Marcello Miolo TOTAL
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segundo o anterior
Acordo Ortográfico
Coordenação editorial
João Pombeiro
Revisão
João Alexandre
Capa e paginação
PixelReply.pt
Fotografia de capa
Lusa
RETRATOS POLÍTICOS
Breves Biografias de Políticos Portugueses
é uma série editada pela Reverso em exclusivo
para a revista SÁBADO.
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com a legislação em vigor.
Depósito legal: 529811/24
ISBN: 978-989-9080-31-7
Impresso em abril de 2024 na Jorge Fernandes.
UMA VIDA
PORTUGUESA
MARCELLO
ÍNDICE
09 INTRÓITO
13 INFÂNCIA E JUVENTUDE
27 NOS ALVORES DO ESTADO NOVO
41 ENFIM, MINISTRO: OS TEMPOS ÁUREOS
69 TRAVESSIA DO DESERTO
77 SUCESSOR DE SALAZAR
89 PRIMAVERA E OUTONO
119 EXÍLIO E FIM
131 CRONOLOGIA
137 PARA SABER MAIS
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INTRÓITO
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que Olga replicou «Peça antes o mano por mim, porque eu
preciso mais.»
Na manhã seguinte, estava morto. O corpo seria velado no
salão da biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura,
ao qual afluiu uma multidão de gente: familiares vindos de
Lisboa, amigos brasileiros e portugueses, autoridades civis,
os habituais curiosos. Na segunda-feira seguinte, dia 27 de
Outubro, realizou-se o enterro. Coberta pela bandeira na-
cional portuguesa, a urna foi transportada em carro aberto
do Corpo de Bombeiros, encabeçando um cortejo estimado
em cerca de 300 viaturas. Depois, foi colocada na Quadra 43,
n.º 18339A do Mausoléu dos Imortais, no Cemitério de São
João Batista, em Botafogo, que a Academia Brasileira de Le-
tras mandara construir em 1962 para reduzir o custo que
tinha com os sepultamentos dos seus distintos membros e,
caso estes o quisessem, das respectivas mulheres. Na cerimó-
nia do adeus discursaram dois académicos de peso, o jorna-
lista e professor Austregelésio de Athayde (1898-1993) e o
historiador Pedro Calmon (1902-1985), amigos e admirado-
res do falecido.
No Rio permanecem os seus restos mortais. Exilado no
Brasil desde 1974, nunca perdeu a amargura e o desalento
com o seu país e, pouco antes de morrer, dissuadia os esfor-
ços de amigos seus, como Joaquim Veríssimo Serrão (1925-
2020), que tentavam obter de um seu antigo discípulo, Frei-
tas do Amaral (1941-2019), então vice-primeiro-ministro da
Aliança Democrática, a autorização para que, se o quisesse,
pudesse vir passar o Natal a Lisboa.
Do Brasil, escrevia missivas ácidas, nas quais verbera-
va Ramalho Eanes e Mário Soares (1924-2017), seu antigo
(e mau) aluno, ou manifestava um enorme e confrangedor
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desânimo: «Envelheci. E tenho pena.», escreveu numa mis-
siva. E noutra: «Chego ao fim da vida tendo perdido a Pátria,
valores morais e materiais, sonhos, ideais, aspirações… Que
poderia querer mais? Morrer…»
Tinha 74 anos.
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NOS ALVORES
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selho, que o ouvia algo agastado, mas que jamais lhe cortou
a palavra.
Com o tempo, claro, deixou de ser um conselheiro útil,
para se tornar um elemento incómodo, excessiva e declara-
damente incómodo, papel que, de resto, Marcello tinha evi-
dente gosto em desempenhar, com isso ganhando fama de
«independente» e, mantendo-se sempre dentro das linhas
do regime, pavimentando o caminho para uma sucessão há
muito ambicionada.
Por outro lado, e contrariando a imagem transmitida pela
propaganda, o regime vivia em permanente sobressalto, seja
por sucessivas ameaças de golpes, seja pelas tensões verifica-
das em cada período eleitoral, seja, enfim, pelas disputas e das
rivalidades internas, processadas ao mais alto nível, longe dos
olhares da opinião pública, mas nem por isso menos intensas
– e, de resto, muito típicas dos regimes autoritários e forte-
mente personalizados. Salazar, de seu lado, alimentava esse
teatro de sombras, gerindo as proximidades e as distâncias
através de pequenos gestos (por exemplo, a demonstração de
afecto por Marcello, aquando do falecimento do pai deste,
em Janeiro de 1946) e testando a fidelidade alheia através de
um jogo a que se entregava desde que viera de Coimbra, o da
insinuação de que iria abandonar o governo a breve trecho,
nem que para isso fosse necessário revelar urbi et orbi os seus
achaques de saúde, o seu cansaço físico e emocional, o seu
profundo desapego a um fardo a cada dia mais pesado.
É sobretudo a partir desta fase, do pós-guerra em diante,
que se começam a formar «partidos» ou «facções» no inte-
rior do regime: Marcello encabeçava os «liberais», desejosos
de mudanças, mesmo sem saber-se qual o sentido das mes-
mas; Santos Costa representava a fidelidade castrense ao Pre-
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ceses, italianos, jugoslavos, canadianos, gregos, belgas, suíços, polacos, alemães, espa-
nhóis, austríacos, soviéticos, suecos, checoslovacos, etc. – elegeu-o, por unanimidade,
seu vice-presidente.
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te, a ponto de, segundo alguns, ter sofrido uma grave crise
cardíaca em meados desse ano. Depois, tudo se precipitou:
a audiência de Paulo VI aos líderes dos movimentos de li-
bertação africanos, em Junho de 1970, enfurecera-o até ao
limite, adensando sentimentos de desconfiança na Igreja que,
anos volvidos, o levarão, segundo se diz, a afastar-se da fé
católica. O apoio à reeleição de Thomaz fez com que Rogério
Martins e Xavier Pintado abandonassem o Governo, num
claro sinal de que deixou de poder contar com o apoio dos
«tecnocratas». A revisão constitucional de 1971, por outro
lado, assinalara a ruptura dos «liberais» com o regime, cul-
minando, no início de 1973, com os pedidos de demissão de
Miller Guerra (1912-1993) e de Sá Carneiro, na sequência
dos acontecimentos da Capela do Rato, onde a polícia en-
trou e evacuou à força um grupo de crentes e não-crentes aí
reunidos para debater a guerra colonial. Sintomaticamente,
Soares regressará ao exílio, desta feita em Paris, de onde só
voltará após o 25 de Abril, enquanto a polícia política in-
tensificava a sua acção repressiva, como sempre sucede no
estertor dos regimes autoritários. A crise petrolífera de 1973,
em resultado da guerra do Yom Kippur, interrompeu a ex-
pansão económica em curso e o espectro da inflação voltou
a ensombrar o dia-a-dia dos portugueses. Em África, a situa-
ção militar arrastava-se sem fim à vista, e com um enorme
custo diplomático para a imagem de Portugal no estrangeiro
e, em especial, no seio das Nações Unidas. Não por acaso,
a visita de Marcello a Londres, em Julho de 1973, seria en-
sombrada pela revelação dos massacres de Wiryamu, e, nesse
mesmo mês, o «Encontro dos Liberais», reunido em Lisboa,
mostrou que começava a ensaiar-se um pensamento alter-
nativo ao do regime – de resto, já desenvolvido no âmbito
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CRONOLOGIA *
* Baseada no «Curriculum Vitae de Marcello José das Neves Alves Caetano», elaborado
por Miguel Caetano e publicado in Arganilia. Revista Cultural da Beira-Serra, II Série, n.º 21,
2007, pp. 39-58.
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António Araújo (Lisboa, 1966), jurista e historiador, licen-
ciado e mestre em Direito e doutorado em História Contem-
porânea, é autor de diversos livros e artigos sobre Direito
Constitucional, Ciência Política e História Política, como
Jesuítas e Antijesuítas no Portugal Republicano, A Lei de Salazar
– Estudos sobre a Constituição de 1933, Sons de Sinos – Estado e
Igreja no Advento do Salazarismo, Matar o Salazar – o Atentado
de 1937 ou «Morte á PIDE!» – A Queda da Polícia Política do Esta-
do Novo. É administrador-executivo e diretor de publicações
da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Colabora regu-
larmente com a imprensa escrita portuguesa.