A Produção de Material Didático
A Produção de Material Didático
A Produção de Material Didático
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O
contexto de produção do Material Didático (MD) na Educação a
Distância (EaD) tem, na mídia e na mediação, dois fortes pilares
dessa modalidade educacional, ambos responsáveis pelo ato peda-
gógico, que envolve o professor, o aluno e o saber, como ressalta Libâneo
(1985), em cursos de extensão, graduação ou de pós-graduação. A produção
do MD para cursos a distância é complexa porque, longe de ser um trabalho
intelectual solitário por parte do professor formador/conteudista, envolve
a participação direta de diversos profissionais, como revisores, diagramado-
res, designers instrucionais, profissionais que ajudam na mediação do conteúdo
entre o professor formador/conteudista e a equipe de diagramação, na pers-
pectiva do trabalho colaborativo, em rede, sem autoria (Filatro, 2008).
Fácil de dizer, de exemplificar, como àquele realizado por pessoas do mundo
inteiro na edição da Wikipédia, e difícil de fazer de forma consciente e aplicada
às particularidades educacionais, pois ainda não é culturalmente incorporado
pelo conjunto dos docentes no planejamento da sua aula, já que poucos de
nós sabem por que, como e onde produzir colaborativamente.
As complexidades inerentes à produção do MD remetem à formação
do docente no que concerne ao processo de autoria em que dele, professor-
-autor, são exigidas múltiplas ações na perspectiva do peopleware1, que envolve
pessoas e processos computacionais, de forma sistêmica, para coletar, arma-
zenar, recuperar e tratar a informação em linguagem multimídia.
A escolha do MD, como referência de análise dos aspectos da forma-
ção docente, dentre tantas ações pedagógicas que fazem parte da modalidade
educacional a distância, justifica-se, pois é a construção e/ou escolha do MD
que norteia a proposta didático-pedagógica de cada disciplina, em termos do
texto produzido, mediação pedagógica e atividades avaliativas realizadas.
A produção do MD para EaD tem passado por mudanças estruturais
correspondentes às tecnologias utilizadas na mediatização do conteúdo re-
presentadas por três fases principais dessa modalidade educacional, tomando-
-se como base os avanços dos meios de comunicação (Gomes, 2008). Por
constituir-se forma de educação que depende de algum tipo de tecnologia
para veiculação do material de estudo e suporte comunicacional, o MD, a
primeira fase da EaD, dependeu fortemente do sistema postal, no Brasil e no
mundo (MOORE; KEARSLEY, 2007). Apostilado, o MD era impresso ou
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escrito à mão, pelo professor, em seu curso, com atividades avaliativas incor-
poradas e enviadas ao estudante por correio. A iniciativa era unidirecional,
do professor ao aluno. O aluno recebia o material, realizava as atividades e as
devolvia ao professor. O tempo entre uma comunicação e outra, correspon-
dente ao tempo didático característico do ensino e aprendizagem, durava anos
e caracterizava-se pela segmentação individual da proposta.
A segunda fase da EaD foi marcada pelos telecursos veiculados pela
televisão e difusão de cursos com conteúdos comentados com a utilização
do rádio, também. A incorporação dessas duas tecnologias na EaD, televisão
e rádio, não anulou a utilização do sistema postal para correspondência aos
alunos dos livros, apostilas impressas, fitas cassetes e atividades avaliativas.
Essa fase demandou do professor outros conhecimentos, além da escrita do
seu material didático. Exigiu conhecimento e desenvoltura para realização da
“aula show”. Além do texto, o professor precisou incluir no seu material a
imagem e a voz. Esse modelo incorporou outras pessoas no processo da
elaboração, planejamento e execução da aula. Longe de ser espontâneo, foi
pensado, intencional, com utilização de estratégias de impacto para prender a
atenção do aluno.
O atual cenário internacional da Educação a Distância, terceira fase,
mostra maciços investimentos nessa modalidade educacional nas Américas,
Europa, Ásia e África. Os números saltam aos olhos, como no caso da Indira
Gandhi National Open University, criada em 1985 e que, atualmente, conta com,
aproximadamente, 1,6 milhão de estudantes. No Brasil, registra-se o marco
dos 140 mil acadêmicos matriculados em IES públicas e 1,5 milhão em IES
particulares (CENSO EaD, 2012). Esse cenário de expansão da EaD tem
suas bases sustentadas na confluência de dois aspectos favoráveis: o avanço
permanente da tecnologia digital e os programas governamentais decorrentes
das políticas públicas.
No que concerne ao enfoque tecnológico digital, o indiscutível avanço
da Telemática, com ênfase na Internet tem permitido a mobilidade comuni-
cacional e computacional em múltiplas plataformas (KALAKOTA; ROBIN-
SON, 2002). Já os programas decorrentes das políticas públicas, norteadas
por conferências que discutem a EaD, como no caso do International Council
for Open and Distance Education, realizado na Indonésia, em Bali, em 2011,
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ço interno e com isso gere a implosão do processo. Mas essa convergência midi-
ática exige que conhecimentos e habilidades por parte dos docentes?
Qualquer discussão que remeta aos saberes dos docentes, seja da gra-
duação ou pós-graduação para ensino em plataformas virtuais deve conside-
rar dialogar, inicialmente, com a influência gerada nele, pela educação presen-
cial, já que não se tem, ainda, conjunto expressivo de professores formados,
em sua essência, na modalidade a distância, ao menos em termos de Brasil.
Por outro lado, em uma dimensão conceitual mais ideológica, o ensino
mediado em termos da produção de Material Didático, em ambiente virtual
de aprendizagem, resgata, de certo modo, os saberes docentes que remetem
ao currículo, mediação pedagógica e avaliação da aprendizagem e que se ocu-
pam em inserir esses elementos em uma estrutura organizada, planejada, com
determinação clara de objetivos e desenvolvimento de ações que viabilizem
o alcance das metas de forma exitosa e eficiente, algo similar ao modelo de
currículo proposto por Tyler (1974), na leitura de Silva (2000). E, ainda, numa
perspectiva multiculturalista, em que ganham significado, o discurso, os ele-
mentos como currículo, mediação pedagógica e avaliação da aprendizagem,
consideram novas representações de classe, gênero, raça, etnia na complexi-
dade do ensinar no século XXI.
Tal complexidade é retratada pela mudança na estrutura social, pelos
efeitos dos avanços tecnológicos que acabam refletindo na educação a exigên-
cia de novos paradigmas, como o deslocamento do acesso ao conhecimento
pelas TICs, culturalmente centralizado nos espaços educacionais, causando
crises “[...] do saber na nossa sociedade moderna” como anunciam Tardif e
Lessard (2008, p. 11).
Essa crise, atribuída à vulnerabilidade dos conhecimentos a ser ensi-
nados, na medida em que estão mais acessíveis à comunidade, “[...] se revelam
incertos, contestáveis e contestados”, conforme Tardif e Lessard (2008, p.
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Considerações finais
NOTAS
REFERÊNCIAS
nível em <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8073/1/
artigo-senda.pdf.> Acesso em: 21 abr. 2013.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Teorias do currículo: uma introdução crítica. Por-
to: Porto Editora, 2000.