Revista Reumato 19 21

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Nº 19 | Set | Out | Nov | 2021

C A P I T A L REUMATO

#19
PROCEDIMENTOS
ESTÉTICOS

HUMANIDADES
MÉDICAS

ABORDAGEM
MULTIPROFISSIONAL

ANTI-C1Q
1
C A P I T A L REUMATO

PALAVRA DA EDITORA

ÍNDICE 02
Palavra
da Editora DRA. ISADORA
JOCHIMS
03
Editora da Revista Capital
Mensagem
Reumato 2021/2022
da Presidente
04
A 19ª Edição da Revista Capital Reumato vem de cara nova para exaltar a
Aconteceu
produção do Festival ATUARTE promovida pela Sociedade de Reumatologia de
Brasília. A capa realizada pela geriatra Flávia Navi na Oficina de Arte “Angústia
09
ou medo: como dar forma ao que não sabemos” me remete ao caminho
A vez e a voz
do especialista incerto que vivemos. A poesia, produzida pela neurologista Eline Barbosa a
partir da Roda de Terapia Comunitária Integrativa, nos lembra que a vida é
14 para quem tem coragem de pagar impostos.
Humanidades Na interface entre ciência e arte, o ATUARTE tem como objetivo
Médicas dar suporte emocional e estimular a ação criativa das pessoas
diagnosticadas com doenças reumáticas, familiares e profissionais de
20
saúde. Outros trabalhos serão apresentados no nosso congresso anual
Ponto de vista
ATUAR nos dias 22 e 23 de outubro. Não percam!
CAPA
Nesta edição, para atualização científica, apresentamos artigos com os temas:
24
O DESCONHECIDO procedimentos estéticos em doenças reumáticas, escrito pela dermatologista
Reumato na
COLAGEM REALIZADA prática Mariana Costa, anti C1q, pelo reumatologista Fabiano de Almeida Brito, e o
PELA GERIATRA FLÁVIA cuidado multiprofissional na reumatologia, por Amanda Terra.
NAVI NA OFICINA DE ARTE 28 Na coluna Humanidades médicas, publicamos a experiência de um
“ANGÚSTIA OU MEDO: Rheuma News grupo da Universidade Federal de Tucumã, Argentina, que promove
COMO DAR FORMA AO discussões e conexões em humanidades. Também trazemos o ponto de
QUE NÃO SABEMOS” DO 30 vista do Dr. Leopoldo Santos Neto sobre o futuro da ciência.
FESTIVAL ATUARTE Reumato
nada Aproveitem a revista que foi construída com muito cuidado e carinho.
Básico

DIRETORIA - GESTÃO 2021/2022

DIRETORIA Diretor científico: Lícia Maria Mota DIRETOR COORDENAÇÃO DE EVENTOS


E DIVULGAÇÃO:
Presidente: Jamille Nascimento Carneiro COMISSÕES ESPECIAIS
Ravena Fontenele Belchior Cabral
Vice-presidente: Ana Cristina V. Oliveira
Diretor Revista Capital Reumato: Luciana Feitosa Muniz - colaboradora
1º secretário: Ana Beatriz Assad Maia
Isadora Jochims Gabriela Profirio Jardim Santos - colaboradora
2º secretário: Ana Paula Monteiro Gomides
Diretor Conselho fiscal e consultivo:
1º tesoureiro: Clarissa de Castro Ferreira
Carlos Eduardo de Carvalho Lins DIRETOR COORDENAÇÃO REUMATO
2º tesoureiro: Ana Carolina Emy V. Hidaka
E COMUNIDADE: Ana Patrícia de Paula

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C A P I T A L REUMATO

MENSAGEM DA PRESIDENTE
A gestão 2021/22 da Sociedade de Reumatologia de Brasília (SRB) sente-se honrada em
contribuir e estar bem próxima de todos os Reumatologistas do Distrito Federal, promovendo
ações que visam desbravar e solidificar o caminho desta especialidade.
Apesar das dificuldades sanitárias ainda impostas pela pandemia de COVID 19, sentimos-nos
bastante confiantes em dar seguimento ao trabalho de excelência que vem sendo realizado desde
gestões anteriores.
Para o ano de 2021 o intuito é manter o calendário científico de qualidade, incluindo os eventos que
já se tornaram conhecidos por sua importância e extrema relevância local e nacional:
• Encontro ATUAR: Atualização em Reumatologia
• ATUARTE: Arte e Reumatologia DRA. JAMILLE
• Reuniões Científicas (Webinars) NASCIMENTO
Com relação ao ATUARTE, projeto que visa, a partir do diálogo da arte com a saúde, promover CARNEIRO
bem-estar mental aos pacientes reumatológicos, aos associados da SRB e profissionais de saúde
da área ficamos felizes em apoiá-lo e darmos o suporte técnico necessário para que o mesmo Presidente da Sociedade
de Reumatologia de
possa ser ampliado exponencialmente, beneficiando cada vez mais pessoas e estimulando as
Brasília 2021/2022
práticas da interdisciplinaridade, tão importantes na Reumatologia.
Nossa publicação, a Revista Capital Reumato, tão consolidada no nosso meio, manterá sua
periodicidade trimestral trazendo, também, sempre a interface com a arte e, obviamente, junto
ao conteúdo técnico/científico atual trará inovações no seu formato virtual.
Outros projetos estão em andamento, especialmente aqueles que envolvem nosso papel
no ensino e na Residência Médica em Reumatologia no DF, bem como junto à comunidade, Baixe todas as edições da Revista
Capital Reumato no site:
divulgando nossa especialidade, conscientizando sobre as doenças reumatológicas e www.reumatodf.com.br
promovendo ações com o propósito de cooperação junto aos gestores em saúde para
formulação de políticas públicas efetivas. Contato SRB:
[email protected]
Reiteramos que toda nossa produção será pautada em preceitos éticos e com base em
(61) 3245-1671 | (61) 99668 0935
melhorias das práticas clínicas em Reumatologia.
Convido os Reumatologistas do DF e demais colegas a continuarem prestigiando nossa
Editoração e Design Gráfico:
SRB, associando-se e participando dos nossos eventos. CS DESIGN
Contato: Cristiane (61) 98131 7287
Dra. Jamille Nascimento Carneiro www.csdesigngrafico.com.br
[email protected]

EXPEDIENTE:
Reumatologistas revisoras: Ana Paula Gomides, Isadora Jochims, Licia Maria Mota,
Ravena Fontenele Belchior Cabral, Gabriela Profirio Jardim Santos,
Jamille Nascimento Carneiro e Luciana Feitosa Muniz

Envie seu texto para ser publicado na revista: [email protected]


Material de distribuíção exclusiva para área médica. A revista Capital Reumato não se responsabiliza por serviços, produtos
e imagens publicadas pelos anunciantes. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não
expressam, necessariamente, a opinião da Revista Capital Reumato.

A responsabilidade de conteúdo médico científico do material recebido para publicação, bem como por eventuais conceitos
emitidos ou conflitos de interesses, é exclusiva dos autores.

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ACONTECEU

ACONTECEU: WEBINARS
• No dia 23 de junho de 2021, às 19H30, foi realizado o Webinar 04,
patrocinado pela JANSSEN, que apresentou a seguinte agenda:

Tema 1: NECESSIDADES NÃO ATENDIDAS EM ARTRITE PSORIÁSICA: “DESCOBRINDO UMA NOVA SOLUÇÃO
PARA SEUS PACIENTES COM ARTRITE PSORIÁSICA E PSORÍASE”.
Palestrante 1: Roberto Ranza.

O evento virtual foi extensamente divulgado nas redes sociais e e-mail marketing, com um grande alcance.

• No dia 27 de julho 2021, às 19h30, foi realizado o Webinar 05,


patrocinado pela GSK, que apresentou a seguinte agenda:

Tema 1: MONITORAMENTO SANGUÍNEO DA HCQ: ASPECTOS


PRÁTICOS PARA O DIA A DIA DO REUMATOLOGISTA.

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ACONTECEU

Palestrante 1: Eloísa Silva Dutra de O. Bonfá.

Tema 2: ATUALIZAÇÕES DE BELIMUMABE NA NEFRITE LÚPICA.


Palestrante 2: Nathalie David Alves

O evento virtual foi extensamente divulgado nas redes sociais e e-mail marketing, com um grande alcance.

• No dia 01 de setembro de 2021, às 19h30, foi realizado o Webinar 06,


patrocinado pela PFIZER, que apresentou a seguinte agenda:

Tema 1: NOVAS RECOMENDAÇÕES DA SBR SOBRE USO DE JAKI NO TRATAMENTO DA AR

Palestrante 1: Ana Cristina de Medeiros Ribeiro

Tema 2: SAÚDE MENTAL E DOENÇAS REUMÁTICAS.

Palestrante 2: Thiago Blanco Vieira

O evento virtual foi extensamente divulgado nas redes sociais e e-mail marketing, com um grande alcance.

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ACONTECEU

PROJETO ATUARTE 2021: ARTE E REUMATOLOGIA


• Projeto que visa, a partir do diálogo da arte com a saúde, promover bem estar mental aos
pacientes reumatológicos, aos associados da SRB e profissionais de saúde da área.
O projeto ATUARTE 2021 está acontecendo com Rodas de Terapia Comunitária Integrativa todas
as sextas-feiras às 9h e Oficinas de Arte (na plataforma Zoom) durante todo o ano de 2021.
Já foram realizadas Oficinas com os seguintes temas:

Informe-se sobre o projeto no site SRB: https://reumatodf.com.br/19-atuarte

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ACONTECEU

Reformulação do site com criação de:

ÁREA RESTRITA PARA OS ASSOCIADOS SRB


E ÁREA DE EMISSÃO DOS CERTIFICADOS DE
PARTICIPAÇÃO DOS WEBINARS.

A Campanha Espondiloartrites - Encurtando caminhos do paciente


até o Reumatologista, uma parceria SRB e Novartis, começou!

Informe-se sobre o projeto no site SRB: https://reumatodf.com.br/espondiloartrites

Sócios SRB podem participar!

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PARTICIPE!

@REUMATOBSB @FESTIVALATUARTE

CONHEÇA NOSSA PROGRAMAÇÃO E FIQUE


POR DENTRO DAS NOVIDADES NO NOSSO
SITE:

ATUAR2021.COM.BR

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A VEZ E A VOZ DO ESPECIALISTA

DRA. MARIANA CARVALHO COSTA


Médica Dermatologista
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade
de Brasília (UnB)
Pesquisadora Colaboradora Plena do PPGCM da UnB

Procedimentos estéticos
nas doenças reumáticas

A PELE COMO ÓRGÃO DE COMUNICAÇÃO

A importância da aparência da pele está no fato de que por meio dela se pode inferir não apenas
características físicas de um indivíduo (como o sexo, a idade, o grupo étnico), mas também o seu estado
de ânimo e suas emoções. É inquestionável a capacidade da cútis de comunicar mensagens e despertar
sentimentos além das palavras, o que pode ser claramente observado em obras de arte (Figura 1). Os sinais de
envelhecimento intrínseco e extrínseco de uma pessoa idosa, por exemplo, são frequentemente retratados
por artistas com a demarcação de rugas adinâmicas e profundas (frontais, glabelares, perioculares, periorais,
nasogenianas), das bolsas infrapalpebrais, da atrofia das regiões malares, da face encovada, da flacidez
cutânea, etc. Desses“traços”, podem-se inferir sensações subjetivas, de intensidade por vezes marcante,
como tristeza, melancolia, apatia, raiva, cansaço, mau humor, etc. Tais sensações nem sempre correspondem
ao que ocorre no íntimo do paciente e podem até mesmo contradizer o que se passa no seu interior.

Figura 1 – “Duas mulheres”, de Paul Gauguin (1901-1902). Óleo sobre tela. The Metropolitan Museum of Art | Nova Iorque, EUA.

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COSMIATRIA “REPARADORA” E “MELHORADORA”

Neste sentido, a semiologia dermatológica, cujo papel é significativo no diagnóstico das


doenças tegumentares, também tem importante papel na Dermatologia Cosmiátrica e deve
ser realizada minunciosamente, a partir da queixa apresentada. Os pacientes ora desejam
eliminar estigmas cutâneos de doenças localizadas ou sistêmicas, ora desejam minimizar sinais
de envelhecimento que muitas vezes não refletem o seu “estado de espírito”. Nas doenças
reumatológicas, os motivos que os trazem a uma consulta dermatológica cosmiátrica podem
ser de natureza “reparadora” (amenização de cicatrizes e sequelas cutâneas da doença) ou
“melhoradora”, quando desejam minimizar os sinais cutâneos de senilidade tais como discromias,
rugas, sulcos, flacidez, perda de volume e deslocamento do tecido adiposo.

Seja para “reparar” (reconstrução), seja para “melhorar” (intervenção cosmética), as opções
atuais na área cosmiátrica são diversificadas e numerosas. De agentes tópicos antienvelhecimento
e medicações orais, dos lasers e outras tecnologias aos produtos injetáveis: os procedimentos
minimamente invasivos estéticos apresentaram grande desenvolvimento científico nas últimas
décadas e têm sido realizados em números crescentes em todo mundo, especialmente quanto às
gerações mais novas, que tendem a encará-los de forma ainda mais “natural” que as anteriores1.

DADOS DA LITERATURA CIENTÍFICA

Em uma revisão recente2,3, encontrou-se que, em contraste ao crescente número de procedimentos


estéticos nos EUA, os dados para procedimentos para correção de déficits estéticos causados por
condições autoimunes ainda são limitados. Igualmente, carecem protocolos mais robustos de medicina
baseada em evidências para intervenções cosméticas nos pacientes reumatológicos. Associada ao medo
de reativação da doença ou sua exacerbação por conta da inflamação pós-procedimentos, esta limitação
em prover dados científicos aos pacientes dificulta a decisão por procedimentos estéticos tanto por parte
considerável dos médicos dermatologistas que os realizarão quanto pelos médicos reumatologistas que
não se sentem confortáveis em se posicionar a favor destas intervenções.

Na revisão citada acima, foram incluídos artigos que referiam pacientes portadores de morfeia,
esclerose sistêmica e lúpus eritematoso no tocante a procedimentos estéticos de diversas naturezas.

Dos tratamentos com laser e luz intensa pulsada na morfeia e na esclerodermia sistêmica, o uso
de pulsed dye laser (PDL) mostrou nível de evidência IIB no tratamento de telangiectasias nos pacientes com
esclerose sistêmica (Tabela 1).

TABELA 1 – NÍVES DE EVIDÊNCIA CIENTÍFICA


IA Metanálises de estudos clínicos controlados randomizados
IB Ao menos 1 estudo controlado randomizado
IIA Ao menos 1 estudo controlado não randomizado
IIB Ao menos 1 outro tipo de estudo experimental
III Estudos descritivos não experimentais
IV Opinião de comitês especializados e/ou autoridades com experiência clínica

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A luz intensa pulsada (LIP) também foi apontada como recurso


terapêutico na morfeia e na microstomia associada à esclerose
sistêmica (nível de evidência III). O laser de CO2, por sua vez, se
mostrou útil no tratamento de morfeia (nível de evidência III).
Quanto aos injetáveis na morfeia e esclerodermia
sistêmica, quando a doença se encontra na fase de inatividade
e estável, existem relatos do uso do ácido hialurônico,
atualmente o preenchedor mais utilizado da Dermatologia por
sua biocompatibilidade e por não ser permanente, com nível
de evidência III. Recomenda-se que a aplicação seja feita com
cânulas para que se reduzam possíveis traumas e complicações
como dor, equimoses, edema e oclusão vascular. Também se
recomenda que a injeção se dê com volumes de 1-1,5 ml no
intuito de se prevenir compressão vascular e consequente
necrose tecidual. Geralmente, espera-se que as injeções
iniciais sejam mais difíceis devido a maior resistência dérmica,
o que deve melhorar nas sessões subsequentes. Os relatos do
uso de polimetilmetacrilato (nível de evidência III), são mais
escassos e, por ser um preenchedor permanente, deve-se pesar
seriamente o emprego deste produto nos dias atuais em que
outras opções estão disponíveis. Quanto aos injetáveis do tipo
bioestimuladores, como o ácido polilático e a hidroxiapatita de
cálcio, ambos de caráter não permanente, também os estudos
conferem a eles nível de evidência III.

No que diz respeito ao lúpus eritematoso, o PDL, quando realizado com parâmetros de segurança
(fluências menores), parece ser melhor tolerado no tratamento do componente vascular de lesões lúpicas
cutâneas e parece até mesmo prevenir a progressão da doença (nível de evidência III). Em contraste com
os lasers, a LIP, por emitir luz visível, apresenta potencial de agravar a doença cutânea e sistêmica. Dos
tratamentos injetáveis, não há relato na literatura atual de reativação da doença após tratamento reparador,
embora haja o risco teórico. Há relatos de caso no tocante ao uso de ácido hialurônico, ácido polilático,
poliacrilamida, hidrogel e polimetilmetacrilato com resultados subjetivos satisfatórios e sem reações
adversas ou reativação da doença (nível III). Enxertos de gordura autóloga devem ser realizados nos períodos
de doença inativa e quando o paciente não está em uso de imunossupressores (nível de evidência IIA).

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C A P I T A L REUMATO

OUTROS PROCEDIMENTOS COSMIÁTRICOS

Postula-sequeintervençõescosmiátricassuperficiaisecommenorinflamaçãopós-procedimentos,comopeelings
químicos superficiais e tratamentos tópicos como retinoides e antioxidantes, possuam bom perfil de segurança. De
forma semelhante, as doenças reumatológicas, quando em fase de inatividade sustentada, não configuram contra-
indicação absoluta para emprego da toxina botulínica para fins estéticos. O uso de tecnologias dermatológicas mais
recentes como o ultrassom microfocado e macrofocado, radiofrequência e radiofrequência microagulhada ainda
não foi estudado especificamente em pacientes reumatológicos, mas, por serem bioestimuladoras de colágeno que
geram resposta inflamatória visando remodelamento arquitetural das camadas cutânas (Figura 2), há de se atentar
para o contexto de cada paciente, pesando especialmente a inativadade e estabilidade da doença.

Figura 2 – Ultrassom dermatológico (de alta frequência) antes e após microagulhamento robótico com alta frequência,
evidenciando remodelamento tecidual, com redução da banda subepidérmica de baixa ecogenicidade (elastose).

O PACIENTE, O REUMATOLOGISTA E O DERMATOLOGISTA DE MÃOS DADAS NA DECISÃO

Os danos estéticos, secundários à própria doença autoimune e mesmo à senilidade, podem corroborar
fortemente para a fragilidade da saúde mental dos pacientes reumatológicos4 e os procedimentos cosmiátricos de
reparação e intervenção cosmética nestes casos podem trazer inegáveis ganhos à qualidade de vida do paciente.
Com isso, ainda que com limitações dentro da medicina baseada em evidências, é um tema que merece grande
atenção tanto por parte do médico dermatologista quanto do médico reumatologista. Idealmente, a decisão
acerca de um procedimento estético em paciente reumatológico deve envolver esclarecimento sobre segurança
e evidências científicas para o próprio paciente e ainda decisão conjunta com as duas especialidades médicas, a
fim de se considerar todos possíveis ganhos para o paciente e também os riscos a que será submetido.

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C A P I T A L REUMATO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Mobayed N, Nguyen JK, Jagdeo J. Minimally Invasive Facial Cosmetic Procedures for the Millennial Aesthetic Patient. J Drugs Dermatol.
2020 Jan 1;19(1):100-103. doi: 10.36849/JDD.2020.4641.
2. Creadore A, Watchmaker J, Maymone MBC, Pappas L, Lam C, Vashi NA. Cosmetic treatment in patients with autoimmune connective tissue
diseases: Best practices for patients with morphea/systemic sclerosis. J Am Acad Dermatol. 2020 Aug;83(2):315-341. doi: 10.1016/j.jaad.2019.12.081.
3. Creadore A, Watchmaker J, Maymone MBC, Pappas L, Vashi NA, Lam C. Cosmetic treatment in patients with autoimmune connective tissue
diseases: Best practices for patients with lupus erythematosus. J Am Acad Dermatol. 2020 Aug;83(2):343-363. doi: 10.1016/j.jaad.2020.03.123.
4. Torok K. Emotional and mental health impact of morphoea demonstrated in adults. Br J Dermatol. 2015 May;172(5):1188-90. doi: 10.1111/bjd.13774.

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C A P I T A L REUMATO

humanidades médicas

FRANCISCO JUAN JOSÉ VIOLA


[email protected]
Médico (UNT-Argentina), Doctor en
psicología (UCL-Bélgica)
Especializado em saúde sexual
Docente de Antropologia médica da
Faculdade de medicina da Universidade
Nacional de Tucumán. Argentina

As Humanidades
Médicas como um
projeto abrangente
INTRODUÇÃO: Pierre Bourdieu refere que os seres humanos, quando contam uma passagem
da suas vidas, a fazem com “coerência biográfica”, com uma certa necessidade que têm de dar sentido
ao caminho que percorrem. Essa ideia é curiosa porque nem sempre planejamos tudo, porém, tem
uma certa lógica porque estamos somando esforços, não ao que está planejado, mas, às vezes, ao
que estamos descobrindo como a opção necessária. Esta jornada que apresento para vocês tem essa
lógica. Cada etapa avançada surge como uma necessidade da etapa anterior. A construção de uma
linha não tem mérito em si mesma quando, como neste caso, existe uma clara consciência social da
importância disso. É o caso do Medical Humanities (HM). Com efeito, não existe formação médica no
mundo que não dê importância à necessidade de incluí-la na formação como central. É um conceito
que aceitamos como lógico: por isso sua presença não é discutida, mas, paradoxalmente, sua presença
gera debates. Já indicamos (Viola, 2012) que três problemas aparecem como evidentes:
a- A falta de uma definição unívoca de Humanidades Médicas
b- A ambiguidade em seus conteúdos, objetivos e efeitos em relação às competências clínicas
c- A falta de sistematização das propostas

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C A P I T A L REUMATO

ACREDITAMOS QUE TUDO ISSO DEVA SER REFOR-


MULADO NA QUESTÃO ESSENCIAL: POR QUE INCLUÍ-LOS?

DEFINIÇÃO DAS HUMANIDADES MÉDICAS


Em primeiro lugar, vamos à definição de Humanidades Médicas. Nossa
pedra fundamental foi uma reunião no contexto do Congresso Argentino
de Educação Médica que aconteceu em nosso corpo docente em 2012.
Lá, alguns professores de diferentes universidades do país construíram
uma primeira abordagem coletiva ao HM e estabeleceram o que foi
chamado de “ Consenso sobre HM “. Nele estabelecemos quatro pontos.
O primeiro definiu HM ao dizer: “Consideramos que as Humanidades
Médicas são conhecimentos selecionados de forma racional, que provêm
das ciências humanas e sociais e das artes, e contribuem para a formação
do profissional médico”. No segundo ponto desse consenso, apontamos
que “a seleção desses conhecimentos deve ser adequada tanto ao perfil
específico de cada instituição quanto ao médico exigido pela sociedade”.
Nessas falas gostaria de destacar dois elementos fundamentais para a ideia
de HM como ferramenta de treinamento: o primeiro, que a seleção não é
algo arbitrário e, em segundo lugar, que deve surgir de um diálogo entre
necessidade, contexto e precisão. Isso é reforçado pelos demais pontos
do consenso que destacam a visão pedagógica que esses conteúdos
devem ter. Assim, o terceiro ponto propõe: “que a inclusão das Humanidades
Médicas seja pensada em termos de saber quais os conteúdos escolhidos e,
fundamentalmente, por que são escolhidos” e o quarto expressa: “a ideia de
que a seleção dos conteúdos se formula em termos de competências. Isso
significa que os conteúdos devem ser sistematizados, retroativos, avaliáveis e
voltados para a geração de uma prática profissional mais humana ”.

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C A P I T A L REUMATO

Podemos marcar este consenso como uma hipótese fundacional, chamá-lo de alguma forma, do nosso
percurso de HM: devem ser incluídos de forma ativa, isto é, com a intenção de o fazer, e isso implica saber para quê
e, ao mesmo tempo, entenda que eles não podem ser estáticos, devemos adaptá-los permanentemente. Isso foi
reforçado com a criação do Laboratório de Humanidades Médicas como um local onde a pesquisa nesta área pode
ser canalizada.
Depois desse primeiro consenso, realizamos uma segunda reunião, desta vez na Universidade de
Cuyo (Mendoza, 2015), onde foi elaborado um acordo cujo ponto central é que essa inclusão seja “formal,
abrangente e dinâmica”. Também apontamos uma questão óbvia: ela deve estar presente também nos últimos
anos da medicina. O que parece uma evidência esbarra na realidade, pois perto da conclusão do curso há
uma tendência nos processos de formação a insistir em questões mais biomédicas ou ditas práticas. Curioso,
porque há uma frase médica que tendemos a esquecer na prática, mas que nunca negamos em nosso discurso:
“A medicina não é uma ciência e, talvez não uma arte, mas um espaço criado para o encontro humano que
colabore na superação. O sofrimento com os melhores recursos da ciência e da arte ”(Perez Tamayo, 1980).

A VISIBILIDADE DO QUE FOI FEITO

Agora, o que foi feito alimentou a ideia que está no centro da proposta: o que foi feito deve
se tornar visível, mostrando que há muito trabalho feito nessa área, que não circula o suficiente.
Partindo dessa ideia, decidiu-se desenvolver um “Boletim de Humanidades Médicas” com o
objetivo central de expor o raciocínio sólido e urgente na formação médica: buscar recursos
para fortalecer a humanização da medicina, algo que se exige da prática médica atual. Embora,
claramente, a pandemia tenha obrigado a nós médicos, motivados por limites diante da incerteza,
a entender que o sofrimento humano continua sendo o ponto central da prática médica.

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C A P I T A L REUMATO

A newsletter surgiu neste contexto, mas


vale a pena dizer, está a se construir como
um quebra-cabeça. Ou seja, entendemos
que as peças estão aí e tentamos modelá-
las. Isso, curiosamente, reforça o exposto, há
muito feito no HM, nem sempre visível ou
compartilhado. É por isso que este boletim
foi pensado como um trabalho colaborativo,
por um lado, apresentando resumos de
diferentes publicações sobre HM que
mostram que se faz uma pesquisa sólida. A
outra forma é por meio de entrevistas com
diferentes colegas ao redor do mundo, para
divulgar diferentes visões. Citemos que a
partir do segundo número já incorporamos
um número ISSN por estar registrado como
publicação periódica e constante.

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C A P I T A L REUMATO

Nisso, vale dizer, a situação gerada pela pandemia facilitou as coisas, já que o virtual se
tornou não apenas uma ferramenta prática, como sempre foi, mas algo mais do que o usual,
uma forma inevitavelmente atual. O boletim informativo tem sequência trimestral e está
online. Isso possibilitou que o design aproveitasse todas as sequências de uma edição mais
cuidadosa, sem pensar no custo de uma publicação que precisa ser colorida. Hospedamos
os números editados no link https://linktr.ee/LabHumanidadesMedicas

Assim, os boletins são publicados em março, junho, setembro e dezembro. Os números


de junho são voltados para a medicina narrativa e/ou literatura e medicina e setembro para
a estreita relação que a arte e a medicina têm. Enfatizamos algo: existem muitas publicações
sobre investigação em Humanidades Médicas, por isso esta newsletter persegue outro
objetivo para o momento: dar visibilidade ao que se faz, mostrar a diversidade que este
tema inclui e sugerir formas de utilização desses conteúdos no campo da saúde.

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C A P I T A L REUMATO

UMA PERSPECTIVA: CONSTRUIR UMA REDE

Após as primeiras reuniões que mencionamos, foi realizada uma terceira reunião que
resultou em uma proposta voltada para trabalhar um determinado tema da comunicação
e, posteriormente, em meio à pandemia, foi elaborado um documento final que é um
Manifesto sobre HM que busca sustentar o que já foi feito, agregar o que existe e dar sentido
a uma futura rede que valoriza o que existe.
O percurso realizado direciona tudo para um devir lógico (potencial): a criação de uma
rede que fortaleça o HM no campo da medicina. Se pensarmos nisso em função do que
cada lugar faz, isso é óbvio, insistimos. Há muitos esforços em todos os lugares para fazer da
humanização da prática médica, o próprio cerne da atividade e da tecnologia, apenas mais
uma ferramenta, sem discussão necessária hoje. No entanto, sabemos que tanto os recursos
humanos como os financeiros condicionam o caminho. Portanto, pensar em uma rede que
fortaleça o que se faz é uma opção que não só podemos alcançar, mas também nos permite
construir uma base essencial. Afinal, ainda mantemos como princípio médico o hipocrático
“primo non nocere” que implica continuar a acreditar que o sofrimento necessita não só de
medicamentos e tecnologia, mas de outro ser humano colocando a arte e a ciência como
forma de colaborar para tornar o adoecimento suportável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS:
Ricci, RT. y Viola, FJJ. (2012). Humanidades Médicas y Competencias clínicas. Edición de la Cátedra de Antropología
Médica y Laboratorio de Humanidades Médicas. Facultad de Medicina. Universidad Nacional de Tucumán.
Pérez Tamayo, R. (1980). Serendipia: ensayos sobre ciencia, medicina y otros sueños. Siglo Veintiuno Editores.

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C A P I T A L REUMATO

PONTO DE VISTA

DR. LEOPOLDO LUIZ


DOS SANTOS NETO
Medicina Interna
[email protected]

Assim caminha
a evidência
científica e a
humanidade!
O ano de 1543 testemunhou a publicação de
dois livros que iriam mudar a visão da humanidade.
Das revoluções das esferas celestes, quando Nicolau
Copérnico desenvolveu o princípio do heliocentrismo;
e “A estrutura do corpo humano”, de Andreas Vesalius,
que criou uma nova visão da anatomia humana.

Galileu Galilei (1564-1642) pode ser considerado um dos fundadores da ciência


moderna. As suas contribuições vão desde a criação da astrofísica até pela popularização
e difusão do conhecimento científico1. As suas ideias levaram-no a ser julgado e
condenado por heresia, pela Inquisição, em 1633. O julgamento de Galileu foi um
embate entre o raciocínio, a liberdade científica e o establishment da época. (Figura 1)

20
C A P I T A L REUMATO

Figura 1. Galileo confrontando a Inquisição Romana. (Cristiano Banti, 1857)8

Após a sua condenação Galileu murmurou “E ainda assim se move”, referindo-se à


Terra. Segundo Mario Livio, astrofísico/escritor, essa frase se tornou um símbolo de desafio
intelectual, dando a entender que “apesar do que você acredita, esses são os fatos”1.

Em 31 de outubro de 1992, o Papa João Paulo II admitiu que “Paradoxalmente, Galileu,


um fiel sincero, se mostrou mais perspicaz nessa questão do que seus adversários teólogos”.
Nessa ocasião, Galileu foi absorvido de todas as suas acusações.

21
C A P I T A L REUMATO

Steven Pinker, psicólogo, reflete que “


Heidi Larson, antropóloga, considera que, durante o Nunca teremos um mundo
período do Iluminismo, a ciência foi vista como uma forma
de libertar as pessoas do dogma religioso. Ela avalia que perfeito, e seria perigoso
“Hoje, a ciência tornou-se o novo dogma. Para alguns, o
sentimento é de inacessível, impessoal, despojado das
procurar um. Mas não há
emoções humanas da vida quotidiana2. limites para as melhorias
Uma das vitórias mais dramáticas da medicina foi a controle que podemos alcançar se
das doenças infecciosas, particularmente a varíola. Em
1980, essa doença foi declarada erradicada e considerada
continuarmos a aplicar o
um dos grandes triunfos da medicina. Contudo, a conhecimento para aprimorar o
pandemia pelo vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19,
confrontou-nos com as nossas vulnerabilidades pessoais. desenvolvimento humano”5.
A pandemia intensificou as questões da pobreza social,
iniquidade em saúde, desigualdades socioeconômicas e os
cuidados, muitas vezes lamentáveis, dos nossos cidadãos Evidências científicas são importantes,
mais idosos3. mas não substituem uma abordagem
A pandemia produziu uma tensão na relação entre humanística. Dr. William Osler (1849-1919)
ciência e sociedade. A ciência pode dizer-nos o que é enfatizava que “A prática da medicina
verdade, mas não nos pode dizer o que é significativo ou
relevante4. Embora a Covid não tenha mudado a natureza
é uma arte baseada na ciência, cujos
humana, as suas consequências devastadoras revelaram principais objetivos são prevenir a doença,
o fosso existente entre o que é a verdade no que muitas aliviar o sofrimento e curar os doentes6.
pessoas acreditam e o que pode ser crível4.

22
C A P I T A L REUMATO

Figura 2. Dra. Isadora Jochims, reumatologista/artista plástica, no seu ateliê9.

Dra. Isadora Jochims, reumatologista/artista plástica, liderou um grupo de profissionais da área da saúde no
desenvolvimento de um Prontuário Afetivo, uma ferramenta para reduzir o sofrimento do paciente com COVID grave.
Ela de forma poética e científica declamou (...)O ato / A cura / Não tenho armas / Nem balas / Tenho a ciência / O
conhecimento das medicinas / Das prevenções / Do cuidado / As vacinas / Estou na linha de frente(...)”7. (Figura 2)

FELIZMENTE, ASSIM CAMINHA A NOSSA HUMANIDADE!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Galileo_facing_the_Roman_Inquisition.jpg (acessado em 28/07/2021).
9.https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,medica-usa-a-arte-no-combate-a-covid-19-se-a-gente-deixa-de-se-vincular-perde-o-sentido,70003723297
(acessado em 28/07/2021)

23
C A P I T A L REUMATO

REUMATO NA PRÁTICA

DRA. AMANDA TERRA DE SÁ KOERICH

Residência em Clínica Médica / RQE: 15610


Residência em Reumatologia / RQE: 17342
Título de Especialista em Reumatologia pela Sociedade Brasileira de Reumatologia
Membro da Comissão Multiprofissional de Sociedade Brasileira de Reumatologia
Professora do curso de Medicina da UNISUL
Mestranda em Ciências Médicas na Universidade Federal de Santa Catarina

A abordagem
multiprofissional
na reumatologia

24
C A P I T A L REUMATO

Nas últimas décadas, a medicina


passou por uma mudança no
modelo de prestação de cuidados
médicos substituindo um modelo
baseado no tratamento das
emergências para a gestão de
doenças crônicas de longo prazo1.
Isso é resultado de uma associação
de duas variáveis: a longevidade
da população e o aumento da
prevalência das doenças incuráveis
no mundo. Esse binômio tem
contribuído para uma elevação do
número de pessoas com limitações
funcionais que, portanto, necessitam
de cuidados contínuos. ²

A reumatologia, por sua vez, uma especialidade com predominância de doenças crônicas, se depara com pacientes
que convivem com dores contínuas, restrições funcionais e necessidades de terapias complexas. Tão logo recebe o
diagnóstico da doença incurável, o paciente também se defronta com a perda do senso de identidade, ansiedade,
incertezas quanto ao futuro, isolamento social, além da mudança na rotina e no seu relacionamento familiar.³

Com essa mudança no sistema de cuidado médico, observou-se a necessidade de adaptações nas configurações
de tratamentos que sejam economicamente viáveis e clinicamente eficazes. O atendimento médico fundamentado
no trabalho em equipe emergiu como uma opção para o tratamento de doenças crônicas em muitos sistemas de
saúde. Ademais, os familiares do doente e seus cuidadores têm cada vez mais valorizado essa forma de abordagem
com ênfase em resultados voltados para o paciente e sua qualidade de vida.¹

De acordo com Peduzzi4, a multiprofissionalidade consiste em um modelo de trabalho coletivo em que há uma
relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e uma interação dos agentes de diferentes áreas. À vista
disso, os profissionais de saúde trabalham de forma independente e concomitante dentro dos limites de suas próprias
disciplinas.¹

No âmbito da reumatologia, gerenciar patologias complexas é um tanto desafiador e, por vezes, requer uma
abordagem multiprofissional entre reumatologistas, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos,
odontólogos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos, entre outros.5 O time de profissionais está
no centro do atendimento e é de extrema importância para o tratamento de doenças multifacetadas e heterogêneas.
A educação interprofissional aumenta a autopercepção e o conhecimento objetivo da patologia e a comunicação
entre os membros é essencial para o sucesso da terapêutica, tendo um efeito sinergético positivo nos resultados.¹

25
C A P I T A L REUMATO

Corroborando com o exposto acima, citam-se


programas de atendimento multidisciplinar para pacientes
com artrite reumatoide (AR) que têm como objetivo
melhorar o funcionamento geral no nível das funções e
atividades além de reabilitar esses pacientes para rotina
diária.6 Um estudo observacional avaliando os desfechos
dos cuidados multidisciplinares em pacientes com AR
verificou uma melhora significativa após 3 meses do
início do manejo nos quesitos de atividade da doença,
capacidade funcional e qualidade de vida.7

Há de se ressaltar a importância desse cuidado


holístico. As diversas áreas profissionais de saúde
estruturam trabalhos fragmentados e isolados que
resultam na construção de saberes peculiares.4
Trabalham de forma coordenada com objetivo de
explorar obstáculos dos pacientes e alcançar soluções
apropriadas,8 além de considerar as preferências e
necessidades expressas dos pacientes com finalidade
de atingir os alvos terapêuticos e o bem-estar. Esse
aprendizado coletivo incentiva a interação entre as
disciplinas, mediadas pelo diálogo e pela cooperação
entre os envolvidos, com uma finalidade de melhor
efetividade terapêutica.9
Embora as discussões sobre a multiprofissionalidade
A benfeitoria da multiprofissionalidade é abrangente. venham se acentuando nos últimos anos, esse padrão
O trabalho em equipe tem sido relacionado com de atendimento ainda se mostra gradual na prática
diminuição de erros médicos, melhora na qualidade clínica.9 Um dos motivos para essa aderência paulatina
e satisfação do atendimento, assim como melhor é que a implementação padronizada desses modelos é
colaboração interprofissional.10 Estudos publicados altamente complexa e dependente de uma variedade
também avaliaram que a multiprofissionalidade traz de fatores como: profissionais de diversas áreas
efeitos positivos na vida do paciente como melhora da disponíveis, comunicação e colaboração da equipe,
dor sustentada, melhora do emocional e do bem-estar espaço físico adequado, disponibilidade de tempo,
em pacientes com dor crônica.11,12 A título de exemplo, custos, além de burocracias. 1,8,10
uma revisão sistemática com foco na eficácia dos Diante disso, a multiprofissionalidade defende que a
tratamentos multidisciplinares na dor crônica resultou autonomia técnica não está no isolamento profissional,
no benefício do sistema de intervenção multidisciplinar mas sim na cooperação coletiva de forma pactuada e
quando comparado ao tratamento monodisciplinar.13 compartilhada prezando uma interação profissional
Estudos também avaliaram que, nas espondiloartrites, acima da concorrência competitiva individual.4
o manejo multiprofissional melhora os resultados dos Assim sendo, é importante ultrapassar a fronteira da
pacientes em termos de atividade de doença, função abordagem uniprofisssional em prol do tratamento de
física e qualidade de vida. 8 excelência para doenças tão multifacetadas.

26
C A P I T A L REUMATO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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C A P I T A L REUMATO

Rheuma news

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C A P I T A L REUMATO

Contabilidade do medo
Eline Barbosa

Meu cérebro é essa máquina


Calcula medo a todo instante
Soma daqui, multiplica dali
Treme diante dos desafios

Será que consigo?


“Preciso cumprir o prazo
Chega de dividir a atenção! “
Mas sou tão doente...
“Pára de procrastinar”

A soma do desafio
Com o desejo de tentar
Subtraído de tanto tempo perdido
Diante da ansiedade vã

Mas da poupança do saber


Saquei minha sabedoria
Respira, põe na planilha
Ousa, age e confia...

Viver é para quem tem coragem


de pagar os impostos!

Poesia construída a partir da Roda de Terapia


Comunitária Integrativa do Festival ATUARTE
pela neurologista Eline Barbosa diagnosticada
com Síndrome de Sjogren.

29
C A P I T A L REUMATO

REUMATO NADA BÁSICA

Anticorpos anti-C1q:
uma breve revisão
sobre sua utilidade
clínica e limitações

INTRODUÇÃO

C1q é uma glicoproteína catiônica de 416 kDa constituída por 18


FABIANO DE
cadeias polipeptídicas, que na circulação, C1q existe primariamente
ALMEIDA BRITO
como C1, o primeiro componente do sistema complemento, formado
Médico reumatologista e
por uma molécula de C1q e uma molécula de cada uma das esterases patologista clínico
C1r e C1s.1,2 Professor Adjunto
do Departamento de
A estrutura de C1q possui aparência semelhante a um buquê Propedêutica
de seis tulipas, em que os caules consistem na região N-terminal Complementar, Faculdade
de Medicina da UFMG
CLR (collagen-like region), e as flores consistem em seis domínios Assessor Científico do
proteicos globulares C-terminal (Figura 1).2 Grupo Pardini
Coordenador da Comissão
Há dois tipos de anticorpos que podem se ligar ao C1q: (1) de Laboratório da SBR
anticorpos anti-C1q, cuja porção de ligação ao antígeno F(ab´)2
reconhece epítopos localizados na CLR, e (2) IgG ou IgM presente em
imunocomplexos circulantes, que se ligam às cabeças globulares da
molécula de C1q meio da porção.1,2

2. PAPEL PATOGÊNICO DOS ANTICORPOS ANTI-C1Q NO LÚPUS


ERITEMATOSO SISTÊMCO (LES)

A deficiência homozigota de C1q é um dos principais fatores


de risco genético para LES, dado que mais de 90% dos pacientes
desenvolverão a doença.3
O complemento C1q se liga às células apoptóticas, resultando
em aceleração do clearance dos autoantígenos gerados durante a
apoptose. Anticorpos anti-C1q podem afetar as funções fisiológicas do

30
C A P I T A L REUMATO

C1q e, consequentemente, reduzir o clearance das células 4. APLICAÇÕES CLÍNICAS DO ANTI-C1Q NO LES
apoptóticas, potencializando assim o desenvolvimento da
resposta autoimune.1 4.1 Avaliação da atividade da doença
Imunocomplexos contendo C1q estão presentes no
glomérulo de pacientes com nefrite grave. Ao se ligar a esses Em um estudo restrospectivo com 52 pacientes com
imunocomplexos, anticorpos anti-C1q podem amplificar o LES e pelo menos três dosagens de anti-C1q realizadas
influxo celular e a ativação local do sistema complemento, ao longo do acompanhamento, Trendelenburg e
resultado em glomerulonefrite proliferativa.1 colaboradores demonstraram que os anticorpos anti-
C1q apresentam correlação positiva com a atividade da
3. ASSOCIAÇÕES CLÍNICAS doença mensurada com os índices SLEDAI e ECLAM.5 No
entanto, a correlação foi significativa apenas nos pacientes
Anticorpos anti-C1q são detectados predominantemente na com acometimento renal. Essa constatação, aliada ao
síndrome da vasculite urticariforme hipocomplementêmica achado de que a correlação de anti-C1q com atividade
(SVUH) e no LES, e em menor frequência em outras doenças foi maior com o SLEDAI, que atribui um peso maior ao
autoimunes (Tabela 1).4 acometimento renal, do que com o ECLAM, indica que o
A frequência de detecção e os níveis de anti-C1q são exame é particularmente útil para avaliação da atividade
altamente dependentes da atividade LES, em particular da do LES com acometimento renal.
nefrite lúpica, no momento da realização do exame: estão
presentes em 30,0% dos pacientes não selecionados e 4.2 Avaliação do risco de nefrite lúpica
mais de 90,0% dos pacientes com nefrite proliferativa.1
Por não ser um autoanticorpo específico, não pode ser Petri e colaboradores analisaram a especificidade
considerado um marcador diagnóstico do LES, embora as e associações clínicas do anti-C1q, em uma avaliação
concentrações mais altas de anti-C1q sejam encontradas transversal de pacientes do estudo multicêntrico
no LES e na SVHU.4,5 internacional SLICC.6 Anti-C1q foi detectado em 45,5%

31
C A P I T A L REUMATO

dos pacientes lúpicos com e 19,3% dos pacientes sem


envolvimento renal, definido segundo os critérios do SLICC
(proteinúria > 0,5 g/24h ou > 3+, ou cilindros hemáticos), e
em 13,0% dos controles. Anti-C1q apresentou associação
independente com acometimento renal, com Odds ratio
(OR) de 2,3. O OR para acometimento renal foi de 14,9
para a presença simultânea de anti-C1q, anti-dsDNA e
hipocomplementemia, superior ao OR de cada marcador
isolado.
Os autores concluíram que anticorpos anti-
C1q constituem fator de risco independente para
acometimento renal no LES, principalmente quando
associado a anti-dsDNA e hipocomplementemia.

4.3 Avaliação do risco de nefrite proliferativa

Alguns estudos demonstraram que anti-C1q é um


marcador sérico sensível de nefrite lúpica proliferativa,
com valor preditivo negativo de 100%.7,8
Trendelenburg argumenta que os estudos que
demonstraram prevalência menor de anti-C1q na nefrite
lúpica incluíram pacientes com várias classes histológicas,
como II e V, associadas com frequência mais baixa de anti-
C1q.9
Sampaio Cruz e colaboradores, em estudo transversal
realizado no Brasil com pacientes com LES sem nefrite e
LES com nefrite classes III ou IV, observaram valor preditivo
negativo de 94,6% do anti-C1 para o diagnóstico de nefrite
lúpica.10
No estudo de Moroni e colaboradores, anti-C1q
foi detectado em 44% dos pacientes com formas não
proliferativas (II e V) e 79% dos pacientes com formas
proliferativas (III e IV) da nefrite lúpica, comparado
a 50% e 86%, respectivamente, do anti-dsDNA.11 Na
análise multivariada, anti-C1q foi o único marcador com
poder de discriminar entre formas proliferativas e não
proliferativas de nefrite lúpica. Segundo os autores, a
ausência de diferença de prevalência de anti-C1q entre
nefrite proliferativa e não proliferativa observada em

32
C A P I T A L REUMATO

alguns estudos, é consequência do


emprego de critérios clínicos para
definição de atividade renal, menos
acurados que a biópsia. Anti-C1q
ou anti-dsDNA foram detectados
em 95% dos pacientes com nefrite
proliferativa, o que sugere que a
ausência dos dois autoanticorpos
torna nefrite proliferativa uma causa
pouco provável de alteração renal
no LES.

4.4 Predição de recidivas e remissão


da nefrite

Aumento da concentração de
anti-C1q pode preceder a recidiva da
nefrite lúpica em dois a seis meses,
enquanto redução da concentração
ocorre após tratamento da nefrite
proliferativa, de forma mais
acentuada nos pacientes responsivos
comparado aos responsivos, 77% e
38%, respectivamente.12-15
A determinação seriada de
anti-C1q é útil para a predição e o
diagnóstico das recidivas de nefrite
proliferativa, e para a identificação de
potenciais pacientes não responsivos à
terapia.
A tabela 2 resume as principais
aplicações clínicas para os anticorpos
anti-C1q.

33
C A P I T A L REUMATO

TABELA 1: ANTICORPOS ANTI-C1Q: ASSOCIAÇÕES CLÍNICAS


Condição Prevalência
VUH 100%
LES 27-47%
Nefrite lúpica 48-83%
Síndrome de Felty 76%
Vasculite reumatóide 77%
Síndrome de Sjogren 13%
Crioglobulinemia 50%
GNMP 54%
Nefropatia por IgA 31%
Indivíduos saudáveis 4%

VUH = vasculite urticariforme hipocomplementemica;


LES = Lúpus Eritematoso Sistêmico; GNMP = Glomerulonefrite
Membranoproliferativa. Adaptado da referência 4.

TABELA 2: APLICAÇÕES CLÍNICAS DOS ANTICORPOS ANTI-C1Q

INDICAÇÃO COMENTÁRIOS
Diagnóstico da SVUH Sensibilidade de 100%
Avaliação da atividade do LES Maior associação com atividade renal
Avaliação do risco de nefrite lúpica Em combinação com anti-dsDNA
e complemento
Avaliação do risco de nefrite Mais de 90% dos pacientes com anti-C1q
proliferativa indetectável não desenvolvem nefrite
proliferativa nos meses subsequentes.
VPN pode ser ainda maior se
anti-dsDNA for não reagente.
Avaliação de recidiva Níveis altos precedem recidiva renal e
e resposta terapêutica normalizam quando há resposta terapêutica

34
C A P I T A L REUMATO

Figura 1: Estrutura da molécula C1q (referência 2)

5. LIMITAÇÕES DO ANTI-C1Q

Anticorpos anti-C1q são tradicionalmente pesquisados


por imunoensaios do tipo ELISA, que utilizam diferentes
antígenos, como C1q nativo e tampão com alta concentração
de sal para impedir a ligação de imunocomplexos circulantes,
apenas a porção CLR do C1q, ou epítopos lineares
imunodominantes da CLR.
A falta de padronização dos imunoensaios, associada
ao pequeno número de pacientes investigados a possível
influência de fatores étnicos, pode ter contribuído para
resultados divergentes de alguns estudos a respeito da
especificidade diagnóstica e utilidade do teste para o
prognóstico e monitorização da nefrite lúpica.16
Reconhecendo essas limitações, uma metanálise concluiu
que anti-C1q é útil para o diagnóstico e o acompanhamento
da nefrite lúpica, mas quando utilizado como parte de um
painel de autoanticorpos, como anti-dsDNA.17

6. RECOMENDAÇÕES DOS GUIDELINES EULAR PARA O


MANEJO DA NEFRITE LÚPICA E DO LES

Segundo o 2019 Update EULAR/ERA–EDTA recommendations


for the management of lupus nephritis, a pesquisa de
autoanticorpos anti-dsDNA e anti-C1q deve ser considerada
em pacientes com suspeita de nefrite lúpica, juntamente
com a dosagem de complemento (C3 e C4).18 Com relação
à monitorização e avaliação do prognóstico da nefrite, o

35
C A P I T A L REUMATO

guideline declara que anti-C1q é o marcador que possui maior correlação com nefrite lúpica ativa e pode
predizer a ocorrência de recidivas.
O 2019 update of the EULAR recommendations for the management of systemic lupus erythematosus,
recomenda que pacientes com alto risco de desenvolver acometimento renal, como aqueles com doença
sorologicamente ativa, incluindo anti-C1q positivo, devem ser monitorizados frequentemente, no mínimo a
cada três meses, para detecção precoce de doença renal.19

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19. Fanouriakis A, et al. 2019 update of the EULAR recommendations for the management of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis.
2019 Jun;78(6):736-745.

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C A P I T A L REUMATO

Dr. Bruno Wance Dra. Andresa Melo Dr. Fernando Vidigal Dr. Diogo Kloppel
Oncologista Clínico Coordenadora Oncologista Clínico Hematologista
do Serviço de Hematologia e Coordenador Médico
e Transplante de Medula do Centro de Oncologia
Óssea da Dasa Brasília da Dasa Brasília

Centro de Oncologia: união entre corpo clínico


qualificado e a maior rede de saúde integrada do país
Os centros de oncologia do Hospital Brasília – unidades
Águas Claras e Lago Sul – reúnem equipes altamente
capacitadas, tecnologia de ponta e integração a maior Saiba mais
sobre o Centro
rede de saúde integrada do país. Uma jornada completa de Oncologia /Hospital Brasília
do Hospital Brasília 37
de cuidados, da consulta ao tratamento. RT: Dra. Maria de Lourdes Worisch (CRM-DF 9036)

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