
da lei, dando executividade a mesma.
De outra parte, para o relator, não é admissível a alegação da falta de responsabilidade, pós-
consumo, pela recorrente, justificada na impossibilidade fatica ou juridica de controle pela
atividade produtiva sobre os poluidores diretos (consumidores) ou ainda não é cabível o
afastamento da responsabilidade civil da Empresa Imperial, amparada na falta de fiscalização do
Estado (ação omissiva), porquanto restou comprovado o nexo de causalidade jurídica, de acordo
com o Princípio Poluidor Pagador que obriga a atividade empresarial a responsabilizar-se pelo
resíduo no final do ciclo de vida do produto, uma vez que os produtos lançados no mercado, pela
Empresa Imperial, poderiam causar desequilíbrio ao meio ambiente, se os seus resíduos não fossem
bem cuidados, de modo que não dispersassem no meio ambiente.
617
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.14.
209
618
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.16.
210
Para esclarecer mais as ideias, afirma-se que em nenhuma dessas regras jurídicas trazidas à
baila, vê-se a definição normativa conjecturada pelo legislador da Política Nacional dos Resíduos
Sólidos, acerca da estruturação e da implementação da logística reversa nos moldes definidos no
seu Art. 33.
Partindo disso, debruçando na decisão exarada no RESP. 684.753 PR (2004/0080082-9)
poder-se-ia afirmar que o Tribunal de Justiça do Paraná, corroborado pelo Superior Tribunal de
Justiça, criou uma a obrigação normativa à margem do legislativo. Para os procedimentalistas isto
revelaria uma afronta ao Estado de Democrático de Direito. Conquanto, para os adeptos ao
ativismo judicial à moda brasileira, a teoria dos Princípios de Dworkin e Alexy permitiria tal
processo hermenêutico criativo para os juízes.
Sendo assim, diante da ausência de lei editada pelo legislativo para garantir o princípio do
Estado de Direito Ambiental e da Sustentabilidade Ambiental, o relator utiliza-se do Princípio
Poluidor Pagador, o qual determina a transferência dos custos das externalidades ambientais para
quem dar origem, neste caso: a Empresa Imperial.
O estudo e a análise equivocada da teoria dos princípios de Robert Alexy provocam
decisões destoantes, tendo em vista a aplicação adequada da referida teoria. Alexy não elimina a
aplicação do método da subsunção, e sim, prevê sua importância para os casos fáceis. O intérprete
vê-se compelido a utilizar o método de ponderação ou recorrer aos princípios, tendo em vista a
necessidade de garantir a efetividade dos Direitos Fundamentais. Nos casos dificeis, partindo da
compreensão do fato para o Direito, o hermeneuta aplicará a teoria alexyana, recorrendo aos seus
pressupostos.619
Partindo desse entendimento, poder-se-ia afirmar que a corrida para a garantia da
efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais não poderia implicar na desconsideração de todos
os pressupostos da teoria, ainda que o Brasil seja um País carente da satisfação de Direitos
Fundamentais. Assim, a teoria criada por Robert Alexy não pode ser aplicada de qualquer forma
ou dizendo qualquer coisa sobre tudo.
Para entender tal crítica, poder-se-ia adentrar-se na tese da reserva do possível. Embora a
doutrina e a Jurisprudência não recebam muito bem a Teoria da Reserva do Possível, é inequívoco
que os recursos financeiros são limitados, uma vez que as necessidades humanas são incontáveis.
619
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Decisão Jurídica. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014.
211
Nesse sentido, é preciso ter cuidado com a desconsideração completa da teoria, sem a
análise concreta de seus pressupostos (reserva orçamentária e material), para que um Direito
Fundamental não se veja descoberto pela análise do caso, em abstrato, pelos magistrados. Ainda
que não seja cabível, deverá o julgador afastar a teoria, por meio do uso de processo de
compreensão adequado (sem amarras pessoais e conhecimentos próprios) e explicitar o seu modo
de compreender, com argumentos intersubjetivos e com base nos ditames constitucionais. Com
isso, entende-se que a Teoria da Reserva do Possível, quando suscitada a incidência concreta dos
seus pressupostos, merece análise por parte do judiciário, mesmo não sendo esse o objeto direito
da pesquisa. Embora, os magistrados não consintam a aplicação do argumento da reserva do
possível em abstrato, os julgadores poderão verificar se a Fazenda Pública executou
adequadamente os escassos recursos financeiros para às execuções das demandas fundamentais
que compõem o mínimo existencial, tais como Direito ao Meio Ambiente equilibrado e Direito à
Saúde.
A partir dessa compreensão, não parece adequado que magistrado, injustificadamente,
afaste a aplicação da teoria da reserva do possível, sem fazer a análise casuística sobre a execução
de políticas públicas pelo Poder Executivo, à luz da priorização das demandas de Direitos
Fundamentais. Para ilustrar, não cabe o magistrado decidir entre resguardar o tratamento de uma
determinada doença transmissível e desassistir outra. Se assim o fizer, adentra no mérito
administrativo, que nos limites da legalidade e no princípio da separação dos poderes constantes
no Art. 60, §4, da Constituição Federal, é inadmissível.
Por um outro lado, pode-se rememorar-se que a tese de Alexy firma o entendimento de que
não há hierarquia entre princípios e regras. Ambas são importantes, no âmbito da teoria dos
princípios, para assegurar a aplicação adequada dos Direitos Fundamentais.
É preciso respeitar os pressupostos fundantes da referida teoria de Alexy. De forma
proposital, Alexy entende que os princípios são aplicados na maior medida do possível, enquanto
que as regras, aplicam-se no campo da validade do “tudo ou nada.”.
Para Alexy, o princípio tem uma função finalística ou orientacional para o estabelecimento
de novas regras. Deste modo, o princípio não vem aleatoriamente substituir a atuação do
legislativo, mas sim, é concebido com a finalidade de determinar a criação de normas compatíveis
com os Direitos Fundamentais.
Assim, os princípiostem o propósito de realizar a triagem das normas do ordenamento
212
jurídico. Se incompatíveis com a Constituição Federal o julgador poderá declara estas normas
inconstitucionais, quando provocado por meio das ações de inconstitucionalidade
Mas, parece que há julgadores que colocam os princípios em uma posição hierarquicamente
superior, disseminando, deste modo, posicionamentos ou convicções particulares, pessoais e contra
minoritárias.
Esse não é o papel da teoria dos princípios, a qual não vem garantir, no processo
hermenêutico, o reconhecimento da posição destacada dos juízes. Na verdade, a teoria dos
princípios compreende a força normativa da Constituição para a realização dos Direitos
fundamentais, sob a perspectiva da dignidade da pessoa humana, na mesma medida em que garante
o lugar de destaque dos princípios de Direitos Fundamentais na Constituição Federal para evitar
agressões a aqueles Direitos por normas outras que compõem o ordenamento jurídico. Assim, não
cabe a um juiz escolher, sem justificar adequadamente suas decisões, entre um princípio e outro.
É importante anotar que, nem mesmo o princípio da dignidade da pessoa humana, que é
matriz para a interpretação dos Direitos Fundamentais, garante posicionamento especial para a
interpretação dos referidos direitos. Para Alexy, como já mencionado no primeiro capítulo, nem
mesmo o princípio da dignidade da pessoa humana é absoluto.
Assim, evitando compreender a existencia de uma relação de superioridade entre as normas
princípios e as normas-regras, segundo Alexy, os princípios tem uma função finalística ou
orientacional para o estabelecimento de normas ou para verificar a validade ou a compatibilidade
das velhas normas jurídicas, com as que se referem aos Direitos Fundamentais, sob a ótica da
dignidade da pessoa humana. Nesta senda, os princípios não substituem a atuação do legislativo,
mas devem provocar o estabelecimento de normas compatíveis com os Direitos fundamentais, por
parte do Estado. Em uma leitura da tese de Alexy, estes propósitos parecem claros, porém segundo
Fautos Santos Morais, em sua tese de doutorado, os tribunais brasileiros têm se excedido na
aplicação da teoria dos princípios, após analisar que os Ministros do Supremo Tribunal Federal não
têm aplicado a ponderação de valores com o rigor cientifico necessário, inclusive violando etapas
para a obtenção da ponderação. 620
É preciso resguardar as decisões judiciais da ausência da intersubjetividade. Em uma
perspectiva mais concreta, é preciso ater-se a proposta de Alexy e indagar sobre a aplicação de um
620
MORAIS, Fausto Santos de; STRECK, Lenio Luiz. Ponderação e Arbitrariedade: A
inadequada recepção de Alexy pelo STF. São Paulo: JusPodvm, 2016.
213
dado princípio, analisando a sua pertinência no caso concreto. Para tanto, o magistrado deve
conduzir-se inicialmente, à compreensão prévia do fenômeno. Desta forma, com base na
Constituição Federal, compreende-se o fato, com o qual depara-se o intérprete para depois
interpretá-lo. 621
Assim, sob o argumento genérico da aplicação da Jurisdição Constitucional, que garante a
autoaplicação de normas jurídicas relacionadas a Direitos fundamentais e à subjetivação de Direitos
junto ao judiciário, tem crescido o poder “criativo dos juízes” (decisionismo) fortalecendo o
ativismo judicial.
Os juízes têm sentindo-se autorizados a atuar sem preservar o mínimo de compreensão
semântica em seus julgados, contrariando, no entender de Lênio Streck, o princípio da justificação
judicial constante no Art. 92, IX, da Constituição Federal. Contudo, a direção interpretativa tomada
pelos Tribunais Brasileiros não parece a mais condizente com o princípio do Estado de
Democrático de Direito Constitucional. Neste viés, a fim de resguardar o princípio democrático e
salvaguardar o pluralismo e o respeito a minorias impostos pela Constituição Federal de 1988, é
determinado ao Julgador, antes mesmo de fundamentar a obrigação, explicitar suas decisões. 622
Com base nessas reflexões não há dúvidas de que “juízes legisladores” têm violado Direitos
fundamentais tais como: a separação de poderes, a democracia representativa, a legalidade e a
segurança jurídica, já que estes magistrados não justificam suas decisões adequadamente. Isto
ocorre, quando estes julgadores desprestigiam alguns Direitos Fundamentais, como: a livre
iniciativa, a legalidade e a segurança jurídica, para prestigiar, supondo a aplicação da teoria da
Jurisdição Constitucional, através da aplicação não genuína do método do balanceamento ou da
ponderação de valores de Robert Alexy.
O Ministro, cujo voto foi vencido, demonstrou preocupações com o precedente que estava
por formar, a partir do julgamento do Resp n. 684.753 –PR. Para o referido ministro, estaria por
vir a imputação da responsabilização por um dano causado por um produto consumido e não
decorrente do processo produtivo. Era incompreensível ao mesmo, impor a condenação por
621
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Decisão Jurídica. 4. ed. São Paulo:, Revista dos Tribunais,
2014, p. 339.
622
Ibidem, loc cit.
214
responsabilidade civil ambiental a uma empresa, cujo uso da matéria-prima era permitido ou a
atividade era considerada lícita. 623 Por esta ordem de ideias, observa-se que, para o Ministro-
Presidente estava incompreensível, na época do julgado, os aspectos doutrinários e normativos da
Logística Reversa, do Princípio Poluidor Pagador e da Responsabilidade Civil.
Desse modo, para o referido ministro, cujo voto foi vencido, para que fosse imputada a
responsabilização ambiental à Empresa Imperial no que se refere ao recolhimento das embalagens
plásticas, o Poder Público deveria editar uma norma jurídica proibindo o uso dessa substância
nociva à saúde ou ao meio ambiente. 624
Neste ponto, não restou claro, em leitura do acordão, se o ministro quis dizer que deveria
ser editado ato normativo pelo executivo ou se deveria vir uma lei formal, discutida e editada pelo
Poder Legislativo.
Além disso, mais especificamente, observa-se que o ministro de voto vencido não tinha
uma percepção clara a respeito do Instituto da Logística Reversa, pois o mesmo sugeriu a proibição
do uso de embalagens plásticas. Como visto na pesquisa, desde que se cuide para garantir o retorno
adequado dos resíduos sólidos plásticos ou dos produtos constantes no Art. 33, caput da PNRS,
não são vistas razões econômicas, ambientais e sociais para proibir o uso destes produtos ou
embalagens.
Em leitura da fundamentação exposta no voto vencido, pode-se compreender que o referido
voto não concorda com a aplicação direta de princípios de direitos fundamentais que não tenham
neles explicitado o seu alcance normativo de aplicação (deveres, destinatários) ou não concorda
com a aplicação direta de princípios que remetam a lei para gerar efeitos625
Para o voto dissidente, o agente poluidor não é o fabricante de refrigerantes, mas sim o
consumidor que descarta o produto de forma indevida, após seu uso. Observando a orientação
seguida por este voto, percebe-se que o voto dissidente não adere à tese do poluidor pagador, que
garante o repasse das externalidades ambientais negativas para a atividade produtiva diretamente
623
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.14.
624
O poluidor pagador advoga para as atividades econômicas, pois admite seu funcionamento, desde que sejam
tomadas as medidas precaucionais. Sua intenção jamais é punir ou torna inviável um empreendimento. Esta faceta
punitiva é da responsabilidade civil ambiental.
625
Esse é o pensamento de Ingo Sarlet para o qual não é garantida a aplicabilidade imediata de direitos fundamentais
que remetam a intermediação legislativa para gerar seus efeitos ou não tragam neles elementos normativos mínimos
que lhe assegurem uma aplicabilidade SARLET, 2018, 148, 247.
215
beneficiada pela poluição. Poder-se-ia também dizer que o referido ministro não concorda a
aplicação direta de princípios programáticos ou finalísticos, pelo judiciário, tal como o poluidor
pagador. Como visto, não se pode esquecer que este princípio foi estabelecido, desde a Conferência
de Estocolmo, para induzir que o Estado, por meio do seu executivo e de seu legislativo estabeleça
normas para a prevenção da poluição.
Um dos argumentos que mais corrobora com este pensamento, é que segundo a teoria dos
princípios de Alexy, entre outras funções, as normas-princípios destinam-se a garantir que normas-
regras estabelecidas não sejam incompatíveis com os Direitos Fundamentais, sob a perspectiva da
dignidade da pessoa humana.
Contudo, para o voto divergente, se a responsabilidade pós-consumo fosse atribuída ao
fabricante de refrigerantes, pelos efeitos externos decorrentes do seu processo produtivo, deveriam
também ser condenados os fabricantes de automóveis, pelos gases que afetam o meio ambiente.
Decerto que a responsabilização civil ambiental tem um cunho muito menos naturalístico do que
jurídico para a evidência do nexo de causalidade.
Não se impõe a responsabilização civil ambiental de qualquer modo ou a qualquer um.
Portanto, o magistrado deverá, sem limitar-se ao nexo naturalístico, ater-se ao nexo jurídico para
definir sobre a manutenção ou não do nexo de causalidade para a responsabilização do agente
poluente.
Assinala Érica Bechara que:
Noutro giro, para o Ministro-Presidente, cabe ainda, alertar que se aplicou no julgamento
do recurso especial analisado, submetido a 4ª turma do Superior Tribunal de Justiça, uma norma
principiológica que nem vedava “nem estabelecia responsabilidade do fabricante na hipótese, tanto
que só posteriormente veio a legislação de resíduo. Na época, o fabricante não estava obrigado a
626
BECHARA, Erica. A responsabilidade civil do poluidor indireto e a obrigação propter rem dos proprietários de
imóveis ambientalmente degradados. Cadernos Jurídicos, São Paulo, ano 20, nº 48, p. 137-165, mar. /abr. 2019.
Disponível em: https://sbsa.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Artigo-responsabilidade-poluidor-indireto-4.pdf.
Acesso em 14 mai. 2022. p.147.
216
fazer, nem deixar de fazer algo que a lei não o proibia realizar. ” 627
De outra parte, poder-se-ia inferir da análise da decisão, que o Ministro-Presidente
reconhece que o julgado do Tribunal de Justiça do Paraná, ao aplicar o Princípio Poluidor Pagador
diretamente, ou melhor, sem qualquer intermediação legislativa, aponta para a aplicação
equivocada da teoria de Alexy, uma vez que a teoria dos princípios de Alexy não professa a tese
sobre a superioridade dos princípios sobre as normas-regras, porém entende que as normas-regras
e princípios são espécies diferentes.
A teoria de Alexy não implica em decidir entre um princípio e outro e de qualquer modo.
Neste sentido, o ministro de voto divergente entende que os princípios não substituem as
normas-regras, mas sim exercem uma relação de complementariedade. Deste modo, os princípios
não trazem o comportamento exato a ser cumprido, tal como as normas-regras. Como uma
projeção e aplicada a maior medida possível, tendo em vista as circunstâncias fáticas e jurídicas,
os princípios indicam condutas finalísticas. Por esta lógica de pensamento, as normas-princípios
devem ser destinadas a servir de norte para a criação de novas normas ou interpretação das velhas
normas compatíveis com a proteção aos Direitos Fundamentais 628 629.
Diante disso, poderia ser dito que para o referido ministro, o Princípio Poluidor Pagador,
embora seja um princípio de Direito Fundamental fora do catálogo, nos termos das considerações
contidas no Art. 5, parágrafo 2, não possui uma aplicação imediata. O PPP é uma norma destinada
a determinar que o Estado elabore normas-regras para eliminar as externalidades ambientais, a fim
evitar o desequilíbrio ambiental. Além disso, o referido princípio não traz no mesmo os elementos
normativos de ordem estrutural para vê-se aplicado, sem qualquer intermediação legislativa.
A interpretação sobre a aplicabilidade imediata das normas de Direitos Fundamentais fora
do catalogo constante no Art. 5, §2, da CF deve ser vista com cuidado. O fato de alguns princípios
possuírem um conceito aberto, não garante a prerrogativa ao juiz de proferir decisões de acordo
627
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 684753 PR 2004/0080082-9 – Quarta Turma. Relator:
Min. Antonio Carlos Ferreira. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864823040/recurso-especial-resp-684753-pr-2004-0080082-9. Acesso em
11 mai. 2022. p.14.
628
MELO, Karoline Oliveira de, SOUZA, Otávio Augusto Reis de. Hermenêutica: a arte da interpretação
Constituicional. Anais do XXIV Nacional do CONPEDI. 2015. Disponível em:
http://site.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/mxxdexv2/JiS8V7MgV6TtEKGk.pdf Acesso em: 12 mai. 2022, p.
436-437.
629
As regras existem para serem satisfeitas ou não satisfeitas. Se não há uma exceção um das regras colidentes são
validas. “Ao contrário do que ocorre com conceito de validade social ou importância da norma, o conceito de validade
jurídica não é graduável. Ou a norma é válida, ou não é.” (ALEXY, 2008, p. 92).
217
com seus desígnios, experiências ou concepções. Por isso, como foi alertado a doutrina Pátria
recomenda a aplicação dos princípios fora do catalogo do artigo 5 da CF, através de intermediação
legislativa para evitar a invasão dos poderes ou quebra de sentimentos democráticos.
Ao contrário disso, a abertura semântica garantida aos princípios, determina que o
hermeneuta julgue de acordo com o consentimento e sentimento majoritário do povo que requer,
na nova ordem Constitucional, a satisfação prioritária de seus Direitos Fundamentais essenciais, os
quais suportam gradações culturais, espaciais e temporais.
Por esta e por outras razões, frisa-se que o poluidor pagador, em uma definição semântico-
normativa apenas afirma, de forma genérica ou aberta, a obrigação do Estado de criar normas que
determinem assunção pelas atividades produtivas dos custos de suas externalidades ambientais
negativas, sem, contudo, dizer quais são estas obrigações.
A abertura semântica vista no poluidor pagador é meramente para permitir a aplicação às
realidades sociais, econômicas e culturais dos Estados. Assim não garante que o mesmo seja
aplicado pelo juiz de acordo com o que ele entende mais moralmente, socialmente aceitável, ou
melhor conforme suas convicções subjetivas.
Compreendidas essas premissas, no processo interpretativo, o magistrado deverá respeitar
o alcance ou a definição normativa, sem deixar de indagar os propósitos da norma. E o proposito
do ppp é compelir que os Estados elaborem mecanismos para a internalização dos custos.
Por um outro lado, em tratando de o PPP ser um princípio de Direito Fundamental porque
o citado princípio viabiliza o princípio do equilibrio ecológico, o eventual balanceamento deste
princípio com outro, a exemplo do princípio da livre iniciativa, precisaria ser feito e bem
fundamentado, casuisticamente, pelos magistrados, principalmente, levando em consideração o
fato de que as colisões entre princípios, segundo a tese Alexy, indicam apenas preponderância de
um princípio em relação ao outro em nível casuístico, sem que torne inválido total ou parcialmente
o outro, abstratamente.
Apesar disso, há quem diga que a aplicação direta de princípios relacionados a Direitos
Fundamentais relacionados à dignidade da pessoa humana, é autorizada pela Constituição Federal,
tendo em vista, a Jurisdição Constitucional. Ela garante, para preservar direitos de minorias, a
possibilidade da aplicação direta de Direitos da Constituição, no que se refere aos Direitos
Fundamentais, consoante estabelece o Art. 5 §, 1 e §2, da CF. Então, observada a ineficiência do
legislativo, há quem sustente, que ao invés de ver-se violado ou negado o princípio da separação
218
dos poderes, a intromissão do Judiciário na política para assegurar a eficácia dos Direitos
Fundamentais, protege o sistema de freios e contrapesos. 630
Porém, compreende-se, no caso em análise, que não se está diante do Instituto da Jurisdição
Constitucional, até porque para definir sobre a incidência da mesma, deverá ser dada a
oportunidade ao legislativo ou ao executivo de se manifestar a respeito da ausência de
regulamentação de uma norma de Direito Fundamental, quando indispensável edição de lei para
garantir a efetividade. Sem contar que o instrumento de mandado de jurisdição perderia sua força
normativa.
Neste sentido, acompanhando o pensamento do voto divergente, entende-se que o Tribunal
de Justiça não poderia ter estabelecido a norma jurídica usurpando a competência dos Poder
Legislativo competente, sem justificar sua decisão ou trazer argumentos condizentes com a Teoria
dos Princípios adotada pelo Direito brasileiro. Não custa rememorar, que o poluidor pagador é uma
norma, cujo destinatário é o Estado e não os Juízes.
Por conta da violação do princípio da separação dos poderes, da segurança jurídica, da
legalidade e da representatividade democrática, já que o ppp, sequer indica seu âmbito de aplicação
ou tem como destinatário expresso o Estado, é possível dizer que nos termos exarado pelo voto
divergente, a obrigatoriedade para o recolhimento das garrafas Pets, para destinação final ou
disposição final adequada, com fundamento no poluidor pagador, ainda que de forma reparatória,
somente poderia ser exigida após a Lei 12.305/10.
O ministro Marcos Buzzi, na mesma direção do relator, entendeu que era possível a
responsabilização do fabricante por eventuais danos causados por produtos produzidos pelo
mesmo, mesmo após o consumo.
Neste sentido, o referido ministro entende que há a manutenção do liame causal, sob a
perspectiva do poluidor pagador, entre a ação de produzir refrigerantes executada pela empresa e
o descarte inadequado pelo consumidor. O mesmo alega que seu voto está fundamentado em
normas do Direito Ambiental. Assim, para o julgador, com base em norma-princípio, é possível
condenar a Empresa Imperial fundamentado no PPP à responsabilização do fabricante pelos
630
COPATTI, Livia Copelli. A critica a hermenêutica do Direito como garantia à democracia e respeito à Constituição
frente ao Ativismo Judicial. Quaestio Juris. Vol. 09, n. 04, Rio de Janeiro, 2016, p. 2421-2429, p. 2427-2428.
219
eventuais danos causados pelos resíduos sólidos pós-consumo. Assim, mencionando de forma
genérica a importância dos princípios para a proteção do meio ambiente, o Ministro Marcos Buzzi
ressalta que o seu voto será balizado no princípio da precaução. O ministro confunde o princípio
PPP com o princípio da precaução. O poluidor pagador pode se fazer realizar pela precaução, mas
ele não se reduz ao princípio da precaução. Assim, como visto ele pode se exteriorizar com outras
finalidades, tal como a reparatória. O ministro utiliza a teoria de Alexy, sem adentrar na
intersubjetividade. Aduz o seu próprio pensamento e convicções sobre o PPP, pois não se atentou
para a finalidade semântica normativa do mesmo no âmbito Nacional e internacional.
Em que pese a direção tomada pelo voto do Ministro Buzzi, compulsando-se a decisão,
percebe-se que o referido ministro reconhece que não havia uma regra especifica, na época da
sentença, que determinasse responsabilização pós- consumo. Contudo, entende, que esta ausência
poderia ser suprida pelo uso dos princípios de Direito fundamental Ambiental, uma vez que estes
possuem uma força normativa suficiente para determinar a obrigação de a recorrente proceder com
a disposição ou com a destinação final adequada das embalagens encontradas no meio ambiente.
Enfim, parece que o Ministro não compreendeu a intersubjetividade dos valores Constitucionais,
que exige a teoria dos princípios de Robert Alexy. Não importa seus sentimos pessoais, valores,
ensinamentos, conhecimentos, a aplicação da hermenêutica interpretativa proposta por Alexy não
acata decisões lastreadas no subjetivismo de valores.
A Ministra Isabel Galloti aduz que na época da prolação da sentença (2001) não havia lei
que tratasse de dejetos e de embalagens descartadas. Para a mesma, a lei somente foi editada em
2002, contudo não diz a ministra, em seu voto, a que lei se refere.
Embora a ministra não faça menção à regra jurídica, é possível que a mesma se refira à
resolução do CONAMA n. 313/2002, que trata dos resíduos industriais. De outra parte, fica um
pouco confuso compreender a que lei a mesma se refere, pois, conforme dito no relatório, o relator
equivocou-se ao mencionar que a Lei 12.305/2010, foi editada no ano de 2010. Não se tendo a
certeza de que se trata de erro material, entende-se que é possível que o relator tenha induzido os
demais ao erro.
Por conta disso, afirma-se que a democracia contemporânea já não tolera decisões com
parca justificação. Uma fundamentação judicial em consonância com os valores democráticos, em
220
631
BORTOLLI, Danilo Ferreira. A decisão judicial sob a égide do novo código de processo civil: crise deflagrada
do decisionismo, solipscismo e ativismo judicial. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de direito da fundação de
ensino “Euripedes Soares da Rocha”., Mantenedora do Centro Universitário Euripedes de Marilia – UNIVEM, Marilia,
2017, p. 68-69.
632
BORTOLLI, Danilo Ferreira. Op. Cit, 2017, P. 68-69
633
LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria Processual da Decisão Jurídica. 1. ed. São Paulo: Landy, 2002. P. 130
221
634
Superior Tribunal de Justiça. 4ª Turma. Recurso especial n. 684.753 - PR do STJ. Rel. Min. Antônio Carlos
Ferreira. Brasília. DJ 18/08/2014, 2014. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/134004819/recurso-especial-n-684753-pr-do-stj. Acesso em: 10 jul.
2020. p. 23
635
Ibidem, loc. Cit.,
636
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1794629/SP – Terceira Turma. Relator: Min. Moura
Ribeiro. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 10 mar. 2020. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/857245932/recurso-especial-resp-1794629-sp-2019-0027170-6/inteiro-
teor-857245991. Acesso em: 27 mar. 2022.
222
“ o fundamento que que levaria ao provimento desse recurso seria a criação de obrigação
sem revisão leal. Mas o recursos especial ateve-se a questões relativas ao ônus da prova e
outras questões como aos limites do pedido. Alega-se violação à lei que definia na época
o que era considerado poluidor. Isso, no entanto, não é abordado no acórdão. ” 637
Como visto, apesar desse pensamento esposado, por questões processuais, a ministra
terminou acompanhando o voto do ministro relator. Assim, contribuiu para que fosse firmado o
entendimento sobre a possibilidade da aplicação direta do Princípio Poluidor Pagador, sem
previsão legal ou contribuiu, a referida ministra, para que fosse consolidado um entendimento sobre
a possibilidade de um juiz criar condutas para garantir efetividade do PPP, embora esse não seja o
entendimento firmado pela doutrina internacional e nacional, tendo em vista a natureza política do
princípio.
637
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1794629/SP – Terceira Turma. Relator: Min. Moura
Ribeiro. Diário de Justiça Eletrônica, Brasília, 10 mar. 2020. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/857245932/recurso-especial-resp-1794629-sp-2019-0027170-6/inteiro-
teor-857245991. Acesso em: 27 mar. 2022.
223
6 CONCLUSÃO
constatou-se que, apesar de haver quem entenda que o poluidor pagador traz mais custos ao
empreendedor, isto não é necessariamente válido, uma vez que se ele for concretizado
adequadamente, por meio do instrumento econômico da logística reversa, por exemplo, ele poderá
trazer receitas ao empreendedor.
Por conta disso, é fundamental a concretização normativa do PPP pelo Poder Público, por
meio de políticas públicas. Além de garantir uma legitimidade democrática representativa, no caso
do Brasil, é por meio do exercício do poder discricionário do Poder Executivo (análise da
conveniência e oportunidade/não arbitrariedade), que poderão ser encontradas políticas públicas
adequadas às realidades ambiental, social, econômica e política.
Para a efetividade das políticas públicas, parece não ser viável, importar políticas
estrangeiras, sem as devidas adequações. É preciso ver o impacto, não apenas ambiental, como
também, observar os impactos sociais e financeiros das políticas fomentadas.
Assim, percebeu-se que se deve fugir da definição de obrigações, com base no poluidor
pagador, pelo Poder Judiciário, através do ativismo judicial. A discricionariedade presente no PPP,
a partir dos seus representantes eleitos, indica que a sociedade brasileira, diante das diversas
possibilidades de implementação de políticas públicas para a eliminação das externalidades,
poderá optar por aquela politica que melhor lhe atende.
Isso não quer dizer que o juiz não deva ou não possa decidir fazendo incidir a Jurisdição
Constitucional, diante de uma situação concreta, sobre a qual haja uma probabilidade muito alta de
um acidente ambiental, que impacte no equilíbrio ecológico. Neste sentido, inexistindo meios
preventivos suficientes (tecnologias) para conter o perigo de dano representado pela ação
empresarial, comprovada a sua verossimilhança de alegações, poder-se-ia impedir o
funcionamento desta atividade. Neste caso, recorre-se a teoria analisada de Roberty Alexy.
Apesar da teoria procedimentalista Habermasiana ser tentadora, pois em um Estado
democrático, desde que se chegue a um consenso pelos interessados em uma decisão, está tudo
certo, devendo ser resguardados apenas os procedimentos democráticos, o Brasil é um país com
pouca efetivação dos Direitos Sociais, a começar pelo direito à educação de qualidade. Assim, no
Brasil não se acredita na obtenção do verdadeiro consenso democrático, embasado na autonomia
(consciência), como pretende a teoria habermersiana.
Não obstante, se esteja na era pós-positivista, na qual há uma invasão do direito na moral,
através da irradiação dos valores constitucionais na interpretação do ordenamento jurídico, não
225
cabe ao magistrado, alegar a força normativa dos princípios constitucionais em abstrato, ainda que
se esteja diante de princípios fundamentais como o princípio do ambiente ecologicamente
equilibrado.
A alegação da fundamentalidade dos princípios para restringir Direitos Fundamentais em
abstrato é incompatível com a teoria de Alexy. Todo cuidado em relação ao núcleo imanente de
qualquer Direito Fundamental, ainda é pouco. Como ficou claro, nem mesmo a dignidade da pessoa
humana, é um princípio absoluto.
No caso analisado, viu-se que os magistrados decidiram, sem fundamentar-se em uma lei
válida, previamente criada pelos Poderes Executivo e Legislativo competentes, conforme rege o
espirito do PPP. Na verdade, ao impor uma punição à empresa, viu-se que foi aplicada a
responsabilidade civil, porquanto, viu-se exteriorizada a finalidade sancionatória, a qual não está
presente no PPP.
Como dito, o PPP não tem o escopo de punir levando o fechamento de portas. Ele tem o
propósito de promover a internalização dos custos ambientais, atentando-se para a sua dimensão
objetiva-racional-econômica. Neste sentido, é garantido aos poluidores, o acesso a políticas
públicas, que menos acarretem custos sociais aos poluidores, porquanto, na referida dimensão, o
poluidor pagador indica, em consonância com o equilíbrio ecológico, que seja aplicada a
interpretação da norma que proporcione o menor impacto financeiro aos poluidores.
A abertura semântica dos princípios não os tornam superiores às regras. Assim, esta
abertura não exime o magistrado do dever de proferir a sua compreensão baseada na
intersubjetividade dos valores propalados pela Constituição, nem mesmo isenta este magistrado do
dever de explicitar sua compreensão. A soma destes dois elementos, como visto indicam na boa
interpretação.
Nesta senda, a referida abertura semântica determina o uso do método hermenêutico
constitucional da nova teoria do Direito dos Princípios como manda a proposta teórica,
conjecturado no Pós-guerra, por Dworkin, sob as críticas de Robert Alexy.
A ponderação de interesses não é sobre colocar dois princípios em enfrentamento, e sim,
escolher o de maior peso com o devido aprofundamento. Deste modo, decidir com base em
princípios não é uma tarefa fácil. Por um outro lado, ficou evidente que os princípios não
dispensam a aplicação das regras.
Observou-se, no ambito externo, que os Tribunais de Justiça europeus afastam a “poluição
226
normativa”, em face das normas criadas, fundamentadas no PPP. Para tanto, eles buscam dar
interpretações compativeis com seu fim.
Indubitavelmente, é preciso combater decisões judiciais, que afirmem, genericamente,
resguardar, a partir do uso da técnica da ponderação da nova hermenêutica constitucional, Direitos
Transindividuais (equilíbrio ecológico), mas na verdade, violam Direitos Fundamentais, tais como:
propriedade, separação de poderes, democracia representativa, segurança jurídica.
Segundo a teoria Alexyana, todos os princípios tem, abstratamente, o seu lugar no
ordenamento jurídico. Direitos Fundamentais individuais de livre expressão de pensamento não
estão em posição menos privilegiada do que o Direito Fundamental à saúde, em abstrato. Mesmo
porque, a realização do direito ao equilíbrio ambiental envolve conceder elementos materiais,
através de incentivo à livre iniciativa.
A importância da dimensão ambiental não reduz a necessidade de garantir a efetividade das
outras. O funcionamento da atividade econômica é importante para a existência do próprio Estado,
pois este não vive sem tributos, cuja origem em sua grande maioria deriva de um bom
funcionamento da dimensão econômica. A dimensão econômica é essencial para a realização de
Direitos prestacionais sociais e Transindividuais.
Com isso, pôde-se perceber que a concretização normativa do poluidor pagador em suas
3(tres) dimensões é essencial para que não ocorra a violação de princípios essenciais, como o
pluralismo democrático. A concretização normativa do PPP, ressalta, mais uma vez, que pode
ocorrer através de normas de qualidade ou a partir de normas indutoras econômicas, tais como: as
taxas, impostos, logística reversa, educação ambiental. A escolha de qual espécie normativa adotar
cabe ao Estado.
A obrigatoriedade de as empresas estruturarem e operacionalizarem a logística reversa dos
plásticos deu-se, a partir de 2010, com a edição da Política Nacional dos Resíduos Sólidos – Lei
12.305/2010. Aliás, o Tribunal de Justiça, somente poderia impor o recolhimento das embalagens
plásticas das ruas e córregos, com base no Princípio Poluidor Pagador, sem violar o princípio da
separação dos poderes, constante no artigo 2º da Constituição Federal para fatos ocorridos, a partir
de 02 de agosto de 2010, data da publicação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos.
Como foi visto, foi nesse período, que restou regulamentada a obrigação legal de os
comerciantes, distribuidores, importadores e distribuidores de garantirem o retorno dos resíduos,
potencialmente causadores de danos ambientais, de estruturarem e operacionalizarem a logística
227
imediata. Ainda que ele ampare outros Direitos Fundamentais do catálogo ou fora dele, em razão
do seu conteúdo axiológico, sua efetividade depende de uma intermediação legislativa, como
ocorre com a maioria dos princípios situados fora do catálogo.
Então, percebeu-se que o maior problema da decisão do Tribunal de Justiça do Paraná foi
ter definido, fora do Competente Poder Legislativo ou Executivo uma obrigação, em juízo, sem
dar oportunidade de a Empresa Imperial seguir a regra correta, tal como hoje ocorre após a edição
da PNRS, que dispõe sobre a logística reversa das embalagens plásticas.
Viu-se então, que os julgadores se equivocaram ao reduzir o PPP à responsabilidade civil.
Isto porque enquanto a responsabilidade civil tem uma natureza sancionatória, preventiva e
compensatória, o Princípio Poluidor Pagador não tem a finalidade sancionatória.
Justamente, nesse ponto, imagina-se a problemática, pois assim como foi determinado o
recolhimento das embalagens para combater o dano ambiental, poderia terem sido escolhido outras
obrigações.Neste sentido, verificou-se na decisão paradigmática analisada, a violação dos
princípios da legalidade e da segurança jurídica, pois ficou definido somente, em instância
judiciária, a obrigação para o recolhimento dos resíduos decorrentes da atividade danosa, deste
modo, sem prévia cominação legal.
Sem pretensões sobre discorrer sobre incidência da responsabilidade civil reparatória em
relação aos danos causados pelos plásticos no meio ambiente, não há justificativa formal nem
material para fundamentar a responsabilidade civil no PPP.
Por um outro lado, percebeu-se que o mecanismo econômico da logística reversa, por si só,
não propiciará a eficácia do PPP na eliminação ou redução das externalidades ambientais, pois este
instrumento deve estar associado de outros instrumentos normativos ou econômicos, a exemplo da
resolução da CETESB sob n. 127/2021/P, que estabelece procedimento para demonstração do
cumprimento da logística reversa no âmbito do licenciamento ambiental.
Ademais, o Poder Judiciário não somente pode, como deve, no âmbito da Jurisdição
Constitucional, com o objetivo de fazer valer a força normativa da Constituição, examinar a
Constitucionalidade dos atos normativos emanados Pelo Poder Executivo e Legislativo, com o
fundamento no Princípio Fundamental do Poluidor Pagador, ainda que este princípio seja um
indutor Estatal para a elaboração de medidas publicas visando a eliminação ou redução das
externalidades ambientais.
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