Apostila de Hermeneutica
Apostila de Hermeneutica
Apostila de Hermeneutica
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Nossa proposta com este estudo é levar aos nossos alunos do Curso de Teologia e aos
estudantes da Bíblia em geral a melhor interpretação da Bíblia possível.
Nosso alvo é alcançar tanto a intelectualidade como a espiritualidade do aluno, convidando-
o
à pesquisa, expondo a matéria de uma maneira simples e inteligível.
INTRODUÇÃO
HERMENÊUTICA BÍBLICA
Esta é uma disciplina do curso de teologia da mais alta importância por ser o ponto de
convergência de todo conhecimento bíblico, teológico e geral. Todo conhecimento será importante
no momento da exegese.
Através das regras da Hermenêutica, o estudante é capaz de organizar, compreender,
comentar e aplicar o material bibliográfico à sua disposição.
Hermenêutica é a ciência e arte de interpretar textos. A hermenêutica é a ciência que
estabelece os princípios, leis e métodos de interpretação. Em sua abrangência trata da teoria da
interpretação de sinais, símbolos e leis de uma cultura.
Hermenêutica é considerada ciência porque ela tem normas, ou regras, e essas podem ser
classificadas num sistema ordenado.
Hermenêutica é considerada arte porque a comunicação é flexível e, portanto, uma
aplicação mecânica e rígida das regras, às vezes, distorcerá o verdadeiro sentido de uma
comunicação.
Hermenêutica é um ato de caráter espiritual, quando se trata da interpretação da Bíblia, pois
deve ser realizada na dependência do Espírito Santo. Exige-se do bom intérprete que ele aprenda
as regras da hermenêutica bem como a arte de aplicá-las e que tenha uma vida piedosa.
Interpretar um texto implica em duas vertentes:
2
Fala sobre a ira pessoal do leitor ao se deitar, mas apesar de ser essa a interpretação, a
aplicação vai depender do Espírito Santo para quem o pregador será usado para falar ao público
presente.
ORIGEM
A palavra HERMENÊUTICA é derivada do termo grego HERMENEUTIKE e o primeiro
homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo Platão.
Uma das primeiras ciências que o pregador deve conhecer é certamente a hermenêutica.
Porém, quantos pregadores há que nem de nome a conhecem!
Que é, pois, a hermenêutica? "A arte de interpretar textos", responde o dicionário. Entretanto
a hermenêutica da qual nos ocuparemos, forma parte da Teologia exegética, ou seja, a que trata da
reta inteligência e interpretação das Escrituras bíblicas
A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
palácio, em tempo de guerra e em tempo de paz. Seus escritores variam de homens simples do
povo a grandes sábios e doutores.
Por tudo isso e muito mais, se fazem necessárias, além do conhecimento hermenêutico,
qualidades vocacionais e espirituais ao intérprete da Palavra de Deus.
NECESSITA DE FÉ
Está escrito:
Sem fé é impossível agradar a Deus, por que é necessário que aquele que
Dele se aproxima, creia que Ele existe e que é galardoador dos que o
buscam.
Hebreus 11.6
Aquele que ainda não tem fé não está apto para interpretar a Palavra de um Deus em quem
não crê, no entanto, deve lê-la e ouvi-la para adquirir fé, como também está escrito: “a fé vem pelo
ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.”(Rm 10.17).
Jeremias 33.3
Quem pretende entender a Revelação Escrita de Deus deve viver em constante oração,
louvor e meditação em sua Palavra.
OBJETIVOS DA HERMENÊUTICA
O objetivo é tornar o autor contemporâneo do leitor, aproximando-os à compreensão da
mesma época. Esclarecer tudo que haja de obscuro.
Tornar o assunto compreensível
II Pedro 3:15,16
Hermenêutica Geral
Cuida das regras gerais de interpretação da Bíblia, se aplica à interpretação de qualquer
obra escrita. Aqui olhamos para o contexto mais amplo dentro do qual uma passagem se encontra.
Por exemplo: Imagine que você ouça alguém mencionar a palavra “certo”. O que a pessoa está
dizendo? Certo porque não houve erro algum na tarefa que fez; certo porque estava convencida do
que o outro disse; certo conforme o que havia sido acordado anteriormente.
O contexto histórico e lógico nos ajuda a compreender o contexto fornecendo os alicerces
para a interpretação do texto.
Contexto histórico nos apresenta a autoria, data, a quem é dirigido e seu propósito.
Contexto lógico é o mapeamento do livro e da passagem que está sendo lida. Lembro que um verso
deve ser lido no contexto de seu parágrafo.
Hermenêutica Especial
Cuida das formas especiais de interpretação, como: símbolos, tipos, figuras de linguagem
e profecias. Esta forma de interpretação se aplica a determinados tipos de produção literais tais
como: Leis, histórias, profecias, poesias, etc.
Teologia Luterana
Duas verdades presentes em toda Bíblia: a lei e o evangelho. A Lei é vista como
manifestação do ódio ao pecado, trazendo juízo e a ira de Deus. O Evangelho é visto como
manifestação da graça, amor e salvação de Deus. Segundo esse critério, passagens do V.T. como
Gn.7:1 são consideradas “evangelho”
Então o Senhor disse a Noé: "Entre na arca, você e toda a sua família,
porque você é o único justo que encontrei nesta geração.
Gênesis 7.1
Teologia Calvinista
O termo Calvinismo é dado ao sistema teológico da Reforma protestante, exposto e
defendido por João Calvino (1509-1564). Seu sistema de interpretação bíblica pode ser resumido
em cinco pontos, conhecidos como "os 5 pontos do Calvinismo" (TULIP em inglês):
O sistema teológico de Armínio foi derrotado no Sínodo de Dort em 1619 na Holanda, por
ser considerado antibíblico. Por incrível que possa parecer, hoje o Arminianismo é o sistema
teológico adotado pela maior parte das igrejas evangélicas. As seitas e o Catolicismo Romano
também rejeitam o Calvinismo.
Teologia da Libertação
Teologia da Libertação é uma corrente teológica cristã nascida na América Latina, depois
do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (Colômbia, 1968), que parte da premissa de
que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e de especificar que a teologia, para
concretar essa opção, deve usar também as ciências humanas e sociais.
É considerada como um movimento supra denominacional, apartidário e exclusivista de
teologia política, que engloba várias correntes de pensamento que interpretam os ensinamentos de
Jesus Cristo em termos de uma libertação de injustas condições econômicas, políticas ou sociais.
Ela foi descrita, pelos seus proponentes como reinterpretação analítica e antropológica da
fé cristã, em vista dos problemas sociais, mas, seus oponentes a descrevem como marxismo,
relativismo e materialismo cristianizado.
A maior parte dos teólogos da libertação é favorável ao ecumenismo e à inculturação da fé.
Alguns teólogos: o padre peruano Gustavo Gutiérrez e o brasileiro Leonardo Boff.
Teologia da Prosperidade
Teologia da prosperidade (também conhecida como Evangelho da prosperidade) é uma
doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e
que a fé, o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a
riqueza material do fiel.
Baseada em interpretações não-tradicionais da Bíblia, geralmente com ênfase no Livro de
Malaquias, a doutrina interpreta a Bíblia como um contrato entre Deus e os humanos; se os humanos
tiverem fé em Deus, Ele irá cumprir suas promessas de segurança e prosperidade. Reconhecer tais
promessas como verdadeiras é percebido como um ato de fé, o que Deus irá honrar.
Seus defensores ensinam que a doutrina é um aspecto do caminho à dominação cristã da
sociedade, argumentando que a promessa divina de dominação sobre as Tribos de Israel se aplica
aos cristãos de hoje. A doutrina enfatiza a importância do empoderamento pessoal, propondo que
é da vontade de Deus ver seu povo feliz. A expiação (reconciliação com Deus) é interpretada de
forma a incluir o alívio das doenças e da pobreza, que são vistas como maldições a serem
quebradas pela fé. Acredita-se atingir isso através da visualização e da confissão positiva, o que é
geralmente professado em termos contratuais e mecânicos.
A Posição Neo-ortodoxa
Os neo-ortodoxos creem que a Bíblia se torna palavra de Deus. A Bíblia torna-se a palavra de Deus
quando os indivíduos a leem e as palavras adquirem para eles significado pessoal, existencial, ou
quando há um encontro pessoal entre Deus e o Homem. Portanto, Deus se revela na Bíblia nos
encontros pessoais; não porém, de maneira preposicional, isto é, nas frases e citações bíblicas.
A posição Ortodoxa[9]
A bíblia é a palavra de Deus. A posição ortodoxa é que Deus operou por meio das
personalidades dos escritores bíblicos de tal modo que, sem suspender seus estilos pessoais de
interpretação ou liberdade, o que eles produziram foi literalmente, "soprado por Deus “, ou palavra de
Deus. II Tm 3:16 afirma: "Toda escritura é divinamente inspirada por Deus...". A palavra grega para o
termo "inspirada" é theopneustos. Estamos falando aqui de uma inspiração de caráter sobrenatural, em
que Deus guia os autores bíblicos de tal modo que seus escritos trazem o selo da inspiração divina.
Outro fato a destacar é que "toda escritura é divinamente inspirada...", e não apenas partes,
como alguns defendem. Se admitimos tal possibilidade então abrimos uma lacuna perigosa: Como julgar
se uma determinada passagem bíblica é inspirada ou não? Ou como saber se estamos diante de uma
passagem inspirada?
Portanto, a inspiração Bíblica, segundo o ponto de vista ortodoxo, abrange toda a revelação
bíblica.
Teoria Dispensacionalista
O dispensacionalismo é uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que a
segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico, envolvendo o
arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha do
Armagedom e o estabelecimento do reino de Deus na Terra.
A teologia dispensacionista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a Igreja.
Os dispensacionalistas acreditam que a salvação foi sempre pela fé (em Deus no Velho Testamento;
especificamente em Deus o Filho no Novo Testamento). Os dispensacionistas afirmam que a Igreja
não substituiu Israel no programa de Deus e que as promessas do Velho Testamento a Israel não
foram transferidas para a Igreja. Eles creem que as promessas que Deus fez a Israel no Velho
Testamento serão cumpridas no período de 1000 anos de que fala Apocalipse 20. Eles creem que
da mesma forma que Deus concentra sua atenção na igreja nesta era, Ele novamente, no futuro,
concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11). A maioria dos Dispensacionalistas são contra
acordos de paz, pois segundo eles, só adiaria o inevitável que é a volta de Jesus.
Processo:
Deus dá ao homem um conjunto específico de responsabilidades ou padrão de obediência;
O homem não consegue viver à altura desse conjunto de responsabilidades;
Deus reage com misericórdia concedendo um novo conjunto de responsabilidades – uma
nova dispensação.
Esquemas Gênesis Gênesis 3-8 Gênesi Gênesis Êxodo Atos 2 a Apocalipse Apocalipse
a Êxodo 20
Atos 1
19
dispensação
dispensação
(minimalista)
MÉTODOS DA HERMENÊUTICA
Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo a
passo com o objetivo de alcançar um resultado.
Durante séculos os eruditos religiosos procuraram todos os métodos possíveis para
desvendar os tesouros da Bíblia e arquitetar meios de descobrir os seus segredos.
Método Analítico
É o método utilizado nos estudos pormenorizados com anotações de detalhes, por
insignificantes que pareçam com a finalidade de descrevê-los e estudá-los em todas as suas formas.
Este método é conhecido como OICA
Os passos básicos deste método são:
Observação. É o passo que nos leva a extrair do texto o que realmente descreve os fatos,
levando também em conta a importância das declarações e o contexto;
Interpretação. É o passo que nos leva a buscar a explicação e o significado (tanto para o
autor quanto para o leitor) para entender a mensagem central do texto lido. A interpretação deverá
ser conduzida dentro do contexto textual e histórico com oração e dependência total do Espírito
Santo, analisando o significado das palavras e frases chaves, avaliando os fatos, investigando os
pontos difíceis e incertos, resumindo a mensagem do autor a seus leitores originais e fazer a
contextualização (trazer a mensagem a nossa época ou ao nosso contexto);
Correlação. É o passo que nos leva a comparar narrativas ou mensagem de um fato escrito
por vários autores, em épocas distintas em que cada um narra o fato, em ângulos não coincidentes
como por exemplo a mesma narrativa descrita em Mc 10.46 e Lc 18.35, onde o primeiro descreve
"saindo de Jericó" e o segundo "chegando em Jericó";
Aplicação. É o passo que nos leva a buscar mudanças de atitudes e de ações em função
da verdade descoberta. É a resposta através da ação prática daquilo que se aprendeu.
Um exemplo de aplicação é o de pedir perdão e reconciliar-se com alguém ou mesmo o de
adoração a Deus.
Exercício: 1 Timóteo 2 e 3 (dividir a sala em dois grupos e cada um trabalhará o método analítico
de um capítulo).
e em todos os demais capítulos ela enfatiza a palavra SUPERIOR. (De acordo com a versão Almeida
Revista e Atualizada – ARA).
SUPERIOR:
A. Aos anjos – 1.4; f) Ao sacrifício – 9.23; l) Ao sacerdócio – 5 a 7;
B. A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;
C. A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;
D. A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;
E. A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;
PASSO UM – Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo (por
exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou um índice
enciclopédico, localize as referências que têm relação com a pessoa do estudo. Leia várias vezes
e faça um resumo de cada uma delas.
1. Observações – Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre essa pessoa. Quem era? O
que fazia? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que fez? Como levou a efeito? Anote
minúcias sobre ela e seu caráter.
2. Dificuldades – Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de acontecimentos de
sua vida.
3. Aplicações possíveis – Anote várias destas durante o transcurso do seu estudo, e escreva
um "A" na margem. Ao concluir o seu estudo, você voltará a estas aplicações possíveis e
escolherá aquela que o Espírito Santo destacar.
PASSO DOIS – Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da pessoa. Inclua
os acontecimentos e características importantes, declarando os fatos, sem interpretação. Quando
possível, mantenha o material em ordem cronológica.
1. Quando viveu a pessoa? Quais eram as condições políticas, sociais, religiosas e econômicas
da sua época?
2. Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa de incomum em torno
do seu nascimento e da sua infância?
3. Qual a sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra ocupação? Isto influenciou
o seu ministério posterior? Como?
4. Quem foi seu cônjuge? Tinham filhos? Como eram eles? Ajudaram ou estorvaram a sua vida
e o seu ministério?
5. Faça um gráfico das viagens da pessoa. Onde ela foi? Por que? O que fez?
6. Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?
EXEGESE
Exegese é o estudo cuidadoso e sistemático de um texto para comentários, visando o
esclarecimento ou interpretação do mesmo. É o estudo objetivando subsidiar o passo da
interpretação do método analítico da hermenêutica. Este estudo é desenvolvido sob as indagações
de um contexto histórico e literário.
Aplicação da exegese
A aplicação da exegese é realizada a partir das indagações básicas sobre o contexto e o
conteúdo do texto em exame.
A. Texto – O capítulo, parágrafo ou porção bíblica que encerra uma idéia completa, que se
pretende estudar. Ex.: Mateus 5.1-12; ICoríntios 11.1-3; João 14,6, etc.
B. Contexto – A parte que antecede o texto e a parte que é precedida pelo texto. Ex.: Texto
João 14.6, Contexto Gênesis 1.1 a João 14.5 e João 14.7 a Apocalipse 22.21.
Rodapé de bíblia não é a bíblia. Não estou desconsiderando os grandes teólogos que escrevem nos
rodapés da bíblia, contudo devemos sempre ter uma mente crítica e analítica.
Exercício exegético
Vamos exercitar a hermenêutica! Siga as instruções passo a passo.
A - Faça uma oração sincera a Deus. Ore a Deus desejando de todo o coração
compreender a sua Palavra para aplicá-la à sua vida e também compartilhar com outras pessoas.
B - Escolha o texto a ser estudado. O texto escolhido não deve ser grande nem complexo.
A princípio, não se deve exceder a cinco versículos. Deve ser tomado um texto que tenha o máximo
de sentido literal por ser de mais fácil interpretação.
Sugestão:
18 Então Jesus perguntou: "Com que se parece o Reino de Deus? Com
que o compararei?
19 É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta.
Ele cresceu e se
tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos".
20 Mais uma vez ele perguntou: "A que compararei o Reino de Deus?
21 É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande
quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada".
Lucas 13:18-21
Obs.: No original temos um verbo a mais nos versos 19 e 21 – verbo tomou ou pegou.
Existem palavras que julgamos saber o seu significado mas, quando vamos ao dicionário,
descobrimos, atônitos, que o sentido é completamente diferente do que pensávamos.
Neste momento é importante estar atento aos verbos e suas variações de tempo (passado,
presente, futuro ou gerúndio) escrita pelo autor. Muitas vezes a palavra que encontramos no texto
é uma variação da forma radical da palavra. Por exemplo, em português poderíamos encontrar
várias formas do verbo Entregar:
· Entregou, entregado, entregue, entregaremos.
FIGURAS DE RETÓRICA
Exporemos em seguida uma série de figuras com seus correspondentes exemplos, que
precisam ser estudados cuidadosamente e repetidas vezes.
Metáfora
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se
um com o que é próprio do outro. É uma comparação não expressa. É a figura em que se afirma
que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, ou como que se compara. O sujeito está
entrelaçado com a coisa comparada.
Metáfora é designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa outro
objeto ou qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança (p.ex., ele tem uma vontade
de ferro para designar uma vontade forte, como o ferro).
Exemplos bíblicos:
Ao dizer Jesus: "Eu Sou a Videira Verdadeira", Jesus se caracterizou com o que é próprio
essencial da videira (pé de uva);
Ao dizer aos discípulos: "Vós sois as varas", caracterizou-os com o que é próprio das varas.
Outros exemplos: "Eu Sou o Caminho", "Eu Sou o Pão Vivo", "Judá é Leãozinho", "Tu és
minha Rocha", etc.
Sinédoque
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural pelo
singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. É a substituição de uma ideia por outra que lhe é
associada.
Exemplos:
- A parte pelo todo (ou o todo pela parte) .Vou sair da casa de meus pais e ter meu próprio
teto. (casa)
- A classe pelo indivíduo (ou o indivíduo pela classe) Quanto mais o Homem constrói, mais
o Homem destrói. (os seres humanos)
Exemplos bíblicos:
Toma a parte pelo todo: "Minha carne repousará segura", em vez de dizer: meu corpo.
(Sl 16.9).
Toma o todo pela parte: "...beberdes o cálice", em lugar de dizer: do cálice, ou seja, parte
do
que há no cálice.
Gn 6:12 “E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida” – terra=homem do geral pelo
particular.
Metonímia
É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa relação. A metonímia
refere- se à substituição de palavras com sentidos próximos, ou seja, é utilizada uma palavra em
vez de outra, sendo que ambas partilham uma relação de proximidade de sentido, de contiguidade.
Emprega-se esta figura quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade
que indica o símbolo.
Exemplos:
Jesus emprega a causa pelo efeito: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos", em lugar
de dizer que têm os escritos de Moisés e dos profetas (Lc 16.29).
Jesus emprega o símbolo pela realidade que o mesmo indica: "Se eu não te lavar, não tem
Prosopopeia
Esta figura é usada quando se personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes os feitos
e ações das pessoas. É a personificação de coisas ou de seres irracionais.
Exemplos:
"Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Cor 15.55) Paulo trata a morte como se fosse
uma pessoa.
"Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do
campo baterão palmas." (Is 55.12)
"Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da terra brota a
verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar." (Sl 85.10,11)
“Todos os meus ossos dirão: Senhor quem é como tu” (Sl 35:10). Ossos/fala
Exemplo:
· Gn 8:12 “O Senhor cheirou o suave cheiro, e disse ...”. Cheirar/sentido
Ironia
Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém sempre
de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro. É a expressão de um pensamento em palavras
que, literalmente entendidas, exprimem o pensamento oposto.
Exemplos:
"Clamai em altas vozes... e despertará." Elias dá a entender que chamar por Baal é
completamente inútil (1 Rs 18.27).
“Clamai aos deuses que escolhestes, eles que vos livrem no tempo do vosso
aperto" (Juízes 10:14).
Hipérbole
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor do que em
realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. É um exagero. É a afirmação de que as palavras
vão além da realidade literal das coisas.
Exemplos:
"Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos... as cidades
são grandes e fortificadas até aos céus" (Num. 13.33).
"Nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam, escritos" (Jo. 21.25).
"Rios de águas correm dos meus olhos, porque não guardam a tua lei" (Sl 119.136).
Dt 1:28 “As cidades são grandes e fortificadas até os céus”.
Alegoria
É um modo de expressão ou interpretação que consiste em representar pensamentos,
ideias, qualidades sob forma figurada. Podemos dizer que é uma figura retórica que geralmente
consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes.
Exemplo:
· "Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá eternamente; e o
pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a minha carne e beber o
meu sangue tem a vida eterna", etc. - Esta alegoria tem sua interpretação nesta mesma
passagem das Escrituras. (Jo 6.51-65)
Fábula
É uma narrativa, em prosa ou verso, com personagens animais que agem como seres
humanos, e que ilustra um preceito moral.
Exemplo:
· "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha por mulher
a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo"
(2 Rs 14.9). Com esta fábula Jeoás, rei de Israel, responde a proposta de guerra feita por
Amazias, rei de Judá.
Enigma
O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa (obscuro).
Enigma é a definição de algo por suas qualidades ou particularidades, mas difícil de entender.
Exemplo:
· "Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura" (Jz 14.14).
Tipo.
É o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por meio
de coisas terrestres, as coisas espirituais. O tipo é uma classe de metáfora que não consiste
meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes,
pessoas ou objetos no porvir. Estas figuras são numerosas e chamam-se na Escritura sombra dos
bens vindouros, e se encontram, portanto, no Antigo Testamento.
Exemplos:
A serpente de metal levantada no deserto foi mencionada por Jesus como um tipo para
representar sua morte na cruz (Jo 3.14)
Jonas no ventre do grande peixe, foi usado como tipo por Jesus para representar a sua
morte e ressurreição. (Mt 12.40)
O primeiro Adão é um tipo para Cristo, o último Adão. (I Cor 15.45)
Maná no deserto à Alimento espiritual
Libertação do Egito à Libertação do mundo
Marcha no deserto à Nossa peregrinação na terra
Símbolo
Representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar, que se
considera a propósito para servir de semelhança ou representação.
Exemplos:
A majestade pelo leão,
a força pelo cavalo,
a astúcia pela serpente,
o corpo de Cristo pelo pão,
o sangue de Cristo pelo cálice.
Números Simbólicos
A Bíblia tem uma numerologia própria. À medida que se desenrola a revelação escrita de
Deus ao homem vários números vão aparecendo de uma maneira importante e, muitas vezes, com
um significado conotativo.
Vejamos alguns números que se destacam:
Número quatro
Número global. Indica o cósmico natural. Fala daquilo que é completo. Não trata da
plenitude, mas do alcance global.
“Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quanto ventos
da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore
alguma.” (Ap 7.1).
Número seis
Fala do homem, de sua formação, de sua falibilidade.
“Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criaram. E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia
sexto.” (Gn1.27,31).
“ Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o
número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Ap 13.18)
Número sete
Indica perfeição, plenitude, união do céu e terra, o sagrado. É o número de Deus e também
o número dos mistérios.
“As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada numa fornalha de barro,
purificada sete vezes.” (Sl 12.6).
“A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas.” (Pv 9.1).
“ Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus, e
as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto.” (Ap 3.1).
“ E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes dizer
numa voz como de trovão: Vem!” (Ap 6.1).
Número doze
Fala dos propósitos eletivos de Deus.
“E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos,
para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mt 10.1).
“ E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a santa cidade de
Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, tendo a glória de Deus; e o seu brilho era
semelhante a uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino; e tinha um grande e alto
muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes
das doze tribos dos filhos de Israel. Ao oriente havia três portas, ao norte três portas, ao sul três
portas, e ao ocidente três portas. O muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles estavam os
nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21.10-14).
Número quarenta
Fala das intervenções de Deus na História da humanidade especialmente no que se refere
à salvação do homem. Simboliza provação, santificação.
“ Quando subi ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas do pacto que o Senhor
fizera convosco, fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água.”
(Dt 9.9).
“ E quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito, e levarás a
iniqüidade da casa de Judá; quarenta dias te dei, cada dia por um ano.” (Ez 4.64).
“E começou Jonas a entrar pela cidade, fazendo a jornada dum dia, e clamava, dizendo:
Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.” (Jn 3.4).
“ Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo
jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. (Mt 4.1-2).
“ Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar,
até o dia em que foi levado para cima, depois de haver dado mandamento, pelo Espírito Santo, aos
apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com
muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço de quarenta dias, e lhes falando das coisas
concernentes ao reino de Deus. (At 1.1-3).
Número setenta
Fala da administração de Deus sobre o mundo.
“Disse então o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que
sabes serem os anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da revelação, para que
estejam ali contigo. Então descerei e ali falarei contigo, e tirarei do espírito que está sobre ti, e o
porei sobre eles; e contigo levarão eles o peso do povo para que tu não o leves só.” (Nm 11.15-16).
“E toda esta terra virá a ser uma desolação e um espanto; e estas nações servirão ao rei de
Babilônia setenta anos. Acontecerá, porém, que quando se cumprirem os setenta anos, castigarei
o rei de Babilônia, e esta nação, diz o Senhor, castigando a sua iniqüidade, e a terra dos caldeus;
farei deles uma desolação perpétua. (Jr 25.11-12).
“Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para fazer
cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna,
e selar a visão e a profecia, e para ungir o santíssimo.” (Dn 9.24).
“Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois,
a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas
os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua
seara.” (Lc 10.1-2).
Parábola.
É uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação
ou analogia, sempre com o objetivo de ilustrar uma ou várias verdades importantes. É uma narrativa
de acontecimento real ou imaginário em que tanto as pessoas como as coisas e as ações
correspondem a verdades de ordem espiritual e moral
Exemplos:
O Semeador (Mt 13.3-8);
Ovelha perdida,
dracma perdida
filho pródigo (Lc. 15), etc.
Símile
A figura de retórica denominada Símile procede da palavra latina "similis" que significa
semelhante ou parecido a outro. É uma analogia. Comparação de coisas semelhantes.
Exemplos:
· "Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim (do mesmo modo) é grande a sua
misericórdia para com os que o temem". (Sl 103.11);
· "Como o pai se compadece de seus filhos, assim (do mesmo modo) o Senhor se
compadece dos que o temem". (Sl 103.13)
Interrogação.
A palavra interrogação procede de um vocábulo latino que significa pergunta. Mas nem
todas as perguntas são figuras de retórica. Somente quando a pergunta encerra uma conclusão
evidente é que é uma figura literária.
"Interrogação é uma figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor, ou adversário,
ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai responder."
Exemplos:
"Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18.25)
"Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos que hão de
herdar a salvação?" (Hb 1.14)
"Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" (Rm 8.33)
"Com um beijo trais o Filho do homem?" (Lc 22.48)
Apóstrofe
Interrupção súbita do discurso que o orador ou o escritor faz, para dirigir-se a alguém ou a
algo, real ou fictício (p.ex.: a seguir, leitor amigo, contarei a história tal como sucedeu).
A palavra apóstrofe procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e
strepho, que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes
imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária.
O emprego dessa figura, na eloqüência, produz grandes efeitos sobre as paixões que o
orador procura transmitir aos ouvintes."
Antítese
Este vocábulo procede da palavra latina antithesis e está em palavras gregas que significam
colocar uma coisa contra a outra. "Inclusão, na mesma frase, de duas palavras, ou dois
pensamentos, que fazem contraste um com o outro."
Exemplos:
"Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal." (Dt 30.15)
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz a perdição e
são muitos os que entram por ela) porque
estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que
acertam com ela." (Mt 7.13,14)
Provérbio
Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que quer dizer
palavra. Trata-se de um dito comum ou adágio.
Exemplos:
"Médico cura-te a ti mesmo" (Lc 4.23);
"Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra." (Mt 6.4; Mt 13.57)
Paradoxo.
Denomina-se paradoxo a uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a uma
afirmação contrária a todas as aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou em
contraposição ao sentido comum, porém que, se estudada detidamente, ou meditando nela, torna-
se correta e bem fundamentada.
Exemplos:
"Deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos". (Mt 8.22)
"Coais o mosquito e engolis o camelo". (Mt 23.24)
"Porque quando sou fraco, então é que sou forte". (2 Cor 12.10)
Clímax ou Gradação
A palavra clímax ou gradação procede do latim climax e esta do grego klimax que significa
escala, no sentido figurado da palavra. A Enciclopédia Brasileira Mérito nos proporciona a seguinte
definição da palavra gradação: "Concatenação dos elementos de um período de modo a fazer com
que cada um comece com a última palavra do anterior; amplificação, apresentação de uma série de
ideias em progressão ascendente ou descendente. Também se diz clímax." O essencial é que exista
avanço ou progresso na oração, parágrafo, tema, livro ou discurso.
Exemplo:
vocábulos "nenhuma condenação", e termina dizendo que "nenhuma criatura nos poderá separar".
Acróstico
Composição poética em que o conjunto das letras iniciais, mediais ou finais compõe
verticalmente uma palavra ou frase ou uma sequência alfabética.
Há uma dificuldade na exemplificação dos acrósticos bíblicos uma vez que foram escritos
originalmente em Hebraico e, portanto, a letra inicial das palavras não são as mesmas na língua
portuguesa. Os textos foram escritos em forma de acrósticos originalmente.
Exemplos bíblicos:
Salmos 119; 25; 34; 111; 112;
Os últimos 22 versículos de Provérbios;
A maior parte de lamentações de Jeremias.
Exemplos práticos:
Jesus,
Eu sou teu servo.
Sou teu discípulo.
Uni-me a Ti.
Somente a Ti!
Primeira Regra
A Bíblia é explicada pela própria Bíblia, ou seja, A BÍBLIA É SUA PRÓPRIA INTÉRPRETE.
Esta é a regra fundamental da Hermenêutica Bíblica. Vemos em Jesus e nos Apóstolos a
preocupação constante com essa norma de interpretação. Muito do que Jesus e os Apóstolos
disseram é repetição do que está exarado “em Moisés, nos Profetas e nos Salmos.”(Lc 24.44).
Jesus usava os textos do Antigo Testamento, enquanto concebia o Novo. Ele dominava os
que estava escrito e ninguém deixava sem uma resposta satisfatória.
O conselho que se dá aqui é que o estudante da Bíblia a leia toda, pelo menos uma vez por
ano, para que conheça o seu Contexto Geral, sem o qual não se pode entender as partes.
Além do contexto geral é importantíssimo atentar para o que chamaremos didaticamente de
Contexto Mediato
A interpretação de um texto envolve a compreensão de cada palavra ou expressão nele
contida. Existem palavras que encerram, em si mesmas, todo o seu significado. Outras têm o sentido
elucidado na frase, oração ou parágrafo onde está contida. Outras, ainda, poderão depender do
contexto imediato, mediato ou do contexto geral das Escrituras.
Um exemplo simples de erro da não observância do contexto imediato está na interpretação
da “nuvem de testemunhas” de Hebreus 12.1. Diz-se erroneamente, no meio evangélico, que essa
nuvem de testemunhas são as pessoas que vivem ao nosso redor, quando, na verdade, são os
“heróis da Fé”, cujos nomes e feitos estão narrados no capítulo 11 do mesmo Livro.
É preciso tomar muito cuidado porque mudança de capítulo não significa mudança de
assunto. Os versículos por sua vez não são parágrafos completos e, por isso, é preciso ler com
atenção privilegiando a ideia e não a forma como o texto está dividido.
Segunda Regra
É preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum.
Porém, tenha sempre presente a verdade de que o sentido usual e comum não equivale
sempre ao sentido literal.
Exemplo: Gn 6.12 = A palavra CARNE (no sentido usual e comum significa pessoa)
A palavra CARNE (no sentido literal significa tecido muscular)
Terceira Regra
É de todo necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase.
Exemplos:
A. A palavra FÉ
FÉ em Gl 1.23 = significa crença, ou seja, doutrina do Evangelho.
FÉ em Rm 14.23 = significa convicção.
B. A palavra GRAÇA
GRAÇA em Ef 2.8 = significa misericórdia, bondade de Deus.
GRAÇA em At. 14.3 = significa pregação do Evangelho.
C. A palavra CARNE
CARNE em Ef. 2.3 = significa desejos sensuais.
CARNE em I Tm 3.16 = significa forma humana.
CARNE em Gn 6.12 = significa pessoas.
Quarta Regra
É necessário tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que
estão antes e os que estão depois do texto que se está estudando.
Quinta Regra
É preciso levar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que
ocorrem as palavras ou expressões obscuras.
O objetivo ou desígnio de um livro ou passagem se adquire, sobretudo, lendo-o e
estudando-o com atenção e repetidas vezes, tendo em conta em que ocasião e a quais pessoas
originalmente foi escrito. Alguns livros da Bíblia já trazem estas informações. Ex.: Provérbios 1.1-4.
Sexta Regra
É necessário consultar as passagens paralelas, "explicando coisas espirituais pelas
espirituais" (I Cor. 2.13)
Passagens paralelas são as que fazem referência uma à outra, que tem entre si alguma
relação, ou tratam de um modo ou outro de um mesmo assunto.
Existe paralelos de palavras, paralelos de ideias e paralelos de ensinos gerais.
A. Paralelos de palavras – Quando lemos um texto e encontramos nele uma palavra duvidosa,
recorremos a outro texto que contenha palavras idênticas e assim, entendemos o seu
significado.
Ex.: "Trago no corpo as marcas de Jesus." (Gl 6.17). Fica mais fácil o seu entendimento
quando lemos a passagem paralela: "Trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus" (I Cor. 4.10).
B. Paralelos de Ideias – Para conseguir ideia completa e exata do que ensina determinado
texto, talvez obscuro ou discutível, consultasse não somente as palavras paralelas, mas os
ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou passagens que se relacionem com o dito
texto obscuro ou discutível. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de ideias.
Ex.: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja". (Mt 16.16) Quem é esta pedra? Se
pegarmos em I Pd 2.4, a idéia paralela: "E, chegando-vos para ele, (Jesus) pedra viva..."
entenderemos que a pedra é Cristo.
Outro exemplo: Em Gl 6.15, o que é de valor para Cristo é a nova criatura. Que significa
esta expressão figurada? Consultando o paralelo de 2 Cor. 5.17, verificamos que a nova criatura é
a pessoa que "esta em Cristo", para a qual "as cousas antigas passaram", e "se fizeram novas".
C. Paralelos de ensinos gerais – Para a correta interpretação de determinadas passagens não
são suficientes os paralelos de palavras e de idéias, é preciso recorrer ao teor geral, ou seja,
aos ensinos gerais das Escrituras.
Exemplos: - O ensino de que "o homem é justificado pela fé sem as obras da lei", só será
bem compreendido, com a ajuda dos ensinos gerais na Bíblia toda. Segundo o teor ou ensino geral
das Escrituras, Deus é um espírito onipotente, puríssimo, santíssimo, conhecedor de todas as coisas
e em todas as partes presente. Porém há textos que, aparentemente, nos apresentam um Deus
como o ser humano, limitando-o a tempo ou lugar, diminuindo em algum sentido sua pureza ou
santidade, seu poder ou sabedoria; tais textos devem ser interpretados à luz dos ensinos gerais das
Escrituras.
Sétima Regra
Tenha sempre em mente o Assunto Central das Escrituras
Jesus Cristo é o assunto central da Bíblia. Daí dizermos que a Bíblia é um Livro
Cristocêntrico. Ele é o “Cordeiro...conhecido antes da fundação do mundo”(1Pe 1.19-20), é o que
se manifestou “na plenitude dos tempos”(Gl 4.4) para oferecer o sacrifício único pela redenção da
humanidade e é, finalmente, o que “descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com
trombeta de Deus”(1Ts 4.16) para consumar a redenção no Reino de Deus para sempre.
Estudar a Bíblia tendo como foco principal o Filho de Deus dá ao intérprete a segurança de
quem tem um caminho único a seguir na lida interpretativa.
Oitava Regra
Tome consciência do contexto histórico-geográfico
Algumas perguntas interessantes de cunho histórico-geográfico podem ser feitas ao texto.
Por exemplo: Em que época o texto foi escrito? Onde estavam o autor e os destinatários à época
do escrito? Eram escravos ou livres? Eram abastados ou pobres? Eram cultos ou incultos? Estavam
sendo perseguidos ou em paz? Eram nômades ou sedentários? Viviam em sua terra natal ou
estavam longe da pátria? Viviam numa região árida ou em meio a mananciais de água? Eram
habitantes de cavernas, de casas, ou de tendas? Que tipo de tecnologia usavam? Quais eram seus
costumes, crenças, valores, e comportamentos? Como era a sua organização social, política e
econômica? Que tipo de alimentação usavam?
Haverá muito mais luz para se entender o texto se essas perguntas forem respondidas.
Assim o intérprete deve ponderar sobre essas situações no momento do estudo.
Nona Regra
Procure reconhecer a forma literária do texto
Precisamos saber se estamos diante de um escrito histórico, doutrinário, biográfico, poético
e profético, ou ainda se é um texto misto. Não é tarefa difícil identificar formas literárias quando se
conhece o contexto geral das Escrituras.
A análise literária identifica a forma ou método literário usado em determinada passagem
com vistas às várias formas como: história, narrativa, cartas, exposição doutrinal, poesia e
apocalipse. Cada uma tem seus métodos únicos de expressão e interpretação.
São textos históricos aqueles que visam informar fatos importantes a respeito de Israel, da
Igreja ou ainda de outros povos relacionados principalmente com Israel.
A poesia tem características singulares que são a conotação e/ou a metrificação e/ou a
repetição de ideias, etc.
Décima Regra
Localize o texto numa das Dispensações Bíblicas
Dispensação é um período de tempo em que Deus trata com o homem de um modo
específico.
Deus está falando com um homem inocente? Com um homem pecador e sem Lei? Está
falando com um homem que tem conhecimento da Lei de Moisés? O escrito é aplicado aos que
estão debaixo da Graça? O escrito se refere ao Milênio de Cristo?
“Os dispensacionalistas partem de um estudo hermenêutico coerente, considerando a
interpretação normal e gramatical, um fundamento essencial à sua hermenêutica. Com essa base,
fazem distinção entre Israel e a igreja quanto à dispensação.
Como expressou Radmacher: “A interpretação literal é a ‘linha mestra’ do
dispensacionalismo (...). Sem dúvida, o mais significativo desses princípios é a manutenção da
diferenciação entre Israel e a igreja”. Ryrie também comentou essa questão: “Se a interpretação
direta e normal consiste no único princípio hermenêutico válido e se for aplicada coerentemente, a
pessoa se tornará dispensacionista. Na medida que uma pessoa acredita que a interpretação normal
é fundamental nessa mesma medida ela se tornará obrigatoriamente dispensacionalista”. Aceitar os
termos Israel e igreja no sentido normal, literal, equivale a conservar sua distinção. Israel sempre
significa o Israel étnico, nunca se confundindo com o termo igreja, nem as Escrituras jamais
empregam igreja em substituição ou como sinônimo de Israel.”
Quando Jesus disse que haverá menos rigor no juízo para Sodoma e Gomorra do que para
as cidades que rejeitaram a pregação dos Apóstolos, pondera sobre o conhecimento espiritual
dessas cidades: “E, ao entrardes na casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa
paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém vos receber, nem ouvir as
vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade
vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para
aquela cidade.” (MT 10.12-15).
Paulo afirma que “todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os
que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.” (Rm 2.12).
Sob a orientação de Moisés e Josué, o povo de Israel punia em nome do Senhor, através
de grandes batalhas, os povos daquém e dalém do Rio Jordão, por causa de seus terríveis pecados.
Hoje, a instrução de Cristo é: “se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a
outra”(Mt 5.39).
Paulo completa dizendo: “Porque não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas sim
contra os principados, contra as potestades, contra o príncipe das trevas deste século, contra as
hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”(Ef 6.12).
Deus tem mudado suas estratégias no trato com o homem no decorrer dos séculos e isso
precisa ser levado em consideração no momento do estudo.
Confira esta classificação nas palavras de Paulo: “Não vos torneis causa de tropeço nem
para judeus, nem para gentios, nem para a igreja de Deus”(1Co 10.32).
Há textos na Bíblia que só se aplicam a judeus. Outros só se aplicam a Igreja. Outros ainda,
só dizem respeito aos gentios. Mas há também, textos de aplicação mista, que engloba dois dos
povos citados, e os de aplicação geral envolvendo os três povos.
Mateus destina seu Evangelho especialmente aos judeus e por isso, preocupa-se
constantemente em mencionar o cumprimento das profecias do Antigo Testamento na vida e obra
de Jesus, com o fito de convencer aos judeus de que Jesus é o Messias prometido a Israel.
Paulo escreve suas cartas à Igreja de Cristo e então preocupa-se em que os irmãos
permaneçam firmes na doutrina, na fé, no amor, na boa conduta e na esperança das promessas de
Deus.
Marcos destina seu Evangelho aos romanos, portanto, a gentios e, assim sendo, mostra
com dinamismo e beleza o extraordinário trabalho de Jesus em favor dos homens em obediência
ao seu Pai celestial. Apresenta-o como único e insubstituível meio de salvação para a humanidade.
Além disso, toma o cuidado de explicar costumes judaicos e expressões escritas na língua dos
judeus.
Em contraste com outras questões que envolvem o evangelho de Marcos, parece
geralmente aceito pelos estudiosos de que este evangelho foi escrito em Roma, provavelmente
visando os gentios daquela cidade.
O Senhor Deus disse a Moisés, quanto à geração que foi libertada do Egito: “ Tenho
observado este povo, e eis que é povo de dura cerviz.” (Ex 32.9b). Ora, o tratamento divino com um
povo, assim duro, é diferente do tratamento que Ele daria a um povo dócil espiritualmente. O profeta
escreverá bênçãos ou maldições, da parte de Deus, dependendo da posição espiritual do povo em
relação a Deus.
Detectada a situação espiritual do grupo de pessoas a quem é destinado o texto, torna-se
mais fácil entender toda a linha de raciocínio do escritor e a forma como ele externa suas emoções
e sua posição espiritual em relação ao povo. Também fica mais simples compreender a postura do
próprio Deus em relação àquelas pessoas.
Deus é o autor das Escrituras, entretanto, coube ao homem ser o canal usado por Ele para
que sua Palavra pudesse chegar até nós.
O homem tem uma personalidade determinada por sua herança genética, pelo meio em
que vive, e pelo seu “eu” consciente e dotado de livre-arbítrio. Tudo isso faz de cada escritor bíblico
um instrumento peculiar por onde ressoa a inspiração e a revelação divinas.
Podemos descobrir essas características de indivíduos na Bíblia através de um estudo que
focalize o personagem ou escritor bíblico ao longo de todas as passagens bíblicas em que esse
escreve e/ou aparece.
É mais fácil compreender um texto onde a personalidade de seu escritor e os personagens
são conhecidos do estudante. Podemos identificar o temperamento e o caráter de determinados
personagens da Bíblia, por suas atitudes, à medida que aparecem no cenário bíblico.
Tomando o Apóstolo Pedro como exemplo, distinguimos duas fases em sua personalidade:
A primeira, antes da sua completa conversão: “ Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu
para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te
converteres, fortalece teus irmãos.” (Lc 22.31-32). E a Segunda, após a conversão total e o batismo
no Espírito Santo.
Assim, vemos primeiramente um Pedro espontâneo, líder, impulsivo, agressivo, etc. É
espontâneo, quando faz muitas perguntas a Jesus cujas respostas nos é de extrema valia para o
povo de Deus através dos séculos. É imprudente quando tenta convencer ao próprio Jesus a não
morrer na cruz. É impulsivo quando avança sobre as ondas sem ter fé para tal, culminando no
ridículo do quase afogamento, ou quando se propõe a morrer com Jesus embora não estivesse
preparado para isso. É violento quando se arremete contra a guarda e fere um soldado.
Na Segunda fase de sua vida temos um Pedro equilibrado, pacífico, sofredor, corajoso,
cheio de fé e da graça de Deus e um grande líder. Equilibrado quando é capaz de apoiar e incentivar
a Paulo no seu trabalho entre os gentios e, ao mesmo tempo, conviver com os judaizantes dirigindo
a Igreja entre eles. Pacífico quando é repreendido por Paulo na cara e não rompe com ele. É
sofredor quando é surrado pelos judeus por causa do Evangelho. É corajoso quando desafia as
autoridades judaicas que queriam emudecê-los para que não pregassem o Evangelho, não temendo
açoites e nem mesmo a morte. Mostra-se cheio de fé e da graça de Deus quando cura multidões de
enfermos com o passar da sua sombra sobre eles. Tornou-se um grande líder entre os apóstolos e
foi contado entre as “colunas” da Igreja que estava em Jerusalém.
A personalidade de Pedro é uma das mais empolgantes da bíblia. Esse apóstolo tornou-se
um exemplo daquilo que Deus pode fazer na vida de um homem que a Ele se dedica e Nele tem fé.
discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos
para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome.”(Jo 20.31).
Quando o objetivo não está explícito no texto, o conselho é lê-lo o texto várias vezes até
descobri-lo. Estando evidente o propósito com que um determinado texto foi escrito tem-se a coluna
vertebral de todos os argumentos usados pelo escritor, podendo-se facilmente detectar o que é
principal e o que é acessório.
A descoberta do objetivo central do texto livra o exegeta de uma interpretação marginal ou
secundária.
É preciso tomar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que
ocorrem as palavras ou expressões obscuras...
O desígnio alcançado pelo estudo diligente nos oferece auxílio admirável para a explicação
de pontos obscuros, para a aclaração de textos que parecem contraditórios e para conseguir um
conhecimento mais profundo de passagens em si claras.
Os sentidos humanos são facilmente enganados pelo que é a aparência da realidade e daí
surge a narração fenomenológica. Um texto clássico desse tipo de narração está no Livro de Josué
onde o texto afirma que o sol parou.
Hoje, pelos conhecimentos científicos, sabemos que se o sol parar não perceberemos que
o mesmo parou, desde que a terra continue girando normalmente em seus movimentos de rotação
e translação. Não temos aqui um exemplo de linguagem figurada. O que o escritor disse é aquilo
que percebeu por meio dos sentidos, portanto, pensava estar narrando a realidade tal como se deu.
O estudante da bíblia precisa buscar o máximo de conhecimento científico em todas as
áreas para que possa diferenciar o real do sensitivo, embora nunca poderá conhecer aquilo que a
ciência ou o próprio Deus ainda não revelou e que, por isso mesmo, permanece sob a miopia dos
sentidos humanos.
Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite à
casa da mulher.
Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir àquele que
eu te disser. A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os
necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida, para me fazeres
morrer? Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te
sobrevirá por isso. A mulher então lhe perguntou: Quem te fará subir? Respondeu ele: Faz-me subir
Samuel. Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me
enganaste? pois tu mesmo és Saul.
Ao que o rei lhe disse: Não temas; o que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo
um deus que vem subindo de dentro da terra. Perguntou-lhe : Como é a sua figura? E disse ela:
Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se
com o rosto em terra, e lhe fez reverência.
Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou
muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já
não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso te chamei, para que
me faças saber o que hei de fazer. Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto
que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu inimigo? O Senhor te fez como por meu
intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi.
Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o furor da sua ira contra Amaleque,
por isso o Senhor te fez hoje isto. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus.
Amanhã tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos filisteus.
Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por causa das palavras de
Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela noite.”
(1Sm 28)
Claro está que Satanás, conhecedor das limitações humanas, criou todo um ambiente de
engano para que fosse passada a impressão de que Samuel houver saído do Paraíso de Deus para
participar daquele culto espírita.
É interessante notar que o escritor do texto citado, que não foi Samuel por já estar morto,
narrou os fatos como percebidos pelos sentidos daqueles que lá estiveram ou por terceiros que
deles tiveram notícia.
A não compreensão da narrativa fenomenológica e o engano de Satanás tem subsidiado
até hoje os espíritas que encontram, nesse texto, uma base para sua doutrina de consulta aos
mortos.
Depois de todo o estudo indicado acima, chega o momento final da interpretação, onde o
estudante vai procurar traduzir o que o texto significava para o povo de sua época e como essas
verdades podem ser aplicadas em nossa época e cultura. Chamamos de verdades temporais, as
que duram apenas um período de tempo e intemporais, as que permanecem para sempre.
Com a Nova Aliança, ficaram ultrapassados vários costumes, ritos e ensinos da Velha
Aliança. Por isso precisamos estar atentos para as coisas que a própria Palavra fez perecer e que
certos intérpretes fazem questão de ressuscitar contrariamente aos ensinos de Cristo e dos
Apóstolos. O discernimento sobre as verdades temporais e intemporais baseia-se principalmente
na comparação dos demais escritos bíblicos com aquilo que é a Doutrina de Jesus.
Os ensinos de Jesus constituem o que é essencial para o homem. Jesus não se detém em
miudezas, mas trata do que é substancial para que o perdido pecador seja reconciliado com Deus
e viva uma vida que lhe seja agradável. Jesus ensina o que é moral e espiritual. Ele lança
sabiamente um novo e maravilhoso mandamento: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis
uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo 13.34-35).
As verdades que estão relacionadas com a Lei do Amor são intemporais. Todo ensinamento
bíblico que aperfeiçoa o leitor para a prática do amor reverente a Deus e respeitoso ao próximo é
para sempre.
Décima Sétima
Compare suas conclusões com as de bons exegetas
Comparando sua exegese com a de escritores bem recomendados e tarimbados, poderá
medir seu grau de capacidade de interpretação, ao mesmo tempo que terá mais segurança para
expor suas conclusões e se envolver em outras jornadas exegéticas.
Um dos grandes erros das mais famosas seitas heréticas existentes entre nós é o desprezo
por tudo o que já foi feito pelos estudiosos de todas as épocas sobre as Escrituras. Desconsideram
o labor de santos, doutos e dedicados homens de Deus à tarefa de estudar, interpretar, compilar e
traduzir os escritos canônicos e isto numa época em que tudo era feito à mão. Os hereges surgem
com novas interpretações, traduções e acréscimos ao material canônico, como se toda a revelação
e interpretação divinas lhes fossem confiadas particularmente, levando multidões às trevas da
ignorância do bom e sadio conhecimento a respeito de Deus.
Análise Léxico-Sintática
Definição e Pressuposições
Análise léxico-sintática é o estudo do significado de palavras tomadas isoladamente
(lexicologia) e o modo como essas palavras se combinam (sintaxe), a fim de determinar com maior
precisão o significado que o autor pretendia lhes dar.
A análise léxico-sintática fundamenta-se na premissa de que embora as palavras possam
assumir uma variedade de significados em contextos diferentes, elas têm apenas um significado
intencional em qualquer contexto dado. Assim, se eu dissesse “Ele é ou está verde”, essas palavras
poderiam significar que (1) ele é inexperiente, ou (2) ele está doente, ou (3) ele está assustado.
Enquanto minhas palavras pudessem significar qualquer uma dessas três coisas, o contexto
geralmente indicará qual dessas ideias eu desejo comunicar. A análise léxico-sintática ajuda o
intérprete a determinar a variedade de significados de uma palavra ou de um grupo de palavras, e
então declarar que o significado X é mais provável do que o significado Y ou Z de ser a intenção do
autor nessa passagem.
Passos para a Análise Léxico-Sintática
Às vezes a análise léxico-sintática é difícil, mas com frequência ela produz resultados
empolgantes e significativos. A fim de tornar este processo complexo, um tanto mais fácil de
entender, ele foi subdividido num procedimento de sete passos:
1. Apontar a forma literária geral à forma literária que o autor usa (prosa, poesia, etc.)
influencia o modo como ele pretende que suas palavras sejam entendidas.
2. Investigar o desenvolvimento do tema e mostrar como a passagem em consideração
se encaixa no contexto à Este passo, já iniciado como parte da análise contextual, dá
uma perspectiva necessária para determinar o significado das palavras e da sintaxe.
3. Apontar as divisões naturais do texto às principais unidades conceituais e as
declarações transicionais revelam o processo de pensamento do autor e, portanto,
tornam mais claro o significado que ele quis dar.
4. Identificar os conectivos dentro dos parágrafos e sentenças à Os conectivos
(conjunções, preposições, pronomes relativos) mostram a relação que existe entre dois
ou mais pensamentos.
5. Determinar o significado isolado das palavras à qualquer palavra que sobrevive por
muito tempo numa língua começa a assumir uma variedade de significados.
6. Analisar a sintaxe. A relação das palavras entre si expressa-se por meio de suas
formas e disposições gramaticais.
7. Colocar os resultados de sua análise léxico-sintática em palavras que não tenham
conteúdo técnico, fáceis de ser entendidas, que transmitam com clareza o significado
que o autor tinha em mente.
Este passo, já iniciado como parte da análise contextual, é importante por dois motivos.
Primeiro, o contexto é a melhor fonte de dados para a determinação de qual dos diversos
possíveis significados de uma palavra é o que o autor tinha em mente.
Segundo, a não ser que uma passagem seja colocada na perspectiva de seu contexto, há
sempre o perigo de ela se envolver tanto nas tecnicidades de uma análise gramatical que o
intérprete perca a visão da ideia (ou ideias) básica que as palavras realmente comunicam.
Significado da Palavra
Em sua maioria, as palavras que sobrevivem por longo tempo numa língua adquirem muitas
definições (significados específicos) e conotações (implicações complementares). Ao lado de seus
significados específicos, muitas vezes as palavras têm uma variedade de denotações vulgares, isto
é, usos encontradiços na conversação comum.
As palavras ou frases podem ter denotações vulgares e também técnicas.
Por exemplo, a frase “Há uma onda de coqueluche na cidade” tem um sentido quando
empregada como termo médico, mas o sentido muda por completo quando se diz que “a coqueluche
da cidade é andar com calças ‘jeans’ “ desbotadas”, onde a linguagem é vulgar.
As denotações literais podem, finalmente, conduzir a denotações metafóricas.
Usada literalmente, a palavra verde designa uma cor; empregada com sentido metafórico,
pode estender-se desde a cor de uma laranja que ainda não amadureceu até à ideia de uma pessoa
imatura, ou inexperiente.
1. O primeiro é estudar os modos como ela foi empregada em outra literatura antiga.
2. O segundo método é estudar os sinônimos, procurando pontos de comparação bem
como de contraste.
3. O terceiro método para a determinação dos significados de uma palavra é a etimologia – o
estudo do significado das raízes históricas da palavra.
Bibliografia
Vida, 1968
Douglas Stuart e Gordon D. Fee. MANUAL DE EXEGESE BÍBLICA, Editora Vida Nova, 2008
GRASSMICK, John. Exegese do Novo Testamento: do texto ao púlpito; Editora Vida, São Paulo,
ZUCK, Roy. Interpretação bíblica: A meios de descobrir a verdade da Bíblia; Editora Vida, São Paulo,
OSBORNE, Grant R. Espiral hermenêutica: A uma nova abordagem à interpretação bíblica; Editora