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Técnico em Pesca e Aquicultura

Mauricio Camargo Zorro

Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais

PARÁ
Revisão

Ecologia de Peixes e
VERSÃO DO PROFESSOR

Ambientes Tropicais
Mauricio Camargo Zorro

PARÁ

BELÉM
2013
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância

© Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA. Este Caderno foi elaborado em parceria
entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA e a Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN) para o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e -Tec Brasil.

Equipe de Elaboração Equipe de Produção Gestão de Produção de Materiais


Instituto Federal de Educação, Secretaria de Educação a Distância / UFRN Carolina Aires Mayer
Ciência e Tecnologia do Pará / IFPA Rosilene Alves de Paiva
Reitora
Reitor Profa. Ângela Maria Paiva Cruz Equipe de Design Instrucional
Prof. Edson Ary de Oliveira Fontes Cristinara Ferreira dos Santos
Vice-Reitora Juliane Patricie da Silva Santana Cavalcante
Vice-Reitor Profa. Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Rhena Raize Peixoto de Lima
Prof. João Antônio Pinto Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Secretária de Educação a DistâncIa Verônica Pinheiro da Silva
Diretor Profa. Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Prof. Darlindo Maria Pereira Veloso Filho Equipe de Design Gráfico
Secretária Adjunta de Educação a DistâncIa José Antonio Bezerra Junior (Diagramador)
Coordenador Institucional Profa. Ione Rodrigues Diniz Morais Alessandro de Oliveira Paula (Ilustrador)

VERSÃO DO PROFESSOR
Profa. Érick de Oliveira Fontes
Coordenador de Produção Revisão Tipográfica
Coordenadores dos Cursos de Materiais Didáticos Leticia Torres
Prof. Marlon Carlos França Prof. Marcos Aurélio Felipe
(Curso Técnico em Pesca) Projeto Gráfico
Coordenação Design Instrucional
e-Tec/MEC
Maria da Penha Casado Alves
Maurício Camargo Zorro
(Curso Técnico em Aquicultura) Coordenação de Design Gráfico
Ivana Lima
Professor-Autor
Maurício Camargo Zorro

Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central - IFPA

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Apresentação e-Tec Brasil

Prezado estudante,

Bem-vindo a Rede e-Tec Brasil!


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Você faz parte de uma rede nacional de ensino, que por sua vez constitui uma das
ações do Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. O
Pronatec, instituído pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo principal expandir, in-
teriorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT)
para a população brasileira propiciando caminho de acesso mais rápido ao emprego.

É neste âmbito que as ações da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre a Secre-
taria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) e as instâncias promotoras de
ensino técnico como os Institutos Federais, as Secretarias de Educação dos Estados, as
Universidades, as Escolas e Colégios Tecnológicos e o Sistema S.

A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade


regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à edu-
cação de qualidade, e promover o fortalecimento da formação de jovens moradores
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de regiões distantes, geografica ou economicamente, dos grandes centros.

A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos técnicos a todas as regiões do país, incenti-
vando os estudantes a concluir o ensino médio e realizar uma formação e atualização
contínuas. Os cursos são ofertados pelas instituições de educação profissional e o
atendimento ao estudante é realizado tanto nas sedes das instituições quanto em suas
unidades remotas, os polos.

Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educação profissional qualificada –


integradora do ensino médio e educação técnica, - que é capaz de promover o cidadão
com capacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes
dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética.

Nós acreditamos em você!

Desejamos sucesso na sua formação profissional!

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Nosso contato: [email protected]

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Indicação de ícones

Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de


linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.


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Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto


ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema
estudado.

Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão


utilizada no texto.

Mídias integradas: remete o tema para outras fontes: livros,


filmes, músicas, sites, programas de TV.

Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes


níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e
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conferir o seu domínio do tema estudado.

e-Tec Brasil
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Sumário

Palavra do professor-autor 11

Apresentação da disciplina 13

Projeto instrucional 15
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Aula 1 – Teoria do conhecimento 17


1.1 O conhecimento ecológico tradicional e o
conhecimento científico 17
1.3 Precisamos do conhecimento ecológico tradicional? 19

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 23


2.1 A gênese do ambiente 23
2.2 O que se define como meio ambiente? 24
2.3 Adaptação e ambiente 24
2.4 O ambiente físico 25
2.5 A temperatura do meio ambiente 26
2.6 Ambientes temperados versus tropicais 29
2.7 Os efeitos dos fatores ambientais nos peixes
VERSÃO DO PROFESSOR

na variação latitudinal 32

Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas 35


3.1 Ecologia — o mundo das coisas vivas 35
3.2 A biosfera 36
3.3 O Ecossistema 37
3.4 Sucessão ecológica 39

Aula 4 – Níveis de organização em ecologia e diversidade 43


4.1 Níveis de organização em ecologia 43
4.2 Condições 45
4.3 O nicho ecológico 45
4.4 A biodiversidade 46
4.5 O habitat 47

e-Tec Brasil
Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 49
5.1 A dinâmica hidrológica 49
5.2 Divisão dos ambientes aquáticos continentais 50

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 59


6.1 Os ecossistemas costeiros 59
6.2 Tipos de ambientes costeiros 60
6.3 Ecossistemas costeiros no Brasil 61
6.3.2 Praias arenosas 65
6.3.5 Os estuários 71

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 75


7.1 Origem e natureza dos oceanos 75
7.2 O gradiente lumínico e da temperatura 78
7.3 Classificação dos oceanos de acordo com a profundidade 80
7.4 A ressurgência e as correntes oceânicas 80
7.5 A vida no oceano 82

VERSÃO DO PROFESSOR
Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 85
8.1 Autoecologia 85
8.2 O fator limitante 86
8.3 Classificação dos fatores ecológicos 88
8.4 Os fatores climáticos 90
8.5 Fatores climáticos na escala regional 91

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 95


9.1 Demoecologia 95
9.2 Objetivos da ecologia pesqueira 97
9.3 Distribuição e abundância 98
9.4 Grupos de idade 109
9.5 Os recursos pesqueiros tropicais
9.6 Estratégias de vida em ambientes tropicais
109
110
Revisão

e-Tec Brasil
Aula 10 – Ecologia de comunidades – Sinecologia 113
10.1 A abordagem sinecologica 113
10.2 O conceito de comunidade 113
10.3 Estrutura e função da comunidade 115
10.4 Tipos de interação entre as espécies 117

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 121


11.1 A ecologia de ecossistemas 121
11.2 Abordagem ecossistêmica 122
Revisão

11.3 Estrutura dos ecossistemas 124


11.4 Os processos ecossistêmicos 124
11.5 Escala de tempo 126
11.6 Escala espacial 127
11.7 O estado de equilíbrio dos ecossistemas 127
11.8 Autorregulação dos ecossistemas 130

Referências 133

Currículo do Professor-autor 135


VERSÃO DO PROFESSOR

e-Tec Brasil
VERSÃO DO PROFESSOR
Revisão
Palavra do professor-autor

Caro aluno, seja bem-vindo ao estudo da ecologia de peixes e ambientes aquá-


ticos tropicais. Neste livro, veremos conceitos básicos relacionados aos níveis
de estudo da ecologia com exemplos práticos relacionados às áreas da pesca
e da aquicultura. Os conceitos em ecologia são fundamentais para o manejo
Revisão

dos recursos pesqueiros. Assim, definir o que é um manancial, sua dinâmica


populacional e estudos de sua abundância e suas interações com outros grupos
de organismos fazem parte da ecologia que trataremos nesta disciplina.

O estudar e dominar esses conceitos faz parte do conhecimento indispensável


para um técnico na área de pesca e de aquicultura. Isto porque os recursos
pesqueiros, diferente de pensarmos em componentes isolados, fazem parte do
meio e respondem aos diversos fatores ambientais. Dessa maneira, a exploração
dos mananciais interfere nos aspectos como a dinâmica de sua população, os
vertimentos de águas residuais e desmatamento interferem na qualidade da
água e, assim, na escala desde os organismos até as comunidades que interagem
num determinado ambiente aquático. Espero que este material seja de grande
utilidade para sua formação profissional como técnico em pesca ou aquicultura.
VERSÃO DO PROFESSOR

11 e-Tec Brasil
VERSÃO DO PROFESSOR
Revisão
Apresentação da disciplina

A disciplina Ecologia de Peixes e Ambientes Aquáticos Tropicais possui a carga


horária de 60h/aula. Tem por objetivo apresentar os conceitos básicos de eco-
logia em ambientes aquáticos e dos peixes de países tropicais, como o Brasil,
e sua aplicação nas áreas da pesca e da aquicultura. Por sua vez, apresenta
Revisão

exemplos práticos relacionados com esta área de estudo.

Na Aula 1, você estudará a definição de alguns conceitos fundamentais da


ecologia aplicada aos ambientes aquáticos tropicais. Também estudará as
formas de conhecimento do mundo real natural, e como estas podem ser
complementares quando se aplicam com fins de conservação dos recursos
explorados.

Na Aula 2, você entenderá o que é meio ambiente. Também irá diferenciar


os componentes biótico e abiótico. Posteriormente, compreenderá como
funcionam os ambientes tropicais e temperados. Também serão estudados os
efeitos ambientais ocasionados por eventos naturais e mudanças antrópicas.

Na Aula 3, você estudará os conceitos relacionados à ciência da ecologia e do


VERSÃO DO PROFESSOR

ecossistema, do bioma, e reconhecerá o grau de conscientização da humani-


dade em relação aos efeitos do desenvolvimento humano não planejado nas
mudanças climáticas globais.

Na Aula 4, você estudará os diferentes níveis de abordagem da ecologia, desde


organismo, a população, a assembleia e a comunidade até os ecossistemas.
Também serão apresentados os conceitos de biodiversidade e habitat.

Na Aula 5, você verá a caracterização dos ambientes aquáticos continentais de


acordo com sua velocidade de correnteza e sua temperatura ambiental. Por
sua vez, serão apresentados alguns exemplos das características dos ambientes
aquáticos continentais.

Na Aula 6, você diferenciará os principais ecossistemas costeiros que ocorrem


no Brasil, assim como identificará as principais características físicas, e a im-
portância ecológica e econômica desses ecossistemas.

13 e-Tec Brasil
Na Aula 7, você irá identificar a origem dos oceanos e suas principais carac-
terísticas bióticas e abióticas. Também estudará as divisões dos oceanos em
função da topografia do fundo, da profundidade e da incidência da radiação
solar. Também conhecerá o fenômeno da ressurgência e as possíveis causas
de sua formação.

Na Aula 8, você irá compreender a escala de estudo dos organismos e sua


resposta ao meio (autoecologia). Também estudará conceitos, tais como fator
ecológico e fator limitante. Diferenciaremos os tipos de classificação dos fatores
ecológicos e conceituaremos a competição intra e interespecífica.

Na Aula 9, você conhecerá os conceitos de população natural e de estoque


pesqueiro. Também diferenciará os tipos de distribuição espacial e os métodos
de avaliar a densidade populacional. Estudará o efeito de alguns parâmetros
populacionais nas populações de peixes tropicais e de áreas temperadas.

Na Aula 10, você irá estudar o conceito de comunidade e outros termos em

VERSÃO DO PROFESSOR
ecologia. Será diferenciado o que se entende por estrutura e função na co-
munidade. Também distinguiremos os tipos de interações bióticas entre as
espécies.

Na Aula 11, você conhecerá os conceitos de estrutura e funcionamento dos


ecossistemas. Também serão definidas as variáveis controle ou de estado e
o seu papel no funcionamento do ecossistema. Estudará o efeito da escala
espacial e temporal no estudo dos ecossistemas. Também será discutido o
estado atual de conservação dos ecossistemas em resposta aos processos de
uso dos recursos.

Revisão

e-Tec Brasil 14
Projeto instrucional

Disciplina: Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais (carga horária total: 60h)

Ementa: O conhecimento científico versus etnoconhecimento; conceitos bási-


cos em ecologia aquática; autoecologia, demoeologia (estimativas de abundân-
Revisão

cia absoluta e relativa em ambientes aquáticos), sinecologia (interações entre


os organismos e o meio); ecologia energética. Características dos ambientes
tropicais e adaptações dos organismos a estes.

CARGA
AULA OBJETIVOS E APRENDIZAGEM MATERIAIS HORÁRIA
(HORAS)

Definir alguns conceitos fundamentais da ecologia aplicada aos


Serão utilizados materiais, como
ambientes aquáticos tropicais.
quadro branco, pincel, retroprojetor,
1. Teoria do conhecimento Distinguir as formas de conhecimento do mundo real natural e como 5
computador e uma sala de
elas podem ser complementares quando se aplicam para fins de
equipamentos audiovisuais.
conservação.

Definir meio ambiente e os seus componentes. Serão utilizados materiais, como


2. O conceito de meio Identificar a diferença dos ambientes tropicais e temperados. quadro branco, pincel, retroprojetor,
5
ambiente Estudar as mudanças ambientais graduais naturais e humanas computador e uma sala de
e o seu efeito nas extinções da fauna e da flora. equipamentos audiovisuais.
VERSÃO DO PROFESSOR

Definir os conceitos relacionados à ciência da ecologia e do


ecossistema. Serão utilizados materiais, como
3. Conceito de ecologia e Definir o bioma, ecossistema e ecologia. quadro branco, pincel, retroprojetor,
6
ecossistemas Reconhecer o grau de conscientização da humanidade em relação computador e uma sala de
aos efeitos do desenvolvimento humano não planejado nas equipamentos audiovisuais.
mudanças climáticas globais.

Definir os diferentes níveis de abordagem da ecologia desde Serão utilizados materiais, como
4. Níveis de organização
o organismo, população, assembleia e comunidade até os quadro branco, pincel, retroprojetor,
em ecologia e 6
ecossistemas. computador e uma sala de
diversidade
Definir os termos biodiversidade e habitat. equipamentos audiovisuais.

Caracterizar os ambientes aquáticos continentais de acordo com sua Serão utilizados materiais, como
5.Os ambientes aquáticos velocidade de correnteza e sua temperatura ambiental. quadro branco, pincel, retroprojetor,
5
continentais Apresentar, através de exemplos, algumas características dos ambientes computador e uma sala de
aquáticos continentais. equipamentos audiovisuais.

Serão utilizados materiais, como


Diferenciar os principais ecossistemas costeiros que ocorrem no Brasil.
6.Os ecossistemas quadro branco, pincel, retroprojetor,
Identificar as principais características físicas, como também a importância 5
costeiros computador e uma sala de
ecológica e econômica desses ecossistemas.
equipamentos audiovisuais.

15 e-Tec Brasil
Identificar a origem dos oceanos e suas principais características bióticas
e abióticas. Serão utilizados materiais, como
Listar as divisões dos oceanos em função da topografia do fundo, da quadro branco, pincel, retroprojetor,
7.Ecossistemas oceânicos 5
profundidade e da incidência da radiação solar. computador e uma sala de
Descrever o fenômeno da ressurgência e as possíveis causas de sua equipamentos audiovisuais.
formação.

Compreender a escala de estudo dos organismos e sua resposta ao meio


(autoecologia). Serão utilizados materiais, como
8. Autoecologia – a
quadro branco, pincel, retroprojetor,
ecologia dos Definir os conceitos tais como fator ecológico e fator limitante. 6
computador e uma sala de
organismos Diferenciar os tipos de classificação dos fatores ecológicos.
equipamentos audiovisuais.
Conceituar competição intra e interespecífica.

Compreender a abordagem da ecologia de populações.


Serão utilizados materiais, como
9. A ecologia das Definir os conceitos tais população e estoque pesqueiro
quadro branco, pincel, retroprojetor,
populações – Diferenciar os métodos de estimar a densidade da população ou estoque 7
computador e uma sala de
demoecologia.
Diferenciar o efeito de alguns parâmetros populacionais nas populações equipamentos audiovisuais.
de peixes tropicais e de áreas temperadas.

Conceituar comunidade e outros termos em ecologia. Serão utilizados materiais, como


10. Ecologia de
quadro branco, pincel, retroprojetor,
comunidades – Diferenciar o que é estrutura e função na comunidade. 5
computador e uma sala de
Sinecologia Distinguir os tipos de interações bióticas entre as espécies.

VERSÃO DO PROFESSOR
equipamentos audiovisuais.

Conceituar estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.


Definir as variáveis controle ou de estado e o seu papel no funcionamento
Serão utilizados materiais, como
do ecossistema.
11.Ecologia de quadro branco, pincel, retroprojetor,
Conceituar o efeito da escala espacial e temporal no estudo dos 5
ecossistemas computador e uma sala de
ecossistemas.
equipamentos audiovisuais.
Discutir o estado atual de conservação dos ecossistemas em resposta aos
processos de uso dos recursos.

Revisão

e-Tec Brasil 16
Aula 1 – Teoria do conhecimento

Objetivos
Revisão

Definir alguns conceitos fundamentais da ecologia aplicada aos am-


bientes aquáticos tropicais.

Distinguir as formas de conhecimento do mundo real natural e


como elas podem ser complementares quando se aplicam para
fins de conservação.

1.1 O conhecimento ecológico tradicional


e o conhecimento científico
O conhecimento dos pescadores tradicionais ou dos indígenas de uma região
sobre o ambiente natural é fruto da observação e de adaptações culturais
dessas populações no tempo. A esse acúmulo de conhecimentos, em alguns
casos milenares, que tem sido passado nas muitas gerações humanas e ligado
VERSÃO DO PROFESSOR

a determinadas paisagens particulares é o que conhecemos como conheci-


mento ecológico tradicional ou etnoconhecimento.

Ecologia Humana
A integração das diferentes ciências que tratam das relações homem-ambiente Ciência que integra as Ciências
Biológicas e Humanas e
tenta ser feita através da ecologia humana e da etnoecologia. Assim, essas analisa o uso dos recursos pelas
duas disciplinas contribuem para o estudo das relações homem-natureza e cons- populações humanas para com-
preender essa interação com o
tituem ferramentas úteis para analisar problemas relacionados com o manejo, ambiente. Estuda também os
conservação e direito da propriedade intelectual. Uma parte do conhecimento processos adaptativos dessas
populações para se manter e
ecológico se relaciona com a classificação dos organismos de seu entorno. reproduzir em seu entorno.

Etnoecologia
1.1.1 O método científico Estudo dos conhecimentos,
estratégias, atitudes e
O enfoque científico consiste numa outra forma de obter o conhecimento ferramentas que permitem
através de procedimentos ordenados e disciplinados utilizados para adquirir às diferentes culturas
produzir e reproduzir as
informação confiável e útil. condições materiais de sua
existência social através de
um manejo adequado dos
Dessa forma, quando aplicamos o método científico, iniciamos com um proces- recursos naturais. Seu objetivo
principal é a integração entre
so de identificação e definição de um problema e se apresentam predições em o conhecimento ecológico
relação aos resultados esperados. Posteriormente se reúnem informações para tradicional e o conhecimento

Aula 1 – Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais 17 e-Tec Brasil


solucionar o problema, segundo métodos definidos previamente. Os dados são
submetidos à análise e por último são obtidas as conclusões.

De forma geral, o método científico consiste numa forma sistemática de adqui-


rir o conhecimento. Assim, a função básica do método é esclarecer as causas
ou os fenômenos naturais que ocasionaram algum tipo de evento natural.
Por exemplo, desejamos saber se a pescadinha gó (Macrodon ancylodon) do
litoral norte do Brasil se reproduz uma ou duas vezes no ano. Para responder
a pergunta, temos que pensar como agir. Assim, as etapas seriam:

1. Planejar a coleta de indivíduos com base no conhecimento, por exemplo,


sobre onde se encontram os exemplares adultos no litoral.

2. Realizar coletas de exemplares no campo ao longo do ano.

3. Analisar os indivíduos em relação ao seu aparelho reprodutivo.

4. Analisar os dados obtidos em laboratório ao longo dos meses.

VERSÃO DO PROFESSOR
5. Concluir, com base nos resultados obtidos, se há um ou mais de um pe-
ríodo de reprodução.

1.2 Por que uma classificação dos


organismos?
A classificação nos permite nomear e destacar aquelas espécies animais e vegetais
que têm usos práticos. Um detalhamento do conhecimento dos pescadores de
uma região em relação aos peixes mais capturados e usualmente comercializados
nas comunidades locais facilita a compreensão humana (Figura 1.1).

Revisão

Figura 1.1: Imagem de classificação de peixes pelos pescadores tradicionais


Fonte: Gerardo Mendes dos Santos et al.

e-Tec Brasil 18 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


No caso dos peixes, a classificação etnoictiológica (que faz referência ao co-
nhecimento ecológico tradicional dos peixes de uma região) consiste num
conjunto de conhecimentos empíricos de fatos sobre a biologia, ecologia e o
comportamento dos diversos grupos de peixes.

Na sua opinião, qual o sentido de classificar as plantas e os animais? Caso


sinta necessidade, faça uma pesquisa na internet ou na biblioteca de seu polo.
Revisão

Indique o que mudou em relação à percepção dos cientistas sobre o conheci-


mento tradicional.

Pesquise na internet e indique dois exemplos de contribuições do conhecimen-


to ecológico tradicional na conservação de recursos naturais.

De que maneira podemos inserir o conhecimento tradicional num processo


de pesquisa científica?

1.3 Precisamos do conhecimento ecológico


tradicional?
Muito pouco tempo foi necessário para que alguns cientistas e planejadores
reconhecessem que os estudos de etnoconhecimento são um caminho para
VERSÃO DO PROFESSOR

a solução de problemas, tais como o planejamento ambiental, sobretudo em


áreas frágeis, como as florestas tropicais.

No caso da Amazônia, até pouco tempo atrás reconhecemos a importante


contribuição do conhecimento tradicional para os estudos ecológicos e am-
bientais. Dessa forma, a valorização do conhecimento ecológico tradicional das
populações locais é de fundamental contribuição para o manejo e conservação
das paisagens naturais.

Uma tendência recente da ecologia consiste na reintegração das análises da


adaptação cultural aos estudos científicos da ecologia evolutiva, na qual são con-
sideradas as adaptações humanas comportamentais e biológicas ao ambiente.
Etnobiologia
Assim, os estudiosos da ecologia humana argumentam que a etnobiologia in- Busca entender como o mundo
é percebido, conhecido e clas-
crementa o nível de conhecimento a respeito da ecologia e das inter-relações entre sificado por diversas culturas
humanas. A etnobiologia
os organismos. Dessa forma, através desta disciplina podemos encontrar novas tem como objetivo analisar a
espécies, conhecer aspetos do comportamento dos peixes, bem como contribuir classificação das comunidades
humanas sobre a natureza, em
através do conhecimento popular para a conservação da biodiversidade. particular sobre os organismos.

Aula 1 – Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais 19 e-Tec Brasil


<http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/853.pdf>

O texto contido nesse endereço virtual mostra a aplicação do conhecimento


ecológico tradicional para conhecer a ecologia de ecossistemas aquáticos.

<http://www.interciencia.org/v18_03/art01/index.html>

Esse artigo apresenta vários dos conceitos apresentados e explica aspec-


tos da ecologia humana.

Ecologia geral: corresponde ao estudo das inter-relações dos organismos


com o seu entorno.

Ecologia evolutiva, definida por Pianka (1983), tenta compreender como


evoluíram as espécies e como se deram as interações entre elas.

Observe a Figura 1.2 e veja como o conhecimento ecológico tradicional dos pei-
xes de uma região, aliado às contribuições do conhecimento científico, pode ser

VERSÃO DO PROFESSOR
aproveitado numa linha de conservação dos recursos e dos ambientes naturais.

Pescadores tradicionais

Etnoictiologia Manejo integrado Estratégias de múltiplo


Taxonomia popular ecossistémico uso do ambiente
aquático e da floresta
Conhecimento dos
recursos locais Técnicas tradicionais
de captura e coleta
Conhecimento dos ciclos Preservação da cultura e
hidrológicos e climáticos do etnoconhecimento
Uso de ictiofauna e de
naturais
espécies nativas

Uso potencial dos Conservação de ambientes


recursos naturais Seleção e manejo
de espécies nativas

Conservação de recursos
genéticos de peixes nativos
Revisão
Menores riscos Sustentabilidade Menor dependência Adaptabilidade às
para os pescadores de alimentação de insumos externos mudanças do
potencializada meio ambiente

Figura 1.2: Exemplo de complementaridade do conhecimento ecológico tradicional


com o conhecimento científico para fins de conservação
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 20 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Em suma, os pescadores profissionais artesanais são os detentores de um saber
tradicional que deve ser amplamente considerado nas decisões relacionadas
ao manejo da pesca. Muitos desses conhecimentos tradicionais são funda-
mentais para o cotidiano da pesca. Como exemplo, temos: a identificação dos
cardumes e suas migrações por observação das águas, o habitat, a hora ideal,
Habitat
época do ano, método e isca específicos para capturar cada uma das espécies; Habitat (do latim, ele habita)
sua capacidade para fabricar os instrumentos de pesca, tais como as canoas, – inclui o ambiente físico e os
fatores abióticos, tais como a
tarrafas e anzóis; utilizar várias plantas nativas para captura; o conhecimento temperatura, o pH, a salinidade
da água, entre outros, que
Revisão

das propriedades de muitas madeiras para a construção de embarcações; o condicionam um ecossistema


acurado senso de orientação em ambientes naturais. e por essa via determinam a
distribuição de uma determi-
nada espécie.
Esse conhecimento corresponde a uma forma de interpretar o mundo e pode
ser considerado com um patrimônio cultural que devemos valorizar e podemos
utilizar para orientar o manejo dos recursos naturais.

Com base nas leituras indicadas a seguir, elabore um resumo que destaque o
uso do conhecimento ecológico tradicional nas formas de interpretação dos
ambientes aquáticos e de seus recursos.

<http://www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=284>

Nesse site, você obterá mais informações sobre o conhecimento ecológico


VERSÃO DO PROFESSOR

tradicional e sua aplicação no manejo da pesca.

<http://www.ccuec.unicamp.br/revista/infotec/artigos/silveira.html>

A biodiversidade e a diversidade cultural são o tema do texto encontrado


nesse site.

Resumo
Nesta aula, diferenciamos as duas formas de conhecimento do mundo, o
conhecimento ecológico tradicional e o conhecimento científico. Apresenta-
mos a importância das comunidades humanas como determinantes da atual
diversidade nos ambientes naturais. Definimos a sociobiodiversidade como
resposta à interferência humana nas paisagens naturais. Destacamos também
a importância do conhecimento científico como instrumento para formular
perguntas e obter respostas numa forma sequencial e planejada. Finalmente,
valorizamos a importância da integração dessas duas abordagens no conhe-
cimento dos ambientes naturais como instrumento para conservar tanto a
diversidade biológica como cultural.

Aula 1 – Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais 21 e-Tec Brasil


Atividades de aprendizagem

1. Quais as diferenças entre conhecimento ecológico tradicional e conheci-


mento científico?

2. Indique dois exemplos de aplicação do conhecimento ecológico tradicio-


nal e do conhecimento científico na ecologia dos ambientes aquáticos de
sua região.

3. Na sua concepção, você acredita que o método científico é importante


para o conhecimento dos fenômenos naturais?

4. Você entende que as comunidades humanas as quais têm ocupado tra-


dicionalmente as florestas naturais tiveram grande influência na diversi-
dade biológica?

5. De que forma essa influência pode ser observada?

VERSÃO DO PROFESSOR
6. No contexto desta aula, o que compreendemos como diversidade cultural?

7. Por que atualmente está sendo valorizado o conhecimento ecológico


tradicional?

8. Quais as diferenças entre o conhecimento ecológico tradicional e o científico?

9. Qual a importância de cada tipo de conhecimento ecológico, seja ele


tradicional ou científico? Faça um quadro comparativo entre ambos.

10. Como o método científico pode ser usado para a resolução de


problemas ecológicos?

Revisão

e-Tec Brasil 22 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Aula 2 – O conceito de meio ambiente

Objetivos
Revisão

Definir meio ambiente e os seus componentes.

Identificar a diferença dos ambientes tropicais e temperados.

Estudar as mudanças ambientais graduais naturais e humanas e o


seu efeito nas extinções da fauna e da flora.

2.1 A gênese do ambiente


VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 2.1: Gaia, a mãe da terra na mitologia grega


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 23 e-Tec Brasil


De onde viemos e para onde vamos, no fascinante espetáculo evolutivo, do
qual nosso planeta vem participando nesses últimos cinco bilhões de anos?
Incontáveis formas de vida têm entrado na cena dramática da sobrevivência
e da adaptação. E nós, o que representamos nesse espetáculo monumental?
Entre outras coisas, contadores de uma história (MARTHO, 1991).

2.2 O que se define como meio ambiente?


O termo ambiente vem do verbo ambire, que significa tudo o que vai em
volta. Na ecologia, o ambiente corresponde ao conjunto de condições, leis,
influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que abriga e
regula a vida em todas as suas formas.

O ambiente corresponde a tudo o que afeta o metabolismo ou o com-


portamento de um ser vivo. Incluem-se dentro de outros fatores do
ambiente: a luz, o ar, a água, o solo e os outros seres vivos que coabitam
com um organismo.

VERSÃO DO PROFESSOR
Assim, o meio ambiente é espaço onde ocorrem as condições ideais para que
a vida se desenvolva. Esse espaço é representado por uma camada ao redor do
globo terrestre, que corresponde à biosfera, e que está composto pela água,
pelo ar, pelo solo, pelos animais e os pelos vegetais.

2.3 Adaptação e ambiente


O ambiente inclui tanto os fatores bióticos quanto os abióticos. Todas as influ-
ências que os seres vivos possam receber em um ecossistema, tais como o clima
de uma região, a salinidade da água, o tipo de solo, a disponibilidade de água
e outras características físicas e químicas, fazem parte dos fatores abióticos.
Já os fatores bióticos correspondem a aqueles ocasionados pela presença de
outros seres vivos que compartilham um mesmo ambiente.

As características ambientais que determinam a ocorrência dos organismos


variam de uma espécie para outra, e isso está associado às suas histórias evo-
Revisão
lutivas no tempo. De acordo com a escala de estudo, tanto o ambiente como
as espécies alteram um ao outro de forma recíproca.

Assim, os fatores abióticos e bióticos não existem de forma isolada, a vida


depende do mundo físico. Os seres vivos afetam o solo, a atmosfera e muitas

e-Tec Brasil 24 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


rochas sedimentares devem suas propriedades, em parte, às atividades das
plantas e animais.

Com base na lista a seguir, ligue o organismo aos fatores bióticos e abióticos
que o rodeiam. Indique cinco exemplos que se ajustem a sua localidade.

Organismo Fator biótico Fator abiótico


Revisão

Peixe baiacu Tubarão Águas doces amazônicas

Ouriço do mar Catitu Águas salgadas estuarinas

Rêmora Folhas e tubérculos Áreas de cerrado

Peixe boi Insetos polinizadores Águas marinhas

Açaí Conchas e moluscos Áreas inundáveis da Amazônia

Gato maracajá Recife de coral Ambientes de terra firme

Porco do mato Plantas flutuantes Ambientes de floresta natural


VERSÃO DO PROFESSOR

2.4 O ambiente físico


Os componentes do ambiente físico tais como a temperatura, radiação solar,
salinidade e nutrientes variam nos sistemas aquáticos. Se desprezarmos as
baixas quantidades de energia provenientes do calor interno do globo terrestre,
toda a energia recebida pela superfície da terra se origina do Sol.

A radiação do sol atravessa as camadas atmosféricas de forma desigual, mas a


quantidade de energia solar que em um minuto pode esquentar uma superfície
de um centímetro quadrado varia de 1,98 a 2,0 calorias. Nos trópicos, ao longo
do ano, a quantidade de energia é maior e mais constante (Figura 2.2).

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 25 e-Tec Brasil


Equador
300

200 45º N

Pólo Norte
100

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês

Figura 2.2: Variações anuais de energia que chegam à superfície terrestre em função
da latitude
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

2.5 A temperatura do meio ambiente

VERSÃO DO PROFESSOR
Fatores como a temperatura do ambiente e da água são determinados, em
primeiro lugar, pelo efeito da radiação solar e pelo movimento da Terra. Es-
ses movimentos determinam os ciclos sazonais e as correntes oceânicas que
redistribuem o calor na terra. Assim, a redistribuição do calor é fundamental
para que ocorram as diferentes zonas climáticas que conhecemos no globo
terrestre (Figura 2.3).

90º
80º
70º
60º
50º
40º
30º
20º
10º

10º
20º
30º
40º
50º
Revisão
60º
70º
80º
90º

Trópicos Subtrópicos Temperado Polar

Figura 2.3: Zonas climáticas no globo


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 26 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


O clima do globo tende a ser frio e seco na direção dos polos (nas maiores
latitudes) e quente e úmido na direção do equador, principalmente pelo efeito
do ângulo do Sol em relação à superfície da Terra. Assim, nas proximidades
do equador, a posição do globo na vertical em relação ao Sol, aquece mais
os oceanos e a atmosfera, que de forma gradativa vai diminuindo no sentido
dos polos (Figura 2.4).
Revisão

Ângulo de incidência Raios solares


VERSÃO DO PROFESSOR

Variação latitudinal

Figura 2.4: Efeito da incidência dos raios solares nos trópicos e nas áreas de maior
latitude
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Nas maiores latitudes, as médias mensais de temperatura variam cerca de


30oC, com extremos de mais de 50oC anualmente. Por exemplo, a 60o o mês
mais frio, em média, será de -12oC e o mês mais quente de 16oC, ou seja, se
terá uma diferença de 28oC. De forma diferente, nos trópicos, as temperaturas
médias dos meses mais quentes e mais frios são muito superiores e elas diferem
por somente 2oC ou 3oC (Figura 2.5).

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 27 e-Tec Brasil


Figura 2.5: Curvas de temperaturas anuais em graus farenheit (oF) e centígrados (oC)
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://hamaguchik.ism-online.org/2010/11/16/wonderful-world-

VERSÃO DO PROFESSOR
-weather/>. Acesso em: 03 abr. 2013.

Regiões em que se observa mais o vermelho intenso, trata-se de lugares onde


a variação diária de temperatura é superior à variação anual. Dessa forma, na
região que compreende o espaço entre os trópicos de câncer e de capricórnio
(intertropicais), a diferença entre a maior e menor temperatura diária é superior
à variação anual (média do mês mais quente em relação ao mês mais frio).
Já nas regiões extratropicais (de maior latitude a dos trópicos de câncer e
capricórnio), existe um regime térmico anual bem delineado: o mês de janeiro
é o mais frio e o de julho o mais quente no hemisfério norte, enquanto que
no hemisfério sul ocorre o efeito inverso.

Você já pensou quais os efeitos destas variações do ambiente físico para os


organismos dos trópicos e das áreas temperadas?

Pois bem, como já comentamos, a incidência diferencial dos raios solares na


Revisão
superfície do globo definem mudanças periódicas maiores ou menores de
temperaturas que determinam as zonas climáticas. Cada uma dessas zonas
climáticas abrigaram uma flora e fauna diferentes e com regimes de atividade
associados às variações diárias e sazonais da temperatura. Dessa forma, a
temperatura constitui o principal fator que controla a distribuição e a atividade
dos animais e plantas.

e-Tec Brasil 28 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Nas águas superficiais dos oceanos de baixa latitude (tropicais), a temperatura varia
entre 26°C e 30°C e diminui gradativamente no sentido dos polos (Figura 2.6).

Índico
25

Atlântico
20

Temperatura Média para os


Revisão

15
oceanos do mundo

10

Pacífico
5

-5
70º 40º 20º 0º 30º 70º
N S

Figura 2.6: Variação da temperatura média superficial da água nos oceanos com a
variação de latitude
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

As mudanças de temperatura da água alteram sua densidade, que por sua vez
VERSÃO DO PROFESSOR

influencia na flutuação e locomoção dos peixes.

A densidade da água que relaciona o peso com o volume de uma massa de


água varia com a latitude. Assim, nas águas superficiais, é baixa na linha do
equador e aumenta conforme a latitude.

2.6 Ambientes temperados versus tropicais


Os trópicos geralmente possuem a maior diversidade de seres vivos. Isso se
explica porque nas áreas tropicais ocorre um maior número de habitats favo-
ráveis para uma grande variedade de organismos. Por outro lado, nas regiões
costeiras das zonas de maior latitude (temperadas e polares), mesmo não
ocorrendo uma alta biodiversidade, os ambientes são muito produtivos, isto é,
a quantidade de massa viva produzida por unidade de área num determinado
tempo é maior que nos trópicos (Figura 2.7).

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 29 e-Tec Brasil


>01 .02 .03 .05 .1 .2 .3 .5 1 2 3 5 10 15 20 30 50

Concentração de Clorofila em mg/m³

Figura 2.7: Concentração de clorofila ao redor do planeta


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.nasa.gov/centers/wallops/plankton-study_prt.
htm>. Acesso em: 22 abr. 2013.

A clorofila é o pigmento fotossintetizador do fitoplâncton que pode ser utiliza-


do como indicador da produção primária e produção pesqueira dos ambientes

VERSÃO DO PROFESSOR
marinhos. Observe em destaque a cor vermelha da alta concentração de clo-
rofila no litoral do Amazonas (Figura 2.7)

A produtividade biológica achada nas águas temperadas costeiras, tais como o


Golfo de Maine (no Oceano Atlântico da América do Norte, em Massachuset-
ts), não poderia ser alcançada pelos equivalentes de recifes de coral ou similares
de ambientes tropicais. As águas tropicais são caracterizadas pelos altos níveis
de luminosidade e pobreza de nutrientes (cristalinas-claras). Na Figura 2.7,
observam-se diferenças na concentração de pigmentos fotossintetizadores de
ambientes costeiros.

Você já experimentou pegar amostras de águas superficiais do mar do entorno


de um recife de coral localizado no nordeste do Brasil? Ao observar através de
um recipiente de vidro, conclui-se que se trata de águas relativamente incoloras
e cristalinas. Agora, imaginemos coletar águas, da mesma forma, no litoral de
Cabo Frio (RJ). Teremos uma água de cor verde, com milhares de minúsculas
Revisão
partículas que constituem um verdadeiro mar de plâncton, os quais constituem
a base da vida dessas águas.

Assim, das 13.000 espécies marinhas de peixes encontradas em todo o mun-


do, a maioria das que possui valor comercial se encontra em águas de áreas
temperadas. Muitas das espécies marinhas disponíveis em um mercado local

e-Tec Brasil 30 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


de peixes, incluindo arenque do Atlântico, bacalhau, pescada, cavala, salmão
e espadarte, lagostas e caranguejos, não são capturados em águas tropicais.

Nas águas temperadas e nos oceanos frios de forma geral, existe um número
pequeno de espécies animais, mas com muitos indivíduos. Já nas águas tro-
picais, existe uma grande variedade de formas vivas, mas poucos indivíduos
por espécie.
Revisão

De forma geral, os ambientes aquáticos tropicais entre os 30º ao norte e ao


sul do Equador possuem uma maior variedade de peixes quando comparadas
com a riqueza de áreas extratropicais (temperadas). Em ambientes aquáticos
continentais, o número de peixes em lagos tropicais excede aqueles dos la-
gos temperados (por exemplo, 1450 espécies nos lagos Victoria, Tanganika
e Malawi comparadas às 212 espécies nos Grandes Lagos da América do
Norte e o lago Baikal) (Rohde 1998). Da mesma forma, esse padrão é similar
para ambientes de rios (por exemplo, cerca de 5000 espécies no Amazonas e
700 no Congo, comparados às 250 espécies no Mississippi e 70 no Danúbio)
(PRINGLE, 2000).

Assim como a temperatura, os regimes de chuvas também determinam os


pulsos de inundação de ambientes de transição, que aumentam considera-
velmente a superfície aquática.
VERSÃO DO PROFESSOR

O conceito de pulso de inundação foi publicado em 1989 por Junk e colabora-


dores e associa mudanças ecológicas que ocorrem nas planícies de inundação
na variação anual. Esse regime anual é determinante para o bom funciona-
mento dos ecossistemas naturais.

Nos trópicos, com a incidência direta da radiação solar, as temperaturas mé-


dias elevadas ao longo do ano (27-30oC ) — Figura 2.8 — aceleram muitos
processos como a produção, a decomposição da matéria orgânica e o meta-
bolismo. Esses processos, por sua vez, foram determinantes para a evolução
dos organismos por ciclos de vida curtos e com elevadas taxas de renovação
das populações naturais.

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 31 e-Tec Brasil


POLAR (< 10º C) TEMPERADO (10º- 18º C) TROPICAL (> 18º C)

Figura 2.8: Áreas tropicais com temperaturas médias acima de 18º C


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

VERSÃO DO PROFESSOR
Dado que com aumento da temperatura da água o oxigênio dissolvido tende a
se desprender, essas áreas tendem a possuir baixos teores desse gás de forma
tal que obrigam os organismos a adquirirem a capacidade para tomar oxigênio
da atmosfera, forçados por essa limitação.

Em geral, nas áreas tropicais localizadas entre os 10º latitude norte e 10º
latitude Sul, ocorrem marcados períodos de chuvas que conduzem à inundação
de grandes extensões de terras baixas e planas, como o caso das áreas de
cerrado do rio Orinoco, as sabanas da Guiana e do Amazonas.

Tendo como base a leitura, identifique num mapa dois dos principais ambientes
aquáticos que existem na sua região.

a) Reflita sobre o regime de chuvas na sua região. Existe algum período de


maior e menor intensidade de chuvas?
Revisão
b) Existe um período definido como início das enchentes locais (repiquete)?

2.7 Os efeitos dos fatores ambientais nos


peixes na variação latitudinal
Como já vimos, nas áreas temperadas de maior latitude ocorre um padrão sa-
zonal com drásticas mudanças de temperatura entre o inverno e o verão. Nesta

e-Tec Brasil 32 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


estação, os peixes têm uma maior oferta de alimento, o que determina altas
taxas de ingestão, que se traduzem em crescimento corporal. Já no inverno,
os peixes estão adaptados à migração ou para suportar baixas temperaturas e
falta de alimento, fatores que determinam baixas taxas de crescimento.

Nas áreas tropicais, devido às baixas variações anuais de temperatura (águas


mornas ao longo do ano), o metabolismo desses seres aumenta. Ou seja, devi-
do a maiores temperaturas da água, as taxas de consumo alimentar aumentam
Revisão

e, portanto, com uma oferta alimentar contínua nas áreas tropicais, determina
que estes peixes cresçam mais rápido que os das áreas temperadas.

De acordo com o que foi discutido na aula, caracterize os ambientes aquáticos


de sua localidade. Pesquise quantas espécies de peixes têm sido estimadas para
estes ambientes. Pesquise, também, quantas são importantes para o consumo
e comercialização. Em seguida, apresente os seus resultados. Por fim, discuta
com seus colegas tal aspecto no fórum de discussão.

Realize uma entrevista informal com os pescadores próximos à sua moradia.


Indague: quantas espécies de peixes eles capturam, quantas capturavam
tempo atrás. São as mesmas? Mudou alguma coisa na quantidade de peixes
capturados? Diminuiu? Quais espécies? Qual o fator que determina essa mu-
dança nas capturas?
VERSÃO DO PROFESSOR

Resumo

Vimos nesta aula o conceito de ambiente e os fatores bióticos e abioticos


que afetam e determinam a ocorrência de determinados seres vivos. Também
estudamos como a temperatura ambiental incide nos processos metabólicos
e nas taxas de crescimento individual e de renovação das populações naturais.

Atividades de aprendizagem

1. Indique quais as diferenças meio ambientais entre os ambientes de áreas


temperadas e tropicais.

2. Quais os principais efeitos no nível dos processos metabólicos nos orga-


nismos de ambientes tropicais e temperados?

Aula 2 – O conceito de meio ambiente 33 e-Tec Brasil


Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas

Objetivos
Revisão

Definir os conceitos relacionados à ciência da ecologia e do ecossistema.

Definir o bioma, ecossistema e ecologia.

Reconhecer o grau de conscientização da humanidade em relação aos


efeitos do desenvolvimento humano não planejado nas mudanças
climáticas globais.

3.1 Ecologia – o mundo das coisas vivas


Os organismos da terra não vivem isolados, interagem uns com os outros e
com o meio. A ecologia é o estudo dessas interações na “casa” em que moram
os seres vivos, ou seja, na biosfera.
VERSÃO DO PROFESSOR

3.1.1 O que é ecologia e ambiente


O termo ecologia foi adotado pelo biólogo alemão Ernst Haeckel em 1866,
quando definiu esta como a ciência das relações entre os organismos e o
ambiente. Em outras palavras, a ecologia (do Grego oikos, “casa”; e-λογία,
-logia, estudo) corresponde ao estudo da distribuição e abundância da vida e
das interações entre os organismos e seu ambiente natural. O ambiente de um
organismo inclui as propriedades físicas, que podem ser descritas como a soma
de fatores abióticos tais como insolação, clima, geologia e outros organismos
que compartilham seu habitat.

3.1.2 A noção de biocenose


Alfred Russel Wallace, contemporâneo e competidor de Darwin, foi o primeiro
a propor a geografia das espécies animais (Figura 3.1).

Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas 35 e-Tec Brasil


a b

Figura 3.1: Naturalistas: (a) Alfred Russel Wallace e (b) Charles Darwin
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (a) <http://www.guardian.co.uk/science/2013/jan/20/alfred-rus-
sel-wallace-forgotten-man-evolution>. Acesso em: 22 abr. 2013. (b) <http://impactomagazine.blogspot.com.br/2013/04/
universidade-de-cambridge-coloca-online.html#.UXVNyCsjrKA>. Acesso em: 22 abr. 2013.

Muitos autores reconheceram neste tempo que os organismos não eram inde-

VERSÃO DO PROFESSOR
pendentes uns de outros e agruparam os mesmos em vegetais, animais e, mais
tarde, em comunidades de seres vivos que foram denominados de biocenose.

O uso pioneiro do termo biocenose tem sido atribuído a Karl Möbius em 1877,
mas, já em 1825, o naturalista francês Adolph Dureau de la Malle utilizou o
termo societé para uma assembleia de vegetais de diferentes espécies.

O Darwinismo e a ciência da ecologia

Darwin nunca usou a palavra ecologia em seus escritos. Desde o início, a


ecologia tratava das relações entre os organismos, sua morfologia e fisiologia,
e do ambiente, (abiótico para a seleção natural). O conceito de Darwin da
seleção natural se focalizou somente nas ideias de competição e conquista.

Na internet, leia o documento indicado a seguir, relacionado às ideias de Da-


rwin, e indique, de acordo com o autor, os motivos pelos quais Darwin fez
Revisão
plágio. <www.lepanto.com.br/Evolucion.html>

3.2 A biosfera
Após observar que a vida se desenvolve somente dentro de certos limites de
cada compartimento que constitui a atmosfera, hidrosfera e litosfera, o geó-

e-Tec Brasil 36 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


logo Australiano Eduard Suess propôs o termo biosfera em 1875, que indica
as condições que promovem a vida, tais como a flora, fauna, os minerais, os
ciclos da matéria, etc. (Figura 3.2).

Atmosfera
Ecosfera
Revisão

BIOSFERA

Litosfera Hidrosfera

Figura 3.2: A biosfera


VERSÃO DO PROFESSOR

Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

A biosfera é a parte da Terra onde se encontram os seres vivos. Ela compreende


a superfície terrestre e a porção inferior da atmosfera e prolonga-se até o fundo
dos oceanos.

3.3 O Ecossistema
No século XIX, os botânicos, os geógrafos e os zoogeógrafos se juntaram
para definir as bases da biogeografia. Essa ciência, que trata dos habitats
das espécies, tenta explicar os fatores que determinaram a presença de
certas espécies em um dado lugar. Foi em 1935 que o ecólogo britânico
Arthur Tansley adotou o termo ecossistema, um sistema interativo es-
tabelecido entre a biocenose (o grupo de seres viventes) e seu biótipo (o
ambiente no qual eles vivem) (Figura 3.3).

Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas 37 e-Tec Brasil


VERSÃO DO PROFESSOR
Biocenose + Biótopo = Ecossistema

Figura 3.3: O ecossistema, soma da biocenose e o biótopo.


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Dentre as características fundamentais de um ecossistema, se incluem:

• limites (espaço-temporal);

• fatores e componentes que se influenciam mutuamente;

• sistemas abertos, com entradas (exemplo: luz solar) e saídas (exemplo:


respiração e emigração);
Revisão
• capacidade de resistir e/ou adaptar-se a distúrbios.

e-Tec Brasil 38 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


3.3.1 As diferentes escalas e as classes de
ecossistema
Os ecossistemas podem ser estudados em função da escala. Por exemplo,
uma planta aquática que cresce na superfície de uma rocha imersa pode ser
considerada como um ecossistema. Por essa rocha fazer parte de costão ro-
choso, com várias plantas aquáticas e animais que forrageiam, também pode
ser compreendida como um ecossistema.
Revisão

Por sua vez, o costão pode estar inserido numa área costeira de ressurgência,
que também é um ecossistema. De fato, a totalidade da superfície terres-
tre, toda a matéria que a compõe, o ar que circula diretamente acima dessa
superfície e todos os organismos vivos que habitam dentro dela podem ser
considerados como um grande ecossistema.

Os ecossistemas podem ser divididos em terrestres (incluem as florestas e


cerrados), de águas doces ou continentais (lagos, poças, rios e igarapés) e
os marinhos, dependendo do biótipo dominante.

Com base nas informações da aula, identifique as características gerais de um


ecossistema e aplique-as num ecossistema conhecido na sua realidade regional.
VERSÃO DO PROFESSOR

3.4 Sucessão ecológica


Com o avanço do século XX, Henry Chandler Cowles, através de estudos do
desenvolvimento da vegetação ou a ocupação de um ambiente por organismos
depois de limpar o ambiente natural, deu lugar a um processo de sucessão
ecológica (Figura 3.4).

Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas 39 e-Tec Brasil


Alterações nas condições
ambientais
Estabilização da
Substrato Organismos Novos organismos
comunidade e das
Aberto se estabelecem se estabelecem
condições do meio
Pioneira Ser(es) Clímax

Variabilidade das condições ambientais

Complexidade estrutural e funcional do ecossistema

Plantas aquáticas flutuantes +


Fitoplâncton hidras, sapos e insetos

1 4

Plantas submersas sofrem sombreamento

Charco ou Pântano
Fitoplâncton morto Protozoários e
+ microorganismos larvas de dipteros

VERSÃO DO PROFESSOR
2 5

Lagoa temporária
Vegetais enraizados +
microcrustáceos e larvas de insetos

3 6

Sedimento estabilizado por raízes + acúmulo de matéria orgânica

Colonização por espécies terrestres


Revisão
7

Figura 3.4: Sucessão ecológica


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 40 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


A sucessão ecológica consiste em mudanças graduais, ordenadas e progressi-
vas no ecossistema, resultantes da ação contínua dos fatores ambientais sobre
os organismos e da reação desses últimos sobre o ambiente.

Resumo

Estudamos nesta unidade alguns conceitos, dentre os quais destacamos o


Revisão

conceito de ecossistema. Descrevemos as magnitudes de tamanho em que


podemos abordar o estudo dos ecossistemas e um importante processo natural
denominado de sucessão.

Atividade de aprendizagem

De acordo com o conteúdo desta aula, responda:

1. O que você entende por ecologia?

2. O que compreendemos quando falamos de escala dos ecossistemas?

3. O que abrange a biosfera?


VERSÃO DO PROFESSOR

Aula 3 – Conceito de ecologia e ecossistemas 41 e-Tec Brasil


Aula 4 – Níveis de organização em ecologia e
diversidade

Objetivos
Revisão

Definir os diferentes níveis de abordagem da ecologia desde o orga-


nismo, população, assembleia e comunidade até os ecossistemas.

Definir os termos biodiversidade e habitat.

4.1 Níveis de organização em ecologia


Para facilitar o estudo da ecologia devemos compreender os níveis de organiza-
ção nos seres vivos. Vários tecidos formam um órgão e um conjunto de órgãos
forma um sistema. Todos os sistemas reunidos dão origem a um organismo
individual como, por exemplo, um elefante, um peixe, etc. Este é o primeiro
nível de interesse da ecologia.

Cada organismo pertence a uma espécie que compreende indivíduos morfo-


VERSÃO DO PROFESSOR

logicamente semelhantes que são capazes de se cruzar e gerar descendentes


férteis. Por sua vez, um grupo de organismos da mesma espécie que ocupam
a mesma área formam uma população. Como exemplo de população, temos
o peixe amazônico pirarucu (Arapaima gigas) do médio rio Solimões.

Várias populações de diferentes espécies num mesmo local constituem uma co-
munidade, como, por exemplo: a população de pirarucus, que comparte um
lago com a população de piranhas (Serrasalmus spp.), e curimatãs (Prochilodus
nigricans). Esse corresponde ao terceiro nível de interesse da ecologia. Todos es-
ses elementos reunidos e interagindo em harmonia formam um ecossistema.
Todos os ecossistemas reunidos na Terra constituem a biosfera (Figura 4.1).

Aula 4 – Níveis de organização em ecologia e diversidade 43 e-Tec Brasil


Biosfera
Vegetação Costeira

Mata Atlântica

Floresta Estacional

Floresta Amazônica

Cerrado
Bioma
Complexo do Pantanal

Ecossistema

VERSÃO DO PROFESSOR
Comunidade

População
Revisão
Indivíduo

Figura 4.1: Níveis de organização entre os seres vivos


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 44 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Descreva o que aparece na Figura 4.1 para cada um dos níveis de organização
ecológica.

4.2 Condições
Uma condição é um fator ambiental abiótico que influencia no funcionamento
dos seres vivos. Como exemplos desses fatores, temos a temperatura, a umida-
de relativa, o pH, a salinidade e a concentração de poluentes. Ao contrario dos
Revisão

recursos, as condições não são consumidas ou esgotadas pelos organismos.

4.3 O nicho ecológico


O nicho de um organismo descreve como, um organismo vive e pode ser
definido. O conceito de nicho foi proposto por Evelyn Hutchinson em 1957 e
se refere às maneiras pelas quais a tolerância e a necessidade interagem em
termos de condições e recursos necessários a um individuo ou uma espécie, a
fim de cumprir seu modo de vida (Figura 4.1).

A temperatura, por exemplo, limita o crescimento e a reprodução de todos


os organismos, mas organismos distintos toleram faixas diferentes de tem-
peratura. Essa faixa é uma dimensão de um nicho ecológico do organismo.
Por exemplo, o mapará (Hipophthalmus marginatus) é uma espécie de ampla
VERSÃO DO PROFESSOR

distribuição geográfica na bacia amazônica, em ambientes superficiais e de


baixa correnteza e se alimenta principalmente de zooplâncton. Todas essas
características determinam o nicho ecológico da espécie.

Limite inferior Limite superior


de tolerância de tolerância
Faixa ótima

Estresse Estresse

Intolerância Intolerância

Intensidade do fator
(gradiente ambiental)

Figura 4.2: Níveis de tolerância ou gradiente ambiental e a abundância do peixe aru-


anã (Osteoglossum sp).
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 4 – Níveis de organização em ecologia e diversidade 45 e-Tec Brasil


Uma espécie pode manter uma população viável sob certas combinações de
condições e recursos, desde que estas não sejam afetadas de maneira adversa.
Isso levou a Hutchinson a fazer a distinção entre nichos fundamental e efeti-
vo. O primeiro descreve as potencialidades totais de uma espécie; o segundo,
o espectro mais limitado de condições e recursos que permitem a permanência
da espécie, mesmo na presença de competidores e predadores.

Pense no peixe arauanã (Osteoglossum biccirrhossum), que vive na Bacia Ama-


zônica, exclusivamente nas águas calmas de suas várzeas, cujas populações
permanecem estáveis quando a temperatura da água varia de 24° a 34°C. De
acordo com o modelo de Hutchinson, a faixa de tolerância de um peixe em
relação à variável temperatura, pode ser representada graficamente em uma
dimensão (Figura 4.6).

VERSÃO DO PROFESSOR
Temperatura

Figura 4.3: Faixa de tolerância à temperatura é um dos componentes do nicho do


arauanã (Osteoglossum sp.)
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Escolha uma espécie de peixe da sua região e baseado em entrevistas com os


pescadores, descreva o nicho ecológico da mesma.
Revisão
4.4 A biodiversidade
Na definição mais simples, biodiversidade é apresentada como sinônimo
de riqueza de espécies. Mas essa definição é restrita, uma vez que podemos
determinar a biodiversidade a por diferentes escalas. Podemos afirmar que
biodiversidade é a variabilidade de organismos, seja genética, seja de comu-
nidades, seja de ecossistemas, de acordo com o nível ecológico.

e-Tec Brasil 46 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


4.5 O habitat
Para um organismo, é o lugar ou estrutura física, na qual ele vive. Existem
diferentes tipos de habitat diferenciados por suas características físicas, pela
forma predominante da vida vegetal ou animal. Assim, falamos de habitas
de floresta, de deserto e de recife de coral. Também temos os habitas
terrestre e aquático, de água doce e marinhos. Entre os marinhos, temos
oceânicos e estuarinos.
Revisão

O conceito de habitat é útil porque destaca a variedade de condições às quais


os organismos estão expostos, visto que eles são diferentes de um habitat para
outro. Por exemplo, os habitantes das profundezas abissais oceânicas e das
águas superficiais tropicais experimentam condições de luz, pressão, tempe-
ratura, concentração de oxigênio, viscosidade e sais extremamente diferentes.

Descreva o habitat de um rio da sua região.

Resumo

Na ecologia se caracterizam três níveis de organização hierárquica: o organismo


de uma determinada espécie, a população que corresponde ao conjunto de
organismos da mesma espécie num local comum e a comunidade que corres-
VERSÃO DO PROFESSOR

ponde a diferentes organismos de diversas espécies interagindo num mesmo


ambiente. O nicho ecológico se refere às maneiras pelas quais a tolerância e
a necessidade interagem em termos de condições e recursos necessários a
um individuo ou uma espécie, a fim de cumprir seu modo de vida. Para um
organismo, é o lugar ou estrutura física, na qual ele vive.

Atividade de aprendizagem

Quais os níveis de interesse da ecologia? Escolha um rio da sua região e


cite um exemplo de espécie e de uma população de peixes. Apresente um
exemplo de organismo, população, comunidade de organismos aquáticos
na sua região geográfica.

Aula 4 – Níveis de organização em ecologia e diversidade 47 e-Tec Brasil


Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais

Objetivos

Caracterizar os ambientes aquáticos continentais de acordo com sua


Revisão

velocidade de correnteza e sua temperatura ambiental.

Apresentar, através de exemplos, algumas características dos am-


bientes aquáticos continentais.

5.1 A dinâmica hidrológica


As redes hidrográficas continentais cumprem importantes funções na estabi-
lidade climática regional e local, e mantêm a vegetação que está estritamente
ligada às águas da superfície. Nessas redes de drenagem se formam biótopos
fundamentais para diversos grupos de organismos.

Graças à força de gravidade da terra, grandes volumes da água que são esco-
ados na superfície terrestre se formam por acúmulo da umidade atmosférica,
VERSÃO DO PROFESSOR

que se transforma em chuva durante o ciclo hidrológico (Figura 5.1). Assim,


as áreas com menor declive, tais como reservatórios naturais, lagos, áreas
inundáveis ou no mar, seja nas regiões de montanha ou nas de menor altitude,
são as fontes de captação dessas águas, as quais sofrem processos de evapo-
transpiração para continuar o ciclo hidrológico.

Figura 5.1: Ciclo hidrológico simplificado


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 49 e-Tec Brasil


5.2 Divisão dos ambientes aquáticos
continentais
De acordo com a velocidade da correnteza, podemos classificar os ambientes
aquáticos em lóticos, ou de correnteza, e lênticos ou águas estagnadas.

5.2.1 Ambientes lóticos


As águas de correnteza como os rios e igarapés, também denominadas de
fluentes, fluviais ou de potamociclos, podem ser incluídas nos ambientes lóticos
(do grego lotio: lavado ou banhado).

Nesses ambientes, pela mesma dinâmica da correnteza, todas as características


físicas, químicas e biológicas são alteradas num gradiente, desde as nascentes
até a desembocadura. Assim, materiais como as partículas em suspensão são
continuamente transportados pela correnteza (deriva longitudinal).

Por sua vez, os nutrientes básicos que se originaram nesses ambientes, em


grande parte, são de origem externa ao corpo de água (alóctone) e provêm
dos ambientes terrestres marginais (interação lateral excesso de produção

VERSÃO DO PROFESSOR
terrestre) que sofrem processos de transporte, sedimentação e depósito ao
longo do canal (num processo vertical). Todos esses processos ocorrem de
forma simultânea numa escala temporal (Figura 5.2a).

Um rio funciona como uma máquina que produz matéria e energia que será
distribuída por cada um de seus setores. Esse processo otimiza o aproveita-
mento da energia disponível para os organismos e, assim, são evitadas as
perdas águas abaixo. Esse processo denomina-se de equilíbrio dinâmico ou
espiral de nutrientes (Figura 5.2b). Esse equilíbrio depende de três fatores:
a capacidade de transporte do rio, a diversidade de biótopos presentes e a
atividade biológica.

Revisão

e-Tec Brasil 50 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


a LONGITUDINAL
deriva migração

LATERAL
Excesso de produção
terrestre
Revisão

VERTICAL
Sedimentação,
depósito e
resuspensão

TEMPORAL

MATERIAL MATERIAL
DISPONÍVEL TRANSPORTADO

COMUNIDADE A
VERSÃO DO PROFESSOR

COMUNIDADE B

COMUNIDADE C

Grau de eficiência Resíduos DERIVA

Figura 5.2: Vias de interação nos ecossistemas lóticos. (a) Um rio é resultado de rela-
ções de distância, intensidade e direção. (b) A disponibilidade de matéria
no rio depende da eficiência de uso no gradiente longitudinal no formato
de espiral de nutrientes
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 51 e-Tec Brasil


Nas cabeceiras de um rio, o leito é mais estreito e inclinado e, geralmente,
é formado por rochas sólidas e areia, por águas claras e bem oxigenadas e
baixas temperaturas. Além disso, a maior parte da fauna aquática é associada
às superfícies rochosas (litofílicas), e são de hábitos filtradores. Essa zona é
denominada de ritrônica por alguns autores (Figura 5.3).

Já na parte mais baixa do rio, geralmente, as águas drenam sobre terrenos


planos e sedimentares, em leitos não bem definidos e com velocidades de cor-
renteza menores. Por isso, as águas tendem a apresentar maiores temperaturas
e os teores de oxigênio dissolvido na água são baixos. Essa zona também se
denomina potamônica (Figura 5.3).

Linha central do canal


principal
Perfil longitudinal de um rio
Cabeceiras

A B
Águas baixas
Desembocadura
Zona ritrônica Zona potâmica B Águas altas

VERSÃO DO PROFESSOR
Cabeceiras do rio:
Zona de produção
(drenagens de primeira a terceira ordem)
Dique
Águas altas
Leito do rio
Lagoa
Águas baixas

Perfil A—A Perfil B—B Canal principal


Limite das margens
Braço morto com
inundáveis
lagos residuais

Águas altas
Águas baixas

Lago residual Zona média do rio:


De transferência

A A B B

Barra de ponta
Canal
Águas altas Águas baixas
Canal principal

Zona ritrônica Zona potâmica


Terras baixas - planície de inundação

Linha central do canal


Revisão
principal

Figura 5.3: Indicando o perfil de um rio ao longo de seu percurso


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de Modificado de Welcomme (1977).

Rios que transportam grandes quantidades de material em suspensão mos-


tram águas turbas que impedem a proliferação de plantas fixas no fundo e

e-Tec Brasil 52 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


provocam o desaparecimento de formas associadas às rochas (litofílicas). Estas
desaparecem e são substituídas por outras fontes alimentares, como a matéria
orgânica em decomposição (detritos), e por predadores.

Por esse motivo, o rio não pode ser considerado como um único ambiente,
e sim como vários setores entrelaçados entre si pelo fenômeno de sucessão
espacial. Nessa série de espaços lóticos, é difícil diferenciar um igarapé e um
rio. Isso acontece porque muitos rios, durante o período de estiagem, deixam
Revisão

uma fração do seu curso reduzido a um simples córrego e, eventualmente, se


cortam em distintos setores de seu curso.

5.2.1.1 Classificação de acordo com a regularidade do


fluxo da água
De acordo com a regularidade, para manter um curso de água, qualquer am-
biente lótico (córrego, igarapé ou rio) pode ser classificado como: permanente,
aqueles que nunca secam; semipermanente, cujo curso de água desaparece
temporariamente, durante alguns meses; e temporário, aqueles que perma-
necem mais tempo secos.

Também é possível estabelecer categorias dos ambientes lóticos de acordo com


a geografia das zonas que atravessa: ambientes de montanha e ambientes
de terras baixas. É Essa distinção que ajuda a definição dos setores (zonas)
VERSÃO DO PROFESSOR

de um mesmo curso de água.

a) Através de um mapa da hidrografia de sua região, identifique os princi-


pais ambientes de águas lênticas e lóticas que existem.

b) Como você diferencia as categorias de ambientes?

5.2.2 Ambientes lênticos


Nesta categoria, se incluem os corpos de água com baixa capacidade de
movimentação, dado que não têm um fluxo. Neles, não se observa algum
gradiente das condições físicas, químicas e biológicas numa direção definida.
Incluem-se nesse grupo: os lagos, lagoas, pântanos, poças, reservatórios, áreas
inundáveis de várzeas e de igapós. De inicio, os nutrientes básicos originam-se
no mesmo ambiente (são autóctones) e sua evolução no tempo se realiza in
situ, conduzindo no sentido de sua extinção como corpos de água.

A seguir, detalharemos as características de alguns ambientes lênticos acima citados:

Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 53 e-Tec Brasil


• Os lagos são corpos estáveis, sem comunicação direta com o mar, que
possuem um leito e uma planície bêntoca e uma área periférica denomi-
nada litoral. Um lago verdadeiro, dada sua alta profundidade, não possui
plantas arraigadas e emergentes (Figura 5.4).

VERSÃO DO PROFESSOR
Figura 5.4: Esquema de um lago sem vegetação marginal emergente
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Quando essas plantas ocorrem na região marginal, se estabelecem como um


anel vegetal mais ou menos extenso (Shallow lake – lago com praia) e, neste
caso, já faz referência a uma lagoa (Figura. 5.5). Assim, a diferença fundamental
entre um lago e uma lagoa não se deve à área de água e sim à profundidade.

• As lagoas definem-se como corpos lênticos permanentes ou transitó-


rios, que não possuem um ciclo térmico definido, nem estratificação per-
sistente de circulação contínua. Devido à sua baixa profundidade, em
forma de U, aberta, oferece condições para o desenvolvimento da vege-
tação arraigada.
Revisão

e-Tec Brasil 54 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Revisão

Figura 5.5: Lagoa ou Shallow lake, caracterizada pelo anel de macrófitas aquáticas
nas suas margens, que define pouca profundidade.
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

• Os pântanos são ambientes aquáticos que se originaram em razão da


alta produtividade de matéria orgânica do sistema. Assim, pode se inter-
pretar como a fase final de um lago ou lagoa senescente com leito cons-
tituído por detritos autóctones. No pântano, a decomposição bacteriana
por toda classe de detritos orgânicos alcança seu máximo, ocasionando
VERSÃO DO PROFESSOR

o desaparecimento de muitos organismos. Com a diminuição do espelho


de água, segue-se uma série sucessional, que termina num solo emergi-
do com vegetação palustre.

• As poças correspondem a corpos de água de escasso volume e, em


geral, de variados tipos de águas temporárias ou permanentes de re-
duzidas dimensões.

• Represamentos e tanques geralmente são construídos com fins de


piscicultura ou de reter a água para consumo, irrigação ou energia
elétrica. Devido à suas condições ecológicas, podem ser comparados
às lagoas ou aos lagos.

• Os tanques são corpos de água artificiais, de tamanho relativamente pe-


queno e profundidade reduzida que, uma vez amadurecidos, podem ser
colonizados por macrófitas fixas no fundo. De forma diferente, os grandes
depósitos ou bacias de retenção de águas denominadas reservatórios ou
diques, geralmente são formados por uma obra que retém o curso fluvial
com diferentes finalidades, devido à sua maior profundidade e extensão.

Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 55 e-Tec Brasil


Classificação dos lagos de acordo com sua latitude

• Os lagos tropicais se caracterizam pelas suas temperaturas médias entre


20 – 30ºC e sua pequena amplitude de variação anual. Possuem baixo
gradiente térmico em qualquer profundidade, a circulação é irregular e
geralmente é mais evidente durante o período de maior precipitação,
quando as temperaturas locais diminuem.

• Os lagos subtropicais têm como características a variação anual ampla


e um gradiente térmico. Neles, a temperatura da superfície nunca é in-
ferior a 4º C.

• Os lagos temperados alcançam temperaturas superficiais acima de 4oC


durante o verão e abaixo de 4º C durante o inverno. Possuem amplo gra-
diente térmico, variação estacional ampla e dois períodos de circulação,
na primavera e no outono.

De acordo com a classificação dos ambientes lóticos e lênticos apresentada,

VERSÃO DO PROFESSOR
identifique, em uma dessas categorias, os ambientes aquáticos de sua região.
Indique o nome do local.

<http://www.scribd.com/doc/16453289/TrabalhoEcologiaGeralSiste-
mas-lenticos-e-loticos>

Trata dos conceitos gerais dos tipos de ambientes e dos efeitos antropogênicos
decorrentes de empreendimentos.

<http://anabeatrizgomes.pro.br/moodle/file.php/1/ECOSSAULA4EDI-
TADA.pdf>

Explana a diferenciação dos ecossistemas aquáticos continentais.

Revisão

e-Tec Brasil 56 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Resumo

Estudamos que os ambientes aquáticos continentais são produto de processos


atmosféricos como evaporação e precipitação numa determinada área geo-
gráfica. Assim, em função das características da paisagem podem se gerar
ambientes aquáticos com velocidade de correnteza nula (lênticos) ou com
algum grau de correnteza (lóticos).
Revisão

Atividade de Aprendizagem

Com base nos textos desta unidade, faça um paralelo entre as características
dos ambientes continentais. Indique um fator determinante para categorizar os
ambientes aquáticos continentais. Em seguida, liste três exemplos de ambien-
tes com características de lênticos e lóticos. Que exemplos você indicaria como
ambientes lênticos artificiais? Como você os diferencia dos ambientes naturais?
Cite dois efeitos ambientais ocasionados pela construção de reservatórios.
VERSÃO DO PROFESSOR

Aula 5 – Os ambientes aquáticos continentais 57 e-Tec Brasil


Aula 6 – Os ecossistemas costeiros

Objetivos
Revisão

Diferenciar os principais ecossistemas costeiros que ocorrem no Brasil.

Identificar as principais características físicas, como também a im-


portância ecológica e econômica desses ecossistemas.

6.1 Os ecossistemas costeiros


Os ecossistemas costeiros são ambientes que se distribuem desde a linha de
costa até uma profundidade de 200 metros, porção denominada de platafor-
ma continental (Figura 6.1). Em geral, são regiões de marcada produtividade
biológica, característica que lhes confere um potencial como centros de ativi-
dades humanas por tempos milenares.
VERSÃO DO PROFESSOR

Plataforma continental

Batimetria

11.000 7.500 5.000 2.500 0


Metros abaixo do nível do mar

Figura 6.1: Plataformas continentais ao longo das quais se distribuem os


ecossistemas costeiros
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de Banco de imagens SXC.HU.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 59 e-Tec Brasil


Esses ecossistemas fornecem uma ampla variedade de bens e serviços, uma
vez que são grandes produtores de peixes para consumo humano e animal e
constituem importantes fontes de fertilizantes, farmacêuticos, cosméticos e
materiais de construção. Além disso, armazenam e reciclam nutrientes, filtram
os poluentes de origem continental e contribuem para proteger as linhas de
costa da erosão.

6.2 Tipos de ambientes costeiros


Ainda na fase continental emergida, se encontram ambientes como as dunas,
as praias rochosas e arenosas, e habitats costeiros xeromórficos.

As regiões entre marés (Figura 6.2), denominadas também de “zonas in-


tertidais”, correspondem aos ambientes costeiros, onde a zona do substrato
litoral fica exposta ao ar na maré baixa e submersa com a subida da maré.
Incluem-se nessa categoria: os estuários, os deltas, as lagoas, as florestas de
manguezais e as praias salgadas.

VERSÃO DO PROFESSOR
Revisão
Figura 6.2: Região de entre marés, mostrando a fauna associada
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de Zona entremarés: <http://robalosdomar.blogspot.com.br/2008/03/
como-pescar-em-spots-pouco-profundos.html>. Acesso em: 07 jun. 2013. Demais figuras: Banco de imagens SXC.HU.

Ambientes bentônicos ou de fundo correspondem aos recifes de coral,


ou aos ambientes de pradeiras, constituídas por plantas costeiras como o
gênero Thalassia (Figura 6.3).

e-Tec Brasil 60 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Revisão

Ambientes bentônicos

Pradeira de
Thassalia

Figura 6.3: Ambiente bentônico num ecossistema costeiro


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Os ambientes pelágicos correspondem às águas abertas sobre a plataforma


continental, aos Bloom de plâncton (organismos que têm baixo poder de lo-
comoção e vivem livremente na coluna de água) (Figura 6.4).
VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 6.4: Ambientés pelágico e bentônico de um sistema aquático


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

6.3 Ecossistemas costeiros no Brasil


Na nossa costa, encontramos: estuários, manguezais, marismas, praias, costões
rochosos, planícies de marés e recifes de coral. As águas costeiras e os fundos
arenosos/rochosos rasos também são considerados ambientes costeiros.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 61 e-Tec Brasil


6.3.1 Manguezais

Maré alta

Maré
Ma
M aréé bbaixa
aixa
ai
ixa

Figura 6.5: Mangue do litoral do Brasil


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

VERSÃO DO PROFESSOR
O manguezal é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terres-
tre e aquático, que está sujeito ao regime de marés (Figura 6.5). Os manguezais
se desenvolvem em regiões tropicais e subtropicais (Figura 6.6). São sistemas
abertos, que recebem um importante fluxo de água doce, sedimentos e nu-
trientes do ambiente terrestre e exportam água e matéria orgânica para o mar
ou para as águas estuarinas.

Revisão

Figura 6.6: Distribuição dos manguezais nas regiões tropicais e subtropicais do mundo
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://4.bp.blogspot.com/_aBfQQkslMdc/TBLx6XJzRLI/AAAAA-
AAAAdE/myVmNzg3Vro/s1600/mapa_mangue.jpg>. Acesso em: 19 jun. 2013.

e-Tec Brasil 62 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Os sistemas de manguezal são constituídos por espécies vegetais lenhosas
típicas e adaptadas a flutuações de salinidade e a sedimentos predominante-
mente lodosos e com baixos teores de oxigênio. Ocorrem em regiões costeiras,
geralmente abrigadas dos efeitos da maré, e têm importantes funções: fonte
de alimento, meio de proteção e reprodução de muitas espécies animais.

Os manguezais se distribuem entre as latitudes 23°30’ N e 23°30’ S, com


Revisão

extensões subtropicais até 30°.

6.3.1.1 Flora de manguezais no Brasil


No Brasil, os manguezais são constituídos por cinco espécies vegetais perten-
centes a quatro gêneros: Rhizophora (2 espécies), constituído por Rhizophora
racemosa, maior parte dos manguezais do litoral brasileiro, e Rhizophora
mangle, no limite sul da distribuição dos manguezais brasileiros; Avicennia
com as espécies Avicennia tomentosa e Avicennia nítida, muito comum no
litoral paulista; Laguncularia racemosa e Conocarpus erectus.

Conforme o predomínio da espécie vegetal, o manguezal recebe nomes dis-


tintos, como: mangue-vermelho (R. mangle), mangue-siriúba (A. nítida) e o
mangue-branco (L. racemosa).
VERSÃO DO PROFESSOR

a) Fauna e flora residente no mangue

Os manguezais apresentam diferentes tipos de habitats para diversas espécies


de algas e epífitas, como as bromélias.

A fauna associada aos manguezais consiste em espécies residentes e juvenis de


outros organismos marinhos que utilizam esses ambientes como área berçário
ou criadouro (Figura 6.7). Dentre esses grupos, se encontram representantes de
peixes, aves, crustáceos, moluscos e outros invertebrados que procuram refú-
gio e/ou alimento. Outros utilizam esses ambientes como áreas de reprodução.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 63 e-Tec Brasil


1 Spartina brasiliensis (Gramínea)

2 Usnea barbata (Barba-de-velho)

3 Líquen incrustante

4 Rizophora mangle (Mangue-vermelho ou


Bravo)
5 Avicenia Schaueriana (Mangue-seríba ou
Seriúba)
6 Laguncularia racemosa (Mangue-branco)

7 Hibiscus tiliaceus (Hibisco ou


Algodãozinho-da-praia)
8 Acrosticum aureum (Samambaia-do-mangue)

9 Ardea cocoi (Garça-cinzenta)

10 Ardea alba (Garça-branca-grande)


11
11 Eudocimus ruber (Guará)

5 12 Aramides mangle (Saracura-do-mangue)


6
4
13 Cardisoma guanhumi (Guaiamu)

2 14 Ucides cordatus (Carangueijo-uçá)


10
10
18 2 15 Goniopsis cruentata (Maria-mulata ou Aratu)

7 16 Callinectes sp. (Siri-azul)

VERSÃO DO PROFESSOR
1
9 3
8 15 17 Uca Uruguayensis (Chama-maré)
12 16
13 18 Ninho de termita (Cupinzeiro)

14 19 19
15 17 19 Crassostrea rhizophora (Ostra-do-mangue)

Ucides cordatus (Carangueijo-uçá) Callinectes sp. (Siri-azul) Goniopsis cruentata (Maria-mulata ou Aratu) Uca Uruguayensis (Chama-maré)

Revisão
Uca thayeri (Chama-maré) Uca rapax (Chama-maré) Cardisoma guanhumi (Guaiamu) Aratus pisoni (Marinheiro)

Figura 6.7: Fauna associada ao manguezal


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://sitebiologico.blogspot.com.br/2009/01/mangue-santua-
rio-ameacado.html>. Acesso em: 19 jun. 2013.

e-Tec Brasil 64 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


<http://www.cb.ufrn.br/~ecomangue/Mangue%20no%20mundo%20
e%20no%20brasil/distrimangue.index.htm>. Neste site, você encontrará
informações sobre os ambientes de manguezais e sobre sua distribuição no
mundo e no Brasil.

Identifique qual é o ecossistema de manguezal mais próximo de sua localidade


e, se possível, visite-o. Em seguida, tente descrevê-lo: que espécie de mangue
predomina? O vermelho, o surubia ou o branco? Qual fauna é associada a ele?
Revisão

Se possível, entreviste moradores e consulte livros ou internet.

6.3.2 Praias arenosas


No início da plataforma continental, na parte mais rasa, encontra-se a zona de
entre marés, comumente denominada de praia, que compreende a faixa entre
a maré alta e baixa (Figura 6.8). À primeira vista, uma praia arenosa parece não
ter vida, mas, vendo com atenção, existe uma biota diversa e bem adaptada
que se desenvolve nos interstícios dos grãos (Figura 6.8).

1 Larus dominicanus (Gaivotão)

2 Calidris alba (Maçarico)

3 Ocypode quadrata (Maria-farinha ou Graruçá)

4 Inseto dermáptero (Tesourinha)

5 Amphipodo talitrideo (Pulga-da-praia)


VERSÃO DO PROFESSOR

6 Physalia physalis (Caravela)

7 Telina sp. (Unha-de-moça)

8 Olivancillaria brasiliensis (Molusco gastrópode)

9 Callinectes sp. (Siri-azul)

10 Encope emarginata (Bolacha-de-praia)

11 Luidia senegalensis (Estrela de nove braços)

12 Arenaeus cribarius (Siri-chita)

13 Renilla sp. (Rim-do-mar)

14 Donax hanleyanus (Sarnambi)


1
15 Emerita brasiliensis (Tatuíra)
4 5
16 Hastula cinerea (Molusco gastrópode)
2 3
17 Lepidopa richmondi (Tatuíra)

18 Callichirus mirim (Camarão-de-areia)

6 19 Coronis scolopendra (Tamburutaca)

9 13 16 20 Americonuphis casamiquelorum (Poliqueto)


12 15 17 22 23
11 14
21 21 Callichirus major (Corrupto)
10 20
18
8 19 22 Tivella mactroides (Molusco bivalve)

7 23 Balanoglossus clavigerus (Enteropnesto)

Figura 6.8: Esquema de zonação de uma praia arenosa com sua fauna acompanhante
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.pescadepraiabrasil.com.br/web/viewtopic.
php?f=20&t=2558&p=22108>.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 65 e-Tec Brasil


Nas praias, interagem os ventos, a água e a areia, resultando em complexos
processos hidrodinâmicos e deposicionais (Brown & McLachlan, 1990). A mor-
fologia das praias em uma determinada região é função das ondas que liberam
energia nas zonas costeiras.

6.3.2.1 Flora e fauna das praias


Na costa brasileira, é comum a ocorrência de plantas angiospermas marinhas
e algumas espécies de algas como CaulerpaI, que ocorrem em praias lodosas,
protegidas da ação das ondas.

Por efeito das flutuações da maré, a distribuição dos invertebrados associa-


dos às praias apresenta um zoneamento. A fauna das praias é composta por
animais permanentes, que raramente saem à superfície e que se classificam
como infauna (Figura 6.8). Já os organismos que eventualmente habitam a
superfície, mesmo que se refugiem no substrato, são denominados epifauna.
Incluem-se dentro destes os caranguejos e alguns gastrópodes e bivalves que
se mantém algum tempo na superfície.

VERSÃO DO PROFESSOR
De acordo com o tamanho dos organismos que o habitam, esses ambientes po-
dem ser categorizados como: microfauna, que inclui os protozoários; meiofauna
e macrofauna, que corresponde aos animais evidentes ao olho nu.

Vários fatores são determinantes para a estrutura das comunidades de orga-


nismos associados a esses ambientes costeiros. O tipo de sedimento da água
intersticial, junto com a disponibilidade de alimento, afeta a distribuição espa-
cial e temporal dos crustáceos, dos moluscos e dos poliquetas, que constituem
uma rica fonte de alimento para alguns peixes, crustáceos e aves.

Compare duas praias que você conheça quanto ao grau de exposição e às


características das ondas. A areia é grossa ou fina? É possível ver fauna nas
praias? Qual? As praias são contaminadas ou limpas? São muito visitadas?
Extraem material de construção?

6.3.3 Costões rochosos


Revisão
São afloramentos de rochas na linha do mar que estão sujeitos à ação das
ondas, correntes e ventos, podendo apresentar diferentes configurações como
falésias, que são formas geográficas litorais, caracterizadas por um abrupto
encontro da terra com o mar (Figura 6.9).

e-Tec Brasil 66 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Revisão

Figura 6.9: Costões rochosos da costa brasileira


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://vidanomar.wordpress.com/ambientes-costeiros/costoes-
-rochosos/>. Acesso em: 20 jun. 2013.

Devido às permanentes alterações dos níveis do mar local, nos níveis mais altos
dos costões, prevalecem condições ambientais muito diferentes daquelas que
ocorrem nos níveis mais próximos da água. Essas diferenças determinam dis-
tribuição dos organismos, fazendo com que ocupem o espaço num gradiente
de adaptação aos limites determinados pelo efeito da maré (Figura 6.9).
VERSÃO DO PROFESSOR

Esses limites podem ser reconhecidos por três zonas: a) a zona supralitoral,
que recebe apenas esborrifos de pequenas gotas das marés excepcionalmente
altas; b) a zona do médio-litoral, que sofre ação direta das marés; c) a zona
infralitoral, que é uma área emersa só durante as marés excepcionalmente
baixas (Figura 6.10).

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 67 e-Tec Brasil


Zona supralitoral

Zona médio-litoral

Zona infralitoral

Figura 6.10: Zonação de um costão rochoso com a fauna associada


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

VERSÃO DO PROFESSOR
O substrato duro dos costões rochosos favorece a fixação de larvas e esporos
de diversas espécies de invertebrados e de macroalgas. Assim, quanto mais
deformações tiver o substrato maior será a disponibilidade de refúgios (fissuras
e fendas) e, portanto, tenderá a comportar maior riqueza de espécies.

6.3.4 Recifes de coral


Os recifes de coral são estruturas calcárias, de água rasa, que dão suporte a
uma variada associação de organismos marinhos. São formados por secreções
de carbonato de cálcio de animais que pertencem ao grupo das águas-vivas e
das anêmonas-do-mar. Essas secreções constituem um esqueleto externo que
abriga e protege o corpo dos recifes e onde se alojam algas importantes para
seu desenvolvimento (Figura 6.11).

Revisão

e-Tec Brasil 68 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Mar Praia
Cresta do recife Planície arrecifal

Frente do recife

Pequenos corais em
poças e canais
Revisão

Densas e grandes
massas de corais

Figura 6.11: Recifes de coral


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Os recifes de coral são restritos as águas quentes e transparentes dos mares


tropicais e subtropicais (Figura 6.12).
VERSÃO DO PROFESSOR

ZONA TROPICAL
RECIFES DE CORAL

Figura 6.12: Distribuição dos recifes de coral no mundo


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Podemos diferenciar três tipos de recifes: de franja, de barreira e os


atóis. O segundo tipo listado caracteriza-se por ser paralelo à linha de
costa. Ele diferencia-se porque se encontra mais afastado da costa e se
prolonga por grandes distâncias, enquanto que os recifes de franja, por
exemplo, estão localizados em águas rasas, frente à costa. O terceiro tipo
de recifes, os atóis, formam ilhas de coral em formato de anel que contém
uma lagoa central (Figura 6.13).

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 69 e-Tec Brasil


Terra Recife Mar

Recife em franja

Mar Recife Lagoa Mar

Atol Parche de recife

VERSÃO DO PROFESSOR
Terra Lagoa Recife Mar

Recife em barreira

Figura 6.13: Tipos de recifes de coral


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.mardecoral.com.br/yemanja/microcosmo/bibliote-
ca/reefs_geograficos.htm>. Acesso em: 26 jun. 203.

Identifique, na linha de costa mais próxima de sua localidade, a possível exis-


Revisão
tência de recifes de coral e as áreas de maior concentração dos mesmos. Caso
não existam, indague a que se atribui essa falta?

e-Tec Brasil 70 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


6.3.5 Os estuários
A palavra estuário faz referência a um ambiente de transição ocasionado pelo
encontro das águas continentais de um rio com as águas marinhas (Figura
6.14). Por receber sedimentos continentais trazidos pelos rios, junto com os
sedimentos da plataforma interna e de áreas costeiras adjacentes, trazidos pela
deriva litorânea, os estuários apresentam altas concentrações de nutrientes
que estimulam a produção primária. Por esse motivo, os estuários geralmente
são mais produtivos do que os rios e do que as águas marinhas adjacentes.
Revisão

Oceano

Entrada da maré

Área de
inundação

Rio

Águas salgadas
(Área costeira)
VERSÃO DO PROFESSOR

Águas salobras
(Área de mescla)

Águas doces
(continentais)

Figura 6.14: Ambiente estuarino no litoral do Brasil


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6f/Mou-
ths_of_amazon_geocover_1990.png>. Acesso em: 25 jun. 2013.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 71 e-Tec Brasil


RIO

MAR

RIO MAR

RIO MAR

Figura 6.15: Dependendo da vazão de águas continentais, a zona de transição estua-


rina apresentara características hidrológicas diferentes.
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

6.3.5.1 Papel ecológico dos estuários


Devido à alta produtividade biológica, os estuários constituem zonas de alimen-

VERSÃO DO PROFESSOR
tação, refúgio e berçário para numerosas formas juvenis de peixes, camarões e
de outros organismos. Para algumas espécies migratórias, os ambientes estua-
rinos constituem um ponto de passagem obrigatório entre os meios marinho
e fluvial (Figura 6.16).

ÁGUA DOCE MAR

Áreas de crescimento larval

CATÁDROMO

Reprodução

Áreas de crescimento larval

Reprodução
ANFÍDROMO MARINHO
Revisão
Áreas de crescimento larval

ANFÍDROMO DE ÁGUA DOCE

Reprodução

Figura 6.16: Tipos de migração marinho-fluvial de várias espécies de peixes


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 72 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


<http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=10&class=03>

Conceitos e comentários sobre o papel econômico dos ambientes estuarinos.

<http://www.ib.usp.br/ecosteiros/textos_educ/textos_educ/>.

Conheça mais sobre ecossistemas costeiros no Brasil.


Revisão

A seguir, apresentamos um resumo dos ecossistemas costeiros no Brasil.

Tabela 6.1: Ecossistemas costeiros no Brasil, sua proporção e exemplos de ocorrência


Cobertura (%)
Ecossistema relativamente à área Locais de ocorrência (Exemplos)
costeira do Brasil

Delta do Parnaiba, Tibau do Sul, Estário do Mamanguape, Cabo de


Baías e estuários 31,8 Santo Agostinho. Litoral Norte Fluminense, Parati/Angra dos Reis, Baía
de Guaratuba e Baía da Babitonga.

Cabo de Santo Agostinho, Aracaju, Litoral Norte da Bahia e trecho de


Praias e costões 27,6
Bombinhas a Tijucas no litoral de Santa Catarina.

Lagunas e banhados Barra de São Miguel, Região dos Lagos no Rio de Janeiro e nas áreas
18
costeiros do litoral do Rio Grande do Sul.

Litoral Amazônico do Amapá, Estuários de Caravelas e Mucuripe e


Manguezais 13,6
Complexo Estuarino Iguape-Paranaguá.
VERSÃO DO PROFESSOR

Dunas e falésias 9 Litoral Leste do Ceará e de Macau a Areia Branca; Torres (RS).

Fonte: Geografia Coleção explorando o ensino (2006).

Tabela 6.2: Função dos ecossistemas costeiros


Ecossistema Função

Via de transporte, água abrigadas, retenção de sedimentos, fonte de nutrientes e


Baías e estuários
sedimentos.

Praias e costões Fontes de sedimento, prevenção da erosão e proteção de tempestades.

Lagunas e banhados costeiros Águas abrigadas, fonte e retenção de nutrientes.

Prevenção de erosão, retenção de sedimentos e nutrientes, exportação de biomassa


Manguezais
e fonte de nutrientes.

Dunas e falésias Fonte de nutrientes, prevenção de erosão e retenção de sedimentos.

Planície intermarés Fonte de nutrientes e sedimentos e prevenção de inundações.

Ilhas e arqupélagos Águas abrigadas, retenção de sedimentos e nutrientes.

Planícies fluviais Exportação de biomassa, águas subterrâneas e retenção de nutrientes.

Fonte: <http://marbrasileirotocolando.blogspot.com.br/2010/07/ecossistema-costeiro.html>. Acesso em: 2 out. 2012.

Aula 6 – Os ecossistemas costeiros 73 e-Tec Brasil


Pesquise e indique algumas atividades humanas que alteram as características
do estuário e escreva quais as consequências dessas atividades.

Resumo

Vimos que, no Brasil, são registrados ecossistemas costeiros como os mangue-


zais, as praias arenosas, costões rochosos, recifes de coral e os estuários. Vimos
também que eles diferem-se entre si, tanto nas características físicas como na
produtividade biológica. Por sua vez, as características particulares de cada um
determinam diferenças relacionadas ao habitat para uma grande diversidade
de organismos associados aos ambientes costeiros.

Atividade de aprendizagem

Indique quais são os principais ecossistemas costeiros do Brasil. Dentre eles,


em termos de produção pesqueira, qual pode ser o mais importante? Por quê?

VERSÃO DO PROFESSOR
Quais seriam menos produtivos e qual a explicação para isso?

Revisão

e-Tec Brasil 74 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Aula 7 – Ecossistemas oceânicos

Objetivos
Revisão

Identificar a origem dos oceanos e suas principais características


bióticas e abióticas.

Listar as divisões dos oceanos em função da topografia do fundo,


da profundidade e da incidência da radiação solar.

Descrever o fenômeno da ressurgência e as possíveis causas de sua


formação.

7.1 Origem e natureza dos oceanos


Os oceanos conformam os principais corpos de água salgada da Terra. Corres-
pondem a uma área de cerca de 361 milhões de quilômetros quadrados, que
ocupa 71% da superfície da Terra e forma uma massa contínua de água con-
VERSÃO DO PROFESSOR

formada por cinco principais oceanos. A figura apresenta os grandes oceanos


do globo terrestre: Glacial Antártico, Glacial Ártico, Atlântico, Índico e Pacífico.

Figura 7.1: Os cinco oceanos do globo terrestre


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://pt.wikipedia.org/wiki/Oceano>. Acesso em: 25 jul. 2013.

Os fundos oceânicos são formados por porções da crosta terrestre: a crosta


oceânica, que é densa e fina, e a crosta continental, que é mais espessa e
menos densa (Figura 7.2). As duas crostas flutuam nas densas camadas supe-
riores do manto terrestre. Geologicamente, a crosta oceânica é jovem, sendo

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 75 e-Tec Brasil


continuamente criada ao longo das cristas oceânicas, de intensa atividade
vulcânica, de onde emergem materiais magmáticos.

Fundo da Dorsal oceânica


Plataforma Talude bacia oceânica Cadeias montanhosas
continental continental (planície abisssal) Rifte Fossa continentais

Oceano

Crosta continental

Manto

Crosta oceânica Ponto quente Zona de subducção

VERSÃO DO PROFESSOR
Figura 7.2: Os fundos oceânicos
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://cdf4810.blogspot.com.br/2011/06/como-sao-os-fundos-
-oceanicos.html>. Acesso em: 31 jul. 2013.

7.1.1 Os organismos marinhos


Podemos classificar os organismos em bentônicos, que são aqueles que vi-
vem fixos ou livres no fundo ou que dependem deles para, por exemplo, se
alimentar; e os organismos pelágicos, que são aqueles que vivem na coluna
da água, não dependendo do fundo. Entre os organismos pelágicos, podemos
distinguir o plâncton e o nécton.

O plâncton inclui organismos sem movimentos próprios, ou sem movimentos


voluntários suficientemente fortes para vencer as correntes marinhas. Como
exemplos desses organismos, têm-se os ovos e larvas, algas e micro-organismos
animais (Figura 7.3). De forma diferente, o nécton é constituído por animais
nadadores, capazes de resistir às correntes de água (Figura 7.3).
Revisão
Os organismos marinhos respondem a três gradientes ambientais que são
determinantes para seu crescimento e sobrevivência:

a) O gradiente latitudinal: associado à sazonalidade da radiação solar,


difere dos polos para o equador. Assim, as baixas latitudes recebem mais
energia solar por m2 da recebida em altas latitudes (Veja aula 2). Essa
maior intensidade de energia nos trópicos aceleram o crescimento corpo-
ral, reprodução e determinam uma tendência pelos ciclos de vida curtos.

e-Tec Brasil 76 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


b) O gradiente de profundidade: No sentido da superfície até aos fun-
dos oceânicos, percebe-se uma diminuição na disponibilidade de luz, da
concentração de nutrientes, na temperatura e aumento da pressão. A
redução de luz no fundo e maior pressão na coluna da água determina
redução da diversidade e da produção em biomassa no ambiente.

c) Um gradiente na concentração dos nutrientes: maiores valores nas


águas costeiras e empobrecimento nas águas oceânicas ou abertas. As
Revisão

áreas costeiras apresentam a maior diversidade e produção de biomassa


em relação aos ambientes oceânicos. Os nutrientes variam sazonalmente
em áreas de ressurgência, onde existe alta produção do sistema aquático
num período do ano.

Representação de alguns
organismos do plâncton:
VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 7.3: Plâncton e nécton dos ambientes oceânicos


Fontes: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (plânctons) <http://massaliquida.blogspot.com.br/2012/04/
qual-o-significado-dos-termos-plancton.html>. (Nectons) <http://faculty.scf.edu/rizkf/OCE1001/OCEnotes/chap12.htm>.
Acesso em: 31 jul. 2013.

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 77 e-Tec Brasil


O Brasil está banhado pelo Oceano Atlântico. Pesquise sobre a produção pes-
queira em águas oceânicas brasileiras. Ela é alta ou baixa? Justifique, exempli-
ficando com algumas espécies oceânicas de importância na pesca.

7.2 O gradiente lumínico e da temperatura


De acordo com a profundidade, cerca de 98% das águas oceânicas profundas
não sofre efeito da radiação solar. Assim, de acordo com o grau de transparên-
cia das águas, a radiação solar pode alcançar até 250 metros de profundidade.

Como sabemos, a luz é um fator determinante, tanto da temperatura da água,


como da ocorrência de diversos fenômenos físicos como efeito nas camadas
de águas quentes e frias e processos metabólicos associados com alimentação,
crescimento e reprodução de muitos organismos.

A luz incidente penetra rapidamente as camadas de água e é absorvida. As


algas, através da fotossíntese, fixam os compostos orgânicos, um processo
que ocorre nas águas superficiais da zona eufótica (Figura 7.4). Nos oceanos

VERSÃO DO PROFESSOR
e em mar aberto, essa zona pode alcançar 150 m de profundidade. Abaixo
dessa camada, situa-se a zona afótica (Figura 7.4). Assim, a profundidades de
250 m, a luz é insuficiente para que ocorra qualquer processo biológico, pois
o oceano é escuro e a pressão aumenta a essa profundidade.

Por sua vez, com a radiação solar, ocorre o aquecimento das massas de águas
oceânicas superficiais, o que as torna menos densas, característica responsável
por mantê-las na superfície flutuando sobre as massas de água mais profundas,
frias e de maior densidade.

A interface entre essas duas massas de água, onde as trocas de calor se dão
de forma muito rápida, designa-se por termoclina.

Revisão

e-Tec Brasil 78 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Província nerítica Província oceânica

Zona epipelágica
Zona mesopelágica

Plataforma Zona infrapelágica


DOMÍNIO
continental PELÁGICO
Revisão

Zona batipelágica

Talude
continental Zona abissopelágica

Planície Fossas e
abissal ravinas abissais
VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 7.4: Subdivisão dos oceanos em função da topografia, da profundidade e da


penetração luminosa
Fonte: Ilustrado por: Alessandro de Oliveira. Adaptade de: <http://www.scribd.com/doc/143832478/BEMAR-Meio-Mari-
nho>. Acesso em: 01 ago. 2013.

Devido às diferenças de densidade entre as massas de água superficiais e


profundas, se forma uma barreira na mistura dessas duas massas de água e
nas substâncias dissolvidas e em suspensão. Por efeito da diferença de densi-
dade, as massas de água superficiais tendem a ficar desprovidas de nutrientes,
enquanto as águas mais profundas tendem a acumular grandes volumes de
reservas inacessíveis. Como exemplo, indica-se os nitratos (Figura 7.5).

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 79 e-Tec Brasil


1000

2000 Atlântico
Pacífico
Índico
3000

4000
0 10 20 30 40
No 3-N (μ g-atoms/L)

Figura 7.5: Distribuição vertical das concentrações de nitratos nos oceanos


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado <http://www.scribd.com/doc/143832478/BEMAR-Meio-Marinho>.

VERSÃO DO PROFESSOR
Acesso em: 02 ago. 2013.

7.3 Classificação dos oceanos de acordo


com a profundidade
Nas águas oceânicas profundas, denominadas de sistema afital, é re-
conhecida a carência de organismos fotossintetizadores. Esse sistema
abrange as zonas batial e hadal em áreas muito profundas da planície
abissal (Figura 7.4).

De acordo com as características dos fundos oceânicos, indique quais os prin-


cipais fatores que limitam a vida nos mesmos? Por que se tem baixa produção
pesqueira nas águas mais profundas?

7.4 A ressurgência e as correntes oceânicas


Revisão
A ressurgência consiste no movimento das águas profundas do oceano para a
zona eufótica (mais superficial). O fenômeno ocorre porque a matéria orgânica
é depositada nas águas profundas, onde por decomposição subsequente são
liberados os nutrientes. Com a ressurgência, ocorre o transporte (retorno) dos
nutrientes acumulados nas águas profundas até as águas superficiais, enrique-
cendo estas últimas. Com esse retorno à superfície dos nutrientes perdidos,

e-Tec Brasil 80 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


se estimula o crescimento do fitoplâncton, que é a fonte primária de energia
numa teia alimentar.

A ressurgência pode ocorrer através de três processos:

• por defleção de correntes profundas de água nas quais, ao encon-


trarem um obstáculo (e.g. uma crista oceânica), são defletidas (desvia-
das) para cima, alcançando as águas superficiais (Figura 7.6a);
Revisão

• afastamento de duas massas de água contíguas superficiais que for-


ma um espaço entre as mesmas, o qual será preenchido por água vinda
das camadas profundas. Esse fenômeno ocorre quando massas de água
equatoriais (menor latitude) se movem para maiores latitudes devido à
força de Coriolis (força que explica o desvio de qualquer objeto que
se locomove na superfície terrestre ou nos oceanos), ocasionando áreas
de divergência nas massas de água que serão preenchidas pelas águas
profundas (Figura 7.6b);

• o afastamento das massas de água das zonas costeiras, por


ação dos ventos, gerando um espaço, que será preenchido pelas
águas vindas das camadas mais profundas.(Figura 7.6c).
VERSÃO DO PROFESSOR

(A)
a (B)
b (C)
c

Movimento das águas profundas ricas em nutrientes

Movimento das águas superficiais pobres em nutrientes

Figura 7.6: Processos de formação da ressurgência: (a) Desvio de correntes profun-


das para a superfície por ação do relevo submarino; (b) Afastamento das
águas superficiais, como resultado do efeito de Coriolis, com subida das
águas profundas; (c) Junto à costa, por ação do vento.
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.scribd.com/doc/143832478/BEMAR-Meio-Mari-
nho>. Acesso em: 02 ago. 2013.

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 81 e-Tec Brasil


A Figura 7.7 ilustra como funciona a circulação para prover nutrientes. As áreas
de ressurgência geram importantes zonas pesqueiras.

Figura 7.7: Áreas de ressurgência importantes para a pesca. Mapa de: Espensade,
E.B., ed., 1950
Fonte: <http://www.unicamp.br/>. Acesso em: 02 ago. 2013.

VERSÃO DO PROFESSOR
De acordo com a Figura 7.7, indique quais são as principais áreas de ressurgên-
cia no Oceano Atlântico Brasileiro. Indague se realmente são áreas importantes
em produção pesqueira.

7.5 A vida no oceano


A vida nos ambientes oceânicos é de baixas densidades de organismos fito-
plânctonicos. O zooplâncton migra verticalmente nas águas subsuperficiais
durante a noite, quando a predação pelos carnívoros é menor, e descem
durante o dia. Alguns animais maiores, incluindo os peixes, aproveitam as
correntes marinhas, e os ventos também se deslocam desde a superfície até
águas profundas (até 800 metros) (Figura 7.8).
Revisão

e-Tec Brasil 82 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


meio-dia meia-noite meio-dia
(12:00) (00:00) (12:00)

500m
Revisão

1000m

Movimento dos zooplânctons e dos peixes

Figura 7.8: Migração diária dos organismos oceânicos


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Resumo
VERSÃO DO PROFESSOR

Estudamos nesta aula que os oceanos constituem a maior superfície do globo


terrestre e que diferem de acordo com a latitude. Além disso, estudamos a
classificação dos oceanos com base na incidência da radiação solar, na profun-
didade e no tipo de fundo. Também estudamos o fenômeno da ressurgência
e seus efeitos na produção biológica e nas áreas pesqueiras mais produtivas.

Atividade de aprendizagem
1. Das divisões oceânicas conhecidas, quais são as melhores estudadas e por
quê? Quais dessas divisões são as mais produtivas em termos de organismos?

2. A quais processos se deve a ressurgência? É um fenômeno bom ou ruim


para a vida dos oceanos? Explique.

Aula 7 – Ecossistemas oceânicos 83 e-Tec Brasil


Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos

Objetivos
Revisão

Compreender a escala de estudo dos organismos e sua resposta ao


meio (autoecologia).

Definir os conceitos tais como fator ecológico e fator limitante.

Diferenciar os tipos de classificação dos fatores ecológicos.

Conceituar competição intra e interespecífica.

8.1 Autoecologia
A autoecologia estuda a influência dos fatores ambientais bióticos e abióticos
e busca explicar como os organismos respondem a eles. Seu principal objetivo
consiste em constatar as adaptações fisiológicas e etológicas (comporta-
VERSÃO DO PROFESSOR

mentais) dos organismos a um determinado meio. Através da autoecologia,


podemos definir os limites de tolerância e as preferências dos organismos aos
diversos fatores ecológicos. Mas, o que é um fator ecológico?

Qualquer organismo vivo está sujeito a influencia de fatores climáticos, edáfi-


cos (tipos de solos), químicos ou bióticos. Assim, compreende-se como fator
ecológico todo elemento do meio susceptível de agir diretamente sobre os
organismos durante alguma fase de seu ciclo de vida.

Os fatores ecológicos afetam os organismos de diversas formas.

Por efeito de fatores climáticos ou físico-químicos, o metabolismo dos orga-


nismos pode ser afetado; assim, os organismos procuram as condições ideais
para suas atividades fisiológicas que afetam a distribuição geográfica.

Já fatores como a disponibilidade de alimento ou temperatura da água,


podem afetar as taxas de fecundidade e de mortalidade, além de atuarem
nos ciclos de desenvolvimento, determinando a densidade (número) de
organismos e suas migrações.

Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 85 e-Tec Brasil


Outros fatores ecológicos como mudanças sazonais no regime de cheia ou
seca, ou de temperatura sazonal podem induzir mudanças no metabolismo dos
organismos, os quais optam pela hibernação ou estivação (estado fisiológico
de latência ou repouso) de muitos organismos.

8.2 O fator limitante


O fator limitante é um fator ecológico que alcança valores inferiores ou supe-
riores aos limites de tolerância de um organismo, restringindo a ocorrência do
mesmo. A falta de um fator ecológico pode limitar a possibilidade de ocupação
de uma área ou um ambiente por um organismo (Figura 8.1).

Limites de tolerância da espécie

Zona ótima para a sobrevivência do coral

VERSÃO DO PROFESSOR
Mínima 18ºC Ótima 26ºC Máxima
Fator ecológico temperatura (ºC)

Figura 8.1: Limites de tolerância de uma espécie de coral em função do fator ecológico
temperatura da água (oC)
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Por exemplo, níveis baixos de fosfatos podem limitar a produtividade das algas
marinhas (fitoplâncton) e determinar baixa abundância. Nos grandes reserva-
tórios, ricos em matéria orgânica e pobres em oxigênio, ocorre um processo
de decomposição anaeróbica. A falta de oxigênio define um fator limitante
Revisão
para muitos peixes e moluscos, que não conseguem sobreviver em condições
de hipóxia (baixos níveis de oxigênio).

Nos manguezais, os sedimentos lodosos também são pobres ou carecem


totalmente de oxigênio (anóxicos). Estas condições limitam ou impedem a
ocorrência de alguns organismos não adaptados a essas condições extremas.

e-Tec Brasil 86 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


O fator limitante diz respeito aos limites inferior e superior ou limites de
tolerância de determinado organismo. Entre esses limites, se inclui o ótimo
ecológico de uma espécie.

A valência ecológica de um organismo consiste em sua capacidade de habitar


ambientes com grandes variações de um ou mais fatores ecológicos. Assim,
organismos com baixa valência ecológica que suportam limitadas variações de
Revisão

um fator ecológico denominam-se estenoécios. Já um organismo com capa-


cidade para habitar ambientes com grande variação dos fatores ecológicos,
denomina-se de euriécio.

Quadro 8.1: Valência ecológica de acordo com o fator ecológico


Fator ecológico Valência esteno Valência euri

Temperatura estenotérmica euritérmica

Salinidade estenohalina eurihalina

Distribuição espacial estenotópica euritópica

Alimentação estenófaga eurífaga

Assim, nos ambientes estuarinos com grandes variações diárias de salinidade,


persistem algumas espécies eurihalinas, sendo eliminadas as espécies estrita-
VERSÃO DO PROFESSOR

mente marinhas ou de águas doces continentais (estenohalinas).

A valência ecológica pode variar numa mesma espécie de acordo com seu está-
gio de desenvolvimento (ontogenético). No litoral norte do Brasil, a pescadinha
go (Macrodon ancylodon) apresenta uma valência ecológica com diferenças
ontogenéticas. Enquanto os juvenis tendem a ocupar os ambientes estuarinos
mais internos com menores teores de salinidade, as áreas mais externas e com
maiores concentrações de salinidade são habitadas pelos adultos reprodutores
da mesma espécie (Figura 8.2).

Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 87 e-Tec Brasil


Ambiente
costeiro

Ambiente Baía Área


fluvial de desova

Estágios larvais
Juveniles

3-15

18-36

8-33

VERSÃO DO PROFESSOR
Figura 8.2: Distribuição espacial no gradiente de salinidade do peixe pescadinha go
(Macrodon ancylodon) no estuário do rio Caeté — litoral norte do Brasil.
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

8.3 Classificação dos fatores ecológicos


A forma mais simplificada de agrupar os fatores ecológicos inclui: os fatores
abióticos e os fatores bióticos. Dentre os fatores abióticos, incluem-se os
climáticos, as características do solo, a composição química da água. Os fatores
bióticos compreendem as relações entre os organismos como a predação (um
se alimentando do outro), competição (concorrendo pelo espaço ou alimento)
e o parasitismo (um aproveita o outro para beneficio próprio).

Entretanto, algumas vezes é difícil classificar um fator abiótico, dado que mui-
tas vezes este pode ser modificado pela presença dos próprios organismos.
Revisão
Vários peixes cascudos ou acaris, da família Loricariidae, constroem seus ninhos
que consistem em covas escavadas nas margens dos leitos de rios e lagos. Para
manter as desovas em ótimas condições de oxigenação, através de movimentos
contínuos da nadadeira caudal, renovam as águas e a oxigenação das águas
nos ninhos, diminuindo assim a temperatura no interior dos mesmos.

e-Tec Brasil 88 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Classifique os seguintes fatores em bióticos e abióticos e explique brevemente
o porquê da sua escolha.

• Aumento da temperatura média da água de uma poça.

• Proteção do ninho de uma espécie de acará.

• Diminuição da concentração de oxigênio dissolvido na água.


Revisão

• Aumento da salinidade no estuário com a entrada da maré.

• Concorrência de dois caranguejos ermitãos pelo espaço no estuário.

• Produção de enxofre na coluna da água por decomposição de macrófi-


tas.

• Diminuição dramática do regime de chuvas locais.

• Mudanças de temperatura por efeito do fenômeno do Niño.

Outro sistema de classificação dos fatores ecológicos os divide em fatores


VERSÃO DO PROFESSOR

dependentes ou independentes da densidade. Os fatores independentes


atuam nos organismos provocando mortalidade de uma parcela de indivíduos
de uma espécie, de forma independente da abundância dos mesmos. Geral-
mente, esses fatores são climáticos. Por exemplo, uma mudança drástica e
repentina da temperatura ambiental (gelada) pode conduzir a mortandade
em massa de vários organismos numa área geográfica.

Em vários ambientes aquáticos amazônicos, muitas vezes durante a noite,


com a diminuição da temperatura ambiental, ocorrem inversões térmicas e
as águas menos oxigenadas sobem à superfície, provocando uma dramática
mortandade dos peixes que não tem adaptações para suportar condições
extremas de hipóxia.

Um fenômeno análogo ocorre nos estuários, nos quais alguma mudança


repentina da maré pode alterar dramaticamente a concentração de salinida-
de local, provocando a mortalidade em massa de peixes adaptados a baixas
concentrações de salinidade.

Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 89 e-Tec Brasil


Já os fatores dependentes da densidade estão ligados ao crescimento
dramático da população (aumento do número de indivíduos). Assim através
de autocontrole da população através de processos naturais como competição
ou canibalismo, pode ser controlada a densidade populacional e, portanto, a
limitação por espaço ou alimento que pode destruir a mesma população.

Assim, por exemplo, muitos organismos tornam-se pragas quando encontram


excelente oferta alimentar, que causa um aumento exagerado da população
em curtos espaços de tempo e, por limitação ou esgotamento do alimento
disponível, o mesmo não sustenta a população crescente, o que conduz a um
iminente declínio populacional por mortalidade de muitos organismos, devido
à falta de alimento.

Classifique os mesmos fatores indicados na anterior atividade dentro da cate-


goria dependentes e independentes da densidade.

8.4 Os fatores climáticos

VERSÃO DO PROFESSOR
O processo de intercâmbio de calor e umidade entre a terra e a atmosfera
durante longos períodos de tempo resulta em condições que se denominam
clima. Dessa forma, o clima conjuga as condições atmosféricas, que agregam
o calor, a umidade e o movimento do ar. Já o tempo no sentido climático,
corresponde ao estado diário da atmosfera e faz parte de pequenas mudanças
em condições de calor, umidade e movimento do ar. O tempo resulta funda-
mentalmente de processos que tentam igualar diferenças na distribuição da
energia radiante recebida do Sol.

A climatologia é a ciência que explica e descreve a natureza do clima, como


este difere de um lugar para outro e como afeta as atividades humanas. A
climatologia está estreitamente ligada à meteorologia que trata das condições
atmosféricas do dia a dia e de suas causas. Assim, a meteorologia é definida
como a física da atmosfera, que utiliza métodos da física para interpretar e
explicar os processos atmosféricos.
Revisão
De acordo com a escala espacial na qual se pretende realizar um estudo, deve-
-se ter uma noção dos fatores climáticos que podem afetar os organismos do
ambiente estudado. Conforme essa escala, podemos definir o macroclima
(clima regional), o mesoclima (clima local) e o microclima (ecoclima).

e-Tec Brasil 90 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


O macroclima é o resultado da posição geográfica (latitude) e da ocorrência
ou não de grandes montanhas (orográfica). Por exemplo: o clima do bioma
amazônico está determinado pela sua posição na região equatorial, que é
quente e chuvosa devido aos efeitos de condensação de grandes massas de
ar úmido que, ao se encontrarem com a barreira dos Andes, se transformam
em chuva.

O mesoclima ao nível local, por sua vez, está relacionado às variações climáticas
Revisão

ocasionadas por algum fator, como a proximidade de uma floresta ou de uma


área aberta, que determinarão ambientes mais amenos ou com mudanças
dramáticas de temperatura e umidade.

Por fim, o microclima corresponde ao clima que afeta os organismos. Através


de seu estudo, podemos evidenciar os fatores determinantes para a ocorrência
de uma espécie. Requerem-se aparelhos com alto grau de precisão que meçam
pequenas mudanças.

8.5 Fatores climáticos na escala regional


Como já vimos na segunda aula, a principal fonte de energia na Terra é de
origem solar. Assim, após a atmosfera atuar como filtro de alguns raios, parte
da energia chega até a superfície da Terra, mantendo a regulação do clima.
VERSÃO DO PROFESSOR

Dessa forma, a energia que chega no solo das áreas tropicais, se mantém
praticamente constante na variação sazonal.

8.5.1 A temperatura
As maiores isotermas (linhas imaginárias que definem os limites de tempe-
ratura) anuais são aproximadamente paralelas à linha do equador, mesmo
apresentando modificações ligadas às massas continentais. Assim, nas regiões
intertropicais, a variação diária da temperatura é superior à variação anual (isto
é, a diferença entre a média do mês mais quente e a do mês mais frio). Essa
particularidade tem importantes consequências biológicas, tais como acelera-
ção do metabolismo e das taxas de crescimento dos organismos e, portanto,
ciclos de vida mais curtos.

8.5.1.1 A pluviosidade
Mesmo com algumas áreas extremamente secas como o deserto do Saara na
África e do Atacama no Chile, as zonas intertropicais tendem a ter as maiores
regimes de precipitação anual quando comparadas às extratropicais.

Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 91 e-Tec Brasil


8.5.2 A iluminação e a temperatura nas águas
A absorção da radiação solar é muito rápida na água. Assim, de acordo com a
faixa do espectro da luz e quanto maior seja a transparência das águas, algumas
faixas como as de radiação azul penetram mais profundamente, ultrapassando
100m de profundidade. Já quando a água contém elementos em suspensão
ou em solução, estes absorvem uma parte suplementar das radiações, o que
explica na cor verde esmeralda das águas de certos lagos claros.

Em alguns lagos, é possível diferenciar, em função da profundidade, três


zonas: uma primeira superficial ou epilímnio, agitada pelo vento, rica em
oxigênio dissolvido e em fitoplâncton (organismos fotosintetizadores micros-
cópicos), bem iluminada, e na qual a temperatura declina lentamente com
a profundidade; uma zona de transição, o termoclínio ou metalímnio, na
qual a temperatura decresce rapidamente de 1 grau pelo menos por metro;
uma zona profunda ou hipolímnio, que vai até o fundo, pobre em oxigênio,
pouco iluminada ou mesmo inteiramente escura, pobre em fitoplâncton e cuja
temperatura varia pouco durante o ano (Figura 8.3).

VERSÃO DO PROFESSOR
ºC
epilímnio

metalímnio

hipolímnio

Figura 8.3: Estratificação térmica num lago indicando a variação de temperatura (°C)
Revisão
acompanhando a profundidade (m)
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Com base nas escalas de estudo do clima, indique para sua localidade um
exemplo de cada uma destas de preferência em ambientes aquáticos locais.

e-Tec Brasil 92 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


8.5.3 Os Fatores Bióticos
As interações que ocorrem entre os diversos organismos de um mesmo am-
biente são denominadas de fatores bióticos. Essas interações podem ocorrer
entre indivíduos de uma mesma espécie, as que se denominam de homotípi-
cas, ou entre indivíduos de espécies diferentes: reações heterotípicas.

Dentre as reações homotípicas, se incluem o efeito de grupo por formação de


colônias dos indivíduos com diversas finalidades reprodutivas ou alimentares.
Revisão

Uma consequência importante desse tipo de reação consiste na aceleração da


velocidade do crescimento.

No caso de muitos peixes denominados migradores ou peixes de piracema,


se agrupam geralmente em ambientes aquáticos pouco profundos e em al-
guns casos transicionais, como mecanismo de otimizar a fecundação e assim
manter as populações naturais. Outros peixes de ambientes de águas claras
continentais ou oceânicas, como mecanismo de defesa contra predadores,
formam densos cardumes de peixes que dificultam o ataque de um predador.

A competição intraespecífica ocorre entre organismos da mesma espécie


como forma de controlar, por exemplo, seu território. Esse tipo de compor-
tamento é muito frequente entre peixes de ambientes de recifes de coral ou
entre os acarás ou tucunarés da família Cichlidae.
VERSÃO DO PROFESSOR

As reações heterotípicas consistem nos efeitos que pode ter a coabitação de


duas espécies. Elas podem ser de tipo nulo (neutralismo), favorável (mutualis-
mo) ou desfavorável (parasitismo).

A competição interespecífica é um tipo de reação heterotípica. Assim, a


procura de um mesmo recurso ou abrigos ou lugares de desova por membros
de espécies diferentes torna uma interação desfavorável entre as mesmas. Esse
tipo de reação pode causar efeito na distribuição geográfica dos organismos.

Pesquise e indique sete exemplos de competição inter e intraespecífica em


ambientes aquáticos, de preferência, tropicais.

Aula 8 – Autoecologia – a ecologia dos organismos 93 e-Tec Brasil


Resumo

Nesta unidade, tratamos da abordagem autoecológica que consiste em


explicar como um organismo reage, principalmente, desde o ponto de vista
fisiológico ou comportamental a um determinado fator ecológico. Definimos
os conceitos de fator ecológico e de fator limitante para o estabelecimento
ou que pode afetar as características de desenvolvimento normal de um
organismo. Classificamos, ainda, os fatores ecológicos em bióticos e abióticos
e em dependentes ou independentes da densidade. Finalmente, foi tratado
o conceito de fatores biológicos, incluindo as relações de tipo homotípicas e
heterotípicas entre os organismos.

Atividade de Aprendizagem

1. Os fatores ecológicos se classificam em dependentes e independentes da


densidade e fatores bióticos e abióticos. Construa uma tabela, indique
cinco fatores ecológicos e classifique-os dentro dessas duas categorias.

VERSÃO DO PROFESSOR
2. Você poderia estabelecer, de acordo com o conceito de fator limitante,
algum fator que afete um organismo de sua região? Explique de qual
forma ele afeta o organismo.

3. Você já vivenciou algum efeito negativo em alguns organismos ocasio-


nados por mudanças ambientais na sua região? Indique e explique quais
mudanças e quais os efeitos nesses organismos.

Revisão

e-Tec Brasil 94 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia

Objetivos
Revisão

Definir os conceitos de população natural e de estoque pesqueiro.

Diferenciar os tipos de distribuição espacial e os métodos de avaliar


a densidade populacional.

Diferenciar o efeito de alguns parâmetros populacionais nas popu-


lações de peixes tropicais e de áreas temperadas.

9.1 Demoecologia
A demoecologia é o ramo da ecologia que investiga a dinâmica e os processos
adaptativos das populações.

Uma população corresponde ao conjunto de indivíduos de uma espécie que


VERSÃO DO PROFESSOR

habita determinado território, mantendo-se estável nas diferentes faixas de ida-


de no tempo (Figura 9.1). Exemplo: a população de baleia-jubarte (Megaptera
novaeangliae) no Atlântico Sul; a população de ostra do mangue (Crassotrea
rhizophorae) no litoral Pernambucano; a população de pirarucus do meio rio
Solimões (Arapaima gigas).

A população tem como atributos natalidade, mortalidade, proporção de


sexos (relação do número de machos e fêmeas), distribuição de idades, emi-
gração (saída de indivíduos) e imigração (entrada de indivíduos de outros
ecossistemas vizinhos).

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 95 e-Tec Brasil


Figura 9.1: População de tucunarés (Cichla sp)
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

VERSÃO DO PROFESSOR
O manancial ou estoque pesqueiro é um subconjunto da população de
peixes que possui: acasalamento ao acaso, características biológicas similares
(crescimento, mortalidade) e habita numa determinada área geográfica (zona
costeira, lago ou rio) com limites ambientais definidos. O estoque tem potencial
para ser pescado e é explorado atualmente.

Os processos que regulam o tamanho populacional de um estoque incluem: a


reprodução, o recrutamento (entrada de novos indivíduos no estoque), o cres-
cimento individual e a mortalidade (Figura 9.2). Assim, o numero de peixes é
aumentado através da reprodução dos adultos, que resulta num processo de
recrutamento de novos indivíduos. Por sua vez, o peso ou a biomassa do estoque
pesqueiro é aumentado através do crescimento dos indivíduos (Figura 9.2).
Revisão

e-Tec Brasil 96 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Crescimento

Recrutamento
Mortalidade
por pesca

Mortalidade
natural
Revisão

Reprodução

Figura 9.2: Dinâmica de uma população


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de M. King (1995).

Simultaneamente ao crescimento do estoque, ocorre também a redução desse


mesmo estoque em número e biomassa pela mortalidade natural (por preda-
ção, competição, doença ou senilidade) e mortalidade por pesca (quando se
trata de espécies exploradas).

Neste site <http://webpages.fc.ul.pt/~hncabral/index_files/EP6.pdf>


VERSÃO DO PROFESSOR

Você encontrará alguns exemplos dos conceitos de estoque ou manancial, da


população, de abundância da população e tamanho da população.

9.2 Objetivos da ecologia pesqueira


O maior objetivo da ecologia pesqueira é estimar os parâmetros populacionais
(abundância do estoque, crescimento, mortalidade e recrutamento). Dado que
uma população ou estoque é dinâmica devido a estar totalmente em interação
com o meio ambiente, o estoque pesqueiro varia, aumentando ou diminuindo
em número de indivíduos.

Os parâmetros populacionais podem ser estimados a partir do número de pei-


xes para diferentes tamanhos corporais (dados de distribuição de frequência)
e taxas de captura (captura por unidade de esforço – CPUE).

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 97 e-Tec Brasil


9.3 Distribuição e abundância
Todas as espécies têm limites geográficos naturais, assim uma mesma espécie
pode existir em pequenas subpopulações mais ou menos isoladas que se de-
nominam de unidades de estoque. A unidade de estoque se caracteriza por
ter características biológicas similares e pode ser objeto de estudo para a pesca.

Nos estudos da pesca, as estimativas de abundância do estoque são muito


importantes como um meio para estimar outros parâmetros populacionais
como a sobrevivência e a produção.

9.3.1 A abundância relativa


O índice mais comum para estimar a abundância relativa de um estoque é a
captura por unidade de esforço (CPUE) (Figura 9.3). A captura (C) e o esforço
pesqueiro (f) são dados usualmente coletados em todas as pescarias maneja-
das. O esforço pode ser medido em termos da área das malhadeiras utilizadas,
número de dias de pesca, número de pescadores, número de barcos atuando,
entre outros.

VERSÃO DO PROFESSOR
A captura por unidade de esforço (C/f ou CPUE) pode ser registrada de dife-
rentes formas: número ou peso dos peixes capturados por pescador, ou de
camarões capturados por hora de arrasto de fundo, quilogramas de pescado
por m2 de malhadeira e, se o número de dias de pesca for conhecido, uma
medida mais precisa de CPUE deve ser quilogramas por dia. O princípio pelo
qual se usam dados de CPUE consiste em que as mudanças neste índice refli-
tam mudanças na abundância dos organismos no estoque.

Revisão

Figura 9.3: Ilustração de uma rede de espera para estimar a CPUE por unidade de área
de malhadeira
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de M. King (1995).

e-Tec Brasil 98 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Exemplo: Se um pescador captura 50 quilogramas de pescado por dia numa
área de pesca e em outro captura 100 quilogramas por dia em uma segunda
área, pode-se inferir que existe duas vezes a quantidade de pescado na segun-
da área em relação à primeira? Para que esses resultados sejam comparáveis,
torna-se necessário eliminar efeitos de variação como o fato de os pescadores
terem a mesma experiência, utilizarem o mesmo tempo de pesca e os mesmos
apetrechos de pesca e serem comparáveis nas duas áreas.
Revisão

Suponha que a experiência dos pescadores é igual e que eles utilizam os mes-
mos aparelhos de pesca, entretanto o primeiro pesca durante duas horas por
dia, e o segundo pesca oito horas. De acordo com o anterior exemplo, calcule
a CPUE por hora e por pescador. Em seguida, compare os resultados em termos
de definir qual seria a área mais produtiva na pesca.

9.3.2 Abundância absoluta


Faz referência ao número atual de indivíduos numa área ou no total do estoque
pesqueiro. Raramente, como no caso dos salmões que estão subindo no retor-
no aos rios para desovar, é possível contar todos os indivíduos na população.
Em muitos dos casos, é necessário estimar a abundância absoluta através da
contagem do número de indivíduos em amostras tomadas do estoque, por
experimentos de marcação e por observação (Figura 9.4).
VERSÃO DO PROFESSOR

Amostra Estoque

Figura 9.4: Diferentes amostras coletadas de uma população


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 99 e-Tec Brasil


9.3.2.1 Contagens parciais
Um método direto de estimar a abundância absoluta consiste em contar o
número de indivíduos em amostras pequenas do total da população. Por exem-
plo, a abundância absoluta pode ser obtida por contagem dos indivíduos em
várias amostras.

O método da área varrida:

Uma rede de arrasto é utilizada para estimar a média de captura de um estoque


em diferentes estações. A captura média por unidade de área varrida pela rede
(a) é multiplicada pela área de distribuição do estoque (A) para estimar o ta-
manho do estoque, ou, geralmente, o total em unidades de peso (Figura 9.5).

VERSÃO DO PROFESSOR
Área de distribuição do Área varrida
Estoque

Figura 9.5: Rede de arrasto de fundo para estimar o tamanho do estoque pesqueiro
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de M. King (1995).

9.3.2.2 Censos e observações subaquáticas


Revisão
Os censos subaquáticos incluem tanto a contagem, como o registro de classes
de tamanho. Podem ser feitos com câmeras filmadoras ou por meio de obser-
vação direta por observadores treinados, que podem percorrer transeptos ou se
manter fixos num local determinado. Através da área percorrida ou delimitada,
pode ser estimado o número de indivíduos por unidade de área (Figura 9.6).

e-Tec Brasil 100 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Revisão

6m

6m
VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 9.6: Método de censos subaquáticos


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
-81752007000400037&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 ago. 2013.

9.3.2.3 Métodos acústicos


As técnicas acústicas envolvem o uso de ecossondas (emitem pulsos de energia
sonora liberados e retornam em forma de sinais de eco), que traduzem os sinais
para estimar o tamanho e as densidades dos cardumes de peixes na coluna
de água (Figura 9.7).

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 101 e-Tec Brasil


Gravador de eco
Estação
Plataforma flutuante

Ecosonda

Figura 9.7: Métodos acústicos para estimar o tamanho dos cardumes


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/
S0044848699003610>. Acesso em: 20 ago. 2013.

VERSÃO DO PROFESSOR
9.3.2.4 Outros métodos
Alguns outros métodos se aplicam de acordo com o tamanho dos organismos.
Consistem no uso de redes cônicas finas de diversos tamanhos de malha,
que se aplicam para o plâncton (organismos microscópicos tanto autótrofos
como heterótrofos, que vivem em suspensão, flutuando livremente ou com
movimentos fracos, sendo arrastados passivamente pelas correntezas). Assim,
com base num volume de água filtrada e concentrada, é possível estimar a
densidade de organismos por unidade de volume (por exemplo: número de
rotíferos por metro cúbico de água filtrada) (Figura 9.8)

a b

Revisão

Figura 9.8: redes de plâncton


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (a) <http://pelacus.wordpress.com/2011/04/17/si-amanece-nos-
-vamos/>. (b) <http://nitroalboran.blogspot.com.br/>. Acesso em 26 jun. 2013.

e-Tec Brasil 102 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


No caso de organismos maiores como macroinvertebrados, são utilizadas redes
de arrasto de fundo (Figura 9.8.a), nas quais, com base numa área conhecida
que foi varrida no fundo, e conhecendo o número de indivíduos capturados da
espécie em estudo, é possível conhecer a densidade expressa em organismos
por unidade de área (ex: número de moluscos por metro quadrado). Outra
armadilha consiste na rede de Surber, que se adequa a ambientes de correnteza
e pouco profundos (Figura 9.9.b).
Revisão

b
VERSÃO DO PROFESSOR

Figura 9.9: (a) Rede de arrasto para coleta de organismos bentônicos (de fundo)
como moluscos por unidade de área; (b) Rede de Surber para ambientes
de correnteza como corredeiraú
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (a) <http://www.kc-denmark.dk/>. (b) <http://www.kc-denmark.dk/>.
Acesso em 23 ago. 2013.

9.3.2.5 Marcação e recaptura


Um outro método para estimar o tamanho da população consiste na captura
e recaptura, que se adequou principalmente para ambientes fechados como
lagos e reservatórios. Consiste na captura e marcação de uma amostra de
indivíduos da população e sua posterior liberação. Após um tempo de liberação
para permitir que os indivíduos marcados se misturem ao resto da população,

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 103 e-Tec Brasil


uma segunda amostragem feita registra o número de indivíduos capturados e
recapturados (já marcados na primeira captura) (Figuras 9.10 e 9.11).

Estoque
= Tamanho do Estoque (N)

= Peixes marcados (T)

Captura
= Total capturados (C)

= Total recapturados (R)

Figura 9.10: Ilustração do método marcação e recaptura para estimar o tamanho da


população ou do estoque pesqueiro num ambiente fechado
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (M. King (1995).

VERSÃO DO PROFESSOR
Se pressupomos que a razão dos indivíduos marcados para os não marcados
na segunda amostragem é representativa da relação para a população inteira,
então pode ser estimado o tamanho populacional. A relação para o cálculo
pode ser:

T/N = R/C Então N = T.C/R

T: indivíduos marcados

N: Os indivíduos do estoque inteiro

R: Indivíduos recapturados (marcados na primeira captura)

C: Número total de indivíduos na segunda captura (marcados e não marcados).


Revisão

e-Tec Brasil 104 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Revisão

Figura 9.11: Diversos tipos de artefatos para marcação de organismos aquáticos


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de (M. King (1995).

Simule com seus colegas de turma uma população de peixes de um lago, o


qual você deseja estimar através do método de marcação e recaptura o tama-
nho (número total de peixes). Para isso, será preciso um pacote de feijão preto,
um saco plástico preto e corretivo de texto líquido. Com base numa quantidade
grande de feijões depositada no saco, colete uma amostra que será a primeira
captura; marque essa amostra com corretivo; deixe secar e retorne ao saco com
VERSÃO DO PROFESSOR

o restante dos feijões. Depois, misture os feijões e retire uma segunda amostra
composta de feijões não marcados (capturados pela primeira vez) e marcados
(recapturados). De acordo com o método mencionado, calcule o número total
de feijões. Repita a experiência e obtenha a média através da divisão da soma
das três estimativas por três (replicações).

9.3.3 Distribuição espacial dos indivíduos de


uma população
A distribuição dos indivíduos numa população faz referencia à sua concen-
tração ou à distância relativa entre um e outro indivíduo num habitat natural.
Os padrões de distribuição espacial podem ser do tipo agrupada, na qual os
indivíduos encontram-se aninhados em grupos distintos (Figura 9.10). Ocorre
em peixes nos quais a tendência é de permanecerem juntos em cardumes nas
diferentes idades. É a distribuição mais comum na natureza. As vantagens de
viver em grupos podem incluir um melhor acesso aos parceiros sexuais, um
aumento das possibilidades de achar alimento e um alto grau de proteção
contra predadores.

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 105 e-Tec Brasil


A distribuição randômica ou ao acaso consiste na distribuição dos indivíduos
numa área sem qualquer dependência de proximidade com outros (Figura
9.10). Este tipo de distribuição não é comum na natureza. Ocorre quando não
há antagonismo ou repulsão social, e sim atração mútua.

Na distribuição homogênea ou uniforme, cada indivíduo mantém uma


distância mínima entre si e seus vizinhos (Figura 9.10). Esse tipo de distribui-
ção é rara na natureza, ocorrendo muitas vezes devido à intensa competição,
territorialismo ou à agressão entre os indivíduos. Os peixes carnívoros e muitos
de ambientes de recifes de coral, geralmente escolhem um território por terem
um caráter muito individualista, parecem ter uma distribuição uniforme.

A distribuição dos indivíduos também pode estar afetada por gradientes


ambientais, por exemplo, em função da profundidade. Alguns organismos
se agrupam num determinado limite de profundidade, se achando poucos
indivíduos em maiores profundidades que se denomina distribuição em
gradiente (Figura 9.12).

VERSÃO DO PROFESSOR
Distribuição Distribuição Distribuição Distribuição
uniforme agrupada ao acaso em gradiente

Figura 9.12: Tipos de distribuição espacial dos organismos de uma população


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Colete com uma tarrafa pequena ou com uma peneira, numa poça de sua
Revisão
localidade, os indivíduos de uma espécie de peixe conhecida. Represente com
pontos, numa área similar a da figura 9.10, o número de indivíduos por lance
ou arrasto em cada ponto de coleta. Qual tipo de distribuição espacial seria o
mais próximo para essa espécie, de acordo com a figura 9.9? Explique breve-
mente sua resposta.

e-Tec Brasil 106 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


No site ao lado você encontrará informações sobre os fatores que determinam
a distribuição espacial dos peixes em ambientes de águas lénticas.
http://www.google.com.br/
url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s
&frm=1&source=web&cd=
9.3.4 A proporção sexual 2&ved=0CDgQFjAB&url=ht
Um fator importante nas populações é a relação dos sexos ou sex-ratio, que tp%3A%2F%2Feduem.uem.
br%2Fojs%2Findex.php%2FAc
indica qual a proporção de machos em relação à de fêmeas. Essa proporção taSciBiolSci%2Farticle%2Fdow
raramente é igual, já que, na maioria das vezes, um dos sexos está mais bem nload%2F2963%2F2113&ei=e
N4oUcekOPG10AGCzIGIDg&u
representado que o outro. Para obter essa proporção, basta dividir os indiví- sg=AFQjCNE663I-IOgZOIIEsuQ
4FALZaBc4IQ&sig2=QndAkoaY
Revisão

duos que já foram sexados (identificados em seu sexo) como machos pelo BBXO9hxQnHNNcg
número de fêmeas.

Geralmente, nos peixes que apresentam grande fecundidade (muitos ovos


por fêmea), predomina a proporção de machos em relação às fêmeas, devido
principalmente à necessidade de otimizar a fecundação quando vários machos
semeiam altas densidades de ovos liberados por uma fêmea.

9.3.5 O crescimento das populações (dinâmica


populacional)
Devido às mudanças no tempo e no espaço da densidade de indivíduos,
nenhuma população pode ser considerada estática. Em 1845, o matemático
francês Verhulst lançou a hipótese de que o crescimento das populações
humanas é representado por uma curva em forma de S, chamada curva
VERSÃO DO PROFESSOR

logística, que evidencia uma densidade máxima da população, que


corresponde ao estoque limite ou ainda à carga biótica máxima do meio
considerado (Figura 9.13).

Capacidade de
suporte máxima

Tempo

Figura 9.13: Curva de crescimento logístico de uma população


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de Odum e Barrett (2007).

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 107 e-Tec Brasil


O comportamento dinâmico de uma população é influenciado essencialmente
por dois fenômenos opostos: os nascimentos e as mortes, e o efeito dos mo-
vimentos de emigração e imigração dos indivíduos.

No caso específico dos peixes, que são alvo da pesca, a mortalidade, além
de ser natural (M) devido à seleção dos indivíduos melhor adaptados, (por
mortalidade, por competição pelo alimento, pelo espaço, predação, doença e
senilidade), tem-se o efeito da mortalidade por pesca (F), de forma tal que se
indica um fator de mortalidade total (Z) que corresponde a Z=F+M, no caso
de populações de peixes que são pescadas.

À entrada de novos indivíduos na população, em uma ou em várias épocas do


ano, através da reprodução, denomina-se recrutamento. Assim, os recrutas que
entram periodicamente na população substituem os que morrem por diversas
causas. Dessa forma, a dinâmica da população depende fundamentalmente
dessa relação entre os que entram menos os que saem da população num
intervalo de tempo (Figura 9.14).

VERSÃO DO PROFESSOR
Número de recrutas Número de mortos Número de indivíduos
que entram no no tempo na população
primeiro ano

1 1 2 3 1 2 3

Tempo em anos Tempo em anos Tempo em anos

Figura 9.14: Observa-se que a população está crescendo no tempo porque nascem
novos recrutas e cada vez morrem menos
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.
Revisão
Elabore uma entrevista com os pescadores de sua região e tente, com base no
conhecimento deles, identificar, para uma determinada espécie de peixe, em
qual época do ano ocorre o nascimento de novos indivíduos na população e
quando se tem maior intensidade de pesca ao longo do ano. Com base na sua
entrevista, indique se existe um período de recrutamento de novos indivíduos
na população e, quando se tem, o maior efeito da mortalidade (F). Explique
sua resposta.

e-Tec Brasil 108 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


9.4 Grupos de idade
Dentro da avaliação de estoques em ambientes tropicais para definir grupos de idade
(coortes) com base em amostras de indivíduos de um determinado ambiente, se
pressupõe que existe uma relação entre a idade e o comprimento. Se conhecemos
essa relação, podemos converter as frequências de comprimento em frequências de
idade. Assim, a figura representa quatro grupos de idade (coortes), construídos com
base num número de indivíduos de diferentes tamanhos (Figura 9.15).
Revisão
VERSÃO DO PROFESSOR

1 2 3

Figura 9.15: A figura representa a dinâmica de uma população com muitos jovens
entrando (recrutas), representados pela maior curva de frequência (1),
seguida por um menor número de pré-adultos (2) e, em sequencia, um
número menor de indivíduos adultos com as menores curvas de frequ-
ência de indivíduos (3) e sucessivas, devido à mortalidade no tempo.
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira. Adaptado de Sparre e Venema.

9.5 Os recursos pesqueiros tropicais


Cerca de 53% das capturas dos recursos pesqueiros marinhos são de proce-
dência de países tropicais e, dado que esses recursos fornecem cerca de 1/3 a
1/2 do total de proteína animal consumida pelas populações humanas pobres,
os estoques têm sido sobre explorados e as pescarias sobre capitalizadas.

De forma geral, existem alguns parâmetros das populações de peixes tropicais


que são comuns e que funcionam de forma diferenciada das populações tem-
peradas. A seguir, o quadro apresenta uma análise comparativa entre unidades
de estoques similares que habitam ambientes temperados e tropicais.

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 109 e-Tec Brasil


Quadro 9.1: Análise comparativa de alguns parâmetros de vida, de duas espécies simi-
lares de águas tropicais e de águas temperadas
Águas tempe-
Águas tropicais
Parâmetro radas
(baixas latitudes)
(altas latitudes)

Taxas de crescimento corporal (k) por unidade de tempo (quanto cresce um


Menores Maiores
indivíduo num mesmo espaço de tempo)

Comprimento máximo alcançado (Lmax.) (o tamanho máximo que pode al-


Maior Menor
cançar um peixe em condições ideais)

Ciclo de vida (quanto tempo vive um indivíduo desde que nasce, cresce, re-
Longo Curto
produz e morre)

Amplitude de oscilações sazonais em fatores cíclicos (sazonalidade evidente


Ampla Reduzida
e marcada. Por exemplo, inverno – verão)

Fecundidade (número de ovos prontos para desova por cada fêmea em pe-
Baixa Alta
ríodo reprodutivo).

Mortalidade natural (número de mortes desde o nascimento dos indivíduos até


Baixa Alta
cumprir seu ciclo de vida, por processos naturais como predação ou doença)

Taxa de consumo alimentar por unidade de tempo (quanto come um indivi-


Menor Maior
duo em relação ao seu tamanho, num intervalo de tempo diário ou anual)

Simbioses (relação benéfica entre vários grupos de peixes) Não evidente Frequente

Mais intensiva e

VERSÃO DO PROFESSOR
Associações mutualistas Eventual
numerosa

Número maior de
espécies envolvidas.
Camuflagem Eventual Maior disponibilidade de
habitats para que estas
interações ocorram

Complexidade de interações biológicas (número de interações entre um conjunto


Baio Alto
de espécies).

Informação biológica (habilidade para se relacionar nas estratégias dos pre-


Menor Maior
dadores e presas).

Os resultados apresentados no quadro mostram como, mesmo sendo compara-


dos duas espécies de peixes afins, os parâmetros de vida dos peixes de ambientes
temperados não podem ser extrapolados para peixes de ambientes tropicais.
Revisão
9.6 Estratégias de vida em ambientes
tropicais
A perpetuação de uma espécie num ambiente depende de sua capacidade
para gerar uma progênie (descendentes) viável às condições impostas pelo
médio e em um número tal que aumentem as chances de alguns indivíduos
alcançarem a idade reprodutiva, para concluir o ciclo de vida (veja figura 9.2).

e-Tec Brasil 110 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Em ambientes estáveis, como o leito principal de um rio, a estratégia visa a
produzir poucos jovens a intervalos consecutivos de tempo durante o ano, em
associação à maturação retardada, ciclos de vida mais longos e especializações
tróficas acentuadas. Essa estratégia denomina-se “seleção K”. De forma dife-
rente, em ambientes menos permanentes, como poças ou lagos de inundação,
predominam as formas com “seleção r-estrategista”, que consiste em ciclos de
vida curtos, com início da reprodução precoce e com alta fecundidade.
Revisão

Essas duas estratégias estão bem representadas nos diferentes grupos de peixes
tropicais. As espécies menores de sardinhas (Characidae) e branquinhas (Curi-
matidae) tendem por ser oportunistas às condições favoráveis do meio, com
uma alta fecundidade. Já os grandes bagres migradores do Amazonas tendem
a apresentarem baixa fecundidade e ciclos de vida mais longos.

Desde o ponto de vista de exploração pesqueira, as populações dos peixes


r-estrategistas podem suportar intensos processos de exploração e se recuperar
em curtos períodos de tempo. De forma diferente, as espécies maiores e com
estratégias de vida mais complexas (K-estrategistas) podem sofrer maior risco
de dizimar suas populações naturais, fragilizando a sua viabilidade e manu-
tenção no meio.

Com base nas estratégias de vida já diferenciadas para as espécies tropicais,


VERSÃO DO PROFESSOR

reflita, com os pescadores de sua região, aspectos como reprodução (alto ou


baixo número de ovos), tamanho máximo alcançado, tamanho do inicio da
reprodução. Depois, classifique cinco espécies de peixes de sua região em r ou
k estrategistas; explique brevemente sua seleção.

Resumo

Nesta unidade, estudamos as populações naturais. Foi definido o conceito de


estoque pesqueiro como uma subunidade ou a população inteira e seus pro-
cessos biológicos como a natalidade, o recrutamento e os tipos de mortalidade.
Também estudamos os métodos para estimar a densidade e o tamanho de
uma população. Vimos que através da construção de classes de tamanho foi
possível definir grupos de idade ou de coortes nos estoques naturais. Também
diferenciamos as estratégias de vida dos peixes de áreas tropicais comparadas
com os de ambientes temperados.

Aula 9 – A ecologia das populações – demoecologia 111 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem

1. Qual é o objeto de estudo da demoecologia? Explique brevemente.

2. Como estimaria o tamanho da população de pirarucus de um lago de


várzea?

3. Como se relacionam a taxa de natalidade e de mortalidade para definir a


tendência de uma população no tempo?

4. Com base em entrevistas informais com os pescadores, identifique duas


populações ou unidades de estoque pesqueiro na sua região e faça um
diagnóstico da tendência delas, em termos de tamanho no tempo, e
indique possíveis fatores que determinam o estado atual das mesmas.

VERSÃO DO PROFESSOR
Revisão

e-Tec Brasil 112 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Aula 10 – Ecologia de comunidades – sinecologia

Objetivos
Revisão

Conceituar comunidade e outros termos em ecologia.

Diferenciar o que é estrutura e função na comunidade.

Distinguir os tipos de interações bióticas entre as espécies.

10.1 A abordagem sinecologica


Talvez, já assistimos como muitos grupos de peixes menores constituem car-
dumes para se proteger de serem devorados por um peixe maior (predador).
Esses exemplos mostram como os organismos interagem através de relações
positivas ou de conflito no meio, como mecanismo de se perpetuarem. A
ecologia de comunidades trata disso.
VERSÃO DO PROFESSOR

A sinecologia é uma abordagem numa escala maior em relação às explicadas


nas duas aulas anteriores. Trata-se do estudo das comunidades no seu am-
biente. Aspectos como a riqueza e diversidade de espécies, a abundância e
biomassa das mesmas fazem parte do estudo da ecologia de comunidades.
Nos processos de ocupação do espaço por diversas espécies animais ou vege-
tais, é possível observar a concorrência entre elas.

10.2 O conceito de comunidade


A comunidade é um termo que foi usado por Forbes (1844) para definir as
diferentes províncias das profundezas do mar, desde então os ecólogos reco-
nhecem que as espécies formam grupos característicos ou comunidades.

Define-se uma comunidade como o conjunto de espécies (através de suas


populações) que habitam numa mesma área e que usualmente interagem de
forma organizada no tempo. Nesse sentido, a sinecologia estuda as relações
das populações entre si e da comunidade com o ambiente.

Aula 10 – Ecologia de comunidades – sinecologia 113 e-Tec Brasil


Existem divergências e má interpretação da aplicação do conceito de comu-
nidade. Fauth e colaboradores em 1996 indicaram uma abordagem prática
para medir a diversidade biológica. Eles elaboraram um diagrama de Venn,
(Figura 10.1) e nomearam grupos de organismos, observando associações num
contexto da sobreposição de três categorias: filogenia (categoria A), geografia
(categoria B) e recursos (categoria C).

A primeira categoria é filogenia (categoria A), agrupa espécies que têm uma
origem comum. As comunidades que pertencem à categoria B são definidas
como o conjunto de espécies que possuem limites geográficos definidos e que
ocorrem num determinado espaço de tempo. Esses limites podem ser naturais,
por exemplo, todos os organismos de uma lagoa ou de um tanque de cultivo,
nos quais a comunidade não está definida nem por filogenia (categoria A) ou
em guildas que possuem afinidade de exploração dos mesmos recursos de
forma similar (categoria C).

A interseção das categorias esclarece outros conceitos amplamente usados em


ecologia. Um deles é o conceito de assembleia, que agrupa os membros de

VERSÃO DO PROFESSOR
uma comunidade filogeneticamente ou taxonomicamente relacionados, p.ex., a
assembleia das piranhas (subfamília Serrasalminae) e dos cascudos das corredeiras
de um rio (Loricariidae). Guilda local, por sua vez, inclui espécies que compartem
recursos e pertencem à mesma comunidade. Não se tem um termo para descrever
a interseção entre as categorias A e C, mas corresponde a organismos de uma
descrição funcional, por exemplo, ciclídeos associados a ambientes marginais.
Finalmente, conjunto (inglês ensemble) compreende as espécies que interagem
e compartem um ancestral comum e exploram os mesmos recursos.

GEOGRAFIA RECURSOS

Guildas
Categoria B locais Categoria C
Comunidades Guildas

Assembléias
Conjuntos Revisão
Categoria A
Táxons

FILOGENIA

Figura 10.1: Diagrama de Venn dos diferentes termos que se confundem com o con-
ceito de comunidade
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 114 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


No porto ou na feira do peixe de sua localidade, informe-se das espécies de pei-
xes desembarcadas de uma mesma área geográfica. Como você diferenciaria
uma comunidade de uma assembleia de peixes? Quais espécies constituiriam
cada um desses grupos?

10.3 Estrutura e função da comunidade


As comunidades podem ser descritas simplesmente listando ou contando as
Revisão

espécies presentes (riqueza de espécies), ou expressando usualmente através


de índices de diversidade e diagramas de abundância relativa. Essa abordagem
ecológica tem por finalidade conhecer ou explicar a estrutura da comunidade.

A biodiversidade em essência é comparativa. Os ecólogos sempre pretendem


comparar a diversidade entre ambientes, p.ex., saber se um hectare de um
lago de água preta é mais rico em espécies do que um de águas barrentas, ou
se a diversidade tem mudado através do tempo em alguns desses ambientes.

Os ecólogos buscam regras para estruturar as comunidades. Assim, as espécies


que se agrupam numa comunidade são determinadas por: 1) restrições na sua
dispersão 2) restrições ambientais 3) dinâmicas internas (Figura 10.2).

A seguir, podemos observar também as relações entre cinco tipos de compar-


VERSÃO DO PROFESSOR

timentos de espécies: o compartimento total de espécies em uma região, o


compartimento geográfico (espécies com possibilidade de chegarem em um
local), o compartimento de habitat (espécies capazes de persistirem sob as
condições abióticas do local); compartimento ecológico (o conjunto superposto
de espécies que podem tanto chegar quanto persistir) e a comunidade (o
compartimento que permanece em face de interações bióticas).

Aula 10 – Ecologia de comunidades – sinecologia 115 e-Tec Brasil


Compartimento total das espécies

Restrições Restrições
ambientais à dispersão

Compartimento
Hábitat Ecológico
Dinâmica interna
Compartimento
geográfico
Comunidade

Figura 10.2: Relações entre cinco tipos de compartimentos de espécies


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

A comunidade é, obviamente, mais do que a soma de suas espécies consti-


tuintes. No estudo das comunidades, surgem as propriedades emergentes. Por

VERSÃO DO PROFESSOR
exemplo, visualizar um processo de competição pelo alimento é uma proprie-
dade emergente das comunidades. Essas propriedades não são evidentes em
se estudando, de forma isolada, cada uma das espécies.

10.3.1 A escala espacial e a definição da comunidade


Uma comunidade pode ser definida em qualquer escala dentro de uma hie-
rarquia de habitat. Por exemplo, numa escala global os ambientes costeiros
tropicais estão determinados pelas correntes marinhas e dos ventos que de-
terminam as temperaturas das águas.

Em uma escala regional no estuário amazônico, que é um ambiente costeiro,


ocorre um conjunto de espécies bem adaptadas que eventualmente se mes-
clam com espécies com algum grau de adaptação, mas que são próprias de
águas doces ou salgadas marinhas.

Em outra escala menor podemos estudar as comunidades de parasitas de


Revisão
determinado peixe. Essas três escalas de estudo de comunidades, são válidas.
e estão ligadas aos tipos de questões que estão sendo indagadas.

Na ecologia de comunidades, podemos estudar todos os organismos vivos


presentes em uma área ou podemos restringir o nosso estudo a um único
grupo taxonômico como: aves, peixes ou a um grupo com uma atividade
particular: detritívoros, predadores.

e-Tec Brasil 116 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


No link ao lado, você complementará os seus conhecimentos referentes à
estrutura e à função da comunidade.
http://ecocomuniufmt.blog.
terra.com.br/files/2009/04/
aula-dia-14-032.pdf
10.3.2 O funcionamento das comunidades
Outra visão ecológica da comunidade tenta explicar qual é o seu grau de
estabilidade (isto é, o funcionamento) e como estão interligadas as espécies,
em termos das relações alimentares (predação) ou de competição, para manter
processos como a transferência de matéria e dos fluxos de energia.
Revisão

Pesquise e indique duas características da estrutura e da função da comunidade.

10.4 Tipos de interação entre as espécies


As populações de duas espécies podem interagir de formas básicas que corres-
pondem a combinações neutras, positivas e negativas (0, + e -) como segue:
00, --, ++, +0, -0, e +-. Três dessas combinações (++, -- e +-) são comumente
subdivididas, resultando em nove importantes interações e relações, assim:

Tabela 10.1: Análise das interações entre duas espécies


Tipo de interação Espécie 1 Espécie 2 Natureza geral da interação

Neutralismo 0 0 Nenhuma das populações é afetada pela outra

Competição, por interferência


VERSÃO DO PROFESSOR

- - Inibição direta de uma espécie pela outra


direta

Competição, por uso de


- - Inibição direta quando os recursos são escassos
recurso

Amensalismo - 0 População1, inibida; 2, não afetada

Comensalismo + 0 População1, comensal, é beneficiada; 2, hospedeiro, não é afetada

Parasitismo + - População1, parasita, geralmente menor que 2, hospedeiro

Predação (incluindo herbívora) + - População1, predador, geralmente maior que 2, presa

Protocooperação + + Interação favorável para ambas, mas não obrigatória

Mutualismo + + Interação favorável para ambas e obrigatória

Nota: 0 indica nenhuma interação significativa; + indica crescimento, sobrevivência ou outros atributos da população
beneficiada; - indica inibição de crescimento da população ou outro atributo.

Interações: são resultantes das atividades de obtenção de recursos (abrigo,


alimento, condições favoráveis para reprodução) de cada espécie, afetando
positiva ou negativamente as outras com as quais convive.

Aula 10 – Ecologia de comunidades – sinecologia 117 e-Tec Brasil


Entreviste os pescadores de sua região e indague sobre as relações entre os
peixes locais. Quais exemplos podem ser categorizados de acordo com o es-
tudado nesta unidade?

No site ao lado, você encontrará, em detalhes, informações das relações eco-


lógicas entre as espécies.
http://www.ebah.com.br/
content/ABAAAAcYwAB/
interacoes-entre-especies#

Resumo

A comunidade é um conjunto de espécies que ocorrem juntas, no espaço e no


tempo, e interagem de forma sistêmica. A sinecologia ou a ecologia de comu-
nidades se centra em responder perguntas tais: como os grupos de espécies
estão distribuídos na natureza? Como eles interagem? Como são influenciados
pelo meio ambiente? Ao estudar o componente taxonômico da comunidade,
ou seja, quantas e quais espécies fazem parte dela, é importante estabelecer
dois aspectos: a sua riqueza e a abundância de cada espécie para definir índices
de diversidade. A ecologia de comunidades estuda as interações positiva ou

VERSÃO DO PROFESSOR
negativas entre suas espécies. Tem-se estabelecido nove tipos de interações:
neutralismo, competição por interferência direta, competição, por uso de
recurso, amensalismo, comensalismo, parasitismo, predação, protocooperação
e mutualismo.

Atividade de Aprendizagem

1. Leia os seguintes exemplos de interações entre populações e coloque na


frente de cada exemplo o tipo de interação que está acontecendo

2. Na relação planta-polinizador muitas espécies de plantas dependem de


polinizadores animais, processo que pode resultar na produção de frutos.
O polinizador ganha uma “refeição grátis” (néctar, por exemplo), en-
quanto involuntariamente carrega grãos de pólen entre flores de plantas
de uma mesma espécie vegetal. Embora seja uma interação benéfica
Revisão
para as duas espécies, os parceiros ainda conseguem sobreviver na au-
sência do outro. Tipo de interação: ______________________________

e-Tec Brasil 118 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


3. Relação entre grandes mamíferos herbívoros e algumas aves insetívoras
que os acompanham. À medida que os mamíferos andam em busca de
alimento (gramíneas e ervas miúdas), afugentam insetos, que saltam ou
voam, tentando escapar do pisoteio, e que terminam sendo capturados
pelas aves. Tipo de interação: _________________________________

4. Quando um tubarão captura um atum, um aruanã consome um gafa-


nhoto, um pacu ingere as folhas de uma planta. Tipo de interação:
Revisão

___________________________________

5. Que ocorre quando um Ascaris lumbricoides se desenvolve no nosso sis-


tema digestivo. Um peixe hematófago se instala na brânquia de um outro
peixe. Um nematelminto se aproveita dos nutrientes na superfície do es-
tômago de um peixe, um molusco se instala na superfície corporal de ou-
tro organismo. Tipo de interação: ______________________________

6. Relação que predomina entre as plantas epífitas (orquídeas, bromélias e


aráceas, por exemplo) e as árvores que lhes servem de suporte. Tipo de
interação: ___________________________________

7. Peixes piranhas que se alimentam do mesmo recurso em um lago de


várzea Tipo de interação: ___________________________________
VERSÃO DO PROFESSOR

Aula 10 – Ecologia de comunidades – sinecologia 119 e-Tec Brasil


Aula 11 – Ecologia de ecossistemas

Objetivos
Revisão

Conceituar estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.

Definir as variáveis controle ou de estado e o seu papel no funcio-


namento do ecossistema.

Conceituar o efeito da escala espacial e temporal no estudo dos


ecossistemas.

Discutir o estado atual de conservação dos ecossistemas em resposta


aos processos de uso dos recursos.

11.1 A ecologia de ecossistemas


Estuda os mecanismos através dos quais ocorrem os processos na terra. O
VERSÃO DO PROFESSOR

estudo da terra como um sistema físico está na relação a qual interage a


superfície com a atmosfera, as rochas e águas do planeta (Figura 11.1).

Ciências da Terra Contexto

Climatologia

Hidrologia

Ecologia de ecossistemas

Ecologia de
Comunidades Ciências do solo

Ecologia de Geoquímica
Populações

Fisiologia Mecanismo

Figura 11.1: Relações entre a ecologia de ecossistemas e outras áreas do conhecimento


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 121 e-Tec Brasil


A ecologia de ecossistemas estuda as transferências de materiais que circulam
entre a atmosfera, a terra e os oceanos, de forma a compreender os processos de
um sistema particular. Ela depende da informação gerada por outras ciências como
a Fisiologia, a Evolução, a Ecologia populacional e de comunidades (Figura 11.1).

Os fluxos dos ecossistemas também dependem de processos populacionais


que governam as densidades das plantas, animais e micróbios e das faixas de
idade, assim como dos processos de competição e predação, em relação a
quais espécies estão presentes e suas taxas de consumo de recursos.

Assim, por exemplo, o fornecimento de água e minerais dos solos para as plan-
tas não depende somente das atividades dos micro-organismos do solo, mas
também das interações físicas e químicas entre as rochas, os solos e a atmosfera.
A ecologia de ecossistemas também incorpora os conceitos da Hidrologia, da
Química e da Climatologia, que estudam o ambiente físico (Figura 11.1).

11.2 Abordagem ecossistêmica

VERSÃO DO PROFESSOR
O estudo dos ecossistemas abrange as interações entre os organismos e seu
ambiente e insere o componente humano junto com o componente físico. Essa
abordagem se aplica em diferentes escalas espaciais: na terra como um todo,
em um continente, ou em um rio (Figura 11.2).

aa) Ecossistema Global


Quanto da perda de carbono dos solos
pode influenciar o clima local?
5.000 km

bb) Microbacia
Quanto o desmatamento influencia no
fornecimento de água para os povoados
10 km vizinhos?

cc) Ecossistema florestal

1 km
Quanto as chuvas ácidas influencia a
produtividade da floresta?
Revisão
dd) Ecossistema endolítico Superfície rochosa

Zona de líquens Quais são os controles biológicos sobre


a intemperização das rochas?
1 mm
Zona de algas

Figura 11.2: Exemplos de ecossistemas que variam em tamanho (escala espacial): Um


ecossistema incluso nas superfícies rochosas (1mm) (d); uma floresta,
1000m de diâmetro (c); uma bacia hidrográfica, 100.000m em compri-
mento (b); e a terra, 4x107m de circunferência

e-Tec Brasil 122 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


O papel que uma espécie ou um grupo de espécies tem no funcionamento
do ecossistema gera serviços que são vitais para a segurança humana devido
à nossa dependência de fontes alimentares e fibras.

A produção da pesca marinha atualmente está em declínio, porque o manejo


das pescarias se fundamenta numa abordagem que não considera adequada-
mente os recursos dos quais a pesca comercial depende e as interações que
prevalecem nos diferentes ecossistemas.
Revisão

A compreensão dos ecossistemas é fundamental para o manejo da qualidade


e quantidade do fornecimento de água e para a regulação da composição da
atmosfera, que, por sua vez, determina o clima da terra.

Os fluxos de energia e os ciclos da matéria através dos organismos e do am-


biente físico geram a base para compreender a diversidade e as formas de
funcionamento dos processos biológicos e físicos da terra.

Se nos perguntamos por que a floresta amazônica têm grandes árvores, mas
acumula somente uma fina camada de folhas mortas na superfície do solo,
ou por que a introdução de espécies exóticas pode afetar dramaticamente
VERSÃO DO PROFESSOR

a produtividade de um ambiente aquático, estamos formulando perguntas


numa abordagem ecossistêmica. Para responder a essas questões, é necessário
compreender as interações entre os organismos e seu ambiente físico — tanto
a resposta dos organismos ao ambiente, como os efeitos daqueles sobre este.

A análise ecossistêmica busca compreender os fatores que regulam as quan-


tidades disponíveis, os ciclos da matéria e os fluxos de energia através dos
ecossistemas. Esses materiais incluem o carbono, a água, o nitrogênio, deriva-
dos minerais como o fósforo e novos químicos na forma de pesticidas que os
humanos têm adicionado ao ambiente. Eles são achados nos solos, nas rochas,
na água, e na atmosfera, assim como em componentes bióticos, tais como as
plantas, os animais, os solos e os micro-organismos.

Defina um ecossistema de sua localidade (lago, açude, rio) e identifique quais


seriam os principais componentes vivos (ou compartimentos) do mesmo. Em
seguida, indique se existe algum tipo de efeito ou impacto ambiental ocasio-
nado pelas atividades humanas nesse ecossistema.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 123 e-Tec Brasil


11.3 Estrutura dos ecossistemas
Os componentes biológicos essenciais do ecossistema são as plantas, os ani-
mais e os decompositores. As plantas capturam energia solar nos processos de
produção de carbono. Excetuando os ecossistemas marinhos profundos hidro-
termais, as plantas são substituídas pelas bactérias que obtêm a energia a partir
da oxidação do hidrogênio sulfuroso (H2S) para produzir matéria orgânica.

Os animais são componentes fundamentais nos ecossistemas porque eles


transferem a energia e os materiais e influenciam fortemente na quantidade
e na atividade dos micróbios, das plantas e do solo.

Os micro-organismos decompositores quebram a matéria orgânica, liberando


CO2 para a atmosfera e disponibilizando os nutrientes necessários para outros
micróbios e plantas. Se não ocorresse a decomposição, grandes quantidades
de matéria orgânica morta seriam acumuladas, sequestrando os nutrientes
necessários para manter o crescimento desses organismos.

Os componentes abióticos de um ecossistema são a água, a atmosfera, que

VERSÃO DO PROFESSOR
fornecem carbono e nitrogênio, e os minerais do solo que fornecem outros
nutrientes necessários pelos organismos.

Muitos ecossistemas ganham energia do Sol e materiais do ar ou das rochas e,


posteriormente, transferem estes entre seus componentes, assim como liberam
energia e materiais para o ambiente.

11.4 Os processos ecossistêmicos


Todas as entidades biológicas requerem matéria para sua construção e energia
para realizar suas atividades. Os processos dos ecossistemas incluem a trans-
ferência de energia e os ciclos da matéria de um compartimento para
outro. A energia entra num ecossistema quando a radiação luminosa conduz
à redução do dióxido de carbono (CO2) para a formação de açúcares durante
a fotossíntese (Figura 11.3).
Revisão

e-Tec Brasil 124 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


CO2
Revisão

O2 Sais minerais

Figura 11.3: Ciclos da respiração e fotossíntese


VERSÃO DO PROFESSOR

Fonte: autoria própria

Assim, a matéria orgânica e a energia estão estreitamente ligadas na medi-


da em que se movem através do ecossistema. A energia é perdida desde os
ecossistemas, quando a matéria orgânica é oxidada através da queima ou da
respiração das plantas, dos animais e dos micro-organismos para dióxido de
carbono (CO2).

Os materiais se movem dentro dos componentes abióticos do sistema (sedi-


mentos, águas, rochas) através de uma variedade de processos tais como a
lavagem das rochas, a evaporação da água e a diluição dos materiais na água.

Os ciclos envolvem componentes bióticos que incluem a absorção dos minerais


pelas plantas, a morte de organismos, a decomposição da matéria orgânica
morta pelos micróbios, o consumo de plantas pelos herbívoros e dos herbívoros
pelos predadores.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 125 e-Tec Brasil


Muitos desses ciclos são sensíveis a fatores ambientais como a temperatura
e umidade, a fatores biológicos que regulam a dinâmica das populações e a
interação das espécies nas comunidades.

A concentração do CO2 atmosférico, por exemplo, depende dos padrões glo-


bais de intercâmbios bióticos de CO2 e da queima de combustíveis fósseis, que
variam espacialmente no globo terrestre. A rápida mistura de CO2 na atmosfera
facilita estimar as grandes mudanças nos fluxos globais totais do carbono entre
a terra e a atmosfera.

Algumas questões requerem medidas detalhadas de transferência de mate-


riais. Uma bacia hidrográfica (um rio principal e seus afluentes) constitui uma
unidade onde os efeitos da floresta sobre a quantidade e a qualidade da água
que alimenta uma cidade podem ser estimados. No estudo de uma bacia
hidrográfica podemos indagar as quantidades de materiais que entram do ar
ou das rochas com a quantidade que fica na água.

Estudos da entrada-saída de materiais dentro das bacias hidrográficas têm

VERSÃO DO PROFESSOR
contribuído para compreender as interações entre as rochas que fornecem
nutrientes e o crescimento das plantas e micro-organismos que crescem com
a retenção de nutrientes no ecossistema.

Em um ecossistema aquático conhecido na sua região (poça, lago, riacho, etc.),


identifique quais os principais componentes. Depois, através de um desenho,
identifique: mudam as águas com as chuvas? Por quê? Tem-se muita matéria
orgânica (folhas, galhos, frutos) em decomposição? Comente a procedência
dessa matéria.

11.5 Escala de tempo


As taxas que ocorrem nos processos ecossistêmicos mudam constantemente
devido às flutuações no ambiente e às atividades dos organismos em escalas
de tempo que variam de microssegundos até milhões de anos.
Revisão
A energia capturada pelas plantas durante a fotossíntese responde instan-
taneamente às flutuações da luz disponível para as folhas. Já na evolução
da fotossíntese, dois bilhões de anos atrás, foi adicionado o oxigênio à
atmosfera, determinando que os processos geoquímicos da superfície da
terra mudassem da redução para oxidação química. As taxas de entrada de
carbono para um ecossistema através da fotossíntese mudam em escalas
de tempo de segundos para décadas e em resposta às variações na luz, na
temperatura, e da área das folhas.

e-Tec Brasil 126 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


11.6 Escala espacial
Na escala de uma parcela, algumas plantas podem morrer de senilidade ou
por ataques de patógenos e serem substituídas por indivíduos jovens. Já numa
maior escala da paisagem, alguns fragmentos de floresta podem ser alterados
pelo fogo ou por outras perturbações, enquanto que outros fragmentos es-
tarão em vários estados de recuperação. Esses ecossistemas permanecem em
estado estacionário se não tem uma tendência direcional de longo prazo nas
suas propriedades ou no balanço entre as entradas e saídas.
Revisão

11.7 O estado de equilíbrio dos ecossistemas


Muitos dos primeiros estudos realizados em ecologia de ecossistemas partiram
da ideia de que eles se encontraram em equilíbrio com o ambiente. Assim, os
ecossistemas não perturbados têm propriedades como:

1. dominação por uma reciclagem interna dos elementos;

2. autorregulação e dinâmica;

3. ciclos estáveis;

4. ausência de influência humana.


VERSÃO DO PROFESSOR

Um dos mais importantes avanços da ecologia de ecossistemas tem sido o


reconhecido crescimento da importância de eventos passados e forças externas
na formação do seu funcionamento.

Se o balanço entre as entradas e saídas de massa nos ecossistemas não


apresentam alguma tendência com o tempo, são considerados como em
estado estacionário (steady state). Mesmo nesse estado, um peixe de
áreas temperadas, por exemplo, cresce no verão e para no inverno e entre
anos secos e úmidos.

Nem todos os ecossistemas e paisagens estão em estado estacionário. De


fato, mudanças no clima e no ambiente causadas por atividades humanas
podem causar alterações nas propriedades dos ecossistemas. Entretanto,
é fácil compreender as relações dos processos do ecossistema para o am-
biente em situações nas quais eles não podem se recuperar de grandes e
recentes perturbações.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 127 e-Tec Brasil


11.7.1 Os conceitos de sucessão e de clímax
A sucessão corresponde a mudanças na estrutura de um ecossistema. Seu
funcionamento resulta em mudanças no fornecimento de recursos e cons-
titui uma base importante para o entendimento de sua dinâmica. Clements
(1916) avançou na teoria do desenvolvimento da comunidade, sugerindo que
a sucessão vegetal é um processo natural, que em ausência de perturbação,
conduz para comunidades estáveis (clímax) num clima particular. Assim, a
comunidade, de igual forma que para um organismo, é constituída de par-
tes que interagem (espécies). Por sua vez, o desenvolvimento sucessional no
sentido de uma comunidade clímax é análogo ao desenvolvimento de um
organismo até o estado adulto.

Realize uma visita ao ecossistema aquático mais próximo de sua localidade.


Identifique os processos de sucessão vegetal nas margens devido a efeitos na-
turais como cheia e seca do rio ou a perturbações antrópicas. Você encontrou
alguma tendência de sucessão de plantas? Explique brevemente.

11.7.2 Controle sobre os processos do ecossistema

VERSÃO DO PROFESSOR
A estrutura e o funcionamento dos ecossistemas são governados pelo me-
nos por cinco variáveis controle independentes, que se denominam também
variáveis estado, que são: o clima, os materiais parentais (exemplo: rochas
que geram o material dos solos), a topografia, a biota potencial (exemplo: os
organismos presentes na região que podem potencialmente ocupar um local)
e o tempo (Figura 11.4). Juntos, esses cinco fatores determinam os limites para
caracterizar um ecossistema.

Clima Tempo

Regime de pertubação

Atividades
Moduladores humanas

Topografia Processos do Revisão


ecossistema

Recursos Comunidade
biótica

Material Biota
Parental Potencial

Figura 11.4: Relações entre as variáveis estado (fora da circunferência), os controles


interativos (dentro da circunferência) e os processos ecossistêmicos. O
círculo representa os limites do ecossistema
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 128 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


As grandes escalas geográficas, o clima constitui a variável estado determinan-
te de forma mais intensa dos processos ecossistêmicos e em sua estrutura. As
variações globais no clima explicam a distribuição dos biomas (tipos de ecos-
sistemas) tais como o da floresta úmida tropical, o cerrado, e a Mata Atlântica.

Os recursos constituem a energia e os materiais disponíveis no ambiente que


são utilizados pelos organismos para manter seu crescimento e manutenção.
O consumo dos recursos pelos organismos, por sua vez, diminui sua abundân-
Revisão

cia disponível no ambiente. Em ecossistemas terrestres, esses recursos estão


espacialmente separados, estando disponíveis para a matéria acima do solo
(luz e CO2), ou debaixo do solo (água e nutrientes).

Os efeitos nas espécies podem ser generalizados no nível de grupos funcio-


nais, que consistem em espécies similares em sua função nos processos do
ecossistema.

Muitos peixes do topo das teias alimentares constituem um grupo funcional


denominado de piscívoros. Isso porque se alimentam exclusivamente de outros
peixes de níveis menores como os herbívoros ou planctófagos. Outros peixes
que dependem da ingestão de material vivo como escamas, nadadeiras e teci-
dos de outros peixes, conformam o hábito ou grupo funcional dos lepidófagos.
VERSÃO DO PROFESSOR

Identifique, dentro dos peixes de sua região, algum grupo funcional devido a
seu hábito alimentar ou de uso dos recursos. Explique sua resposta.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 129 e-Tec Brasil


11.8 Autorregulação dos ecossistemas
Para sua sustentabilidade, os ecossistemas se autorregulam com respostas
negativas a determinados processos. Através das respostas negativas, o ecos-
sistema gera resistência às mudanças e tenta manter suas características em
seu estado natural. A aquisição de alimento para manter o crescimento de
um determinado grupo de peixes pode reduzir a disponibilidade de nutrientes
para outras plantas, mas, por outro lado, força a produtividade da comunidade
(Figura 11.5).

O efeito de cada organismo (ou recurso) sobre outro pode ser positivo (+) ou
negativo (-). As respostas são positivas quando os efeitos recíprocos de cada
organismo (ou recurso) têm o mesmo sinal (ambos positivos ou negativos).
Retornos são negativos quando os efeitos recíprocos diferem em signo. Res-
postas negativas resistem a tendências para as mudanças dos ecossistemas,
entretanto respostas positivas tendem a levar os ecossistemas no sentido de
um novo estado (Figura 11.5).

Tipo de

VERSÃO DO PROFESSOR
Processo
resposta
F Captação de recursos A
Competição A+B
Mutualismo C
Herbivoria D
Predador Predação E
Crescimento populacional F
E

Alga
D C

Revisão
Planta A Alga

A B

RECURSOS COMPARTILHADOS

Figura 11.5: Exemplos de ligações as respostas positivas e negativas em um ecossistema


Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

e-Tec Brasil 130 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Os impactos cumulativos das atividades humanas afetam um ecossistema,
principalmente as variáveis como o clima por mudanças na composição atmos-
férica e o potencial da biota através da introdução e da extinção de espécies.

As atividades humanas transformam a terra adicionando ou removendo subs-


tâncias. Algumas atividades humanas como a produção de recursos, mudanças
no uso e manejo da terra afetam diretamente os ecossistemas. Outros efeitos
como as mudanças na química atmosférica, a hidrologia e o clima são de tipo
Revisão

indireto (Figura 11.6).

As alterações humanas mais diretas nos ecossistemas ocorrem por transfor-


mação da terra para a produção de alimento, fibras e outros bens usados para
consumo. Cerca de 50% da superfície da terra tem sido diretamente afetada
por atividades humanas (Kates et al, 1990). Os campos agrícolas e as áreas
urbanas cobrem de 10 a 15% e os pastos de 6 a 8% de sua superfície total.

População Humana
Dimensão Utilização dos recursos

Empreendimentos Humanos
Agricultura Indústria Recreação Comercial Internacional
VERSÃO DO PROFESSOR

Transformação Bioquímica Global Adições e perdas


da Terra Água bióticas
Limpeza de terrenos Carbono Invasão
Intensificação Nitrogênio Caça
Silvicultura Outros elementos Pesca
Pastejo Produtos químicos sintéticos
Radionuclídeos

Mudanças climáticas Perda da diversidade


ecológica
Efeito Estufa
Extinção de espécies
Aerosols e populações
Cobertura do solo Perda de ecossistemas

Figura 11.6: Efeitos diretos e indiretos das atividades humanas nos ecossistemas da terra
Fonte: Ilustrado por Alessandro de Oliveira.

Aula 11 – Ecologia de ecossistemas 131 e-Tec Brasil


Indique quais tipos de atividades humanas podem causar mudanças nos ecos-
sistemas de sua localidade.

Resumo

Vimos nesta aula que a ecologia de ecossistemas estuda os fatores que


regulam os ciclos da matéria e os fluxos da energia através de sistemas
ecológicos. Também estudamos que cada ecossistema está constituído por
compartimentos através dos quais a energia e os materiais são transferidos
dentro dos ecossistemas e são logo liberados ao ambiente. Os componentes
bióticos essenciais do ecossistema incluem as plantas, que levam o carbono e
a energia entre os ecossistemas; os decompositores, que degradam a matéria
orgânica morta liberando CO2 e os nutrientes, e animais que transferem a
energia e os materiais dentro dos ecossistemas e modulam as atividades das
plantas e dos decompositores.

Atividade de Aprendizagem

VERSÃO DO PROFESSOR
1. O que é um ecossistema?

2. Que tipo de questões ambientais pode ser formulada à ecologia de ecos-


sistemas e que não pode ser formulada para a ecologia de populações
ou de comunidades?

3. Utilizando uma floresta ou um lago como exemplo, explique como o


aquecimento climático ou a produção das arvores ou dos peixes por nós
podem alterar a estrutura ou os processos num ecossistema?

4. Indique exemplos para mostrar como as respostas negativas e positivas


podem afetar a resposta de um ecossistema para as mudanças climáticas.
Revisão

e-Tec Brasil 132 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


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VERSÃO DO PROFESSOR
Revisão

e-Tec Brasil 134 Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais


Currículo do Professor-autor
Mauricio Camargo Zorro

Graduado em Biologia e especialista em Políticas Pesqueiras para os países


amazônicos; Mestre e Doutor em Zoologia com ênfase em Ecologia e manejo
de recursos pesqueiros. É professor no Instituto Federal-PA e está credenciado
no programa de Pós-gradução em Ecologia Aquática e Pesca da Universida-
Revisão

de Federal do Pará. Pesquisador associado do Instituto de Desenvolvimento


Sustentável Mamirauá. Atualmente, coordena o Laboratório de Limnologia e
Manejo de Recursos Hidrobiológicos do Instituto Federal-PA. Foi coordenador
do curso de Aquicultura do programa e-Tec Brasil da mesma instituição. Possui
experiência em estudos de diagnóstico ambiental e de estudo de impacto am-
biental e relatório de impacto ambiental (EIA-RIMA) para pequenos e grandes
empreendimentos que envolvem ambientes aquáticos e terrestres. Estuda as
cadeias produtivas relacionadas com o pescado.
VERSÃO DO PROFESSOR

135 e-Tec Brasil


Técnico em Pesca e Aquicultura

Mauricio Camargo Zorro

Ecologia de Peixes e Ambientes Tropicais

PARÁ

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