Remy Deandra Dene To

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA

REMY DE ANDRADE NETO

HIDROGÊNIO VERDE: UMA ANÁLISE SOBRE O CONTEXTO


HISTÓRICO, TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS, VIABILIDADE
ECONÔMICA, PROJETOS E VETORES DE CRESCIMENTO NO
BRASIL

SÃO PAULO
2022
REMY DE ANDRADE NETO

HIDROGÊNIO VERDE: UMA ANÁLISE SOBRE O CONTEXTO


HISTÓRICO, TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS, VIABILIDADE
ECONÔMICA, PROJETOS E VETORES DE CRESCIMENTO NO
BRASIL

Monografia apresentada à escola


Politécnica da Universidade de São paulo para
obtenção do título de Especialista em Energia
Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência
Energética

Área de Concentração: Energias


Renováveis, Hidrogênio, Fotovoltaico, Geração
Distribuída.

Orientador: Prof. Dr. José Aquiles Baesso


Grimoni

SÃO PAULO
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA À FONTE.

Assinatura: ______________________________________Data: ____/_____/_____.

DE ANDRADE NETO, Remy


Hidrogênio Verde: Uma análise sobre o contexto histórico,
tecnologias disponíveis, viabilidade econômica, projetos e vetores de
crescimento no Brasil.
Monografia – (Especialização em Energias Renováveis, Geração
Distribuída e Eficiência Energética) - Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo.
PECE – Programa de Educação Continuada em Engenharia

1. Hidrogênio verde. 2.Energia renovável. 3.Geração distribuída.


Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. PECE – Programa
de Educação Continuada em Engenharia
DEDICATÓRIA

A Deus, por me dar forças, acreditar nos momentos mais difíceis e me fazer
persistir.
A minha esposa Maísa de Mendonça, pela compreensão, apoio e incentivo em
todo o período dedicado na execução dessa especialização, por auxiliar em todas as
dificuldades e ajudar a acreditar que é possível.
Aos meus pais, Remy de Andrade Filho e Maria Valdete Gaio de Andrade, por
desde os meus primeiros passos e de minha irmã, incentivar que a educação é o bem mais
importante que temos e que nunca devemos deixar de aprender.
Aos professores do curso de Especialização em Energias Renováveis, Geração
Distribuída e Eficiência Energética da Universidade de São Paulo – USP, que com suas
considerações e orientações, permitiram um grande avanço técnico e profissional;
Ao Professor Dr. José Aquiles Baesso Grimoni, que me auxiliou na elaboração
desta monografia, orientando e fornecendo referências que foram fundamentais para o
seu desenvolvimento;
Aos gestores da EDP Brasil, Silas Nunes da Silva e Bruno Cornélio Rogani, por
me dar a oportunidade de atuar na construção da primeira usina de hidrogênio verde do
estado do Ceará, que será a maior do Brasil após a entrada em operação.
Do. Or do not. There is no try.
(Guerra nas Estrelas: O Império Contra-Ataca (1980) – George Lucas)
INTRODUÇÃO

As tecnologias de produção, transporte e armazenamento do gás hidrogênio tem


ganhado muita tração e notoriedade, uma vez que foi possível identificar nesse gás o
potencial para acoplar de maneira sustentável os mercados de combustíveis, industrial e
elétrico.
O acordo de Paris estabeleceu metas de descarbonização desafiadoras, porém
necessárias para se evitar um desastre climático. Neste contexto, explorar o potencial do
gás hidrogênio gerado a partir de fontes renováveis se tornou uma grande aposta das
principais nações do planeta como alternativa para aplicações de difícil descarbonização.
Diversas nações já apresentaram as suas estratégias para fomento das tecnologias
do hidrogênio no âmbito da produção, armazenamento, transporte e consumo, de modo
que segundo o Hydrogen Council, é estimado que em 2050 uma parcela equivalente a
18% de toda a energia consumida mundialmente será consumida do gás hidrogênio.
O Brasil, através do Ministério de Minas e Energia, publicou em julho de 2021
o Programa Nacional do Hidrogênio que estabelece a estratégia brasileira para
desenvolvimento dessa tecnologia. O programa é baseado em seis eixos temáticos que
abordam os temas: fortalecimento das bases tecnológicas, capacitação e recursos
humanos, planejamento energético, arcabouço legal-regulatório, crescimento do mercado
e cooperação internacional.
Devido a abundância do recurso eólico e solar e ao grande perímetro costeiro, o
Brasil se destaca com um elevado potencial para a produção e escoamento de hidrogênio
verde para o mundo. Além disso, considerando o advento da geração distribuída e a nova
lei do gás, o país apresentará capilaridade, tanto na produção de energia verde quanto no
escoamento dutoviário para atender o mercado interno. Portanto, esta é uma avenida de
desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico que deve ser explorada.
JUSTIFICATIVAS

É uma tendência global o aumento crescente da demanda por energia, porém é


urgente a reversão para um consumo sustentável e neutro em emissões de carbono. Isso
se reflete em uma necessidade de descarbonização profunda de vários setores da
economia.
De acordo com Bill Gates [1], olhando de maneira objetiva, temos que: 27% das
emissões globais são geradas na geração de energia elétrica, 31% em como fabricamos
as coisas, 19% em como cultivamos as coisas, 16% em como transportamos as coisas e
7% em processos de aquecimento e resfriamento, sendo que as aplicações do hidrogênio
verde apresentam potenciais de redução das emissões em todas essas atividades.
Como citado pela EPE em sua nota técnica [2], o país deve aproveitar ao máximo
suas vantagens competitivas existentes e construir novas vantagens competitivas em
benefício de sua sociedade. Dentre as vantagens competitivas já existentes pode-se citar
o elevado recurso eólico, solar e hidrológico, além da infraestrutura portuária. É possível
também observar gatilhos que desenvolvem novas vantagens competitivas, como o
advento da geração distribuída, a nova lei do gás e o programa nacional do hidrogênio.
Através deste trabalho é possível compreender o panorama brasileiro sob a ótica
do programa nacional do hidrogênio e projetar como os seus desdobramentos impactarão
o desenvolvimento na produção de hidrogênio verde nas décadas subsequentes. Ainda, é
realizado uma análise crítica sobre empreendimentos já em funcionamento e em
construção no Brasil, ainda é estimado quais aplicações tendem a viabilizar tanto no
âmbito técnico como econômico.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é analisar o panorama atual brasileiro de produção de


hidrogênio e, sob a ótica do programa nacional do hidrogênio, analisar como se
desenvolverá essa tecnologia, considerando os gatilhos mercadológicos, regulatórios e
tecnológicos. Além disso, é objetivo do trabalho estudar os projetos pilotos já implantados
e em implantação, com isso estimar aplicações Power-to-X que serão desenvolvidas em
solo nacional.
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1. Consumo e Produção - Cenário Atual

Para se entender o cenário atual da indústria do hidrogênio é importante


compreender como ela se estabeleceu, isso implica em entender quais as principais
aplicações e como sua produção é otimizada para atender essas finalidades.
A indústria de produção do gás hidrogênio para fins comerciais não é nova e o seu
desenvolvimento se deu majoritariamente devido a aplicações do gás no refino do
petróleo e na produção de fertilizantes. Conforme pode ser observado em [3] a demanda
global por hidrogênio cresceu muito em comparação a 1970, sendo que em 2018 foram
consumidos 70 milhões de toneladas do gás.
A principal aplicação do hidrogênio se dá no refino de óleo bruto [3] sendo este
responsável pelo consumo de 33% do consumo total de hidrogênio no mundo. Durante o
refino do óleo bruto tem-se o desenvolvimento dos processos de hidrotratamento e
hidrocraqueamento com o objetivo de remover as impurezas.
A segunda aplicação de maior relevância para o hidrogênio se dá na produção de
amônia, o gás hidrogênio combinado com o nitrogênio é sintetizado em amônia, este
processo é denominado síntese de Harber-Bosch. As demais aplicações atuais são
hidrogenação de gordura e refrigeração e criogenia.
Aproximadamente 95% da produção de hidrogênio se dá através de reforma do
vapor de metano que é um processo altamente poluente. Para se produzir uma tonelada
de hidrogênio gera-se cerca de 10 toneladas de gás carbônico. Apenas na produção de
amônia tem-se 1,8% das emissões globais anuais, portanto, somente a descarbonização
da indústria existente já é um desafio [3].

1.2. Produção de Hidrogênio no Brasil

O mercado brasileiro encontra-se em linha com o mercado global, sendo o gás


produzido majoritariamente para aplicações no refino de óleo bruto e fertilizantes. Sua
produção é relativamente estável, correspondente a 5.500 Nm³/ano, o que corrobora com
a afirmação de que a produção de hidrogênio ainda é auxiliar a outras indústrias e
acompanha a produção de petróleo.
O principal produtor nacional, Petrobras, responde por 95% da produção e um fato
interessante é que toda a produção originada é destinada para consumo próprio, utilizando
o gás nos processos de refino de óleo bruto. Toda essa produção é realizada através do
processo de reforma a vapor do gás natural, gerando emissões, essa alternativa é
viabilizada devido à presença de gasodutos na costa nacional, onde ficam as principais
refinarias.
A indústria de gases industriais corresponde a parcela remanescente de produção
equivalente a 5%. As principais empresas produtoras que atuam nesse mercado são:
Linde, Air Liquide, Air Products e Messer. Algumas aplicações que são atendidas por
esse mercado encontram-se no setor siderúrgico para redução de ferro gusa, no setor de
alimentos para hidrogenação de produtos, no setor de vidros planos no processo de
inertização e no setor de geração de energia elétrica para refrigeração de turbinas.

1.3. Denominações do hidrogênio

A produção de hidrogênio pode ser realizada através de diferentes processos,


sendo os principais a reforma, gaseificação e a eletrólise. Além disso, pode-se utilizar
diferentes fontes de energia para a produção, como o gás natural, carvão mineral,
biomassa, energia elétrica, etanol, dentre outros.
Um processo adicional que tem contribuído para reduzir a pegada de carbono é a
utilização de tecnologias que permitam a captura, utilização e sequestro de carbono
(CCUS – Carbon Capture Utilization and Storage). Processos de produção que contam
com essa tecnologia, apesar de serem mais eletrointenstivos, reduzem as emissões
equivalentes.
As diferentes combinações entre processos e fontes de energia gera um espectro
de possibilidades de produção com maior ou menor pegada de carbono. A esse espectro
de possibilidades é denominado uma cor que representa a maneira como o hidrogênio foi
produzido.
Dentre as denominações destaca-se o hidrogênio cinza, produzido a partir de gás
natural, hidrogênio azul que acrescenta processos de CCUS ao hidrogênio cinza,
reduzindo sua pegada de carbono e o hidrogênio verde, produzido a partir de fontes
renováveis. É possível observar na figura abaixo, que consta na nota técnica da EPE [2],
as denominações do hidrogênio:

Figura 1 - Denominações do hidrogênio, retirado de [2]

1.4. Hidrogênio verde

Esse trabalho tem como foco analisar pontos estratégicos referentes ao hidrogênio
denominado de hidrogênio verde. A definição de hidrogênio verde se dá como: produzido
via eletrólise da água com energia de fontes renováveis, particularmente energia eólica e
solar fotovoltaica [2]. Portanto, o hidrogênio verde é sustentável e livre de emissões.
Importante observar que o hidrogênio produzido por outras energias renováveis
não é denominado hidrogênio verde, isso se aplica a utilização de hidroeletricidade,
pirólise, gaseificação ou a biodigestão de biomassa.

1.5. Eletrólise da Água

O principal processo para produção de hidrogênio verde é a eletrólise da água que


consiste na separação de átomos de hidrogênio e oxigênio presentes na água. Essa
decomposição ocorre a partir da aplicação de um potencial elétrico em um eletrólito,
através dessa reação química é possível decompor a água em gás hidrogênio e gás
oxigênio.
1.6. Tecnologias de eletrólise

O principal processo para produção de hidrogênio verde é a eletrólise da água que


consiste na separação de átomos de hidrogênio e oxigênio presentes na água. Essa
decomposição ocorre a partir da aplicação de um potencial elétrico em um eletrólito,
nessa reação química é possível decompor a água em gás hidrogênio e gás oxigênio.
Dentre as tecnologias existentes para se realizar a eletrólise, destacam-se: alcalina clássica
e PEM – Membrana polimérica eletrolítica.
A tecnologia alcalina clássica se destaca como uma tecnologia já bem estabelecida
e tem como principal componente o eletrolisador, este é composto por uma série de
células eletrolíticas, formando uma pilha eletrolítica. Cada célula eletrolítica é composta
por um cátodo, um ânodo e um diafragma, nessa condição aplica-se um potencial elétrico
entre o cátodo e o ânodo e observa-se a molécula da água ser decomposta. O diafragma
tem a função de separar do gás oxigênio e do gás hidrogênio e é fabricado atualmente
utilizando o material Zirfon. Compostos de níquel são utilizados tipicamente como cátodo
e ânodo. Essa tecnologia apresenta custos mais competitivos quando comparado a uma
alternativa.
A tecnologia PEM – Membrana polimérica eletrolítica consiste em uma
membrana sólida que conduz os prótons durante a reação química. Essa membrana é
construída com materiais como ouro, platina, iridium e titânio, e possui uma capacidade
de se trabalhar com densidades de corrente maiores, além de ser mais compatível com a
intermitência no potencial elétrico típico das fontes renováveis de energia. Um ponto
negativo dessa aplicação são os custos de fabricação devido a utilização de materiais com
elevado preço.

1.7. Power-to-X

A energia elétrica renovável, quando convertida em hidrogênio, pode ser aplicada


de diversas maneiras e processos que agregam valor, este conceito é denominado Power-
to-X (PtX). Portanto, o hidrogênio é um vetor energético capaz de atuar em diversas
aplicações com potencial elevado de descarbonização.
O “X” ao final de Power-to-X corresponde a aplicação empregada ao hidrogênio,
por exemplo, temos Power-to-Power, Power-to-gas, Power-to-mobility, Power-to-fuel,
Power-to-Ammonia, dentre outros.
A aplicação Power-to-Power faz referência a reconversão do hidrogênio verde em
energia elétrica via pilhas a combustível, turbinas ou geradores de hidrogênio. Pode
parecer contraintuitivo, porém, essa aplicação traz um benefício sistêmico muito grande
uma vez que as fontes eólicas e solar são de caráter intermitente. Com a reconversão, o
excedente armazenado é injetado em períodos com baixa geração equilibrando o
consumo. Assim, a tecnologia Power-to-Power acrescenta um lastro de energia que pode
ser despachada aumentando a confiabilidade do sistema elétrico como um todo.
A aplicação Power-to-Gas faz referência a utilização do hidrogênio verde em
conjunto com o gás carbônico para a produção de metano sintético, ou a injeção direta na
rede de gás natural. A síntese do metano a partir do hidrogênio traz um benefício imediato
que é a captura de gás carbônico, da mesma forma a injeção de hidrogênio verde na rede
de gás natural reduz a utilização do gás de origem fóssil. Por razões técnicas, estima-se
que a injeção de hidrogênio nos gasodutos será restringida a 20% do volume transportado.
A aplicação Power-to-Mobility faz referência a utilização do hidrogênio verde
para carregar baterias acopladas a carros elétricos ou abastecer células a combustível que
movimentam veículos terrestres. No caso de veículos movidos por célula a combustível
temos apenas a eliminação de vapor de água.
A aplicação Power-to-Fuel faz referência a utilização do hidrogênio verde na
síntese de combustíveis líquidos sintéticos. Nesse caso o hidrogênio, em conjunto com o
gás carbônico, passa por processos químicos para formar o óleo sintético, posteriormente
este é refinado em combustíveis como o diesel sintético, gasolina sintética ou ainda
querosene de aviação sintético.
A aplicação Power-to-Ammonia faz referência a utilização do hidrogênio verde
na produção de amônia. Essa aplicação por si só já representa uma grande redução nas
emissões globais relativas ao processo de fabricação de fertilizantes. A amônia, como
será estudado posteriormente, também pode ser aplicada como meio intermediário no
transporte do hidrogênio verde produzido.
A figura abaixo de origem da Siemens Energy e disponível no Mapeamento do
Setor de Hidrogênio Brasileiro [3] sintetiza o conceito de Power-to-X com aplicações
adicionais do hidrogênio verde.
Figura 2 - Hidrogênio verde e Power-to-X [3]

1.8. Transporte e armazenamento

Alguns desafios ainda existem e devem ser superados para que o hidrogênio verde
se consolide como um vetor energético, é o caso do seu transporte e armazenamento.
Importante observar que o hidrogênio é o elemento químico mais abundante no universo
e seu gás é 14,4 vezes mais leve que o ar. Sob as condições naturais de temperatura e
pressão o hidrogênio é um gás inodoro com grande potencial de difusão e efusão, além
de possuir um elevado potencial energético, como base para comparação, 1 kg de
hidrogênio possui cerca de três vezes o conteúdo energético de 1 litro de diesel.
Um dos desafios apresentados é o transporte do hidrogênio verde desde a sua
produção até o consumo. A tecnologia mais comum para o seu transporte é através de
gasodutos específicos para essa aplicação sendo o gás transportado sob alta pressão de
500 a 700 bar.
Uma segunda maneira de se transportar hidrogênio é reduzindo a sua temperatura
e alterando seu estado de líquido para gasoso, essa transformação ocorre a -252ºC, no
estado líquido o hidrogênio ocupa um espaço relativamente menor. Esse processo
apresenta maior pureza e facilidade de distribuição através do modal rodoviário.
Ambos os processos apresentados são considerados de alto custo, o que está
trazendo a atenção de pesquisadores a novas alternativas. Uma dessas alternativas que
pode beneficiar tanto o transporte quanto o armazenamento é a conversão do hidrogênio
em amônia.
Comparado ao hidrogênio, o armazenamento e transporte de amônia é mais
simples, um desses motivos é que a amônia se liquefaz à temperatura de -33ºC. Em um
mesmo volume a amônia contém aproximadamente 50% mais hidrogênios do que o
próprio gás hidrogênio, isso se deve a sua fórmula química . Um desafio para o
estabelecimento dessa tecnologia é a eficiência na conversão em amônia e reconversão
em hidrogênio.
Uma alternativa similar que está sendo estudada é a conversão do hidrogênio em
LOHC – Liquid Organic Hydrogen Carrier. Os LOHC são compostos desenvolvidos
capazes de armazenar grandes quantidades de hidrogênio, um ponto importante é que ao
contrário da amônia, o LOHC é um líquido em condições normais de temperatura e
pressão, o que pode haver muita sinergia com a distribuição de combustíveis já existentes.
Um ponto negativo é que o processo de reconversão do LOHC demanda elevadas
quantidades de calor, elevando seu custo.

1.9. Programa Nacional do hidrogênio – PNH2

As iniciativas para desenvolvimento de estudos envolvendo o hidrogênio no Brasil


iniciaram em 1995 com a implementação do centro nacional de referência em energia do
hidrogênio, em 2002 o país divulgou o PROCAC – Programa Brasileiro de Células de
Combustíveis. Um outro avanço significativo ocorreu em 2005 com a publicação do
roteiro para a estruturação da economia do hidrogênio no Brasil que estabelecia metas
para o horizonte de 20 anos.
As células a combustível geraram uma euforia durante iniciada no ano de 2000
que perdurou até 2008, porém, após esse período, houve uma desaceleração nas
iniciativas envolvendo a economia do hidrogênio. O tema foi retomado em 2017 com a
criação da associação brasileira do hidrogênio (ABH2). Em 2020 o plano nacional de
expansão da energia elétrica apontou o hidrogênio como uma tecnologia disruptiva e o
classificou como elemento de interesse no contexto da descarbonização da matriz
energética.
Em 2021 o Brasil, através do ministério de minas e energia, divulgou o -
Programa Nacional do Hidrogênio cujos objetivos são: almejar o desenvolvimento de um
mercado competitivo nacional, buscar sinergias e articulações com outros países para
acelerar o desenvolvimento e reconhecer a contribuição da indústria nacional para o
mercado do hidrogênio. O programa foi desenvolvido sob três pilares: políticas públicas,
tecnologia e mercado que precisam ser desenvolvidos de forma síncrona para o sucesso
da estratégia.
Além dos pilares supracitados o é estruturado em seis eixos temáticos
conforme figura abaixo:

Figura 3 - Eixos temáticos do PNH2 [4]

O eixo 1 aborda o fortalecimento das bases tecnológicas e algumas iniciativas


consistem em mapear investimentos e iniciativas já em andamento no País, identificar
instituições acadêmicas, centros de pesquisa e instituições de fomento à pesquisa. Apoiar
a pesquisa, desenvolvimento tecnológico, a inovação e o empreendedorismo e fomentar
plantas piloto para produção e armazenamento de hidrogênio.
O eixo 2 versa sobre a capacitação de recursos humanos e suas principais
iniciativas encontram-se na promoção da capacitação em nível técnico e profissional
sobre hidrogênio. Além disso, está também previsto o intercâmbio entre o setor privado
e a academia, o incentivo no desenvolvimento de patentes e a criação de grupos de
pesquisa.
O eixo 3 é referente ao planejamento energético, uma de suas principais
atribuições é a elaboração de estudos de demanda e oferta existente e potencial. Uma
outra abordagem proposta é o desenvolvimento de hubs específicos para ao hidrogênio.
O eixo 4 trata sobre o arcabouço legal e regulatório-normativo sendo um dos
mais importantes. Uma de suas principais atribuições é a proposição de normativos sobre
novas tecnologias nos três níveis (federal, estadual e municipal), atualmente esse
normativo é inexistente e o seu desenvolvimento deve ser aberto às condições do mercado
evitando barreiras no seu desenvolvimento.
O eixo 5 versa sobre a abertura e crescimento do mercado, bem como sua
competitividade. Uma linha de atuação proposta é o mapeamento completo de toda a
cadeia de valor do hidrogênio, desde a geração de energia até seu consumo final, a
possibilidade de utilização da infraestrutura existente para escoamento e estocagem do
hidrogênio também é analisada.
O eixo 6 tem como objetivo promover a cooperação internacional, uma linha de
atuação promissora consiste no fomento ao intercâmbio entre instituições brasileiras e
centros de estudos internacionais dedicados à pesquisa, desenvolvimento e inovação
tecnológica no setor de hidrogênio.

1.10. Geração distribuída

O conceito de geração distribuída foi normatizado no Brasil em 2012 através da


resolução normativa 482, atualizado pela resolução normativa 687 em 2015 e configurado
como lei em 2022, através da sanção da lei 14.300 de 06/01/2022.
A lei 14.300/2022 define o conceito de geração distribuída como a instalação de
uma central geradora de energia elétrica, com potência até 5 MW em corrente alternada,
e que utilize cogeração qualificada ou fontes renováveis de energia elétrica, conectada na
rede de distribuição de energia elétrica por meio de instalações de unidades consumidoras
[5].
Ainda, é definido que a microgeração compreende as unidades com potência
instalada até 75 kW em corrente alternada e a minigeração compreende as unidades com
potência acima de 75 kW e até o limite em 5 MW.
Conforme a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – ABSOLAR, o
Brasil atingiu em abril/2022 o montante de 10 GW de geração distribuída solar
fotovoltaica. Esse montante corresponde a 98% da geração distribuída no País, o que
evidencia a grande predominância da energia solar fotovoltaica.
Conforme a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – ABSOLAR, o
Brasil atingiu em abril/2022 o montante de 10 GW de geração distribuída solar
fotovoltaica [6]. Esse montante corresponde a 98% da geração distribuída no País, o que
evidencia a grande predominância da energia solar fotovoltaica.
A geração distribuída promove um conceito diferente do padrão, sendo um
sistema elétrico composto de geração, transmissão e distribuição. Com a geração
distribuída, todas essas etapas ocorrem próximo a carga na distribuição.
Com a redução drástica observada nos custos de aquisição dos sistemas
fotovoltaicos aliado à inflação e a crises hídricas que o país vem passando, são gatilhos
que promoveram o crescimento exponencial da geração distribuída. Um outro ponto que
impressiona é a capilaridade, a geração distribuída já está presente em mais de 5.000
municípios dos 5.568, conforme dados do CANAL SOLAR [7].

1.11. Nova lei do gás


Foi sancionada em 08 de abril de 2021 a lei nº 14.134 chamada de nova lei do gás.
Esta lei estabelece uma mudança de um mercado monopolista para um mercado
concorrencial, alterando as regras do mercado relacionadas ao transporte, escoamento,
tratamento, processamento, estocagem, acondicionamento, liquefação, regaseificação e
comercialização do gás natural no Brasil. Tem-se a expectativa de investimentos da
ordem de R$74 bilhões em infraestrutura na próxima década e a geração de 30 mil
empregos, conforme publicado em [9].
De acordo com [3] pode-se observar que o país conta atualmente com uma
infraestrutura com cerca de 10 mil quilômetros de extensão de dutos para o transporte do
gás. Essa expansão se deu ao longo da costa devido a presença das refinarias e através da
interligação para fornecimento de gás pela Bolívia, chamado de Gasbol. Através da figura
abaixo pode-se observar a infraestrutura no mercado de gás em 2019:

Figura 4 - Infraestrutura de produção e movimentação de gás natural [3]

A nova lei do gás permitirá a expansão da rede de gasodutos para diversas


regiões que atualmente não contemplam o fornecimento de gás natural. A lei também
versa sobre o acesso de terceiros e da criação de um mercado livre para comercialização
do gás natural. Com essas alterações é possível uma elevada capilaridade da rede de
gasodutos, em conjunto com processos mais simples para produtores e consumidores.

2. ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho foi estruturado com o objetivo de: apresentar um contexto sobre o
hidrogênio no âmbito mundial e nacional, apresentar as tecnologias disponíveis para a
produção, transporte e aplicação do hidrogênio, estudar projetos implantados, em
implantação e anunciados, inferir como o Brasil se posicionará no mercado interno e
externo e apresentar os principais desafios a serem encontrados.
O primeiro capítulo foi estruturado para fornecer ao leitor uma revisão
bibliográfica: apresentando o cenário atual de consumo e produção de hidrogênio, as
denominações do hidrogênio, introduzindo as principais tecnologias de produção e
transporte de hidrogênio, apresentando o conceito de “Power-to-x” e abordando o
programa nacional do hidrogênio, dentre outros conceitos fundamentais para a
compreensão do trabalho. Sendo este o segundo capítulo, temos no terceiro a
apresentação da metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho.
O quarto capítulo aborda em detalhe o cenário mundial para a produção do
hidrogênio estudando as estratégias de países de todos os continentes. Já no quinto
capítulo é abordado em detalhe a estratégia brasileira por meio do Programa Nacional do
Hidrogênio, em que é possível compreender como o País se apresentará face a este vetor
energético.
No sexto capítulo há uma abordagem sobre as principais tecnologias disponíveis
para a produção do hidrogênio azul e verde, na sequência são abordadas as principais
maneiras de transporte do gás e por fim uma análise e classificação das principais
aplicações nos mais diversos setores.
O sétimo capítulo trata sobre projeções de custos para produção de hidrogênio
azul e verde, os principais gatilhos que podem fazer com que os custos se reduzam e
perspectivas para viabilidade financeira em comparação com fontes fósseis.
O oitavo capítulo tem a proposta de apresentar projetos já construídos no Brasil
sobre o hidrogênio verde, projetos em construção e projetos já anunciados. Analisando os
projetos anunciados é possível ter uma noção da magnitude dos investimentos que o
hidrogênio deve atrair para o Brasil.
No nono e décimo capítulo as informações estudadas são concatenadas com o
intuito de projetar como o Brasil deve-se estabelecer no mercado interno e externo,
analisando as principais vertentes do desenvolvimento do mercado.
No décimo-primeiro capítulo são apresentados os principais desafios e conflitos
que cercam o hidrogênio verde, sendo que no décimo-segundo capítulo são apresentadas
as principais conclusões oriundas da análise realizada e no décimo-terceiro as referências
utilizadas para a produção desta monografia.

3. METODOLOGIA

Inicialmente foram selecionadas referências bibliográficas pertinentes para estudo


do tema proposto. Após análise detalhada das referências, foram realizadas inferências e
traçadas conclusões sobre a participação do Brasil e sua projeção para atender o mercado
interno e mercado externo no que tange ao hidrogênio.

4. CENÁRIO MUNDIAL

Para entendermos como o Brasil se projetará no mercado global de hidrogênio é


interessante compreendermos como os países de maior poderio econômico estão se
posicionando nesse mercado em criação. É importante observar que as metas
estabelecidas pelo acordo de Paris estão estimulando as principais nações a desenvolver
estratégias para redução de emissões, dentre elas figura-se a tecnologia do hidrogênio
como vetor energético.
Conforme observado em [3] em seu capítulo 2, pode-se entender um panorama
sobre como as principais nações estão se posicionando para o mercado de hidrogênio,
neste trabalho será dado foco nos países: Estados Unidos, Países Baixos, Alemanha,
Portugal, Austrália, Chile, Arabia Saudita e China. Com isso, será possível ter um
entendimento diversificado sobre as principais estratégias em todas as regiões do globo.
Cada país estudado apresenta alguma particularidade em sua estratégia,
entretanto, pode-se observar alguns temas em comum, sendo eles: redução das emissões
de gases de efeito estufa em setores de difícil descarbonização, segurança energética
através da redução de fontes fósseis e crescimento econômico sustentável.
Os Estados Unidos entendem que essa década será um divisor de águas no
que tange a descarbonização, diante disso foi divulgado em 2020 o documento “Road
Map to a US Hydrogen Economy”[9]. Ainda, é esperado pelo DOE – Departamento de
Energia, que durante essa década algumas políticas importantes sejam aprovadas, dentre
elas: Aprovação de uma meta nacional de emissões líquidas até 2050, estabelecer um
mandato para a mistura a um nível mínimo e seguro de hidrogênio verde no gás fornecido
e incentivos para implantação de hidrogênio verde.
Um fato interessante é que o sistema que levou o homem à lua é uma célula
a combustível alimentada por hidrogênio, sendo que a missão Apollo 11 ocorreu em 1969.
Adicionalmente, os Estados Unidos são líderes em aplicações de células a combustível.
Isso demonstra o quanto a economia do hidrogênio está alinhada com os objetivos
estratégicos do país para se manter na vanguarda.
Através de seu roadmap [9], os Estados Unidos estimam que em 2050 a
economia do hidrogênio poderá gerar receitas de 750 bilhões de dólares por ano e suprir
14% da demanda energética do país. Seu desenvolvimento está segmentado em fases,
sendo que nas primeiras, previsto para 2020 – 2025, há a necessidade de incentivos
governamentais e investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento. Entre 2026 –
2030 há a previsão para redução de incentivos e ganhos de escala de mercado devido a
redução dos custos nos processos produtivos do hidrogênio.
Similar ao que ocorre nos Estados Unidos, temos na União Europeia diretrizes
estabelecidas para o fomento da economia do hidrogênio. Estas se estabeleceram com
base nas metas de descarbonização do Pacto Ecológico Europeu de 2019, que determina
que até 2030 exista uma redução de 40% nas emissões equivalentes do bloco, incremento
da participação de renováveis para 32% e aumento de 32,5% em eficiência energética.
Para 2050 a meta estabelecida é atingir 100% da neutralidade das emissões.
Uma das alternativas mapeadas para contribuir no cumprimento das metas acima
é o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio, portanto, foi publicado em 2019 o
documento “Hydrogen Roadmap Europe: A Sustainable Pathway For The European
Energy Transition” [10]. No seu roadmap a União Europeia prevê que até 2050 o
hidrogênio poderá representar 24% da demanda de energia final e 5,4 milhões de
empregos no bloco econômico [10].
Dentro da estratégia europeia, os Países Baixos têm focado no desenvolvimento
de projetos piloto para a produção de hidrogênio verde com energia eólica offshore, em
um primeiro momento essa produção será destinada ao mercado interno com meta para a
descarbonização do porto de Roterdã, utilização do hidrogênio em carros de passeio, no
transporte urbano, no transporte marítimo de cargas e passageiros, utilização do
hidrogênio misturado ao querosene para aviação e na geração de calor para residências e
escritórios [3].
Para os Países Baixos, há a previsão de uma capacidade instalada de 3 a 4 GW
em eletrólise até 2030. Toda essa produção deverá ser escoada para outros países que
serão importadores de hidrogênio verde. Isso se deve ao fato de os Países Baixos
apresentarem vantagens competitivas que permitem o estabelecimento de um mercado
exportador, como: elevado potencial eólico offshore no mar do norte, elevada
disponibilidade de gasodutos devido a exploração do gás natural, posição geográfica
favorável para abastecer a Europa e maturidade de sua indústria.
Um contraponto ao observado nos Países Baixos é a Alemanha que norteou sua
estratégia através do desenvolvimento de um mercado importador de hidrogênio. O seu
objetivo principal é apoiar uma aceleração do estabelecimento da indústria, produção e
exportação do hidrogênio em países parceiros. Um ponto importante a se observar é que
para o governo federal alemão, apenas o hidrogênio verde será sustentável a longo prazo,
portanto, todas as suas iniciativas estão voltadas a essa tecnologia de produção.
Conforme estratégia nacional [3] a Alemanha precisará importar em 2050 em
torno de 45 milhões de toneladas de hidrogênio verde para atender as metas de
descarbonização. Para isso, sua estratégia nacional versa sobre 12 objetivos, sendo os
principais: tornar o hidrogênio verde competitivo, estabelecer o hidrogênio como fonte
alternativa de energia, desenvolver a infraestrutura e comércio exterior, estabelecer
mercados internacionais, parcerias e promover a cooperação global.
Um país europeu que tem uma relação histórica com o Brasil é Portugal, este
aprovou em 2020 sua estratégia nacional para o hidrogênio que tem como primeiro passo
a instalação de uma unidade de produção de eletrolisadores com capacidade de produção
estimada de 1 GW até 2030. Sua estratégia tem como objetivo posicionar Portugal como
um importante centro de produção de hidrogênio verde.
Portanto, através do estudo dos países acima, é possível observar que
considerando as vantagens ou desvantagens competitivas individuais os países têm
apresentado estratégias consonantes com os objetivos do bloco econômico. Por exemplo,
os Países Baixos e Portugal pretendem desenvolver um mercado exportador e a Alemanha
objetiva o desenvolvimento de parcerias globais visando a importação do hidrogênio
verde.
Na Oceania temos como maior expoente a Austrália que pretende reduzir até
28% as emissões de gases do efeito estufa até 2030. A partir dessa meta foi estabelecido
a Estratégia Nacional de Hidrogênio Australiana que consiste no desenvolvimento de
hubs em regiões do país com maior potencial para o estabelecimento de uma indústria.
Um diferencial da estratégia australiana é o seu caráter adaptativo, as ações
definidas serão constantemente avaliadas no intuito de guiar o desenvolvimento da
indústria de modo mais assertivo e eficiente possível. A adaptabilidade estratégica passa
pela priorização de diretrizes regulatórias claras e flexíveis em um objetivo em comum,
além da aprovação de projetos piloto em consonância com os objetivos.
Em um primeiro momento, a estratégia australiana pretende focar no
abastecimento do mercado interno a partir de seus hubs, porém, há uma perspectiva de
redução de custos que permitirá o desenvolvimento de um mercado exportador forte.
Estima-se que sejam gerados 7.600 empregos e um acréscimo de 8,5 bilhões de dólares
anuais ao PIB australiano até 2050 [3].
No oriente médio, temos como referência a Arábia Saudita que apresentou uma
meta de capacidade instalada em energias renováveis de 27,3 GW até 2023 e 57,8 GW
até 2030. A Arábia Saudita ainda não apresentou uma estratégia nacional ou roadmap
para o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio, entretanto, receberá um dos
maiores projetos já anunciados até 2025.
Foi anunciado a criação de uma megacidade na Arábia Saudita que será 100%
livre de carbono, chamado de “Projeto Neom”, neste projeto há a previsão de uma usina
de hidrogênio verde com potência de 4 GW que será abastecida com energia solar e
eólica. A previsão é de se produzir 650 toneladas de hidrogênio verde diariamente a partir
de 2025 e transportar na forma de amônia verde. As empresas envolvidas até o momento
são: Air Products, Thyssenkrupp Technology e Haldor Topsoe [3].
Na Ásia temos a liderança da China que atualmente é o maior produtor e
consumidor de hidrogênio do mundo. Em 2016 o governo chines lançou um roadmap
tecnológico para veículos movidos a célula combustível de hidrogênio e atualmente
encontram-se em operação comercial 1200 caminhões, 2800 ônibus e 50 carros
abastecidos com hidrogênio [3].
A China é uma economia altamente dependente de fontes fósseis de energia,
sendo assim apresenta desafios grandes como: cessar o crescimento das emissões até 2030
e neutralidade das emissões até 2060, bem como o aumento da participação de renováveis
na matriz para 20% até 2030. Portanto, pode-se inferir que o hidrogênio terá um papel
fundamental no cumprimento dessas metas.
A estratégia chinesa para o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio
pretende desenvolver em paralelo a tecnologia, os meios de transporte e infraestrutura de
abastecimento. No transporte, uma diretriz clara é desenvolver 3000 km de dutos
dedicados ao hidrogênio até 2030, na produção o país pretende atuar em conjuntos e
regiões de produção de hidrogênio verde e na distribuição o país pretende construir 5000
estações de abastecimento com hidrogênio até 2035 [3].
Na América do Sul temos como referência o Chile com um elevado potencial
energético renovável e que divulgou sua estratégia nacional em 2020. O governo chileno
norteou a estratégia considerando apenas a produção do hidrogênio verde e pretende
aprofundar as relações com potenciais países importadores, através de contratos de longo
prazo.
A estratégia chilena foi dividida em três etapas, sendo a primeira etapa entre
2020 e 2025 com o estabelecimento da indústria doméstica para atendimento a aplicações
prioritárias como: uso de hidrogênio verde nas refinarias, caminhões utilizados na
mineração, produção de amônia e injeção de até 20% na rede de gás. Nessa etapa está
previsto também o desenvolvimento da atividade de exportação do hidrogênio.
A segunda e terceira etapas tem como início em 2025 que consiste no
crescimento da produção e fornecimento em larga escala de hidrogênio verde para o
mercado internacional, essa exportação se dará através da exportação de hidrogênio verde
e de amônia verde.
Um exemplo de parceria com o governo alemão é a instalação do projeto “Haru
Oni” no sul do Chile, esse projeto consiste na implantação de uma planta comercial
integrada para produzir, a partir da energia eólica e do gás carbônico capturado, um
combustível de neutralidade climática [3]. O investimento é da ordem de 8 milhões de
euros, neste projeto será utilizada tecnologia alemã e o consumidor será a montadora
Porsche AG.
Portanto, como pode-se observar, diversos países em todos os continentes já
apresentam estratégias claras para o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio,
essas se originaram devido às metas arrojadas, porém necessárias de descarbonização,
estabelecidas pelo acordo de Paris. Cada país apresentado, sob a ótica de suas vantagens
competitivas, tem se posicionado para consolidar o hidrogênio com um vetor para a
descarbonização.
5. PROGRAMA NACIONAL DO HIDROGÊNIO

Neste capítulo será analisada a estratégia brasileira para o mercado de hidrogênio,


esta foi apresentada e formalizada através do Programa Nacional do Hidrogênio,
divulgado pelo ministério de minas e energia em julho de 2021.
O programa foi baseado em fatores estratégicos competitivos para o país, sendo
eles: potencial de recursos energéticos diversificados disponíveis, elevada participação
de fontes renováveis na matriz energética nacional, infraestrutura existente para
transporte de energia, base de consumo e indústria com potencial de expansão,
infraestrutura portuária e logística, dentre outros [4].
As diretrizes estabelecidas pelo programa foram determinadas com base na
identificação dos riscos e oportunidades relacionados a:
1. Recursos de gás natural disponíveis no País, que, associados à tecnologia de
captura e armazenagem de gás carbônico, permitem a produção de hidrogênio
azul;
2. Potencial e competitividade de fontes renováveis de geração elétrica para
produção do hidrogênio verde;
3. Aproveitamento da energia do hidrogênio contida nos biocombustíveis (etanol
e biogás, por exemplo);
4. Desenvolvimento de rotas alternativas de produção de hidrogênio, tais como,
energia nuclear, hidrogênio natural (proveniente de rochas) e plásticos, por
exemplo;
5. Consideração dos aspectos relacionados aos usos múltiplos da água, buscando,
promover a diversificação destas fontes para as rotas de produção que a
utilizem;
6. Aproveitamento de infraestruturas existentes, como elemento de transição
competitiva, para uma economia de hidrogênio – por exemplo, através de
mistura de hidrogênio na rede dutoviária de gás natural, em níveis
regulamentados e sem comprometimento da infraestrutura existente;
7. Potencial uso de hidrogênio em veículos pesados, tais como caminhões,
locomotivas, embarcações e aeronaves;
8. Penetração do hidrogênio no processo produtivo de hidrocarbonetos
renováveis no setor de transportes;
9. Inserção competitiva do uso de hidrogênio na indústria brasileira, tendo em
vista sua diversificação e dinâmica;
10. Promoção de desenvolvimento inclusivo da sociedade brasileira no processo
de desenvolvimento desse mercado, sob os aspectos socioeconômico e
educacional, considerando também aqueles relacionados ao aspecto fiscal;
11. Promoção do desenvolvimento urbano sustentável e a melhoria da qualidade
de vida nas cidades brasileiras;
12. Uso estacionário do hidrogênio, por exemplo, de células a combustível como
fontes alternativas de energia; e
13. Potencial propiciado pelas tecnologias digitais, com amplo espaço de
aplicações nesse contexto.

Logo, com base nas vantagens competitivas, riscos e oportunidades mapeadas,


foram estabelecidos os princípios do Programa Nacional do Hidrogênio, sendo eles [4]:
1. Valorizar o potencial nacional de recursos energéticos: reconhecendo as
diversas fontes para obtenção do hidrogênio, sendo elas renováveis ou não,
bem como a ampla gama de aplicações em múltiplos setores da economia
(transportes, energia, siderurgia e mineração por exemplo);
2. Ser Abrangente: reconhecendo a diversidade de fontes energéticas e
alternativas de tecnologias disponíveis ou potenciais, inclusive, as possíveis
sinergias, para a produção, logística, armazenamento e uso do hidrogênio;
3. Alinhar-se às ambições de descarbonização da economia: Considerando
trajetórias que viabilizem que o hidrogênio contribua para a neutralidade de
carbono até 2050;
4. Valorizar e incentivar o desenvolvimento tecnológico nacional: Tendo em
vista os investimentos e experiências existentes no País e a necessidade da
continuidade do esforço em pesquisa, desenvolvimento e inovação, com vistas
à capacitação e autonomia tecnológica e desenvolvimento do sistema
produtivo nacional.
5. Almejar o desenvolvimento de um mercado competitivo: considerando o
potencial da demanda interna e para exportação de hidrogênio, bem como a
evolução dos custos e riscos nos horizontes de curto, médio e longo prazos;
6. Buscar sinergias e articulações com outros Países: Reconhecendo que esse
mercado deve ter abrangência global e seu desenvolvimento pode ser
acelerado por meio da cooperação e coordenação internacional;
7. Reconhecer a contribuição da indústria nacional: O País tem base
industrial robusta para a produção de bens de capital, produtos e serviços aptos
para contribuir com a economia do hidrogênio.

Em suma, a proposta do Programa Nacional do Hidrogênio consiste em dar tração


no desenvolvimento de três pilares de maneira síncrona, sendo eles: políticas públicas,
tecnologia e mercado [4].

5.1. Eixos e diretrizes

Como apresentado na revisão bibliográfica, o Programa Nacional do Hidrogênio


foi estruturado em torno de seis eixos temáticos, nesta etapa analisaremos detalhadamente
cada um com o intuito de entender como os eixos e suas diretrizes se encaixam de maneira
a promover a estratégia brasileira.
O Eixo 1 trata sobre o fortalecimento das bases científico-tecnológicas, sendo
que em um primeiro momento as diretrizes estão focadas em entender onde estamos hoje,
através do mapeamento de: investimentos realizados, instituições acadêmicas e centros
de pesquisa de destaque na área, empresas de tecnologia atuantes e com potencial de
atuação no setor, gargalos e desafios tecnológicos e logísticos.
Em um segundo momento, as diretrizes do Eixo 1 se voltam ao apoio e incentivo
de: novas tecnologias para emprego do hidrogênio no setor produtivo, pesquisa,
desenvolvimento tecnológico, inovação e empreendedorismo relacionado ao hidrogênio,
estruturação de plantas piloto para produção e armazenamento de hidrogênio,
estruturação de laboratórios. Por fim, as diretrizes se voltam ao fomento de redes de
pesquisa, desenvolvimento e inovação e projetos com aplicações do hidrogênio.
O Eixo 2 trata sobre a capacitação de recursos humanos e suas diretrizes versam
sobre a promoção da capacitação de nível técnico e profissional sobre o hidrogênio,
desenvolvimento de disciplinas na graduação e pós-graduação sobre o tema, intercâmbio
entre setor privado e academia, estimular a criação de grupos de pesquisa e o
desenvolvimento de patentes, livros e publicações técnico-científicos sobre hidrogênio.
Uma diretriz interessante abordada é a capacitação no âmbito do setor público,
para desenho de políticas públicas relacionadas a hidrogênio e tecnologias relacionadas.
Essa diretriz é bem pertinente, pois o hidrogênio apresenta uma ampla gama de
aplicações, sendo que a capacitação dos tomadores de decisão mitiga riscos de
investimento de recursos públicos em aplicações menos eficientes e promissoras.
O Eixo 3 trata sobre o planejamento energético e suas diretrizes tratam
majoritariamente sobre: o desenvolvimento de estudos técnicos e econômicos, identificar
possíveis hubs para o desenvolvimento de rotas específicas, incorporar o hidrogênio nos
estudos do planejamento do setor de energia, analisar os efeitos sobre a expansão do setor
elétrico e os impactos socioambientais.
Dentro do Eixo 3 temos o mapeamento das estruturas geológicas nacionais
existentes para o armazenamento de carbono, em linha com a produção do hidrogênio
azul, promover o mapeamento de ocorrências de reservas de hidrogênio natural ou
geológico e avaliar a viabilidade de sua utilização, também em linha com o
desenvolvimento de outras rotas que contribuam para a descarbonização.
No Eixo 4 temos a orientação do programa sobre as diretrizes pertinentes ao
arcabouço legal e regulatório-normativo. Este é um dos temas com maior importância
uma vez que garantirá a segurança jurídica para os investidores aplicarem capital em
projetos no Brasil.
Dentre as diretrizes, é possível observar o mapeamento das competências das
agências reguladoras, avaliar a necessidade de normativos sobre novas tecnologias,
avaliar inter-relações entre setores e propor harmonizações, promover a cooperação entre
agências governamentais para a regulação do hidrogênio.
Um destaque do Eixo 4 é a diretriz: “observar que a regulação se mantenha
aberta às condições de mercado evitando barreiras e trancamentos tecnológicos” [4].
Através dela pode-se identificar uma preocupação com a adaptabilidade normativa para
acomodar os avanços tecnológicos que tendem a ser cada vez mais rápidos. Com isso
espera-se uma regulação ativa e flexível com o intuito de evitar barreiras ao
desenvolvimento do mercado.
Ainda podemos observar uma preocupação quanto a harmonização regulatória,
esta será cada vez mais importante caso o hidrogênio seja o vetor que acople os mercados
de combustíveis, elétrico, industrial, dentre outros. Todas as regulações pertinentes
devem estar em harmonia para evitar divergências e impactos no mercado. A regulação
do hidrogênio deve necessariamente tratar sobre a produção, transporte, qualidade,
armazenamento e aplicações do hidrogênio.
No Eixo 5 temos as diretrizes que tratam sobre a abertura e crescimento do
mercado e sua competitividade. Dentre suas linhas de atuação temos o mapeamento da
cadeia de valor e dos principais players nacionais que já atuam com aplicações de
hidrogênio. Ainda temos uma diretriz clara que se deve analisar, sob a ótica regional,
quais rotas de produção de hidrogênio fazem mais sentido.
Temos também apresentado o estudo para transporte de hidrogênio através da
rede existente em mistura com o gás natural, considerando desde o sistema dutoviário até
os equipamentos dos consumidores. No próximo capítulo estudaremos essa aplicação em
detalhe analisando seu potencial na descarbonização e sua eficiência estimada.
Um último destaque observado no Eixo 5 é a necessidade de uma análise
aprofundada sobre os impactos da precificação do carbono na competitividade relativa do
hidrogênio, avaliando a promoção de investimentos nessa tecnologia. A precificação do
carbono é um tema cada vez mais estudado que pretende desestimular a utilização de
tecnologias poluidoras através do aumento do preço dos produtos, com isso, tecnologias
limpas ganham um impulso adicional para sua viabilidade.
No Eixo 6 observamos a estratégia do programa no que tange a cooperação
internacional, nesse sentido a principal diretriz é desenvolver e aprofundar o diálogo e a
cooperação internacional, está previsto o desenvolvimento de acordos bilaterais, parcerias
industriais e produtivas na cadeia de hidrogênio, intercâmbio entre instituições brasileiros
e instituições e centros de estudo internacionais dedicados à pesquisa, desenvolvimento e
inovação tecnológica no setor do hidrogênio.

5.2. Governança

No que tange a governança, o Programa Nacional do Hidrogênio pretende instituir


um Comitê Técnico, que representará as partes interessadas para gerenciar o programa.
Este comitê aprovará periodicamente o plano de trabalho, com as ações, responsáveis e
prazos e seu horizonte.

5.3. Análise da Estratégia Brasileira


Através da análise dos princípios pode-se compreender que a estratégia brasileira
busca trazer um foco abrangente para as tecnologias de produção de hidrogênio, contanto,
que a rota tecnológica esteja alinhada com as metas de descarbonização. Logo, temos uma
diretriz clara para o desenvolvimento de rotas tecnológicas como o hidrogênio azul e
verde, bem como o desenvolvimento de rotas menos exploradas que estejam alinhadas
com as metas de descarbonização do País.
A estratégia brasileira tem como foco reduzir o impacto de carbono gerado na
produção do hidrogênio e utilizar esse vetor energético para descarbonizar setores ainda
incipientes em redução das emissões. Essa abordagem está em consonância com o
observado em alguns países como os Estados Unidos e Canadá, e se deve ao elevado
potencial de geração de energia renovável e dos recursos disponíveis de gás natural no
País.
A estratégia brasileira está na contramão das diretrizes adotadas por países como
Alemanha e Chile que determinaram o foco exclusivo no hidrogênio verde, isso se deve
ao fato desses países acreditarem em uma vantagem competitiva no longo prazo para o
hidrogênio verde, que trataremos nos capítulos a seguir. O Brasil, através de seu
programa, entende que o mercado ainda é incipiente e em desenvolvimento, e que uma
determinação governamental sobre a rota tecnológica pode comprometer a sua evolução.
Quando se estuda as maiores probabilidades para aplicações do hidrogênio limpo,
como apresentado em [11], nota-se que as aplicações para descarbonizar a indústria já
existente estão no topo, como produção de fertilizantes e hidrocraqueamento de petróleo.
Para essas aplicações o hidrogênio azul tende a ser mais competitivo, uma vez que a
infraestrutura de abastecimento é existente e a redução das emissões nesse setor é
inevitável. Portanto, considerar a rota tecnológica do hidrogênio azul pode permitir o
estabelecimento de uma economia do hidrogênio e gradativamente, outras rotas
tecnológicas podem se estabelecer, considerando reduções de custos esperadas,
contribuindo para a sinergia entre rotas e o desenvolvimento do mercado.
Ao se realizar uma análise crítica sobre a estratégia brasileira pode-se entender
que a abordagem adotada aumenta as probabilidades de sucesso, uma vez que permite o
estabelecimento antecipado de um mercado do hidrogênio baseado na descarbonização
da indústria existente, enquanto outras rotas tecnológicas limpas ganham tração. Ao se
focar apenas no hidrogênio verde corre-se o risco de que a viabilidade econômica dessa
rota demore mais que o previsto, o que pode resultar em um atraso nas metas de
descarbonização.
Ainda, observando os princípios, temos uma diretriz clara referente ao mercado
que deve ser abordado, sendo este para atender a demanda interna e para exportação.
Posteriormente será tratado sobre as principais vantagens competitivas do Brasil para
atender aos dois mercados, cujo foco está no Programa Nacional do Hidrogênio.
Uma crítica que pode ser realizada é a ausência de metas claras e janelas de prazo
para o desenvolvimento do mercado, como podemos observar na estratégia norte-
americana. O programa estabelece diretrizes, porém não apresenta metas e objetivos bem
definidos para os próximos anos. A ausência das metas e prazos impacta o programa pois
dificulta a mensuração de seu progresso ao longo dos anos.

6. TECNOLOGIA E EFICIÊNCIAS DE PRODUÇÃO,


TRANSPORTE E APLICAÇÕES

Toda a mobilização realizada por diversos países em todos os continentes para o


desenvolvimento de uma economia do hidrogênio deve ser embasada através da
viabilidade técnica e financeira da sua produção, transporte e aplicações. Será realizado,
neste capítulo, uma análise sobre as tecnologias de produção do hidrogênio azul e verde,
vantagens e desvantagens do transporte da molécula através de diferentes tecnologias e
por fim, um estudo sobre a viabilidade técnica das principais aplicações e seus maiores
concorrentes.

6.1. TECNOLOGIAS E EFICIÊNCIAS DE PRODUÇÃO

6.1.1. Hidrogênio Azul

Para que as tecnologias limpas de produção de hidrogênio tenham sucesso no


longo prazo, estas devem ser eficientes tecnicamente. Como foi observado, o hidrogênio
azul deve ser aplicado em um primeiro momento para descarbonizar a indústria existente,
sendo assim seu sucesso está diretamente atrelado ao avanço da tecnologia de captura,
utilização e armazenamento de carbono - CCUS.
Nessa análise sobre o hidrogênio azul teremos como referência a nota técnica da
EPE sobre o tema [12]. O hidrogênio azul em sua essência é um adicional ao processo de
produção do hidrogênio cinza, que em sua maioria se baseia na Reforma de Vapor de
Metano (SMR).
A reforma de vapor de metano apresenta duas formas de emissões, a primeira se
trata da combustão do gás natural para fornecer calor à reação química, esta é responsável
por 35% a 40% das emissões de gás carbônico. Devido a esse gás se misturar com o
nitrogênio do ar durante a queima, o sequestro dessa parcela de emissões é mais
desafiador e exige maiores investimentos, elevando os custos para o hidrogênio azul.
As demais emissões são oriundas da separação do metano em gás hidrogênio e
monóxido de carbono, que correspondem a 60 – 65% das emissões. Nesse caso os gases
que são produtos da reação conseguem ser separados com maior facilidade, o que facilita
a aplicação das tecnologias de CCUS.
Um avanço tecnológico para evitar as emissões realizadas na geração de calor
através da queima de metano é a tecnologia de Reforma Autotérmica (ATR). Nessa
proposta se adiciona a oxidação parcial do metano o que libera calor, excluindo-se a
necessidade de fonte externa de calor. Na tecnologia ATR, todas as emissões estão
concentradas na corrente principal, facilitando sua captura, sendo essa a tecnologia mais
promissora para o hidrogênio azul.
Conforme nota técnica [12] a eficiência de produção do hidrogênio através do
processo ATR (hidrogênio azul) é de 65%, comparado a eficiência de 75% do processo
SMR (hidrogênio cinza), isso se deve ao maior consumo energético necessário para a
captura das emissões. Portanto, há uma diferença de 10% em eficiência para a produção
do hidrogênio azul comparado ao hidrogênio cinza, esse gap deve ser reduzido com o
avanço da tecnologia.
Um artigo publicado em abril de 2021 intitulado “How green is blue hydrogen?”
[13] colocou em xeque a sustentabilidade da tecnologia de produção do hidrogênio azul,
ao apontar que as emissões de metano decorrentes da produção e transporte do gás natural
até a unidade de produção de hidrogênio, são significativas e que o hidrogênio azul reduz
apenas 9% - 12% das emissões equivalentes em comparação ao hidrogênio cinza.
O artigo aborda um problema corrente que precisa ser tratado em caráter de
urgência, que é o vazamento de metano em gasodutos e as emissões em sua produção.
Essas emissões precisam ser endereçadas e reduzidas através de monitoramento constante
das instalações e frequente manutenção, com isso toda a cadeia produtiva, no que tange a
exploração, produção e transporte do gás natural, reduz e controla as suas emissões.
No capítulo seguinte analisaremos que a tecnologia de produção do hidrogênio
verde começará a se tornar competitiva a partir de 2030 [2], esse dado corrobora a
afirmativa de que não haverá tecnologia para descarbonizar ou reduzir as emissões da
indústria existente e atender a demanda até 2030, a não ser o hidrogênio azul atrelado a
medidas de controle dos vazamentos à montante.
Esse fato representa um risco para países que apostam exclusivamente no
hidrogênio verde, como Alemanha e Chile, pois, caso a competitividade dessa tecnologia
ocorra apenas a partir de 2030, não há uma estratégia para endereçar a indústria e a
demanda existente e crescente até 2030, portanto há um risco de que essas emissões não
sejam tratadas e que a indústria tenha dificuldade em se estabelecer.
Portanto, o hidrogênio azul representa uma alternativa para atuar na indústria atual
e com isso reduzir as emissões para um mercado que é crescente. Atrelado a um conjunto
de medidas de controle dos vazamentos à montante, o hidrogênio azul tende a ser a rota
com maior rapidez de aplicação e que atenderá a indústria vigente até que exista uma
alternativa mais limpa e competitiva.

6.1.2. Hidrogênio Verde

O hidrogênio verde é uma tecnologia considerada como promissora para o longo


prazo, por ser limpa e sem emissões de gás carbônico. A produção se dá através da
eletrólise da água, sendo a eletricidade fornecida a partir de fontes renováveis como solar
fotovoltaico e energia eólica. As principais tecnologias envolvidas em sua produção são
a eletrólise alcalina e a eletrólise através de membrana polimérica eletrolítica (PEM).

A eletrólise alcalina consiste na reação química de separação da água em gás


hidrogênio e gás oxigênio, essa reação ocorre através da aplicação de um potencial
elétrico em uma solução aquosa. Nos terminais onde é aplicado a tensão elétrica temos o
cátodo e ânodo, local onde se acumulam os gases produtos da reação.
Muitas empresas globais têm se dedicado a produzir eletrolisadores cada vez mais
eficientes, isso resulta no desenvolvimento de células de eletrólise que são agrupadas em
pilhas, pois, ao aproximarmos os eletrodos, a resistência elétrica diminui reduzindo
perdas. Ainda, adiciona-se uma substância, geralmente lixívia, para aumentar a
condutividade elétrica da água, aumentando ainda mais a eficiência.
A eficiência de um eletrolisador é inversamente proporcional às perdas do
equipamento, no eletrolisador as perdas principais se dão através da perda térmica da
reação química. As aplicações comerciais atualmente apresentam eficiências da ordem de
60% a 80%, sendo que o aumento gradativo dessa eficiência atrelado a redução de custos,
tem o potencial de impulsionar o crescimento do hidrogênio verde.
Na figura abaixo temos um exemplo de eletrolisador alcalino desenvolvido pelo
fabricante NEL [14], sendo as principais partes do eletrolisador identificadas por: 1 –
Pilha de células eletrolíticas, 2 – Tanque separador de hidrogênio, 3 – Tanque separador
de oxigênio, 4 – Flange para hidrogênio, 5 – Flange para oxigênio, 6 – Bomba para
circulação da lixivia, 7 – Trocador de calor e 8 – trocador de calor da bomba.

Figura 5 - Eletrolisador Alcalino

A outra tecnologia disponível para se produzir hidrogênio verde pela eletrólise é


através de uma membrana polimérica eletrolítica (PEM). Nessa tecnologia a solução
aquosa é substituída por uma membrana sólida e há um eletrodo positivamente carregado
que, ao entrar em contato com a água, separa os átomos de hidrogênio conduzindo-os
através da membrana, até entrarem em contato com o eletrodo negativamente carregado
que fornece elétrons, produzindo o gás hidrogênio.
Uma das grandes vantagens da tecnologia PEM é a alta velocidade para entrada
em operação e grande flexibilidade operacional, o que permite aplicações em larga escala
com fontes intermitentes de energia (solar e eólico). A grande desvantagem dessa
tecnologia é que para sua produção há a aplicação de materiais caros e escassos como
Ouro, Iridium e Platina.
Há outras tecnologias disponíveis como SOEC – células de óxido sólido e AEM
– Membrana de troca de ânions, porém a alcalina e a PEM possuem diversas aplicações
existentes com potência acima de 1 MW e estão na frente quando se trata de
desenvolvimento tecnológico.
Para compreendermos o estado da arte, será analisado o eletrolisador Silyzer 300
do fabricante Siemens Energy [15]. Essa é uma aplicação modular que utiliza a tecnologia
PEM que consiste em 24 eletrolisadores que demandam uma potência de 17,5 MW para
produzir 335 kg de hidrogênio por hora. A eficiência do sistema é de 76% e utilizando
essa tecnologia é possível obter um tempo de entrada em operação menor que 1 minuto.
Na figura 6 abaixo podemos observar o design do Sylizer 300 em seu conjunto de
24 módulos, o fabricante descreve que as principais perdas são obtidas devido ao
aquecimento na membrana, no transformador e nos retificadores. O fabricante Siemens
Energy para construir eletrolisadores PEM da ordem de 100 MW até 2023 e atingir
escalas de 1 GW a partir de 2028.

Figura 6 - Sylizer 300 [15]

6.2. TECNOLOGIAS E EFICIÊNCIAS DE TRANSPORTE

Para se desenvolver uma economia robusta em torno do hidrogênio limpo, deve-


se estabelecer rotas eficientes de transporte que consigam atender com qualidade e
eficiência a demanda e o consumo. Porém, o transporte de hidrogênio apresenta alguns
desafios importantes que precisam ser superados.
As principais barreiras sobre o transporte do hidrogênio estão relacionadas às suas
características intrínsecas como ponto de ebulição em -252ºC e pelo fato do hidrogênio
apresentar um elevado conteúdo energético, porém baixa densidade, o que agrega maior
necessidade de compressão e maiores pressões para transporte como 500 a 700 bar.
Nesta etapa do trabalho será estudado as principais propostas para se transportar
o hidrogênio limpo produzido que são: através de dutos específicos, através da mistura
com o gás natural utilizando a infraestrutura existente, através do estado líquido utilizando
o modal rodoviário, através da amônia, conversão do hidrogênio em metano (power-to-
gas) e conversão do hidrogênio em etanol.

6.2.1. Transporte Através de Dutos Específicos

Um dos principais desafios ao se transportar o hidrogênio se dá na necessidade de


compressão. O gás natural é aproximadamente 8,5 vezes mais denso do que o gás
hidrogênio, e ao se comparar o poder calorífico inferior por mol, encontramos que o gás
natural é aproximadamente 3 vezes mais denso do que o hidrogênio em unidades molares
[16]. Essa característica está diretamente atrelada ao consumo energético para
compressão, ou seja, é necessário cerca de 3 vezes mais energia para se comprimir um
mega joule através do hidrogênio do que através do gás natural.
Ao se transportar hidrogênio por dutos podemos também nos deparar com o
fenômeno da fragilização por hidrogênio (hydrogen embrittlement), que se trata da perda
da robustez mecânica de um duto devido ao stress e o contato com o hidrogênio. Esse
fenômeno tende a ocorrer em dutos de aço, sendo que infelizmente a malha dutoviária de
muitos países foi construída originalmente com esse material. Para se desenvolver novos
projetos transportando hidrogênio deve-se optar por dutos de aço carbono ou poliméricos
que tendem a reduzir o efeito exposto.
Portanto, caso se opte pela instalação de um duto específico para transportar o
hidrogênio do local de produção até o local de consumo, deve-se contabilizar os esforços
adicionais em termos de compressão e realizar um projeto adequado para essa aplicação
que reduza o efeito da fragilização.
Porém, quando se pensa em uma conversão da infraestrutura de transporte de gás
natural existente para o hidrogênio temos um cenário bem mais restritivo, pois é
necessário expandir muito a capacidade de compressão e substituir dutos antigos por
tecnologias modernas. Todo esse investimento, pelos modelos atuais, é repassado nas
tarifas pagas pelos consumidores, portanto, para que essa alternativa seja viável, o custo
de produção do hidrogênio deve ser tão baixo que viabilize um investimento de tamanha
proporção.

6.2.2. Transporte em Mistura com o Gás Natural

Uma outra proposta é a de se produzir hidrogênio limpo (azul ou verde) e injetar


esse gás na malha existente de transporte de gás natural. Especialistas dizem que essa
mistura seria ideal até 20%, porém que esse percentual deve ser calculado caso a caso,
pois ao se adicionar hidrogênio acentua-se o processo de fragilização dos dutos.
Importante observarmos que o percentual de 20% de mistura representa uma
mistura volumétrica, porém, qual o percentual de descarbonização atingido com essa
mistura?
Para realizarmos essa análise devemos considerar que o poder calorífico inferior
do gás hidrogênio é de 10,8 MJ/m³ e do gás natural é de 36,6 MJ/m³. Um volume
hipotético de 100 m³ com uma mistura de 20% hidrogênio e 80% gás natural contém 3144
MJ, destes apenas 216 MJ são fornecidos pelo gás hidrogênio, o que representa um
consumo energético de 7% livre de carbono. Portanto, uma mistura volumétrica de 20%
de hidrogênio representa apenas 7% de descarbonização [16].
Logo, o transporte em mistura com o gás natural se mostra como uma maneira
possível de se escoar o hidrogênio produzido, porém o percentual de descarbonização não
é tão expressivo, devido aos limites máximos de mistura e ao poder calorífico do gás
hidrogênio.
Essa maneira de transporte tende a ser mais utilizada para escoar a produção
descentralizada de hidrogênio, isso será possível pois há grandes investimentos em
geração distribuída que garantem energia renovável descentralizada e na outra ponta há a
expectativa de investimentos expressivos na ampliação da malha de distribuição de gás
natural devido a nova lei do gás.

6.2.3. Transporte de Hidrogênio Líquido Através do Modal Rodoviário


Essa maneira de transporte exige que o hidrogênio seja armazenado em estado
líquido, o que representa expressivos gastos energéticos para reduzir sua temperatura até
-252 ºC ou de compressão.
Esse modal já é aplicado no Brasil, como podemos observar em [3], há relatos de
abastecimento de hidrogênio em uma termelétrica em Manaus via transporte rodoviário
em carretas com origem na Bahia e no Ceará, o que representa um transporte de 4.000
km entre fornecedor e consumidor.
A tecnologia de liquefação do hidrogênio é praticada em países como Estados
Unidos e países da União Europeia, sendo esta a mais indicada para grandes distâncias.
Para o Brasil, é considerado que o transporte via modal rodoviário terá uma participação
relevante devido a malha rodoviária existente, porém, os custos iniciais devem ser
vencidos através da escala.

6.2.4. Transporte de Hidrogênio Através da Amônia

A amônia é um composto químico formado por nitrogênio e hidrogênio que tem


seu ponto de ebulição em -33,34 ºC, essa temperatura é consideravelmente maior do que
o ponto de ebulição do hidrogênio, portanto, para se transformar a amônia em um líquido
é necessário menos dispêndio de energia. Ainda, a amônia apresenta energia volumétrica
superior ao hidrogênio líquido, o que aumenta a eficiência no transporte [3].
Uma outra característica que torna a amônia um potencial candidato ao transporte
de hidrogênio é que não há necessidade de reconversão em hidrogênio em aplicações
expressivas como a aplicação na indústria de fertilizantes, combustível marítimo ou
combustão para geração de energia [3].
De acordo com o IRENA [17] mais de 120 portos já contam com infraestrutura de
amônia e 10% da produção global já é comercializada. E uma vez que a amônia verde for
produzida, é possível a sua mistura com a amônia existente em qualquer proporção,
portanto, a amônia renovável tem sido consenso no transporte do hidrogênio verde através
de longas distâncias.

6.2.5. Transporte de Hidrogênio Através da Conversão em Metano

O hidrogênio verde pode ser utilizado para se produzir gases sintéticos como o
metano, esse processo além de capturar o gás carbônico, permite a injeção do gás na
malha existente sem limites de mistura e sem a necessidade de adaptações da malha [13].
Os desafios em seguir com essa proposta são similares aos do gás natural, sendo
que o principal é o vazamento do metano na atmosfera, atualmente os vazamentos
representam uma contribuição significativa para o efeito estufa, portanto esse efeito
permaneceria. Um segundo desafio está nas tecnologias de captura de carbono e na
eficiência de conversão em metano que precisam aumentar para que essa alternativa seja
viável.

6.2.6. Transporte de Hidrogênio Através da Conversão em Etanol

Uma outra maneira a ser estudada para se transportar o hidrogênio renovável que
tem muita sinergia com o cenário brasileiro é a sua conversão em etanol. O etanol é um
combustível que apresenta emissões neutras e já contempla uma ampla estrutura de
produção, transporte e distribuição no Brasil, portanto, há uma possibilidade de se tornar
viável com poucos impactos na estrutura existente.
O etanol é produzido a partir de uma reação química conhecida como processo de
Fischer-Tropsch, nesta reação os insumos monóxido de carbono e gás hidrogênio são
convertidos em hidrocarbonetos combustíveis. Caso seja necessário a reconversão do
etanol em hidrogênio pode-se utilizar um reformador através de uma mistura de etanol e
água.
O etanol apresenta uma vantagem em relação às outras tecnologias que é a sua
facilidade de armazenamento, pois esse combustível é líquido em temperatura ambiente.
Além disso, há diversos projetos em estudo para produção de veículos que utilizam o
etanol como fonte primária de hidrogênio e o gás é utilizado para acionar uma célula
combustível que aciona um motor elétrico.

6.2.7. Análise Sobre as Tecnologias de Transporte

Considerando que o mercado de hidrogênio ainda é embrionário, espera-se que


seu desenvolvimento se dê através das tecnologias que apresentem sinergia com a
infraestrutura existente e eficiências mais elevadas. Portanto, espera-se que para o
mercado externo a alternativa que inicialmente ganhe tração para o transporte de
hidrogênio seja através da amônia, uma vez que a infraestrutura portuária já é existente.
Sobre o abastecimento do mercado interno acredita-se que o transporte e
distribuição se dê em uma complementariedade de maneiras, sendo que as que mais se
destacam são: transporte em mistura com gás natural, líquido através do modal rodoviário
e convertido em etanol. Em todas essas aplicações temos sinergias com a infraestrutura
existente, além disso há uma expectativa de expansão na malha dutoviária e na oferta de
geração renovável através da geração distribuída.

6.3. TECNOLOGIAS E EFICIÊNCIAS NAS APLICAÇÕES

Uma vez que o intuito é de se desenvolver uma economia eficiente em torno do


hidrogênio limpo, as suas aplicações devem ser estudadas e desenvolvidas através de
projetos de pesquisa e desenvolvimento para que sejam mais competitivas do que as
alternativas emissoras.
O autor Michael Liebreich apresenta em [18] uma analogia muito interessante
para representar o hidrogênio limpo: considerando que o hidrogênio é um vetor energético
com aplicações em diversos setores como processos químicos, transportes pesados,
sistema elétrico, aquecimento e transporte terrestre, pode-se entender o hidrogênio como
um canivete suíço. O canivete suíço apresenta diversas aplicações, como o corte através
de sua lâmina, porém isso não significa que ele é mais eficiente em cortar uma árvore em
comparação com uma motosserra.
A analogia do canivete suíço, ao mesmo tempo que mostra a versatilidade do
hidrogênio, apresenta que as diversas aplicações devem ser analisadas através da ótica de
competitividade e eficiência, também devem ser considerados quais as principais
alternativas que não o hidrogênio. Para isso, estudaremos as diversas aplicações do
hidrogênio considerando a figura da “escada do hidrogênio” [18] que classifica as
principais aplicações em uma escala tendo como eixos “inevitável” até “não
competitivo”.
Nesta etapa serão abordadas as principais aplicações do hidrogênio verde e quais
tem a maior probabilidade de se concretizar dentro do contexto da transição energética.
Também serão estudados os principais concorrentes do hidrogênio que podem
desempenhar um papel decisivo na transição energética.
As aplicações serão abordadas de forma separada através das categorias:
Processos químicos, sistema de potência, aviação e navegação, transporte terrestre e
aquecimento. As aplicações são graduadas através de um indicador de competitividade
e classificadas através de letras de A – G, sendo que a letra A representa que é inevitável
a aplicação do hidrogênio verde nessas aplicações e a letra G representa que o hidrogênio
verde não é competitivo. As escalas, aplicações e graduações foram retiradas de [18] em
concordância com o autor Michael Liebreich.

6.3.1. Aplicações em Processos Químicos


Tabela 1 - Aplicações em Processos Químicos [18]

Item Aplicação do H2V Indicador de Alternativa Principal


Competitividade
Não há alternativa a não ser produção oriunda
1 Produção de fertilizantes. A de combustíveis fósseis.
Não há alternativa a não ser produção oriunda
2 Processo de hidrogenação. A de combustíveis fósseis.
Há a alternativa de se produzir metanol por
3 Produção de metanol. A biomassa e biogás.
Não há alternativa a não ser produção oriunda
4 Processo de A de combustíveis fósseis.
hidrocraqueamento.
Há a alternativa de se produzir aço utilizando
5 Produção de Aço B eletricidade renovável.

As aplicações em processos químicos é onde se espera que o hidrogênio renovável


tenha maior competitividade uma vez que na ampla maioria dos casos a única alternativa
é a produção utilizando combustíveis fósseis e emissores. Para a produção do aço também
é esperado que o hidrogênio verde triunfe, porém há alternativas que podem concorrer
com essa aplicação.

6.3.2. Aplicações no Sistema Elétrico de Potência

Tabela 2 - Aplicações no Sistema Elétrico de Potência [18]

Item Aplicação do H2V Indicador de Competitividade Alternativa Principal

1 Armazenamento por longos B Baterias, hidroelétricas


períodos reversíveis, dentre outras.

2 Redes Isoladas E Baterias e microrredes


Fontes renováveis, baterias e
3 Importação de energia E microrredes, HVDC.

4 UPS – Aplicações de E Baterias


resiliência da rede

5 Balanceamento do sistema de G Baterias


potência

As aplicações do hidrogênio renovável no sistema elétrico de potência sofrerão


uma concorrência muito forte das baterias e das aplicações diretas de energias renováveis.
Isso se dá devido a forte eletrificação que está ocorrendo, entretanto, enxerga-se um
potencial para aplicação do hidrogênio verde no armazenamento por longos períodos,
fornecendo resiliência ao sistema, até em casos extremos como desastres naturais.
O autor não considera como eficiente as aplicações do hidrogênio para longas
distâncias em uma tentativa dos países de importar energia verde através de amônia por
exemplo. É considerado uma alternativa mais viável os links em tensão contínua HVDC
entre países [18].

6.3.3. Aplicações em Aviação e Navegação

Tabela 3 - Aplicações em Aviação e Navegação [18]

Item Aplicação do H2V Indicador de Competitividade Alternativa Principal

1 Navegação marítima A Biomassa/Biogás

2 Aviação de longa distância C Biomassa/Biogás

3 Aviação de curta distância E Baterias

As aplicações do hidrogênio verde em navegação marítima se mostram muito


promissoras principalmente através da amônia como combustível ou utilizando outro
combustível sintético. Essa competitividade do hidrogênio se dá devido a grande
dificuldade em eletrificar os transportes pesados.
Na aviação o hidrogênio se torna competitivo quanto maior a distância a ser
percorrida, isso se dá em suma pela grande limitação que temos das baterias e da ausência
de recursos disponíveis em biomassa/biogás para competir com as aplicações em
hidrogênio.

6.3.4. Aplicações em Transportes Terrestres

Tabela 4 - Aplicações em Transportes Terrestres [18]

Item Aplicação do H2V Indicador de Competitividade Alternativa Principal

1 Veículos Off-road B Biomassa/Biogás

2 Caminhões para longa D Baterias


distância

3 Trens Rurais F Baterias


4 Carros movidos por células
combustível à hidrogênio G Baterias
Nos transportes terrestres acredita-se que a maior competitividade do hidrogênio
seja em veículos off-road e em caminhões para longa distância. Michael Liebreich não
acredita na competitividade dos carros células combustível à hidrogênio, segundo ele as
ineficiências em converter eletricidade em hidrogênio, comprimir, armazenar e
transportar são muito grandes de modo que os carros a bateria vão triunfar. Este tema é
controverso e será abordado detalhadamente no capítulo de desafios do hidrogênio.

6.3.5. Aplicações em Aquecimento

Tabela 5 - Aplicações em Aquecimento [18]

Item Aplicação do H2V Indicador de Competitividade Alternativa Principal

1 Aquecimento industrial em D Eletricidade/baterias


altas temperaturas

2 Aquecimento comercial E Eletricidade/baterias

3 Aquecimento doméstico F Eletricidade/baterias

Na parte de aquecimento é calculado uma viabilidade maior para aquecimento


industrial e em altas temperaturas, não se espera que o aquecimento doméstico se torne à
hidrogênio, em partes devido a dificuldade do transporte através da rede dutoviária e
incremento energético para compressão, também devido a necessidade de adequação dos
queimadores existentes. As bombas de calor elétricas são uma alternativa mais viável e
segura para o aquecimento doméstico.
Portanto, através deste capítulo foi possível ter uma visão ampla das principais
maneiras de se produzir hidrogênio renovável, transportar a molécula e as principais
aplicações. Foi possível entender que o hidrogênio atua como um canivete suíço com
diversas aplicações, sendo que algumas tendem a ser mais utilizadas do que outras devido
as eficiências.

7. VIABILIDADE FINANCEIRA DOS MEIOS DE PRODUÇÃO DE


HIDROGÊNIO

No capítulo anterior estudamos como o hidrogênio renovável será produzido,


transportado e aplicado, para que essas aplicações se tornem uma realidade é necessário
que exista viabilidade financeira dessas tecnologias, principalmente de produção de modo
que o hidrogênio renovável se torne tão competitivo que a produção por fontes fósseis
deixe de existir.
Neste capítulo estudaremos os cenários para o custo do hidrogênio em cada rota
tecnológica, as perspectivas de viabilidade econômica e progresso tecnológico sob a
produção e uma análise detalhada para o hidrogênio azul e hidrogênio verde. Com isso
será possível traçar cenários futuros e projetar o Brasil no cenário mundial.

7.1. Cenários para Custo de Produção do Hidrogênio

Na figura 07, temos as linhas de tendência para os custos de produção através das
principais rotas tecnológicas, é possível observar uma tendência de queda para a produção
do hidrogênio amarelo, verde e rosa, sendo que para o hidrogênio azul e cinza, observa-
se uma tendência de incremento de custos até 2050. No melhor cenário, a intercessão em
que o hidrogênio renovável se iguala em custos ao hidrogênio azul em 2035 e ao cinza
em 2045.

Figura 7 - Cenários para o custo de produção do hidrogênio [12]

Na figura 08, adaptada do IRENA, é possível observar com enfoque as linhas de


tendência do hidrogênio verde produzido a partir das fontes eólica e solar em comparação
com o hidrogênio azul. Nessa curva, pode-se inferir que em 2035 o hidrogênio verde
produzido pela fonte solar se igualará em custos com o hidrogênio cinza.
Figura 8 - Projeção da evolução de custos do hidrogênio [2]

Na figura 09 temos as faixas de preço para o hidrogênio verde e azul, nesta é


possível compreender que atualmente o hidrogênio verde é menos competitivo em
comparação ao azul, em 2030 essa tendência se reverte e em 2050 o hidrogênio verde se
tornará mais competitivo.

Figura 9 - Projeção das faixas de custo nivelado para projetos de grande escala [2]

A partir das projeções estudadas pode-se entender que em todas há uma


tendência clara de redução de custos para o hidrogênio verde e azul, a dúvida existente é
sobre quando a produção por fontes renováveis será mais competitiva que a produção
com fontes fósseis? Através das estimativas conclui-se que não há consenso para essa
resposta, sendo que as estimativas mais otimistas apontam para 2035.
Através da figura 09 temos um dado importante para as estratégias globais de
descarbonização do mercado de hidrogênio, podemos observar que o hidrogênio azul será
mais competitivo que o hidrogênio verde até 2030, portanto, em países que adotarem
apenas o hidrogênio verde como política, teremos menos projetos de produção de
hidrogênio limpo nessa década. Essa estratégia pode resultar em uma desaceleração na
expansão do mercado global de hidrogênio.

7.2. Análise Sobre o Custo de Produção do Hidrogênio Verde

Os gatilhos para redução dos custos de produção de hidrogênio verde estão


relacionados a dois fatores principais, sendo eles: custo de fabricação e instalação dos
eletrolisadores e o custo da energia elétrica renovável. Um estudo elaborado pelo
hydrogen council estimou uma redução de 60% no custo de produção do hidrogênio verde
até 2030 para a produção em larga escala, sendo a maior contribuição no custo dos
equipamentos, seguido da redução no custo da energia eólica offshore, na figura 10 temos
os custos detalhados.

Figura 10 - Projeção de redução de custos do hidrogênio a partir da eletrólise [2]

Para os eletrolisadores, é possível observar uma otimização nos custos de


produção quando da produção em larga escala. Diversos fabricantes já anunciaram planos
de expansão de suas plantas com o intuito de ampliar as capacidades de produção e
construção de novas fábricas. Em Portugal, o fabricante Fusion Fuel anunciou a
construção de uma fábrica com capacidade de produção de 500 MW de capacidade de
eletrólise por ano [19].
No Brasil tivemos em abril de 2022 o anúncio do investimento de R$ 45 milhões
na construção de uma planta do fabricante Neuman & Esser em Minas Gerais para a
produção de eletrolisadores [20]. Portanto, as iniciativas de aumento da capacidade
produtiva impulsionarão a oferta reduzindo custos dos eletrolisadores.
Uma outra aposta para a redução de custos de fabricação dos eletrolisadores está
nos projetos de pesquisa e desenvolvimento focados no aprimoramento tecnológico da
eletrólise, bem como na utilização de tecnologias mais confiáveis e que utilizam materiais
mais baratos. Unindo a escala e o aprimoramento podemos observar uma ampla
possibilidade de redução de custos.
O outro gatilho que contribuirá significativamente para a redução dos custos de
produção do hidrogênio verde é a redução nos custos de instalação da energia renovável
(eólica e solar). Os custos de instalação da energia solar e da energia eólica estão em
tendência de queda e essa deve permanecer devido ao aumento na capacidade de produção
de módulos fotovoltaicos e no potencial ainda não explorado da energia eólica offshore.
7.3. Análise Sobre o Custo de Produção do Hidrogênio Azul

Para o hidrogênio azul podemos observar através da figura 07 que o custo de


produção apresenta uma tendência de aumento e uma diferença constante com os custos
de produção do hidrogênio cinza. A diferença entre o hidrogênio cinza e o hidrogênio
azul perfaz o custo de captura e armazenamento do gás carbônico.
A tendência de aumento dos custos de produção do hidrogênio cinza e azul se dá
devido a projeções de aumento estrutural dos preços do gás natural. Os fatores observados
acima corroboram com a visão que o hidrogênio azul terá um papel como tecnologia de
transição até que o hidrogênio verde tenha uma competitividade maior. Portanto, em um
primeiro momento, a tecnologia limpa com menor impacto se trata do hidrogênio azul,
com as reduções esperadas no hidrogênio verde teremos um ponto de inversão em que o
hidrogênio verde começará a ser aplicado em larga escala e o hidrogênio azul perderá
espaço.

8. PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NO


BRASIL

Uma vez que se pretende utilizar o hidrogênio renovável primeiramente como


alternativa ao hidrogênio fóssil e posteriormente como vetor energético para
descarbonizar outras aplicações, deve-se investir em projetos piloto de pesquisa e
desenvolvimento em solo nacional. Esse tema está amplamente representado através do
eixo 1 do programa nacional do hidrogênio que versa sobre o fortalecimento das bases
tecnológicas.
Neste capítulo analisaremos os projetos de maior destaque já implantados, em
construção e anunciados no Brasil. A análise desses projetos representará o estado atual
que estamos em termos de avanço tecnológico e aplicações em solo nacional, ainda ao
analisar projetos anunciados, podemos projetar o desenvolvimento esperado para os
próximos anos.

8.1. Projeto Implantados – Furnas


A usina hidrelétrica de Itumbiara está localizada no Rio Parnaíba e é a maior do
sistema Furnas, empresa do grupo Eletrobrás, nessa usina está implantado o projeto:
Desenvolvimento de sinergia entre as fontes hidrelétrica e solar com armazenamento de
energias sazonais e intermitentes em sistemas a hidrogênio e eletroquímico [22].
O projeto citado utiliza como fonte de energia verde a energia solar que apresenta
caráter intermitente, esta energia solar convertida em elétrica através do sistema
fotovoltaico é armazenada em baterias ou convertida em hidrogênio verde, através de um
eletrolisador.
A usina com capacidade de produção de hidrogênio verde foi inaugurada em 08
de dezembro de 2021 e conta com uma usina fotovoltaica de 1000 kWp sendo que 200
kWp são na modalidade flutuante sobre o reservatório da usina hidrelétrica, na figura 11
abaixo é possível observar como foi feita a instalação, os 800 kWp adicionais foram
instalados em solo.
Através dos eletrolisadores é produzido hidrogênio verde e este é armazenado
pressurizado em tanques com capacidade de 900 m³. Na figura 12 abaixo é possível
observar o tanque para armazenamento do hidrogênio verde produzido.
Figura 11 - Sistema Fotovoltaico Flutuante [22]

Figura 12 - Tanque para armazenamento de hidrogênio

8.2. Projeto em Construção - EDP

O estado do Ceará tem se posicionado na vanguarda do desenvolvimento de


projetos de hidrogênio verde assinando memorandos com grandes empresas
internacionais com o intuito de se tornar um hub dessa tecnologia.
A EDP, empresa que atua em toda a cadeia do setor elétrico, anunciou a
construção de um projeto piloto para a construção de uma usina solar fotovoltaica de 3
MW acoplada a um módulo eletrolisador para a produção do hidrogênio verde. Este
módulo terá a capacidade de produzir 250 Nm³/h de gás hidrogênio.
A EDP anunciou também que a previsão de conclusão do parque está para
dezembro/2022 e que o objetivo estratégico do projeto é analisar a cadeia produtiva do
gás, desenvolver possíveis modelos de negócios, parcerias estratégicas com indústrias,
realizar a geração e armazenamento do combustível e aplicações do gás hidrogênio em
mobilidade. Após a implantação, essa se tornará a maior usina de hidrogênio verde em
operação do Brasil [23].

8.3. Projetos Anunciados


Os projetos construídos e em construção ainda são poucos, entretanto já
existe uma gama de projetos anunciados que corroboram com o desenvolvimento de
mercado esperado. Serão abordados dois projetos sendo um deles no Ceará e o outro no
Porto do Açu, o objetivo é destacar o papel protagonista que o Ceará está assumindo e
evidenciar a sinergia do hidrogênio com os portos no intuito de atender ao mercado
externo.
A ENEGIX, empresa Australiana, assinou um memorando de entendimento com
o governo do estado do Ceará para investir na construção da maior usina de hidrogênio
verde do mundo. Essa planta será instalada no porto do Pecém com potência de 3,4 GW
e uma capacidade de produção de 600 milhões de kg de hidrogênio por ano, com esse
investimento teremos no Ceará um importante exportador de hidrogênio verde [24].
A SHELL BRASIL assinou um memorando de entendimento com o Porto do Açu
para investir na construção de uma usina de hidrogênio verde do mundo. Essa planta será
instalada no porto do Pecém com potência de 10 MW que deverá estar operacional até
2025, com esse investimento pode-se desenvolver um ciclo virtuoso em torno do
hidrogênio, em que os custos de armazenagem e distribuição são reduzidos e o
combustível é logo exportado através da infraestrutura portuária.
Portanto, o cenário para os projetos de pesquisa e desenvolvimento mostra que
atualmente há poucos projetos construídos e em construção, porém já se tem acordo
comerciais e memorandos de entendimento para o desenvolvimento de projetos
estratégicos e em maior escala que conseguirão ampliar o avanço tecnológico no Brasil.
9. BRASIL: PROJEÇÕES PARA O MERCADO EXTERNO

Com base na análise das estratégias dos principais países energo-intensivos, das
tecnologias de produção e transporte, projeções de custos, projetos anunciados e a
estratégia brasileira, temos neste capítulo projeções de atuação do Brasil para atender ao
mercado externo de hidrogênio que hoje está em desenvolvimento.

9.1. Externo

Conforme foi possível analisar no quarto capítulo, diversos países do globo


apresentaram suas estratégias com relação ao hidrogênio. Com o impulso do acordo de
Paris, o hidrogênio verde foi adotado como parte fundamental das estratégias de
descarbonização.
Alguns países já se projetaram como futuros importadores, é o caso da Alemanha
que precisará importar em 2050 em torno de 45 milhões de toneladas de hidrogênio verde,
Japão que é o maior importador de gás natural e os Estados Unidos que estimam que o
hidrogênio representará 14% da demanda energética em 2050.
Uma vez que há demanda anunciada para importações de hidrogênio verde, países
ao redor do globo com condições de atender estão se posicionando como futuros
exportadores de hidrogênio verde. Estes países são os que possuem maior potencial para
produção de energia solar e eólica, como a Austrália, Noruega, Holanda e Brasil.

9.2. Produção e Transporte

Os principais insumos para se produzir o hidrogênio verde são: energia solar ou


eólica e água, onde há abundância desses recursos é de se esperar que apresente os
menores custos de produção do hidrogênio. No Brasil, uma região que apresenta elevados
índices de irradiação solar e recurso eólico é a região Nordeste.
Com o desenvolvimento de unidades produtivas de eletrolisadores em solo
nacional como a Hytron em Sumaré – SP e a Neuman & Esser em Belo Horizonte, bem
como os fabricantes globais, é de se esperar uma diversificação de fornecedores, o que
tende a agregar competitividade aos parques produtores em solo nacional.
Para atender ao mercado externo a tecnologia de transporte que tende a prevalecer
é a de conversão do hidrogênio verde em amônia e transporte marítimo, uma vez que esta
custos com refrigeração menores, já apresenta alguma infraestrutura portuária para seu
escoamento e não há necessidade de reconversão em hidrogênio para algumas aplicações,
sendo a mais considerável para os fertilizantes.
A região Nordeste, além de apresentar alta disponibilidade para os insumos de
produção do hidrogênio verde, é a região com a maior costa litorânea do País e contempla
nove portos em sua costa.

9.3. Viabilidade Econômica

Como foi possível observar no sétimo capítulo, as projeções de custos para o


hidrogênio verde mostram uma redução considerável até 2050 ao passo que a tendência
do hidrogênio azul é de incremento de custos. Com uma projeção dos custos de
investimento em queda, espera-se que mais projetos se tornem viáveis economicamente
a partir de 2030.
Com o intuito de atender o mercado externo será necessário produzir grandes
quantidades de hidrogênio verde e para isso será necessário grandes projetos. Em grandes
projetos temos o efeito de escala que ajuda a reduzir ainda mais os custos de instalação e
operação dos sistemas. Para o Brasil, ainda temos um elevado potencial para instalação
de energia eólica offshore, o que pode resultar em menores custos da energia elétrica
utilizada para eletrólise e contribuir para a viabilidade de projetos para atender o mercado
externo.
Para o transporte, os principais desafios são de cunho tecnológico com o intuito
de redução dos preços de exportação. A conversão em amônia e transporte marítimo
devem ser competitivas para garantir que a produção e transporte sejam viáveis
economicamente.

9.4. Projetos Anunciados

No oitavo capítulo foi possível observar que já existem memorandos de


entendimento assinados e projetos anunciados para construção de usinas de hidrogênio
verde no Brasil. Dentre os projetos de destaque temos a construção de uma planta de 3,4
GW no estado do Ceará próximo ao Porto do Pecém e a construção de uma planta de 10
MW no Porto do Açu.
O projeto no Ceará tem o objetivo de exportar a sua produção, já o parque no Porto
do Açu inicialmente tem como destino aplicar parte do hidrogênio como armazenagem
de energia e posterior envio aos consumidores, o hidrogênio remanescente será destinado
a produção de uma planta de amônia renovável.

Estratégia Brasileira

A estratégia brasileira apresenta diversas correlações e alinhamento para o


desenvolvimento de um robusto mercado exportador que consiga auxiliar os demais
países a descarbonizar a sua economia. Podemos observar inicialmente que no Eixo 03
do programa nacional do hidrogênio há a expectativa do desenvolvimento de rotas e hubs
específicos para o hidrogênio, as rotas representam caminhos viáveis para o escoamento
da produção e os hubs representam otimização e ganhos de escala.
No eixo 04 pode-se observar a determinação de um arcabouço legal e regulatório-
normativo, uma legislação clara, robusta e simples fornecerá a garantia jurídica para os
investidores apostarem no Brasil. Já no eixo 05 há a previsão de aplicar incentivos
existentes no setor energético e a inserção do Brasil nas cadeias internacionais de valor.
O eixo 06 direciona os esforços para a cooperação internacional, sendo proposto
a cooperação internacional através de parcerias industriais e produtivas, na atração de
investimentos e na inserção do País em cadeias de valor global.

Projeção do Brasil no Mercado Externo

Com base no exposto, pode-se traçar algumas conclusões preliminares sobre a


projeção do Brasil no mercado externo, entretanto é importante salientar que as projeções
são realizadas com base nas referências e informações analisadas e que a sua
concretização depende de fatores externos que podem não ocorrer.
Uma primeira conclusão que pode-se assumir é que devido a escala e a
necessidade urgente de descabronização de países energo-intensivos, o mercado externo
possivelmente se desenvolverá antes que o mercado interno. Já podemos observar que os
investimentos anunciados com maior escala têm como foco atender ao mercado externo.
Pode-se inferir que o Brasil terá uma concentração de projetos para atender ao
mercado externo concentrados na região nordeste. Isso se deve ao fato de que há região
nordeste apresenta recurso eólico e solar abundante, bem como uma infraestrutura
portuária desenvolvida.
Com base nas tecnologias de transporte existentes, estima-se que o Brasil faça o
abastecimento do mercado externo através de transporte marítimo da amônia. Isso se deve
ao fato da ampla estrutura portuária existente no Brasil e nas eficiências identificadas do
transporte como amônia.
Utilizando como referência as projeções de redução de custos e os avanços
regulatórios, espera-se que os primeiros projetos anunciados entrem em operação ainda
nessa década e que, a partir de 2030, o número de construções de plantas de produção de
hidrogênio verde no Brasil para abastecer o mercado externo esteja em crescimento. Isso
se deve aos ganhos tecnológicos obtidos e as lições aprendidas nos projetos de pesquisa
e desenvolvimento que estão sendo construídos hoje.
Portanto, com base nas análises realizadas, infere-se que o Brasil terá uma
participação fundamental no abastecimento do mercado externo e que haverá uma
concentração dos investimentos na região nordeste, sendo que a partir de 2025 os projetos
anunciados deverão entrar em operação e a partir de 2030 haverá um crescimento elevado
de usinas em construção.

10. BRASIL: PROJEÇÕES PARA O MERCADO INTERNO

Considerando o cenário atual de produção de hidrogênio e mercado existente, das


tecnologias de produção e transporte, projeções de custos, a estratégia brasileira e gatilhos
mercadológicos, temos neste capítulo projeções de atuação do Brasil para atender ao
mercado interno de hidrogênio.

10.1. Mercado Interno

Conforme foi possível estudar na revisão bibliográfica, o mercado interno de


produção de hidrogênio é relativamente estável e corresponde a produção de
aproximadamente 5.500 Nm³/ano, produzidos a partir do processo de reforma a vapor do
gás natural para refino de Petróleo. Atualmente, o Brasil apresenta emissões que precisam
ser neutralizadas para atender às metas do acordo de Paris.
Ao analisar o quinto capítulo pode-se inferir que o mercado interno aumentará nos
próximos anos, pois algumas novas aplicações tendem a demandar hidrogênio renovável
nos próximos anos, como a aplicação do hidrogênio para a produção de fertilizantes no
Brasil, utilização do hidrogênio para a produção do aço verde, aplicações em
armazenamento por longo período, navegação marítima, dentre outras. No curto prazo
temos o aumento na produção de petróleo que impulsionará a demanda.
Logo, o mercado interno já existente precisa ser descarbonizado e será necessário
acrescentar capacidade produtiva para atender as diversas aplicações que demandarão
cada vez mais hidrogênio não poluente (verde e azul).

10.2. Produção e Transporte

O hidrogênio que atende ao mercado interno é o hidrogênio cinza, ou seja, é o


hidrogênio produzido utilizando como insumo o gás natural sem a captura e
armazenamento das emissões, portanto, é um processo poluente. A maioria da produção
é realizada próximo ao consumo tendo como principal produtor a Petrobrás.
Para atender cada uma das aplicações em potencial para o hidrogênio em nosso
País, precisa-se analisar qual a modalidade de transporte mais eficiente e que consiga
atender ao mercado endereçável com custos adequados que permitam a viabilidade
econômica dessas aplicações.
Acredita-se que o transporte e distribuição se dê em uma complementariedade de
maneiras, sendo que as que mais se destacam são: transporte em mistura com gás natural,
líquido através do modal rodoviário e convertido em etanol. Em todas essas aplicações
temos sinergias com a infraestrutura existente, além disso há uma expectativa de expansão
na malha dutoviária e na oferta de geração renovável através da geração distribuída.

10.3. Viabilidade Econômica

Como foi possível observar no sétimo capítulo, as projeções de competitividade


para o hidrogênio verde se iniciam a partir de 2030 ao passo que o hidrogênio azul é mais
competitivo atualmente, porém apresenta uma tendência constante de incremento de
custos.
Portanto, até que o hidrogênio verde se torne competitivo, espera-se que o
hidrogênio azul assuma o papel de tecnologia primária para descarbonizar o mercado
interno em suas principais aplicações. O hidrogênio azul é sempre mais caro que o cinza
uma vez que agrega os custos da captura e armazenamento de carbono, portanto, para a
conversão do hidrogênio cinza em azul deverão existir outros gatilhos que compensem
um eventual aumento de custos, é a única maneira possível para endereçar o mercado
existente até que o hidrogênio verde se torne realmente competitivo.
Há uma relação próxima entre oferta e demanda para o hidrogênio verde, sendo
que as novas aplicações possíveis dependem de uma redução de custos de produção do
hidrogênio verde para se tornarem viáveis. Portanto, as outras aplicações do mercado
interno tendem a surgir conforme a produção e transporte do hidrogênio verde se tornem
competitivos.

10.4. Estratégia Brasileira

A estratégia brasileira é completa em apresentar propostas também para atender


ao mercado interno, uma vez que a redução de emissões nesse setor será fundamental
para o País atingir suas metas do acordo de Paris.
Sob o âmbito do planejamento energético temos a diretriz de buscar estruturas
geológicas para o armazenamento de carbono e no eixo 04 há a previsão do
desenvolvimento do arcabouço legal e regulatório-normativo considerando que essa
regulação seja viva e aberta às condições de mercado, iniciativa essencial uma vez que
temos a necessidade imediata de descarbonização do mercado interno.
Acredita-se que a estratégia brasileira é assertiva em não descartar o hidrogênio
azul uma vez que há um risco de essa ser a única alternativa possível de neutralizar as
emissões do mercado interno até que o hidrogênio verde se torne competitivo. Tanto no
lado da oferta como da demanda temos Países que já descartaram o hidrogênio azul,
focando apenas no hidrogênio verde, ao fazer isso aceita-se o risco de depender
exclusivamente da viabilidade econômica do hidrogênio verde, é o caso do Chile e da
Alemanha.

10.5. Gatilhos Mercadológicos


Há alguns gatilhos que tendem a impulsionar o desenvolvimento de um mercado
interno robusto, sendo alguns mapeados como a geração distribuída, que atua
principalmente na oferta de energia verde e a sua capilaridade no Brasil e a nova lei do
gás que influenciará no desenvolvimento de gasodutos que podem beneficiar o transporte
e mistura do hidrogênio verde.
Na geração distribuída podemos observar que o Brasil já possui aproximadamente
90% de seus municípios com a instalação de sistemas de geração distribuída. Com isso,
agrega-se capilaridade na oferta de energia verde, este fato tende a ser benéfico para que
aplicações locais com o hidrogênio verde se desenvolvam.
Sobre a nova lei do gás, podemos observar uma estrutura regulatória forte para a
comercialização de gás natural, bem como para a inserção do biogás na rede dutoviária
existente. O texto já existente pode servir de referência para o marco regulatório do
hidrogênio, o que tende a dar celeridade na regulação.
Porém, o fato que mais tende a contribuir para a evolução do hidrogênio é a
previsão de construção de gasodutos privados que fornecerão também capilaridade no
transporte. A geração distribuída e a nova lei do gás em conjunto fornecerão a
capilaridade necessária para produção e injeção em mistura com o gás natural na malha
ou a conversão do hidrogênio verde em metano através da aplicação Power-to-gas.

10.6. Projeção do Brasil no Mercado Interno

Com base no exposto, pode-se traçar algumas conclusões preliminares sobre a


projeção do Brasil no mercado interno, entretanto é importante salientar que as projeções
são realizadas com base nas referências e informações analisadas e que a sua
concretização depende de fatores externos que podem não ocorrer.
Uma primeira conclusão que pode-se assumir é que o mercado interno apresentará
um crescimento robusto considerando uma vez que exista a viabilidade econômica para
produção de hidrogênio verde, enquanto isso o mercado interno existente, que em sua
maioria atende o refino de Petróleo, deverá ser abordado para evitar emissões.
Portanto, uma segunda conclusão que temos é que a estratégia brasileira, ao
considerar o desenvolvimento do mercado sem determinar uma rota tecnológica
específica, é assertiva pois permitirá que o Brasil descarbonize o mercado interno com
tecnologias transitórias, como o hidrogênio azul, até que o hidrogênio verde se torne
competitivo o suficiente.
Ainda, pode-se projetar que os gatilhos mercadológicos tendem a impulsionar o
mercado interno de hidrogênio, ao fornecer energia elétrica verde e barata e capacidade
de escoamento através de gasodutos. Embora seja observado que o transporte de
hidrogênio em mistura com o gás natural é limitado em 20% e que isso representa 7% de
descarbonização, já temos uma quantidade massiva de incremento na produção de
hidrogênio verde no mercado interno para atingir esse objetivo.
Utilizando como referência as projeções de redução de custos e os avanços
regulatórios, projeta-se que o mercado interno deverá ser descarbonizado primeiramente
com a utilização do hidrogênio azul até 2030, e a partir dessa data o hidrogênio verde será
competitivo o suficiente para impulsionar as demais aplicações do mercado interno e
haverá um momento em que este se tornará mais competitivo que o hidrogênio azul.
Uma outra aplicação em potencial que pode atender o mercado interno é a
utilização do etanol para transportar hidrogênio e abastecer aos veículos à combustão. Os
carros elétricos apresentam elevado tempo para carregamento, sendo que um veículo
abastecido com etanol e utilizando uma célula à combustível à hidrogênio consegue ter
tempo de carregamento menor. Ainda, a conversão do hidrogênio verde em etanol traz a
redução de custos substanciais, pois a infraestrutura já é existente. É importante deixar
claro que há desafios tecnológicos consideráveis que serão abordados no capítulo
seguinte.

11.DESAFIOS A SUPERAR

Neste capítulo são abordados alguns desafios mapeados que devem ser superados
para que o hidrogênio atinja todo o seu potencial. Os temas abordados são relacionados
ao foco que se tem apresentado para as aplicações do hidrogênio e desafios tecnológicos
complexos que precisam ser vencidos para a consolidação de um mercado futuro.
Conforme estudado, temos que o hidrogênio consegue unir o mercado elétrico, de
combustíveis e de fertilizantes, além disso, podemos traçar a analogia do canivete suíço
em que podemos utilizar o hidrogênio em diversas aplicações nesses mercados. Devido a
esse caráter amplo de aplicações e interesses comerciais específicos, tem-se observado a
difusão de informações equivocadas de que o hidrogênio será aplicado para qualquer
propósito energético.
Cientistas ao redor do globo têm se unido para desmistificar e apresentar análises
cada vez mais apuradas sobre quais aplicações do hidrogênio têm maior viabilidade
técnica e comercial. Assim como apresentado no sexto capítulo, temos uma classificação
de quais aplicações atendem a esses requisitos de viabilidade. A propagação de matérias
rasas sobre o hidrogênio assumindo que ele será aplicado em tudo o que fazemos no setor
energético tem sido chamada informalmente de “hopium”, uma mistura de hidrogênio e
ópio.
Um dos principais desafios a ser superado se trata da eficiência de produção do
hidrogênio por eletrólise, a eletrólise alcalina apresenta eficiência da ordem de 60% e a
eletrólise PEM da ordem de 70% [25], ainda pode-se estimar perdas de 6% em transporte
de energia elétrica até o eletrolisador. Um segundo desafio se dá no armazenamento,
temos temperaturas muito proibitivas para se liquefazer o gás e é necessário altas pressões
para se ter um armazenamento confiável, portanto, mais energia é dispensada em
comprimir o gás, em condições ótimas a eficiência do armazenamento é de 90%.
Portanto, da fonte até o tanque tem-se uma eficiência estimada em 59% (70% x
94% x 70%), ao compararmos com a gasolina por exemplo esse valor é de 80%. Para fins
de análise, assume-se que o hidrogênio será aplicado em uma célula combustível para
movimentar um veículo. As células combustíveis a hidrogênio apresentam uma eficiência
da ordem de 50% - 60%, estas fornecerão energia elétrica a um inversor e motor que
apresentam em conjunto uma eficiência de 90%. Logo, a eficiência total do processo é de
32% (70% x 94% x 70% x 60% x 90%) [25], carros elétricos em comparação apresentam
eficiência da ordem de 80%.
Uma conclusão que podemos assumir é que aplicações em mobilidade elétrica
urbana ainda são muito ineficientes e precisam de incrementos tecnológicos associados a
redução de custos para se tornarem uma realidade. Portanto, devemos evitar o “hopium”
e assumir que o hidrogênio se tornará viável inicialmente onde ele é mais competitivo.
Por mais amplo que sejam as possibilidades de se produzir e aplicar hidrogênio é
necessário um foco para que o tema ganhe tração e exista um mercado interno e externo.
Este foco, necessariamente, deve ser descarbonizar a indústria existente, até que esse
objetivo seja atingido, espera-se que os custos para produção de hidrogênio verde sejam
competitivos e que exista avanço tecnológico para aumentar a eficiência de outras
aplicações.
Apesar de todos os desafios listados, um dos principais desafios para o hidrogênio
é justamente a falta de foco, aplicações envolvendo o hidrogênio existem a pelo menos
30 anos, porém, até hoje temos uma indústria altamente poluente que ainda não foi
abordada.
Conforme foi tratado, atualmente as formas poluentes tradicionais são muito mais
baratas que as alternativas limpas para se produzir hidrogênio. Ainda, a alternativa que
tende a ser mais competitiva para atacar a indústria tradicional é o hidrogênio azul e este
é sempre mais caro que o hidrogênio cinza, uma vez que apresenta custos para sequestro
e armazenamento do gás carbônico emitido. Ainda é necessário monitorar, controlar e
neutralizar as emissões relacionadas ao vazamento do gás natural durante o transporte.
Logo, um outro desafio que o hidrogênio enfrenta é o fato de as tecnologias
poluentes não apresentarem preços proporcionais às externalidades produzidas pela sua
aplicação. Caso existisse um preço a ser pago pelas externalidades, observariamos um
desestímulo para o consumo de fontes poluentes e consequentemente uma viabilidade
maior para alternativas limpas. É fundamental a equiparação de preços para que o
hidrogênio azul assuma um papel de transição nessa década, até a completa viabilidade
do hidrogênio verde.
Por fim, os desafios estão mapeados, carecem de foco, coragem e empenho para
perseguir as suas soluções. O objetivo deve ser único em descarbonizar, iniciativa pública
através dos reguladores e a iniciativa privada devem trabalhar em conjunto, cada um com
sua competência para que os desafios sejam superados com eficiência e a descarbonização
seja efetiva.

12.CONCLUSÕES

Através deste trabalho foi possível compreender as estratégias dos principais


países para se desenvolver um mercado global do hidrogênio e compreender
detalhadamente como o Brasil pretende atuar nesse mercado. Baseado nas análises
realizadas, conclui-se que a estratégia brasileira é assertiva em adotar rotas diversificadas
para a produção do hidrogênio não poluente e iniciar o mercado através de projetos de
pesquisa e desenvolvimento.
Foi possível também, traçar conclusões sobre a atuação do Brasil no mercado
externo com uma concentração de projetos na região nordeste. Isso se deve ao fato de que
a região nordeste apresenta recurso eólico e solar abundante, bem como uma
infraestrutura portuária desenvolvida.
No mercado interno, há gatilhos mercadológicos que tendem a impulsionar o seu
crescimento, como a geração distribuída que tende a reduzir custos de energia elétrica e
capacidade de escoamento através de gasodutos através da nova lei do gás. Embora seja
observado que o transporte de hidrogênio em mistura com o gás natural é limitado.
Conforme projeções de redução de custos e os avanços regulatórios, conclui-se
que aplicações fósseis deverão ser precificadas conforme as externalidades que causam,
com isso o mercado interno deverá ser descarbonizado, primeiramente com a utilização
do hidrogênio azul até 2030, e a partir dessa data o hidrogênio verde tende a ser
competitivo o suficiente para impulsionar as demais aplicações do mercado interno.
Neste trabalho também foi possível analisar o estado dos projetos de pesquisa
construídos, em construção e anunciados, bem como classificar as aplicações com base
em um critério de viabilidade. Dentre as aplicações deve-se evitar a todo custo o
“hopium”, em outras palavras, acreditar que o hidrogênio será a solução para todos os
problemas, mas sim, entender em quais aplicações ele é viável e melhor que as
alternativas.
Em suma, deve-se compreender que o hidrogênio é um vetor energético capaz de
interconectar o mercado elétrico, de combustíveis, industrial e agrícola. Além disso, em
suas aplicações temos a analogia do “canivete suíço” em que o foco deve ser nas
aplicações com maior competitividade.
Por fim, a conclusão que temos é que tanto no mercado externo quanto no interno,
o Brasil possui muitas vantagens competitivas que devem ser exploradas ao máximo para
que um dia, o hidrogênio verde seja capaz de ser uma nova vantagem competitiva, que o
Brasil possua um mercado robusto de produção e que auxilie diversos outros países do
globo a atingir as metas de descarbonização.

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