Direito Penal - Opção
Direito Penal - Opção
Direito Penal - Opção
A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL, da O próprio princípio da legalidade ao estatuir que não há crime sem lei
CF). anterior que o defina, exigiu que a lei definisse (descrevesse) a conduta
delituosa em todos os seus elementos e circunstâncias, a fim de que
Ultratividade da lei temporária e excepcional somente no caso de integral correspondência pudesse o agente ser punido.
Algumas leis são editadas para vigorar apenas até certa data (leis
temporárias) ou enquanto durarem certas circunstâncias (leis Como tratado anteriormente, é permitido o uso de interpretação
excepcionais). analógica e de analogia em bonain partem.
Tais leis são ultra-ativas, pois, ainda que auto-revogadas, continuam a PRINCIPIO DA RESERVA LEGAL
ser aplicadas para os fatos ocorridos durante o período de sua vigência (art. Somente uma lei pode determinar o que é crime, ou seja, somente a lei
3º do CP). (lei federal) pode definir crimes e cominar penas, cabendo-nos aqui
mencionar a Medida Provisória, o Decreto-Lei e as Medidas de Segurança.
PRINCÍPIOS
Não sendo lei, a Medida Provisória,já que não nasce do Poder
PRINCIPIO DA LEGALIDADE Legislativo, não pode dispor sobre matéria penal, sob pena de invasão na
O princípio da legalidade tem significado político e jurídico: no primeiro competência de outro Poder. Todavia, há entendimento no sentido de se
caso é garantia constitucional dos direitos do homem e, no segundo, fixa o admitir que medida provisória veicuLe matéria penal, caso em que não terá
conteúdo das normas incriminadoras, não permitindo que o ilícito penal seja eficácia imediata, mas tão-somente após ser referendada pelo Poder
estabelecido genericamente sem definição prévia da conduta punível e Legislativo.
determinação da sanctio juris aplicável.
Com relação ao Decreto-Lei, foi amplamente discutido ao tempo da
Trata-se de princípio básico do Direito Penal. O mesmo reza: “não há Constituição Federal de 1967, se poderia o Presidente da República legislar
crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” sobre matéria penal por meio de Decretos-lei, tendo predominado, no
— nullum crimen, nulla poena sinepraevia lege. (artigos 5º, XXXIX, da CF e Supremo Tribunal Federal, a tese afirmativa; contudo, a Constituição
l” do CP). Federal de 1988 aboliu o Decreto-Lei.
A maioria dos doutrinadores considera o principio da legalidade Com o advento da Lei n0 7.209/84, foi suprimido o inconstitucional
sinônimo do princípio da reserva legal. Já, para Fernando Capez, o artigo 75 do Código Penal que dispensava as Medidas de Segurança da
princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: reserva obediência ao princípio da reserva legal. Diante de tal supressão,
Portanto, acrescenta Frederico Marques, se uma lei nova prejudicar os TEMPO DO CRIME
direitos da defesa, não será decorrência de preceitos sobre o conflito de O fato delituoso é praticado em determinado instante e esse é que de-
normas no tempo, a sua não aplicação. Tal lei será juridicamente ilegítima, termina o tempo do crime, isto é, quando a ação ou omissão (a conduta) foi
por inconstitucional, visto encontrar-se repelida pela disposição da Lei praticada, mesmo que outro seja o momento do resultado.
Basilar que assegura aos acusados ampla defesa, com todos os meios
essenciais a ela. Essa lei será inaplicável não só aos processos pendentes, Esse entendimento, fundado na denominada teoria da ação, que já era
como a todos os que se iniciarem após sua promulgação. E conclui, consagrada pela doutrina, para solucionar questões de direito intertemporal,
escrevendo que “a invocação da lei mais branda é, portanto, critério foi acolhido pelo Código Penal, nos seguintes termos:
inaplicável em matéria de conflito de normas processuais penais no
tempo”.98 Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA
As leis penais denominadas excepcionais ou temporárias são Esse dispositivo tem inteira aplicação para a fixação do tempo do crime
ultraativas, podendo ser aplicadas aos fatos praticados durante a sua e da lei aplicável.
vigência, mesmo depois de revogadas, dispondo o Código Penal.
A fixação do instante em que o crime foi praticado é importante para
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período fins de aplicação da lei penal. Para determinar qual a lei que estava em
de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica - vigor no dia do crime, para se saber se o agente era na ocasião imputável
se ao fato praticado durante sua vigência. ou inimputável e para o exame de outras circunstâncias relacionadas com o
mesmo.
Lei excepcional: E a lei que tem por objetivo regular certas situações
transitórias, resultantes, geralmente, de crises sociais ou políticas. E a sua Teorias: Na determinação do tempo do crime, quando a ação (ou
vigência perdura enquanto continuarem as situações anormais que a omissão) e o resultado se separam cronologicamente, existem na doutrina
motivou, identificada no texto legal pela expressão “cessadas as três teorias:
circunstâncias que a determinaram”. a) da atividade (para essa teoria o tempo do crime é o do momento
da ação ou da omissão, isto da conduta). Fixa o tempo do crime,
Lei temporária: É a lei que tem duração prefixada pelo legislador, para no momento em que o agente executa a conduta criminosa;
vigorar dentro de certo período, identificada no seu texto pela expressão b) do efeito ou resultado (considera que o tempo do crime é o
“decorrido o período de sua duração”. momento do seu resultado);
c) mista ou da ubiquidade (entende que o tempo do crime é,
Essas leis são promulgadas para vigorar em situações ou condições indiferentemente, tanto a data da ação (conduta) como a data do
sociais anormais, diante de certas circunstâncias ou acontecimentos, nos seu resultado).
casos de calamidade pública, cataclismos, revoluções ou guerras, com O nosso Código Penal, na reforma da Parte Geral de 1984/85, optou
termo prefixado no seu texto. pela primeira, pela teoria da atividade, na determinação do momento do
crime. Assim, o art. 4g manda considerar como momento do crime o da
O conflito de leis no tempo pressupõe uma sucessã6 de leis penais e ação ou omissão.
rege-se pelo princípio da aplicação imediata (tempus regit actum). Todavia,
a lei penal mais benigna sempre retroage ou é ultra-ativa, manifestando-se, Por exemplo, se o agente atira na vítima e esta vem a morrer no
assim, conforme o caso, em retroatividade ou ultra-atividade. hospital um mês depois, o momento do crime é aquele em que houve a
ação de atirar (conduta) e não o dia do resultado (morte).
Lei retroativa: É a lei em vigor que rege fato antecedente à sua
vigência. Coerentes com essa teoria, aplica-se a lei vigente ao tempo da
conduta, salvo se a do tempo do resultado for mais benéfica.
Lei ultra-ativa: É a lei já extinta, mas contemporânea ao fato delituoso
praticado, — com rigorosa observância do postulado tempus regit actum —, Nos atos inflacionais: A imputabilidade é aferida ao tempo da conduta.
que se estende para o futuro os seus efeitos e o seu caráter é temporário Não se pode assim punir criminalmente o adolescente que, às vésperas de
ou excepcional. completar 18 anos, atira na vítima que vem a falecer depois de ele atingir a
maioridade penal.
Nos crimes continuados: Nesses crimes tanto se considera momento Uma circunstância que influiu no surgimento da ideia de se criar um
da ação o do primeiro fato parcial quanto o do último. Assim, a lei em vigor Direito internacional penal foi também o aparecimento de quadrilhas
se aplica a toda série delitiva. Todavia, ocorrendo sucessão de leis, se internacionais que com frequência influíam na política de seus governos.
aplica à lei anterior, a do momento do fato parcial ou inicial, se for mais
favorável ao agente, no tocante ao crime e à pena. No final da Segunda Guerra Mundial, a justiça dos povos contra os
chefes do Terceiro Reich e dos criminosos de guerra japoneses, feita
Nas medidas de segurança: A aplicação da medida de segurança através do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg e o de Tóquio,
detentiva ou ambulatorial é regida também pelo princípio da anterioridade deram um novo enfoque ao Direito internacional penal e ao conceito do
da lei. Surgindo, assim, após a prática do crime, medida de segurança delito internacional, principalmente, dos crimes contra a paz e a
prejudicial ao réu, ela não pode ser aplicada. humanidade.
DA LEI PENAL NO ESPAÇO A Organização das Nações Unidas (ONU), estabelecida pela Carta de
GENERALIDADES 24 de outubro de 1945, através da sua Assembleia Geral, aprovou o
Onde foi praticado o crime? Em que território? Nos crimes pratica- funcionamento desses tribunais e as normas de direito processual penal
dos à distância, quando a ação criminosa é iniciada num país e que foram aplicadas, procedentes tanto da legislação processual anglo-
a consumação ocorre noutro, qual a lei que deve ser aplicada? norte-americana e continental europeia como da socialista soviética.
Quem está sujeito à lei brasileira? Como é resolvida a questão
Com o desenvolvimento das relações internacionais, devido ao
do crime praticado por brasileiro no exterior? Quem pode ser ex-
fortalecimento dos países aliados, a ONU passou a celebrar uma série de
traditado, deportado ou expulso? E como se resolve o conflito tratados de Direito internacional penal e incluiu entre os crimes de categoria
das leis penais no espaço? internacional o apartheid, ecocídio, biocídio, terrorismo, contrabando, tráfico
de drogas, o crime organizado e a lavagem de dinheiro.
O Estado nacional tem as suas próprias leis, editadas para serem
aplicadas onde exerce a sua soberania, mas há casos em que um Conceito
comportamento criminoso interessa a mais de um Estado, quando, então, Direito Internacional Penal, termo introduzido no léxico jurídico por
se discute o problema da eficácia da lei penal no espaço. Jeremias Bentham, em 1802, é um conjunto de normas que emanam da
comunidade de Estados, para coibir as violações do direito internacional.
No Brasil, o nosso Código Penal disciplina as questões referentes à
aplicação da lei penal no espaço nos arts. 5º ao 9º, prevendo algumas No decorrer dos anos, muitas foram às discussões sobre a
hipóteses. denominação exata desse ramo do direito e as limitações de sua
competência. Na fase moderna dos estudos e da aplicação do Direito
A matéria diz respeito ao chamado Direito Penal Internacional, que, Público Internacional, o Direito internacional penal distinguiu-se do Direito
apesar do nome, é Direito Público interno do país, ainda que em relações penal internacional, direito interno de um povo, consolidou-se e tomou
com o Direito estrangeiro, como adverte Manzini. espaço nas legislações penais de todo o mundo, tratando dos crimes que
atentam contra a Humanidade e que ferem diretamente os princípios do ser
Observe-se, outrossim, que o Direita Penal Internacional se distingue humano.
do Direito Internacional Penal. O primeiro compreende os crimes previstos
nos respectivos ordenamentos jurídicos internos de cada Estado, que têm Nos tribunais supranacionais, vem sendo aplicado nos processos e
implicações internacionais, e o segundo é constituído pelos fatos de julgamentos dos crimes de guerra e os que ferem diretamente os princípios
estrutura puramente internacionais, submetidos às normas que emanam da do ser humano.
comunidade de Estados.
Segundo Karpets, penalista russo, o Direito internacional penal é um
sistema de normas formadas como resultado da cooperação entre Estados
DIREITO INTERNACIONAL PENAL
soberanos e órgãos e organizações internacionais e tem como objetivo de-
A ideia de criar um Direito Penal lnterestatal, denominado por alguns
fender a paz, a segurança dos povos e a ordem jurídica internacional, tanto
autores de Direito Internacional Penal, surgiu entre os séculos XIX e XX.
dos crimes internacionais mais graves dirigidos contra a paz e a
Inicialmente se entendia que esse Direito era um conjunto de normas que
humanidade, como dos delitos de caráter internacional previstos nos
regulavam as questões da aplicação da lei penal no espaço.
tratados e convenções internacionais e em outro ato jurídico de índole
internacional reprimidos com rigor com estes regulamentos e convenções
Depois, alguns Estados procuraram estender a aplicação das leis
especiais e de acordos celebrados entre Estados segundo as normas do
penais internas a outros Estados, por crimes cometidos fora das suas
Direito Penal nacional.
fronteiras, mas que atentavam contra os seus interesses, o que provocou
resistência e desacordos entre os Estados. Nos tratados e convenções internacionais os atos legislativos de
caráter penal aprovados e ratificados devem incluir-se na legislação penal
A antiga doutrina do Direito Internacional já reconhecia determinadas nacional. Se estes atos não se incorporarem na legislação nacional, os
categorias de crimes de caráter internacional e assinalava o dever Estados a aplicam, apoiando-se rios referidos acordos celebrados em
internacional que tinham todos os Estados de punir os delinquentes. Mas algum órgão internacional ou por outras vias oficiais.
não estabelecia limites precisos entre a responsabilidade política
internacional dos Estados e a responsabilidade penal internacional das A realidade da vida demonstra que estão aparecendo cada vez mais
pessoas envolvidas em crimes e formulava os princípios da normas de Direito Penal com caráter internacional, em virtude da
responsabilidade penal internacional sem exatidão. necessidade de disciplinar determinado grupo de relações e interesses
sociais e colocá-los sob proteção do Direito Penal.
O Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas conta com o apoio Apesar da denominação de Direito penal internacional é um Direito
dos países signatários do Acordo de Paz de Dayton, Ohio, Estados Unidos, penal interno consagrado em leis próprias de cada país, podendo ser
de 1995, que encerrou a guerra na Bósnia, e das forças da Organização do resultantes de tratados internacionais, mas tornadas de Direito interno pela
Tratado do Atlântico Norte (Otan), para executar as suas decisões. promulgação no país.
Princípios
Em 1990, a Assembleia-Geral da ONU aprovou a elaboração de um Na doutrina, os princípios propostos para a solução do problema da
projeto de estatuto para um Tribunal Penal Internacional (TPI) permanente. aplicação, alcance e eficácia da lei penal no espaço são cinco:
Em 1998, em Roma, a Conferência de Ministros Plenipotenciários aprovou a) princípio da territorialidade da lei penal;
o Estatuto do TPI por 120 votos favoráveis, 7 contrários e 21 abstenções. b) princípio da nacionalidade (ou da personalidade):
Mas há em todo o mundo uma grande campanha coordenada por centenas c) princípio real (ou de defesa);
de entidades ligadas à luta pelos direitos humanos para levar os países a d) princípio da competência universal (da justiça cosmopolita ou da
ratificarem esse diploma. justiça penal mundial);
e) princípio da representação (ou da bandeira).
A nova Corte Internacional prevê a designação de um Procurador
independente, com direito a iniciativa própria de investigação e processo, Princípio da Territorialidade: A lei penal se aplica a todos os crimes
capaz de atuar até mesmo nos chamados “conflitos internos”, respeitando a praticados dentro do território nacional, qualquer que seja a nacionalidade
complementaridade da legislação de cada país, quando os Estados do agente ou da vítima. Este princípio se baseia na soberania dos Estados.
deixarem de levar à justiça os autores de crimes de guerra, genocídio e
contra a humanidade, como o de extermínio, esterilização, escravidão, Princípio da Nacionalidade: A lei do país a que o indivíduo pertence é a
tortura, estupro, apartheid e outros. que deve aplicar-se. A lei penal segue o nacional onde quer que ele se
encontre. Esse princípio funda-se no vínculo de dependência ou de
Seja como for, mesmo impregnada de utópico idealismo, a ideia de fidelidade que continua a prender o indivíduo ao seu país e o mantém sob o
criação de um Tribunal Penal Internacional permanente, consignada no domínio das suas leis.
Estatuto de Roma, em 17 de julho de 1998 e transformada em realidade no
dia 10 de abril de 2002, por meio de cerimônias solenes ocorridas na sede Princípio Real: A lei penal aplicável é a da nacionalidade do bem
de ONU, em Nova York, e na capital italiana, significa um avanço histórico jurídico ameaçado ou lesado pelo crime, qualquer que seja o lugar em que
O nosso Código Penal impõe o princípio da territorialidade, como regra Teoria do resultado: Para a teoria do resultado ou do efeito
e expressão da soberania nacional, nos seguintes termos: (Erfolgstheorie), o crime se considera cometido no lugar em que produziu o
Art. 4º -Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados resultado típico. O que importa é o último momento da ação executiva, isto
e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. é, o da consumação.
O Código Penal, porém, abriu várias exceções ao princípio da Teoria da ubiquidade: A teoria pura da ubiquidade (reine
territorialidade. A primeira delas está expressa no próprio artigo ao Ubiquitätstheorie), denominada também de teoria da unidade ou da
ressalvar a obediência ao estipulado em convenções, tratados e regras de equivalência dos lugares, considera local do crime tanto aquele onde teve
direito internacional. O legislador pátrio permitiu e reconheceu, assim, em lugar a manifestação da vontade e de onde se desenvolveu a atividade
determinados casos, a validez da lei de outro Estado. delituosa, como aquele em que se produziu o resultado a consumação do
crime. Essa teoria é resultante da combinação da teoria da atividade e da
O Estatuto Penal criou um temperamento à impenetrabilidade do direito teoria do efeito.
interno ou à exclusividade da ordem jurídica do Estado sobre o seu
território, permitindo e reconhecendo, em determinados casos, a validez da Código Penal: Quanto aos crimes à distância ou de trânsito, segundo a
lei de outro Estado. Exposição de Motivos da Parte Geral original de 1940 (nº 10), o nosso
estatuto repressivo adotou à teoria pura da ubiquidade, dispondo nos
E em atenção à convivência internacional, e sob a condição de seguintes termos:
reciprocidade, que o território do Estado se torna penetrável pelo exercício
de i soberania alheia, permitindo em alguns casos a intraterritorialidade, isto Art. 6º- Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação
é, a aplicação da lei penal estrangeira aos crimes cometidos no Brasil. ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.
Em princípio, a aplicação da lei brasileira está circunscrita ao crime co-
metido no território nacional. Para fins penais, o conceito de território não é De acordo com esse dispositivo, basta a realização de uma conduta
geográfico ou natural, mas jurídico. ilícita em território brasileiro para que a ela se aplique a lei brasileira, ainda
Território nacional é aquele espaço em que o Estado exerce a sua que se verifique o restante da conduta no exterior. E a cláusula “ou deveria
soberania, tendo mais amplo que o conceito material que importa apenas produzir-se o resultado” diz respeito à tentativa.
limites geográficos.
INTRA E EXTRATERRITORIALIDADE
Segundo Manzini, entende-se como território nacional todo espaço A lei brasileira é obrigatória para todos os habitantes do país, sejam
terrestre, marítimo ou aéreo, sujeitos à soberania do Estado, quer seja brasileiros ou estrangeiros, domiciliados ou em trânsito pelo território
compreendido entre os limites que o separam dos Estados vizinhos ou do nacional, segundo o princípio da territorialidade adotado como regra geral
mar livre, quer esteja destacado do corpo territorial principal, ou não”. pelo nosso ordenamento jurídico.
E integram o território nacional, por extensão ou ampliação, às
embarcações e aeronaves, nos termos dos §§ 1º e 2º, do art. 5º, jn verbis: lntraterritorialidade: Todavia, esse princípio, o da territorialidade, sofre
§1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território algumas exceções. O Código Penal no art. 5º ressalva a possibilidade de
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a renúncia de jurisdição do Estado, mediante convenções, tratados ou regras
serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as de direito internacional, quanto ao crime total ou parcialmente praticado no
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade território brasileiro.
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
ou em alto-mar. O Brasil adota, assim, o princípio da territorialidade temperada. Isto é,
§2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo há casos em que a lei penal brasileira é aplicada também aos crimes
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, cometidos no exterior (extraterritorialidade, art. 7º) e outros em que a lei
Os crimes em espécie. O código penal brasileiro classifica as diversas Crimes contra a organização do trabalho. São considerados crimes,
figuras delituosas nele previstas segundo o critério da crescente não só para assegurar direitos e legítimos interesses particulares como
generalização do bem ou interesse jurídico que a lei pretende proteger. Os também para a proteção da própria ordem econômica: os atentados contra
crimes são agrupados a partir dos que afetam mais diretamente o indivíduo a liberdade de trabalho, de contrato de trabalho ou de associação
até aqueles em que a principal vítima é a própria administração pública. profissional, a paralisação do trabalho, seguida de violência ou perturbação
Além dessas infrações penais, outras há de especial importância, como a da ordem, ou quando aquele é de interesse coletivo, a invasão de
lei das contravenções penais e a que versa sobre os crimes hediondos. estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, a sabotagem, a frustração
de direito e o aliciamento de trabalhadores, para emigração ou para o fim
A parte especial do Código Penal de 1940, que prevê os crimes de levá-los a outro local de território nacional.
comuns, desdobra-se em 11 títulos, referentes à proteção penal da pessoa,
patrimônio, propriedade imaterial, organização do trabalho, sentimento Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos.
religioso e respeito aos mortos, costumes, família, incolumidade pública, Assim são considerados o ultraje a culto e o impedimento ou perturbação
paz pública, fé pública e administração pública. de cerimônias religiosas ou funerárias. Na mesma categoria se enfileiram a
violação de sepultura e a destruição, subtração, ocultação ou vilipêndio de
Crimes contra a pessoa. São os delitos que mais diretamente ferem a cadáver. O bem protegido com a cominação de penas a tais fatos não diz
pessoa humana, atingindo-a em sua vida, integridade física, honra ou respeito aos mortos, mas à reverência que os vivos tributam a eles.
liberdade. Os crimes contra a vida são: (1) o homicídio doloso,
Crimes contra a família. A bigamia, o adultério, bem como a simulação INFRAÇÕES PENAIS: CRIME E CONTRAVENÇÃO
de casamento e outras infrações a ele relativas; os crimes contra o estado INFRAÇÃO PENAL
de filiação ou contra a assistência familiar, tais como o abandono material Segundo o sistema adotado pelo Brasil, as infrações penais dividem-se
ou intelectual, quando se trate de filho em idade escolar e, ainda, os crimes em crimes ou delitos e contravenções (classificação bipartida). Crimes e
contra o pátrio poder, a tutela ou a curatela, como o induzimento à fuga de delitos são sinônimos; as contravenções penais constituem-se de infrações
menor ou a subtração de incapazes são todos considerados delitos contra a penais de menor potencial ofensivo e encontram-se na Lei das
instituição da família. Contravenções Penais (principalmente) e em legislação esparsa.
Crimes contra a incolumidade pública. Subdividem-se em três classes Vale lembrar que contravenção penal não é crime (ou delito) e vice-
os crimes contra a incolumidade pública: (1) crimes de perigo comum versa, todavia, ambos são infrações penais.
(incêndio, explosão, inundação, desabamento ou desmoronamento e
outros); (2) crimes contra a segurança dos meios de comunicação e CRIME (OU DELITO) E CONTRAVENÇÃO
transporte e outros serviços públicos (perigo de desastre ferroviário, Segundo a teoria naturalista ou causal, crime é um fato (ação ou
arremesso de projétil, interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou omissão) típico (contido no texto penal), antijurídico (contrário ao
telefônico, entre outros); e (3) crimes contra a saúde pública (epidemia, ordenamento jurídico) e culpável (punível).
omissão de notificação da doença, invólucro ou recipiente com falsa
identificação, exercício ilegal da medicina etc). Para a teoria finalista, crime é um fato típico e antijurídico; a
culpabilidade é apenas condição para a imposição de pena.
Crimes contra a paz pública. A incitação ao crime, a apologia do crime
ou criminoso e a associação em quadrilha ou bando são os delitos contra a A diferença entre crime e contravenção é quantitativa e não qualitativa.
paz pública. Nos dizeres de Nelson Hungria, por insuficiência das proposições
doutrinárias que tentam diferenciar qualitativamente o crime da
Crimes contra a fé pública. A moeda falsa, a falsificação de papéis contravenção faz com que se conclua: não há diferença intrínseca,
públicos e documentos, a falsidade ideológica ou material de atestados ou ontológica ou essencial entre eles. Não são categorias que se distinguem
certidões e seu uso são, entre outras fraudes, catalogadas como crimes pela sua natureza, mas realidades que se diversificam pela sua maior ou
contra a fé pública. menor gravidade. A questão reside na quantidade da infração, não em sua
substância.
Crimes contra a administração pública. Enumera, por último, o código
penal os delitos contra a própria atividade estatal, divindo-os em três CRIME OU DELITO
grupos: os praticados por funcionários, os praticados por particulares e os a) infração penal de maior potencial ofensivo (gravidade);
que afetam diretamente a administação da justiça. Entre os primeiros: o b) pena de detenção, reclusão, restritivas de direito e multa
peculato, a concussão, o excesso de exação, a corrupção passiva, a (quantitativa).
prevaricação, a condescendência criminosa, a advocacia administrativa, a
violência arbitrária e o abandono da função. Entre os segundos: a CONTRAVENÇÕES PENAIS
usurpação da função pública, a resistência, a desobediência, o desacato, a a) infração penal de menor potencial ofensivo (gravidade);
exploração de prestígio, a corrupção ativa, o contrabando e o descaminho. b) pena de prisão simples e multa (quantitativa).
Contra a administração da justiça são, entre outros, os crimes de
denunciação caluniosa, auto-acusação falsa, falso testemunho, facilitação SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO
de fuga, evasão mediante violência, arrebatamento de preso e o patrocínio Sujeito ativo (ou agente) é quem pratica a infração penal (o fato).
infiel pelo advogado, bem como o patrocínio simultâneo ou sucessivo de Sujeito passivo é a pessoa ou entidade que sofre os efeitos da prática da
partes contrárias. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. infração. Ë o titular do direito lesado (a vítima), podendo ser pessoa natural
ou jurídica ou ainda o Estado (crimes contra administração pública).
CONTRAVENÇÃO
Dirigir perigosamente, explorar a caridade, vadiar, participar de Somente o ser humano pode ser sujeito ativo de crime (em princípio).
associações secretas e explorar o jogo do bicho são alguns exemplos de Os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis. Estes ficam sob
contravenção. a proteção integral do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n0
8.069/90), e, quando ferem direitos juridicamente tutelados (crime ou
Pela lei brasileira, contravenção é a violação consciente e voluntária de contravenção penal), praticam atos infracionais.
preceito legal ou de direito de outrem, por ação ou omissão, que pode ser
punida alternativa ou cumulativamente com penas de prisão simples e Excepcionalmente, pessoas jurídicas podem ser sujeito ativo de crime,
multa. porém, atualmente, só ocorre quando se tratar de infrações contra o meio
ambiente, cometidas por decisão dos dirigentes, no interesse ou benefício
Há diversas teorias que procuram distinguir crime de contravenção. O das mesmas (Lei n.0 9.605/98; CF, artigos 225, § 3º e 173, § 5º).
direito brasileiro considera crime a infração que se pune com reclusão, ou
detenção, e multa, alternativa ou cumulativamente; e contravenção, a Porém, o conceito de culpa, no dizer de Maggiore, é estritamente
infração punida com prisão simples e multa, também alternativa ou pessoal: e a única, verdadeira e não fictícia personalidade é aquela do
cumulativamente. A natureza da pena é que distingue contravenção de homem, que tem um corpo e uma alma, há uma vontade, uma liberdade,
crime. uma responsabilidade, Todo o resto é senão metáfora e ficção.
Contudo, a maioria dos doutrinadores define o crime como sendo um Na verdade, nexo causal só tem relevância nos crimes de resultado
fato típico e antijurídico. naturalístico (crimes materiais), pois, nos delitos em que se torna
impossível sua ocorrência (crimes de mera conduta) ou ainda naqueles em
Todavia, para a aplicação da pena é necessário que haja culpabilidade, que mesmo sendo possível é irrelevante (crimes formais), não há que se
que é a reprovação ao agente pela contradição entre a sua vontade e a falar em nexo causal e sim em nexo normativo entre o agente e a conduta.
vontade da lei.
Considera-se causa, toda ação ou omissão que contribuir para o
Já a punibilidade é consequência jurídica do delito. resultado, não fazendo distinção entre causa e condição. Para saber se um
antecedente foi causa do resultado, deve-se eliminá-la mentalmente, e
Assim, crime é toda ação ou omissão típica e antijurídica, porém, para verificar se o resultado, sem ela, teria acontecido. A esse procedimento dá-
que um fato seja punível é necessário que seja um fato típico, antijurídico e se o nome de procedimento hipotético de eliminação.
culpável.
Assim, nosso Código Penal adota a teoria da equivalência dos
FATO TIPICO antecedentes causais, também conhecida como teoria da conditio sine qua
Para que tenhamos um crime é necessária a existência de uma non, oriunda do pensamento de Stuart Mill.
conduta, seja ela positiva (ação) ou negativa (omissão) e que provoca em
regra um resultado (naturalístico ou jurídico). Ë ainda necessário que tal SUPERVENIËNCIA DE CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE
conduta seja típica (definida por lei como infração penal) e antijurídica (ART. 13, § 1º, CP)
(contrário ao ordenamento jurídico). Vem a limitar o nexo de causalidade, quando uma nova causa, relativa-
mente independente, por si só produzir o resultado. Nesse caso, o agente
Assim, o fato típico compõe-se de vários elementos: conduta (ação ou só responde pelos fatos anteriores a que deu causa. Exemplo: “A” agride
omissão); resultado; nexo de causalidade entre o atuar do agente e o “B” produzindo-lhe lesões corporais. “B” encontra-se no hospital, cuidando
resultado; tipicidade, isto é, ajuste de conduta ao modelo legal. dos ferimentos, quando sobrevém um incêndio e ele vem a falecer. “A” só
responde por lesões corporais.
CONDUTA (AÇÃO OU OMISSÃO)
Conduta é a realização material da vontade humana mediante a prática Já a concausa absolutamente independente está afastada pela regra
de um ou mais atos. geral do Código Penal.
A conduta abrange tanto a ação como a omissão, sendo seus ITER CRIMINIS
elementos a vontade, a finalidade, a consciência e a exteriorização (não Ë o percurso, a trajetória do crime.
ocorre quando estiver apenas na mente).
São 4 (quatro) as fases do crime:
TIPICIDADE 1ª. cogitação: imaginação, idealização (ex.: esboço do plano
Ë a perfeita adequação entre o fato e a previsão legal. A tipicidade é criminoso);
indício de antijuridicidade, indício porque pode haver causa excludente de 2ª. atos preparatórios: é o preparo do necessário para a prática do cri-
antijuridicidade. me (ex.: compra da arma);
3ª. atos executórios: é o início da realização do fato típico (ex.: apertar
TIPO o gatilho da arma);
a descrição abstrata que expressa os elementos de comportamento 4ª. consumação: é a fase final do iter criminis. Conforme ensina
lesivo (infração penal). O fato que não se ajustar perfeitamente ao tipo não Francesco Antolisei, o conceito de consumação exprime a perfeita
é crime. conformidade do fato à hipótese abstrata delineada pelo legislador.
Existem os tipos dolosos e os tipos culposos. A cogitação e os atos preparatórios não são punidos, exceto quando o
Estes crimes só podem ser praticados pela pessoa que tiver, por lei, o CRIME PRINCIPAL
dever de evitar o resultado, ou ainda, por aquela que se encontra na É aquele que existe independentemente de outros. Exemplo: furto.
denominada posição de garantidor (garante),que também possui o dever
legal, por força do artigo 13,5 20, “b”, do Código Penal. Como exemplo, CRIMES DE CONCURSO NECESSÁRIO OU PLURISSUBJETIVO
podemos citar o caso da enfermeira paga, ou aquela vizinha que São aqueles que exigem pluralidade de sujeitos ativos, por exemplo,
voluntariamente se ofereceu para cuidar do recém-nascido. Temos ainda, crime de rixa.
na alínea “c” do § 2º do artigo 13, o dever de agir e evitar o resultado
daquele que criou o risco da ocorrência do resultado. Como exemplo CRIME MULTITUDINÁRIO
clássico, citamos o nadador profissional que convida o banhista bisonho É aquele cometido por influência de multidão, por exemplo,
para uma travessia e não o socorre quando este está se afogando. linchamento.
VÁRIAS AÇÕES = VÁRIOS RESULTADOS Temos três teorias relacionadas ao dolo, quais sejam: teoria da
Aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que vontade, teoria da representação e teoria do assentimento.
haja incorrido o agente. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e detenção, executa-se primeiro aquela (CR artigo 69, caput). Se Para a teoria da vontade o dolo consiste na vontade e na consciência
forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá de praticar o fato típico. Para a teoria da representação, a essência do dolo
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as não estaria tanto na vontade, mas principalmente, na previsão do resultado.
demais (CP, artigo 69, § 2º). Já para a teoria do assentimento, o dolo consistiria no assentimento do
resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação dos riscos de
Já, em se tratando de pena privativa de liberdade, não suspensa por produzi-lo.
um dos crimes, ou seja, caso seja fixada uma pena em regime fechado
(impossibilidade da concessão de sursis) e ao mesmo tempo outra, na O nosso Código Penal (CP, artigo 18,I), adotou a teoria da vontade e a
mesma sentença, em que será perfeitamente cabível a substituição da teoria do assentimento: diz-se o crime doloso quando o agente quis o
pena por pena restritiva de direitos, incabível será a aplicação do artigo 44 resultado (teoria da vontade) ou assumiu o risco de produzi-lo (teoria do
do CP (art.69,5 10); em contrapartida, este mesmo parágrafo estabelece a assentimento).
viabilidade de se cumular, quando do reconhecimento do concurso material,
uma pena privativa de liberdade, com suspensão condicional da pena Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
(sursis) ou mesmo regime aberto (prisão domiciliar) com uma restritiva de previsto como crime senão quando o pratica dolosamente (CP, artigo 18,
direitos, isto é, tal parágrafo permite que o condenado cumpra as condições parágrafo único).
do sursis ao mesmo tempo em que efetua o pagamento da prestação
pecuniária. ELEMENTOS DO DOLO
Os elementos do dolo são: a consciência e a vontade.
Assim, as penas são somadas aritmeticamente.
ESPÉCIES DE DOLO
CONCURSO FORMAL (ou IDEAL) (ART. 70 CP) a) Dolo direto ou determinado: quando o agente visa a determinado
Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão (idênticas ou resultado. Exemplo: o agente atira com a intenção de matar.
não), acarreta dois ou mais resultados. Exemplo: o agente atira em “A” e b) Dolo indireto ou indeterminado: Quando o agente não visa a
mata “A” e “B”. resultado certo, determinado. O dolo indireto é subdividido em:
- UMA AÇÃO = VÁRIOS RESULTADOS b. 1) eventual: quando o agente não quer diretamente o resultado, mas
assume o risco de produzi-lo, ou seja, o agente prevê o resultado
Em se tratando de aplicação de pena, aplica-se a mais grave das de sua conduta e não deseja diretamente esse resultado, mas
penas cabíveis, ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em segue em frente na conduta assumindo a possibilidade de alcançar
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, certo resultado ilícito;
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes b.2) alternativo: quando a vontade do agente se dirige a um ou outro
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo 69 do resultado. Exemplo: quando o agente dispara uma arma para ferir
Código Penal (concurso material). ou matar.
c) Dolo de dano: Quando o agente quer o dano ou assume o risco de
Assim, se dois crimes forem frutos de desígnios autônomos, há a produzi-lo (causar dano efetivo).
somatória de penas, e, em hipótese alguma a pena pode exceder aquela d) Dolo de perigo: Quando o agente quer ou assume o risco de
cabível no caso de concurso material (CP, artigo 70, parágrafo único) colocar a vítima em perigo. A conduta se orienta apenas para a
criação de um perigo. Exemplo: crime de perigo de contágio
CRIME CONTINUADO (ou CONTINUIDADE DELITIVA) (ART. 71 CP) venéreo (artigo 130 do Código Penal).
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica e) Dolo específico: Quando existe a vontade de produzir um fim
dois ou mais crimes da mesma espécie, e, pelas condições de especial, específico. Exemplo: alteração de limites para o fim de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, de- apropriar-se.
vem os subsequentes serem havidos como continuação do pri- f) Dolo genérico: Quando há vontade de praticar o fato descrito no
tipo, ou seja, quando a intenção do agente se esgota na produção
meiro...
Noções de Direito Penal 14 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
do fato típico. É o dolo comum. CULPA CONSCIENTE E DOLO EVENTUAL
Na culpa consciente, embora seja o resultado previsto pelo agente,
CULPA este espera, sinceramente, que jamais irá ocorrer, confiando, destarte, na
Segundo Paulo José da Costa Júnior, a culpa é a prática voluntária de sua habilidade. Já, no dolo eventual, o agente também prevê o resultado
urna conduta, sem a devida atenção ou cuidado, da qual deflui um (embora não o deseja), contudo, dá seu assentimento ao resultado. Isto
resultado previsto na lei como crime, não desejado nem previsto, mas posto, tanto na culpa consciente como no dolo eventual o resultado é
previsível. previsível pelo agente, porém, no dolo eventual o agente diz: “tanto faz”,
A culpa consiste na prática não intencional do delito, faltando, porém, enquanto na culpa consciente supõe: “é possível, mas não vai acontecer de
ao agente, um dever de atenção, cuidado. Na culpa o agente produz o forma alguma”.
resultado por negligência, imprudência ou imperícia.
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ (ART.
MODALIDADES DE CULPA 15 CP)
a) negligência: a falta de atenção devida é a desatenção. Exemplo: Como estudado anteriormente, dá-se a tentativa quando o resultado
dirigir olhando para a calçada ao invés da rua; passear com não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Contudo, o
cachorro bravio sem focinheira; próprio agente, após iniciada a execução, voluntariamente, pode desistir de
b) imprudência: quando existe a inobservância da cautela comum, prosseguir na mesma (desistência voluntária), ou ainda, pode evitar,
exigida em determinados atos. É a prática de ato perigoso. também voluntariamente, que o resultado ocorra (arrependimento eficaz).
Exemplo: dirigir em velocidade superior à permitida no local;
c) imperícia: é a inobservância dos cuidados específicos a que Na desistência voluntária o agente interrompe o processo de execução
deveria estar habilitado o agente por falta de aptidão, insuficiência que iniciara, porque assim o quis. Deve a desistência ser voluntária,
de conhecimentos técnicos ou teóricos. Exemplo: sair dirigindo embora não necessite ser espontânea, podendo ser provocada por temor,
sem estar devidamente habilitado. Alguns doutrinadores não vergonha, etc.
aceitam este exemplo como sendo imperícia.46
Se o crime for consumado, não há que falar em desistência voluntária.
Em geral os tipos culposos são abertos e, sendo assim, não descrevem
a conduta culposa, limitando-se a dizer: “se o crime é culposo, a pena será Assim, se o agente já realizou todo o processo de execução, mas
de.. impede que o resultado ocorra, estamos diante do arrependimento eficaz.
Para se saber se houve ou não culpa, necessariamente deverá se O arrependimento eficaz também deve ser voluntário, embora não
proceder a um juízo de valor, fazendo-se uma comparação entre a conduta necessite ser espontâneo.
do agente no caso concreto e a que um homem de prudência média teria
na mesma situação. A maioria dos doutrinadores entende ser tanto a desistência voluntária
como o arrependimento eficaz, causa de exclusão de punibilidade mas, se
ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO os atos anteriores forem típicos, o agente responde por eles.
Os elementos do crime culposo são: conduta (sempre voluntária),
resultado involuntário, nexo causal, tipicidade, previsibilidade objetiva, Se o crime for consumado, não há que se falar em arrependimento
ausência de previsão (não existe esse elemento na culpa consciente), eficaz.
quebra do dever objetivo de cuidado (pela imprudência, imperícia ou
negligência). ARREPENDIMENTO POSTERIOR (ART. 16 CP)
Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
ESPÉCIES DE CULPA reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou
a) Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado, porém, este queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
era previsível; terços.
b) Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera sincera-
mente que este não ocorra. Há no agente a representação da Para Celso Delmanto, trata-se de causa obrigatória de redução depena
possibilidade do resultado, mas ele a afasta, de pronto, por e não mera atenuante e, por isso, pode ocorrer redução de modo a pena
entender que a evitará e que sua habilidade impedirá o evento ficar abaixo do mínimo previsto e influir no cálculo da prescrição penal.52
lesivo previsto;
c) Culpa imprópria (ou por extensão, por equiparação ou por Já ensina Waléria G. Loma Garcia que o arrependimento posterior,
assimilação): é aquela em que o agente, por erro de tipo atendido seus requisitos, é uma causa obrigatória de redução depena, entre
inescusável, imagina praticar a conduta licitamente, ou seja, o determinados limites.53
agente supõe estar acobertado por uma das excludentes de
ilicitude ou antijuridicidade (legitima defesa, estado de O ato de reparar ou restituir precisa ser voluntário, embora possa não
necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício ser espontâneo.
regular do direito). Contudo, esse erro poderia ter sido evitado pelo
emprego de diligência mediana, e, assim, subsiste o Assim, os requisitos do arrependimento posterior são:
comportamento culposo; a) ausência de violência ou grave ameaça à pessoa;
d) culpa presumida: trata-se de uma forma de responsabilidade b) reparação do dano ou restituição da coisa (na sua integralidade e
objetiva e, portanto, não é prevista na legislação penal. Já o até o recebimento da denúncia ou queixa);
Código Penal de 1940, contrariamente, previa a punição por crime c) voluntariedade.
culposo quando o agente causasse o resultado apenas por ter
infringido uma disposição regulamentar, como, por exemplo, dirigir Caso a reparação do dano ou a restituição da coisa seja parcial, será
sem habilitação legal, ainda que não houvesse imprudência, considerada apenas como atenuante conforme preceitua o artigo 65,III, b,
negligência ou imperícia; do Código Penal.
e) culpa mediata ou indireta: nesta espécie de culpa, o agente
indiretamente produz o resultado; é o caso de uma pessoa que CRIME IMPOSSÍVEL (ART. 17 CP)
atropela uma criança e, em razão disso, o pai atravessa a rua para Tem-se crime impossível quando, por ineficácia absoluta do meio ou
prestar socorro e acaba atropelado por outro veículo. por absoluta impropriedade do objeto, torna-se impossível a consumação
do delito.
GRAUS DE CULPA
Temos três graus de culpa: culpa grave, culpa leve e culpa levíssima. O crime impossível é também chamado de tentativa inidônea ou
Não há compensação de culpas em Direito Penal. inadequada, tentativa impossível ou quase-crime.
AGRAVAÇÃO PELO RESULTADO (ART. 19 CP) DESCRIMINANTES PUTATI VÁS (ART. 20, §1º, CP)
O artigo 19 do Código Penal visa a impedir a punição de alguém por Trata-se de erro de tipo permissivo, ou seja, erro sobre os requisitos
simples responsabilidade objetiva (ausência de dolo ou culpa). Para isso, fáticos de uma causa excludente de ilicitude. Neste caso, o agente supõe
determina que, pelo resultado que agrava especialmente a pena, só estar agindo amparado por uma das excludentes de ilicitude ou
responde o agente que o houver causado ao menos culposamente. Isto antijuridicidade (legítima defesa, estado de necessidade, estrito
posto, além do dolo e da culpa, temos uma outra forma de culpabilidade: o cumprimento do dever legal, exercício regular do direito).
preterdolo ou preterintenção.
Se o erro era inevitável, invencível, não há dolo nem culpa (CP, artigo
Assim, o crime qualificado pelo resultado também é denominado crime 20, §1º, 1ª parte).
preterdoloso, ou ainda preterintencional.
Se o erro era evitável, vencível, poderá haver punição a título de culpa
No dizer de Magalhães Noronha, há dois crimes na figura preterdolosa: (CP, artigo 20, § 1º, última parte).
o minusdelictum (o que o delinquentequeriapraticar), atribuível a título de Fernando Capez cita como exemplo: o sujeito está assistindo à
dolo, e o majus delictum (o que realmente se vem a verificar), imputado a televisão quando um primo brincalhão surge à sua frente disfarçado de
título de culpa. assaltante Imaginando uma situação de fato, na qual se apresenta uma
agressão iminente a direito próprio, o agente dispara contra o colateral,
Portanto, temos o crime preterdoloso quando o agente, por ação ou pensando estar em legítima defesa. A situação justificante só existe em sua
omissão, provoca, por culpa (negligência, imprudência ou imperícia), um cabeça; por isso diz-se legítima defesa imaginária ouputativa57.
resultado mais grave que o pretendido. Dolo no antecedente e culpa no
consequente. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (CR artigo 129, § ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO (ART. 20, § 2º, CP)
3º). Neste caso, o erro é causado por terceiro e, sendo assim, este
responderá pelo crime.
Neste caso, o agente é punido pela lesão corporal a título de dolo e
pela morte a título de culpa. Caso o terceiro tenha agido dolosamente, quer dizer intencionalmente,
responderá a título de dolo; se agiu culposamente, poderá responder a
ERRO DE TIPO (ART. 20 CP) título de culpa.
Ignorar é não saber; errar é saber mal (Paulo José da Costa Júnior).
Trata-se do erro (engano, desconhecimento) sobre elemento que constitua O provocado, ou seja, o sujeito que agiu pela provocação de terceiro,
o tipo (descrição legal do comportamento proibido) penal. Tal fato exclui o estará isento de pena caso o erro seja inevitável; se evitável, responderá a
dolo, mas permite a punição por culpa se houver previsão legal de conduta título de culpa por ter deixado de tomar os cuidados objetivos necessários.
culposa.
O erro pode ocorrer sobre os aspectos (elementos) objetivos, ERRO SOBRE A PESSOA (ART. 20, §3º, CP)
subjetivos e normativos do tipo. O erro versa sobre a pessoa: o agente atira em “A” por supor tratar-se
de “B”. Neste caso, não ocorre a isenção de pena e, para efeito de
Explicamos como exemplo a descrição do crime de furto: subtrair para qualificadoras, atenuantes, privilégios e agravantes, deve-se considerar a
si ou para outrem, coisa alheia móvel (CP, artigo 155). pessoa que o agente pretendia atingir e não a pessoa que foi vitimada.
a) elemento objetivo: subtrair coisa móvel;
b) elemento normativo: desconhecer o alcance de expressões ERRO SOBRE A ILICITUDE DO FATO OU ERRO DE PROIBIÇÃO
usadas, “coisa alheia móvel”; (ART. 21 CP)
c) elemento subjetivo: para si ou para outrem. Preceitua o artigo 21 do Código Penal: o desconhecimento da lei é
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
Ainda, como elementos constitutivos do tipo legal do crime devem ser se evitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço.
entendidos, além dos já supracitados, outros, quais sejam: as causas ou
circunstâncias que qualificam o crime ou aumentam a pena.56 Porquanto, o erro sobre a ilicitude do fato, advém de uma equivocada
compreensão da lei, levando o agente a pensar erroneamente que o fato é
permitido. Exemplo: eutanásia.
Louvável atitude do legislador em apenar mais brandamente aquele Com o sistema penitenciário há muito falido é questão primordial pen-
que tem uma maior possibilidade de ressocialização, tem a lei algumas sar em substitutos para a pena de prisão. As penas restritivas de direito
incoerências, que merecem ser estudadas mais a fundo. (chamadas, erroneamente, de penal alternativas) e a transação penal
surgiram com esse intuito. Interpretando o princípio da bagatela, deve haver
Reza o art. 4º da já citada lei que “não é punível a tentativa”. Ora, como uma grande desproporcionalidade entre a efetiva lesão ao patrimônio e a
fato tipificado e antijurídico, não consistir a lei apenas de crimes culposos pena cominada.
ou omissivos próprios, unisubsistentes ou habituais não há um motivo
aparente porquê o crime tentado não é punível. Segundo o grande mestre Há no crime de furto, art. 155 §2º a figura do Furto de pequeno valor,
Aníbal Bruno, “a tentativa é a figura truncada de um crime. Deve possuir ou furto privilegiado. Reza tal dispositivo que “se o criminoso é primário, e é
tudo o que caracteriza o crime, menos a consumação”. Ainda conforme o de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
ilustre autor, são elementos da tentativa: Ação que penetrou na fase de pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
execução do crime; interrupção dessa fase executiva por circunstância pena de multa.”. Conforme a jurisprudência dominante(JTACrSP 57/397-
alheia ‘a vontade do agente e, por fim, dolo em relação ao crime total. 398, 76/340, RT 462/460) e doutrinadores como E. Magalhães Noronha, a
expressão “pequeno valor” é aquela que não ultrapassa 1 salário mínimo à
Outro ponto da Lei de Contravenções Penais é a constante impaciência época do fato.
do legislador. Chamamos de “impaciência” quando o legislador tipifica um
crime que por si só não o constituiria. Ocorre quando é tipificado meros atos Com a máxima vênia do grande juspenalista, não nos parece razoável
preparatórios. Ainda nos dizeres de Aníbal Bruno “O crime define-se mate- definir um valor pois, como sabemos, um mesmo valor tem pesos diferentes
rialmente como a lesão ou ameaça a um bem jurídico tutelado pela lei para diferentes pessoas, v.g., 1 salário mínimo para um grande empresário
penal. Todo ato para penetrar nesta zona de ilicitude e ser punível como é um valor ínfimo, mas para um operário da construção civil ou uma empre-
crime precisa pelo menos constituir-se um perigo direito para o bem penal- gada doméstica, tal valor representa, no mais das vezes, todo seu ganho
mente tutelado, e esse é o momento que assinala o começo da execução. mensal.
O ato que ainda não constitui esse ataque direto ao objeto da proteção
penal é simples ato preparatório.” Para nós esse dispositivo do art. 155 norteia o princípio da insignificân-
cia penal.
Podemos notar a impaciência do legislador nos arts. 24, 25 e 54, quais
sejam, Instrumento de Emprego usual na prática de furto, posse não justifi- Como operadores do direito, devemos estar sempre atentos às muta-
cada de instrumento de emprego usual na prática de furto e exibir ou ter ções diárias da sociedade e, por um critério antes de razoabilidade do que
sob sua guarda lista de sorteio de loteria estrangeira. doutrinário não devemos apenar da mesma forma aquele que furtou uma
refeição para matar a fome e de seus familiares.
Sob pena de voltarmos à época Ditatorial, a Constituição Federal, em
seu art. 5º, LVII, consagra o Princípio da Presunção de Inocência. Sob uma O mesmo princípio deverá ser levado em conta na maioria dos disposi-
visão rígida, não poderia o legislador tipificar meros atos preparatórios, pois tivos previstos da Lei de Execução Penal pois, no mais das vezes, não
não há, aí, um perigo à sociedade ou ao Estado, sujeito passivo mediato de ocorre uma efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
Hipersonia - condição de sono exagerado, que não represente estados O que importa para avaliação de imputabilidade é o quadro sindromico;
de estupor, coma ou sono tóxico ou medicamentoso. Podemos distinguir o diagnóstico etiológico tem apenas uma importância secundária. Desta
CONCURSO DE PESSOAS A teoria do domínio do fato (de inspiração finalista, elaborada por
Welzel) considera que, em princípio, autor é o que realiza a ação descrita
no tipo. Mas também faz parte do conceito de autor o comando do curso
Há concurso de pessoas quando dois ou mais indivíduos concorrem
dos acontecimentos, ou o domínio finalístico do fato.
para a prática de um mesmo crime.
Assim, tanto é autor o executor material do fato, como o autor
O concurso é geralmente eventual, mas existe também o concurso
intelectual, que organizou e dirigiu a prática do crime.
necessário, em que o crime só se configura com pluralidade de agentes,
como no crime de quadrilha ou bando.
E partícipes, para a teoria do domínio do fato, seriam aqueles que
realizam ação diversa da descrita no tipo, ou que não tenham o domínio
A teoria monista considera que no concurso de pessoas há um só
finalístico do fato, embora concorram de algum modo para o resultado.
crime; a teoria pluralista, que há vários crimes, e a teoria dualística, que há
um crime em relação aos autores e outro crime em relação aos partícipes.
Requisitos do concurso de pessoas
Os requisitos do concurso de pessoas são os seguintes: 1º) pluralidade
A Reforma Penal de 1984 adotou a teoria monista, equiparando
de agentes (e de condutas); 2º) relevância causal das várias condutas com
autores e partícipes: quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
o resultado; 3º) identidade de crime; 4º) vínculo subjetivo entre os agentes.
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade (art. 29 do
CP).
Vínculo objetivo entre os agentes
Para a caracterização da co-autoria deve existir uma cooperação
Mas o Código Penal deu um tratamento especial à participação de
consciente recíproca, expressa ou tácita, entre os agentes, resultante de
menor importância, aproximando-se da teoria dualística. Para o Código
acordo prévio ou de um entendimento repentino, surgido durante a
Penal, portanto, autores e partícipes são iguais. Salvo no caso de
execução. A vontade de contribuir para o resultado comum deve ser
participação de menor importância, em que a pena se reduz de um sexto a
bilateral.
um terço.
“Não há co-autoria na colaboração unilateral” (Welzel, Derecho Penal
Alemán, Santiago, Editorial Jurídico, 1976, p. 155). “Não basta um
A forma mais comum de participação é a cumplicidade, que consiste
consentimento unilateral, devendo todos atuar em cooperação consciente e
numa atividade extratípica acessória, de auxílio ou colaboração com o
desejada” (Jescheck, Tratado de Derecho Penal, v. 11/941, Barcelona,
autor, como no fornecimento de uma viatura, no empréstimo consciente de
Bosch, 1981).
uma arma para o fim delituoso, ou na vigilância dos arredores.
Na participação, ao contrário, a cooperação pode ser unilateral, ou
Outra forma de participação é a instigação, que consiste no
seja, pode ser exercida sem que o autor principal consinta ou saiba do
convencimento de outrem à prática do crime.
auxilio prestado.
A co-autoria e a participação podem ocorrer até a consumação do
Exemplo clássico de participação unilateral é o da empregada que
crime. Após a consumação não há mais concurso de agentes, podendo,
deixa aberta de propósito a porta da casa do patrão, para facilitar a ação do
contudo, existir outro delito autônomo, como o favorecimento real (art. 349
ladrão, que sabe estar rondando a área.
do CP).
Como ensina Heleno Fragoso, “do ponto de vista subjetivo, a
A pena é graduada na medida da culpabilidade de cada agente. Se
participação requer vontade livre e consciente de cooperar na ação
algum das concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
delituosa de outrem. Não se exige o prévio concerto, bastando que o
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade na
partícipe tenha consciência de contribuir para o crime. A consciência da
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP).
cooperação pode faltar no autor, como no exemplo do criado que deixa
aberta a porta para facilitar o ladrão, que desconhece o auxílio. Como se
A simples ciência de que um crime será cometido, sem aviso à
percebe, o conteúdo subjetivo do comportamento do partícipe é diferente
autoridade (salvo no caso de obrigação legal), não constitui crme
do que se exige para o autor e bastaria isso para justificar a distinção que a
(JTACrimSP 72/23 1 e RJTJESP 92/426).
doutrina realiza’! (Comentários ao Código Penal, Nélson Hungria/Heleno
Fragoso, Rio, Forense, 1983, p. 516).
Excetua-se, por exemplo, o art. 320 do Código Penal, em que existe a
obrigação de providências ou de aviso à autoridade competente.
Jescheck, da mesma forma, esclarece que na participação “o autor
sequer necessita conhecer a cooperação prestada (a chamada
Aprovar a prática de um crime, ou estar de acordo com ele
Noções de Direito Penal 23 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
cumplicidade oculta)” (ob. cit., p. 962). A participação, ao contrário, parece possível, especialmente na forma
de instigação. Como bem ensina Stratenwerth, “não há dúvida de que se
A maioria dos autores nacionais, porém, tem ensinamento diverso. A pode instigar a um delito de omissão” (Derecho Penal, p. 317).
opinião predominante não procura estabelecer neste ponto uma fronteira
entre co-autoria e participação. Tanto num caso como noutro, não há Todavia, o concurso de pessoas em crime omissivo é tema de pouca
necessidade de acordo, bastando a consciência unilateral do co-autor ou do frequência na prática e de muita dúvida na doutrina.
partícipe de contribuir para o fato de outrem.
Para uns não há co-autoria nem participação na omissão (Welzel,
Comunicação de circunstâncias Fragoso). Para outros ambas as formas são possíveis (Jescheck). E para
Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter outros, ainda, não há co-autoria, mas pode haver participação
pessoal, salvo quando elementares do crime (art. 30 do CP). (Stratenwerth, Bacigalupo).
No peculato, por exemplo, a condição de funcionário público, de um Nestes casos, não há concurso de agentes. Só há um agente, o autor
dos participantes, comunica-se aos demais, se cientes desta condição, vez mediato.
que a mesma é elementar do crime. Assim, embora não sejam funcionários Autoria colateral
públicos, respondem os participantes pelo crime de peculato. Mas, se Dá-se a autoria colateral quando dois ou mais agentes procuram
ignoravam a condição do parceiro, responderão apenas por furto ou causar o mesmo resultado ilícito, sem que haja, porém, cooperação entre
apropriação indébita, conforme o caso. eles, agindo cada um por conta própria. A convergência de ações para o
resultado comum ocorre por coincidência e não por ajuste prévio ou
As circunstâncias objetivas se comunicam, desde que conhecidas cooperação consciente.
pelos participantes.
A e B, por exemplo, ambos de tocaia, sem saber um do outro, atiram
Comunicação de circunstâncias e infanticídio em C para matá-lo, acertam o alvo e a morte da vítima vem a ocorrer.
Há divergência na comunicabilidade das circunstâncias pessoais no
crime de infanticídio: matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio A decisão vai depender do que a perícia e as demais provas indicarem.
filho, durante o parto ou logo após (art. 123 do CP).
Se a morte ocorreu pela soma dos ferimentos causados pelo tiro de A e
Uma corrente entende que as circunstâncias da qualidade de mãe e do pelo tiro de B, ambos responderão por homicídio consumado.
estado puerperal comunicam-se ao co-autor ou partícipe, por serem
elementares do crime, respondendo todos, portanto, por infanticídio. Se a morte ocorreu tão-somente pelo tiro de A, responderá este por
homicídio consumado, e B por tentativa de homicídio.
Outro ensinamento entende que a comunicação da circunstância
pessoal privilegiadora só ocorre em relação ao partícipe e não ao co-autor. Se, porém, ficar demonstrado que C já estava morto pelo tiro de A,
Porque o co-autor realiza o núcleo do tipo do art. 121 —matar alguém —, quando o tiro de B o atingiu, responderá somente A por homicídio
devendo, portanto, responder por homicídio. consumado, militando a ocorrência de crime impossível em relação a B.
Concurso de pessoas em crime culposo Finalmente, se pela prova dos autos não for possível estabelecer qual
Pode haver co-autoria em crime culposo, como no caso de dois dos tiros causou a morte, estaremos diante de um caso de autoria incerta,
médicos imperitos realizando juntos uma operação. que examinaremos no item seguinte.
Outro exemplo, clássico, é o de dois operários que juntos lançam uma Autoria incerta
tábua do alto de um prédio, ferindo um transeunte. Dá-se a autoria incerta quando há dois ou mais agentes, não se
sabendo qual deles, com a sua ação, causou o resultado.
Entende a doutrina que no crime culposo não pode haver partícipe, vez
que a colaboração consciente para o resultado só existe no crime doloso. Nesta matéria pode haver dois tipos de incerteza: quando há ajuste ou
Entretanto, parece que é perfeitamente possível alguém instigar ou induzir cooperação consciente entre os participantes e quando não há ajuste ou
outrem à prática de ato imprudente ou negligente (não assim em relação à cooperação entre os participantes.
imperícia).
Existindo ajuste entre os autores do crime, todos combinados e
Culpas concorrentes resolvidos a praticar o fato, não há propriamente autoria incerta, mesmo
A culpa concorrente (ou concorrência de causas) ocorre quando não há não se sabendo qual deles desferiu o golpe, pois todos serão autores ou
conjugação consciente de atos culposos, respondendo cada um por sua partícipes. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
própria culpa, como na colisão de veículos em que ambos os motoristas penas a este cominadas (art. 29 do CP).
agiram com culpa.
Concurso de pessoas e crime por omissão Ainda que não haja ajuste prévio, a solução é a mesma, pois a co-
Na essência, a co-autoria é uma divisão de tarefas para a obtenção de autoria ou a participação ocorre não só no ajuste prévio, mas também na
um resultado comum. Assim, não parece possível a caracterização da co- adesão ou cooperação consciente, independentemente de acordo anterior.
autoria em crime omissivo, porque a tarefa de nada fazer não comporta
divisão de trabalho, sendo cada omissão completa e autônoma por si. Na hipótese, portanto, de ajuste ou cooperação consciente, não se
deve falar, no rigor da técnica, de autoria incerta, vez que todos, com
Na confluência de duas ou mais omissões, cada um responderá, certeza, são autores ou partícipes.
isoladamente, pela sua própria omissão.
Por outro lado, quando não existir nenhum ajuste ou cooperação entre
Neste caso (de autoria colateral e incerta), se não se puder atribuir com Ação penal pública – inicia se com o oferecimento da denúncia feita pe-
certeza a morte de C ao tiro de A ou ao tiro de B não se poderá condenar lo Ministério Público, quando houver indícios suficientes de autoria e
nenhum dos dois por homicídio consumado, respondendo ambos, porém, materialidade. A denúncia deverá conter: a) exposição do fato criminoso
por tentativa de homicídio, conforme a prova existente em relação a cada com todas as circunstâncias; b) a qualificação do acusado ou dados pelos
um. quais ele possa ser identificado; c) classificação do crime; d) rol de teste-
Em resumo, autoria colateral é a de agentes não ligados entre si, que munhas.
agem, porém, de modo paralelo, objetivando o mesmo fim, sem saber um
do outro. Na ação penal pública condicionada à representação deve conter o
A autoria incerta, no sentido técnico, é só a autoria incerta colateral, ou pedido/autorização do ofendido ou de seu representante legal que declara-
seja, quando não se apura qual dos agentes independentes causou o rá o desejo de que a persecução penal prossiga. O pedido pode ser verbal
resultado. ou oral.
Se houve ajuste ou cooperação consciente entre os agentes, não se A denúncia que não contenha a exposição do fato criminoso deverá ser
deve falar em autoria incerta, pois todos serão co-autores ou partícipes. rejeitada pelo juiz.
Erro sobre elementos do tipo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de IMPUTABILIDADE
11.7.1984)
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui
TÍTULO III
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Reda-
DA IMPUTABILIDADE PENAL
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Inimputáveis
Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desen-
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas cir-
volvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
cunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei
punível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
nº 7.209, de 11.7.1984)
11.7.1984)
Redução de pena
Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
11.7.1984)
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimen-
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação
to mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi-
mento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Erro sobre a pessoa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Menores de dezoito anos
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não i-
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputá-
senta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades
veis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
crime. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Emoção e paixão
Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei
11.7.1984)
nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitu-
I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
de do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de
11.7.1984)
um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se
Embriaguez
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. (Redação dada pela Lei nº
efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, prove-
niente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omis-
Coação irresistível e obediência hierárquica (Redação dada pela Lei
são, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
nº 7.209, de 11.7.1984)
minar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obe-
7.209, de 11.7.1984)
Noções de Direito Penal 27 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao acréscimos legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimen- Regras do regime fechado
to.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da
pena, a exame criminológico de classificação para individualização da
CONCURSO DE PESSOAS execução. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isola-
mento durante o repouso noturno. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
TÍTULO IV
11.7.1984)
DO CONCURSO DE PESSOAS
§ 2º - O trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na con-
Regras comuns às penas privativas de liberdade
formidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
compatíveis com a execução da pena.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada
11.7.1984)
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 3º - O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser di-
ou obras públicas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
minuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984) Regras do regime semi-aberto
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao conde-
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na nado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto. (Redação
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período
Circunstâncias incomunicáveis diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. (Redação
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de cará- dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº § 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a frequência a cursos
7.209, de 11.7.1984) supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Casos de impunibilidade
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo dis- Regras do regime aberto
posição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de res-
pelo menos, a ser tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ponsabilidade do condenado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
ESPÉCIES DE PENA. APLICAÇÃO DA PENA. § 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância,
trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permane-
CAPÍTULO I cendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. (Redação
DAS ESPÉCIES DE PENA dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 32 - As penas são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato
I - privativas de liberdade; definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo,
II - restritivas de direitos; não pagar a multa cumulativamente aplicada. (Redação dada pela Lei nº
III - de multa. 7.209, de 11.7.1984)
SEÇÃO I
DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE Regime especial
Reclusão e detenção Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, ob-
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, servando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem
semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, como, no que couber, o disposto neste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº
salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela 7.209, de 11.7.1984)
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Direitos do preso
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segu- Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda
rança máxima ou média; da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integrida-
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, in- de física e moral. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
dustrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou esta- Trabalho do preso
belecimento adequado. Art. 39 - O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe ga-
rantidos os benefícios da Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em 7.209, de 11.7.1984)
forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguin-
tes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais Legislação especial
rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 40 - A legislação especial regulará a matéria prevista nos arts. 38 e
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a 39 deste Código, bem como especificará os deveres e direitos do preso, os
cumpri-la em regime fechado; critérios para revogação e transferência dos regimes e estabelecerá as
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) infrações disciplinares e correspondentes sanções. (Redação dada pela Lei
anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la nº 7.209, de 11.7.1984)
em regime semi-aberto;
Superveniência de doença mental
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser reco-
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
lhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro
estabelecimento adequado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-
11.7.1984)
á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código. (Reda-
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Detração
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a pro- Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de
gressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de
Aborto provocado por terceiro Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
Pena - reclusão, de três a dez anos. cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - reclusão, de um a quatro anos. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pe-
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não la Lei nº 11.340, de 2006)
é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consenti- § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstân-
mento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência cias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um
terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
Forma qualificada § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumen- terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
tadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios emprega- (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
dos para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e
são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Perigo de contágio venéreo
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
Aborto necessário libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consen- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
timento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. § 2º - Somente se procede mediante representação.
Violência ou fraude em arrematação judicial Aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato
Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou ou legislatura (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena cor- do mandato ou da legislatura: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000))
respondente à violência. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº
10.028, de 2000)
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de di-
reito Oferta pública ou colocação de títulos no mercado (Incluído pela
Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de Lei nº 10.028, de 2000)
que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou a colo-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. cação no mercado financeiro de títulos da dívida pública sem que tenham
sido criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema centraliza-
CAPÍTULO IV do de liquidação e de custódia: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) 10.028, de 2000)
Art. 9º Fraudar a fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inse- Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, re-
rir, em documento comprobatório de investimento em títulos ou valores cursos provenientes de financiamento concedido por instituição financeira
mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele deveria constar: oficial ou por instituição credenciada para repassá-lo:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 10. Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela le-
gislação, em demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora Art. 21. Atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa identidade, para realiza-
ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores ção de operação de câmbio:
mobiliários: Pena - Detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, para o mesmo fim, so-
nega informação que devia prestar ou presta informação falsa.
Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à conta-
bilidade exigida pela legislação: Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de pro-
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. mover evasão de divisas do País:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 12. Deixar, o ex-administrador de instituição financeira, de apresen- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, pro-
tar, ao interventor, liquidante, ou síndico, nos prazos e condições estabele- move, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior,
cidas em lei as informações, declarações ou documentos de sua responsa- ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente.
bilidade:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 23. Omitir, retardar ou praticar, o funcionário público, contra dispo-
Art. 13. Desviar (Vetado) bem alcançado pela indisponibilidade legal sição expressa de lei, ato de ofício necessário ao regular funcionamento do
resultante de intervenção, liquidação extrajudicial ou falência de instituição sistema financeiro nacional, bem como a preservação dos interesses e
financeira. valores da ordem econômico-financeira:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorra o interventor, o liquidante ou
o síndico que se apropriar de bem abrangido pelo caput deste artigo, ou Art. 24. (VETADO).
desviá-lo em proveito próprio ou alheio. DA APLICAÇÃO E DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o contro-
Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em falência de insti- lador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os
tuição financeira, declaração de crédito ou reclamação falsa, ou juntar a diretores, gerentes (Vetado).
elas título falso ou simulado: § 1º Equiparam-se aos administradores de instituição financeira (Veta-
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. do) o interventor, o liquidante ou o síndico.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre o ex-administrador ou falido § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-
que reconhecer, como verdadeiro, crédito que não o seja. autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea reve-
lar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
Art. 15. Manifestar-se falsamente o interventor, o liquidante ou o síndi- reduzida de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)
co, (Vetado) à respeito de assunto relativo a intervenção, liquidação extra-
judicial ou falência de instituição financeira: Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no art. 268 do Código de
Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização Processo Penal, aprovado pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de
obtida mediante declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive 1941, será admitida a assistência da Comissão de Valores Mobiliários -
de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio: CVM, quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. disciplina e à fiscalização dessa Autarquia, e do Banco Central do Brasil
quando, fora daquela hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade
Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art. sujeita à sua disciplina e fiscalização.
25 desta lei, direta ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou Art. 27. Quando a denúncia não for intentada no prazo legal, o ofendido
deferi-lo a controlador, a administrador, a membro de conselho estatutário, poderá representar ao Procurador-Geral da República, para que este a
aos respectivos cônjuges, aos ascendentes ou descendentes, a parentes ofereça, designe outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou
na linha colateral até o 2º grau, consanguíneos ou afins, ou a sociedade determine o arquivamento das peças de informação recebidas.
cujo controle seja por ela exercido, direta ou indiretamente, ou por qualquer
dessas pessoas: Art. 28. Quando, no exercício de suas atribuições legais, o Banco Cen-
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. tral do Brasil ou a Comissão de Valores Mobiliários - CVM, verificar a ocor-
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: rência de crime previsto nesta lei, disso deverá informar ao Ministério
I - em nome próprio, como controlador ou na condição de administra- Público Federal, enviando-lhe os documentos necessários à comprovação
dor da sociedade, conceder ou receber adiantamento de honorá- do fato.
rios, remuneração, salário ou qualquer outro pagamento, nas con- Parágrafo único. A conduta de que trata este artigo será observada pe-
dições referidas neste artigo; lo interventor, liquidante ou síndico que, no curso de intervenção, liquidação
II - de forma disfarçada, promover a distribuição ou receber lucros de extrajudicial ou falência, verificar a ocorrência de crime de que trata esta lei.
instituição financeira.
Art. 29. O órgão do Ministério Público Federal, sempre que julgar ne-
Art. 18. Violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição cessário, poderá requisitar, a qualquer autoridade, informação, documento
financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de ou diligência, relativa à prova dos crimes previstos nesta lei.
que tenha conhecimento, em razão de ofício: Parágrafo único O sigilo dos serviços e operações financeiras não pode
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. ser invocado como óbice ao atendimento da requisição prevista no caput
deste artigo.
Art. 35. Revogam-se as disposições em contrário. Além do mais, compreende-se inserido no SFN, consoante art. 17, da
Brasília, 16 de junho de 1986; 165º da Independência 98º da República. mesma Lei, as instituições financeiras, as sociedades e fundos de investi-
mento preceituada nos arts. 49 e 50 da Lei 4.728/65 e, também, as outras
empresas, as quais dependem de autorização do Banco Central para
funcionar (art. 49, I e II, da Lei 4.728/65). Acrescente-se ao rol a Comissão
DO SUJEITO ATIVO NOS CRIMES CONTRA O SISTEMA FI-
de Valores Mobiliários, conforme arts. 8 e 9, da Lei 6.385/76.
NANCEIRO NACIONAL
Texto extraído do Jus Navigandi Portanto, depreende-se que buscaremos o conceito de Sistema Finan-
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2655 ceiro Nacional na Lei federal 4.595/64. Ela nos dará os contornos dos
crimes contra o SFN.
Reginaldo Gonçalves Gomes
analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, espe- Os tipos penais previstos na Lei federal 7.492/86, quando realizados,
cialista em Ciências Penais Penais pela Fundação Escola Ministério Público lesam o sistema financeiro nacional que deve ser entendido no sentido
de Minas Gerais, licenciado em Letras pela UFMG amplo de mercado financeiro, mercado de capitais, inseridos aí os seguros,
o câmbio, os consórcios, a capitalização ou qualquer outro tipo de poupan-
RESUMO ça que englobe a área do Direito Econômico.
Como consequência do Princípio da Reserva Legal ou Princípio da Le-
galidade, insculpido no inciso XXXIX do art. 5º da Constituição da República Desse modo, o objetivo da realização desta pesquisa é a análise do su-
Federativa do Brasil e no art. 1º da Código Penal Brasileiro, é necessário jeito ativo na Lei 7.492/86, bem como, abordar a temática da responsabili-
que existam bens jurídicos ou valores socialmente relevantes, subsumidos dade penal da pessoa jurídica. Pretende-se, ao final, apontar a qualidade
nas normas incriminadoras como objeto de proteção do tipo penal. jurídica dos sujeitos ativos responsáveis penalmente pelos crimes contra o
Desse modo, a Lei 7.492, de 16 de junho de 1986, norma especial, foi sistema financeiro.
criada para a proteção do sistema financeiro. Os crimes contra o sistema
financeiro mereceram atenção maior do legislador, pois a legislação penal O tema proposto trata da análise dos aspectos jurídicos do sujeito ativo
era falha em punir os crimes financeiros. Mormente, os crimes até, então, na Lei 7.492/86, que define os Crimes Contra o Sistema Financeiro. A
cometidos eram enquadrados nos tipos penais do Código Penal Brasileiro. pesquisa cinge-se no estudo dos efeitos da qualidade atribuída ao sujeito
Naturalmente, a Lei especial n.º 7.492/86 tem maior abrangência para punir ativo na Lei supracitada. Abordaremos, outrossim, a responsabilidade penal
tais crimes. da pessoa jurídica -- Societas delinquere non potest. Tema que tem susci-
tado muita reflexão dos penalistas brasileiros. Ressalte-se que é mister
O estudo proposto tem como tema o sujeito ativo na Lei 7.492/86 que perquirir acerca da prisão preventiva do acusado de crime definidos nesta
define os crimes contra o sistema financeiro nacional. Assim, investigare- Lei.
mos a qualidade jurídica do sujeito ativo para que possamos afirmar, se os Portanto, esta pesquisa limitar-se-á à análise da qualidade jurídica do
crimes instituídos pela lei em comento é comum ou próprio. sujeito ativo nos artigos 19, 20 e 21 da Lei 7.492/86, pois, entendemos que
os delitos estatuídos nestes artigos não ofendem a ordem econômica, bem
Assim, entendemos que o art. 25 da Lei 7.492/86 limitou a responsabi- jurídico tutelado pela norma federal.
lidade penal, apenas, aos Controladores, administradores, o interventor, o
liquidante ou o síndico de instituição financeira. Portanto, O sujeito ativo dos Por conseguinte, é mister compreender a qualidade jurídica do sujeito
artigos 19, 20 e 21, em tese, não responde pelos crimes contra o sistema ativo na estrutura da Lei 7.492/86, bem como, o brocardo jurídico Societas
financeiro nacional (Lei 7.492/86), cujo bem jurídico protegido é o sistema delinquere non potest.
financeiro nacional.
E, também, analisar, se os tipos penais da Lei 7.492/86 são comuns ou
Faz-se mister, outrossim, estudar a responsabilidade penal da pessoa especiais à luz das proposições já aceitas pelos diversos doutrinadores
jurídica para se entender porque esta não pode praticar os crimes preconi- brasileiros e estrangeiros e, também, jurisprudências dos Tribunais Fede-
zados na Lei 7.492/86. Ainda, discorreremos sobre a prisão preventiva, a rais.
suspensão condicional do processo e a ação penal.
O estudo não termina por aí, pois, é pertinente avaliar os pressupostos
Por conseguinte, para que possamos fazer uma análise crítica da qua- da prisão preventiva em cotejo com o art. 30, da Lei 7.492/86, já que ela
lidade jurídica do sujeito ativo da lei em comento, buscaremos subsídios no inova no art. acima citado.
Código Penal e leis federais especiais. Enfim, busca-se inserir o estudo da Ainda, deter-se-á na análise da qualidade jurídica do sujeito ativo nos
lei 7.492/86 no ordenamento jurídico como um todo. artigos 19, 20 e 21, da Lei 7.492/86.
Entendemos que o ordenamento jurídico brasileiro não acolheu a tese No primeiro capítulo, introduzimos o tema e suas nuances. No segun-
da responsabilidade penal da pessoa jurídica; do, trataremos do tema societas delinquere non potest. No terceiro, discor-
reremos sobre o bem jurídico. No quarto, analisaremos o conceito de
Finalmente, não vislumbramos um rigor técnico-legislativo na feitura da instituição financeira, sujeito ativo e discorreremos sobre a qualidade jurídi-
Lei 7.492/86, por isso, advêm muitas dúvidas com relação a sua interpreta- ca do sujeito ativo, os tipos penais comuns e próprios em cotejo com o
ção. Com o estudo do tipo penal e do sujeito ativo, pode-se aclarar o real Código Penal e Leis penais especiais, sujeito unissubjetivo e plurissubjeti-
alcance da Lei 7.492/86. vo, concurso de pessoas, sujeito ativo na Lei 7.492/86, o sujeito ativo nos
artigos 19, 20 e 21, a ação penal, suspensão condicional do processo (art.
Para realizar a presente pesquisa, utilizamos, conforme Lakatos; Mar- 89, Lei 9.099/95), penas substitutivas e, finalmente, a prisão preventiva.
coni, o método hipotético-dedutivo.(4)
As conclusões serão apresentadas no quinto capítulo.
Este método se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimen-
tos acerca da qual formula hipótese(s) e, pelo processo de inferência dedu- CAPÍTULO 2 - SOCIETAS DELINQUERE NON POTEST
tiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipóte- 2.1. Princípio da societas delinquere non potest
se. No caso desta pesquisa há uma hipótese básica. Discute-se muito, hoje, se é possível impor uma sanção penal à pessoa
jurídica, relegando a segundo plano o princípio da Societas delinquere non
Empregamos, ainda, como método de procedimento, o método exegé- potest.
tico, conforme Enrique Herrera.(5)
O momento é bastante oportuno para tal discussão, pois, moderna-
Este método analisa o problema limitando-se ao estudo e à análise de mente, é muito grande o número de pessoas que criam uma pessoa jurídica
disposições que regem uma situação. Entende-se que a investigação para delinquir. Desse modo, pensam que podem sair ilesos de uma conde-
jurídica se reduz a perquirir pela vontade do legislador no momento em que nação, ou mesmo, se acobertam com o manto da pessoa jurídica para se
a norma foi sancionada. Teoricamente, nada impede que se considerem a eximir de qualquer punição.
doutrina e a jurisprudência para aclarar o real alcance da norma.
Para atingir o fim desejado através desse método, utilizam-se distintos É, por isso, que há muitos juristas que defendem a imposição de san-
procedimentos, tal como a interpretação: 1) gramatical; 2) lógica; 3) teleoló- ção penal à pessoa jurídica.
gica. Por outro lado, aqueles que defendem que não é possível punir penal-
1) Entende-se como gramatical, a análise do significado das várias mente uma pessoa jurídica têm argumentos contundentes, pois, amparam-
acepções dos vocábulos, procurando descobrir qual deve ou pode se na exegese da própria Constituição de 1988 e do Código Penal Brasilei-
ser o sentido de uma frase, dispositivo ou norma, ro.
2) A lógica consiste em procurar descobrir o sentido e o alcance de
expressões de direito, estudando as normas em si, ou em conjun- 2.2. Posição doutrinária
to, por meio do raciocínio dedutivo, obter a interpretação correta. Acentua o eminente penalista Francisco de Assis Betti:
Pode-se recorrer a elementos extrínsecos à própria norma, como "Nos países cujos sistemas penais seguem princípios de direito conti-
seus antecedentes legislativos, fundamentos dos projetos, notas nental europeu rege o princípio societas delinquere non potest, não sendo
ou comentários do intérprete, doutrinas. Enfim, tudo que pode acla- admitida a punição das pessoas jurídicas ou das associações despersonali-
rar, em um contexto racional, à interpretação da lei. zadas, a não ser por sanções administrativas" (7)
Vale ressaltar aqui que toda teoria criada em torno da pessoa jurídica Por conseguinte, não foi intenção do legislador impor sanção penal às
aplica-se no direito civil e, inclusive, no direito administrativo. Por outro lado, pessoas coletivas. Pois, não poderia aplicar-lhes a pena de detenção ou
o escopo do direito penal é o "homem". Pois, somente este pode agir ou reclusão.
não agir (omitir).
Cumpre, outrossim, salientar o ensinamento do penalista Francisco
Existem doutrinadores que admitem a capacidade penal da pessoa ju- Munoz Conde(15) "Do que foi até agora exposto se depreende que só a
rídica, embasado na teoria da realidade das instituições jurídicas ou da pessoa humana, considerada individualmente, pode ser sujeito de uma
realidade jurídica. Fala-se que essa teoria é a mais aceita hodiernamente. ação penalmente relevante."
Realmente, pode ser no âmbito do direito civil. Segundo a teoria da realida-
de, tanto as pessoas jurídicas quanto as pessoas físicas são criadas pelo O Direito Penal "regula as relações do indivíduo com a sociedade."(16)
Direito que lhes confere personalidade.(12) Assim, ambas podem ser Assim, ao cometer um delito a pessoa física fica exposta ao jus puniendi do
sujeitos ativos de um crime, e por conseguinte, sofre a sanção penal. Estado. Da punição do Estado, sempre, advirá uma sanção penal, caso se
prove autoria e materialidade do crime.
Acrescente-se, ainda, que no Direito Penal anglo-americano, cujo sis-
tema é o da "Common Law", que consiste em analisar os "Precedent Ca- Portanto, a sanção penal não é impingida aleatoriamente. Haverá um
ses" para interpretar o caso concreto, vige a responsabilidade penal da processo antecedendo toda punição do Estado. Desse modo, existirá para
pessoa jurídica. o Estado a "pretensão punitiva" contra aquele que pratica a conduta proibi-
Já ensinava, há muitas décadas, Clóvis Bevilaqua que as pessoas jurí- As normas contidas no Código Penal acerca da responsabilidade penal
dicas não têm vida, "não tem existência biológica das pessoas natu- é harmoniosa. Elas se autocompletam na aplicação da pena.
rais."(19)
Harmonizando com os artigos estudados, também, há de se observar o
Assim, os ensinamentos de direito civil, de há muito tempo, ainda re- art. 59, para a fixação da pena.
verberam na doutrina penal de hoje.
O art. 59 estabelece os limites em que o juiz fixará a pena do autor do
Por fim, vige no Direito Penal moderno, o caráter pessoal do ilícito pe- ilícito penal.
nal, o princípio da culpabilidade, o princípio da personalidade da sanção O primeiro critério para fixar a pena é o da culpabilidade. Assim, para
penal e sua individualização conforme nossa Constituição da República que o agente responda penalmente, é necessário que haja culpabilida-
Federativa do Brasil.(20) de.(25)
Por conseguinte, a questão das sanções impingidas à pessoa jurídica Além do mais, na reconstrução do "fato histórico", o juiz há de inquirir
não deve ser tratada no âmbito do Direito Penal, pois, há outros meios de acerca do dolo e culpa do agente.(26) Todavia, mesmo havendo dolo, o
puni-la sem desprezar os postulados da responsabilidade subjetiva. agente não responde pelo crime, quando estiver amparado pelas excluden-
tes de antijuridicidade. (27)
2.3. O Código Penal Brasileiro
A legislação brasileira não acolheu a responsabilidade penal das pes- Assim, pergunta-se como as pessoas jurídicas poderiam ser responsá-
soas jurídicas. Analisando-se o Código Penal Brasileiro no que se concerne veis penalmente sem que tenham dolo ou culpa. Portanto, nosso sistema
ao crime e a pena, concluímos que aquele não faz qualquer alusão à san- jurídico nem sequer cogita da responsabilidade penal desses entes por ser
ção penal das pessoas jurídicas. inconcebível como o modelo jurídico vigente no Brasil.
Mormente, os artigos 18, inciso I, II e parágrafo único; 19; 20, § 1º, 2º e Além do mais, os artigos 1º ao 4º da Lei 7.210, de 11 de julho de 1984,
3º; 21, parágrafo único que tratam da imputabilidade penal. Ademais cite-se de execução penal, dá nos uma ideia de que o objetivo da execução penal
o artigo 59 que trata da pena. é a reeducação e a reinserção do preso na sociedade.(28)
Assim, estabelece o art. 18, I, do Código Penal: Por isso, dificilmente, poder-se-ia harmonizar os dispositivos do Código
"Art. 18: Diz-se o crime: Penal e da Lei de execução penal para imputar responsabilidade penal à
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de pessoa jurídica.
produzi-lo.
II - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudên- Por conseguinte, o melhor a se fazer é deixar a responsabilidade das
cia, negligência ou imperícia. pessoa jurídicas no âmbito civil e administrativo. Pois, o direito penal mo-
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser derno repugna a responsabilidade objetiva que, em última análise, em se
punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente." admitindo a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, estar-se-ia
acolhendo a responsabilidade objetiva.
Desse modo, para se punir o agente de um crime, é necessário que ele
tenha consciência e vontade para realizar o tipo penal.(21) 2.4. A Constituição da República Federativa do Brasil e a respon-
sabilidade das Pessoas Jurídicas no Direito Penal
A primeira parte do art. 18, inciso I, "doloso, quando o agente quis o re- Dispõem o art. 173, § 5º e 225, § 3º, da Constituição da República Fe-
sultado", traduz-se na vontade do agente em realizar a conduta proibida, derativa do Brasil:
isto é, há um ato volitivo para cometer o crime. "Art. 173, § 5º: A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos di-
rigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujei-
A segunda parte, "ou assumiu o risco de produzi-lo", diz que o agente tando-se às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados
não quer realizar o tipo penal, quer algo diferente, todavia, assume o risco contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular."
de produzir o resultado perpetrado pelo tipo penal. "Art. 225, § 3º: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
Conforme Julio Fabbrini Mirabete, a primeira parte do art. 18, I, há dolo penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
direto e na segunda parte, há dolo eventual.(22) danos causados."
Com salienta o eminente penalista Cézar Roberto Bitencourt: "O dolo é Discutem os doutrinadores, se, a partir, dos artigos 173, § 5º e 225, §
constituído por dois elementos: o cognitivo e o volitivo."(23) 3º, passou-se a admitir a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. São
muitos os que respondem positivamente. Todavia, entende-se que não
Assim, não se pode imputar um crime a um agente sem antes examinar É assim que afirma a penalista Sheila Jorge Selim de Sales:
sua vontade em aderir à ação ou omissão.(48) "Os tipos penais são, pois, juízos de valor realizados pelo legislador
sobre determinados comportamentos do homem, trazidos de maneira
Além do mais, nos crimes contra o sistema financeira, há de se avaliar factícia para o nosso sistema de leis, quando considerados contrários à
se a conduta do agente lesa diretamente o bem jurídico que, no caso em ordem social que o Direito quer proteger.
tela, é o sistema financeira nacional. Se não houver lesão a esse bem
jurídico, não haverá crimes contra o sistema financeiro. Assim, por ser o sujeito ativo indissociável do fato incriminado, o legis-
lador, em geral, não faz a ele qualquer referência: o tipo penal não diz
4.2 Conceito de sujeito ativo "aquele que matar alguém", mas, sim, "matar alguém".(56)
Segundo o magistério de Basileu Garcia, "sujeito ativo do delito, ou a-
gente, é quem o pratica. Só o homem, individualmente ou associado, pode Ocorrerá que algumas vezes o legislador inserirá nos tipos penais "de-
sê-lo."(49) terminada condição ou qualidade do sujeito ativo. Estes são chamados
crimes especiais ou próprios, como, por exemplo, o infanticídio."(57)
Ainda, Mirabete ensina que:
"sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta descrita na lei, ou Ainda, encontraremos como exemplo dessa qualidade ou condição do
seja, o fato típico. Só o homem, isoladamente ou associado a outros (co- sujeito ativo, no Código Penal: o art. 312, Peculato, o funcionário público;
autoria ou participação), pode ser sujeito do crime, embora na Antiguidade art. 302, o médico; art. 356, advogado ou procurador; art. 359 A, gestor
e na Idade Média ocorressem muitos processos contra animais. A capaci- público; art. 354, presos, detentos; art. 313- A, funcionário autorizado, art.
dade geral para praticar crime existe em todos os homens. "Capaz de ação 177 § 1º, Inciso I a VII, o diretor ou gerente.
em sentido jurídico – afirma Wessels – é toda pessoa natural independen-
temente de sua idade ou de seu estado psíquico, portanto também os Tais atributos descrevem o tipo penal, portanto, em não se encontran-
doentes mentais."(50) do-os, não haverá o crime perpetrado pelo tipo penal. Todavia, poderá
haver outro crime.
Assim, sujeito ativo é aquele que realiza o fato descrito no tipo penal.
Será sempre uma conduta humana a perpetrar o tipo penal. Todavia, os tipos penais, em geral, são comuns, pois, não se requer
uma qualidade ou condição especial do sujeito ativo para o cometimento do
Cézar Roberto Bitencourt ensina que: ilícito.
"o sujeito ativo é quem pratica o fato descrito como crime na norma pe-
nal incriminadora. Para ser considerado sujeito ativo de um crime é preciso 4.4. A Qualidade do sujeito ativo
executar total ou parcialmente a figura descritiva de um crime. O Direito Os delitos, em regra, podem ser cometidos por qualquer pessoa, toda-
positivo tem utilizado uma variada terminologia para definir o sujeito ativo via, alguns tipos penais requerem alguma condição ou qualidade do agente
do crime, alterando segundo o diploma legal e, particularmente, segundo a no momento do cometimento do ilícito.
fase procedimental. O Código Penal, utiliza agente (art.14, II), condenado
(art. 34) e réu (art. 44, II) para definir o sujeito ativo do crime; o Código de A qualidade ou condição pode ser de "fato ou jurídica". Ainda, a quali-
Processo Penal, por sua vez, utiliza indiciado (art. 5º, § 1º, b), acusado (art. dade ou condição de fato pode ser "natural ou social"(58)
185), réu (art. 188) e querelado (art. 51)."(51) Para José de Cirilo Vargas, "relativamente à qualificação do agente,
A ilustre penalista Sheila Jorge Selim de Sales além de conceituar su- pode ela ser natural (ou social) e jurídica (ou profissional)."(59)
jeito ativo faz uma distinção entre este e autor.
Ainda, assevera Heleno Cláudio Fragoso que "a qualidade do agente
Acentua ela que "o sujeito ativo é, portanto, o sujeito que pratica o fato exigida pela lei deve ser presente no momento da ação e o agente deve ter
descrito na norma penal incriminadora."(52) consciência da mesma. O erro a respeito é essencial."(60)
Por conseguinte, afirma a penalista que:
"Em todos os tipos penais vive um sujeito ativo. Por outro lado, a penalista Sheila Jorge Selim de Sales divide as quali-
Este é o ser humano, a pessoa natural. dades do sujeito ativo, apenas, em "natural e jurídica".(61)
No Direito Penal brasileiro, em que a imposição de uma sanção penal 4.5. Qualidade natural
assenta-se sobre o princípio da culpabilidade, apesar de não se cingir A qualidade natural advém de uma característica do ser humano ou
apenas a esta condição, sujeito ativo, como leciona Bento de Faria, é mesmo pode ser inerente a ele, tais como, o sexo, o parentesco, à naciona-
"...todo o ser humano de existência real, isto é, a pessoa individual, porque lidade, a condição biológica ou biopsicológica. Tais qualidade naturais
a vontade conceituada pelo direito penal, como capacidade ou faculdade de fogem ao controle do ser humano.
querer, somente existe na pessoa física."(53)
Essas qualidades naturais aparecem no Código Penal, nos seguintes
Portanto, o sujeito ativo é aquele que se subsume ao tipo penal, da artigos:
norma incriminadora. "Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após" (infanticídio), art. 123; "Aborto provocado pela gestante
4.3. Sujeito ativo no tipo penal da Parte Especial do Código Penal ou com seu consentimento", art. 124; "perigo de contágio venéreo, art. 130
O Sujeito ativo, em geral, não vem explícito no Código Penal. A norma e "perigo de contágio de moléstia grave", art. 131, (somente quem sabe que
incriminadora é dirigida àquele que realiza o tipo penal. Assim, o sujeito está contaminado e tem o dolo de contaminar outrem); "Exposição ou
ativo integra o tipo penal. abandono de recém-nascido, art. 134, ( a mãe que deu a luz ilicitamente ou
o pai adulterino ou incestuoso); "estupro", art. 213, "posse sexual mediante
Segundo a Professora Sheila Jorge Selim de Sales, "o sujeito ativo é, fraude, art. 215 e "sedução", art. 217 (só o homem pode cometer); "parto
pois, elemento do tipo penal." Ainda, citando Mariano Jimenez Huerta que suposto", art. 242, 1º parte; (62) "o rapto para fim de casamento, arts. 219 e
"o sujeito ativo, ao lado do bem jurídico tutelado e da conduta, são os 220, c/c art. 221, (somente o homem);(63)
requisitos mais elementares e comuns dos tipos penais."(54)
4.6. Qualidade jurídica
Ensina o penalista Heleno Cláudio Fragoso que "tipo é a descrição do A qualidade jurídica está agregada ao agente da conduta ilícita, poden-
comportamento proibido, compreendendo o conjunto das características do ser extraída de vários ramos do direito.
objetivas e subjetivas do fato punível. (...) a descrição legal de um fato que Assim, Afonso Reis, citado por Sheila Jorge Selim de Sales, "por cuali-
a lei proíbe."(55) ficación jurídica entiéndese aquella connotación personal que tien relevan-
Na Lei 7.492, de 16 de junho de 1996, a qualidade jurídica de Diretor, Para se verificar o concurso de pessoas, há os seguintes requisitos(73)
gerente, liquidante, interventor ou síndico configurará o tipo penal nos a) pluralidade de agentes e de condutas;
crimes contra o sistema financeiro nacional. b) relevância causal de cada conduta;
c) liame subjetivo entre os agentes;
4.9. Qualidade do sujeito ativo e leis penais especiais d) identidade de infração penal.
A qualidade jurídica do sujeito ativo, em muitas leis especiais, exerce
fundamental importância. Tendo, portanto, de ser levado em conta a condi- É importante ressaltar que o agente tem de aderir à vontade do outro.
ção de fato ou jurídica do sujeito ativo no momento da ação ou omissão. Os dois agentes têm de ter vontade de praticar o mesmo crime. Essa
unidade de desígnios é importante para caracterizar o concurso de pesso-
O tipo penal, nessas leis especiais, atribui responsabilidade penal ao as.
sujeito ativo que tem alguma peculiaridade, uma qualidade jurídica. Ocorre
o mesmo nos crimes de responsabilidade de agente público. Nesses tipos O tipo penal, às vezes, pode ser realizado por pessoa que desconhece
penais, a lei especifica a quem é dirigida a norma. o fato como sendo ilícito, isto é, um agente utiliza uma certa pessoa, sem
que ela o saiba, para praticar um crime. Nesse caso, tal pessoa não res-
Verifica-se, portanto, que se pessoa diversa prática o fato descrito na ponde pelo crime induzido por terceiro. Pode ocorrer, também, que o agen-
norma penal, senão àquela com a qualidade requerida pelo tipo penal, o te obtenha ajuda no cometimento de um crime. Assim, a pessoa que auxilia
crime seria outro ou mesmo a ação ou omissão do agente seria irrelevan- não pratica o crime diretamente, apenas, tem uma participação.(74)
te.(70) Assim, as pessoas que concorrem para o crime respondem "na medida
de sua culpabilidade".
Desse modo, tais leis especiais são de suma importância ao ordena-
mento jurídico. Dentre muitas, podemos citar as seguintes: Lei No 7.492, de Nos crimes próprios, as circunstâncias pessoais podem se comunicar,
16 de Junho de 1986; Decreto-Lei N.º 201, de 27 de Fevereiro de 1967; se forem elementares do crime. Esta é a regra do art. 30 do Código Penal:
Lei N.º de 1.079, de 10 de Abril de 1950; Lei N.º 4.898, de 9 de Dezem- "Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
bro de 1965; Lei N.º de 7.106, 28 de Junho de 1983; Lei N.º 8.137, de 27 salvo quando elementares do crime."
de Dezembro de 1990; Lei N.º 8.429, de 2 de Junho de 1992; Lei N.º
9.504, de 30 de Setembro de 1997; Decreto-Lei N.º 1.001, de 21 de Outu- Nos crimes preconizados pela Lei 7.492/86, nota-se que a condição ju-
bro de 1969 – Código Penal Militar: rídica de Diretor, Gerente, interventor, liquidante ou síndico pode comuni-
car-se àquele que com estes cometerem crimes contra o sistema financei-
5.0. Tipos unissubjetivos e plurissubjetivos ro. Assim, responderão como se tivesse a qualidade jurídica requerida pela
Os tipos penais unissubjetivos são aqueles praticados por um só sujei- lei.
to. Nada obsta que a conduta do tipo penal seja praticada por duas ou mais
pessoas, aí, então, teremos o concurso de pessoas. Naturalmente, os agentes envolvidos no crime têm de ter ciência e von-
tade para realização do tipo penal.
Segundo a penalista Sheila Jorge Sales de Selim,
"nos tipos penais unissubjetivos, o concurso de agentes é, sempre, e- Ensina a professora Sheila Jorge Selim Sales(75)
ventual. Como ensina Aníbal Bruno, "no concurso eventual, há apenas uma "Ressaltamos, todavia, que a comunicabilidade desta circunstância
maneira particular de realizar o fato delituoso, a concorrência de vários pressupõe o seu efetivo conhecimento por parte de todos aqueles que
autores, que poderia deixar de existir e o crime resultar do mesmo mo- concorrem para a realização do tipo penal mencionado."
do."(71)
É muito comum nos crimes contra o sistema financeiro haver pluralida-
Os tipos penais praticados por um só agente constitui a regra geral no de de agentes, pois, essa espécie de crime, por ser muito complexo, sem-
Código Penal e nas leis especiais. O exemplo mais comum é o art. 121, pre exige duas ou mais pessoas para realizá-lo.
"matar alguém" (crime de homicídio).
Ocorre, ainda, que as pessoas jurídicas são usadas para a realização
Os tipos penais plurissubjetivos requerem dois ou mais agentes para de crimes contra os sistema financeiro. Nesses casos, sem sombra de
realizar o tipo penal. A vontade dos agentes tem de ser dirigida para um dúvida, pessoas físicas que a administram agem em seu nome. Portanto,
mesmo fim, isto é, para a realização do mesmo tipo penal. Alguns autores serão essas pessoas autores dos crimes, agindo em concurso eventual.
se referem a esses crimes como sendo de concurso necessário.
Nesse sentido, afirma o penalista Cláudio Heleno Fragoso(76)
Geralmente, o Código Penal e as leis especiais trazem no tipo penal a "A pessoa jurídica, que pode ser sujeito passivo de crime, não pode ser
pluralidade de agentes que podem cometer o crimes. autor (pois é incapaz de ação e de culpa), independentemente das pessoas
físicas que agem em seu nome. Estas serão os autores do crime, quando
A penalista Sheila Jorge Selim de Sales traz os seguintes exemplos de agirem em representação, por conta ou em benefício de pessoa jurídica,
tipo penal plurissubjetivos(72) segundo as regras gerais da responsabilidade penal."
1.rixa, art. 137;
2.esbulho possessório, art. 161, § 1º, II; 5.2. Sujeito ativo na Lei 7.492/86
3.paralisação de trabalho de interesse coletivo, art. 201; Somente, o homem pode ser sujeito ativo, pois, o delito é uma ação
4.quadrilha ou bando, art. 288; humana.
5.motim de presos, art. 354. Assim é que estabelece o art. 25 da Lei 7.492/86:
"Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o contro-
5.1. Concurso de pessoas lador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os
O estudo do concurso de pessoas é muito complexo e árduo. Portanto, diretores, gerentes (Vetado).
abordaremos sucintamente o tema, sempre, em cotejo com a lei n.º §1º. Equiparam-se aos administradores de instituição financeira (Veta-
7.492/86. do) o interventor, o liquidante ou o síndico."
Na maioria dos artigos da Lei em comento, o sujeito ativo é reconheci- Assim, o dispositivo estaria consagrando o princípio da responsabilida-
do de imediato, tais como os artigos 5º, 12, 13, parágrafo único, 15, 17 e de subjetiva na lei 7.492/86.
23. Entretanto, nos artigos 2º, 3º, 6º, 7º, 8º, 9º, 11, 14, 16, 18, 22, o sujeito
ativo é inferido a partir da descrição do tipo, pois, somente, quem tem uma Corroborando essa tese, Cezar Roberto Bitencourt sustenta que a res-
determinada qualidade ou condição jurídica poderá realizar tais tipos pe- ponsabilidade penal dos controladores e administradores de instituição
nais. financeira somente poderá ser a responsabilidade subjetiva, pois é a que
melhor traduz os ditames da Constituição da República Federativa do Brasil
Assim, a técnica-legislativa usada causa uma certa dubiedade, pois, e o Código Penal.(79)
aponta em alguns tipos penais o sujeito ativo e em outros não.
Também, penalista Francisco de Assis Betti afirma que somente o ho-
Naturalmente, o art. 25 traz todo esclarecimento a quem destinará a mem pode cometer delito, portanto; a responsabilidade só pode ser subjeti-
norma penal, isto é, somente controladores, administradores (Diretores, va.(80)
gerentes), interventor, liquidante, interventor poderão realizar os tipos
penais na Lei 7.492/86. Por conseguinte, observamos que a interpretação do art. 25, da Lei
7.492/86 encontra consenso entre os dois autores acima citados. A análise
No Código Penal, o tipo penal é comum ou próprio. Quando o tipo é cinge-se, apenas, sob o prisma da responsabilidade subjetiva dos agentes
próprio, este vem expresso com as seguintes expressões: Código Penal- indicados no art. 25.
Parte Especial - Título XI, Dos crimes contra a administração pública,
Capítulo I, Dos crimes praticados por funcionários público contra a adminis- Ainda, há uma outra interpretação do art. 25 que corrobora as afirma-
tração em geral: artigos 312 ao 326. Assim, os tipos penais dos arts. 312 a ções ora exposta e acrescenta. Assim, o eminente Professor Rodolfo Tigre
326 só podem ser realizados por funcionário público. Maia defende que a enumeração do art. 25 não restringe a responsabilida-
de penal às pessoas ali mencionada, trata-se de presunção iuris tan-
Ainda, o tipo penal do art. 177, § 1º, I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, só tum.(81)
pode ser realizado por diretor, gerente ou fiscal. È crime próprio.
Note-se que o eminente penalista Rodolfo Tigre Maia afirma que os
No que tange às leis especiais, não é diferente a técnica-legislativa. crimes estatuídos na Lei 7.492/86 são comuns e próprios. Ora o tipo penal
Haja vista, a Lei n.º 8.137, de 27 de dezembro de 1990, que define crimes se apresenta como comum, ora ele se apresenta como próprio.
contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo.
Código Penal Brasileiro. 6ª ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001 em Sem sombra de dúvidas, teria razão o eminente penalista, se não hou-
que define crime comum no CAPÍTULO I, Dos Crimes Contra a Ordem vesse o art. 25 que limitou a responsabilidade penal ao controlador e admi-
Tributária, Seção I, Dos crimes praticados por particulares e crime próprio nistradores. Portanto, tornou todos os tipos penais próprios, por disposição
na Seção II, Dos crimes praticados por funcionários públicos. expressa.
Cite-se, também, o Decreto-Lei N.º 1.001, de 21 de Outubro de 1969, E, assim, entende o professor Francisco Assis Betti:
Código Penal Militar, dentre muitas outras leis especiais. "[...] Os crimes da Lei 7.492/86, como se observa, são próprios porque
exigem capacidade especial de seu autor, consubstanciada no poder de
Desse modo, não resta dúvida quanto a quem cabe a responsabilidade realizar ou determinar a realização do ilícito."(82)
penal nessas leis especiais.
O interventor, liquidante e o síndico têm responsabilidade semelhante
No entanto, não foi usada a mesma técnica-legislativa na lei 7.492/86 aos diretores e gerentes, por disposição expressa do parágrafo 1º, art. 25.
que usa vários tipos penais diferentes.
O conceito de controlador e administradores ainda é bastante discutí-
Ocorre que ao Interpretar o artigo 25, da lei 7.492/86, chega-se a con- vel. Mormente, porque não há, na lei, uma definição clara da função dessas
clusão que ele limita a responsabilidade penal de modo que não deixa pessoas.(83)
pairar qualquer dúvida quem pode realizar o tipo penal.
Entendemos que o art. 25, da Lei 7.492/86, ao nomear os agentes que
Temos de interpretar o dispositivo, ora em comento, restritivamente, is- poderiam a vir responder pelos delitos contra o sistema financeiro, referiu-
to é, se o art. 25 diz que são responsáveis penais, nos termos da lei, ape- se ao controlador erroneamente, pois o conceito que encontramos de
nas, o controlador, administrador, liquidante, síndico ou interventor. É claro controlador é aquele do art. 116, da Lei 6.404/76 que preceitua: "Entende-
que o dispositivo abarcou toda lei, portanto, todos os crimes estatuídos por se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de
esta lei é próprio. pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: [...]."
Ensina o pranteado Carlos Maximiliano que quanto às leis penais: Bem, com relação à pessoa natural, é óbvio que ela pode ser sujeito a-
"A exegese deve ser criteriosa, discreta, prudente; estrita, porém não tivo de delito, conforme discorrido anteriormente. Todavia, a pessoa jurídica
restritiva. Deve dar precisamente o que o texto exprime, porém tudo o que não poderia ser apenada e muito menos um grupo de pessoas indistinta-
no mesmo se compreende; nada de mais, nem de menos. Em uma palavra, mente.
será declarativa, na acepção moderna do vocábulo."(77)
Como já foi dito, somente a pessoa física pode ser sujeito ativo dos
Portanto, a lei estabelece que quando os agentes de ilícito penal tive- crimes estatuídos na Lei 7.492/86, pois o delito é uma ação humana. O
rem a qualidade jurídica indicada no art. 25 serão processados por crimes sujeito ativo é aquele que pratica o fato descrito no tipo penal. É o homem,
contra o sistema financeiro. Se não tiverem essa qualidade não poderão ser a pessoa natural, somente.
processados por crime contra o sistema financeiro, mas, sim outro crime.
Portanto, temos de afastar essa interpretação, pois, o acionista contro-
Nesse sentido, Cláudio Heleno Fragoso assevera que "a qualidade do lador não será sempre pessoa natural, conforme a Lei 6.404/76.
agente exigida pela lei deve ser presente no momento da ação e o agente
deve ter consciência da mesma. O erro a respeito é essencial."(78) Então, o controlador aludido na Lei 7.492/86 carece de conceito tanto
no Direito penal quando no Direito Comercial e Trabalhista.
Naturalmente, somente no caso concreto, poder-se-ia fazer uma análi- Ocorre que se uma pessoa realizar o tipo penal do art. 20, da Lei
se mais acurada e aí adequar o caso concreto à norma. Nesse caso, o juiz 7.492/86 seria apenado tão severamente quanto a personagem, Antônio,
deverá ficar atento aos fatos que descrevem a conduta do agente que do Mercado de Veneza, de William Shakespeare. Antônio é fiador de Bis-
cometeu um ilícito para que possa através da melhor exegese adequá-los à sâncio em contrato comercial em que este faz com Shylock, o judeu. Esti-
norma. Pois, não se pode admitir, no moderno Direito Penal, encaixar o tipo pulam que caso Bissâncio não tenha condições de pagar o que deve,
penal no caso concreto, mas sim, a partir de uma análise acurada do caso Shylock retiraria um libra de carne de Antônio. E, Bissâncio acaba não
concreto, se subsumi-lo ao tipo penal. Se se proceder como no primeiro, podendo pagar o que deve. Então, o conflito vai parar na justiça que análise
estaríamos afirmando que todas as pessoas são iguais quando realizam o caso concreto e decide.(89)
uma conduta proibida, esquecendo de considerar os fatos sociais, as
circunstâncias nas quais houve o delito. Todos esses aspectos da ação Vê-se que a questão da interpretação é algo que transcende a letra da
humana deverão ser analisados no momento do desvalor da ação para que lei. Nossos excelsos pretórios não podem ficar adstrito à letra morta da lei e
assim possamos buscar uma norma que melhor descreva aquela ação do muito menos aos Acórdãos ou Jurisprudência de Tribunal superior. Há se
agente, sem nos atentar contra os princípios constitucionais de defesa do fazer toda uma exegese em busca do real alcance da norma.
cidadão, mormente os da proporcionalidade e legalidade.
O eminente Carlos Maximiliano faz uma brilhante observação:
O art. 20 é o mais preocupante da Lei 7.492/86. Imagine-se que do "Em virtude da lei do menor esforço e também para assegurarem os
simples fato de fazer um empréstimo e deliberadamente usá-lo para um fim advogados o êxito e os juízes inferiores a manutenção das suas sentenças,
que não constava do contrato, a pessoa poderá realizar a conduta descrita do que muitos se vangloriam, preferem, causídicos e magistrados, às
no art. em comento; estando sujeito a uma pena de 2 a 6 anos de reclusão exposições sistemática de doutrina jurídica os repositórios de jurisprudên-
e multa. cia. Basta a consulta rápida a um índice alfabético para ficar um caso
liquidado, com as razões na aparência documentadas cientificamente. Por
É um rigor excessivo com aquele cidadão que toma um empréstimo, isso, os repertórios de decisões em resumo, simples compilações, obtêm
mas, em determinado momento, julga mais conveniente usá-lo de outra esplêndido êxito de livraria.
forma.
Há verdadeiro fanatismo pelos acórdãos: dentre os frequentadores dos
Pode-se até se concluir que houve uma quebra de contrato por não ter pretórios, são muitos os que se rebelam contra uma doutrina; ao passo que
usado o objeto do contrato para um fim determinado. Então em se havendo rareiam os que ousam discutir um julgado, salvo por dever de ofício, quan-
tal quebra, pode-se culminar multa. Assim, o Direito Civil serve perfeitamen- do pleiteiam a reforma do mesmo. Citado um aresto, a parte contrária não
te para esses casos. se atreve a atacá-lo de frente; prefere ladeá-lo, procurar convencer de que
se não aplica à hipótese em apreço, versara sobre caso diferente.
Portanto, invocar preceitos do Direito Penal para amparar uma tipifica- [...] Quando a lei é nova, ainda os seus aplicadores atendem à teoria,
ção de condutas, tal como o de "aplicar, em finalidade diversa da prevista compulsam tratados, apelam para o Direito comparado; desde, porém, que
em lei ou contrato, recursos provenientes de financiamento concedido por aparecem decisões a propósito da norma recente, volta a maioria ao traba-
instituição financeira oficial ou por instituição credenciada para repassá-lo" lho semelhante à consulta a dicionários. "Copiam-se, imitam-se, contam-se
não é o melhor caminho para se resolver certos problemas sociais os quais os precedentes; mas de pesá-los não se cuida". Desprezam-se os trabalhos
poderiam ser deixados para o Direito Civil. diretos sobre os textos; prefere-se a palavra dos profetas às tábuas da
lei."(90)
Ensina Maurício Antônio Ribeiro Lopes:
"Foi observado por Roxin, citado por Nilo Batista, que a utilização do di- Por conseguinte, afirmamos que os tipos penais dos artigos 19, 20 e
reito penal onde bastem outros procedimentos mais suaves para preservar 21, da Lei 7.492/86 não constituem crimes contra o sistema financeiro por
e reinstaurar a ordem jurídica não dispõe da legitimação da necessidade não se vislumbrar a condição ou qualidade jurídica expressa no tipo do art.
social e perturba a paz jurídica, produzindo efeitos que afinal contrariam os 25.
objetivos do Direito."(87)
5.4. A Ação penal
E, ainda, afirma o mesmo autor que: Segundo Mirabete a ação é penal é a "atuação correspondente ao di-
"Tem-se entendido, ainda, que o Direito Penal deve ser a ratio extrema, reito à jurisdição que se exercita perante os órgãos da Justiça Criminal", ou
um remédio último, cuja presença só se legitima quando os demais ramos "o direito de pedir o ao Estado-Juiz a aplicação do Direito Penal Objetivo",
do Direito se revelaram incapazes de dar a devida tutela a bens relevância ou, ainda, o direito de invocar-se o Poder Judiciário para aplicar o direito
para a própria existência do homem e da sociedade. penal objetivo."(91)
Como ensina Munoz Conde sua intervenção apenas se dá quando fra- O sujeito ativo da ação penal é o Estado que exerce o jus puniendi.
cassam as demais barreiras protetoras do bem jurídico predispostas por Todavia, há bens jurídicos que são muito sensíveis para se proteger, nes-
outros ramos do Direito. ses casos o Estado outorga o direito de exercer a ação penal ao ofendido.
Exemplo disso, encontramos nos artigos 138 a 140 do Código Penal (cri-
Como ensina Maurach, não se justifica aplicar um recurso mais grave mes contra a honra).
quando se obtém o mesmo resultado através de um sistema mais suave.
Trata-se, ademais disso, de simplesmente conferir atualidade ao teor do art. Em regra, a ação penal é pública, isto é, o exercício do direito da ação
8º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e seguir penal é do Estado que atua através do Ministério Público. Porém, sendo o
as lições seculares de Beccaria."(88) exercício desse direito outorgado ao ofendido, a própria lei vai preceituar. É
o que reza o art. 100, do Código Penal: "A ação penal é pública, salvo
Portanto, podemos afirmar que, no que tange ao tipo penal do art. 20, o quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido."
Direito Civil poderia ser fonte para resolução das questões que envolvam os Segundo Sheila Jorge Selim Sales "ao determinar-se a ação penal, no
contratos de financiamento. Código penal, o legislador tem em vista o objeto jurídico tutelado nos tipos
5.5. Suspensão condicional do processo - Art. 89, da Lei 9.099/95 - Observe-se que se aplicadas todas as normas referentes à suspensão
e penas substitutivas condicional do processo ou à substituição da pena de prisão por restritivas
A suspensão condicional do processo foi introduzida pelo art. 89, da Lei de direito. Chegamos à conclusão que, em se preenchendo todos os requi-
9.099, de 26 de setembro de 1995. sitos legais, o agente que venha a praticar delitos contra o sistema financei-
ro, em tese, não irá para prisão.
Preceitua o art. 89: "Nos crimes em que a pena mínima cominada for
igual ou inferior a um ano, abrangidas dou não por esta Lei, o Ministério 5.6. Prisão preventiva
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, O art. 30, da Lei 7.492/86 preceitua que:
por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado "Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal,
ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisi- aprovado pelo Decreto-lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941, a prisão
tos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP)" preventiva do acusado da prática de crime previsto nesta lei poderá ser
decretada em razão da magnitude da lesão causada (VETADO)."
A suspensão condicional do processo constitui direito subjetivo do ar- Além das hipóteses do art. 312 do Código de Processo Penal(97) para
guido ao benefício legal, desde que preenchidos os requisitos legais.(95) a decretação da preventiva, o art. 30, da lei em comento, estabeleceu mais:
a magnitude da lesão ao sistema financeiro.
Assim, por força do art. 12 do Código Penal, aplica-se o art. 89, da Lei
9.099/95 à Lei 7.492/86. Aos crimes em que a pena cominada seja igual ou O art. 30 deve ser interpretado à luz do art. 312, do CPP que estabele-
inferior a um ano, deverá ser proposta a suspensão condicional do proces- ce ser indispensável os pressupostos da materialidade e a autoria do ilícito
so. Isso será feito quando o Ministério Público oferecer a denúncia. Não para que se possa aventar a possibilidade da decretação da preventiva.
oferecida a proposta pelo Ministério Público, o arguido poderá solicitá-la ao
Juiz. Vale, aqui, perguntar: Se a "magnitude da lesão causada" é fundamen-
Os crimes cuja pena cominada igual ou inferior a um ano na Lei to estanque à decretação da prisão cautelar?
7.492/86 são os seguintes: Art. 8º, 9º, 10, 11, 12, 16, 18, 21, 23, O professor Rodolfo Tigre Maia pondera que a exegese do art. 30 deve
Além do direito à suspensão condicional do processo do sujeito ativo ser restritiva e a decretação tem de seguir os ditames do art. 312 da
nos crimes contra o sistema financeiro, este tem o direito a pena substituti- CPC.(98)
va de prisão por penas restritivas de direitos nos crimes contra o sistema
financeiro. A decretação da prisão preventiva não pode ser determinada ao alve-
drio da órgão jurisdicional. È mister que se faça uma análise acurada dos
Reza o Código Penal: fatos. Pois, a status libertatis do ser humano é a regra a ser seguida.
"Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando: É essa a exegese do art. 5º, LXI, da Constituição da República que
I- aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos preceitua: "que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pes- escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos
soa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo: casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definido em lei"
Art. 18. Violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição Art. 29. O órgão do Ministério Público Federal, sempre que julgar ne-
financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de cessário, poderá requisitar, a qualquer autoridade, informação, documento
que tenha conhecimento, em razão de ofício: ou diligência, relativa à prova dos crimes previstos nesta lei.
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único O sigilo dos serviços e operações financeiras não pode
ser invocado como óbice ao atendimento da requisição prevista no caput
Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira: deste artigo.
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo
cometido em detrimento de instituição financeira oficial ou por ela credenci- Penal, aprovado pelo Decreto-lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941, a
ada para o repasse de financiamento. prisão preventiva do acusado da prática de crime previsto nesta lei poderá
ser decretada em razão da magnitude da lesão causada (VETADO).
Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, re-
cursos provenientes de financiamento concedido por instituição financeira Art. 31. Nos crimes previstos nesta lei e punidos com pena de reclusão,
oficial ou por instituição credenciada para repassá-lo: o réu não poderá prestar fiança, nem apelar antes de ser recolhido à prisão,
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. ainda que primário e de bons antecedentes, se estiver configurada situação
que autoriza a prisão preventiva.
Art. 21. Atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa identidade, para realiza-
ção de operação de câmbio: Art. 32. (VETADO).
Pena - Detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, para o mesmo fim, so- § 2º (VETADO).
nega informação que devia prestar ou presta informação falsa. § 3º (VETADO).
Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de pro-
mover evasão de divisas do País: Art. 33. Na fixação da pena de multa relativa aos crimes previstos nesta
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. lei, o limite a que se refere o § 1º do art. 49 do Código Penal, aprovado pelo
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, pro- Decreto-lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de.1940, pode ser estendido até o
move, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, décuplo, se verificada a situação nele cogitada.
ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente. Art. 34. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
14) Um funcionário público que revelar à parte fato que deveria permanecer 24) Quem oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público, para
em segredo, pratica crime contra: determina-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício, comete o crime
a) a administração da justiça de:
b) a fé pública a) corrupção passiva
c) incolumidade pública b) sonegação
d) a administração pública c) corrupção ativa
d) n.d.a.
15) Uma pessoa que humilha funcionário público, no exercício de suas
funções, pratica: 25) Entre os crimes praticados por particular contra a administração em geral
a) desobediência não se encontra:
b) resistência a) o de resistência
c) desacato b) o de desobediência
d) injúria c) o de desacato
d) n.d.a.
16) O crime de resistência configura-se:
a) quando o particular se opõe, de qualquer forma, à execução do ato legal 26) A pessoa que, perante o Oficial de Justiça em exercício da função e no
b) quando o particular se opõe à execução do ato legal, mediante violência cumprimento de mandado judicial, destrata-o, dele escarnecendo e ras-
ou ameaça ao funcionário competente para executa-lo ga-lhe o mandado, junto ao rosto, incorre:
c) quando o particular impede a execução de ato do funcionário competente a) em simples sanção administrativa
para executa-lo, mediante fraude b) em delito de desobediência
d) quando o particular impede a execução do ato do funcionário competente c) em crime de desacato
para executa-lo, mediante informações falsas d) n.d.a.
17) A retratação, no crime de falsa perícia: 27) Depondo como testemunha no processo criminal, sobre fatos de que teve
a) torna impunível o fato, se ocorre antes da sentença conhecimento, a pessoa que cala a verdade, apesar de inquirida pelo
b) torna impunível o fato, se ocorre após a sentença magistrado, comete:
c) torna impunível o fato, se ocorre antes do interrogatório a) silêncio culposo
d) torna impunível o fato, se ocorre após o interrogatório b) falsidade testemunhal
c) perjúrio
18) Solicitar ou receber dinheiro, a pretexto de influir o juiz, jurado ou promo- d) n.d.a.
tor de justiça, constitui crime de:
a) corrupção 28) Uma pessoa encarregada de levar ao Dr.Delegado de Policia documento
b) concussão apreendido nos autos, para ser submetido a perícia, destruiu o documen-
c) exploração de prestígio to, quando percebeu que incriminava um conhecido. Sua conduta:
d) usurpação de função pública a) tipifica o delito de inutilização de livro ou documento
b) constitui ato atentatório à dignidade da justiça
19) Quem é o sujeito ativo do crime de tráfico de influência? c) representa mera irregularidade administrativa
a) só o Juiz d) n.d.a.
b) só o Oficial de Justiça
c) só o Escrevente 29) Vítima que, chamada a depor em juízo, mente e prejudica o réu, comete
d) n.d.a. o crime de:
a) condescendência criminosa
20) Quem é o sujeito passivo do crime de tráfico de influência? b) falso testemunho
a) qualquer pessoa c) falso testemunho, mas apenas se o depoimento influir na decisão da
causa
b) o Juiz
d) n.d.a.
c) o Estado
d) n.d.a..
30) Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que
lhe seja comunicada, é crime de:
21) O crime de falso testemunho é capitulado como: a) abuso de poder
a) crime contra os costumes b) abuso de autoridade
b) crime contra o patrimônio c) concussão
c) crime contra a administração da Justiça d) peculato
d) n.d.a.
31) Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
22) O crime de falsa perícia é apenado com: a) à liberdade de locomoção
a) multa b) à inviolabilidade de domicilio
b) detenção c) ao direito de reunião
c) reclusão e multa d) todas as alternativas estão corretas
d) n.d.a.
60. Agente fiscal que solicita de contribuinte vantagem para deixar de lançar _______________________________________________________
contribuição social devida comete _______________________________________________________
a) crime de prevaricação.
b) crime de corrupção passiva. _______________________________________________________
c) crime de excesso de exação.
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d) crime contra a ordem tributária.
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RESPOSTAS _______________________________________________________
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01. B 11. C 21. C 31. D 41. C 51. A
02. B 12. D 22. C 32. C 42. C 52. B _______________________________________________________
03. A 13. A 23. B 33. C 43. E 53. C _______________________________________________________
04. D 14. D 24. C 34. A 44. A 54. C
05. C 15. C 25. D 35. C 45. B 55. B _______________________________________________________
06. D 16. B 26. C 36. C 46. B 56. D
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07. A 17. A 27. D 37. C 47. D 57. D
08. C 18. C 28. A 38. D 48. E 58. B _______________________________________________________
09. A 19. D 29. D 39. A 49. B 59. D
10. B 20. C 30. B 40. B 50. B 60. D _______________________________________________________
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BIBLIOGRAFIA _______________________________________________________