Remy Deandra Dene To
Remy Deandra Dene To
Remy Deandra Dene To
ESCOLA POLITÉCNICA
SÃO PAULO
2022
REMY DE ANDRADE NETO
SÃO PAULO
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA À FONTE.
A Deus, por me dar forças, acreditar nos momentos mais difíceis e me fazer
persistir.
A minha esposa Maísa de Mendonça, pela compreensão, apoio e incentivo em
todo o período dedicado na execução dessa especialização, por auxiliar em todas as
dificuldades e ajudar a acreditar que é possível.
Aos meus pais, Remy de Andrade Filho e Maria Valdete Gaio de Andrade, por
desde os meus primeiros passos e de minha irmã, incentivar que a educação é o bem mais
importante que temos e que nunca devemos deixar de aprender.
Aos professores do curso de Especialização em Energias Renováveis, Geração
Distribuída e Eficiência Energética da Universidade de São Paulo – USP, que com suas
considerações e orientações, permitiram um grande avanço técnico e profissional;
Ao Professor Dr. José Aquiles Baesso Grimoni, que me auxiliou na elaboração
desta monografia, orientando e fornecendo referências que foram fundamentais para o
seu desenvolvimento;
Aos gestores da EDP Brasil, Silas Nunes da Silva e Bruno Cornélio Rogani, por
me dar a oportunidade de atuar na construção da primeira usina de hidrogênio verde do
estado do Ceará, que será a maior do Brasil após a entrada em operação.
Do. Or do not. There is no try.
(Guerra nas Estrelas: O Império Contra-Ataca (1980) – George Lucas)
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
Esse trabalho tem como foco analisar pontos estratégicos referentes ao hidrogênio
denominado de hidrogênio verde. A definição de hidrogênio verde se dá como: produzido
via eletrólise da água com energia de fontes renováveis, particularmente energia eólica e
solar fotovoltaica [2]. Portanto, o hidrogênio verde é sustentável e livre de emissões.
Importante observar que o hidrogênio produzido por outras energias renováveis
não é denominado hidrogênio verde, isso se aplica a utilização de hidroeletricidade,
pirólise, gaseificação ou a biodigestão de biomassa.
1.7. Power-to-X
Alguns desafios ainda existem e devem ser superados para que o hidrogênio verde
se consolide como um vetor energético, é o caso do seu transporte e armazenamento.
Importante observar que o hidrogênio é o elemento químico mais abundante no universo
e seu gás é 14,4 vezes mais leve que o ar. Sob as condições naturais de temperatura e
pressão o hidrogênio é um gás inodoro com grande potencial de difusão e efusão, além
de possuir um elevado potencial energético, como base para comparação, 1 kg de
hidrogênio possui cerca de três vezes o conteúdo energético de 1 litro de diesel.
Um dos desafios apresentados é o transporte do hidrogênio verde desde a sua
produção até o consumo. A tecnologia mais comum para o seu transporte é através de
gasodutos específicos para essa aplicação sendo o gás transportado sob alta pressão de
500 a 700 bar.
Uma segunda maneira de se transportar hidrogênio é reduzindo a sua temperatura
e alterando seu estado de líquido para gasoso, essa transformação ocorre a -252ºC, no
estado líquido o hidrogênio ocupa um espaço relativamente menor. Esse processo
apresenta maior pureza e facilidade de distribuição através do modal rodoviário.
Ambos os processos apresentados são considerados de alto custo, o que está
trazendo a atenção de pesquisadores a novas alternativas. Uma dessas alternativas que
pode beneficiar tanto o transporte quanto o armazenamento é a conversão do hidrogênio
em amônia.
Comparado ao hidrogênio, o armazenamento e transporte de amônia é mais
simples, um desses motivos é que a amônia se liquefaz à temperatura de -33ºC. Em um
mesmo volume a amônia contém aproximadamente 50% mais hidrogênios do que o
próprio gás hidrogênio, isso se deve a sua fórmula química . Um desafio para o
estabelecimento dessa tecnologia é a eficiência na conversão em amônia e reconversão
em hidrogênio.
Uma alternativa similar que está sendo estudada é a conversão do hidrogênio em
LOHC – Liquid Organic Hydrogen Carrier. Os LOHC são compostos desenvolvidos
capazes de armazenar grandes quantidades de hidrogênio, um ponto importante é que ao
contrário da amônia, o LOHC é um líquido em condições normais de temperatura e
pressão, o que pode haver muita sinergia com a distribuição de combustíveis já existentes.
Um ponto negativo é que o processo de reconversão do LOHC demanda elevadas
quantidades de calor, elevando seu custo.
2. ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho foi estruturado com o objetivo de: apresentar um contexto sobre o
hidrogênio no âmbito mundial e nacional, apresentar as tecnologias disponíveis para a
produção, transporte e aplicação do hidrogênio, estudar projetos implantados, em
implantação e anunciados, inferir como o Brasil se posicionará no mercado interno e
externo e apresentar os principais desafios a serem encontrados.
O primeiro capítulo foi estruturado para fornecer ao leitor uma revisão
bibliográfica: apresentando o cenário atual de consumo e produção de hidrogênio, as
denominações do hidrogênio, introduzindo as principais tecnologias de produção e
transporte de hidrogênio, apresentando o conceito de “Power-to-x” e abordando o
programa nacional do hidrogênio, dentre outros conceitos fundamentais para a
compreensão do trabalho. Sendo este o segundo capítulo, temos no terceiro a
apresentação da metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho.
O quarto capítulo aborda em detalhe o cenário mundial para a produção do
hidrogênio estudando as estratégias de países de todos os continentes. Já no quinto
capítulo é abordado em detalhe a estratégia brasileira por meio do Programa Nacional do
Hidrogênio, em que é possível compreender como o País se apresentará face a este vetor
energético.
No sexto capítulo há uma abordagem sobre as principais tecnologias disponíveis
para a produção do hidrogênio azul e verde, na sequência são abordadas as principais
maneiras de transporte do gás e por fim uma análise e classificação das principais
aplicações nos mais diversos setores.
O sétimo capítulo trata sobre projeções de custos para produção de hidrogênio
azul e verde, os principais gatilhos que podem fazer com que os custos se reduzam e
perspectivas para viabilidade financeira em comparação com fontes fósseis.
O oitavo capítulo tem a proposta de apresentar projetos já construídos no Brasil
sobre o hidrogênio verde, projetos em construção e projetos já anunciados. Analisando os
projetos anunciados é possível ter uma noção da magnitude dos investimentos que o
hidrogênio deve atrair para o Brasil.
No nono e décimo capítulo as informações estudadas são concatenadas com o
intuito de projetar como o Brasil deve-se estabelecer no mercado interno e externo,
analisando as principais vertentes do desenvolvimento do mercado.
No décimo-primeiro capítulo são apresentados os principais desafios e conflitos
que cercam o hidrogênio verde, sendo que no décimo-segundo capítulo são apresentadas
as principais conclusões oriundas da análise realizada e no décimo-terceiro as referências
utilizadas para a produção desta monografia.
3. METODOLOGIA
4. CENÁRIO MUNDIAL
5.2. Governança
O hidrogênio verde pode ser utilizado para se produzir gases sintéticos como o
metano, esse processo além de capturar o gás carbônico, permite a injeção do gás na
malha existente sem limites de mistura e sem a necessidade de adaptações da malha [13].
Os desafios em seguir com essa proposta são similares aos do gás natural, sendo
que o principal é o vazamento do metano na atmosfera, atualmente os vazamentos
representam uma contribuição significativa para o efeito estufa, portanto esse efeito
permaneceria. Um segundo desafio está nas tecnologias de captura de carbono e na
eficiência de conversão em metano que precisam aumentar para que essa alternativa seja
viável.
Uma outra maneira a ser estudada para se transportar o hidrogênio renovável que
tem muita sinergia com o cenário brasileiro é a sua conversão em etanol. O etanol é um
combustível que apresenta emissões neutras e já contempla uma ampla estrutura de
produção, transporte e distribuição no Brasil, portanto, há uma possibilidade de se tornar
viável com poucos impactos na estrutura existente.
O etanol é produzido a partir de uma reação química conhecida como processo de
Fischer-Tropsch, nesta reação os insumos monóxido de carbono e gás hidrogênio são
convertidos em hidrocarbonetos combustíveis. Caso seja necessário a reconversão do
etanol em hidrogênio pode-se utilizar um reformador através de uma mistura de etanol e
água.
O etanol apresenta uma vantagem em relação às outras tecnologias que é a sua
facilidade de armazenamento, pois esse combustível é líquido em temperatura ambiente.
Além disso, há diversos projetos em estudo para produção de veículos que utilizam o
etanol como fonte primária de hidrogênio e o gás é utilizado para acionar uma célula
combustível que aciona um motor elétrico.
Na figura 07, temos as linhas de tendência para os custos de produção através das
principais rotas tecnológicas, é possível observar uma tendência de queda para a produção
do hidrogênio amarelo, verde e rosa, sendo que para o hidrogênio azul e cinza, observa-
se uma tendência de incremento de custos até 2050. No melhor cenário, a intercessão em
que o hidrogênio renovável se iguala em custos ao hidrogênio azul em 2035 e ao cinza
em 2045.
Figura 9 - Projeção das faixas de custo nivelado para projetos de grande escala [2]
Com base na análise das estratégias dos principais países energo-intensivos, das
tecnologias de produção e transporte, projeções de custos, projetos anunciados e a
estratégia brasileira, temos neste capítulo projeções de atuação do Brasil para atender ao
mercado externo de hidrogênio que hoje está em desenvolvimento.
9.1. Externo
Estratégia Brasileira
11.DESAFIOS A SUPERAR
Neste capítulo são abordados alguns desafios mapeados que devem ser superados
para que o hidrogênio atinja todo o seu potencial. Os temas abordados são relacionados
ao foco que se tem apresentado para as aplicações do hidrogênio e desafios tecnológicos
complexos que precisam ser vencidos para a consolidação de um mercado futuro.
Conforme estudado, temos que o hidrogênio consegue unir o mercado elétrico, de
combustíveis e de fertilizantes, além disso, podemos traçar a analogia do canivete suíço
em que podemos utilizar o hidrogênio em diversas aplicações nesses mercados. Devido a
esse caráter amplo de aplicações e interesses comerciais específicos, tem-se observado a
difusão de informações equivocadas de que o hidrogênio será aplicado para qualquer
propósito energético.
Cientistas ao redor do globo têm se unido para desmistificar e apresentar análises
cada vez mais apuradas sobre quais aplicações do hidrogênio têm maior viabilidade
técnica e comercial. Assim como apresentado no sexto capítulo, temos uma classificação
de quais aplicações atendem a esses requisitos de viabilidade. A propagação de matérias
rasas sobre o hidrogênio assumindo que ele será aplicado em tudo o que fazemos no setor
energético tem sido chamada informalmente de “hopium”, uma mistura de hidrogênio e
ópio.
Um dos principais desafios a ser superado se trata da eficiência de produção do
hidrogênio por eletrólise, a eletrólise alcalina apresenta eficiência da ordem de 60% e a
eletrólise PEM da ordem de 70% [25], ainda pode-se estimar perdas de 6% em transporte
de energia elétrica até o eletrolisador. Um segundo desafio se dá no armazenamento,
temos temperaturas muito proibitivas para se liquefazer o gás e é necessário altas pressões
para se ter um armazenamento confiável, portanto, mais energia é dispensada em
comprimir o gás, em condições ótimas a eficiência do armazenamento é de 90%.
Portanto, da fonte até o tanque tem-se uma eficiência estimada em 59% (70% x
94% x 70%), ao compararmos com a gasolina por exemplo esse valor é de 80%. Para fins
de análise, assume-se que o hidrogênio será aplicado em uma célula combustível para
movimentar um veículo. As células combustíveis a hidrogênio apresentam uma eficiência
da ordem de 50% - 60%, estas fornecerão energia elétrica a um inversor e motor que
apresentam em conjunto uma eficiência de 90%. Logo, a eficiência total do processo é de
32% (70% x 94% x 70% x 60% x 90%) [25], carros elétricos em comparação apresentam
eficiência da ordem de 80%.
Uma conclusão que podemos assumir é que aplicações em mobilidade elétrica
urbana ainda são muito ineficientes e precisam de incrementos tecnológicos associados a
redução de custos para se tornarem uma realidade. Portanto, devemos evitar o “hopium”
e assumir que o hidrogênio se tornará viável inicialmente onde ele é mais competitivo.
Por mais amplo que sejam as possibilidades de se produzir e aplicar hidrogênio é
necessário um foco para que o tema ganhe tração e exista um mercado interno e externo.
Este foco, necessariamente, deve ser descarbonizar a indústria existente, até que esse
objetivo seja atingido, espera-se que os custos para produção de hidrogênio verde sejam
competitivos e que exista avanço tecnológico para aumentar a eficiência de outras
aplicações.
Apesar de todos os desafios listados, um dos principais desafios para o hidrogênio
é justamente a falta de foco, aplicações envolvendo o hidrogênio existem a pelo menos
30 anos, porém, até hoje temos uma indústria altamente poluente que ainda não foi
abordada.
Conforme foi tratado, atualmente as formas poluentes tradicionais são muito mais
baratas que as alternativas limpas para se produzir hidrogênio. Ainda, a alternativa que
tende a ser mais competitiva para atacar a indústria tradicional é o hidrogênio azul e este
é sempre mais caro que o hidrogênio cinza, uma vez que apresenta custos para sequestro
e armazenamento do gás carbônico emitido. Ainda é necessário monitorar, controlar e
neutralizar as emissões relacionadas ao vazamento do gás natural durante o transporte.
Logo, um outro desafio que o hidrogênio enfrenta é o fato de as tecnologias
poluentes não apresentarem preços proporcionais às externalidades produzidas pela sua
aplicação. Caso existisse um preço a ser pago pelas externalidades, observariamos um
desestímulo para o consumo de fontes poluentes e consequentemente uma viabilidade
maior para alternativas limpas. É fundamental a equiparação de preços para que o
hidrogênio azul assuma um papel de transição nessa década, até a completa viabilidade
do hidrogênio verde.
Por fim, os desafios estão mapeados, carecem de foco, coragem e empenho para
perseguir as suas soluções. O objetivo deve ser único em descarbonizar, iniciativa pública
através dos reguladores e a iniciativa privada devem trabalhar em conjunto, cada um com
sua competência para que os desafios sejam superados com eficiência e a descarbonização
seja efetiva.
12.CONCLUSÕES