Relatório Final Pither 2023

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

Pither Amorim Barros

Ediléa Dutra Pereira

LEVANTAMENTO DO COMPORTAMENTO DA CUNHA SALINA NA BACIA DO


RIO ANIL COM BASE NOS TEORES CONDUTIVIDADE ELÉTRICA

São Luís
2023
Informações do Bolsista
Nome: Pither Amorim Barros
Telefone: (98) 999274295
E-mail: [email protected]

Informações da Instituição/Departamento
Nome: Departamento de Geociências/CCH
Endereço: Av. dos Portugueses, 1966 – Bacanga – CEP 65080-805
Telefone: 32728330/ 32728329
E-mail: [email protected] (Chefia do Departamento).

Informações do(a) professor(a) orientador(a)


Nome: Prof.ª Dr.ª Ediléa Dutra Pereira
Telefone: (98) 98821-8872
E-mail: [email protected] / [email protected]
RESUMO
A bacia hidrográfica do rio Anil tem uma área de aproximadamente 41 km²,
apresenta uma elevada urbanização, provocando intensa impermeabilização, além
de ser influenciada pelas marés. A penetração das marés atinge o curso inferior ao
médio caracterizado pela presença de manguezais na planície fluviomarinha. É
importante notar que a exploração excessiva dos aquíferos costeiros está causando
problemas ambientais, como a salinização das águas. Os dados de água
subterrânea foram analisados a partir da correlação das análises físico-químicas a
partir do banco de dados de poços tubulares outorgas da Secretária de Meio
Ambiente e Recursos Naturais – SEMA-MA, além das amostras coletadas em
diversos trabalhos de campo e analisadas no Laboratório de Microbiologia do
Programa de Controle de Qualidade de Alimentos e Água – PCQA/UFMA. Nessa
pesquisa, foram utilizadas 39 amostras de água subterrâneas dos teores de
condutividade elétrica, sendo aplicada a técnicas geoestatísticas de krigagem que se
baseia na correlação espacial entre os teores das amostras. Registra-se a presença
de interação entre água salgada e água doce nos cursos inferior e médio da bacia,
apresentando uma variabilidade de teores de condutividade elétrica em diversos
estágios de interações desde iniciais até avançados. Diante dessa constatação, fica
evidente a necessidade de adotar medidas para remediar essa situação, uma vez
que ela representa um sério risco de contaminação por intrusão salina nos aquíferos
Itapecuru e Barreiras de água doce na bacia do rio Anil. A gestão integrada dos
recursos hídricos, no Plano Diretor da Cidade de São Luís e outras políticas de
governo são urgentes e necessárias para preservar a qualidade da água doce e os
ecossistemas associados à bacia hidrográfica do rio Anil, além de medidas proativas
como um monitoramento contínuo das aguas subterrâneas para enfrentar desafios
ambientais complexos e proteger a qualidade da água para as gerações futuras.
Palavras-chave: Condutividade elétrica, Cunha salina; Krigagem; rio Anil.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. JUSTIFICATIVA
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
3.2. Objetivos Específicos
4. METODOLOGIA
4.1. Levantamento e análise de material bibliográfico
4.2. Elaboração do material cartográfico
4.3. Trabalho de Campo
4.4. Análise de Dados
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
5.1. Aspectos Físicos
5.2. Cunha Salina
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
7. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO

As bacias hidrográficas representam áreas delimitadas por uma rede de


drenagem, composta por um rio principal e seus afluentes. Nesses espaços, são
estabelecidos sistemas ambientais de grande importância, que abrigam recursos
naturais relevantes para o desenvolvimento de diversos ecossistemas. Além
disso, essas bacias são palco das atividades humanas, influenciando o uso e a
ocupação do território.

De acordo com Vitte e Guerra (2007), a bacia hidrográfica desempenha um


papel fundamental como unidade básica de análise ambiental. Essa abordagem
permite uma compreensão abrangente de seus vários elementos constituintes,
dos processos que ocorrem em seu interior e das interações que ali se
desenrolam. Ela se configura como um espaço crucial para o planejamento e a
gestão dos recursos hídricos, onde se busca harmonizar as diferentes
características demográficas, sociais, culturais e econômicas das distintas
regiões.
O crescimento populacional e a especulação imobiliária têm provocado nas
áreas costeiras severos impactos ambientais pela falta da observância das Leis
Ambientais e de controle de outorga na exploração de águas subterrâneas na
Ilha. Desta forma, a expansão urbana da Ilha do Maranhão a partir dos grandes
empreendimentos instalados, expansão imobiliária com as novas construções de
condomínios fechados, conjuntos residenciais com incentivo do governo federal
através do programa PAC – Programa de Aceleração do Crescimento ou não, e
outros empreendimentos na área Ilha do Maranhão, em especial na Bacia
Hidrográfica do Rio Anil.
Os recursos naturais, principalmente os recursos hídricos na Ilha do
Maranhão exigem um tratamento ainda mais diferenciado que em outros
ambientes, por tratar-se de uma Ilha com ecossistema estuarino tendo um prisma
de macromaré chegando a atingir 7 metros, com duas preamares e duas
baixamarés de duração aproximadamente de 6 horas.
O Rio Anil é fortemente influenciado pelas marés, condicionando a formação
de uma cunha de água marinha no interior da bacia por ocasião das preamares,
caracterizado pela presença dos mangues na planície fluviomarinha. Dentre os
recursos naturais, a água doce é o que demanda a compreensão mais
sofisticada quanto às suas formas de ocorrência, trânsito, armazenamento e
descarga, sejam em superfície ou em subsuperfície.
A estimativa de teores pode ser obtida por diversos métodos, sendo eles
convencionais (Polígonos de Influência, Triangulação, Inverso da Potência das
Distâncias, Isolinhas) ou os geoestatísticos (Krigagem simples, Krigagem
Ordinária, Krigagem de Indicatrizes). Entre estes métodos disponíveis na
literatura, os utilizados com maior destaque são a Krigagem Ordinária e o Inverso
da Potência da Distância. O método da Krigagem Ordinária usa a dependência
espacial entre as amostras vizinhas para estimar valores em locais não
amostrados, sem tendência e com variância mínima, tornando-se um estimador
ótimo (MATHERON, 1963).
A krigagem é um método geoestatístico que estima valores não amostrados a
partir de amostras próximas e com correlação determinada pelo variograma. Este
método abrange uma família de algoritmos como: krigagem simples, krigagem
ordinária, krigagem da média, entre outras (CURI, 2014).
Por fim, ressalta-se que este subprojeto “Levantamento Do Comportamento
Da Cunha Salina Na Bacia Do Rio Anil Com Base Nos Teores Condutividade
Elétrica”, é vinculado ao projeto “Avaliação da vulnerabilidade à intrusão marinha
do aquífero costeiro na Bacia Hidrográfica do Rio Anil’, no qual foi desenvolvido
no Laboratório de Estudo de Bacias Hidrográficas - LEBAC da Universidade
Federal do Maranhão - UFMA.

2. JUSTIFICATIVA

A Bacia Hidrográfica do Rio Anil com uma área de 41km², sendo seu curso
inferior caraterizado pela planície fluviomarinha é naturalmente vulnerável à
intrusão marinha superficial e subterrânea. O estudo e avaliação de suas áreas
vulneráveis à intrusão marinha pelo método GALDIT, conforme (CHACHADI E
LOBO FERREIRA, 2007) apresenta-se de relevância para conservação dos
mananciais hídricos de água doce na Ilha do Maranhão indispensável para o
abastecimento doméstico e desenvolvimento das atividades socioeconômicas na
Ilha do Maranhão.
O Município de São Luís apresenta uma área de 831,7 km² e uma população
estimada de 1.115.932hab (IBGE, 2021) com densidade populacional de
1.341,3hab/km² sendo considerada uma Ilha populosa. O crescimento
populacional e a especulação imobiliária têm provocado nessas áreas severos
impactos ambientais pela falta da observância das leis ambientais.
O modelo hidrogeológico da Ilha do Maranhão é composto por dois aquíferos.
O primeiro aquífero semi-confinado, relacionado aos sedimentos cretáceos da
Formação Itapecuru e o segundo o aquífero livre da Formação Barreiras
constituído pelos sedimentos do Neógeno. A variação horizontal e vertical dos
sedimentos presentes reflete a complexidade do comportamento hidrodinâmico
dos sistemas aquíferos.
A Companhia de Saneamento Ambiental do Estado do Maranhão vem
perdendo seus sistemas produtores como São Raimundo, Maracanã e Olho
d’Água que foram desativados através dos anos pelas impermeabilizações das
áreas de recargas e nas áreas de descarga pela contaminação por esgoto in
natura nas águas superficiais dos Rios Bacanga, Anil, Paciência e outros.
Em geral, a composição química da água é função da mineralogia do aquífero
e do tempo de trânsito da água no sistema. O fluxo local é mais dinâmico, o que
significa menor contato água-rocha e tendência de água do tipo bicabornatada
decorrente da dissolução do C02 do solo. À medida que a profundidade aumenta,
a velocidade de fluxo se torna progressivamente mais lenta e evolui para os
fluxos intermediário e regional. No último, a concentração de sais solúveis,
associados aos evaporitos ou à água do mar trapeada no ambiente de
deposição, torna a água muito salina (MESTRINHO, 2008).
Os valores de sais que se encontram em determinados tipos de rochas e
solos dependem da composição e alterabilidade dos minerais, condições
climáticas, composição da água de recarga, tempo de contato, grau de aeração,
permeabilidade e outras (CUSTODIO e LLAMAS, 1983).
O modelamento matemático realizado para o aquífero costeiro na área da
Ponta da Madeira para avaliar a possibilidade de atender a demanda de água de
94,5 l/s necessária para ser utilizada na Planta de Pelotização da VALE, indicou
que o aquífero apresentou intrusões marinhas, afetando a zona de mistura em
algumas das captações dos poços presentes na área (F.JUNIOR et al., 2003).
A vulnerabilidade a intrusão salina alta foi registrada na área próxima a foz da
bacia do rio Bacanga indicando infiltração lateral da cunha salina e
vulnerabilidade moderada na área do Parque Estadual do Bacanga que inspira
cuidados ao risco eminentes de salinização dos poços tubulares, considerando o
excesso de bombeamento de água subterrânea no sistema Sacavém e as
impermeabilizações nas áreas de recarga de aquíferos o que nos remete a uma
maior atenção e monitoramento nessas regiões (MARTINS, 2019).
O nível da água dos poços tubulares situados nas proximidades do oceano
apresenta flutuações sob influência do vai e vem das marés, diminuindo à
medida que se dirige para o interior do continente.
A Bacia do rio Anil é uma das bacias mais antropizadas da Ilha do Maranhão
se encontra intensamente impermeabilizada por vários prédios próximos das
margens do rio Anil. Os condôminos sofrem com a salinização dos poços
tubulares utilizados no abastecimento público.
Estimativas geoestatísticas são, em geral, superiores aos demais métodos de
interpolação numérica, pois fazem uso da função variograma, que não é
simplesmente uma função da distância entre pontos, mas depende da existência
ou não do efeito pepita, da amplitude e da presença de anisotropia
(YAMAMOTO; LANDIM, 2013).
A krigagem é feita após a conclusão da análise estrutural, os quais poderão
inclusive indicar a não aplicação desse método se o comportamento da variável
regionalizada for totalmente aleatório (YAMAMOTO, 2001).
A Krigagem Ordinária é um método local de estimativa, dessa forma, a
estimava em um ponto não amostrado resulta da combinação linear dos valores
encontrados na vizinhança próxima, sendo esta, constituída de um grupo de
amostras dentro dos limites espaciais do mesmo, implicando no uso de
diferentes amostras em cada uma (YAMAMOTO; LANDIM, 2013).
Esta pesquisa expressa as preocupações na utilização de águas
subterrâneas nas áreas costeiras, sem prévio conhecimento de suas
potencialidades e vulnerabilidades, que podem provocar diversos impactos
ambientais principalmente na área de mistura - interface água subterrânea (doce)
e água marinha - que somente são percebidos paulatinamente pelos moradores,
através das modificações da qualidade da água tornando-a salobra, variabilidade
da profundidade do nível de água subterrânea, modificação da fauna e flora local
e das adjacências. A análise da condutividade elétrica é um indicador da cunha
salina nas águas subterrâneas.
3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

● Avaliar o comportamento da cunha salina na Bacia do Rio Anil com base


nos teores de condutividade elétrica.

3.2. Objetivos Específicos

● Realizar o levantamento dos dados físicos da água subterrânea;


● Elaborar os mapas de isolinhas de condutividade elétrica na Bacia do rio
Anil;
● Publicar artigos técnico-científicos em revistas nacionais indexadas.

4. METODOLOGIA

O método científico que se fará uso é o hipotético-indutivo. Que parte da


observação e experimentação. Tendo sua origem no problema, no qual se
procura soluções por meio de tentativas, hipóteses e teoria.

4.1. Levantamento e análise de material bibliográfico

Os procedimentos metodológicos para o estudo contaram com o


levantamento e análise de materiais relacionados como livros, dissertações,
teses, documentos, relatórios, mapas, imagens de satélite, e-books e
periódicos on-line, e outros, associado às informações de diversos órgãos de
pesquisas como CAEMA, SEMA-MA e IBGE, além das bases de dados do
Laboratório de Estudos de Bacias Hidrográficas (LEBAC). Sendo estes
materiais selecionados conforme importância para o desenvolvimento das
fases da pesquisa.

4.2. Elaboração do material cartográfico

A base cartográfica utilizada foram os dados do Laboratório de Estudos


de Bacias Hidrográficas (LEBAC), juntamente dos dados do IBGE, utilizando
a interpolação de dado pelo plugin do software QGIS (versão 3.28.2), onde
foram submetidos a uma análise espacial.
4.3. Trabalho de Campo

Foi realizado o levantamento de poços tubulares e poços cacimbas


para compreensão do comportamento hidrodinâmico dos aquíferos na área
da bacia do rio Anil a partir de 57 poços outorgados e 12 particulares. sendo
um total de 70 poços analisados na bacia do rio Anil.

Para analises físico-químicas das águas subterrâneas foram realizadas


coleta de 21 (vinte e uma) amostras de água subterrâneas ao longo da bacia,
no período de 20.09. a 04.11.2022, para melhor caracterização da qualidade
físico-química das águas subterrâneas, além de registros fotográficos.
As análises foram realizadas no laboratório de Microbiologia do
Programa de Controle de Qualidade de Alimentos e Água – PCQA/UFMA.

Figura 1 - Coleta de água subterrânea no poço tubular Colégio Militar - Vila Palmeira.

Fonte: Lebac. 2022.

Figura 2 - Coleta de água subterrânea no poço cacimba Rua Netuno - Santa Eulália.
Fonte: LEBAC. 2022.

4.4. Análise de Dados

A coleta das amostras seguiu estas etapas:

 Utilizou-se luvas antes da coleta;


 Abriu-se a torneira e deixou a água subterrânea escoar durante
aproximadamente 3 minutos;
 Coletou-se as águas subterrâneas nos frascos previamente higienizados
pelo laboratório responsável pela análise;
 Os frascos foram etiquetados com a identificação dos poços tubulares.
data e horário da coleta.
As amostras de águas subterrâneas foram armazenadas em uma caixa térmica
com gelo e imediatamente levadas para o Laboratório do Departamento de
Tecnologia Química – Programa de Qualidade de Alimento e Água da Universidade
Federal do Maranhão para realizações das análises físico-químicas e bacteriológicas
das águas subterrâneas dos poços tubulares.
Primeiro, foram coletadas uma vasta quantidade de dados brutos de diversas
fontes. Isso envolveu a extração de dados de bancos de dados, aquisição de dados
de sensores e até mesmo a organização de dados provenientes de pesquisas.
Assim, a etapa seguinte foi limpar e preparar os dados. Incluindo a remoção de
valores ausentes, a correção de erros e a padronização dos dados para que eles
pudessem ser facilmente comparados e analisados. Essa pesquisa contou com 39
amostras de água subterrânea com teores de condutividade elétrica para análise
espacializada considerando a variação de seus teores distribuídos no lençol freático
para melhor análise e interpretação.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


5.1. Aspectos Físicos

A Bacia Hidrográfica do rio Anil apresenta uma área de 41km², situa-se no


município de São Luís na porção norte da Ilha do Maranhão, entre as coordenadas
Universal Transversa de Mercator – Projeção UTMs, fuso 23S; 9715000/9725000
mN e 578000/586000 mE.
O acesso pode ser realizado pelas vias principais da cidade como Av.
Jerônimo de Albuquerque, Av. Ana Jansen e Av. Vitorino Freire (Figura 01).

A sedimentação na Bacia de São Luís iniciou-se com as rochas do Cretáceo


do Grupo Itapecuru (Formação Cujupe, Formação Alcântara e Unidade
Indiferenciada) e do Neógeno com os arenitos do Grupo Barreiras e, finalmente,
pelos Depósitos Quaternários representados pelos aluvionares, de mangues,
sedimentos pós-barreiras e eólicos litorâneos, Sousa e Klein (2012), IMESC (2019).

Figura 3 – Mapa de localização da bacia do Rio Anil – São Luís - MA.

Fonte: RIBEIRO, 2020.


Figura 4 – Mapa das formações geológicas na bacia do rio Anil – São Luís - MA.

Fonte: RIBEIRO, 2020.

As principais feições geomorfológicas existentes na área do Golfão


Maranhense têm-se (Figura 03): baías, canais e planícies de maré lamosa, com ou
sem manguezais, praias dissipativas de areia fina, dunas e paleodunas, falésias,
afloramentos com concreções lateríticas, plataforma de abrasão e terraço de
abrasão de superfície irregular, tabuleiros, planície arenosa, dunas (fixas e moveis),
lagoas, lagunas e campos (IMESC, 2019). Na área estudada foram identificadas as
planícies fluviomarinhas e os tabuleiros intensamente dissecados. Destaca-se a
presença de três tipos de solos: os plintossolos, argissolos e latossolos amarelo
(IMESC, 2019).
Figura 5 – Mapa de relevo da bacia rio Anil – São Luís - MA.

Fonte: RIBEIRO, 2020.

A bacia hidrográfica do rio Anil corresponde a 41 km² e com extensão de 13,8


km, com um padrão dendrítico, hierarquia fluvial de 5ª ordem com um total de 146
nascentes e 277 canais (Figura 04) (CRUZ, 2020).
O modelo hidrogeológico da Ilha de São Luís caracteriza-se por dois
aquíferos, sendo o primeiro semi-confinado, relacionado aos sedimentos cretácicos,
pertencentes da Formação Itapecuru e o segundo aquífero livre, constituído pelos
níveis arenosos dos sedimentos neógeno (PEREIRA, 2006).

Figura 6 – Mapa de drenagem da bacia rio Anil – São Luís - MA.


Fonte: CRUZ (2020).

A bacia do Rio Anil é uma das mais antropizadas da ilha, se encontra


altamente impermeabilizada em decorrência de vários prédios em proximidades a
sua margem, e estes sofrem com a salinização dos poços tabulares que são
utilizados para o abastecimento público. Além disso, “é umas das mais prejudicadas,
sobretudo pelo grande crescimento populacional registrado entre as décadas de 70
e 90, quando a população da cidade apresentou uma expressiva expansão
demográfica, sendo composta atualmente por 89 bairros” (INCID, 2013 apud
RIBEIRO, 2020, p.27).
Ribeiro (2020) registrou uma intensa urbanização atingindo valores de 64,7%
na bacia, restando uma área vegetada de apenas 33,8% (Tabela 01).
A intensa urbanização na bacia promoveu vários problemas socioambientais
como erosões, assoreamentos, aterramentos/migração de nascentes, inundações e
outros.

Tabela 1 – Principais Classes de Uso e Ocupação da Bacia Hidrográfica do rio Anil, São Luís -
MA, 2019.
Classes Área (km²) (%)
Vegetação 13,79 33,8
Urbanizada 26,36 64,7
Solo Exposto 0,62 1,5
Total 40,77 100
Fonte: Ribeiro (2020).

5.2. Cunha Salina

A ilha do Maranhão situada no Golfão Maranhense têm suas áreas marcadas


pela entrada da cunha salina por 2 preamares e 2 baixamarés diárias. Todavia, em
se tratando aquíferos costeiros o perigo a intrusão salina torna-se fator principal por
estar em contato direto e constante com a cunha salina que se apresenta em
diversas direções, como por exemplo, horizontal devido à percolação vinda do mar
diretamente para o aquífero ou vertical oriundo de camadas superiores salinizadas
como manguezais e estuários. Com isso, para aquíferos costeiros, é indispensável à
utilização de uma metodologia apropriada para mapear a distribuição espacial das
áreas litorâneas, e que leve em conta os fatores hidrogeológicos, principalmente
aqueles que podem ser obtidos com certa facilidade nos órgãos gestores de
recursos hídricos ou através de experimentos simples e rápidos (MARTINS, 2019, p.
55).
O avanço da cunha salina ocorre quando a água do mar avança e adentra os
aquíferos costeiros – misturando a água salgada à água doce. A intrusão de água
salgada nas águas subterrâneas em um sistema aquífero pode ser um estado
constante, mas a maioria é classificada como um estado transitório proveniente de
algum evento (Figura 06). O avanço da cunha salina ocorre por conta da explotação
excessiva de água doce, ação de ondas de tempestade, e também por ação de
maré, especialmente meso e macromaré. (VAZ, 2017).
Conforme Vaz (2017) indica vários motivos que favorecem a intrusão salina
no aquífero: excesso de explotação em regiões de irrigação, upconing devido ao
bombeamento muito forte nas regiões, bombeamento acima da capacidade de
reposição nos aquíferos próximos à costa, tsunamis e em regiões áridas e
semiáridas, onde os solos possuem uma tendência à salinização muito forte.
A entrada da intrusão salina é influenciada pelas formações geológicas
presentes, gradiente hidráulico, taxa de explotação de água subterrânea e pela
recarga de aquífero (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2008; BATAYNEH, 2006, VAZ,
2017).
Vários autores estão utilizando levantamentos geoquímicos e geofísicos para
demarcar a interface entre a água doce e a salgada (LOBO FERREIRA et al.2005;
SHERIF et al.2006, PEREIRA et al., 2011). Alguns íons específicos, como Cl-, Na²+,
Mg²+, SO4 -² e Br-, são enriquecidos pela intrusão da água do mar e podem ser
utilizados como indicadores de sua influência. Além disso, relações iônicas tais
como Cl- /HCO3, Ca²+/Na²+, Na+/Cl-, Br-/Cl- e Mg²+/Ca²+ podem ser efetivamente
utilizadas para avaliar o grau de intrusão salina (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2008;
BOUBERBALA, 2015).
A forma mais comum de intrusão salina é por meio da explotação dos
aquíferos. Em situação natural (sem bombeamento), a água salgada, que possui
maior densidade, forma uma cunha penetrando a parte inferior da água doce (Figura
05). A água doce tem maior carca hidráulica e um constante escoamento em direção
ao mar, por conta disso a posição da cunha salina é mantida em equilíbrio. Quando
ocorre o bombeamento excessivo da água doce, esse equilíbrio se rompe e resulta
no avanço da cunha salina (VAZ, 2017).
Figura 7 – Esquema da zona de transição entre o continente e o oceano.

Fonte: https://waterservicestech.com/intrusao-de-cunha-salina

Durante a intrusão salina os teores de cloreto, magnésio e sódio do aquífero


se elevam conforme a interação com a água marinha evolui, cessando no momento
em que o equilíbrio iônico com a água salgada é alcançado (VAZ, 2017).
Martins (2019) obteve utilizando o método GALDIT vulnerabilidade à intrusão
salina alta na área próxima a foz da bacia do Rio Bacanga indica infiltração lateral da
cunha salina.

Castro (2019) observou que a cunha salina pode ser conduzida pelas calhas
dos rios Anil, Calhau, Pimenta e córregos que por influência dos movimentos de
maré que conduzem as águas marinhas para o interior da cidade de São Luís como
observado nas águas dos poços tubulares P30-04, P32, P19 e P18-10. Por fim,
destaca-se que a cunha salina se encontra adentrando a Ilha do Maranhão.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Sabe-se que quanto maior a salinidade da água na cunha salina, maior será a
sua condutividade elétrica. Quando há um aumento na concentração de íons
dissolvidos na água, como ocorre na cunha salina onde as águas doce e salgada se
misturam, a condutividade elétrica também aumenta. Isso ocorre porque os íons
presentes na água (como íons de sódio, cloreto, potássio, etc.) são portadores de
carga elétrica e, portanto, facilitam a passagem de corrente elétrica.
Com o propósito de analisar o avanço da cunha salina na bacia do rio Anil,
elaborou-se um mapa utilizando a técnica de krigagem ordinária para os teores de
condutividade elétrica em μS/cm. Registra-se que os teores variaram de 0 – 1,726
μS/cm, e os maiores valores se concentram na porção inferior a média da bacia do
rio Anil, nas área das planícies fluviomarinhas, onde se encontra os mangues
(Figura 8) geralmente, os teores de condutividade elétrica é aproximadamente 50
μS/cm para a água doce, aumentando com a influência da salinidade do oceano.
Destaca-se que a correlação condutividade elétrica versus cloreto é boa
indicando valores de R=0,78. Esses dados são indicativos da entrada da cunha
salinas em áreas contiguas ao rio Anil (Gráfico 01).

Gráfico 01 – Correlação entre os parâmetros Condutividade Elétrica e Cloreto – SL.


2000
1800 f(x) = 111.942498568269 x + 193.909573759445
R² = 0.781832359790485
Condutividade Elétrica μS/cm

1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Cloreto (meq/l)

Fonte: Silva, 2022.


Figura 8 – Mapa da Condutividade Elétrica na Bacia do Rio Anil, São Luís - MA.

Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

7. CONCLUSÃO
Neste trabalho, com foco na Bacia do rio Anil, na Ilha do Maranhão, foi
analisado o comportamento da cunha salina com base nos teores condutividade
elétrica. Observou-se que as bacias hidrográficas desempenham um papel
fundamental como unidades de análise ambiental, abrigando recursos naturais
fundamentais e influenciando o uso do território.
Além disso, a análise destacou os desafios enfrentados na região, como o
crescimento populacional, a especulação imobiliária e a contaminação das águas
subterrâneas. A intrusão marinha, causada pela salinização, é uma ameaça
particular à disponibilidade de água doce na ilha, impactando tanto os mananciais
quanto a qualidade da água.
A análise de dados é fundamental para entender esses problemas e
desenvolver estratégias de manejo sustentável dos recursos hídricos. A utilização de
métodos geoestatísticos, como a krigagem, é uma abordagem eficaz para estimar
valores não amostrados e monitorar a cunha salina.
Registra-se a presença de interação entre água salgada e água doce nos
cursos inferior e médio da bacia, apresentando uma variabilidade de teores de
condutividade elétrica em diversos estágios de interações desde iniciais até
avançados. Diante dessa constatação, fica evidente a necessidade de adotar
medidas para remediar essa situação, uma vez que ela representa um sério risco de
contaminação por intrusão salina nos aquíferos Itapecuru e Barreiras de água doce
na bacia do rio Anil.
Nesse sentido, a análise de dados desempenha um papel vital na gestão e
conservação dos recursos hídricos na Bacia do rio Anil e em áreas costeiras
similares. O conhecimento obtido por meio dessa análise permite tomar medidas
proativas para enfrentar desafios ambientais complexos e proteger a qualidade da
água para as gerações futuras.
REFERÊNCIAS

BOUBERBALA, A. Groundwater salinization in semiarid zones: an example from


Nador plain (Tipaza, Algeria). Environmental Earth Science, v. 73, n. 9, p. 5479-
5496. 2015.
CASTRO, R. M. S. Avaliação da Vulnerabilidade à Intrusão Marinha na Franja
Costeira de São Luís Utilizando o Método GALDIT. Dissertação do Programa de
Pós-Graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço – Universidade
Estadual do Maranhão, São Luís, Maranhão, 2019.
CHACHADI, A.G; LOBO FERREIRA, J.P. (2007). Sea water intrusion vulnerability
using GALDIT method: Part 2 – GALDIT indicators description. In Lobo Ferreira,
J.P; Vieira, J. (eds) – Water in Celtic Countries: Quantity, Quality and Climate
Variability, IAHS Red Books, London, IAHS Publication 310, ISBN 978-1-901502-88-
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