Amor de Perdição - Beatriz Fernandes

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AMOR DE PERDIÇÃO, DE CAMILO CASTELO BRANCO

A obra como crónica da mudança social

Beatriz Fernandes Nº1 11ª Turma:2


PORTUGUÊS MÓDULO-5 PROFª. BÁRBARA BASTOS 2023/2024
Camilo Castelo Branco, um dos mais proeminentes escritores do século XIX em
Portugal, legou à literatura uma obra imortalizada, “Amor de Perdição". Não cativa
apenas pela sua trama romântica envolvente, mas sim por ser um mergulho pelas
complexidades da sociedade portuguesa daquele século.
Através da história de amor impossível entre Simão e Teresa, uma história que
transcende as fronteiras do tempo, Camilo oferece um olhar penetrante, apresentando um
panorama detalhado das transformações sociais da época. Esta obra critica então vários
aspetos da sociedade ligadas ao absolutismo, o que a tornam uma crónica anunciadora da
mudança social.
A estrutura social retratada na obra reflete vividamente a rigidez das hierarquias
sociais da época. Os obstáculos intransponíveis enfrentados pelo casal protagonista,
Simão e Teresa, são em grande parte determinados pelas barreiras sociais impostas pela
sua condição financeira e pela pressão das convenções familiares.
Simão, representa a juventude romântica e impetuosa, é oriundo de uma família
aristocrática e forçado a manter a reputação da linhagem. No entanto, desafia as
convenções sociais e familiares em nome do amor. Por outro lado, Teresa, uma jovem de
origem humilde, proveniente de uma família de classe média baixa. Ela personifica a
fragilidade e a submissão feminina diante das expectativas sociais. O seu destino é selado
pelas limitações financeiras, o julgo e imposição do pai autoritário e pelas convenções
matrimoniais, demonstrando a falta de autonomia e inferiorização das mulheres na
sociedade do século XIX. Como por exemplo, quando o pai de Teresa tentou obrigar a
sua filha a casar com seu primo Baltasar (casamento de conveniência).
Este amor proibido, evidencia o contraste entre as classes sociais, que é um tema
recorrente ao longo da narrativa, destacando as barreiras sociais que moldam o destino e
impediam a realização de desejos individuais em uma sociedade rigidamente
estratificada.
Teresa, também lança luz sobre as condições das classes trabalhadoras da época,
revelando as injustiças e desigualdades sociais vigentes.
Além disso, a obra de Camilo também aborda questões como a honra, o dever
filial e a moralidade, que eram fundamentais na sociedade da época. A tragédia que se
desenrola é, em parte, resultado do conflito entre o desejo individual dos protagonistas e
as expectativas sociais que pesam sobre eles. A forma como a história é contada, com
foco no destino e no sacrifício, reflete a visão fatalista da sociedade da época, mostrando
como as pessoas naquela época acreditavam que a vida estava fora do seu controlo

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Um dos aspetos mais marcantes de "Amor de Perdição" é a representação do
sistema legal e judicial da época, evidenciando as falhas e arbitrariedades do sistema
judicial português. A condenação de Simão e Teresa pelo rapto e fuga reflete a rigidez das
leis e a falta de humanidade do sistema jurídico da época, onde a honra familiar muitas
vezes prevalecia sobre a justiça e a compaixão.
Outra instituição repressiva é a Igreja, onde é criticada a falsa virtude crista, isto
é, o facto de os católicos dizerem uma coisa e fazerem outra (aqui apontam-se as
contradições entre o ser e o parecer, com a vida conventual dissoluta/impudica). É
também censurada a maldade, tirania e vícios dos conventos, representados pelo
Convento de Viseu, onde Camilo refere que um padre e uma madre superior estão a beber
um copo de vinho e o padre tenta galantear uma jovem.
Como a obra representa uma mudança social para o Liberalismo, está também
presente uma afirmação dos direitos individuais, isto é, valoriza-se o papel do homem
enquanto indivíduo e ao mesmo tempo valoriza-se os ideais da liberdade, da dignidade e
da honra de cada ser humano. Esta valorização dos direitos humanos e oposição à
sociedade opressora da época está presente numa carta que Simão manda a Teresa onde
diz: “Não sofras com paciência; luta com heroísmo. A submissão é uma ignominia,
quando o poder paternal é uma afronta.”
Ao analisarmos "Amor de Perdição" à luz da atualidade, podemos perceber
paralelos surpreendentes com os desafios e dilemas enfrentados pela sociedade
contemporânea. Embora as estruturas sociais tenham evoluído desde o século XIX,
muitos dos temas abordados na obra podem ter diminuído em muitos aspetos, mas ainda
existem barreiras sociais que limitam os desejos individuais e determinam os destinos das
pessoas. A luta por autonomia e liberdade individual, a persistência das desigualdades
sociais e de gênero, bem como as críticas ao sistema judicial, continuam a ressoar nos
dias de hoje. A obra de Camilo Castelo Branco, portanto, não apenas nos transporta para
o século XIX, mas também nos confronta com questões universais e atemporais que ainda
ecoam na nossa própria realidade. Ou seja, lembra-nos que, embora o tempo avance,
muitos dos desafios enfrentados pela sociedade permanecem os mesmos.
Em síntese, "Amor de Perdição" não se limita a ser apenas uma história de amor
trágico. Sob a pena de Camilo Castelo Branco, a obra transforma-se num verdadeiro
espelho da sociedade portuguesa do século XIX, refletindo não apenas os dramas
individuais dos protagonistas, mas também as complexidades e contradições de uma
época em transição.

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Bibliografia:

Þ Manual de Português 11- Letras em Dia – Porto Editora


Þ https://www.studocu.com/pt/document/universidade-da-beira-interior/sociologia-
geral/amor-de-perdicao-obra-como-cronica-da-mudanca-social/28921161
Þ https://pt.scribd.com/document/630743466/Obra-como-cronica-da-mudanca-social
Þ https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7903/e527898/portugues-11-ano
Þ https://pt.scribd.com/document/692918262/AMOR-DE-PERDICAO-cronica-da-mudanca-
social

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