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Fls.

: 1

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


1001149-75.2023.5.02.0018

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 28/07/2023


Valor da causa: R$ 113.350,41

Partes:
RECLAMANTE: CLEITON NOVAES DE ANDRADE
ADVOGADO: RAISSA CAYRES VIANA
ADVOGADO: RAQUEL STABILE MORANDI
ADVOGADO: VICTOR AUGUSTO PEREIRA DO NASCIMENTO
RECLAMADO: ATACADAO S.A.

ADVOGADO: OSVALDO KEN KUSANO


PERITO: RUDD STAUFFENEGGER
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
18ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO
ATOrd 1001149-75.2023.5.02.0018
RECLAMANTE: CLEITON NOVAES DE ANDRADE
RECLAMADO: ATACADAO S.A.

PROCESSO N. 1001149-75.2023.5.02.0018

TERMO DE AUDIÊNCIA

Na sede da 18ª Vara do Trabalho de São Paulo - SP, por


determinação da Exma. Sra. Juliana Varela de Albuquerque Dalprá, Juíza do Trabalho
Substituta, realizou-se a audiência para publicação da sentença proferida nos autos da
reclamação trabalhista ajuizada por CLEITON NOVAES DE ANDRADE em face de
ATACADÃO S.A.

Submetido o processo a julgamento, proferiu-se a seguinte:

SENTENÇA

I- RELATÓRIO

CLEITON NOVAES DE ANDRADE ajuizou reclamação trabalhista


em face de ATACADAO S.A.

Assinado eletronicamente por: JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA - Juntado em: 26/08/2024 18:16:38 - c25af73
Fls.: 3

Sustenta que foi admitido pela Reclamada em 8/10/2021 para


exercer a função de armazenista, percebendo a remuneração mensal de R$ 1.790,00
tendo sido dispensando pela Ré em 12/6/2023. Após exposição fática e jurídica,
postulou o recebimento dos títulos elencados na exordial. Juntou procuração e
documentos e atribuiu à causa o valor de R$ 113.360,41.

A Reclamada apresentou contestação escrita, com documentos,


pugnando pela improcedência total da ação.

A parte autora teve vista dos termos da defesa e documentos,


apresentando manifestação à fls. 884/891 (ID 1572808).

Determinada a realização de perícia técnica para apuração da


insalubridade e periculosidade, o laudo foi juntado à fls. 892/921 (ID c622ec9).

Em audiência de instrução, foram ouvidos o reclamante e a


reclamada, bem como, duas testemunhas convidadas pelas partes.

Razões finais escritas pelas partes.

Sem outras provas, foi encerrada a instrução processual.

Infrutíferas as tentativas conciliatórias.

Decido.

II- FUNDAMENTAÇÃO

Assinado eletronicamente por: JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA - Juntado em: 26/08/2024 18:16:38 - c25af73
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1. DIREITO INTERTEMPORAL. LEI 13467/2017.

Considerando-se que o vínculo de emprego se iniciou após a


vigência da nova Lei Trabalhista, que ocorreu em 13.11.2017, aplicam-se todas as
disposições da nova Lei quanto ao direito material.

No que tange às normas processuais, do mesmo modo, aplica-


se a lei vigente no momento do ajuizamento da ação e consequente requerimento para
concessão do benefício da justiça gratuita. Mesmo entendimento para a questão da
aplicação dos honorários sucumbenciais.

2. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO AO VALOR ATRIBUÍDO AOS


PEDIDOS

A Reclamada requer seja declarada a limitação da condenação


ao valor atribuído aos pedidos pelo Reclamante.

Não merece amparo, contudo, a alegação da Ré, já que o valor


atribuído às pretensões e à causa correspondem a mera estimativa, não servindo como
limitação ao valor da condenação.

Ademais, eventuais custas e preparo serão calculados com base


no valor da eventual condenação, e não sobre o valor da causa.

3. APTIDÃO DA INICIAL

Assinado eletronicamente por: JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA - Juntado em: 26/08/2024 18:16:38 - c25af73
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O Reclamado argui a inépcia da petição inicial sob a alegação de


que a parte não apresentou indicou os domingos e feriados em que trabalhou,
apresentando pedido genérico e em afronta aos requisitos do §1º do art. 840 da CLT.

A aptidão da petição inicial no processo do trabalho verifica-se


através do implemento dos requisitos constantes do art. 840, par. 1º., da CLT, ante a
vigência do princípio da informalidade e simplicidade no processo laboral, a despeito
dos inflexíveis requisitos do artigo 282 do CPC/1973 e art. 319 do CPC/2015. Desse
modo, é suficiente a breve exposição dos fatos, o pedido e a expressão monetária das
pretensões passíveis de apuração.

Anoto que a inépcia da petição inicial ocorre quando


configuradas as hipóteses elencadas no art. 295, § único, do CPC/1973 e 330, §1º do CPC
/2015.

No caso, verifico que a parte autora indicou os elementos


suficientes para a análise da pretensão e para o exercício do direito de defesa da
Reclamada, sendo que eventual ausência de elementos para o deferimento do pedido
é matéria que se alinha com o mérito da demanda.

Assim, rejeito a arguição de inépcia.

4. APTIDÃO DA INICIAL / POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

O Reclamado argui a inépcia, ainda, afirmando que a parte


formulou pedido juridicamente impossível quanto ao recebimento de acréscimo
salarial em razão de acúmulo de função.

Assinado eletronicamente por: JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA - Juntado em: 26/08/2024 18:16:38 - c25af73
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Destaco que a impossibilidade jurídica do pedido se perfaz, em


verdade, em uma proibição, pelo ordenamento, do deferimento judicial de
determinado pedido, o que ocorre no caso de esse não ter objeto idôneo, entendido
como o legal e/ou moral e fisicamente possível.

Não é este o caso dos autos, o pedido formulado pela parte é


absolutamente viável e legal, independentemente de existir ou não substrato legal e
probatório para seu acolhimento.

Assim, rejeito a preliminar.

5. ACÚMULO DE FUNÇÃO

O Reclamante alega que foi admitido como armazenista,


contudo, acumulou outras funções como repositor e operador de empilhadeira,
requerendo o recebimento de adicional pelo desempenho cumulativo das funções.
Argumenta que também realizava descarga de mercadorias, controle de estoque,
inventário, emissão de notas, dentre outras indevidamente acumuladas.

A Ré nega as assertivas obreiras, destacando que não foram


exigidas do Autor funções diversas daquelas para o qual fora contratado.

Saliento que, em relação ao acúmulo de funções, para se ter


reconhecido o direito ao plus salarial, é imperioso que o empregador, no decorrer da
execução do contrato de trabalho, determine a execução de tarefas que demandem
maior especialização ou exijam maior complexidade, e desde que estranhas à função
contratada, de forma a alterar unilateralmente o contrato. Ainda, que haja efetiva
diferenciação de salários entre a função originalmente exercida e aquela acumulada.

Transcrevo ementa paradigma ao presente caso, in verbis:

Assinado eletronicamente por: JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA - Juntado em: 26/08/2024 18:16:38 - c25af73
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ACRÉSCIMO SALARIAL. ACÚMULO DE FUNÇÕES. Verifica-se o


acúmulo de funções quando, no curso do contrato, o empregador promove
unilateralmente alteração contratual atribuindo ao empregado o desempenho de
atividades diversas e mais complexas do que as inicialmente contratadas, sem o
correspondente acréscimo salarial. Hipótese em que as atribuições do reclamante não
configuram acúmulo de funções e foram executadas desde o início do pacto laboral,
não se justificando, portanto, o pagamento de um plus salarial. Recurso ordinário do
reclamante a que se nega provimento. (PROCESSO nº 0020334-84.2013.5.04.0027 (RO),
RECORRENTE: VALMIR SOARES LEAL RECORRIDO: DIPAM GAUCHA DISTRIBUIDORA
LTDA RELATOR: LAIS HELENA JAEGER NICOTTI).

Incumbia à parte autora comprovar o fato constitutivo de seu


direito, nos termos dos arts. 818 da CLT e 373, I, do CPC, ônus do qual não se
desincumbiu.

Verifico que, no contrato de trabalho do Autor (fl. 326 - ID


aa70b34), consta que ele foi contratado para desempenhar a função de ‘auxiliar de
depósito’, sendo que, na CTPS de fl. 53 (ID40f34ea) é apontada a função de
armazenista. A despeito da divergência das denominações, entendo que ambas
compreendem atividades similares, relativas ao armazenamento, organização de
produtos, bem como, funções correlatas destinadas ao recebimento de mercadorias.

Ressalte-se que as anotações constantes do registro na carteira


de trabalho possuem presunção relativa de veracidade, conforme dispõe a Súmula 12
do C. TST, sendo cabível seu afastamento mediante prova robusta em sentido diverso,
o que não ocorreu, no caso.

O preposto do reclamado informou que o reclamante se ativava


“descarregando palete, carregando, auxiliando a manter o setor organizado; que o
palete era hidráulico; que esporadicamente o reclamante conferia se estava correto o
palete; que o reclamante não fazia reposição em gôndolas".

A testemunha da reclamante, por sua vez, disse o seguinte: (...)


que fazia a mesma função que o reclamante, efetuando carga e descarga e lavando a

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mercadoria até as câmaras frias, reposição de mercadorias e triagem de mercadorias


vencidas, com avarias; que isso ocorria quase todos os dias, também ocorrendo com o
autor; que não fez inventário; que sabe que o reclamante fazia inventário, pois às vezes
saía do setor para fazer; que emitiam notas fiscais nas triagens”.

A testemunha ouvida a convite da Reclamada não transmitiu


segurança em suas declarações, tendo aparentado confusão ao informar, inicialmente,
a data em que trabalhou com o Autor, e ainda, evidenciou insegurança em suas
afirmações posteriores, quanto a ter laborado com o líder Paulo.

As atividades informadas pela testemunha do Autor, no entanto,


no entendimento desta magistrada, não representam acúmulo indevido de funções,
posto que se relacionam ao recebimento e organização de mercadorias, não
demandando qualificação diversa da exigida para a função do Autor. Ademais, não
ficou evidenciado que tais atividades demandavam labor extra ou responsabilidade
diversa, sendo que, até mesmo a função de inventário, a testemunha disse que o Autor
saía ´às vezes para fazer’, não sendo atividade regular e diária, mas mero auxilio, o
qual sequer era realizado pela testemunha.

Com relação aos vídeos apresentados pela parte autora, realço


que não são aptos a comprovar o desempenho das atividades retratadas, visto que
produzidos unilateralmente, em local não identificado, sequer sendo possível concluir a
data ou que é o Autor quem está realizando tais funções.

Nos termos do art. 456 da CLT, parágrafo único, inclusive, "à


falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal respeito, entender-se-á que o
empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição
pessoal". Cediço que o empregador contrata o empregado para ter a sua disposição
aquele labor por determinado tempo. Se este último exerce outras atribuições
compatíveis com sua condição pessoal e com sua qualificação, não há falar em
acúmulo de funções.

Rejeito o pleito.

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6. ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

O Autor sustenta que faz jus ao adicional de insalubridade em


razão do ingresso em câmara fria durante as atividades, sem que houvesse o
fornecimento de EPI´s adequados para neutralizar o agente insalubre. Aduz que
também se ativava em condições de risco ensejadoras do adicional de periculosidade,
requerendo o recebimento do adicional, de forma sucessiva.

A Reclamada impugnou a pretensão e argumentou que o Autor


não se ativou em condições autorizadoras do recebimento dos adicionais.

Considerando-se que a matéria é eminentemente técnica, a


avaliação deve ser realizada mediante análise no local de trabalho (art. 192, CLT).

Determinada a realização de perícia técnica, o expert nomeado


assim informou, após avaliação minuciosa no local de trabalho fls. 892/921 (ID
4db59bd):

“3 ATIVIDADES EXERCIDAS PELO RECLAMANTE

O Reclamante laborou para a Reclamada no período de 08/10


/21 à 12/06/23, na função de Auxiliar de Depósito, de segunda à sexta-feira, com 8
horas de trabalho e uma hora para refeição e descanso e de sábados, com 4 horas de
trabalho (horário contratual).

As atividades efetuadas pelo Reclamante, consistiam em:

• Descarregar ou carregar caminhões de clientes ou


fornecedores (vide fotos 1 e 2 do anexo 1)

# Conforme mencionado pelas partes, em comum acordo, o


Reclamante efetuava o descarregamento de cerca de 25 caminhões resfriados por
semana e 5 caminhões congelados por semana sendo que para a execução desta

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atividade o Reclamante realizava um total de 125 acessos a baús de caminhões


resfriados, que tinham uma temperatura interna de 5 à 8 ºC e 25 acessos semanais a
baús de caminhões congelados, que mantinham temperaturas internas de -20 a -18 ºC

# Conforme mencionado pela Reclamada e ratificado pelo


Conferente entrevistado, cada um acesso de descarregamento em um baú frigorificado
era efetuado um acesso de colocação na antecâmara e por este motivo o Reclamante
realizava um total de 150 acessos semanais na antecâmara.

• Efetuar a separação de produtos avariados (vide foto 3 do


anexo (...)

7. RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES

No levantamento e avaliação ambiental das áreas onde o


Reclamante exercia sua função e atividades, foi verificado:

7.1 Ruído

O Reclamante não se expôs a altos níveis de pressão sonora.

7.2 Calor

O Reclamante não trabalhou em condições de stress térmico.

7.3 Iluminamento

Este agente não é mais considerado insalubre.

7.4 Radiações Ionizantes

O Reclamante não se expunha a radiações ionizantes.

7.5 Radiações Não Ionizantes

O Reclamante não se expunha a radiações não-ionizantes.

7.6 Vibração

O Reclamante não se expunha a vibrações.

7.7 Frio

A NR-15 anexo 9 menciona

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As atividades ou operações executadas no interior de câmaras


frigoríficas, ou em locais que apresentem condições similares, que exponham os
trabalhadores ao frio, sem a proteção adequada, serão consideradas insalubres em
decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. (grifou-se)

A NR-29 no item 29.3.16.2 menciona

A jornada de trabalho em locais frigorificados deve obedecer a


seguinte tabela:

Importante mencionar, que segundo o mapa oficial do IBGE a


região de São Paulo está na zona climática mesotérmica.

Conforme descrito detalhadamente no item 3 deste laudo,


verificou-se que o Reclamante laborava habitualmente no interior de ambientes
frigorificados, visto o acesso a baús resfriados (5 à 8 ºC) por cerca de 125 vezes a cada
semana de trabalho, visto o acesso a baús congelados (-20 a -18 ºC) por cerca de 25
vezes a cada semana de trabalho e visto o acesso a antecâmara (2 à 5 ºC) por cerca de
150 vezes a cada jornada de trabalho, totalizando assim 300 acessos semanais.

Assim, tendo em vista a utilização de EPI’s, a qual está detalhada


nos itens 8 e 9 deste laudo, pode-se afirmar, que não houve a neutralização deste
agente e consequentemente o Reclamante adquiriu a percepção pelo adicional de
insalubridade, de acordo com o anexo 9 da NR-15.

7.8 Umidade

O Reclamante não se expunha à umidade.

7.9 Agentes Químicos

Constatou-se, que o Reclamante não se expunha a qualquer


agente químico, que possa caracterizar insalubridade, em suas atividades, de acordo
com os anexos 11 e 13 da NR-15.

7.10 Poeiras Minerais

O Reclamante não se expunha a poeiras minerais.

7.11 Agentes Biológicos

O Reclamante não se expunha a agentes biológicos.

7.12 Periculosidade - Explosivos

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Não se constatou a existência de atividades ou operações com


materiais explosivos nas atividades desenvolvidas pelo Reclamante, de acordo com o
que prescreve o Anexo 1 - “Atividades e Operações Perigosas com Explosivos” da NR-16
– “Atividades e Operações perigosas”, não existindo, portanto, enquadramento.

7.13 Periculosidade - Inflamáveis

7.13.1 Referente ao armazenamento de inflamáveis em


edificação independente à de trabalho

Constatou-se a existência de 2 geradores de energia, de 553


KVA, com 2 tanques de armazenamento de 200 litros (vide fotos 1 e 2 do anexo 2)

Vale mencionar, que a área técnica, onde se localiza o sistema


de geração de energia é independente da edificação principal e não possui nenhuma
ligação entre elas (vide foto 3 do anexo 2)

Os geradores são alimentados por óleo diesel, que é


considerado um líquido inflamável, pois possui ponto de fulgor de 38°C.

O anexo 2 da NR-16, através dos seguintes pontos normativos,


classifica todas as atividades executadas dentro da edificação de armazenamento de
líquidos inflamáveis como periculosas.

• A letra “b” do item 1 do anexo 2 da NR-16 menciona ATIVIDADE

No transporte e armazenagem de inflamáveis líquidos e gasosos


liqüefeitos e de vasilhames vazios não desgaseificados ou decantados.

Adicional de 30%

Todos os trabalhadores da área de operação

• A NR-16 no anexo 2 item 2 inciso III define

III - Armazenagem de inflamáveis líquidos, em tanques ou


vasilhames:

a) quaisquer atividades executadas dentro da bacia de


segurança dos tanques;

b) arrumação de tambores ou latas ou quaisquer outras


atividades executadas dentro do prédio de armazenamento de inflamáveis ou em
recintos abertos e com vasilhames cheios inflamáveis ou não-desgaseificados ou
decantados.

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Assim, pode-se afirmar, que como o armazenamento ocorria em


edificação independente estruturalmente e sem qualquer interligação com a edificação
de trabalho, pode-se afirmar, que não houve exposição classificada como periculosa,
de acordo com o anexo 2 da NR-16.

7.13.2 Referente ao armazenamento de inflamáveis em


ambiente aberto

Constatou-se, que os tanques intermediários, citados no item


anterior, eram alimentados por um tanque externo de 5.000 litros (vide foto 4 do anexo
2)

Sabendo, que o óleo diesel é considerado um líquido inflamável


classe II, pois possui ponto de fulgor de 38°C e que a NR-16 define área de risco em seu
anexo 2 item 3 letra “r”, conforme segue

ATIVIDADE

Armazenamento de vasilhames que contenham inflamáveis


líquidos ou vazios não desgaseificados ou decantados, em locais abertos.

ÁREA DE RISCO

Faixa de 3 metros de largura em torno dos seus pontos externos.

Assim, pode-se afirmar, que como o armazenamento ocorria em


ambiente aberto e como o Reclamante não permanecia na área de risco determinada
pelo item normativo supramencionado, pode-se afirmar, que não houve exposição
classificada como periculosa, de acordo com o anexo 2 da NR-16.

7.14 Periculosidade - Radiações Ionizantes ou Substâncias

Radioativas

Não se constatou a existência de atividades ou operações


habituais com radiações ionizantes ou substâncias radioativas nas atividades
desenvolvidas pelo Reclamante, de acordo com o que prescreve o Anexo(*) -
“Atividades e Operações Perigosas com Radiações Ionizantes ou Substâncias
Radioativas”, não existindo, portanto, enquadramento.

7.15 Periculosidade - Eletricidade

Constatou-se, que o Reclamante não se expôs, habitualmente, a


risco elétrico, não existindo, portanto, enquadramento normativo.

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7.16 Periculosidade - Exposição a roubos ou outras espécies de


violência física

Não se constatou a existência de exposição a roubos ou outras


espécies de violência física.

7.17 Periculosidade - Trabalhador em motocicleta

O Reclamante não efetuava atividades com motocicleta.

8 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI's

O art.166 da CLT esclarece

A empresa é obrigada a fornecer aos empregados,


gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito
estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não
ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos
empregados

Os itens 6.6.1 e 6.7.1 da NR-6, os quais foram publicados pelas


Portarias 3.214/78 e 107/09, apontam

6.6.1. Cabe ao empregador quanto ao EPI :

b) exigir seu uso;

d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado,


guarda e conservação;

e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;

f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica;


e,

h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser


adotados livros, fichas ou sistema eletrônico.

6.7.1. Cabe ao empregado quanto ao EPI:

b) responsabilizar-se pela guarda e conservação;

c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne


impróprio para uso;

O artigo 191 da CLT aponta

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A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá:

I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de


trabalho

dentro dos limites de tolerância;

Il - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao

trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a


limites de tolerância.

8.1 Referente à comprovação do fornecimento de EPI's

A Reclamada, durante a diligência, apresentou a este Perito a


ficha de entrega de EPI’s do Reclamante, visto que tal ficha tinha sido juntada em
“segredo de justiça” (vide foto 4 do anexo 1), informando, inclusive, que todos os
fornecimentos eram apontados nas fichas de entrega.

8.2 Referente ao agente insalubre, mencionado no item 7.7


deste laudo

O Reclamante, mesmo confirmando que as assinaturas da ficha


correspondiam à sua assinatura, informou que não recebeu os equipamentos de
proteção, que alí constavam, informando que apenas utilizava, em alguns dos acessos,
japonas, que eram disponibilizadas para uso coletivo, em quantidade insuficiente.

Já, a Reclamada informou que eram fornecidos e utilizados


todos os EPI’s constantes na ficha de entrega.

Frente à divergência das partes, este Perito entrevistou o


Auxiliar de Depósito, que informou que eram utilizados os seguintes EPI’s nos
seguintes locais:

• Ambientes resfriados – japona térmica e calça térmica

• Ambientes congelados - japona térmica, calça térmica e luva


térmica.

Assim, visto que o Auxiliar de Depósito entrevistado (parte não


interessada), informou que não era utilizado proteção aos pés em ambas as câmaras e

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não era utilizado proteção às mãos, nos ambientes resfriados, constatou-se, que esta
exposição insalubre, não foi neutralizada.”

As partes foram notificadas do teor do laudo pericial, tendo a Ré


apresentado impugnação e quesitos suplementares, os quais foram respondidos
satisfatoriamente pelo especialista à fls. 932/940 (ID 7560a2f). Esclareceu que o agente
insalubre frio não era neutralizado pelos equipamentos de proteção fornecidos. A
despeito da divergência existente entre as partes quanto ao uso dos EPI`s, foi ouvido
um trabalhador no local, que não possui interesse no feito, o qual informou que não
havia proteção para os pés em ambas as câmaras frias e para as mãos nos ambientes
resfriados.

O especialista ratificou o laudo, ainda, quanto à inexistência de


exposição a agentes químicos, pelo labor esporádico e eventual na separação de
produtos avariados, onde poderia haver agua sanitária em 15 % dos produtos. Embora
a testemunha do Autor tenha dito que realizavam tal atividade na triagem de
mercadorias vencidas e com avarias quase todos os dias, entendo que tal função não é
suficiente para configurar a exposição aos agentes químicos invocados na inicial. Ainda
que a atividade fosse executada todos os dias, não ocorria durante toda a jornada,
posto que o trabalhador realizava outras funções, além disso, apenas cerca de 15% dos
produtos poderiam conter água sanitária, razão pela qual entendo que permanece a
eventualidade no contato com tais produtos químicos.

Ainda, com relação à periculosidade, asseverou que os tanques


que armazenavam combustíveis eram localizados em edificação independente do
prédio onde o Autor se ativava e também havia tanques em local aberto, não
ocorrendo exposição do trabalhador a risco.

Registre-se que, embora o juízo não esteja adstrito ao laudo


pericial (art. 479 do CPC), não há provas nos autos para invalidar a conclusão do I.
Perito, tendo em vista que o especialista fundamentou suas conclusões em análise
técnica ambiental, obtida em vistoria no ambiente de trabalho e mediante entrevistas e
avaliação de trabalhadores que realizam as mesmas atividades.

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Assim, mediante a análise da documentação constante dos


autos e avaliações in loco feitas pela Sr. Perito, acolho a conclusão pericial que concluiu
pela existência de condições insalubres em grau médio (20%), sendo devido o
pagamento do adicional no referido percentual.

No que tange à base de cálculo, muito embora o art. 7º., IV, da


CF vede a vinculação do salário mínimo para qualquer fim, o STF editou a Sumula
Vinculante n. 4 (publicada em 09.05.2008), através da qual declarou a
inconstitucionalidade do art. 192 da CLT, com a modulação do seu efeito (art. 27, Lei
9868/99), deixando de pronunciar a nulidade, a fim de se evitar o retrocesso e caos
social.

Alterar de imediato a base de cálculo do adicional de


insalubridade causaria prejuízos maiores do que fixar a nulidade do referido
dispositivo a partir de momento futuro. Caso contrário, inúmeras Reclamações
Trabalhistas seriam protocolizadas, buscando a condenação dos empregadores ao
pagamento das diferenças devidas, indo de encontro ao princípio da duração razoável
do processo (art. 5º., LXXVIII, da CF). Ainda, a alteração imediata da base de cálculo
importaria na propositura de diversas Ações Rescisórias para desconstituir os julgados
fixados com base no salário mínimo. Tendo em vista tais fatos, preferiu o Pretório
Excelso primar pela segurança jurídica e vedação ao retrocesso social.

Desta feita, permanece vigorando a norma constante no art. 192


da CLT, até que venha outra regular a base de cálculo a ser utilizada.

No mais, a Súmula 228 do Colendo TST - que também trata da


base de cálculo do adicional de insalubridade - em sua redação original a previa como
sendo o salário mínimo. Posteriormente, no entanto, teve a sua redação reformulada
para passar a prevê-la como sendo o salário básico, justamente, em prestígio à mesma
Súmula Vinculante 04 do Excelso Supremo Tribunal Federal que vedava a utilização do
salário mínimo enquanto indexador ou base de cálculo para a instituição de vantagens
devidas a empregados e servidores públicos, salvo no caso de exceções previstas na
própria Constituição, o que não se enxergou in casu.

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Nesse passo, em 15.07.2008 houve a concessão de liminar nos


autos da Reclamação proposta pela Confederação Nacional da Agricultura (nº 6266/08 -
DF acessível em www.stf.gov.br) de modo que, ainda que por via de decisão provisória
determinou-se a suspensão da aplicação da Súmula nº 228 do Colendo TST “na parte
em que permite a utilização do salário básico para calcular o adicional de
insalubridade”.

Do todo acima exposto, o que se extrai é que o Excelso Pretório


sinalizou para a inconstitucionalidade de utilização do salário base, ou básico,
enquanto índice de base para apuração do cálculo do adicional em substituição ao
salário mínimo.

A base de cálculo será, portanto, o salário mínimo.

Por habituais, defiro os reflexos do adicional de insalubridade


em aviso prévio, férias acrescidas de terço, 13º salários e FGTS com 40%.

Rejeito, ainda, a pretensão relativa à percepção do adicional de


periculosidade, pois não constatadas condições de risco no local de trabalho.

Ainda, veja-se que o PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) é


um documento que registra as informações sobre o ambiente de trabalho do
empregado, relativas à fiscalização do gerenciamento de riscos, existência de agentes
nocivos, além de possibilitar a reabilitação profissional, bem como aposentadoria
especial.

Assim, para comprovação da efetiva exposição do trabalhador


aos agentes nocivos, necessária a emissão, pelo empregador ou preposto, do PPP
(Perfil Profissiográfico Previdenciário), com base em laudo técnico de condições
ambientais do trabalho. Tudo em consonância ao previsto no art. 68 do Decreto 3.048
de 06/05/1999.

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Com isso, constatada a exposição à insalubridade, deverá a


Reclamada fornecer o PPP à parte autora, no prazo de 8 dias, a contar do trânsito em
julgado, na forma do que determina o §4º do art. 58 da Lei 8.213/91, sob pena de multa
diária de R$200,00, limitada a 30 dias, nos termos do art. 537 do CPC.

7. JORNADA OBREIRA

A parte autora afirma que faz jus ao recebimento de horas


extras em razão da invalidade do sistema compensatório, tendo sido obrigado a
assinar o termo de compensação de jornada e nunca tendo ocorrido a efetiva
compensação do banco de horas. Requer, assim, o recebimento pelas horas extras
prestadas em razão da nulidade do sistema compensatório utilizado pela Ré.

A Reclamada argumenta que não foi pactuado sistema


compensatório por meio de banco de horas, apenas acordo de prorrogação e
compensação de horas de trabalho, obedecido o limite semanal de 44 horas, conforme
autoriza o art. 59, §2º da CLT. Acrescenta que a jornada está integralmente registrada
nos controles de jornada.

Verifico que a Reclamada apresentou os controles de jornada


relativos ao contrato de trabalho do Autor, em atendimento ao que dispõe o art. 74, §
2º, da CLT.

A prova obtida dos autos não desconstituiu as marcações


constantes dos espelhos de ponto, tendo o Autor informado, em depoimento, que
“registrava corretamente os horários trabalhados por biometria, na entrada, saída e
intervalo; que ao final de cada mês assinava a folha de ponto; que as anotações
estavam corretas; que recebia horas extras”.

Muito embora o Autor tenha mencionado que chegou a


comparecer ao RH para verificar erro ocorrido, após ser reindagado pelo juízo, por já
ter informado que os registros eram corretos, ‘esclareceu então que às vezes esquecia

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de bater o ponto na volta do intervalo e descontavam’, acrescentando ‘que todos os


dias trabalhados eram registrados’ e ‘que sempre fazia 01 hora de intervalo’.

O depoimento do Autor indica que os registros eram


corretamente efetivados pelo Autor, com exceção de ocasiões em que ele mesmo
esquecia de bater o ponto, o que era informado ao RH. Além disso, o intervalo era
corretamente usufruído, segundo suas declarações.

Competia à parte autora, portanto, na forma do art. 818, CLT e


373, I, CPC, indicar a ocorrência das horas extras suscitadas na inicial, por ser fato
constitutivo de seu direito, o que não foi efetivado.

É possível constatar que foi ajustada a possibilidade de


compensação de horas (fl. 859 – ID f6cb0e2), na forma como autorizada pelo art. 59 e
§2º da CLT, não havendo outro sistema compensatório vigente. A jornada verificada
dos espelhos de ponto é de 8 horas diárias de segunda a sexta-feira, e 4 horas aos
sábados, com folgas aos domingos.

A parte autora informou, expressamente, que recebia horas


extras, de modo que a ela competia apontar as diferenças de horas extraordinárias
existentes em seu favor, o que não foi efetivado.

Ainda que os espelhos indiquem a ocorrência de horas extras e


labor em feriados, incumbia à parte autora apontar, especificamente, os dias em que
se ativou sem a correta contraprestação, sendo insuficiente a alegação genérica de
horas extraordinárias. A folga semanal, ainda, era devidamente respeitada, sendo
possível observar o descanso aos domingos (embora a lei não seja exigência da lei a
ocorrência necessariamente nesses dias)

Consigno que a parte autora apresenta fundamentos


relacionados ao banco de horas para postular a invalidade do sistema compensatório,
o que não era adotado pela Ré, além disso, sequer apontou a cláusula normativa na
qual fundamenta suas pretensões.

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Destaque-se, ainda, que com relação ao intervalo intrajornada, o


Autor reconheceu que usufruía de 1 hora integral, não havendo que falar em horas
extraordinárias decorrentes do intervalo intrajornada.

Ante o exposto, rejeito o pedido de horas extras em razão da


invalidade do sistema compensatório, inclusive intervalares.

8. RESTITUIÇÃO DE DESCONTOS. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL

O Reclamante pleiteia a restituição dos valores descontados pela


Ré a título contribuição assistencial.

Ressalto a distinção entre a contribuição confederativa/negocial


/taxa assistencial, mensalidade sindical e contribuição sindical propriamente dita.

A redação do art. 545 da CLT anterior à Reforma Trabalhista


previa que a contribuição sindical não precisava de autorização e era devida por todos
os empregados associados ou não, segundo previsão constitucional (art. 8o., IV, da CF).

As contribuições assistencial/negocial/confederativas, por sua


vez, sempre possuíram previsão genérica da CLT (art. 513, “e”) e dizem respeito a
recolhimento aprovado por meio de convenção ou acordo coletivo, para desconto em
folha de pagamento ao longo do ano em regra, por aprovação em assembleia.

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Já a mensalidade sindical corresponde a contribuições


voluntárias, podendo estar presente em qualquer tipo de associação, pagas somente
pelos filiados ao respectivo sindicato em favor do qual se reverteu a contribuição
deduzida de seus salários.

O Colendo Tribunal Superior do Trabalho, em seu Precedente


Normativo 119, disciplinou a vedação destes descontos e a nulidade das cláusulas de
convenções ou acordos coletivos que assim disciplinem, em relação a trabalhadores
não sindicalizados. Vejamos:

Nº 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE


PRECEITOS CONSTITUCIONAIS - (nova redação dada pela SDC em sessão de 02.06.1998
- homologação Res. 82/1998, DJ 20.08.1998. "A Constituição da República, em seus arts.
5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa
modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou
sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título
de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou
fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não
sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se
passíveis de devolução os valores irregularmente descontados."

No mesmo sentido a OJ 17 da SDC do C. TST.

Considerando-se a existência dos alegados descontos nos


holerites, sem autorização expressa do Reclamante, tenho que os descontos infringem
o disposto no art. 462, CLT, além de violar o princípio da liberdade de associação
assegurada no texto constitucional (artigos 8º, inciso V, e 5º, inciso XX).

Saliente-se que eventual cláusula prevendo o direito à oposição,


inclusive, não afasta a ilicitude dos descontos em relação aos não associados, posto
que não comprovada a efetiva oportunidade de oposição aos descontos.

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Recentemente, em setembro de 2023, o STF entendeu por


constitucional a instituição da contribuição assistencial por meio de acordo ou
convenção coletiva, desde que oportunizada a possibilidade de oposição pelo
empregado.

A tese de repercussão geral fixada no Tema 935 foi a seguinte:


“É constitucional a instituição, por acordo ou convenção coletivos, de contribuições
assistenciais a serem impostas a todos os empregados da categoria, ainda que não
sindicalizados, desde que assegurado o direito de oposição”.

A despeito do STF ter previsto a possibilidade, em tese, dos


descontos de contribuições assistenciais em face de todos os empregados da
categoria, inclusive não sindicalizados, previu a necessidade de concessão do direito de
oposição pelos trabalhadores. E, no caso, não há comprovação que oportunizada a
efetiva possibilidade de oposição aos referidos descontos. É insuficiente a mera
previsão na norma coletiva ou divulgação em publicações cujo âmbito de projeção seja
restrito, não viabilizando a efetiva manifestação da oposição.

Nesse sentido, inclusive, em março de 2024, o TST acolheu a


instauração de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas para definir o ‘modo,
momento e o lugar apropriado para o empregado não sindicalizado exercer seu direito
de oposição ao pagamento da contribuição assistencial’, concluindo pela inexistência
de parâmetros hábeis, por ora, para viabilizar ao trabalhador a manifestação da
alegada oposição.

Assim, tenho por indevidos os descontos realizados a este título,


sendo devida a restituição, consoante valores indicados nos contracheques.

Procede.

9. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS

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O Reclamante afirma que não recebeu a PLR prevista nas CCT´s


vigentes durante o contrato de trabalho, inclusive, o valor proporcional do ano do
desligamento.

A demandada sustenta que não foi indicada a previsão que


impôs o pagamento da verba ao Autor.

O art. 7º, inc. XI garantiu a todos os trabalhadores a participação


nos lucros ou resultados, desvinculada da remuneração, a ser definido em lei, tratando-
se, portanto de norma de eficácia limitada.

A Lei 10.101/00, ao regular a matéria, preconizou que a parcela


seria objeto de negociação entre empresa e empregados, como se infere do art. 2º do
diploma legal.

No caso, a parte autora não indicou a cláusula que estabelece a


imposição de pagamento da PLR, os valores e período de apuração, dentre outros
requisitos necessários para a percepção da verba, sendo inviável a análise da
pretensão na forma como postulada.

Assim, rejeito o pedido.

10. ASSÉDIO MORAL

A parte Autora alega sofreu assédio moral durante as atividades


na reclamada, em razão do acúmulo indevido de funções, bem como, por conta de
perseguições perpetradas pelos superiores, Sr. Paulo e Israel, os quais abusavam do
poder diretivo e constrangiam o trabalhador em frente aos demais funcionários e
clientes.

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A Ré impugnou as alegações obreiras, negando que tenha


ocorrido ato ilícito passível de reparação.

De início, consigno que a parte autora havia formulado pedido


atinente à reintegração e garantia de emprego decorrente de doença ocupacional, bem
como, compensação por danos morais sob tal fundamento, contudo, com a
apresentação da emenda à inicial, o reclamante não reiterou referido pedido, tendo
deixado assente que a emenda possui caráter substitutivo à peça anteriormente
apresentada. Com isso, não remanesceu o pedido relacionado à alegada doença
ocupacional, reintegração e outros correlatos.

Quanto ao assédio moral, cabe destacar que, segundo Marie-


France Hirigoyen, é “qualquer conduta abusiva que atente, por sua repetição ou
sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa,
ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”.

Do conceito acima descrito, revela-se que suas principais


características são: dolo ou conduta dolosa, repetição ou sistematização do ato
abusivo, dano a integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaça ao emprego ou
degradação do clima de trabalho.

No mesmo sentido, leciona Alice Monteiro de Barros, no seu


Curso de Direito do Trabalho, Ltr, 2005, p. 875/876, os elementos caracterizadores do
assédio moral, sobre os quais a doutrina e a jurisprudência estão em consonância:

"a) a intensidade da violência psicológica. É necessário que ela


seja grave na concepção objetiva de uma pessoa normal. Não deve ser avaliada sob a
percepção subjetiva e particular do afetado, que poderá viver com muita ansiedade
situações que objetivamente não possuem a gravidade capaz de justificar esse estado
de alma. Nessas situações, a patologia estaria mais vinculada com a própria
personalidade da vítima do que com a hostilidade no local de trabalho;

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b) o prolongamento no tempo, pois episódio esporádico não


caracteriza o assédio moral. É mister o caráter permanente dos atos capazes de
produzir o objetivo;

c) a finalidade de ocasionar um dano psíquico ou moral ao


empregado, para marginalizá-lo no seu ambiente de trabalho;

d) que se produzam efetivamente os danos psíquicos, os quais


se revestem de índole patológica. Constituem, portanto, uma enfermidade que
pressupõe diagnóstico clínico e que se deverá provar.

O dano psíquico poderá ser permanente ou transitório. Ele se


configura quando a personalidade da vítima é alterada e seu equilíbrio emocional sofre
perturbações, que se exteriorizam por meio de depressão, bloqueio, inibições etc.
Esses estados devem guardar um nexo de causalidade com o fato danoso. Poderá
ocorrer de este último não gerar o desequilíbrio emocional, mas agravá-lo. Nessa
última hipótese, aplica-se a concausa e o responsável responde pelo agravamento".

Quanto aos fatos, a parte autora informou o seguinte:

“que o líder Paulo tinha problemas com o reclamante; que Paulo


ficava gritando pelo reclamante, pegando no seu pé; que quando o reclamante ia ao
banheiro Paulo ficava gritando "cê tá cagando?"; que Paulo falava que "se não está
contente, bate o ponto e vai embora", ou então "também posso te levar para receber
uma advertência"; que já ligou para o disque ética para reclamar, mas nada foi feito;
que o problema havido foi somente com Paulo; que essa denúncia foi feita em 2023;
que não se recorda quanto tempo trabalhou com Paulo".

A testemunha indicada pelo Reclamante, por sua vez, assim se


manifestou:

“que o Sr. Paulo gritava com todos, questionando quando iam


ao banheiro, falando que iam tomar advertência, perguntando o que estavam fazendo
no banheiro; que o depoente mandava ele baixar a voz, mas o reclamante não e por

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isso ele gritava mais com o autor; que o líder os ameaçava de demissão; que nunca
recebeu advertência por não assinar documento, mas sempre assinava; (...) que não
sabe informar quando o Sr. Paulo foi líder (...).”

Nesse contexto, inegável que as atitudes do representante da


Reclamada não são compatíveis com o ambiente de trabalho. O questionamento
constante dos trabalhadores, com relação ao uso do banheiro, utilizando-se de gritos e
ameaças de demissão, não pode ser tolerado.

A própria testemunha disse que avisava o supervisor para que


abaixasse a voz com ela, mas isso não ocorria com o Autor, acreditando que, por isso,
ele gritava mais com o Autor.

Embora a testemunha da Reclamada não tenha presenciado


nenhuma situação vexatória ou gritos envolvendo o Sr. Paulo, a testemunha não soube
especificar o tempo que trabalhou com o supervisor e com o Autor, tendo dito,
inicialmente, que trabalhou com Paulo por cerca de 2 meses e, após, retificou o
depoimento para informar que trabalhou em turnos diversos do Sr. Paulo. Desta feita,
não possui aptidão para informar as condições de trabalho envolvendo o referido
representante da Ré.

O conjunto probatório obtido pela testemunha do Autor não


deixa dúvidas da ocorrência das situações alegadas pela parte autora, as quais tornam
o ambiente hostil e perturbador da saúde mental dos trabalhadores.

Constitui dever do empregador garantir um ambiente de


trabalho seguro e sadio psicologicamente, a teor dos arts. 7º, XXII e 225 (“todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.’), ambos da CF
/88.

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Mais, em razão da incidência da boa-fé objetiva, tem o


empregador como dever anexo de conduta a obrigação de zelar pela integridade
psíquica de seus empregados, sendo responsável pelos danos causados por seus
empregados (art. 932, III, CC).

Ora, o trabalho existe para dignificar o ser humano, dar razão à


sua própria existência e não como forma de degradar e humilhar o indivíduo, com
situações constrangedoras que abalem sua moral e honra.

Sendo assim, com fulcro nos arts. 5o., V e X, da CF, 186, 187 e
932, III, do CC, considerando a gravidade do ato, o nexo causal, a extensão do dano
(art. 944 do CC), a capacidade econômica das partes, bem como, por outro, e
respeitando a vedação ao enriquecimento sem causa (art. 884 do CC) e o caráter
pedagógico da medida, fixo no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

11. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

Trata-se de ação ajuizada em 28/7/2023, portanto, após a


entrada em vigor da Lei 13.467/2017, de modo que concessão da justiça gratuita se
condiciona ao preenchimento das novas regras introduzidas no art. 790, § 3º, da CLT.

Assim, considerando que a remuneração informada nos autos é


inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social,
não havendo provas de que tal situação tenha sido alterada, mormente diante da
declaração de hipossuficiência de fl. 49, entendo estarem presentes os requisitos
autorizadores à concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

Deste modo, defiro ao Autor os auspícios da justiça gratuita.

12. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

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Com base no art. 791-A da CLT, condeno a Reclamada ao


pagamento a(o) patrona(o) da parte Autora de honorários advocatícios sucumbenciais
de 10% sobre o proveito econômico obtido pela parte contrária (soma dos pedidos
julgados procedentes), observada a Orientação Jurisprudencial nº 348 da SBDI1 do C.
TST.

Tendo em vista a concessão dos benefícios da justiça gratuita à


parte autora e, considerando-se a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no
julgamento da ADI 5766, declarando a inconstitucionalidade parcial dos arts. 790-B,
caput e § 4º, e 791-A, § 4º, da CLT, indevida a condenação da parte Reclamante em
honorários advocatícios sucumbenciais.

13. HONORÁRIOS PERICIAIS

Tendo em vista o trabalho realizado pelo Perito na elaboração


do laudo técnico, e considerando o grau de zelo e complexidade da demanda, arbitro
os honorários no importe de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) em prol do
perito, que deverão ser pagos pela Ré, sucumbente no objeto da perícia (art. 790-B, da
CLT).

III – DISPOSITIVO

Posto isso e, considerando o que mais consta dos autos, na


Reclamatória Trabalhista movida por CLEITON NOVAES DE ANDRADE em face de
ATACADÃO S.A. decido rejeitar a preliminar de inépcia da inicial e, no mérito, julgar
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial, nos termos da
fundamentação supra a fim de condenar a Reclamada:

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1. ao pagamento do adicional de insalubridade em grau médio, no importe de 20%


do salário mínimo, e reflexos, na forma do item 6;
2. a fornecer o PPP à parte autora, no prazo de 8 dias, a contar do trânsito em
julgado, sob pena de multa diária, na forma do item 6.
3. a proceder a restituição de descontos de contribuição assistencial, na forma do
item 8.
4. ao pagamento da compensação por assédio moral, no importe de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), na forma do item 10.

Defiro à parte autora os benefícios da justiça gratuita.

Honorários periciais no importe de R$ 2.500,00 (dois mil e


quinhentos reais) em prol do perito, que deverão ser pagos pela Ré, sucumbente no
objeto da perícia (art. 790-B, da CLT).

Com base no art. 791-A da CLT, condeno a Reclamada ao


pagamento a(o) patrona(o) da parte Autora honorários advocatícios sucumbenciais de
10% sobre o proveito econômico obtido pela parte contrária (soma dos pedidos
julgados procedentes), observada a Orientação Jurisprudencial nº 348 da SBDI1 do C.
TST.

Liquidação por cálculos.

Atualização monetária a partir do vencimento da obrigação que,


em sede trabalhista, ocorre no mês subsequente ao da prestação dos serviços (art.
459, parágrafo único, CLT e Súmula 381 do TST).

Por disciplina judiciária, considerando que o STF decidiu, por


maioria, com efeito erga omnes e eficácia vinculante, na análise conjunta da ADC 58 e
59 e nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade n 5867 e 6021, com a complementação
realizada em sede de julgamento dos Embargos Declaratórios, reconhecer a
inconstitucionalidade da aplicação da TR e conferir interpretação conforme a
Constituição Federal aos artigos 879, § 7º e 899 § 4º da CLT, os créditos trabalhistas

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objeto da presente condenação deverão ser corrigidos (até que sobrevenha alteração
legislativa) pelo IPCA-E na fase pré-judicial (acrescidos de juros de 1% ao mês, conforme
art. 39, caput , da Lei 8.177/91), e conforme a taxa SELIC (a qual já engloba os juros
moratórios e a correção monetária) a partir do ajuizamento da ação (fase judicial).

Procederá a Reclamada o recolhimento do imposto de renda


consoante a Lei n. 7.713/88 e Instrução Normativa RFB n. 1.127, de 7.2.2011, sob pena
de expedição de ofício à SRFB para as providências cabíveis, sobre as parcelas
tributáveis, excluídos os juros de mora, nos termos da OJ 400 da SDI-1 do TST e art. 404
do CC.

Para fins do art. 832, § 3º da CLT, declaro que as parcelas objeto


da condenação têm sua natureza jurídica reconhecida em conformidade com o art.
214, § 9º, do Dec. n. 3.048/98 e art. 28 da Lei n. 8.036/90, devendo os recolhimentos
previdenciários serem efetuados de acordo com os arts. 43 e 44 da Lei n. 8.212/91 e
Súmula 368 do TST, nos moldes recomendados nos arts. 78 a 87 da Consolidação dos
Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, sob pena de execução na
forma do art. 876, parágrafo único, da CLT.

Autorizo a dedução da cota parte do empregado.

Custas processuais, às expensas da Ré, no importe de R$ 360,00,


calculadas sobre a condenação, ora arbitrada em R$ 18.000,00, que deverão ser
recolhidas no prazo de oito dias.

Intimem-se as partes.

JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRÁ

Juíza do Trabalho Substituta

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SAO PAULO/SP, 26 de agosto de 2024.

JULIANA VARELA DE ALBUQUERQUE DALPRA


Juíza do Trabalho Substituta

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https://pje.trt2.jus.br/pjekz/validacao/24082618155731000000363663331?instancia=1
Número do processo: 1001149-75.2023.5.02.0018
Número do documento: 24082618155731000000363663331

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