TJ-DF Golpe Do Motoboy 06052024
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Acórdão Nº 1857792
EMENTA
1. Trata-se de Recurso Inominado interposto em face da sentença exarada pelo juízo do 4° Juizado
Especial de Brasília que julgou parcialmente procedente o pedido inicial para condenar a instituição
requerida no pagamento do valor de R$ 32.126,03 (trinta e dois mil, cento e vinte seis reais e três
centavos).
2. Na origem, a autora, ora recorrida, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais.
Narrou que é cliente da instituição requerida e que, em setembro de 2022, recebeu uma mensagem de
texto informando de uma compra no valor de R$ 5.432,00 (cinco mil quatrocentos e trinta e dois reais).
Pontuou que, imediatamente, entrou em contato com o número informado e negou a compra. Ressaltou
que foi alertada que haveria uma nova ligação da requerida. Após, recebeu ligação do número (061)
4004-0001, que corresponde ao número telefônico do banco réu, na qual os interlocutores possuíam
todos os seus dados. Afirmou que, diante das evidências, se convenceu que se tratava de funcionário da
instituição e autorizou o cancelamento do seu cartão de crédito. Asseverou que o falso funcionário a
orientou a registrar ocorrência, mas que o banco réu poderia realizar tal procedimento mediante entrega
do cartão para destruição. Assim, foi visitada por um suposto funcionário da instituição que recolheu o
cartão de crédito, salientando que, em nenhum momento forneceu sua senha pessoal. Observou que,
depois disso, foram realizadas várias operações, as quais geraram um prejuízo de R$ 32.126,03 (trinta e
dois mil cento e vinte seis reais e três centavos), ficando evidente que lhe foi aplicado o chamado
“Golpe do Motoboy”.
6. Em suas razões recursais, a instituição financeira requerida, ora recorrente, alegou que a
recorrida colaborou com os danos materiais sofridos. Ressaltou que as alegações remetem a um fato
causado por terceiro, sem qualquer relação com a instituição financeira, a respeito do qual a recorrente
forneceu seus dados pessoais, inclusive sua senha, o que denota culpa exclusiva da correntista. Pontuou
que realiza constantes atualizações em seus sistemas de segurança e que não possui qualquer relação
com o fato, não havendo o que se falar em falha na prestação dos seus serviços. Afirmou que as
operações estavam dentro do perfil das movimentações típicas da autora, não havendo obrigatoriedade
de bloqueio das transações realizadas. Argumentou que não há nexo de causalidade capaz de ensejar a
reparação pelos danos materiais, uma vez que o banco não participou dos fatos descritos na inicial, não
havendo qualquer falha na prestação dos serviços. Ao final, requereu o conhecimento do recurso e o
seu provimento para reformar a r. sentença e julgar improcedentes os pedidos iniciais.
7. As informações e documentos juntados aos autos apontam que a recorrida, pessoa idosa (,
inicialmente recebeu ligação telefônica de número identificado como da Instituição Financeira (ID
57779319) e, por aquele meio, foi orientada a entregar o cartão a uma pessoa que, conforme afirmado,
seria funcionário do banco. Diante destas circunstâncias, é compreensível que a consumidora tenha
sido induzida a acreditar que estava agindo de forma correta. Além disso, apesar do argumento de que
a autora realizava uma série de operações por meio de “PIX” (ID 57779343) não há nos autos qualquer
elemento apto a comprovar que as transações contestadas estavam dentro dos padrões de
movimentação utilizado pela recorrida, ainda mais, considerando o pequeno intervalo de tempos em
que elas foram realizadas, especialmente no que diz respeito às compras efetuadas com cartão de
crédito na função de débito. As transação financeira realizada em estabelecimento de nome "Bar
Betim" no valor de R$ 7.999,50 escancara a ocorrência de fraude, que deveria ter sido devidamente
freada pelo Banco. As movimentações financeiras realizadas nos dias 16 e 19/9 são notoriamente
atípicas e facilmente identificáveis.
8. A Súmula 479 do STJ destaca que as instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias. Na hipótese em exame, não é possível afirmar que tenha ocorrido culpa exclusiva
da consumidora, vulnerável perante estelionato bem elaborado. A existência de fraude perpetrada por
terceiros não é suficiente, por si só, de afastar a responsabilização por danos causados, ou mesmo a
mitigação do dever de indenizar, uma vez que configurou fortuito interno e decorreu dos riscos do
negócio.
10. A situação descrita nestes autos se amolda à hipótese da tese fixada pela Turma de
Uniformização, uma vez que a parte recorrida, agindo de boa-fé, recebeu ligação que aparentava ter
sido realizada pelo número oficial do banco e em seguida, ao acreditar estar seguindo orientações de
preposto do recorrente, entregou os respectivos cartões ao suposto funcionário da instituição. O caso
em exame se amolda exatamente ao "golpe do motoboy" aliado ao "golpe do phishing", inexistindo
elemento que o distinga da hipótese padrão a ponto de configurar a culpa concorrente da recorrida,
especialmente porque as compras efetuadas com seu cartão (notadamente as que foram feitas na
modalidade de débito) são notoriamente atípicas. Comprovado, portanto, que as transações contestadas
não foram realizadas por vontade própria da consumidora, adequada a declaração de inexistência das
operações, devendo o recorrente reparar os danos materiais suportados pela autora.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, SILVANA DA SILVA CHAVES - Relatora,
MARIA ISABEL DA SILVA - 1º Vogal e MARILIA DE AVILA E SILVA SAMPAIO - 2º Vogal,
sob a Presidência da Senhora Juiza GISELLE ROCHA RAPOSO, em proferir a seguinte decisão:
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e
notas taquigráficas.
RELATÓRIO
VOTOS
DECISÃO