Comunicado Tecnico 195
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Comunicado Tecnico 195
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Engenheiro-agrônomo, Dr., Pesquisador, Empresa Uva e Vinho, Caixa Postal 130, CEP 95701-008, Bento Gonçalves,
RS. E-mail: [email protected].
Redução da adição ambiental de cobre utilizando outras formulações cúpricas em relação à calda bordalesa para o
2 controle do míldio tardio da videira
Dezembro/2014 Fevereiro/2015
35
40
35 30
30 25
Graus Celso
Graus Celso
25
20
20 TMin TMin
15 TMax
TMax
15
TMed
TMed
10
10
5 5
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dia Dia
Dezembro/2014 Fevereiro/2015
100,0 100,0
90,0 90,0
80,0 80,0
70,0 70,0
% ou mm
60,0 60,0
% ou mm
50,0 50,0
Precip. Precip.
40,0 40,0
URMed
URMed
30,0 30,0
20,0 20,0
10,0 10,0
0,0 0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dia Dia
Fig. 2. Temperatura máxima, temperatura mínima e temperatura Fig. 4. Temperatura máxima, temperatura mínima e
média (a); umidade relativa e precipitação (b) no mês de Dezembro temperatura média (a); umidade relativa e precipitação (b) no
de 2014. Seta azul = avaliação e Seta verde = pulverização. mês de fevereiro de 2015. Seta azul = avaliação e seta verde
Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS. = pulverização e seta vermelha = colheita. Embrapa Uva e
Vinho, Bento Gonçalves, RS.
Janeiro/2015
35
30 Resultados e Discussão
25
20
70,0
não houve diferença no controle proporcionado por
60,0 eles (Figura 5 e 6). Enquanto as plantas testemunhas
% ou mm
50,0
Precip. apresentaram incidência de 92,5% e severidade
40,0
30,0
URMed
média do míldio de 9,2%, nas plantas tratadas com
20,0 a calda Bordalesa e com o CopperCrop® observou-
10,0
se 50% e 57% de incidência e severidade média de
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1,53% e 1,89%, respectivamente.
Dia
B A
100 A 100
90 90
80 80
B
70 B 70
B
Incidência (%)
B
Incidência (%)
60 B IncM1
60 B B
IncM1 50 IncM2
50 A
IncM2 40
40 A IncM3
A 30 A A
30 A A A IncM3 IncM4
A 20 A A
IncM4
20 A A A A A
A A A 10 A A A
10 A A A A A 0
0 Testemunha Calda Bordalesa Hidróxido de cobre Oxicloreto de cobre
Testemunha Calda Bordalesa CopperCrop® SoilSet® CooperCrop® + tratamento
SoilSet®
Tratamento
Fig. 7. Incidência média do míldio tardio da videira, na cv.
Fig. 5. Incidência média do míldio tardio da videira, na cv.
Cabernet Sauvignon em relação aos tratamentos aplicados.
Cabernet Sauvignon em relação aos tratamentos aplicados.
Tratamentos com mesmas letras e na mesma época de avaliação,
Tratamentos com mesmas letras e na mesma época de avaliação,
não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%.
não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%.
Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS.
Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS.
A
10 A
10
9
9
8
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7
7
Severidade (%)
Severidade (%)
6 6 SevM1
SevM1
5 5
SevM2 SevM2
4 4
B B SevM3 SevM3
3 B 3
B B
A B A SevM4 A B A
SevM4
2 2
A A A A A A A
1 A A A A A A A AA 1 A A A A A A A
0 0
Testemunha Calda Bordalesa CopperCrop® SoilSet® CooperCrop® + Testemunha Calda Bordalesa Hidróxido de cobre Oxicloreto de cobre
SoilSet® Tratamento
Tratamento
Fig. 6. Severidade média do míldio da videira, na cv. Cabernet Fig. 8. Severidade média do míldio da videira, na cv. Cabernet
Sauvignon em relação aos tratamentos aplicados. Tratamentos Sauvignon em relação aos tratamentos aplicados. Tratamentos
com mesmas letras e na mesma época de avaliação, não com mesmas letras e na mesma época de avaliação, não diferem
diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%. Embrapa significativamente pelo teste de Tukey a 5%. Embrapa Uva e
Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS. Vinho, Bento Gonçalves, RS.
no tratamento com calda Bordalesa (0,022), as cultivares viníferas eram consideradas mais
seguindo pelos demais tratamentos (Tabela 1). O resistentes ao cobre do que as americanas.
tratamento com CopperCrop® e o oxicloreto de cobre
apresentaram menores taxas aparentes de doença, Os fungicidas cúpricos apresentam múltiplos
embora a AACPD tenha sido diferentes. sítios de ação, assim há menor risco de patógenos
desenvolverem resistência a esses produtos. Os
íons de cobre (Cu+2) atuam nas células dos fungos
bloqueando enzimas envolvidas no processo de
Tabela 1. Área abaixo da curva de progresso da doença
respiração, inibem a síntese de proteínas, reduzem
(AACPD) e taxa aparente da doença (r), na cv. Cabernet
a atividade da membrana celular e de organelas e
Sauvignon em relação aos tratamentos efetuados para o
afetam as trocas de elementos. Óxidos cuproso e
controle do míldio tardio.
oxicloretos são compostos altamente insolúveis que
atuam na parede celular e membranas de fungos e
Tratamento AACPD r
bactérias sem penetrar profundamente no interior da
Testemunha 153,28 0,080 célula. No processo, o patógeno libera metabólitos
secundários que reagem com os compostos de cobre
Calda Bordalesa 46,01 0,022
resultando no envenenamento e morte das células.
CopperCrop® 49,02 0,035
SoilSet® 70,84 0,036 A eficiência biológica atual das formulações
CopperCrop® + SoilSet® 59,21 0,040 convencionais de cobre (sulfato de cobre, hidróxido
de cobre e oxicloreto de cobre) é de menos que
Hidróxido de cobre 50,83 0,038
5% e o restante é espalhado pelo ambiente. O
Oxicloreto de cobre 60,19 0,035
desenvolvimento de novas formulações apresentando
quantidades de 2 a 8% de cobre complexado com
aminoácidos, peptídeos, ácidos graxos, pectinas,
açúcares e outros compostos orgânicos são novas
A safra 2014/2015 foi caracterizada por um volume estratégias para aumentar a eficiência biológica, sem
maior de precipitações ao longo de todo o ciclo reduzir sua eficácia e minimizando a contaminação
vegetativo e reprodutivo da videira, ao contrário ambiental (KOVACIC et al., 2013). Dentro dessa
dos anos anteriores que foram anos de La Niña, ou linha de produtos estão o CopperCrop® e SoilSet®
seja, mais seco na região sul do Brasil. A incidência que apresentaram controle do míldio similar ao
e a severidade do míldio foram mais elevadas obtido com a calda Bordalesa.
principalmente nas brotações novas nas pontas
dos ramos. Mesmo com este volume maior de Na viticultura convencional são utilizadas em média
precipitação e pressão da doença, foi observado que três aplicações com a calda Bordalesa por safra, a
os diversos produtos testados mostraram-se eficazes partir do estádio de grão ervilha. Muitos vinhedos da
para substituir a calda Bordalesa nas aplicações nos Serra Gaúcha possuem uma concentração elevada
vinhedos. de cobre no solo, resultante de décadas de utilização
da calda Bordalesa, ocasionando efeitos negativos
Em décadas passadas, a utilização da calda sobre o desenvolvimento das plantas, entre os quais
Bordalesa foi mais intensa para o controle do míldio a inibição do desenvolvimento de radicelas nas
da videira. Inglez de Souza (1996) recomendava raízes. A contaminação do ambiente é outro ponto
para as cultivares americanas oito aplicações ao a ser considerado, pensando na sustentabilidade
longo do ciclo e para as cultivares viníferas o do sistema de produção em longo prazo. Na
dobro ou o triplo. Não havia a preocupação com o União Européia, a partir da Regulamentação EC Nº
efeito cumulativo do cobre nos solos dos vinhedos. 473/2002, a quantidade máxima de cobre metálico,
Naquela época, preocupações com a toxicidade à que o produtor pode aplicar a cada safra, é de 6 kg/
videira se restringiam à ação depressiva sobre o ha, sendo que na Alemanha algumas associações
vigor das plantas, ou seja, choque de crescimento e de produtores limitaram em 3,0 kg/ha. A busca por
as queimaduras nas folhas e frutos verdes, variando alternativas à calda Bordalesa com mesma eficácia
a sensibilidade de um cultivar para outro. Contudo, no controle do míldio é uma demanda por parte
Redução da adição ambiental de cobre utilizando outras formulações cúpricas em relação à calda bordalesa para o
8 controle do míldio tardio da videira
dos produtores e da assistência técnica. Outras com a calda Bordalesa (produto padrão). Por outro
formulações à base de cobre (hidróxido de cobre lado, os produtos CopperCrop® e SoilSet®, além de
e oxicloreto de cobre) presentes no comércio têm apresentarem resultado no controle do míldio da
se mostrado alternativas interessantes, com bom videira similar ao encontrado com a calda Bordalesa,
controle do míldio da videira quando aplicadas adicionaram ao ambiente apenas 5,3%, 1,94%,
semanalmente, porém a redução do cobre aplicado respectivamente, de cobre metálico, da quantidade
não foi expressiva, ou seja, contribuindo com 50,4% aplicada pelo produto padrão, constituindo-se
e 84%, respectivamente, da quantidade aplicada excelentes alternativas a este último (Tabela 2).
Tabela 1. Produtos, formulações à base de cobre, quantidades de cobre metálico, dosagens recomendadas, quantidade
aplicada e relação da quantidade aplicada do produto em relação à calda Bordalesa (CB).
Kocide® WDG Hidróxido de cobre 538 350 1,8 630 5,04 50,4
Recop® Oxicloreto de cobre 588 350 2,5 875 7,00 70,0
CopperCrop® Cobre bioativo 134 134 0,5 67 0,53 5,30
SoilSet® Cobre bioativo 24,6 24,6 1,0 24,6 0,196 1,96
Já em relação ao ponto de vista econômico, o pelo cálcio, o que não é observado quando se utiliza
tratamento com o produto Copper Crop® apresentou outras formulações de fungicidas cúpricos. Contudo
o menor custo, ou seja, R$ 50,00/ha comparado aos em anos com chuvas com frequência menos intensa,
demais tratamentos. Contudo, quando se comparou é possível estender o período de proteção dos
o custo na safra 2014/2015, onde foram realizadas produtos alternativos à calda Bordalesa para 10 a
4 aplicações com calda Bordalesa (produto padrão) 12 dias, o que representaria redução no número de
e 8 aplicações com os demais produtos testados, aplicações e nos custos com a proteção contra o
observa-se que os produtos CopperCrop® e Recop® míldio da videira. Ressalta-se também que ao lado
apresentaram valores ligeiramente superiores ao dos custos da aplicação, o vinicultor deve levar em
produto padrão, enquanto que o custo do tratamento consideração o aspecto da menor contaminação
com hidróxido de cobre (Kocide® WDG) e SoilSet® ambiental com o cobre, pois o acúmulo desse
foi de 1,84x e 2,8x, respectivamente, superior elemento no solo acarretará danos a médio e longo
(Tabela 3), durante a safra. Na prática, a utilização prazo nos vinhedos novos e já é um problema nos
da calda Bordalesa permite um período de proteção vinhedos localizados em áreas onde a videira é
de 15 dias, devido à fixação do cobre nas folhas cultivada há décadas.
Tabela 3. Produtos, custo unitário, dose por hectare, custo por aplicação, custo na safra e relação do custo do produto
alternativo à calda Bordalesa (CB).
• Já o produto SoilSet® também não apresentou CAMBROLLÉ, J.; GARCÍA, J. L.; FIGUEROA, M. E.;
diferenças significativas no controle do míldio em CANTOS, M. Evaluating wild grapevine tolerance to
relação à calda Bordalesa, sendo uma alternativa copper toxicity. Chemosphere, v. 120, p. 171-178,
no controle desta doença em sistemas orgânicos, 2015.
tendo em vista que o mesmo apresenta registro
no IBD, além de contribuir muito pouco com a FRY, W. E. Principles of plant disease management.
adição de cobre metálico no ambiente; Orlando: Academic Press, 1982. 378p.
• Dos produtos testados o CopperCrop® GALET, P. Les maladies et les parasites de la vigne.
apresentou o melhor custo benefício em relação Montpellier: Paysan du Midi, 1982. v. 2.
aos demais produtos comparado à calda
Bordalesa; KABATA-PENDIAS, A. Trace elements in soil and
plants. 4. ed. Boca Raton: CRC Press, 2011. 505 p.
• As formulações de hidróxido de cobre e
oxicloreto de cobre também são alternativas à KOVACIC, G. R.; LESNIK, M.; VRSIC, S. An
calda Bordalesa. overview of the copper situation and usage in
viticulture. Bulgarin Journal of Agricultural Science,
v. 19, n. 1, p. 50-59, 2013.
Agradecimentos
LEQUEUX, H.; HERMANS, C.; LUTTS, S.;
O autor agradece à Vinícola Miolo e ao agrônomo VERBRUGGEN, N. Response to copper excess
Ciro Pavan por ceder o vinhedo para os testes com in Arabidopsis thaliana: impact on the root
os produtos; system architecture, hormone distribution, lignin
accumulation and mineral profile. Plant Physiology
À empresa, Alltech pela cedência dos produtos and Biochemistry, v. 48, n. 8, p. 673-682, 2010.
utilizados;
MICHAUD, A. M.; CHAPPELLAZ, C.; HINSINGER, P.
Ao apoio do técnico Léo Carollo e dos assistentes da Copper phytotoxicity affects root elongation and iron
Embrapa Uva e Vinho, João Sartori e Valdair Debiasi nutrition in durum wheat (Triticum turgidum durum
durante a execução dos ensaios. L.). Plant and Soil, v. 310, n. 1, p. 151-165, 2008.
SAEG. Sistema para Análises Estatísticas. Versão SOUSA, J. S. I. de. Uvas para o Brasil. 2. ed.
9.0. Viçosa: Fundação Arthur Bernardes - UFV, Piracicaba: FEALQ. 1996. 791 p.
2006.
TESSMANN, D. J.; VIDA, J. B.; GENTA, W.;
SÔNEGO, O. R.; GARRIDO, L. da R.; GRIGOLETTI KISHINO, A. Y. Doenças e seu manejo. In.: KISHINO,
JÚNIOR, A. Doenças fúngicas. In.: FAJARDO, T. V. A. Y.; CARVALHO, S. L. C. de; ROBERTO, S. R.
M. (Ed.). Uva para processamento: fitossanidade. (Eds.). Viticultura tropical: o sistema de produção do
Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. Paraná. Londrina: IAPAR, 2007. p. 255-304.
131 p.
TOSELLI, M.; BALDI, E.; MARCOLINI, G.;
SÔNEGO, O. R.; GARRIDO, L. da R.; GRIGOLETTI MALAGUTI, D.; QUARTIERI, M.; SORRENTI, G.;
JÚNIOR, A. Principais doenças fúngicas da videira MARANGONI, B. Response of potted grapevines
no sul do Brasil. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e to increasing soil copper concentration. Australian
Vinho, 2005. 32 p. (Embrapa Uva e Vinho. Circular Journal of Grape and Wine Research, v. 15, n. 1, p.
Técnica, 56.) 85-92, 2009.
CGPE 13513