PARGENDLER & SALAMA. Direito e Consequëncia No Brasil
PARGENDLER & SALAMA. Direito e Consequëncia No Brasil
PARGENDLER & SALAMA. Direito e Consequëncia No Brasil
Mariana Pargendler
Professora Associada da Escola de Direito da FGV-SP (FGV Direito SP) e Coordenadora
do Núcleo de Direito, Economia e Governança da FGV Direito SP
[email protected]
I. Introdução - II. Direito e ciência: a evolução do papel do jurista - III. O jurista como
cientista social - IV. As consequências como condição de incidência normativa - V. O
papel da doutrina jurídica como não ciência - VI. Conclusão - VII. Referências
I. Introdução
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O fossoque separa a pesquisa em direito da pesquisa em outras áreas do saber humano
nunca foi tão estreito quanto hoje. Embalada pela cantilena da interdisciplinaridade, a
produção acadêmica em direito tem crescentemente lançado mão do método prevalente
em outras ciências naturais e sociais, conferindo maior ênfase à formulação de teorias
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“falseáveis” e ao desenvolvimento de estudos empíricos e experimentais aptos a
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testá-las . O fenômeno, aliás, é hoje observável em toda parte: não apenas nos Estados
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Unidos, onde se originou, mas também na Europa continental, para onde se espalhou .
Tal fenômeno, entretanto, veio desacompanhado de uma reflexão mais aguda sobre esse
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tipo de investigação . A que se deve no Brasil o crescente interesse de profissionais e
estudiosos do direito por trabalhos empíricos e interdisciplinares? Seriam eles nova
manifestação de “ideias fora do lugar”, traço marcante da crítica social à produção
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acadêmica brasileira? Ou, ao contrário, estaria a doutrina jurídica, nos moldes
tradicionais, com seus dias contados? O presente trabalho busca oferecer elementos
para o enfrentamento dessas difíceis questões.
O presente texto oferece elementos para uma narrativa que dê sentido à aparente
cientificização da produção jurídica. Ainda que aqui esteja a semente para uma
teorização ulterior mais ampla, a ênfase recai, em particular, sobre o contexto
jurídico-político brasileiro. Dividimos o restante deste texto da seguinte maneira. A seção
I, introdutória, apresenta o que pode ser chamado de uma narrativa “padrão” ou
“tradicional”, a respeito da relação entre direito e ciência. A seção II formula uma
explicação dos fatores que determinam a importação de métodos de outras ciências ao
estudo jurídico no Brasil. A seção III discute as correspondentes modificações na técnica
de aplicação do direito a permitir que o exame das consequências da norma jurídica
condicione a sua incidência ou não ao caso concreto. A seção IV apresenta razões
epistemológicas e teóricas pelas quais a “cientificização” da produção jurídica não é
inevitável nem ilimitada. A seção V conclui.
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
O argumento de que a produção em direito tenha se tornado cada vez mais científica é
em parte apenas semântico e comparativo. O que significa dizer que os trabalhos se
tornaram mais “científicos”? Além disso, qual o referencial de tal assertiva: teria a
produção jurídica se tornado mais científica comparativamente a quê?
Estas são, sem dúvida, questões difíceis e com implicações profundas e variadas. Existe
(ou poderia existir) uma ciência do direito? Em caso positivo, qual o seu objeto e
método? Em caso negativo, qual seria, afinal de contas, o papel do jurista ou do
acadêmico em direito? Não cabe aqui reconstruir historicamente esse debate — tema,
aliás, indevidamente omitido por parte da literatura norte-americana recente, que se
limita a descrever as definições de ciência em geral sem se ater a obras específicas
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sobre o alegado caráter científico (ainda que sui generis ) do direito . Neste trabalho,
por ora, cumpre apenas observar que cada uma dessas questões envolve complexidades
e sutilezas das mais variadas e que serão apenas tangenciadas na análise que segue.
Iniciemos pela discussão da noção de uma eventual “ciência do direito”. Seu objeto e
método permanecem amplamente contestados, dificultando a formação de uma
comunidade acadêmica. Deve ser estudado o direito nos livros (law in the books) ou o
direito em ação (law in action)? As abordagens do fenômeno jurídico à luz de outras
disciplinas (economia, sociologia, história etc.) interessam ou não à ciência do direito?
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Seria a “ciência do direito” encarregada de prever como decidirão os tribunais? Estaria
ela também destinada a prever as consequências econômicas, políticas e sociais de
determinadas regras jurídicas ou posicionamentos jurisprudenciais?
No século XX, porém, tal modelo mostrava nítidos sinais de exaustão, e isso por pelo
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menos duas razões . Primeiro, a democratização das formas de governo ao redor do
mundo, assim como o movimento de codificação, operaram parcial substituição do
doutrinador pelo legislador, não só na dicção, mas também na própria sistematização do
direito. A institucionalização da mutabilidade do direito pela positivação, por sua vez, foi
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causa de ansiedade relativamente ao caráter científico do direito . Segundo, a crescente
busca pelos juristas do ideal científico levou-os a conduzir sua análise sob a retórica da
descrição do sistema, em vez da retórica da prescrição. Contudo, a cultura dos manuais
jurídicos que rapidamente se formou passou a esconder os problemas jurídicos concretos
por trás de definições abstratas. Não tardou até que o descolamento entre a teoria e a
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prática do direito passasse a ser objeto de severa crítica .
Em sua Teoria pura do direito, uma das mais célebres obras sobre o tema, Hans Kelsen
propugna a existência de uma ciência do direito, traçando-lhe os métodos e objeto. Seu
“princípio metodológico fundamental” seria justamente “garantir um conhecimento
apenas dirigido ao direito e excluir deste conhecimento tudo quanto não pertença ao seu
objeto, tudo quanto não se possa, rigorosamente, determinar como Direito”, assim
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libertando “a ciência jurídica de todos os elementos que lhe são estranhos” . Para
Kelsen, o conceito de direito objeto da ciência jurídica restringe-se às “normas jurídicas”,
e a “conduta humana só o é na medida em que é determinada nas normas jurídicas
como pressuposto ou consequência, ou — por outras palavras — na medida em que
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constitui conteúdo de normas jurídicas” . Por fim, conclui que a ciência jurídica “apenas
pode descrever o Direito; ela não pode, como o Direito produzido pela autoridade
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jurídica (através de normas gerais ou individuais) prescrever seja o que for” . Em
suma, para Kelsen, a ciência do direito tem como método a descrição e por objeto o
direito, entendido exclusivamente como sinônimo do conjunto de normas jurídicas
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acompanhadas de sanção e emanadas de autoridade estatal .
O objetivo deste último trabalho está longe de ser a descrição da lógica interna de
determinado instituto (no caso, a responsabilidade civil dos proprietários de gado pelos
danos causados pelos animais à propriedade de fazendeiros vizinhos) e a sua posição no
ordenamento jurídico. Pretende o autor, em vez disso, verificar como diferentes normas
jurídicas sobre tal situação afetam o comportamento econômico e social — investigação
esta necessariamente baseada em dados empíricos extrajurídicos e, portanto,
manifestamente impura. E não só: seu estudo conclui, em consonância com o teorema
de Coase, que com baixos custos de transação para negociações o regime jurídico é
verdadeiramente irrelevante e, surpreendentemente, até mesmo desconhecido, abrindo
caminho para frutífera literatura sobre o papel das “regras sociais” (social norms) como
substituto ao regramento jurídico.
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
É tanto ou mais plausível, porém, que os estudos em direito — que, antes de mais nada,
referem-se a uma prática e a uma profissão — reflitam também a estrutura sociopolítica
subjacente. Esta observação conduz, então, a uma ponderação sobre fatores de
“demanda”, por assim dizer, a estimular a pesquisa acadêmica cientificizada. Em
particular, se é difícil demonstrar causalidade, é mais facilmente detectável a relação
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(em maior ou menor grau, a depender do contexto ) entre a transformação na
articulação social do direito e a paulatina mudança na produção jurídica no último
século.
Esta busca por objetivos concretos — estejamos nós falando da diminuição da violência
doméstica ou da eficiência econômica, da melhoria da saúde pública ou da redução do
desmatamento — pode, na terminologia de hoje, ser confortavelmente chamada de
política pública. A política pública propõe ao jurista o desafio de integrar meios jurídicos
e fins normativos, e é neste momento que o saber jurídico tradicional se mostra
insuficiente. Um exemplo recente ilustra por que. A Lei 11.340, de 7 de agosto de 1996
— conhecida como Lei Maria da Penha, em homenagem à ativista e vítima de violência
doméstica que motivou a adoção do diploma —, foi instituída, de acordo com seu
preâmbulo, para criar
“mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do
§ 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.”
Surgem aqui dois problemas diferentes: uma coisa é saber se os fins a que a lei se
propõe — coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher — são legítimos (e é
evidente que são); outra, bastante diferente, é saber se os meios jurídicos previstos pela
Lei Maria da Penha são hábeis a realizar o seu fim normativo da lei. É conhecido o
argumento de muitos, e de não menos do que Immanuel Kant, de que seria próprio ao
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
ofício do jurista “aplicar apenas as leis existentes, mas não investigar se estas
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necessitam de um melhoramento” . Tal é a tradição liberal herdada de antanho, mas
claramente posta em xeque em tempos recentes. Tanto assim que o tema dos meios
previstos na Lei Maria da Penha foi recentemente objeto de decisão pelo Supremo
Tribunal Federal (STF).
Já o voto vencido do Ministro Cezar Peluso, para além de citar “estudos de várias
associações da sociedade civil e também do Ipea” sobre a vantagem do processamento
das ações pelos juizados especiais, decidiu pela constitucionalidade da ampla exigência
de representação. Explicou que a inclusão de semelhante requisito no texto legal não foi
leviana, e sim produto de consideração de “elementos trazidos por pessoas da área da
sociologia e das relações humanas”, inclusive “por meio de audiências públicas, que
apresentaram dados capazes de justificar essa concepção da ação penal”. Em síntese,
sob o louvável pretexto de se proteger as mulheres, a análise dos “efeitos práticos da
decisão” revelaria o caráter contraproducente do voto majoritário relativamente à
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proteção e autonomia das mulheres .
O ponto básico é o seguinte: para se analisar a pertinência entre meios jurídicos e fins
normativos não basta interpretar a lei nem recorrer a intuições de justiça. É preciso, ao
contrário, apelar a uma ferramenta descritiva do mundo. Na terminologia empregada por
Tercio Sampaio Ferraz Jr., seria possível, então, vislumbrar-se um crescimento na
importância de normas sujeitas ao controle de validade finalística relativamente às
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normas sujeitas ao controle de validade condicional . É neste momento que o
conhecimento científico sobre o mundo social passa a ser, por assim dizer, “demandado”
pelos profissionais do direito. Abre-se, assim, um novo campo de atuação possível para
o estudioso do direito, qual seja, o de empregar os métodos e conhecimentos produzidos
pelas ciências sociais para prever os efeitos concretos de diferentes normas e regimes
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
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jurídicos . Embora este métier específico seja recente, ele se coaduna confortavelmente
com a função histórica do jurista na tradição romano-germânica como guia e auxiliar do
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aplicador do direito .
Como dissemos, a integração de métodos científicos à teoria jurídica, por incipiente que
seja, também pode ser atribuída à mudança organizacional do modelo estatal. Em
muitos países democráticos do Ocidente (e talvez na maioria deles), o Estado regulatório
acabou por alçar (às vezes aberta e às vezes veladamente) o Poder Judiciário à condição
de ente ativo na formulação da política pública. Isto quer dizer que o government by
policy a que aludimos alhures passou a ter, no Poder Judiciário, um ator protagonista, e
não apenas coadjuvante.
Ocorre que este Poder Judiciário, exclusivamente reativo, passivo e despreocupado com
as repercussões amplas de suas interpretações, é cada vez menos observável nos
estados de boa parte do Ocidente. O caso norte-americano é muito conhecido, mas a
experiência brasileira das últimas duas décadas é igualmente emblemática para ilustrar
como a mudança no arranjo político cria uma demanda por certo tipo de produção
acadêmica jurídica em constante flerte com as ciências sociais.
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No Brasil pós-1988, o Poder Judiciário passou da periferia ao centro do arranjo político .
Os tribunais — e o Supremo Tribunal Federal (STF) em particular — foram alçados à
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condição de Poder Moderador, como bem observou Oscar Vilhena . Assim, o papel de
árbitro dos grandes conflitos institucionais e políticos que historicamente coubera ao
Exército passou a ser ocupado pelo STF. Ao mesmo tempo, o Poder Judiciário acabou
cada vez mais desempenhando um papel relevante no delineamento das políticas
públicas no Brasil — ora negativamente, contrabalançando o excesso, ora positivamente,
contrabalançando a inação; e, nos dois casos, contribuindo decisivamente para a criação
de incentivos (e desincentivos) para toda sorte de atividades. É como se o Judiciário
tivesse sido empurrado — muitas vezes a contragosto, ocasionalmente com certo júbilo
— para a posição de ator relevante, e diversas vezes decisivo, no grande quadro
institucional de formulação da política pública.
Engana-se quem pensa que a interface das ciências sociais com o direito seja, então,
fenômeno apenas norte-americano. Por causa dessa centralidade do Poder Judiciário no
arranjo político brasileiro, multiplicaram-se os estudos sobre o STF, tanto nas faculdades
de direito quanto nos programas de sociologia, história e ciência política. Há também um
aspecto concreto que toca à vida de todos, às vezes, de forma teatral. Tão logo
proferidas, algumas decisões do Supremo migram para os editoriais jornalísticos, para as
pesquisas de opinião, para as redes sociais e para as conversas do dia a dia. Embora a
relevância do STF não seja propriamente nova, sua atual proeminência é incomparável.
C. O vetor jurídico: a consequência como ligação entre meio jurídico e fim normativo
“[e]le se aplica apenas a situações em que há uma relação de causalidade entre dois
elementos empiricamente discerníveis, um meio e um fim, de tal sorte que se possa
proceder aos três exames fundamentais: o da adequação (o meio promove o fim?), o da
necessidade (dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para promover o fim,
não há outro(s) meio(s) menos restritivo(s) dos direitos fundamentais afetados?) e o da
proporcionalidade em sentido estrito (as vantagens trazidas pela promoção do fim
66
correspondem às desvantagens provocadas pela adoção do meio?).”
A.. O papel das ciências na determinação dos fatos que integram o suporte fático
Nesse sentido, aos avanços das ciências duras e à oferta de testes científicos, a baixo
custo, corresponde um aumento por sua demanda na esfera jurídica. As evidências
científicas, assim, paulatinamente substituíram as presunções absolutas (jure et de jure)
antes impostas por regra legal em época na qual os benefícios da produção de prova
eram certamente superados por seus custos. Para ilustrar, sob o Código de Hamurabi,
que vigeu no século XVIII a.C. na antiga Mesopotâmia, se um construtor edificasse uma
casa para homem livre e a casa caísse causando a morte do dono da casa, o construtor
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poderia ser morto . Esta pena fazia parte do esquema de regulação vigente à época e,
presumivelmente, estava associada à ideia de que um “arquiteto” nesta situação
provavelmente tomaria muito cuidado para evitar que a casa caísse. A ideia de
responsabilização baseada na culpa — e, para se averiguar a culpa, é preciso relativa
sofisticação técnica — só viria muitos séculos depois com a releitura humanista da ética
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aristotélica .
No passado, o direito antitruste apresentava regras claras (as chamadas per serules do
direito norte-americano) que caracterizavam como ilícitas determinadas condutas.
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
Nas regras jurídicas tradicionais, os fatos referidos no suporte fático estão no passado.
Assim é no crime de homicídio, para apenas citar um exemplo simplório (“Art. 121.
Matar alguém: Pena — reclusão, de seis a vinte anos”). Radicalmente diferente é a
técnica utilizada na aplicação de princípios, na ponderação dos quais são
necessariamente apreciados os efeitos futuros de um ou outro cenário para, então,
optar-se pela incidência ou não da regra. Tanto assim que, ao pontuar as limitações do
modelo de incidência ponteano à aplicação de princípios jurídicos, observaram os
atualizadores do Tratado de direito privado que — diferentemente das regras, “normas
imediatamente descritivas de comportamento” — “os princípios são normas
imediatamente finalísticas, já que, ao invés de descreverem comportamentos,
estabelecem um ‘estado ideal de coisas’ (isto é, um fim) cuja realização implica a adoção
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de determinados comportamentos” .
É neste contexto que se faz necessário recorrer às ciências sociais — sobretudo à teoria
dos preços da microeconomia — para prever, com um mínimo de racionalidade, quais
estados de coisas resultarão da aplicação de um ou outro regime jurídico. Exemplo disto
é dado pela decisão do STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.946. Nela se
discutia se o art. 14 da Emenda Constitucional 20, de 1998 (LGL\1998\68), que fixava
em R$ 1.200,00 o limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de
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previdência social, seria constitucional relativamente à licença gestante . O caso é
paradigmático não apenas por reconhecer a inconstitucionalidade da emenda
constitucional (ainda que sem redução de texto), como também por alicerçar sua
fundamentação precisamente nas prováveis consequências deletérias de uma
interpretação literal da norma quanto à posição da mulher no mercado de trabalho.
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
“Na verdade, se se entender que a Previdência Social, doravante, responderá apenas por
R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais) por mês, durante a licença da gestante, e que o
empregador responderá, sozinho, pelo restante, ficará sobremaneira facilitada e
estimulada a opção deste pelo trabalhador masculino, ao invés da mulher trabalhadora.
A decisão, portanto, não somente alude a fatos da realidade social fora do alcance
imediato da norma em questão (por exemplo, a proporção de brasileiros que são
proprietários de imóveis), mas também tira ilações de causalidade entre a regra de
penhorabilidade do bem de família do fiador e a operação do mercado de locações. É
bem verdade que nem sempre o STF ou outros tribunais do país utilizam expressamente
a retórica da lei como mecanismo de “estímulo” a determinados comportamentos, tal
qual a decisão mencionada. Contudo, com frequência se atingem os mesmos objetivos
pelo vocabulário da “proporcionalidade” — e é talvez por isso que ainda não se tenha
refletido de forma cuidadosa sobre como lidar com as afirmativas empíricas controversas
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suscitadas por este tipo de exame .
É certo, porém, que semelhante técnica de decisão gera demanda por estudos científicos
— teóricos, empíricos ou experimentais — nos moldes das demais ciências. Caso tivesse
sido detectado, por exemplo, que a penhorabilidade do bem de família do fiador não
apresentava qualquer influência positiva no mercado de locações de modo a promover o
acesso à moradia de não proprietários, seria possível que a Corte tivesse decidido de
forma diferente. As decisões suprarreferidas — relativas à Lei Maria da Penha, à Emenda
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
D. Judiciário e consequencialismo
De fato, há hoje no Brasil uma multiplicidade de casos em que a Corte tece juízos sobre
os prováveis efeitos concretos de diferentes normas para, então, concluir sobre a sua
compatibilidade ou não com a ordem constitucional brasileira. Bem ilustram esse método
as decisões do STF sobre (i) a inconstitucionalidade da Lei 8.620/1993 (LGL\1993\28),
que responsabilizava o sócio de responsabilidade pelo inadimplemento de contribuições
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previdenciárias pela sociedade, por violação ao princípio da livre-iniciativa ; (ii) a
constitucionalidade do dispositivo da lei de falências que impõe limites quantitativos à
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prioridade concedida às dívidas trabalhistas ; (iii) a exigência constitucional de
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estender-se os efeitos jurídicos da união estável às uniões homoafetivas ; (iv) a
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constitucionalidade da adoção de cotas raciais por universidades brasileiras ; e até
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mesmo (v) a inconstitucionalidade da criminalização de aborto de feto anencéfalo .
Cada um desses casos reflete seja a utilização efetiva, seja a potencial demanda por
estudos que fundamentem ou neguem os substratos fáticos e os juízos de causalidade
realizado pela Corte como fundamento à sua decisão nos casos concretos.
Em suma, tudo que se disse anteriormente significa que o Poder Judiciário de muitos
países, incluindo-se o Brasil, está envolvido até o pescoço com a formulação de políticas
públicas. E assim — quer gostem, quer não gostem, quer o façam aberta ou
veladamente — seus integrantes estão irresistivelmente impingidos a pensar seriamente
sobre relações de adequação entre meios jurídicos e fins normativos, relações essas que
não podem ser obtidas somente com a filosofia, a lógica, a filologia ou a gramática.
Como se vê, trata-se de um Poder Judiciário, ousamos dizer, ávido por estudos que
articulem a interpretação do texto da lei com suas prováveis repercussões práticas.
É bem verdade, por sua vez, que as implicações do novo modelo de aplicação do direito
em muito ultrapassam a transformação da produção acadêmica em direito para atingir,
igualmente, o funcionamento do processo judicial. No sistema tradicional de
interpretação silogística, aplicam-se regras a fatos pretéritos, os quais são objeto da fase
instrutória e de eventual audiência de instrução com a oitiva das partes e testemunhas.
Tal como se dá com a literatura jurídica, são visíveis, embora ainda incipientes, no
âmbito processual, as mudanças no sentido da adequação dos procedimentos ao papel
central do Poder Judiciário na formulação de políticas públicas. Exemplo notável de um
primeiro passo rumo a tal adaptação teve lugar com a previsão legal e a crescente
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realização de audiências públicas — mecanismo típico de órgão formulador de políticas
públicas — pelo STF em sede de ação direta de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade, um dos fóruns para a influência da produção do jurista-cientista
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social .
Os exemplos nesse sentido são tantos que inviabilizam uma análise mais detida.
Vejamos, a título ilustrativo, a decisão do Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) no paradigmático caso Tractebel. Ao interpretar o art. 115, § 1º, da Lei 6.404, de
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1976 (LGL\1976\12) (Lei das Sociedades por Ações), a Comissão concluiu que basta a
configuração do conflito formal de interesses entre o controlador e a companhia para
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obstar àquele o exercício do direito de voto em assembleia . Para além de aludir ao
texto legal do referido dispositivo, o diretor relator referiu que, em busca de “uma
solução ótima para o problema em questão”, a análise começa por “avaliar os
incentivos”. Diante do “risco ex ante de que ele não se comporte segundo os interesses
dos minoritários”, conclui que, “se nenhuma medida for tomada para alinhar interesses”,
“o minoritário deixará de contratar com a companhia”, pois “sua riqueza poderá ser
transferida para outra empresa do controlador”.
96
estamos aqui a tratar, claro, do “consumo” de doutrina jurídica não científica) .
É possível, contudo, caminhar um pouco mais na análise deste “apetite” por doutrina
jurídica entre os profissionais ligados à feitura, interpretação e aplicação do direito. Ao
contrário do que possa parecer, os problemas da doutrina jurídica como não ciência são
comuns àqueles observáveis na doutrina econômica. O ponto é sutil e talvez
contraintuitivo, porque é bastante comum pensar-se na economia como ciência e no
direito como dogma. Esta simplificação, contudo, é enganosa.
Desde a obra clássica de John Neville Keynes (pai de Maynard Keynes, seu filho ilustre)
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já se entende que a economia tem três dimensões : uma dimensão positiva
(propriamente científica), uma dimensão normativa (ramo da ética aplicada) e uma arte
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(sua aplicação) . Dizer que a economia tem uma dimensão científica significa que o seu
objeto de estudo pode — em princípio, pelo menos — ser dominado pela técnica e pelo
cálculo. Dizer que possui uma dimensão ética significa reconhecer que existem
problemas que não se resolvem mesmo que dominássemos completamente as relações
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de causa e efeito no mundo . Aqui a formulação radical de Tolstoi é esclarecedora: “A
ciência carece de sentido, pois não tem resposta alguma para a única questão que nos
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interessa — ‘Que devemos fazer? Como devemos viver?’” Por fim, dizer que a
economia tem uma dimensão de arte significa que a utilização de ideias econômicas na
formulação e execução da política pública não é, nem nunca foi, um empreendimento
propriamente científico. E há mais: no campo da arte, ao contrário da ciência, não existe
nenhum progresso.
Um exemplo utilizado por Neville Keynes — estamos falando de algo escrito em 1891 —
ilustra bem esta tripartição da economia. Consideremos o fenômeno do pagamento de
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juros . Uma questão, dizia Neville Keynes, é entender por que se pagam juros e que
fatores determinam a sua taxa: esta é uma investigação positiva, logo uma questão para
a ciência econômica. Outra questão diz respeito ao que seja uma taxa de juros justa
(aquela que reflete o custo de oportunidade? Ou será que certas pessoas deveriam
poder pagar juros inferiores por critérios de justiça distributiva? etc.). Esta questão não
é científica, mas diz respeito ao que Neville Keynes chamou de “ética da economia
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política” . Um terceiro problema, distinto dos dois anteriores, é o debate aplicado (em
vez de apenas teórico) sobre se o Estado deve interferir sobre acordos privados acerca
do pagamento de juros, e, em caso positivo, que meios deve empregar para que o
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objetivo ético desejado possa ser atingido, pelo menos aproximadamente . A
formulação de preceitos econômicos (economic precepts) desse tipo é objeto da “arte da
economia política”.
É possível dar ainda mais concretude a tais ideias ilustrando-as com um exemplo
familiar. Consideremos as crises econômicas do mundo em desenvolvimento das
décadas de 1980 e 1990. Um diagnóstico científico foi o de que os países em crise
haviam sido excessivamente protecionistas e seus governos demasiadamente
interventores e perdulários (evidentemente, havia diagnósticos científicos bastante
distintos, até mesmo opostos, como é comum nas ciências sociais). Um problema ético
imbricado com este diagnóstico era se os apertos fiscais alegadamente necessários para
melhorar a condição econômica desses países seriam justos com suas populações
pobres. Um terceiro problema — nem científico nem ético, mas apenas aplicado — era
encontrar a doutrina econômica própria para lidar com as crises econômicas. Como se
sabe, uma das doutrinas econômicas mais influentes no período — composta por dez
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mandamentos claros e inteligíveis chamados de “Williamson’s Ten Points” — foi
aquela apelidada de “Consenso de Washington”.
De fato, as doutrinas econômicas receberam, ao longo dos séculos, apelidos não menos
curiosos do que muitas doutrinas jurídicas muito comuns até hoje. Um exemplo
emblemático pode ser encontrado na conhecida doutrina do laissez-faire, laissez-passer,
ainda cunhada pelos fisiocratas franceses. Embora menos em voga em tempos recentes,
acostumamo-nos aqui a ouvir falar da “industrialização por substituição de importações”,
popularíssima no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, e de seu desdobramento
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
Dissemos tudo isso principalmente para mostrar que a economia, “rainha das ciências
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sociais” , possui doutrina não científica — e acrescentamos: possui doutrina não
científica da mesmíssima forma que o direito. Os motivos pelos quais a economia
necessita, ela também, de doutrina não científica, agora já é possível explicar, se
relacionam a cada uma das três dimensões do pensar em economia, como segue.
Os motivos para tanto são diversos. Dizem respeito, ao menos em parte, à existência de
instituições informais (como normas sociais de comportamento, códigos de conduta,
convenções, valores, crenças, tabus, costumes, religiões etc.) cujo funcionamento não é
ainda plenamente compreendido. É por isso que, como explica Douglass North, a
elaboração de uma teoria das instituições requereria uma teoria sobre a formação das
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crenças humanas . O problema, contudo, é que a humanidade ainda não possui uma
boa teoria das crenças humanas. Assim, teorias sobre incentivos e consequências
continuarão sendo, na melhor das hipóteses, aproximações. Na física e nas demais
ciências hard, os modelos são igualmente aproximações, mas contam com a significativa
vantagem dos experimentos, os quais tendem a ser impraticáveis (ou pouco
representativos) no caso das ciências sociais. Se as aproximações da ciência econômica
são, em termos do seu poder preditivo, equiparáveis aos modelos da física, é objeto de
discussão, mas não nos parece ser o caso.
Segundo, ainda que se tivesse uma ciência dos meios adequada — isto é, ainda que
fosse possível modelar adequadamente as coisas do mundo econômico e, portanto,
saber como de fato o mundo é —, nada saberíamos sobre como o mundo deveria ser. Na
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proposição clássica de Hume, de um “is” nunca se pode derivar um “ought to” . Ora, o
universo da pesquisa empírica é o da tentativa de descrição de como o mundo é; mas o
universo do direito trata de como o mundo deveria ser. E assim já se vê que, mesmo
que se formule — cientificamente — uma proposição sobre o funcionamento do mundo,
só por uma perversão da lógica se poderia desde logo dizer algo sobre como o mundo
deveria ser.
dez anos de intenso debate com diversos adversários para que Posner finalmente
reconhecesse seu erro, o que foi feito em Problemas de filosofia do direito (The problems
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of jurisprudence, de 1990) . Os contornos deste debate importam menos; sua
implicação é o que realmente interessa: não há, nem jamais poderia haver, razão
científica para justificar a eficiência como um ideal superior aos demais.
Terceiro, nenhuma posição prática pode ser justificada cientificamente, e as razões para
tanto são profundas e variadas. Duas delas já foram vistas: o mundo em que impera a
esperança (e talvez a crença) na ciência é também o mundo da perda das ilusões em
uma ordem teleológica simplesmente dada e cujos fins estão fora de questão. Nas
palavras de Weber, este é o mundo do “desencantamento”, porquanto “as diferentes
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ordens de valores do mundo estão entre si numa luta sem solução possível” . A outra
razão é justamente a incapacidade da ciência social de permitir que possamos
abandonar o fardo das nossas ideologias, substituindo-o por uma bem mais elegante
atividade de processamento de dados. E isto não é tudo porque, para além dos
problemas de valores e cálculo. há também a política, isto é, o jogo de interesses.
O juiz tem o imperativo de decidir o caso concreto. Ele deve agir com prudência e deve
sopesar os valores envolvidos. E, de mais a mais, o juiz não está de modo algum livre
113
para substituir as ideias da comunidade pelas suas próprias . Por isso, no contexto de
Estado atual, ao interpretar e aplicar a lei, é necessário sopesar as prováveis
consequências das diversas interpretações que o texto permite — daí o input do pensar
científico. Mas isto não é tudo. É preciso atentar também para a importância de se
defender os valores democráticos, a Constituição, a linguagem jurídica como um meio de
comunicação efetiva e a relativa separação de poderes. O decisor é assim, sempre e
inevitavelmente, um artista, jamais um cientista. E a doutrina não científica continuará
sendo, por muito tempo, e talvez até o fim dos tempos, uma ferramenta das mais
convenientes para este decisor. Seu referencial não é a verdade, mas sim a clareza, a
persuasão, a significância e a aplicabilidade.
VI. Conclusão
Essa discussão tem paralelos com outros ramos do saber. Por exemplo, os teóricos
explicam a inovação a partir de duas teorias rivais: para os adeptos do
115
technological-push, a inovação gera sua própria demanda ; já para os adeptos do
116
demand-pull , é a demanda do mercado que determina a direção da inovação.
Também na macroeconomia se põe dilema parecido: para engendrar o crescimento
econômico a melhor tática é reduzir as barreiras à produção ou incentivar o consumo?
Também assim se dá com a importação do método das ciências sociais para a produção
acadêmica em direito.
Este texto buscou mostrar que, para além dos fatores de oferta, que se põe no plano da
competição entre acadêmicos, há também importantes fatores de demanda: em primeiro
lugar, o triunfo do progressivismo na política (e, logo, o advento do Estado regulatório);
em segundo lugar, o deslocamento do Poder Judiciário para o centro do arranjo político
no modelo de Estado de diversos países; e, em terceiro lugar, a modificação na técnica
jurídica com a crescente utilização de princípios jurídicos em vez de regras jurídicas.
“O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende,
nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que
ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que
nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio.”
VII. Referências
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
3 Este fenômeno é ainda mais acentuado nos Estados Unidos, país no qual, desde o
movimento do realismo jurídico do início do século XX, a análise dogmática tradicional
paulatinamente perdeu seu inicial prestígio. A esse respeito, ver, a título meramente
exemplificativo, POSNER, Richard. The decline of law as an autonomous discipline:
1962-1987. Harvard Law Review, n. 4, v. 100, p. 761-780, 1987; EDWARDS, Harry T.
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Theory, empirical work, and the scientific method in the study of law. University of
Illinois Law Review, n. 4, p. 875-920, 2002; COOTER, Robert. Maturing into normal
science: the effect of empirical legal studies on law and economics. University of Illinois
Law Review, n. 5, p. 1475-1483, 2011.
4 Ver, por exemplo, a European Association of Law & Economics, que no ano de 2012
realiza seu 29o encontro anual. Disponível em: [www.eale.org].
9 Para uma exceção a essa regra, no que toca ao exame das justificativas para o “estudo
empírico da dogmática”, ver RODRIGUEZ, José Rodrigo. Pesquisa empírica e estado de
direito: a dogmática jurídica como controle do poder soberano. Disponível em:
[www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/manaus/teoria_do_direito_jose_rodrigo_rodriguez.pdf].
Acesso em: 26.08.2012. Ver também GRECHENIG, Kristoffel; GELTER, Martin. A
divergência transatlântica no pensamento jurídico: o direito e economia norte-americano
vs. o doutrinalismo alemão. In: SALAMA, Bruno M. (Org.). Direito e economia: textos
selecionados. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 325-394. Nos Estados Unidos, berço do mais
recente desenvolvimento dos estudos interdisciplinares, há alguma bibliografia avaliando
o fenômeno. Ver, por exemplo, COLLIER, Charles W. The use and abuse of humanistic
theory in law: reexamining the assumptions of interdisciplinary legal scholarship. Duke
Law Journal, n. 41, 1991; POSNER, Richard A. Legal scholarship today. Harvard Law
Review, n. 115, 2002; RUBIN, Edward L. On beyond truth: a theory for evaluating legal
scholarship. California Law Review, n. 80, 1992; EDWARDS, Harry T. The growing
disjunction between legal education and the legal profession. Michigan Law Review, n.
91, 1992.
10 Cf. SCHWARZ, Roberto (Org.). Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades,
1992 (notando também que “[a]o longo de sua reprodução social, incansavelmente o
Brasil põe e repõe ideias europeias, sempre em sentido impróprio”).
13 Em que pese a existência de tentativas heroicas. Ver, por exemplo, UNGER, Roberto.
Passion. Nova York: The Free Press, 1984. p. vii (indicando que sua aspiração
metodológica é “to reconceive and reconstruct the ancient and universal practice of
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
14 A dicotomia entre o mundo dos fatos e dos valores é um tema clássico em filosofia.
Fala-se em “guilhotina” porque a construção de Hume determina “partir em dois” os
argumentos éticos, separando seus componentes normativos (i.e., juízos sobre o que
deve ser) e seus pressupostos sobre o funcionamento do mundo (i.e., juízos sobre o que
é). Ver HUME, David. Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o
método experimental de raciocínio nos assuntos morais. Trad. Deborah Danowski. São
Paulo: Imprensa Oficial; Unesp, 2001. livro III, parte I, seção I.
17 Há, por certo, autores expressivos que reconhecem o caráter científico do direito ao
mesmo tempo que enfatizam as diferenças entre a ciência jurídica e as demais ciências.
Para as concepções da ciência do direito como ciência sui generis, vide nota 36 infra e o
texto a que se refere.
18 É certo que Kelsen não afasta, nem tampouco condena, a existência de formas de
produção jurídica (peças judiciais, obras doutrinárias ou decisões judiciais) que não
atendam rigorosamente aos ditames de sua teoria pura, mas tão somente lhe nega o
atributo de trabalho científico em direito. Ver notas 37-40 infra.
prever a aplicação do direito por meio da análise dos fatores extrajurídicos (tais como
orientação ideológica, gênero, raça, origem etc.) que explicam o comportamento judicial.
Embora não sejam esses estudos o centro da análise que segue, até mesmo eles
crescentemente interessam aos estudiosos e aplicadores do direito. Veja-se, por
exemplo, o estudo de Laarni Escresa e Nuno Garoupa sobre os fatores determinantes do
comportamento judicial nas Filipinas e sua influência sobre paradigmática decisão da
Suprema Corte daquele país sobre o impeachment de um juiz da Suprema Corte em
razão de sua parcialidade. GUILLERMO, Laarni Escresa; GAROUPA, Nuno. The role of the
Supreme Court in unstable democracies: the case of the Philippine Supreme Court, an
empirical analysis 1986-2010. Asian Journal of Law and Economics, v. 3, n. 1, apr. 2012.
21 Cf. LOPES, José Reinaldo de Lima. Regla y compás, o metodología para un trabajo
jurídico sensato. In: COURTIS, Christian (Ed.). Ensayos sobre metodología de la
investigación jurídica. Madrid: Editorial Estrata, 2006. p. 41-68, esp. p. 50 (“el derecho
— más allá de ser un ‘saber’ reglado, que se puede aprender y transmitir — no es una
‘ciencia’ con las pretensiones (sentidos) que el término ciencia tiene en los últimos
trescientos años en Occidente. El derecho no usa el método hipotético-deductivo y, por
ello, sus técnicas de investigación no se confunden ni con los trabajos de matemática, ni
con los de las ciencias naturales, no con los de las ciencias históricas y humanas. Por
eso, al derecho no se lo denomina, en los términos modernos, ciencia. Cuando hablamos
de un trabajo jurídico científico queremos decir algo más modesto: se trata de un
trabajo elaborado de acuerdo con las reglas académicas del derecho, producido en
universidades. […] Tanto el derecho como la filosofía son saberes, y son campos de
saber con principios, puntos de partida y reglas, es decir, con una cierta gramática que
controla su producción”); e p. 53 [“[p]or ende, lo mejor para definir el objeto de un
trabajo [jurídico] es percibir que su resultado debe ser una conclusión de carácter
práctico-normativo, una guía para la acción del tipo ‘esto debe hacerse porque es lo
debido’, o ‘esto no debe hacerse porque está prohibido’, o aun ‘esto puede hacerse ya
que está autorizado’, o ‘esto debe cambiarse porque es injusto’ (antisonómico), etc. […]
Como puede verse una vez más, el objeto de estudio — incluso el jurídico — no es el
objeto natural, sino un cierto ‘sentido’ del objeto natural (o de cualquier objeto)”).
22 Ulen, por exemplo, cita Karl Popper, Thomas Kuhn e Thomas Bayes, porém, não cita
Kelsen, Hart ou outros nomes célebres na teoria do direito. Há uma diferença — sutil,
contudo, fundamental — entre discordar e não tomar conhecimento daquilo que já existe
em teoria jurídica. Cf., ULEN, Thomas. A Nobel Prize in legal science? Op. cit. Há, no
entanto, algumas publicações interessantes sobre o tema nos Estados Unidos. Por
exemplo, do argentino SPECTOR, Horacio. The future of legal science in civil law
jurisdictions. Louisiana Law Review, n. 65, 2005.
23 A atividade de prever o que o juiz fará nem sempre é jurídica. Segundo Oliver
Wendell Holmes, o direito seria a previsão de como decidirão os tribunais. HOLMES JR.,
Oliver Wendell. The path of the law. Harvard Law Review, n. 10, p. 460-461, 1897 (“
[t]he prophecies of what the courts will do in fact, and nothing more pretentious, are
what I mean by the law”). Em tempos mais recentes, porém, o avanço de estudos
econométricos demonstrou que a previsão das decisões judiciais pode ser alcançada por
meios absolutamente distintos da forma de saber tradicionalmente entendida como
“jurídica”. Veja-se, nesse sentido, a aposta feita sobre a previsão dos resultados de
decisões da Suprema Corte norte-americana entre professores de direito, com amplo
conhecimento de direito constitucional e das decisões pretéritas dos membros do
tribunal, e professores de ciência política, com apoio em modelos econométricos
baseados em fatores extrajurídicos, tal como a afiliação política do presidente que
nomeou o juiz, o tribunal de origem e a direção ideológica da decisão.
Surpreendentemente, os cientistas políticos ganharam a aposta, acertando o resultado
em 75% dos casos, contra a taxa de apenas 59,1% de acerto dos professores. Cf.
AYRES, Ian. How computers routed the experts. Financial Times, 31.08.2007.
24 GORDLEY, James. The State’s private law and legal academia. American Journal of
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
25 Este aspecto foge obviamente do âmbito de reflexão de Ulen, o qual concentra sua
análise nos Estados Unidos, país de sistema de common law, tradição na qual o papel da
doutrina é historicamente menos relevante do que na tradição romano-germânica. Ainda
assim, a partir de Blackstone, os trabalhos de célebres juristas de common law
passaram a assemelhar-se ao paradigma romano, sistematizando as decisões judiciais e
criando categorias doutrinárias de modo a explicá-las. Ibid., p. 641.
27 Ibid.
32 Para uma descrição desses dois fatores, ver ÁVILA, Humberto. Op. cit.
33 Ver FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 6. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2010. p. 50 (“A percepção da mutabilidade teve consequências
importantes para o saber jurídico. No início do século XIX, essa percepção provocou, a
princípio, uma perplexidade. Afinal, dirá alguém, referindo-se à ciência do direito, que
ciência é esta se basta uma penada do legislador para que bibliotecas inteiras tornem-se
maculatura?” (KIRSCHMANN, 1966:26.)
34 Ver, por exemplo, LOPES, José Reinaldo de. Regla y compás, cit., p. 55 (“[l]a cultura
de los manuales impide justamente eso: que los problemas reales y prácticos se
conviertan en problemas jurídicos”).
35 BERMAN, Harold J. The origins of Western legal science.Harvard Law Review, n. 90,
p. 895, 1977 (observa que as primeiras universidades surgiram no século XII, época na
qual o direito era estudado como “ciência”, isto é, como um conjunto de conhecimentos
coerente, específico e dotado de metodologia própria). Evidentemente, esta era uma
ciência de conhecimento sobre o objeto; não propriamente dotada daquilo que hoje se
convencionou chamar de “espírito científico”. Relativamente ao contexto brasileiro,
sustenta Marcos Nobre que historicamente “vigorava o ‘princípio da antiguidade’, já que
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
36 Entre nós, ver FERRAZ JR., Tercio Sampaio. A ciência do direito. 2. ed. São Paulo:
Atlas S.A., 1980. p. 45 (descreve a ciência do direito como um “pensamento
tecnológico”, o qual embora compartilhe algumas características com o pensamento
científico stricto sensu, dele se diferencia, pois seus problemas “têm uma relevância
prática (possibilitar decisões: legislativas, judiciárias, administrativas, contratuais etc.)
que exige uma interrupção na possibilidade de indagação das ciências em geral, no
sentido de que a tecnologia dogmatiza os seus pontos de partida e problematiza apenas
a sua aplicabilidade na solução de conflitos”); REALE, Miguel. Lições preliminares de
direito. 25. ed. 2. tir. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 82 (defende que “há diversos tipos de
ciência, igualmente legítimos, cada qual fiel a seus métodos e processos em função da
natureza daquilo que estudam”, razão pela qual “no quadro de um pluralismo
metodológico, o Direito é uma ciência tão legítima como as demais”).
37 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 1.
38 Ibid.
40 Um erro comum é supor-se que Kelsen teria defendido que a interpretação do direito
pudesse ser meramente jurídica. Ao contrário, Kelsen entendeu que “a interpretação da
lei em casos concretos dependeria inevitavelmente de questões de “política jurídica” (cf.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, cit., p. 396. Richard Posner identifica aqui uma
abertura da teoria kelseniana para integração com as ciências sociais (cf. POSNER,
Richard. Law, pragmatism, and democracy. Cambridge, MA: Harvard University Press,
2003. p. 250-291). Essas conclusões são exploradas em SALAMA, Bruno Meyerhof. O fim
da responsabilidade limitada: história, direito e economia. 2013. (no prelo, ainda
inédito). epílogo.
45 Ver, e.g., Ulen, THOMAS. A Nobel Prize in legal science? cit., nota 5 (“My sense [...]
is that the increasing theorization of and academic emphasis in legal scholarship are due
to internal factors having to do with the history of legal scholarship and legal education’s
being situated within great research universities, not to external or market forces in the
legal services market”).
47 Neste sentido, o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, editada em 1942 e até
hoje em vigor, é bastante ilustrativo: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.”
48 As expressões vêm de LOPES, Regla y compás, cit., nota 44, p. 149. Cumpre
ressalvar, porém, que a utilização das consequências fáticas como fundamento de
decisões jurídicas — inclusive com alusão às consequências econômicas de um ou outro
regime —, já era particularmente notável nas decisões do Conselho de Estado no século
XIX, o qual, embora fosse um órgão formalmente consultivo, desempenhava as funções
de um verdadeiro Poder Moderador. Para alguns exemplos desse tipo de argumentação
do Conselho de Estado na seara do direito societário, cf. PARGENDLER, Mariana. Politics
in the origins: the making of corporate law in nineteenth-century Brazil. American
Journal of Comparative Law, v. 60, n. 3, p. 830, 2012 (citando, entre outros exemplos, o
voto contrário à posição majoritária do Conselho que interpretara restritivamente o
Código Comercial de modo a vedar a constituição de sociedades em comandita por ações
no direito brasileiro, o qual justificou ser tal proibição um equívoco “em um país novo,
em que é necessário promover associações de comércio e de indústria”).
51 COMPARATO, Fábio Konder. Para viver a democracia. São Paulo: Brasiliense, 1989. p.
102.
59 VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremo Tribunal Federal: o novo Poder Moderador. In:
MOTA, Carlos Guilherme Mota; SALINAS, Natasha S. C. Os juristas na formação do
Estado-nação brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010.
63 ACKERMAN, Bruce A. The new separation of powers. Harvard Law Review, n. 113, p.
633-729, 2000.
65 ALEXY, Robert. Theorie der Grundrechte (1985). Trad. Virgílio Afonso da Silva. Teoria
dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 91: (“O ponto decisivo na
distinção entre regras e princípios é que princípios são normas que ordenam que algo
seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas
existentes. Princípios são, por conseguinte, mandamentos de otimização, que são
caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a
medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas
também das possibilidades jurídicas.”)
68 Cf. NEVES, Marcelo. Entre Têmis e Leviatã, cit., nota 44, para uma análise da visão
de Niklas Luhmann.
69 Cf. LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
p. 88.
71 Código de Hamurabi: “229.If a builder build a house for some one, and does not
construct it properly, and the house which he built fall in and kill its owner, then that
builder shall be put to death”. Disponível em:
[www.avalon.law.yale.edu/ancient/hamframe.asp]. Acesso em: 29.08.2012.
72 Cf. GORDLEY, James. Foundations of private law: property, tort, contract, unjust
enrichment. Oxford: Oxford University Press, 2006. p. 159.
73 “Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos
de sua mulher, sendo tal ação imprescritível.”
75 GERADIN, Damien; PEREIRA NETO, Caio Mario. From “per se” to “effects-based”
analysis of vertical restraints adopted by dominant firms: the examples of EU and
Brazilian competition law (working paper não publicado, 2012).
77 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn 1.946/DF, TP, rel. Min. Sydney Sanches, j.
03.04.2003.
78 Ibid., ementa.
79 Ibid.
80 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 407.688-8, TP, Rel. Min. Cezar Peluso, j.
08.02.2006.
82 Para uma explicação detalhada, ver SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é pesquisa em
direito e economia? Caderno Direito GV, n. 22, mar. 2008.
83 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 526.276, TP, rel. Min. Ellen Gracie Northfleet,
j. 03.11.2010 (“O art. 13 da Lei 8.620/93 também se reveste de inconstitucionalidade
material, porquanto não é dado ao legislador estabelecer confusão entre os
patrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor desconsiderac�ão ex
lege e objetiva da personalidade jurídica, descaracterizando as sociedades limitadas,
implica irrazoabilidade e inibe a iniciativa privada, afrontando os arts. 5o, XIII, e 170,
parágrafo único, da Constituic�ão.”) A conclusão de que a responsabilização dos
sócios pelas dívidas sociais inibe a iniciativa privada é um juízo de causalidade
falsificável — e, com efeito, contestado por alguns estudos empíricos. Veja-se, por
exemplo, o estudo empírico de Mark Weinstein, segundo o qual não há evidências de que
o sentido de que o advento da responsabilidade limitada na Califórnia entre 1929 e 1931
teve qualquer efeito no valor das ações de companhias abertas californianas.
WEINSTEIN, Mark. Share price changes and the arrival of limited liability in California.
Journal of Legal Studies, v. 32, n. 1, p. 1-25, 2003.
84 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn 3.934, TP. rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
27.05.2009. Nas palavras do Ministro relator, “forçoso é convir que o limite de conversão
dos créditos trabalhistas em quirografários fixado pelo art. 83 da Lei 11.101/2005 não
viola a Constituição, porquanto, longe de inviabilizar a sua liquidação, tem em mira,
justamente, a proteção do patrimônio dos trabalhadores, em especial dos mais débeis do
ponto de vista econômico”.
85 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn 4.277, TP, rel. Min. Ayres Britto, j.
05.05.2011. O voto do Ministro Marco Aurélio faz referência expressa ao fato de o Brasil
ocupar o primeiro lugar no ranking de homicídios anuais contra homossexuais para
fundamentar a sua decisão pela procedência da ADI, em mais um passo para o Brasil
vencer “a guerra desumana contra o preconceito”.
86 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 186, TP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
26.04.2012. Segundo veiculado no sítio do STF, o Ministro Gilmar Mendes fundamentou
sua decisão no baixo número de negros nas universidades brasileiras e na “dificuldade
quase lotérica” de seu acesso à universidade. Disponível em:
[www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=206042]. Acesso em:
26.08.2012.
87 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 54, TP, rel. Min. Marco Aurélio de Mello, j.
11.04.2012 (fundamentando sua decisão, inter alia, nos “[d]ados apresentados na
audiência pública”, os quais “demonstram que a manutenção da gravidez nesses casos
impõe graves riscos para a saúde da mãe, assim como consequências psicológicas
severas e irreparáveis para toda a família”).
89 Art. 9o, § 1o, e art. 20, § 1º, da Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999, in verbis
(“Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de
notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar
informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer
sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas
com experiência e autoridade na matéria.”) Outras inovações institucionais têm sido
sugeridas pela doutrina e mais certamente virão. Veja-se, nesse sentido, GOUVÊA,
Carlos Portugal. Democracia material e direitos humanos. In: AMARAL JR., Alberto do;
JUBILUT, Liliana Lyra. O STF e o direito internacional dos direitos humanos. São Paulo:
Quartier Latin, 2009. p. 99-121. O autor defende a criação de um “Conselho
Constitucional de Desenvolvimento Social e Econômico”, encarregado de “apresentar
relatórios públicos de análise distributiva de custo-benefício de suas políticas públicas”, a
cujo saber técnico o Judiciário poderia recorrer na implementação de políticas públicas
por via judicial. Ibid., p. 118.
94 Ibid. Cf., também, DJANKOV, S.; LA PORTA, R.; Lopez-De-SilaneS, F.; SHLEIFER, A.
The law and economics of self-dealing. Journal of Financial Economics, n. 88, p. 430,
2008.
97 KEYNES, John Neville. The scope and method of political economy. Londres:
Macmillan, 1891.
98 Para uma discussão detalhada do tema, ver SALAMA, Bruno Meyerhof. The art of law
& macroeconomics. University of Pittsburgh Law Review, n. 2, v. 74, 2012. (no prelo).
Disponível em: <www.works.bepress.com/bruno_meyerhof_salama/70> (“Neville
Keynes wrote [The scope and method of political economy] in reaction to a controversy
over the epistemological character and method of economics that was central to
economic thinking in his time — and in fact, one that haunts the economic profession
until today. The controversy is related to whether economics is a scientific endeavor that
establishes hypotheses based on the deduction of assumed truths about the world (such
as that men rationally maximize utility), or whether economics is an examination of the
workings of institutions considered in a specific historical setting [...] he proposed that
economics should be viewed as partly a positive science concerned with finding truths
about how the world works; partly an ethical inquiry; and partly an art concerned with
practical precepts for action. What Neville Keynes did, therefore, was to posit the
existence of a third dimension — the ‘art’ of economics — which should be added to the
two standard ones (positive and normative economics”).
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
99 É, por isso, aliás, que faz sentido pensar na análise jurídica como tendo — para além
da discussão exclusivamente descritiva ou prescritiva — também uma dimensão
avaliativa. Sobre o tema, ver BLACKBURN, Pierre. Logique de l’argumentation. 2. ed.
Saint-Laurent: ERPI, 1994. p. 77-79.
100 Apud WEBER, Max. A ciência como vocação. In: WEBER, Max. Três tipos de poder e
outros escritos. Lisboa: Tribuna da História, 2005. p. 18. Disponível em:
[www.lusosofia.net].
101 KEYNES, Maria Lúcia L. M. Pádua. The scope and method of political economy, cit.,
p. 21.
104 WILLIAMSON, John. What Washington means by policy reform. In: WILLIAMSON,
John (Ed.). Latin American readjustment: how much has happened. Washington:
Institute for International Economics, 1989.
105 Tal expressão, que é de uso corrente, refere-se ao fato de a produção acadêmica
em economia ter, ao longo do século XX, emulado o método das ciências “duras” em um
maior grau do que qualquer outra ciência social.
106 Piada: a economia é uma ciência parecida com a cartomancia, apenas um pouco
menos precisa.
108 Cf. Ver HUME. Tratado da natureza humana, cit. Ver também SEARLE, John R. How
to derive “ought” from “is”. The Philosophical Review, v. 73, n. 1, p. 43-58, 1964.
109 Para um exame desta trajetória, ver SALAMA, Bruno Meyerhof. A história do declínio
e queda do eficientismo na obra de Richard Posner. In: LIMA. Maria Lúcia L. M. Pádua
(Coord.). Trinta anos de Brasil, cit.
110 POSNER, Richard. A economia da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
111 POSNER, Richard. Problemas de filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
117 SABINO, Fernando. O encontro marcado. De uma carta de Hélio Pellegrino. 30 mar.
2006. Disponível em:
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Direito e consequência no Brasil: em busca de um
discurso sobre o método
[www.judias.multiply.com/recipes/item/187?&show_interstitial=1&u=%2Frecipes%2Fitem].
Acesso em: 31.07.2012.
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