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O dialeto fronteiriço do Uruguai:

origens, investigações e oportunidades*


MICHAEL T. JUDD**
Tradução: Eva Paulino Bueno***

O Uruguai, um dos menores países da como portuñol, fronterizo, ou DPU


América do Sul, antigamente era (dialetos portugueses do Uruguai).
considerado um país monolíngue. Mas
A realidade do contato linguístico é de
quando os linguistas começaram a
fato não a influência do português na
estudar e descrever o espanhol do
língua espanhola, mas a influência do
Uruguai na metade do século passado, espanhol numa base bem estabelecida de
eles perceberam uma significante
português. A pesquisa sobre o resultante
hibridização que havia ocorrido em toda
dialeto da fronteira tem sido limitada a
a região norte, que faz fronteira com o
uns poucos pesquisadores que o
Brasil. Uma mudança na dominação
estudaram da perspectiva da
linguística do português ao espanhol teve
dialetologia, do contato de línguas, da
lugar somente depois da independência
linguística geográfica, da fonologia, da
do Uruguai, devido ao estabelecimento
morfologia, da sintaxe e da lexicografia.
de povoados ao longo da fronteira, o que Estudos em sociolinguística também
deu origem ao padrão de fala fronteiriço, foram feitos para melhor entender-se e
geralmente identificado, atualmente, avaliar-se a situação linguística. Neste
artigo, vamos dar um resumo breve da

* Muitas pessoas costumam referir-se a fronteiriço ou portunhol, mas eu acho que estas pessoas estão quase
sempre pensando em um falante de espanhol tentando falar português. Este não é realmente o caso com o
fronteiriço. Este é um dialeto ou uma variação linguística falada por algumas pessoas como sua primeira
língua, embora e influência do espanhol e do português standard seja obviamente inevitável.
** MICHAEL T. JUDD foi missionário no Uruguai com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias; lá ele viveu por algum tempo em Rivera e Artigas, cidades que fazem fronteira com Quaraí e Santana
do Livramento, Rio Grande do Sul. Judd tem Mestrado em Linguística Hispânica (2006), bacharelado em
Ensino de Espanhol, com uma especialização menor em Português e Inglês como Segunda Língua pela
Universidade de Brigham Young, em Provo, Utah, Estados Unidos. A sua tese de mestrado foi “As origens
e a identificação dos dialetos mistos ao longo da fronteira brasileira e uruguaia: uma revisão dos estudos da
linguística de contato”. Michael Judd é originalmente de Madison, New Jersey, e atualmente mora em
Spanish Fork, Utah.

*** EVA PAULINO BUENO, depois de quatro anos trabalhando em universidades no Japão,
leciona Espanhol e Português na St. Mary’s University em San Antonio, Texas. Ela é autora de Mazzaropi,
o artista do povo (EDUEM 2000), Resisting Boundaries (Garland, 1995), Imagination Beyond Nation
(University of Pittsburgh Press, 1999), Naming the Father (Lexington Books, 2001), e I Wouldn’t Want
Anybody to Know: Native English Teaching in Japan (JPGS, 2003).

1
história da região focalizando na questão Os portugueses arrojadamente fundaram
do contato entre o português e o a Colônia do Sacramento, em 1680. A
espanhol, e na emergência deste colônia estava localizada diretamente do
fascinante dialeto misturado que é falado outro lado do Rio de la Plata, em frente a
nessa região da fronteira brasileira e Buenos Aires, e pretendia desafiar o
uruguaia. A terminologia escolhida para poder e a autoridade da Espanha na
descrever este dialeto misturado também região. Tratados continuaram a
será esclarecida, assim como também estabelecer e restabelecer fronteiras
discutiremos as áreas de sua influência e territoriais ao norte e leste do território
uso. E, finalmente, falaremos da conhecido como a Banda Oriental, que é,
avaliação dos estudos feitos até hoje e de hoje, o país Uruguai. Embora as novas
ideias para mais oportunidades de fronteiras tenham empurrado o
pesquisa nesta área. português para mais longe, elas não
conseguiram fazer nada para reduzir o
História da região desejo de Portugal de anexar esta região
aos seus domínios.
Alma Pedretti de Bolón (1983) enfatizou
a conexão entre história e língua quando Em 1816, Portugal anexou toda a
ela escreveu, “a história de uma língua Província Oriental do Uruguai sob o
vai indissoluvelmente unida à história do nome de Província Cisplatina. Este
povo que a fala” (p. 19). Elizaincín et al. estado de coisas durou até 1828, quando
(1987) também afirmou o seguinte em a nação do Brasil (independente de
relação a este dialeto fronteiriço: “será Portugal desde 1822), finalmente
inútil tentar entender uma situação tão reconheceu a independência da
complexa como esta que estudamos sem República Oriental do Uruguai. Esta
um marco mínimo de referência ocupação portuguesa-brasileira
histórico-sociológico [sic] (p. 10). Tendo representou um aumento no número de
todas estas considerações em mente, e a colonizadores brasileiros em todo o
fim de entender a interação entre as duas Uruguai. Rona (1965) explica o efeito
línguas e os povos que as falam, é desta ocupação da seguinte maneira:
necessário rever a história do passado,
remontando às disputas entre a Espanha [Esta] invasão portuguesa... trouxe
consigo um notável incremento da
e Portugal, quando houve a descoberta
colonização portuguesa até os
do Novo Mundo. últimos confins meridionais, nas
margens do Rio de la Plata. Obtida a
Padres jesuítas, vindos da Espanha e
independência definitiva, esta
estabelecendo-se no começo do século corrente colonizadora não decaiu,
XVII, foram alguns dos primeiros mas terminou por povoar com
europeus a habitar a vasta e luxuriante portugueses e brasileiros todo o
região que veio a constituir o Rio Grande norte do Uruguai. Portanto, a base
do Sul e partes do Paraguai, Argentina, e étnica, e em consequência, a
Uruguai. No entanto, apesar da sua linguística, de toda esta zona é
presença física na região, eles tiveram portuguesa, não espanhola (p. 8).
pouco impacto na realidade linguística A presença do português brasileiro ao
da área. De acordo com Fuertes Álvarez
longo desta fronteira recém-estabelecida
(1964), “os jesuítas pouco influenciaram
se tornou um assunto de grande
na língua... porque, ao invés de fazerem
preocupação. Então, com “uma
os índios estudarem espanhol, eram eles
consciência clara... de que [era]
que aprendiam o guarani” (p. 362).
necessário ‘defender’ a língua

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espanhola” (Elizaincín, 1984, p. 94), o moram, trabalham e compram terra no
Parlamento Uruguaio fundou, entre 1853 Uruguai devido a uma fronteira
e 1862, um número de colônias rivais na extremamente permeável entre os dois
fronteira, incluindo Santa Rosa (agora países. Mas, por outro lado, os dados
Bella Unión), Cuareim (agora Artigas), mostrando o estabelecimento de
Treinta y Tres, Villa Artigas (agora Rio uruguaios no Rio Grande do Sul e no
Branco) e Villa Ceballos (agora Rivera). Brasil não são claros.

A educação foi usada como um A comunicação com as comunidades da


instrumento para promover o fronteira continuou sendo irregular e
nacionalismo uruguaio e, difícil até o meio do século passado. De
especificamente, para espalhar o acordo com Rona (1963), “a estrada de
espanhol como a língua nacional do Montevidéu a Rocha se abriu somente
Uruguai. José Pedro Varela (1845- em 1940, e a de Rivera somente em 1953
1879), um educador muito influente (p. 204). As cidades da fronteira então
naquele tempo, deu testemunho sobre a cresceram juntas com pouco contato com
influência dominadora do Brasil no as cidades mais importantes do interior
norte. Como foi observado por dos seus respectivos países e, portanto,
Elizaincín (1992 a), Varela alegou que “as cidades ao longo da fronteira são
“o Brasil... domina com seus súditos... gêmeas e constituem virtualmente, em
quase todo o norte da República: em toda cada caso, uma cidade única” (p. 204). A
esta zona, até o idioma nacional já se fronteira entre muitas destas cidades
perdeu [itálicos adicionados], já que é o gêmeas não mais do que uma rua comum
português a língua falada com mais que mostra a bandeira brasileira em um
frequência” (p. 99). Devido ao fato de lado e a uruguaia do outro. Rivera e
que a população da fronteira era Santana do Livramento tipificam tais
majoritariamente brasileira, Elzaincín cidades. Em outras comunidades
sabiamente esclarece a situação gêmeas, a fronteira nacional é
linguística apontada por Varela: “O simplesmente um riacho ou um rio cuja
idioma espanhol não se falou mais que travessia é facilitada por uma ponte,
esporadicamente, e desta forma hoje soa como é o caso de Artigas e Quaraí.
um pouco ingênua a firmação de
Varela... por isto não pode haver-se Resumindo, é aparente, como explicou
perdido o que nunca foi definitivamente Elizaincín (1984), que “a história do
afirmado” (p. 1000). Elizaincín (1984) espanhol na zona interior do Uruguai é,
afirma que “diversas medidas tomadas na verdade, um exemplo de luta
no campo demográfico, populacional e constante com o português” (p. 93). Mas,
educativo foram inserindo mais o uma vez mais, como Elizaincín et al.
espanhol nas zonas em que o português (1987) esclarece, “não se trata de uma
sempre havia estado, por assim dizer” (p. influência do português sobre o
94). castelhano (já que não havia aqui
nenhuma população hispânica antes da
A construção de escolas para neutralizar chegada e estabelecimento dos
a dominação linguística do português brasileiros), mas, ao contrário, da
brasileiro nas comunidades da fronteira influência do castelhano sobre uma base
aconteceu principalmente entre 1867 e portuguesa” (p. 8). Os colonos
1878, mas a preocupação com o uruguaios, com a sua cultura, herança e
aprendizado da língua nacional continua língua espanholas, viram a necessidade
até hoje. Inúmeros cidadãos brasileiros de confrontar a influência da língua

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portuguesa e da cultura brasileira opostas nome para o dialeto. Ele escreveu,
dentro de suas próprias fronteiras “[este] dialeto intermediário recebe aqui
políticas. [na fronteira] o nome de ‘dialeto
fronteiriço’” (p. 202). Fronteiriço ainda é
Se a população brasileira falante do
usado como um termo de referência até
português já estava bem estabelecida na
hoje.
fronteira antes que os nacionalistas
uruguaios falantes de espanhol Apesar da aceitação geral do termo
começaram a se estabelecer em números fronteiriço, Elizaincín e outros
significativos na mesma área, então nós encontraram uma designação alternativa
temos que aceitar que o dialeto de para este dialeto. O termo que veio a ser
fronteira, ou fronteiriço, começou a se preferido (Elizaincín, 1984) é dialetos
desenvolver e a emergir nos últimos 150 portugueses do Uruguai (abreviado
anos. Além do mais, se a difusão da como DPU). Elizaincín et al. (1987)
língua portuguesa era aparente em 1853, explicam como e por que eles preferem
é uma pena que mais que um século o termo DPU a fronteiriço. Inicialmente,
tivesse que passar antes que linguistas, o termo dialeto “se justifica por ser,
tais como Rona, encontrassem a fala da talvez o mais neutro de todos no sentido
fronteira e começassem a identificá-la e diatópico, mais ou menos tradicional,
descrevê-la. Como o fronterizo é forma de falar peculiar de uma
considerado uma anomalia linguística, determinada zona do território nacional”
esta falta de atenção deve ser devido a (p. 13). Em segundo lugar, o plural
preconceito linguístico, visões puristas, dialetos têm um significado importante
ou mesmo atitudes prescritivas, tais porque “responde a nossa visão do
como as de José Pedro Varela e outros fenômeno como uma situação
legisladores da política linguística que intrinsicamente variável” (p.13).
promoviam o nacionalismo naquele Finalmente, o adjetivo português explica
tempo. que “se trata de formas mistas de base
Identificação do dialeto da fronteira preponderantemente portuguesa, as
quais, entretanto evidenciam a forte
Uma revisão da literatura sobre este influência do espanhol” (Elizaincín et
dialeto revela que o primeiro linguista a al., 1987, p. 14).
descrever a situação linguística ao longo
da fronteira brasileira-uruguaia foi José De acordo com Elizaincín et al. (1987),
Pedro Rona. Suas descobertas foram as designações mais comuns desta fala
comunicadas no “I Congresso Brasileiro da fronteira ou, em outras palavras, “as
de Dialetologia e Etnografia”, em Porto formas como os próprios falantes as
Alegre, Rio Grande do Sul, que teve reconhecem” (p. 12) são carimbão,
lugar de 1 a 7 de setembro de 1958 basano, brasilero, e portuñol. Os dois
(publicado em 1963). Neste primeiro primeiros termos “somente se
estudo, Rona (1963) observa que o conhece[m] em algumas zonas rurais do
dialeto que se havia formado na fronteira departamento nortista de Tacuarembó;
é “uma mescla de português e espanhol, não [são] portanto designação comum
mas que não é nem português nem em toda a zona fronteiriça” (p. 12).
espanhol e o resultado é que Brasilero é definido como “a forma mais
frequentemente não é compreensível neutra no estrato popular” (p. 13), e
nem para os brasileiros nem para os portuñol “é caracterizado como “a
uruguaios” (p. 208). Rona também designação mais neutra que se escuta dos
parece ter sido o primeiro a anotar um membros cultos da comunidade urbana

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(p. 12). Estes autores essencialmente fronteira foi capturar a variabilidade dos
rejeitam o termo fronteiriço porque, na dialetos da fronteira falados em toda a
sua opinião, “a designação é demasiado região, enquanto, al mesmo tempo
ampla: na realidade qualquer linguagem oferecendo um quadro composto da sua
que surja e se use em uma fronteira é um localização geral e da distribuição dos
‘fronteiriço’” (p. 13), e não o incluem seus isoglosses, Elizaincín et al. (1978)
como um dos termos usados pela parecem entender este dilema quando
população natura em geral para referir-se eles dizem, “talvez extremar a
a esta particular forma de fala. apreciação e dizer que há tantos
‘fronteiriços’ como há habitantes na
Geografia do dialeto da fronteira fronteira não seria adequado” (p. 13).
Rona (1965) chegou à conclusão que “a Há aparentemente um corpus de
verdadeira fronteira linguística entre o informações muito amplo que vai ser
espanhol e o português se encontra no publicado com o Atlas Linguístico del
Uruguai” (p. 8). Entretanto, em relação à Uruguay. Este projeto ainda está
existência de uma fala singular na incompleto; entretanto, quando se
fronteira, ele explica, “quando completar, mapas linguísticos também
examinamos a zona de encontro destas serão feitos. Este corpus representará o
duas línguas, observamos a ausência mais extenso do seu tipo, e sem dúvida
total de uma linha divisória bem vai esclarecer esta particular situação de
demarcada” (Rona, 1963, p. 202). De contato. Talvez também abra portas para
acordo com Rona, então, há uma área novas oportunidades para estudar ou
indeterminada de transição do português comparar e contrastar em maior
ao espanhol. Elizaincín (1976) sugere profundidade o que já foi estudado nas
que a transição do português do Brasil ao áreas da fonética, fonologia, morfologia,
espanhol do Uruguai talvez seja algo e léxico. Sem dúvida, todos aqueles que
similar a um contínuo linguístico, tal estão interessados neste ramo da
como o que é visto no norte da Espanha linguística estão aguardando
(ver página 123). ansiosamente as descobertas e novas
Além de estabelecer a extensão da ideias que fazem parte deste projeto.
influência linguística do português em Conclusão
toda a fronteira, Rona (1963) também
determinou primeiramente que existiam O dialeto fronteiriço como um todo pode
basicamente três zonas distintas da ser definido não como uma influência
influência do português (ver página 207). portuguesa na língua espanhola, mas a
De acordo com ele, estas zonas ocorriam influência do espanhol em uma base
al longo de toda a fronteira portuguesa bem estabelecida. Os
Brasil/Uruguai e eram identificáveis uruguaios foram confrontados com a
principalmente pelos departamentos ou necessidade de empurrar de volta a
províncias uruguaios. Rona convidou influência portuguesa e lutar contra o
linguistas brasileiros a estudar o fluxo de uma cultura oposta dentro de
fenômeno dentro do território brasileiro suas próprias fronteiras políticas.
(ao longo da sua fronteira nacional), mas
nada foi feito até hoje. Há ainda muito mais que pode ser
descoberto, esclarecido, ou confirmado
O desafio enfrentado pelos linguistas que em relação ao fronteiriço. Adolfo
embarcaram nas primeiras aproximações Elizaincín e Fritz Hensey, ambos,
ao entendimento da notável fala da reconheceram a necessidade coletar mais

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informações e adquirir um corpus mais do mundo. Outras áreas da pesquisa
extenso. O Atlas Linguístico del incluem as implicações educacionais do
Uruguay deve dar mais informação efeito da imposição de um espanhol
fidedigna que pode, por sua vez, ser standard sobre os falantes do fronteiriço,
comparada com estudos e descobertas a questão das políticas da língua, e a
anteriores. Os estudos da morfologia e opção pela estandardização do dialeto.
sintaxe do fronteiriço receberam mais Estes assuntos podem ser discutidos em
atenção e foram mais completamente detalhe em uma outra ocasião.
observadas em Elizaincín et al. (1978). A
postulação da simplificação ali contida, A vasta maioria da pesquisa feita até o
que ocorro não somente na morfologia e presente momento, sobre a situação de
na sintaxe do fronteiriço, mas também na contato, focaliza nos lugares mais
morfologia, uma vez mais, requer um próximos da fronteira. Rivera recebe a
corpus mais extenso para confirmar o maior parte da atenção, mas Elizaincín et
avanço desta teoria. O léxico foi a área al. (1987) ampliaram seu campo de
que recebem o menor número de pesquisa de Artigas a Río Branco.
pesquisas. Somente as publicações mais recentes
começaram a olhar em outras áreas da
A dificuldade de encontrar falantes região nortista, onde houve contato
monolíngues de fronteiriço é um interno linguístico no passado. A fala
obstáculo ao estudo dos dialetos mistos. distinta evidenciada nestas áreas foi
Hensey (1972) expressa sua chamada de espanhol rural fronteiriço
preocupação de que com o aumento da (EFR) (ver Elizaincín and Barrios,
educação dos residentes da fronteira 1989), e ainda outras formas de fala da
“incluindo o estudo do espanhol fronteira foram reconhecidas como
standard... se duvida que o fronteiriço “variedades de espanhol rural sem
continue por muito tempo como a única contatos atuais com DPU... [mas que]
língua de qualquer pessoa” (p.78). De evidenciam uma perceptível influência
fato, muito da pesquisa atual dedicada ao do português” (Elizaincín, 1995ª, p.
estudo do fronteiriço puro passou a ser, 119). Estas variedades rurais do espanhol
ou está sendo feita junto com, estudos de uruguaio estão localizadas mais ao sul da
interferência linguística ou bilinguismo fronteira do que no interior nortista do
(Hensey, 1972). Uruguai. Outros estudos poderiam
revelar influências residuais do contato
Hensey (1993) reconheceu que “o
que ocorreu entre o espanhol e o
português uruguaio é um candidato
português nestas localidades mais
óbvio para o estudo de variações”
isoladas. Assim, talvez se pudesse
(p.447). Este estudo está incluído na
concluir que ainda há abundantes
pesquisa sociolinguística que tem
oportunidades de expansão (da pesquisa)
recebido considerável atenção. As
em áreas que receberam menos atenção e
pesquisas e estudos relacionados às
identificar, descrever, e estudar os
atitudes da língua e prestígio da língua,
efeitos do contato linguístico.
vistos pelos falantes dos dialetos foram
Entretanto, se mais estudos do espanhol
feitos por Hensey e Elizaincín. Além do
rural influenciado pelo português vão ser
mais, Elizaincín tentou comparar o DPU
feitos, Hensey (1975), frisa que eles
com outras línguas “pidgin” para
devem ser feitos logo (ver página 59).
estabelecer as relações entre as
características dos DPU e os fenômenos
de línguas em contacto em outros lugares

6
O Atlas Linguístico del Uruguay
teoricamente foi planejado para cobrir Referências
toda a área nortista do país (ver mapas,
De Marsilio, H. (1969). El lenguaje de los
Elizaincín, 1995b, pp. 222-223), que vai
uruguayos. Montevideo: Editorial Nuestra
esclarecer os fenômenos fônicos, Tierra.
morfológicos, léxicos, e semânticos. Em
Elizaincín, A. (1973). Algunos aspectos de la
relação à longevidade dos DPE, sociolingüística del dialecto fronterizo. Temas de
Elizaincín (1995a) sabiamente notou, lingüística, 3. Montevideo: Universidad de la
República.
O processo de urbanização e o acesso
Elizaincín, A. (1976). The Emergence of
concomitante a níveis mais altos de
Bilingual Dialects on the Brazilian-Uruguayan
instrução, envolvendo um contato mais Border. Linguistics. An international review,
próximo com o espanhol, são fatores que 177, 123-134.
contribuem para o desalojamento do Elizaincín, A. (1979). Algunas precisiones sobre
português, à sua perpetuação como los dialectos portugueses del Uruguay.
língua da casa familiar, e à sua falta de Montevideo: Universidad de la República.
prestígio entre aqueles que são fluentes Elizaincín, A. (1984). Comparación de dos
em espanhol, especialmente os situaciones de contacto de dialectos:
monolíngues. (p. 119) España/Portugal, Uruguay/Brazil. Cuadernos del
sur, 17, 89-100.
A política linguística entre os uruguaios Elizaincín, A. (1988). Dialectología de los
sempre foi a de proteger e manter a contactos: Un ensayo metodológico. Anuario de
identidade nacional através do letras: Revista de la Facultad de Filosofía y
conhecimento do espanhol como a Letras, 26, 5-29.
língua nacional. Elizaincín, A. (1992a). Dialectos en contacto:
español y portugués en España y América.
Finalmente, como é mencionado por Montevideo: Arca.
Rona (1963), há uma possibilidade muito Elizaincín, A. (1992b). El español actual en el
real que existam outros dialetos mistos Uruguay. In C. Hernández Alonso (Coord.),
em outros países de fala espanhola que Historia y Presente del Español de América (pp.
têm fronteiras com o Brasil, o Coloso del 759-774). Junta de Castilla y León: Pabecal.
Sur. Entretanto, desde aquele tempo, Elizaincín, A. (1995a). Personal Pronouns for
nenhuma atenção foi dada a estas Inanimate Entities in Uruguayan Spanish in
oportunidades para pesquisas mais Contact with Portuguese. Spanish in four
aprofundadas. A exploração deste continents studies in language contact and
bililngualism, 117-131.
assunto, e a possível identificação e
estudo deveriam ser levadas a cabo pelas Elizaincín, A. (1995b). Proyecto Atlas
principais universidades dos países que Lingüístico del Uruguay. Práticas de integração
nas fronteiras: Temas para o MERCOSUR, 217-
viveram este contato linguístico, 223.
especialmente se foi verificado pelos
Elizaincín, A., & Barrios, G. (1989). Algunas
residentes da fronteira que uma
características del español rural uruguayo:
variedade de fala de portunhol está sendo primera aproximación. Iberoromania, 30, 63-69.
usada. Estas descobertas, por sua vez,
Elizaincín, A., & Behares, L. (1981).
podem ser comparadas aos estudos mais Variabilidad morfosintáctica de los dialectos
completos dos DPU feitos no Uruguai. portugueses del Uruguay. Boletín de filología,
Como sempre, uma compreensão maior 31(1), 401-417.
pode ser atingida se há mais Elizaincín, A., Barrios, G., & Behares, L. (1987).
pesquisadores com novas ideias e pontos Nos falemo brasilero: dialectos portugueses en
de vista. Uruguay. Montevideo: Amesur.

7
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