TB 13. Digestão Humana
TB 13. Digestão Humana
TB 13. Digestão Humana
COLÉGIO PEDRO II
CAMPUS NITERÓI
Todos nós sabemos que o alimento se transforma bastante em nosso corpo. Basta colocá-lo na boca
que ele já vira um bolo disforme nem um pouco parecido com a comida atraente de antes. Isso sem falar, claro,
no que precisamos descartar como produto final desse processo: menos atraente ainda. A digestão é
justamente essa transformação que o alimento sofre e através da qual os nutrientes são obtidos.
Ela acontece ao longo de uma tubulação. É o tubo digestório, que se inicia com a boca e termina no ânus,
passando pela faringe, pelo esôfago, pelo estômago e pelos intestinos delgado e grosso. Todo o processo de
digestão acontece dentro desse tubo, ainda que conte com a contribuição de órgãos que não o integram:
órgãos anexos, como o fígado e o pâncreas. glândulas
O processamento do alimento, na verdade, abarca uma série de salivares
boca
processos, que se inicia com a ingestão e termina com a defecação. Entre faringe
uma e outra, ocorrem a mastigação e, depois, a propulsão do bolo alimentar
pâncreas
por todo o tubo. Ao longo deste, também há a secreção de muco e de esôfago
soluções enzimáticas, com a consequente digestão química dos
macronutrientes. Por fim, se dá a absorção das moléculas resultantes.
fígado estômago
Quando na boca, o alimento já começa a ficar diferente: é amassado
e triturado na mastigação. Através da ação conjunta da língua, de natureza vesícula
muscular, a ocupar boa parte da cavidade oral, e dos dentes, fixados ao biliar
maxilar e à mandíbula através de suas raízes, recobertas pela gengiva. intestino
intestino delgado
Feitos de um tecido rígido, a dentina, os dentes são revestidos, na grosso
raiz, por uma substância de ancoragem: o cemento. Na coroa, sua parte exposta à
abrasão da comida, eles são revestidos por outro tecido rígido: o esmalte. Num ânus
total de 32, eles se distribuem de alto a baixo na arcada dentária: incisivos e caninos, anteriores, cortando e
rasgando; pré-molares e molares, posteriores, amassando e triturando.
O alimento, na boca, é também umedecido pela saliva, produzida por três pares de bolsas secretoras:
as glândulas salivares. É como se também o alimento fosse lavado, uma vez que, além de água, a saliva conta
com enzimas antimicrobianas (lisozimas). E mais do que isso: por conta da secreção salivar, a boca é onde
começa a digestão química, através da ação da amilase salivar.
Uma amilase é uma enzima que age sobre um carboidrato complexo, como é o amido, quebrando-o em
pequenos sacarídeos. Do mesmo modo, outras enzimas, em outros órgãos, catalisam a quebra de outras
macromoléculas: proteínas, lipídios e ácidos nucleicos. Proteases, lipases e nucleases, respectivamente.
Após um breve tempo na boca, o alimento é engolido, chegando à faringe e depois ao esôfago. Depois
da deglutição, o alimento é empurrado tubo digestório abaixo por movimentos inconscientes: os movimentos
peristálticos. E assim vai até o fim, quando voltamos ao controle na defecação. A própria deglutição é
voluntária apenas na sua primeira fase.
A peristalse é importante para a propulsão do bolo alimentar, favorecida pelo muco, um fluido viscoso
presente por todo o tubo. Importa também para a contínua mistura do bolo às secreções enzimáticas liberadas
em certos órgãos: a saber, o estômago e o intestino delgado.
Um detalhe é que a faringe é caminho tanto
para o alimento chegar ao esôfago quanto para o ar (...) mandamos nosso ar e nossa comida pelo mesmo
túnel. A pequena estrutura chamada epiglote, uma
chegar à laringe. Caso o alimento tome o caminho espécie de alçapão para a garganta, é a única coisa
errado, pode ocorrer uma asfixia. Isso é evitado pela que se interpõe entre nós e a catástrofe.
epiglote: uma espécie de saliência cartilaginosa que (Corpo: um guia para usuários, Bill Bryson)
tampa a entrada da laringe enquanto engolimos.
Chegando ao estômago, o bolo alimentar faz uma parada: para um momento, sobretudo, de mistura e
de digestão química das proteínas. Em invaginações nas paredes estomacais, diferentes tipos celulares
produzem, cada qual, os componentes do suco gástrico: pepsina (uma protease), ácido clorídrico e muco.
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Proteases são enzimas perigosas, pois podem acabar catalisando a quebra das proteínas celulares. Por isso, a
pepsina é produzida e liberada numa forma inativa, chamada de pepsinogênio. Sua ativação ocorre apenas num
meio ácido, garantido pela liberação conjunta do ácido clorídrico, que também contribui com a desnaturação
das proteínas e o combate a agentes infecciosos. Já o muco tem ação protetora, contra a acidez e a ação da
pepsina. Também ocorre no estômago algo de digestão de lipídeos. É nele que uma lipase produzida na boca,
a lipase lingual, e outra produzida por células estomacais, a lipase gástrica, agem.
Tanto a chegada quanto a saída do bolo alimentar no estômago são controladas por músculos circulares
espessos, os esfíncteres, presentes nas suas extremidades. Eles estão presentes também no ânus. Mas também
há musculatura ao longo de todo o tubo, possibilitando a propulsão do bolo alimentar.
A chegada do alimento no estômago é um sinal para que ele libere o hormônio gastrina, que, via
corrente sanguínea, acaba agindo sobre ele próprio: estimulando sua motilidade e sua ação secretora. Depois
de passar pelo estômago, o bolo alimentar, agora ácido e chamado de quimo, segue para o intestino delgado:
outra e mais demorada parada.
O intestino, em seus vários metros, é dividido em três regiões
sequenciais: o duodeno, o jejuno, e o íleo. A presença do quimo no duodeno
induz a liberação de três hormônios pelo próprio intestino. Do mesmo
modo que a gastrina ou qualquer hormônio, eles caem na corrente
sanguínea e agem sobre órgãos específicos: no caso, pâncreas, vesícula
biliar e estômago.
A enterogastrona retarda a transferência do quimo para o intestino,
de modo que esse possa se preparar para recebê-lo. Já a secretina estimula
a liberação de íons bicarbonato pelo pâncreas, de modo a neutralizar a
acidez do quimo e criar o ambiente propício para a ação das enzimas
pancreáticas, cuja liberação é estimulada pela colecistocinina. Este último
hormônio também estimula a liberação de bile pela vesícula biliar.
Além da regulação hormonal, existe, por trás da atividade secretora e da peristalse, uma regulação
nervosa. Há toda uma rede de neurônios inervando o tubo digestório: o sistema nervoso entérico. Ele, em
parceria com os hormônios, garante que a complexa sequência de processos digestórios seja cumprida.
O pâncreas, o fígado e a vesícula biliar são órgãos anexos ao tubo. O fígado é uma grande central
metabólica, que recebe, modifica e redistribui as moléculas resultantes da digestão. É capaz de realizar
conversões envolvendo lipídeos, carboidratos e aminoácidos. Produz ou quebra glicogênio. Transforma
aminoácidos e outros açúcares em glicose. Converte a amônia produzida pelo corpo em ureia, que é menos
tóxica e vai parar na urina. Também metaboliza o álcool e outras substâncias, desintoxicando o corpo.
Desmonta ácidos graxos para a produção de energia. Produz triglicerídeos e colesterol...
Além disso, inclusive a partir da utilização de colesterol na produção de sais biliares, o fígado produz a
bile, que é acumulada numa pequena bolsa: a vesícula biliar. A bile é uma solução não enzimática, feita,
sobretudo, de água e sais biliares. Na verdade, ela é uma espécie de detergente natural e atua desmanchando
as placas que óleos e gorduras formam por não se misturarem bem com a água presente nos sucos
enzimáticos. Essa ação tem o nome de emulsificação. Assim, a bile favorece a ação das lipases.
O pâncreas é uma glândula que produz dois importantes hormônios que controlam a taxa de glicose no
sangue: a insulina e o glucagon. Mas não só, ele também produz uma série de enzimas que atuam na digestão:
uma amilase pancreática, lipases, nucleases e proteases (como a tripsina, produzida na forma inativa:
tripsinogênio). As enzimas do suco pancreático atuam juntamente com aquelas presentes no suco entérico,
produzido pelo próprio intestino delgado: enzimas catalisadoras da quebra de dissacarídeos e peptídeos e a
enteroquinase, que ativa a tripsina pancreática.
Com toda essa ação enzimática, ocorre finalmente a necessária quebra das macromoléculas. E,
acabada a digestão química, seus produtos têm de ser distribuídos corpo afora. Para isso, precisam ser
absorvidos e chegar à corrente sanguínea, o que ocorre por meio da parede do próprio intestino delgado:
sobretudo no duodeno e no jejuno. Por sinal, ela é bem fina e cheia de dobras internas (vilosidades intestinais)
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que aumentam a superfície de absorção. As células que formam as vilosidades também possuem
microvilosidades nas suas membranas.
No total, nossa digestão é realizada em uma área cem vezes Íons de sais minerais, vitaminas,
maior do que nossa pele. Isso parece muito desproporcional para aminoácidos, monossacarídeos, como a
uma pequena porção de batata frita ou uma única maçã. Mas é glicose, e outros produtos digestórios
justamente disto que se trata em nosso abdômen: aumentamos precisam atravessar as células intestinais, o
a nós mesmos e diminuímos tudo que é estranho até ele se
que pode ocorrer de diversos modos. Íons
tornar minúsculo o bastante para conseguirmos absorvê-lo e
transformá-lo em uma parte de nós. comumente o fazem por transporte ativo. A
água, por sua vez: por osmose, podendo
(O discreto charme do intestino, Giulia Enders)
arrastar algumas substâncias consigo.
Moléculas como glicose e aminoácidos costumam passar por um co-transporte, ou seja, um transporte
conjunto, por exemplo, com os íons. Os lipídeos atravessam facilmente a membrana.
Esses metabólitos vão parar no fígado, através de uma via circulatória direta entre o intestino e ele: o
sistema porta hepático. Lá, eles podem dar origem a proteínas e a reservas energéticas, como o glicogênio e a
gordura, e, antes ou depois disso, podem ser redistribuídos para o corpo através do sangue.
Ao contrário dos outros metabólitos, os lipídeos não vão direto do intestino para o sangue. Por conta
de seu caráter hidrofóbico, eles são reunidos em agregados de lipídeos e proteínas: os quilomícrons. Estes
funcionam como transportadores dos lipídeos e vão para os vasos linfáticos, mais permeáveis do que os
sanguíneos. Só depois alcançam o sangue, e vão para o tecido adiposo e especialmente para o fígado, que, por
sua vez, produz outros transportadores lipoproteicos.
Assim, os lipídeos podem ser distribuídos pelo corpo. As proteínas dos transportadores garantem a
entrega dos lipídeos em endereços determinados: através da interação com proteínas receptoras nas células
dos tecidos. O LDL é um transportador de baixa densidade (low density lipoprotein), que leva lipídeos, em
especial o colesterol, do fígado para o corpo e, quando em excesso, pode causar o entupimento de artérias. Já
o HDL (high density lipoprotein) tem alta densidade e seu papel é inverso: recolher o colesterol e outros lipídeos
para serem reciclados no fígado.
Voltando ao intestino... A essa altura, o alimento de longe já não é o mesmo. O que pode ser
aproveitado o vai sendo aos poucos e o que não pode vai formando esse material final descartável, que
podemos chamar por vários nomes, mas cujo nome oficial é fezes. No intestino grosso, ainda ocorre absorção:
sobretudo de água e íons. Lá também ficam muitos microrganismos que agem sobre o bolo fecal e podem
produzir substâncias interessantes, como vitaminas, e outras nem tanto, como os gases das flatulências. Cada
vez mais, vamos descobrindo ações importantes dessa microbiota, inclusive sobre o sistema imunológico.
O intestino grosso tem uma porção inicial, o ceco, onde fica uma bolsa tubular anexa: o apêndice,
mantendo um valioso estoque de microrganismos simbiontes. Sua maior porção é o cólon, que forma alças e
conforma o intestino grosso no sua disposição característica. A ele seguem-se o reto, muito mais curto, e a
abertura anal. Onde, depois de muitas horas de percurso e discretos rebuliços, por fim, faz-se a defecação e as
fezes são eliminadas.