JUS2691 Degustacao
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JUS2691 Degustacao
GUARDA
COMPARTILHADA
COATIVA
A efetivação dos direitos
de crianças e adolescentes
PREFÁCIO
Ministra NANCY ANDRIGHI 5ª
edição
revista
atualizada
2023
2
“Não é bem isso”:
a implementação da
guarda compartilhada
e as dificuldades de
sua compreensão pela
sociedade
1
Para Regina Célia Mioto, a família é uma instituição social historicamente condicio-
nada e dialeticamente articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto pressu-
põe compreender as diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em
diferentes lugares, além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço
social e num mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sem-
pre numa perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos
cristalizados para se refletir as possibilidades em relação ao futuro. (MIOTO, Regina
Célia Tamaso. Família e Serviço Social: contribuições para o debate. In: Serviço Social
e Sociedade, n.º 55, São Paulo: Cortez, 1997).
26 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
2
LOHN, Reinaldo Lindolfo; MACHADO, Vanderlei. Gênero e imagem: relações de
gênero através das imagens dos livros didáticos de história. Revista Gênero, Niterói,
v. 4, n. 2. p. 119-134, 2. sem. 2004, p. 122.
“Não é bem isso” 27
família. “Nos alpendres das casas grandes ou no terreiro das senzalas, sobre o
chão corrido de tabuado brilhante ou sobre a rudeza dos caminhos de barro,
nas salas, nos quartos, nas cozinhas e nas oficinas, no interior das igrejas, ou
na procissão das ruas, a criança sempre se mistura inevitavelmente aos gran-
des, aos adultos, com uma naturalidade real, espontânea, verdadeira, com ar
de bem-vinda, bem-querida e desejada, como componente fundamental do
patrimônio afetivo da família brasileira”3.
O processo de introdução da chamada norma familiar burguesa para
os diferentes grupos sociais do país tomou vulto a partir do final do século
XIX. Esse movimento, no Brasil, está inserido em um contexto mais amplo,
em que verificamos a emergência de relações capitalistas no âmbito da eco-
nomia, com ênfase na implementação do trabalho assalariado, no advento
do Estado republicano e na urbanização.
No plano das práticas e dos valores, esse arranjo familiar caracteriza-
-se, em apertada síntese, pela composição pai, mãe, filhos; pela presença de
um conjunto de representações que conformam o chamado amor român-
tico entre os cônjuges, bem como o amor materno e paterno em relação
aos filhos; a criança e o jovem passariam a ser considerados como seres em
formação, que necessitam de cuidados materiais e afetivos; a sexualidade do
casal deveria ser pautada pela prática da monogamia e do heteroerotismo;
à mulher caberia a administração do mundo doméstico enquanto que o
homem se tornaria o provedor, atuando no âmbito do público; as relações
de parentesco entre os membros da família seriam construídas a partir de
dois eixos, isto é, a consanguinidade e afetividade.4
3
LEITE, Eduardo de Oliveira. Tratado de direito de família: origem e evolução do casa-
mento. Curitiba: Juruá, 1991, p. 299.
4
AREND, Silvia Maria Fávero. Paradoxos do direito de família no Brasil. Uma análise
à luz da História Social da Família. In: SOUZA, Ivone M.C. Coelho de. Casamento:
uma escuta além do Judiciário. Florianópolis: VoxLegem, 2006, p. 105.
Interessante referir que a Lei das Doze Tábuas, uma das primeiras codificações que se
tem notícia, redigida por volta de 450 a.C e, também, o jus civile romanorum (direito
civil dos romanos), ao qual somente o civis romanus (o cidadão romano) tinha
acesso, originariamente, vez que os membros das gentes não-romanas relacionavam-
-se pelo jus gentium (o direito das gentes) reforçaram o papel de cada um dos gêneros
– masculino e feminino – ao designarem as figuras do patrimônio (patrimonium) e
do matrimônio (matrimonium). Isso porque aparece na designação de ambos o ele-
mento vocabular monium, variação fonética de munus, que significa missão, função,
ocupação. Daí, patrimonium era a missão do pai: gerar e manter os bens de Roma no
ager romanus (campo romano) sem desvio algum. E matrimonium era a missão mãe:
gerar e criar na domus romana (casa romana), também sem desvio algum, os futu-
ros cidadãos e chefes das famílias e gentes romanas, herdeiros das coisas romanas,
28 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
a dar continuidade à civitas romana. Para isso, segundo Sérgio Resende de Barros,
enquanto o pai saía para a vida fora de casa, a mulher – atual ou futura mãe – ficava
em casa. Na origem primária, tanto o patrimônio quanto o matrimônio romanos
corresponderam a funções sociais, bem definidas, do homem e da mulher. (BAR-
ROS, Sérgio Resende de. Matrimônio e patrimônio. Revista Brasileira de Direito de
Família, Porto Alegre: IBDFAM/Síntese, n. 8, p. 8, jan.-mar. 2001).
5
A autora Renata Valéria Lucena relata que os “raptos” de mulheres eram práticas
reiteradas por parte daqueles que desafiavam a ordem imposta pelas famílias de casa-
mentos forçados. “Desde o século XVI o raptor foi criminalizado e ocupou a pauta
nos discursos do Concílio de Trento que, ao legislar sobre o matrimônio, deliberou
pela aplicação de punições aos desvios contra o sétimo sacramento, o casamento.
Dentre tais desvios, destacou-se o rapto, concebido não apenas como um crime indi-
vidual, que atingia física e moralmente a moça, mas toda a família e, especialmente,
a figura do pai. (...) No Código Criminal do Império de 1830, que foi reeditado nos
anos de 1877 e 1884, o rapto está inscrito nos “Crimes contra a honra”, comparti-
lhando o espaço com os crimes de estupro. O Estado brasileiro entendia o rapto
como o ato de “Tirar para fim libidinoso por violência qualquer mulher de casa ou
lugar que estiver” (LUCENA, Renata Valéria. Os afetos proibidos: os raptos e as rela-
ções de gênero no Recife oitocentista (1860-1890), Gênero, Niterói, v. 17, n. 1, p. 171
– 189, 2. sem. 2016).
6
IAMAMOTO, Marilda. Serviço social em tempo de capital fetiche. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2010, p. 137.
7
LEITE, Eduardo de Oliveira. Tratado de direito de família: origem e evolução do casa-
mento. Curitiba: Juruá, 1991, p. 301.
“Não é bem isso” 29
8
Ibid., p. 319.
9
SOUZA, Terezinha Martins dos Santos. Patriarcado e capitalismo: uma relação sim-
biótica. Temporalis, Brasília, ano 15, n. 30, jul./dez. 2015, p. 476.
10
PATEMAN, Carole. Críticas feministas à dicotomia público/privado. Tradução de
Verso Tradutores do original “Feminist critiques of the public/private dichotomy –
The disorder of women: democracy, feminism and political theory”. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1844681/mod_resource/content/0/Pate-
man%2C%20C_Cr%C3%ADticas%20feministas%20%C3%A0%20dicotomia%20
p%C3%BAblico-privado.pdf. Acesso em 31. Jul. 2017.
11
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. In: Revista Brasi-
leira de Direito de Família, Porto Alegre: IBDFAM/Síntese, n. 24, p. 141, jun.-jul. 2004.
12
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2009, p. 27. v. 5. Segundo Margareth Rago, nessa mesma época surge “um
modelo imaginário de mulher, voltada para a intimidade do lar, e um cuidado espe-
cial com a infância, redirecionada para a escola ou para os institutos de assistência
social que se criam no país fundam a possibilidade do nascimento da intimidade
30 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
Nessa linha, nas primeiras décadas do século XX, observamos uma sig-
nificativa transição de valores, passando-se da estrutura patriarcal para uma
nova estrutura econômica e social, marcada pelas ideologias de cunho indi-
vidualista. O casamento e a família também expressaram essas mudanças em
suas estruturas e novos valores vão sendo assimilados, sem, contudo, desfa-
zer-se dos velhos costumes. Segundo Eliana Piccolli Zordam, Denise Falke e
Adriana Wagner, o surgimento da psicanálise e de outras teorias psicológicas
apresentou “novas possibilidades de convivência e repressões inculcadas, espe-
cialmente pelos valores religiosos. Nesse novo contexto, começam a permear
nas relações a ideia de que, para se casar, um homem e uma mulher deveriam
sentir uma certa atração e ter a sensação de que poderiam combinar.”13
Em descompasso com isso, o Código Civil brasileiro de 1916, vigente
até janeiro de 2003, retratou a realidade de uma família patriarcal, mantendo
a posição do homem como chefe da família, possibilitou o tratamento desi-
gual da filiação, voltado mais ao patrimônio do que ao verdadeiro sentido da
família. Dos 290 artigos da parte destinada ao direito de família, 151 trata-
vam de relações patrimoniais, e 139, de relações pessoais.
A edição da norma civilista foi, de forma inconteste, uma demonstra-
ção de dominação sobre o gênero feminino e da afirmação da vontade do
marido de modo praticamente despótico e desarrazoado. Prova disso é que,
em seu artigo 6º, o Código Civil de 1916 arrolava a mulher casada como
relativamente incapaz, ao lado das pessoas entre dezesseis e de vinte e um
anos, os pródigos e os silvícolas.
Como acima adiantamos, o esposo era considerado pela legislação
(artigo 233 do Código Civil de 1916) o chefe da sociedade conjugal, com-
petindo-lhe (I) a representação legal da família, ou seja, a representação da
família em juízo; (II) a administração dos bens comuns e, inclusive, dos bens
particulares da mulher (III); direito de fixar e mudar o domicílio da família;
(IV) o direito de autorizar a profissão da mulher e a sua residência fora do
teto conjugal e, por último, (V) prover a manutenção da família. Destarte,
flagrante o espaço de subjunção feminina haja vista que sua vontade se mos-
trava secundária, inclusive, para determinar seu futuro profissional, a admi-
nistração de seus bens e local de moradia da entidade familiar.
14
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013,
p. 113.
32 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
15
Interessante referir que, na Roma Antiga, a cerimônia do casamento não tinha lugar
no templo, mas em casa, sendo o deus doméstico quem presidia o ato. Com o obje-
tivo de dar publicidade ao enlace, tal qual atualmente utilizam-se os proclamas de
casamento, o conhecimento social do estado de casados era realizado por meio da
marcha nupcial onde, caminhando no meio da aldeia juntamente com familiares e
demais convidados, o casal passava a ser reconhecido enquanto marido e mulher.
A marcha nupcial tinha como destino a nova residência do casal, todavia, a jovem
não entrava por si mesma na nova habitação: mostrava-se preciso que o marido
simulasse um rapto e, após alguns gritos e uma “tentativa” de defesa das mulheres
que a acompanham, o esposo adentrasse a residência. Tal atitude possuía o signi-
ficado de que, no novo lar, essa mulher não teria por si própria nenhum direito,
estando sujeita à vontade do senhor do lugar e do deus que lá a introduziu à força.
No momento da entrada no lar, o esposo era obrigado a ter uma iniciativa que, até
os dias atuais, é repetida: o nubente erguia a mulher em seus braços para atravessar
a porta da casa. Contemporaneamente, essa atitude representa romantismo e, em
média, faz parte do sonho de 10 em cada 10 daqueles que ainda não celebraram as
bodas. Por outro lado, poucos sabem que, na verdade, o ato tem em sua origem a
representação da dominação do homem. Como a casa era uma religião doméstica,
a jovem, enquanto não fosse finalizada a cerimônia, não possuía dignidade para que
seus pés tocassem aquele chão, que era sagrado.
Logo após, diante do fogo sagrado, era aspergida com a água lustral e tocava o fogo
sagrado. Após orações, o final da celebração ocorria no momento em que os dois
esposos dividiam entre si um bolo, um pão e algumas frutas, o que os colocava em
comunhão religiosa entre si e em comunhão com os deuses domésticos.
Do ponto de vista prático, o casamento se assentava em um acordo formal entre o
noivo e o pai da noiva, que incluía o pagamento de um dote por parte do pai. Essa
forma de união conjugal não levava em consideração a vontade da noiva nem depen-
dia de seu consentimento para ser celebrada. Em outras palavras, a mulher era dada
pelo pai ao marido, representando, consequentemente, uma simples transferência de
casa e, sem dúvida, de senhor. (COULANGES, Fustel. A cidade antiga. Tradução de
Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 33).
16
RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers. Poder familiar e guarda comparti-
lhada: novos paradigmas do direito de família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 34.
“Não é bem isso” 33
17
MADALENO, Rolf. Novas perspectivas no direito de família. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2000, p. 120.
Nas palavras de Giselda Hironaka: “Nessas sociedades, o homem, pai e marido,
ocupa a figura central do núcleo, da autoridade e do poder, a ele competindo, exclu-
sivamente, a direção da família. Este homem, com este perfil sociológico, orgulha-se
de reconhecer a criança como sua semente, o que dá azo a um sentimento de pater-
nidade efetivamente biologizado, ou seja, originando um afeto que tem como fonte
o fato da certeza fisiológica da paternidade”. (HIRONAKA, Giselda Maria Fernandez
Novaes. Família e casamento em evolução. Revista Brasileira de Direito de Família,
IBDFAM, Porto Alegre, v. 1, n., p. 11, abr./jun. 1999).
18
Art. 124: “A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção
especial do Estado. Às famílias numerosas serão atribuídas compensações na pro-
porção dos seus encargos.”
19
BULLA, Leonia Capaverde. O contexto histórico da implantação do Serviço Social
no Rio Grande do Sul. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 4, jan./jun. 2008.
34 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
20
Segundo Marilia Lucia Martinelli, reificação é “o ato (ou o resultado do ato) de trans-
formação das propriedades, relações e ações humanas em propriedades, relações e
ações de coisas produzidas pelo homem, que se tornaram independentes (e que são
imaginadas como originalmente independentes) do homem e governam sua vida.
Significa igualmente a transformação dos seres humanos em seres semelhantes a coi-
sas. A reificação é um caso ‘especial’ de alienação, sua forma mais radical e generali-
zada, característica da moderna sociedade capitalista”. (MARTINELLI, Maria Lucia.
Serviço social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 2011, p. 125)
21
MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez,
2011, p. 125-126.
22
BULLA, Leonia Capaverde. O contexto histórico da implantação do Serviço Social no
Rio Grande do Sul. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 10, jan./jun. 2008.
23
MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez,
2011, p. 133.
24
BULLA, Leonia Capaverde. O contexto histórico da implantação do Serviço Social no
Rio Grande do Sul. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 20, jan./jun. 2008.
“Não é bem isso” 35
25
Art. 163: A família é constituída pelo casamento de vínculo indissolúvel e terá direito
à proteção especial do Estado.
26
Art. 164: É obrigatória, em todo o território nacional, a assistência à maternidade, à
infância e à adolescência. A lei instituirá o amparo de famílias de prole numerosa.
27
Art. 167: A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes
Públicos. § 1º O casamento é indissolúvel.
28
WELTER, Belmiro Pedro. Teoria tridimensional do direito de família. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2009, p. 45.
29
Art. 177: A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes
Públicos. § 1º O casamento é indissolúvel. (modificado pela EC n. 9/77).
30
RAGO, Elisabeth Juliska. Higiene, feminismo e moral sexual. Revista Gênero, Niterói,
v. 6., n. 1. p. 105-107, 2. sem. 2005, p. 107.
36 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
31
ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
p. 146.
32
Ibid., p. 169.
33
FIUZA, César Augusto de Castro. Mudança de paradigmas: do tradicional ao
contemporâneo. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coord.). Anais do II Congresso
Brasileiro de Direito de Família. A família na travessia do milênio. Belo Horizonte:
IBDFAM/OAB-MG/Del Rey, 2000, p. 35.
34
COSTA, Gley P. O amor e seus labirintos. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 25.
35
SOIHET, Rachel; SOARES, Rosana M. A.; COSTA, Suely Gomes. A história das
mulheres. Cultura e poder das mulheres: ensaio de historiografia. Revista Gênero,
Niterói, v. 2, n. 1. p. 7-30, 2. sem. 2001.
36
WELTER, I. et al. Gênero, maternidade e deficiência: representação da diversidade.
Revista Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 101, jan./jun. 2008.
37
FERRY, Luc. Famílias, amo vocês: política e vida privada na época de globalização.
Tradução de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 13.
“Não é bem isso” 37
38
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. Revista Brasileira
de Direito de Família, Porto Alegre: IBDFAM/Síntese, n. 24, p. 145, jun.-jul. 2004.
39
DELGADO, José Augusto. Estatuto da mulher casada: efeitos da lei 4.121/62. Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 69, n. 539, p. 20-24, set. 1980.
40
Segundo Paulo Roberto Wünsch e Carlos Nelson dos Reis tal terminologia é “utilizada
para caracterizar a crise econômica dos anos de 1970. Em síntese, trata-se de uma situ-
ação típica de recessão, ou seja, diminuição das atividades econômicas e aumento dos
índices de desemprego, além da inflação”. (WÜNSCH, Paulo Roberto; REIS, Carlos
Nelson dos Reis. O trabalho e o Minotauro: as constantes metamorfoses de um conflito
permanente. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 14, jan./jun. 2010)
38 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
41
SAFFIOT, Heleieth I.B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero.
Cadernos Pagu, Campinas, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pid=S0104-83332001000100007. Acesso em 31 jul. 2017.
42
FREITAS, Viviane Gonçalves. Mulheres, Mulherio e família: críticas, direitos e novas
perspectivas no Brasil dos anos 1980. Gênero, Niterói, v. 16, n. 1, p. 186, 2. sem. 2015.
43
SARTI, C. A. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória.
Revista de Estudos Feministas, v. 12, n. 2, 2004, p. 37.
44
Art. 1º O § 1º do artigo 175 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 175 – (...)
“Não é bem isso” 39
§ 1º – O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde
que haja prévia separação judicial por mais de três anos”.
Art. 2º A separação, de que trata o § 1º do artigo 175 da Constituição, poderá ser de
fato, devidamente comprovada em Juízo, e pelo prazo de cinco anos, se for anterior à
data desta emenda.
45
GLANZ, Semy. A família mutante: sociologia e direito comparado. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005, p. 124.
46
ZORDAN, Eliana Piccoli; FALCKE, Denise; WAGNER, Adriana. Copiar ou (re)
criar? Perspectivas histórico-contextuais do casamento. In: WAGNER, Adriana.
Como se perpetua a família? A transmissão dos modelos familiares. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2014, p. 58.
47
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de
família. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 154.
40 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
48
LIMA, Ana Cristina Quint de; ROSA, Conrado Paulino da; FREITAS, Douglas
Phillips. Adoção por casal homoafetivo. Florianópolis: Vox Legem, 2012, p. 27.
49
IBIAS, Delma Silveira. Famílias simultâneas e efeitos patrimoniais. In: SOUZA, Ivone
M. Candido Coelho de. (org.) In: Família contemporânea: uma visão interdisciplinar.
Porto Alegre: IBDFAM, 2011, p. 197.
50
LISBOA, Teresa Kleba Lisboa. Gênero, feminismo e Serviço Social – encontros e
desencontros ao longo da história da profissão. Rev. Katál. Florianópolis v. 13 n. 1 p.
66-75 jan./jun. 2010, p. 71.
3
“Mas isso é difícil na prática”:
a compulsoriedade da
guarda compartilhada em
casos de litígio como forma
de prevenção da alienação
parental à luz da parentalidade
responsável e da doutrina da
proteção integral
1
MONTAÑO, Carlos. Alienação parental e guarda compartilhada. Um desafio ao Ser-
viço Social na proteção dos mais indefesos: a criança alienada. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2016, p. 5.
2
ROSA, Conrado Paulino da. Curso de direito de família contemporâneo. 2. ed. Salva-
dor: Juspodivm, 2017, p. 512.
110 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
3
FERREIRA, Cristiana Sanchez Gomes. A síndrome da alienação parental (SAP) sob
a perspectiva dos regimes de guarda de menores. In: ROSA, Conrado Paulino da;
THOMÉ, Liane Maria Busnello. O papel de cada um nos conflitos familiares e sucessó-
rios. Porto Alegre: IBDFAM, 2014, p. 70.
4
ROSA, Conrado Paulino da. Curso de direito de família contemporâneo. 2. ed. Salva-
dor: Juspodivm, 2017. 512 p.
“Mas isso é difícil na prática” 111
tor que possui a guarda, de falsas verdades acaba por causar na criança ou
adolescente a sensação de que foi abandonado e não é querido pelo outro,
causando um transtorno psicológico que o leva a acreditar em tudo que foi
dito em desfavor do outro genitor e passa a rejeitá-lo, dificultando as visitas
e tornando-o cada vez mais distante até aliená-lo, tornando-se órfão de pai
vivo, o que é extremamente prejudicial para ambos.
A síndrome de alienação parental deve ser compreendida como uma
patologia jurídica caracterizada pelo exercício abusivo do direito de guarda,
vitimando especialmente o filho, que vive uma contradição de sentimentos
5
SOUZA, Rachel Pacheco Ribeiro de; Terezinha Feres; MOTTA, Maria Antonieta
Pisano. Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do guardião. Porto Alegre: Equi-
líbrio, 2008, p. 7.
6
CARVALHO, Dimas Messias de. Adoção e guarda. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 66.
112 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
Quadro n. 10:
Apresenta de forma sistemática os comportamentos indicados como indícios
de práticas alienadoras pela Lei da Alienação Parental (Lei 12.318/2010).8
Inciso do
art. 2º §
Atitude Explicação e exemplos
único da
Lei 12.318
7
WANDALSEN, Kristina Yassuko Iha Kian. Direito e psicologia: um diálogo neces-
sário em direção à justiça nos conflitos familiares. Dissertação de mestrado apresen-
tada na PUCSP. São Paulo, 2009. p. 82.
8
ROSA, Conrado Paulino da. Curso de direito de família contemporâneo. 4. ed. Salva-
dor: Juspodivm, 2017, p. 407-410.
“Mas isso é difícil na prática” 113
Inciso do
art. 2º §
Atitude Explicação e exemplos
único da
Lei 12.318
Dificultar contato de criança III O embaraço do contato com o filho pode ser materializa-
ou adolescente com genitor do pela atitude do alienador em não atender as ligações
do genitor alienado, mas também, em mudar o número
de telefone, não carregar a bateria do celular ou deixar
o fixo desligado (antigamente isso aconteceria deixando
fora do gancho).
A criatividade do progenitor em sua campanha de afasta-
mento é tamanha que, muitas vezes, é arquitetada com o
bloqueio do genitor alienado nas redes sociais do filho e,
até mesmo, estragando o celular ou escondendo o carre-
gador para que obstaculize o contato com a prole.
Inciso do
art. 2º §
Atitude Explicação e exemplos
único da
Lei 12.318
9
Artigo 1.584 § 6º CC: Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a
prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de
multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não
atendimento da solicitação.
10
CUENCA, José Manuel Aguilar. Síndrome de alienação parental: filhos manipulados
por um cônjuge para odiar o outro. Coimbra: Caleidoscópio, 2008, p. 45.
11
TRINDADE, Jorge Trindade. Manual de psicologia jurídica para operadores do
Direito. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, p. 221.
12
O mesmo autor, que é Procurador de Justiça aposentado e Psicólogo, em conjunto
com Elise Trindade (Psicóloga) e Fernanda Molinari (Advogada, mediadora de con-
flitos e Doutora em Psicologia) desenvolveram a Escala de Indicadores Legais de
Alienação Parental. A ferramenta é composta por um questionário digital de autor-
resposta, que visa mensurar a presença de fatores de alienação parental, para fins de
conhecimento pessoal e científico. Trata-se de um material riquíssimo e inédito no
mundo, disponível no site www.escaladealienacaoparental.com.
“Mas isso é difícil na prática” 115
Inciso do
art. 2º §
Atitude Explicação e exemplos
único da
Lei 12.318
Mudar o domicílio para VII A mudança de domicílio para cidade distante é uma das
local distante, sem justifi- formas de obstaculizar o regime de convivência já regu-
cativa, visando a dificultar lamentado pelo Juízo ou qualquer pretensão nesse sentido.
a convivência da criança Com a transferência, o alienador busca impedir o per-
ou adolescente com o outro noite semanal e, também, criar empecilhos de ordem
genitor, com familiares deste financeira e temporal para que a convivência dos finais
ou com avós de semana não seja efetivada.
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As falsas memórias definem-se por lembranças de situações que não ocorreram como
se de fato tivessem ocorrido. A mesma memória que é responsável pela nossa qua-
lidade de vida, uma vez que, é a partir dela que nos constituímos como indivíduos;
sabemos nossa história, reconhecemos nossos amigos, apresenta erros e distorções que
podem mudar o curso de nossas ações e reações, e até mesmo ter implicações sobre a
vida de outras pessoas. (STEIN, Lilian Milnitsky et al. Falsas Memórias: Fundamentos
científicos e suas aplicações clínicas e jurídicas. Porto Alegre: Artmed. 2010, p. 22).
116 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
Quadro n. 11:
Comparativo entre a redação originária do artigo 1.634 do Código Civil de 2002
(Lei 10.406/2002) em relação as alterações implementadas pela Lei 13.058/2014.
Código Civil 2002 Código Civil 2002
(redação originária) (após 13.058/2014)
Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer
filhos menores: que seja a sua situação conjugal, o pleno exer-
cício do poder familiar que consiste em, quanto
aos filhos:
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos VII – representá-los judicial e extrajudicialmente
atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil,
nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o e assisti-los, após essa idade, nos atos em que
consentimento; forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
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Art. 1.632 do Código Civil: A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união
estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos
primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.
118 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
15
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2. ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2015. p. 790.
“Mas isso é difícil na prática” 119
16
A convivência assistida deverá no fórum em que tramita a ação ou em entidades
conveniadas com a Justiça, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo
à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, “atestado por pro-
fissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas”, de
acordo com a redação do parágrafo único do artigo 4° da Lei 12.318/2010, que teve a
redação modificada pela Lei 14.340/2022, de 18 de maio de 2022.
Trata-se, inclusive, de uma possibilidade em que, em um ambiente normalmente
impessoal e pouco acolhedor, possamos criar um refúgio para que esse momento
seja vivenciado de maneira mais humanizada. Além disso, a modificação realizada
no ano de 2022 também qualificou a rede de proteção da criança. Infelizmente, não
eram raros os deferimentos de convivências assistidas sob supervisão de algum inte-
grante do outro núcleo familiar. Imaginemos, nessa linha, alguém que esteja sendo
120 G U A R D A C O M P A R T I L H A D A C O A T I V A
a notícia de abuso deva ser analisada com atenção pelo juízo, haja vista a
gravidade das consequências para a vítima, o magistrado deverá, por outro
lado, determinar que a convivência seja mantida, pelo menos, de forma
assistida por profissional do Serviço Social ou Psicologia. Essa cautela, de
caráter temporário, mostra-se necessária para que a demora processual não
sirva como uma aliada para o genitor alienador.17
“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Você pode não saber o
autor dessa frase, mas, certamente, já a ouviu algumas vezes na vida. A asser-
tiva de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista,
denota o poder decorrente da repetição desenfreada de uma informação
equivocada, que, no momento presente, é potencializado pelo dinamismo
de sua disseminação em ambiente virtual.
Em se tratando dos direitos das crianças e adolescentes, nos últimos anos,
vivenciamos uma campanha de desqualificação da nociva prática da aliena-
ção parental. Desde alegações de que a Lei 12.318/2010, que trata da matéria,
serviria para proteger abusadores, passando, até mesmo, por discursos de que
sua revogação seria necessária, vez que era contra o gênero feminino.
A boa notícia que a Lei 14.340 apresentou, em maio de 2022, é a de que,
apesar das inúmeras inverdades direcionadas à prática alienadora, as altera-
ções promovidas na Lei 12.318/2010 possibilitaram uma melhora na garantia
dos direitos daqueles a quem a Constituição Federal destina proteção especial.
A primeira delas diz respeito justamente à execução das convivências
familiares assistidas, tão importantes em situações de risco, principalmente
Fontes:
– Legislações, normativas e resoluções.
– Relatórios de dados governamentais a respeito de crianças e ado-
lescentes no Brasil e do Poder Judiciário quanto aos processos em
tramitação.
Lugar
da Responsáveis pela guarda dos filhos
ação do
processo Total
Ambos os Sem
Marido Mulher Outro
cônjuges declaração
Sul 19 790 4,6% 928 61,4% 12 152 31,1% 6 156 1,2% 242 1,5% 312
Paraná 10 466 4,4% 466 56,9% 5 963 34,7% 3 640 1,4% 155 2,3% 242
Santa
5 216 5,5% 289 64,4% 3 360 28,18% 1 470 1,03% 54 0,82% 43
Catarina
Rio
Grande 4 108 4,2% 173 68,8% 2 829 25,4% 1 046 0,8% 33 0,65% 27
do Sul
Brasil 161 907 4% 6 601 62,4% 101 048 26,7% 43 367 1,2% 2 029 5,4% 8 862