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#11LIJ E DESPORTO

CARLOS PINHÃO
HÉLDER TEIXEIRA ANTONIO GARCÍA TEIJEIRO
GIANNI RODARI APROVEITA E EXPLORA
ASTRID LINDGREN PARA BRINCALHARES
VIOLETA FIGUEIREDO TRINTA-POR-UMA-LINHA FLIX

REVISTA DE
LITERATURA
INFANTIL E JUVENIL + FEVEREIRO 2021
REVISTA TRIMESTRAL ON-LINE. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
ISSN 2184-1233. DIRETOR: JOÃO MANUEL RIBEIRO
2
FICHA TÉCNICA

Diretor
CÁ EM CASA

02
03
04
06
:
NOTÍCIAS

EDITORIAL
A Hora da Verdade

UMA HISTÓRIA POR DIA DÁ SAÚDE E ALEGRIA!


Carlos Pinhão

GALERIA DOS ESQUECIDOS: QUEM É QUEM


João Manuel Ribeiro Carlos Pinhão
Diretor-adjunto
Andreia Abreu
08 DOSSIER
O Desporto na LIJ Portuguesa
Chefe de Redação
J. José Olim
12 FALÁMOS COM
Hélder Teixeira

Design e Paginação
Patrícia Alves
16 UAU!
- Centenário de Nascimento de Gianni Rodari
- A Pippi das meias altas faz 75 anos
Redação - Associação Internacional de Paremiologia
Lg. Eng. António de Almeida, 30
3.º andar – Sala DD3
4100-065 Porto
24 DOS LIVROS PARA A TELA
Oliver e Benji - A paixão pelo futebol

Propriedade e Edição
Tropelias & Companhia
26 A CASA DOS POETAS
Violeta Figueiredo
Associação Cultural
Rua António Bessa Leite, 1516 C,
LEMOS, GOSTÁMOS E…
3.º Dto / 4150-074 Porto 28 RECOMENDAMOS!
Contribuinte 508828325
A LER
Orgãos Sociais 32 De que são feitas as histórias?
Mariana Vide Tavares
(Presidente da Mesa da Assembleia-geral)
OS NOSSOS PARCEIROS
João Manuel Ribeiro 33 CCA Prémio FMAM
(Presidente da Direção)
Ana Rosa Tavares A PALAVRA É TUA
(Presidente do Conselho Fiscal)
34 Concurso Literário Jovem - Ílhavo

N.º Registo ERC 127032 OPINIÃO


N.º ISSN 2184-1233
38 Entre a LIX e a Estética
Depósito Legal 433086/17
APROVEITA E EXPLORA
Tiragem 200 exemplares
Periodicidade Trimestral
40 Dicas de escrita

CURIOSIDADES LITERÁRIAS
Edição: 42
Editora Trinta-por-uma-linha
DE VIVA VOZ
43
Revisão de Texto
CITAÇÕES PARA PENSAR
Rita Vieira 44
Mónica Figueiredo
PARA BRINCALHARES
45
Estatuto Editorial
https://www.acasadojoao.info/sobre
#1
1

1
NOTÍCIAS
Encontro de Escritores de LIJ De que são feitas as histórias?
No dia 02 de fevereiro do passado ano de 2020, A A Trinta-por-uma-linha e A Casa do João publicaram
Casa do João e a Trinta-por-una-linha organizaram um livro ( será, antes, um Caderno), escrito por
o I Encontro de escritores de LIJ na Casa Allen, no Maria da Conceição Vicente, com apontamentos de
Porto. Neste encontro internacional, estiveram ilustração e grafismo de Bolota.
presentes 3 escritores galegos e 17 portugueses. Desmontar um brinquedo, observar e voltar
Sem qualquer temática predefinida, o encontro a montar as peças, na tentativa de perceber
visava o convívio e o diálogo informal na partilha como funciona, é um comportamento inerente
de experiências e de procedimentos. Prometido à curiosidade infantil. Ora, se os livros devem – e
ficou um segundo encontro para 2021, mas os quanto a isto não há qualquer dúvida –, partilhar
condicionalismos impostos pela Covid não o espaço com os brinquedos, porque não ajudar os
permitiram (ainda). mais pequenos a desconstruir histórias, para que
possam, em seguida, aprender a construí-las?
Curso on-line de escrita criativa para professores Como escrever/construir histórias é um desafio
No passado mês de setembro, a Trinta-por-uma- que carece de acompanhamento, pela necessidade
linha levou a cabo uma Masterclass, dinamizada por do domínio de vários códigos e da gestão da
João Manuel Ribeiro, em que participaram cerca de imaginação, este caderno assume-se como material
uma centena de professores do 1.º Ciclo. de apoio na tarefa de mostrar aos mais pequenos de
No final desta Masterclass, inscreveram-se 6 que são feitas as histórias, ponto de partida para a
professores, de que, segundo os professores descoberta de futuros caminhos de escrita.
participantes, tem havido bons frutos.
A Casa do João e a Trinta-por-uma-linha
Summit de escrita criativa - 2.ª edição
A partir deste número, A Casa do João passa a ser
Ocorreu a 23 de março passado, a 1.ª edição do
editada em parceria pela Trinta-por-uma-linha,
Summit de Escrita Criativa, encontro on-line e
que reformulou o seu site/blog, renovou a sua loja
gratuito, de dia inteiro ( das 9.30 às 18) com 150
on-line e tem tido particular atividade nas redes
participantes. Os palestrantes foram, além de
sociais, nomeadamente através de lives semanais
João Manuel Ribeiro (organizador), Cláudia Mota,
e da publicação de vídeos no YouTube. Além do
Maria da Conceição Vicente e os galegos Antón
trabalho de edição, a Trinta-por-uma-linha aposta
Cortizas-Amado, Antía Otero e Dores Tembrás.
agora também no marketing digital para escritores,
A temática foi a da criatividade na escrita, com o
sobretudo através da atividade do editor, João
intuito de descomplicar a escrita criativa, recorrendo
Manuel Ribeiro.
à transversalidade da poesia, traduzida na poesia
grafite e nos vídeo-poemas.
Formação e materiais
Está marcada já uma 2.ª edição para o dia 24 de
A Casa do João e a Trinta-por-uma-linha apostam na
abril, com palestrantes convidados do Brasil e da
formação de educadores, professores e formadores
Catalunha!
na área da Educação Literária e, concretamente, na
Webinar Escrita Criativa. Assim, brevemente, sairão novos
No próximo dia 06 de março, João Manuel títulos, como «De que são feitos os poemas?«, de
Ribeiro dinamizará um Webinar on-line e gratuito João Manuel Ribeiro e «A Página Escrita», um livro-
subordinado ao tema “Os segredos da escrita método de escrita, do escritor espanhol Jordi Sierra
de poesia para e com crianças”. Com duração i Fabra.
aproximada de 2 horas, destina-se a educadores,
professores e formadores de escrita criativa, além de Atraso na publicação
poetas e escritores de LIJ. A participação está sujeita Devido às condicionantes da Pandemia, não nos tem
a inscrição prévia! sido possível manter a regularidade trimestral de
publicação desta revista. Esperamos a compreensão
Redes Sociais dos leitores e prometemos «entrar nos eixos» logo
A Trinta-por-uma-linha e A Casa do João estão com que este ciclo pandémico se encerre.
uma presença regular e contínua nas redes sociais, A partir deste n.º, esta publicação é apenas digital.
nomeadamente no Facebook, Instagram, Twitter,
YouTube. Visita-nos e segue-nos!

2
EDITORIAL
Literatura Infantil
e Juvenil
e COVID-19

Queridos amigos

1. Fomos todos surpreendidos pela aparição do COVID-19 e empurrados para


quarentenas e estados de emergência. Também nós, n’A Casa do João, estivemos
confinados! É por essa razão que nos atrasámos na publicação desta revista. Pedimos,
obviamente, desculpa aos nossos leitores, mas tornou-se verdadeiramente impossível
manter o ciclo trimestral, no coração do confinamento.

2. Dedicamos este número d’A Casa do João ao Desporto na Literatura Infantil e


Juvenil. Embora não seja um tema recorrente na LIJ, há, porém, alguns autores com
obra significativa no tema, como, por exemplo, Carlos Pinhão, José Jorge Letria, Álvaro
Magalhães (com a coleção Os Indomáveis F. C.), Nuno Magalhães Guedes (com a coleção
Objetivo Golo), entre outros.

3. Reconhecemos que subsiste uma evolução no tratamento da temática pelos


escritores de LIJ, que, em nosso entender, vai da apresentação e valorização do desporto
como dimensão do desenvolvimento pessoal e comunitário (muito presente na obra de
Carlos Pinhão) até à acentuação (quase exclusiva) da vertente lúdica (em José Jorge Letria
e Álvaro Magalhães).

4. Apesar de centrarmos este número na presença do desporto na LIJ, entrevistámos


Hélder Teixeira, a propósito do seu original Boletim da Pauta, um projeto de reconhecido
mérito, que apoiamos.

5. Numa palavra: queremos que as circunstâncias e limitações impostas pelo


confinamento não nos desanimem de ler e de amar a LIJ!
Votos de boa saúde para todos!

João Manuel Ribeiro

3
UMA HISTÓRIA POR DIA DÁ SAÚDE E ALEGRIA!

Carlos Pinhão

O MELHOR NADADOR DO MUNDO


O Melhor Nadador do Mundo atirou-se ao mudava, sempre variava e, sobretudo,
mar e começou a nadar, a nadar sem mais podendo agora nadar de olhos abertos,
parar. O Treinador tinha-lhe dito que só sempre ia vendo umas coisas para se
parasse quando se sentisse cansado, mas, distrair: as estrelas, as nuvens, o Sol, as
como ele não se sentia cansado, continuava aves marinhas e, de quando em quando, de
a nadar, a nadar, já ia muito longe da costa, longe em longe, um barco.
de terra já há muito que o haviam perdido Agora, precisamente, estava a ver um
de vista, até porque a noite não tardara barco, ao longe, e pareceu-lhe um barco
a cair, já ninguém se lembrava mais do esquisito. Foi-se aproximando e, quanto
Melhor Nadador do Mundo e ele sempre a mais perto, mais esquisito lhe parecia o
nadar, a nadar. barco, até que se lhe dissiparam todas as
Consideravam-no O Melhor Nadador do dúvidas: era mesmo uma caravela daquelas
Mundo, não só porque nadava com muita dos antigos descobridores portugueses de
rapidez, mas também porque era grande quinhentos.
a sua resistência, nunca se cansava, dele Ficou de boca aberta, bebeu água, foi a
se dizia que era homem para nadar dia e primeira vez que parou de nadar, ia jurar
noite, noite e dia, sem se cansar. Dizia-se que era mesmo Vasco da Gama aquele
assim por dizer, sem grande convicção, ia ao leme, acenou, acenou, não o viram,
mas a verdade é que, daquela feita, tão a caravela seguiu e ele ficou naquele
bem-disposto se sentia, a previsão estava espanto, até que se lembrou de uma frase
mesmo a confirmar-se e a única dúvida, do Treinador, uma frase a que ele nunca
agora, era esta: quando pararia, onde ligara nenhuma, mas que se revestia agora
pararia. de trágica importância.
Como nadava, normalmente, de olhos Dizia-lhe o Treinador , com frequência:
fechados, O Melhor Nadador do Mundo «Não nades de costas, homem! Nadar de
nem se apercebera de que passara um dia costas é ver a vida a andar para trás.»
e uma noite, já outro dia e outra noite - e E era, pelos vistos... Aquela caravela não
só deu por isso, era noite escura, quando deixava dúvidas e ele via agora quão longe
decidiu, a certa altura, passar a nadar de o levara a sua desobediência... Por outro
costas e viu estrelas lá no alto. lado, também o seduzia aquela incrível
Nadava agora de costas, porque o Treinador aventura em que se via e, para levar o
estava longe, não o podia ver, não se podia mistério até às últimas consequências,
zangar. O Treinador não queria, de maneira continuou a nadar de costas, ignorando por
nenhuma, que ele nadasse de costas, completo as instruções do Treinador.
porque não era aquela a sua especialidade, Entretanto, também o Treinador tomara
porque isso podia afetar a sua «forma», as suas medidas e, como, desta feita, o
poderia prejudicá-lo nas classificações e nos Melhor Nadador do Mundo tardava mais
«recordes»?, mas, àquela distância toda, já do que o costume a regressar do treino,
certamente a milhas e milhas da terra, não alugou um helicóptero, foi em sua busca
havia hipótese nenhuma de o Treinador vir e, quando o encontrou, estava ele a ser
a saber desta desobediência do seu pupilo. pescado por um elefante para a Arca de
E assim, por mais horas e horas e horas, Noé.
continuou a nadar de costas, até porque já
estava cansado de nadar de frente, sempre (In Uma Gaivota com Óculos, 1992. Lisboa: Vega)

4
CROCODILO
DE TRAZER
INDIVIDUALISMO POR CASA
Há a formiga que desalinha. Aquilo
do crocodilo
Eu explico: era uma mania
há o carreirinho de formigas que Madame vestia.
umas para aqui
outras para acolá Tinha crocodilo
cumprimentam-se para todo o serviço
logo seguem – sapato de crocodilo
é assim, é a regra, é a norma – mala de crocodilo
mas há também a que desalinha – aplicações de crocodilo
sai da forma no casaco e no chapéu.
desirmana O crocodilo era todo seu.
sozinha Ao quilo.
fora da corrida E não se ficou por aqui
fora da corrente digo eu que vi
anda, para, ciranda Madame Reaça
mas sempre só. cheia de graça
Porquê? tirar um frasco da mala
A fazer o quê? e pôr pinguinhos nos olhos
A filosofar? enquanto explicava
A magicar o quê? aos circunstantes
reverentes
Muito eu gostava de lhe perguntar! que não usava óculos (isso era dantes)
usava lentes.
(In Bichos de Abril, 1977: Lisboa: Caminho) Só que, no Verão
não via bem
secava-se-lhe a vista
e, de aí, o expediente
JAULA do frasco lacrimal.

3
Conclusão a tirar:
Um dia, haverá um Jardim Antropológico. eram de crocodilo
Ao portão uma velha macaca
as lágrimas também.
dirá aos macaquinhos:
- Quem quer comprar amendoim
para dar aos homenzinhos? (In Bichos de Abril, 1977: Lisboa: Caminho)

(In Bichos de Abril, 1977: Lisboa: Caminho)

5
GALERIA DOS ESQUECIDOS: QUEM É QUEM?

Carlos Pinhão
O desporto como escola de aprendizagem
de competências cívicas fundamentais

1. Nascido em Lisboa a 4 de
maio de 1924 e falecido na mesma
cidade a 15 de janeiro de 1993, Carlos
(Alberto da Silva) Pinhão, frequentou
a Faculdade de Direito de Lisboa até
ao terceiro ano do curso, enveredando
pelo jornalismo, sobretudo jornalismo
desportivo, tendo-se estreado em
1944 no jornal “Sports”, futuro “Mundo
Desportivo” e passado pelo “Diário
Popular” e pelo “Século Ilustrado”.
Em 1955, assumiu o cargo de redator
do jornal “A Bola”, onde permaneceu
até morrer. Escreveu, na qualidade
de correspondente desportivo, para
jornais de Espanha (A Marca), França
(France Soir) e ainda o Les Sprorts, da
Bélgica. Colaborou intensamente em
outros órgãos da imprensa regional
e nacional, com especial destaque
para o jornal Público, onde ganharam
relevância as suas crónicas sobre a
cidade de Lisboa e que lhe valeram o
Prémio Júlio César Machado.

2. O primeiro livro para crianças que publicou foi Futebol de A a Z, editado pela Direção
Geral dos Desportos em 1976. Seguiu-se Bichos de Abril (1977), um livro de poemas sobre
animais que lhe granjeou um sucesso imediato. Outros títulos foram-se somando entre a
poesia e a narrativa, a saber: Uma Gaivota com Óculos (1979), O Professor de Pijama Azul
(1981), A Onda Grande e Boa (1981), Era uma vez um Coelho Francês (1981), O Coelho Atleta e
a sua Escola de Desporto (1983), O Senhor que não Sabia Contar Histórias (1984), Vovô Bicho e
Sete Recados, (1984), Lua Não, Muito Obrigado (1986), Sete Setas (1987), Balada de Embalar
(1988), Certo Dia no Deserto (1988), O Senhor ABC (1989), Abril Futebol Clube (1991) e João
Campeão (1994, em edição póstuma).
Quinze adivinhas, publicadas no jornal O Pimpão, permanecem inéditas à espera de
serem editadas em livro. Projetava uma coleção infantil de índole desportiva, intitulada
Agora Que Sou Crescido, quando a morte o surpreendeu.

6
3. Carlos Pinhão, a par de outros da sua geração, é um dos autores
de literatura infantil e juvenil injustamente esquecido, seja pela
qualidade inegável dos seus textos, seja pela quantidade de livros
publicados (17) em cerca de duas décadas de atividade literária. A
comprovar o esquecimento a que parece votado está a inexistência de
edições atualizadas dos seus livros (com a subsequente dificuldade em
os encontrar) e de estudos críticos ou literários sobre a obra do autor.
Os textos para o público infantil e juvenil repartem-se entre a
poesia e a narrativa, sendo transversal a ambos os géneros a simbiose
(mais que a combinação) entre fantasia e intervenção social, entre
ritmo e jogo, entre humor e recriação da realidade, numa aliciante convocação de universos ora
familiares, ora simbólicos, capazes de aguçar a imaginação e despertar o prazer da leitura. Neste
entretecido são identificáveis alguns eixos temáticos transversais à sua escrita: o desporto,
como escola de virtudes e de aprendizagem de competências cívicas fundamentais; os animais,
como reiterada metáfora arquetípica do comportamento humano, com uma presença evidente
em vários livros, como protagonistas ora ativos, ora passivos; o compromisso sociopolítico e o
testemunho (de evidente matriz) existencial.
Num estilo escorreito, bem-humorado, com sequências narrativas lineares e
caracterização pormenorizada das personagens, marcas específicas da escrita do autor, e com
intertextualidades internas (evidentes de livro para livro, seja pela recorrência de temáticas,
seja pela utilização de personagens já referidas), a escrita de Carlos Pinhão permite ao leitor
descodificar e interpretar a mensagem de forma aliciante e criadora de novos (e gostosos)
conceitos e temas.
Carlos Pinhão é um autor que vale a pena descobrir pela qualidade da sua obra ao nível
linguístico, retórico-estilístico e ao nível ideológico-interpretativo, mantendo a atualidade e
desafiando a capacidade imagética dos pequenos leitores de hoje.

7
DOSSIER

O Desporto na LIJ portuguesa


Alguns casos

1. O desporto como escola de virtudes – A ideia de que o desporto constitui


e de aprendizagem de competências uma necessidade fundamental do
cívicas fundamentais é um dos temas indivíduo e deve estar ao alcance
transversais à obra infantojuvenil de de todos, defendida no Conselho da
CARLOS PINHÃO (1924-1993). Desde Europa de 1970;
a obra inaugural, Futebol de A a Z – A Carta Europeia do Desporto para
(1976), passando por O Coelho Atleta Todos, de 1975, que constitui um marco
e a sua Escola de Desporto (1983), por nas intenções políticas europeias
Abril Futebol Clube (1991), por Carlos relativamente ao desenvolvimento
Lopes (1992), por Humberto Coelho do desporto, nomeadamente como
(1993) e terminando em João Campeão “parte integrante dos programas de
(1994, obra póstuma), transparece a desenvolvimento cultural, educativo,
sua paixão pelo desporto, sobretudo o social e de saúde”, entre outras
futebol, entendido como escola de vida dimensões;
e de virtudes. – A 1.ª Conferência Internacional
Como jornalista desportivo que de Ministros e Altos Funcionários
era, Carlos Pinhão conhecia as responsáveis pela Educação Física e
grandes problemáticas subjacentes Desporto, ocorrida em 1976, em que é
ao desporto, consubstanciadas explícita e formalmente reconhecida
em documentos e diretivas que se a dimensão educacional e cultural do
tornaram paradigmáticas, como: fenómeno desportivo;
– A noção de “Desporto para todos”, – A Carta Internacional da Educação
postulada no Conselho da Europa Física e do Desporto, que estabelece
de 1966, que objetiva a prática de os princípios gerais de universalidade
atividades físicas e desportivas e individualidade do fenómeno
adaptadas às condições de cada um; desportivo, adotada em 1978 pela
conferência geral da UNESCO.

8
uma transformação original de algumas
2. Na obra de JOSÉ JORGE LETRIA, o fórmulas discursivas idiomáticas (como
desporto assume uma outra dimensão: é o caso do próprio título da coletânea
o humor, patente em títulos como Histórias de ir à bola, pela proximidade
Histórias de ir à bola (2000), Os cromos com «não ir/ir à bola com alguém/
da bola (2008), entre outros. algo»), mas também o uso simples de
Como bem nota Sara Reis da Silva, em expressões como «Meia bola e força»,
recensão para A Casa da Leitura, as que, neste caso, representa o título de
Histórias de ir à bola «são nove textos um dos contos. Interessante o facto de
narrativos, de índole caricatural e, quase todas estas histórias possuírem
até satírica, que exigem, logo a partir um fundo simultaneamente crítico e
do momento em que se salta a capa moralizante.»
do livro e se chega à primeira página, Mantém-se o padrão em Os Cromos
o envolvimento do pequeno leitor, da Bola (2008), onde, segundo Ana
pois é-lhe sugerido por um pequeno Margarida Ramos, em recensão
diabo que cole a sua fotografia do para A Casa da Leitura, «partindo do
dia em que foi à bola. Em pequenos universo futebolístico, dos seus atores
quadros narrativos, construídos a principais e das características mais
partir de um discurso muito acessível, relevantes do desporto-rei, José Jorge
repleto de vocábulos resgatados à Letria recria, com recurso a quadras
gíria futebolística e com uma forte e a uma dose considerável de humor,
tonalidade cómica (por vezes, a tocar o um mundo caro aos pequenos leitores.
anedótico), as surpresas sucedem-se: Assim, os protagonistas daquele jogo
um árbitro que engole um apito; um cão são transformados em personagens
chamado Pelé que marca um golo; um literárias e alvo da análise perspicaz
torneio organizado por Anjos e Diabos; – às vezes mesmo crítica – do autor
um pombo, solidário com o dono, que que os retrata com fidelidade. Desde
demonstra a sua razão; ou, ainda, um o craque ao guarda-redes, passando
célebre almoço entre uma Águia, um pelo treinador e até pelo presidente
Leão e um Dragão, indignados com a do clube, todos são criteriosamente
forma abusiva como eram usados nos analisados e observados por uma
emblemas de três clubes. Ao inusitado poesia onde o humor, a crítica e
das situações recriadas junta-se não só realidade se combinam.»

9
DOSSIER

do desporto, através de uma série


juvenil que tem o futebol no centro
da sua ação: os grandes jogos e os
momentos de exaltação coletiva, mais
os seus bastidores, o que se passa nos
treinos, nos balneários, na vida privada
dos craques (Hulk, Helton, Cardozo,
Saviola e Liedson comparecem nas três
primeiras histórias), e também o que
se passa nas suas zonas mais escuras e
mal frequentadas.
Os protagonistas principais são três
jovens "Invisíveis" (assim chamados
Em Domingo vamos à luz (2010), narra-
por nunca se darem a ver), um de cada
se a viagem que um pai e um filho fazem
um dos nossos três maiores clubes
de casa até ao estádio, em dia de jogo
(FC Porto, Benfica e Sporting), e que
do Benfica. Mas esta viagem, feita
agem por conta de uma organização
com amigos que se encontram numa
internacional que investiga os ditos
multidão de adeptos, é também uma
ficheiros secretos do futebol.
viagem pela memória de outros jogos
Esses "Invisíveis" têm entre 14 e 16
com um avô que deixou saudades.
anos (altura em que devem ceder o seu
Este é um livro sobre a família e a
lugar).
partilha de experiências entre gerações.
As suas ações caracterizam-se pela
Como refere André Amaro, no blog
discrição e a eficácia, os seus recursos
www.ruadebaixo.com, o benfiquismo é
são a argúcia, a arte do disfarce e
composto por inúmeros rituais: vestem-
a mais avançada nanotecnologia,
se os paramentos (cachecol e camisola),
nomeadamente um telemóvel de
percorre-se a via-sacra em direção à
sonho, que executa as funções mais
catedral (com paragens obrigatórias
improváveis.
na roulotte das bifanas e na estátua de
É certo que esta série tocará fundo em
Santo Eusébio), entoam-se fervorosos
todos os jovens adeptos do futebol.
cânticos (como aquele que faz rimar
Porém, dada a qualidade dos enredos
camisolas berrantes com papoilas
e o modo como eles articulam o jogo
saltitantes), sentem-se inexplicáveis
com a vida, integrando aspetos da
êxtases místicos (de que é exemplo
problemática adolescente, como,
aquele recentemente proporcionado
por exemplo, a turbulência de outras
por André Gomes).
paixões (as quais, frequentemente,
É do mistério desta fé que este livro –
colidem com a paixão pelo futebol),
todo ele escrito em verso, como o hino
"Os Invisíveis" é também uma série
de Luís Piçarra – nos dá conta, com o
recomendada a todos os adeptos da
traço de André Letria a transportar-nos
leitura.
prontamente para tardes de banda
A mesma perspetiva aparece na
desenhada, cadernetas de cromos e
coleção «Os indomáveis», que conta
relatos de futebol.»
com 11 títulos, a saber: O mundo é uma
bola (2019), Nada é impossível (2020),
3. Já ÁLVARO MAGALHÃES, na
Operação Bola de Fogo (2020), Amor e
coleção "Os Invisíveis" (O Futebol ou a
futebol em Madrid (2020), Contra tudo
Vida (2009), O Último Segredo (2009),
e contra todos (2020), A Superliga é
A profecia (2009)), alia a aquisição de
só para super-heróis (2020), E agora,
competências cívicas à dimensão lúdica

10
futebol a sério (2020), Com CR7 na Ilha
do Tesouro (2020), No México, com os
extraterrestres (2020), A Guerra das
Tribos (2020), Não façam a bola chorar
(2020) e Operação Bola de Fogo (2020).
Tudo começa quando Ricardo e o irmão
mudam de casa e procuram, na nova
cidade, um sítio onde jogar futebol.
Há um clube com camadas jovens e
uma boa escola de futebol, mas eles
acabam a jogar num descampado com
outros rapazes. Em liberdade. "E se
fizéssemos um clube?", perguntou, um
dia, o Ricardo. E tudo começou nesse
momento. Eis, pois, a história contada
por ele: uma equipa, um treinador, um
nome, um equipamento, um clube:
Os Indomáveis F. C. Desde então,
Os Indomáveis viajam por diversos
países, encontram-se com heróis e
confrontam-se com situações em que
perceciona a relação entre o futebol e a
vida!

4. Outro caso, testemunho da presença


do desporto e, concretamente,
do futebol na LIJ, é o de NUNO
MAGALHÃES GUEDES e da sua
coleção Objetivo Golo, centrada
num grupo de amigos apaixonados
por futebol, que, no meio das suas
preocupações escolares, querem
formar o seu próprio clube.
Com cerca de 20 volumes, o futebol
aparece entretecido com as situações
quotidianas na vida dos jovens. Na
coleção, o futebol é rei, não deixando,
no entanto, uma ou outra vez de
conectar-se com outros desportos e
atletas!
[JMR]

O desporto como escola de aprendizagem!

11
FALÁMOS COM...

d e r Te i x e i r a
H él P R OJ E T O INCLU SIVO.
M ESMO IS SO, UM
APAU TA É
Hélder Teixeira nasceu nos últimos anos da década de oitenta e cresceu no limítrofe da
cidade do Porto. É o filho caçula de uma família tipicamente portuguesa. É Pai de três
maravilhosos filhos. Autodidata incorrigível, é mentor d' “O boletim da Pauta”, um boletim
de poesia adaptado à deficiência visual.
Dedica os seus dias à poesia, fotografia e música.

Quando é que sentiste esse chamamento e qual o motivo, ou motivos que te levaram a criar este
projeto que dialoga com poesia e a inclusão?

O projeto surge da curiosidade pela aprendizagem do Braille. Durante o processo de aprendizagem,


como autodidata, percebi que existe uma dificuldade em conseguir material disponível para o estudo,
nomeadamente livros transcritos. Eles existem, mas não são assim tão acessíveis. Consegui um exemplar de
matemática, por sorte, num alfarrabista no Porto. E desde aí que tenho vindo a nutrir interesse pelo Braille. O
boletim da Pauta nasce, sensivelmente, após seis anos de aprendizagem teórica e foi uma forma de ajudar a
colmatar uma lacuna encontrada no passado, como referi.
Inicialmente direcionei o projeto para a transcrição de contos infantojuvenis e Poesia, mas por falta de
recursos para a transcrição das ilustrações, avancei primeiro com a poesia.
Talvez seja este projeto a minha resposta ao “chamamento” da arte. Fazer algo que contribua, não somente
para a minha felicidade, como também para a felicidade dos outros.

12
No século XIX, Louis Braille criou um sistema de
leitura e escrita que permitiu aos cegos a possibilidade
de ler e escrever usando a polpa dos dedos. Tu
através desse sistema tomaste a iniciativa de criar
uma revista de poesia que fosse acessível a todos,
inclusive às pessoas cegas ou com baixa visibilidade
para poderem ter acesso à poesia escrita. Podes falar
um pouco do projeto, quem faz parte dele, quais as
parcerias que o envolvem?
Gostava de explicar o nome do projeto, pois acredito
que seja uma forma de esclarecer quem não conhece a
Pauta.
O boletim da Pauta, é uma edição quadrimestral,
relativamente curta, daí a designação de Boletim, e
Pauta porque é tudo transcrito com o recurso a uma
“ferramenta” com o mesmo nome.
Cada edição conta com a generosa participação de
diversos Poetas, através da cedência de um poema à
escolha dos mesmos, vão-nos contemplando com uma
diversidade muito enriquecedora. Para as capas, crio
parcerias com instituições que trabalhem diretamente
com jovens e adultos com diversas deficiências para
que assim seja possível promover a inclusão. A Pauta é Hélder, como é processada a revista? Queres
mesmo isso, um projeto inclusivo. explicar passo a passo como é elaborada até
Acredito que a Inclusão é, também, uma forma de amar, chegar às nossas mãos?
assim como a poesia, por isso o “mote” do “O Boletim da
Pauta”, A Poesia é para Todos, para que todos tenham Até a edição estar completa percorro três etapas.
acesso. A primeira etapa é estabelecer contacto com os poetas
e com a associação para convidá-los a participar no
Qual é o método que tu usas para escrever em projeto. Alguns contactos são mais fáceis de estabelecer
braille e quais os instrumentos utilizados? do que outros, mas depois de concluída esta fase e de ter
o conteúdo pretendido, avanço para edição dos poemas
Todo o processo de transcrição é manual e uso Pautas (de para adaptá-los à baixa visão, então até ao momento dou
29 linhas e de 4 linhas), negativas, ou seja, faço a transcri-
por concluída a segunda fase. A terceira e última etapa
ção no verso da folha e da direita para a esquerda (efeito
é a impressão e transcrição de todos os exemplares,
espelho), para criar o relevo nas folhas uso uma punção,
possivelmente o processo mais demorado.
um objeto pontiagudo semelhante a uma sovela.
Depois, folha a folha, vou transcrevendo todos os poe-
Se as pessoas estiverem interessadas na revista
mas meticulosamente.
vão desejar adquiri-la, qual o meio que utilizas
para divulgar e vender a revista?
Se todo o processo é transcrito manualmente,
quanto tempo demora a transcrever um poema?
Existe limitação para o tamanho do poema? Habitualmente uso a rede social Instagram para divulgar
todos os passos do Boletim.
Tudo depende da extensão do poema, mas em média Atualmente é possível encontrar a pauta na Livraria Poetria,
demoro cerca de 10 minutos. no Porto, e também podem efetuar encomendas através
Não existe uma limitação no tamanho, apenas uma das redes sociais ou por email.
preferência por poemas curtos para que a transcrição
coincida com a impressão gráfica.

13
1 Tenho conhecimento que já foste a escolas a
convite de alguns professores. Como é que te
sentes quando és apresentado a uma plateia de
crianças e jovens?
Hélder
Na realidade, os primeiros convites surgiram através
de pais, que quiseram levar aos mais novos um tema
diferente. Desses convites iniciais foram estabelecidos
novos contactos, e aí sim com professores, para fazer
uma sessão de exemplificação da transcrição e falar
também sobre a Pauta.
Estar perante uma sala repleta de jovens, sem filtros,
é uma tarefa bastante exigente. Há sempre um misto
de curiosidade e boa disposição, e por vezes as turmas
ficam bastante agitadas com uma nova descoberta.
Tento interagir com eles de forma a evitar que o
ambiente não fique aborrecido e também para que as
ideias possam ser bem transmitidas. Afinal de contas,
estou perante jovens que estão numa fase de absorção
sobre tudo que os rodeia.
O meu sentimento no final é de enorme satisfação,
pois falar do Braille, é falar de inclusão.

Sentes que eles têm algum conhecimento sobre


o tema da inclusão, mais especificamente sobre o
braille, ou é algo novo para eles?

Depende da idade. Penso que existe uma noção sobre


a temática abordada. Contudo, nunca é demais fazer a
devida menção às fragilidades da nossa sociedade no Com a criação desta revista e tudo o que a
que diz respeito à inclusão. envolve, estarás também a contribuir um pouco
Embora esse seja, também, um trabalho de todos para a «educação da consciência», de que fala
os que estão encarregados de transmitir as bases Paulo Freire?
necessárias para a formação de cidadãos responsáveis.
A transformação do mundo não é algo que esteja
Já foste apelidado de herói. É assim que te sentes, ao nosso alcance, a nossa permanência em vida é
um herói? demasiado curta para que seja possível criar um
impacto significativo. É essencial ter essa perceção.
Longe disso!!!! Nem pretendo ser semelhante coisa.
Qualquer tipo de transformação de uma sociedade
O que faço é apenas uma partilha, nada mais.
requer uma continuidade na conduta desejada.
Há imensas pessoas que fazem um trabalho de
A criação da “Pauta” pode, no máximo, ser um
proximidade com a comunidade e que de alguma
complemento à vida de quem necessita e uma
forma mudam a vida de quem estão a ajudar, esses
satisfação pessoal pelo contributo dado aos meus
sim, são verdadeiros heróis.
contemporâneos.

LAR DE IN CLUSÃO.
FALAR DO BRAILLE É FA

14
Teixeira
TE R MA IS C ONSCIÊNCIA
DEVEMOS
O M UN DO Q U E NOS RODEIA
SOBRE
O custo da revista fica inteiramente ao teu
encargo?

A minha verdadeira limitação neste momento é no


número de exemplares produzidos.
O principal objetivo é que o projeto seja autossus-
tentável, daí o valor cobrado por cada exemplar. Se
esse objetivo for uma realidade, considero o projeto
um sucesso.

Que perspetiva tens do futuro em relação à


inclusão e qual a mensagem que deixarias a
flutuar no pensamento das pessoas?

Se todos tivermos consciência da necessidade de


praticar a inclusão diariamente, já é um caminho
positivo.
Eu estou mais direcionado para o Braille, mas a in-
clusão é muito mais abrangente.
A mensagem é mesmo essa, devemos ter mais
consciência sobre o mundo que nos rodeia, cabe a
cada um esse direito e dever cívico sobre o tema.

Se te pedisse para nos presenteares com um


poema, qual escolherias?

Embora a escolha seja sempre muito dificil, eu


escolho um poema do Darío Jaramillo Agudelo
"Algum dia":

Algún día escribiré un poema


que no mencione el aire ni la noche;
un poema que omita los nombres de las flores,
que no tenga jazmines o magnolias.
Sin comparaciones, sin metáforas, algún día escribiré
Algún día te escribiré un poema sin pájaros un poema que huela a ti,
ni fuentes, un poema que eluda el mar un poema con el ritmo de tus pulsaciones,
y que no mire a las estrellas. con la intensidad estrujada de tu abrazo.

Algún día te escribiré un poema que se limite a pasar Algún día escribiré un poema, el canto de mí dicha
los dedos por tu piel
y que convierta en palabras tu mirada. Entrevista conduzida por Sílvia Mota Lopes

15
UAU!
2020 É ANO DE
GRANDES CENTENÁRIOS,
CELEBRAÇÕES E EFEMÉRIDES:
O CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE
GIANNI RODARI,
OS 75 ANOS DA PIPPI DAS MEIS ALTAS,
ENTRE OUTRAS...
Gianni Rodari é autor de uma obra inovadora e universal. Os seus
livros, que incluem contos de fadas, contos curtos, novelas e o famoso
ensaio A Gramática da Fantasia, têm sido traduzidos e publicados em
todo o mundo. A sua arte narrativa, divertida e poética, mostra como
a literatura é, acima de tudo, um modo de conhecer e inventar a
realidade.

A Pippi das Meias Altas, cujo nome completo, no original em sueco, é


Pippilotta Viktualia Rullgardina Krusmynta Efraimsdotter Långstrump,
é a personagem principal de três livros infantojuvenis da autora sueca
Astrid Lindgren, editados entre 1945 e 1948. Faz 75 anos!

A Associação Internacional de Paremiologia, com sede em Tavira,


cuida das formas breves de que a Literatura é tão fértil, como os
provérbios e os aforismos!

16
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE GIANNI RODARI
Gianni Rodari nasceu a 23 de outubro de Começa a publicar narrações curtas, de tom
1920, em Omegna, na Lombardia Italiana, e humorístico, dedicadas de maneira genérica à
morreu em Roma, a 14 de abril de 1980. família. Ali nascem suas primeiras Filastrocche,
Teve uma infância difícil. Foi criado por uma quer dizer quadras e ladainhas carregadas de
ama porque os pais precisavam de trabalhar humor, ligadas à poesia popular italiana, tão
duramente cuidando de um forno de padaria. apreciadas pelos leitores grandes e pequenos.
Quando o pai morreu, em 1929, Rodari foi Rodari inventou também poemas e contos
viver com uma tia. Posteriormente, entrou curtos que assinava com o pseudónimo de
no seminário de San Pedro Mártir, onde “Lino Picco”. Desta experiência surgem os
permaneceu até os 14 anos. Embora sempre seus primeiros livros para crianças Il livro delle
tenha desejado ser músico, acabou por ser filastrocche (O livro das ladainhas) y Il romanzo
professor do magistério italiano, dando de Cipollino (As aventuras de Cipollino).
aulas particulares. Em 1939, matriculou-se
na Faculdade de Línguas da Universidade Rodari começa então uma carreira como
Católica de Milão, mas não concluiu os estudos. escritor de livros infantis, que se consolida
Quando a Itália entrou na II Guerra Mundial, definitivamente com a sua vinculação à
Rodari foi recusado pelo Exército, por saúde editoria Einaudi, e que o leva a ser merecedor
frágil. Continuou professor até que, graças do maior prémio a que um escritor para
à sua vinculação com o partido comunista crianças pode aspirar, o prémio Andersen, que
italiano, começou a viver do jornalismo. recebe em 1970.
A partir de 1945 decide dedicar-se à Sem nunca abandonar o jornalismo, nem a
política. O partido confiou-lhe a direção do escrita para crianças, Rodari retoma na década
periódico L`Ordine Nuovo di Varese, que o de 60, a sua vocação inicial, a de pedagogo,
levou à descoberta de uma vocação que não e começa a visitar as escolas italianas para
abandonará nunca. Começa, assim, uma trabalhar com as crianças. Este contacto direto
extensa etapa de dedicação política exercida com a visão infantil, não apenas dá uma força
através do jornalismo, profissão que lhe imaginativa à sua obra literária, mas também
permite um conhecimento próximo dos o leva a consolidar a sua maior contribuição
problemas e das realidades do povo italiano. para a pedagogia da infância através do seu
É através do exercício de um jornalismo livro A Gramática da Fantasia, de 1973.
comprometido, próximo das pessoas mais “Durante o inverno de 1937-38, depois
desprotegidas, dos personagens de rua e de ser recomendado por uma professora,
marginalizados, das análises sobre a realidade esposa de um polícia municipal, fui
do leitor comum que Rodari chega à literatura. contratado para ensinar italiano em casa,
As primeiras publicações literárias no L’Ordine aos filhos de alguns judeus alemães que
Nuovo, são assinadas com o pseudónimo de acreditavam – acreditaram-no por poucos
Francesco Aricocchi, com o qual publicou uma meses – ter encontrado em Itália refúgio
coletânea de lendas populares, Lendas de para as perseguições raciais. Vivia com eles
nossa terra e dois contos fantásticos: O beijo e numa oficina sobre as colinas junto do lago
A senhorita Bibiana. Maggiore. Trabalhava com as crianças das
Posteriormente, sendo cronista do sete até as dez da manhã. Passava o resto do
periódico L’Unitá, publicação milanesa, Rodari dia nos bosques, a passear e a ler Dostoievski.
descobre a sua vocação de escritor para Um dia, nos Fragmentos de Novalis (1772-
crianças, quase sem se propor a isso. 1801) encontrei a frase que diz: “Se tivéssemos
“Converti-me em escritor para crianças uma Fantástica como existe uma Lógica, ter-
por acaso. Foi uma necessidade profissional: se-ia descoberto a arte de inventar. Poucos
numa página dominical, do periódico meses depois, quando descobri os surrealistas
onde trabalhava, necessitava-se de algo franceses, acreditei ter encontrado na sua
para crianças. E assim comecei a escrever forma de trabalhar a “Fantástica” que Novalis
narrações. Foi uma descoberta, inclusive para buscava.” (A Gramática da Fantasia).
mim, que depois me monopolizou, gostei, Em Portugal, Rodari é muito conhecido
incitando-me a compreender que ofício era e apreciado. Grande parte das suas obras
esse, que sentido tinha.” (Revista CLIJ, no. 36, encontra-se publicada entre nós.
1992. Pag. 20).

17
UAU!2
A PIPPI DAS MEIAS ALTAS
FAZ 75 ANOS

A Pippi das meias altas, a


heroína ruiva de 9 anos de idade
dos livros infantis, completou 75
anos no passado dia 21 de maio.
O primeiro livro de Pippi das
meias altas, escrito por Astrid
Lindgren, foi publicado em 1945.
A Pippi das meias altas
ganhou vida em 1941, quando
a filha de Lindgren, Karin, ficou
doente de cama por um longo
tempo. Lindgren relata que primeiro prémio e o livro foi lançado em novembro desse
Karin repentinamente dizia- ano.
lhe: “Conte-me sobre Pippi A Pippi das meias altas tornou-se rapidamente um
Longstocking”. Claro, Karin sucesso entre jovens leitores, que riram das suas piadas
disse em sueco, o que significa e admiraram a sua coragem e vontade de defender o que
que ela pediu uma história sobre considerava certo. Quem não amaria uma «miúda» sufi-
“Pippi Långstrump”. cientemente forte para levantar um cavalo e disposta a
As histórias que Lindgren arriscar a sua vida para salvar crianças presas num prédio
inventou são sobre uma jovem em chamas?
selvagem, mas de bom coração, O livro era menos popular entre alguns adultos, que
que morava sozinha numa consideravam a personagem como um péssimo exemplo.
casa chamada Villa Villekulla. Pippi não ia à escola, vivia sozinha e só seguia as regras
A menina morava com um que queria. Mas com o tempo, o bom coração de Pippi
cavalo e um macaco e estava conquistou os leitores de todas as idades.
constantemente a surpreender Pippi também ajudou a mudar as ideias das pessoas
os seus amigos vizinhos (muito sobre o que as meninas podiam fazer. Pippi foi uma das
mais normais) com suas primeiras personagens de um livro infantil a mostrar uma
aventuras loucas. menina como uma pessoa forte e destemida, que não
Lindgren só começou a precisava constantemente da ajuda de meninos.
escrever as histórias três anos Lindgren escreveu muitos outros livros, incluindo mais
depois de as ter contado à de 30 livros para crianças. Ao todo, vendeu mais de 165
filha. Quando terminou o milhões de livros.
livro, enviou-o a uma editora Mas a Pippi das meias altas continua a ser a sua per-
conhecida, mas o livro foi sonagem mais famosa. Os três livros da Pippi das meias
recusado. altas foram traduzidos para mais de 75 idiomas e foram
Lindgren continuou a tra- transformados em vários filmes e programas de TV.
balhar no livro. Em 1945, Lind- E por que se celebra o aniversário de Pippi a 21 de maio?
gren concorreu a um concurso Porque o dia 21 de maio é o aniversário da filha de Lind-
realizado por uma outra editora. gren, Karin, que sugeriu a ideia da escrita destas histórias.
A Pippi das meias altas ganhou o

18
UAU!3 Associação Internacional de Paremiologia
International Association of Paremiology
(AIP-IAP)

A VIAGEM É MAIS RÁPIDA QUANDO SE TEM BOA COMPANHIA


Corria o ano de 2005 quando a passagem à leceu o grande compositor Johan Julius Christian Si-
situação de aposentação encerrou um longo e belius e onde tinha consolidado amizades pessoais,
gratificante capítulo da minha vida profissional profissionais e culturais. País de grandes tradições
como matemático. A dedicação à causa públi- folclóricas, e com uma excelente rede de bibliote-
ca ao longo de um trajeto com quase quatro cas, rapidamente fui aconselhado a frequentar a
décadas, em permanente contacto com seres Sociedade de Literatura Finlandesa [Suomalaisen
humanos em formação, permitiu compreen- Kirjallisuuden Seura (SKS), em finlandês] para pros-
der o provérbio “Viagem, uma alegria ao partir seguir a investigação em curso. Paralelamente à
e duas ao chegar”. A sensação do dever cum- frequência do Curso Básico da Língua Finlandesa na
prido, o encanto que sempre me fascinou pelas Universidade de Helsínquia, a decisão de escrever
ligações aos mais diversos ramos do conheci- o livro “Provérbios europeus / European proverbs /
mento e, ainda, para ir ao encontro de Albert Eurooppalaisia sananlaskuja“ e conhecer o sistema

Einstein quando diz que “A Matemática não de classificação de Matti Kuusi foram fortes íma-
mente. Mente quem faz mau uso dela”, leva- nes para o fácil estabelecimento de uma nova e boa
ram-me, como viajante cultural, à procura de companhia: Outi Lauhakangas, filha de Matti Kuusi.
uma concretização para o sonho de habitar o Como resultado de sucessivas conversações acerca
espaço e o tempo. A forma de dar continuida- da temática paremiológica foi planeada a realização
de ao serviço de cidadania e, simultaneamen- de um Colóquio Interdisciplinar sobre Provérbios /
te, divulgar a expressão de Carl Friedrich Gauss Interdisciplinary Colloquium on Proverbs (ICP07),
“A Matemática é a rainha das ciências”, foi en- em Tavira.
contrada através do estudo científico dos pro- A qualidade científica e o sucesso do ICP07, no
vérbios – paremiologia. ano de 2007, foram unanimemente reconhecidos
“Mudam-se as matérias, mudam-se os li- por um escol de meia centena de académicos (quase
vros” e o local escolhido para iniciar esta nova todos eles linguistas) em representação de 16 Paí-
etapa foi Järvenpää, cidade finlandesa onde fa- ses de 3 continentes que deram nota de excelência

19
à organização do ICP07. Por sugestão A AIP-IAP, constituída por escritura pública, é uma
desses mesmos especialistas – com instituição cultural sem fins lucrativos cujo objeto é o
destaque para Wolfgang Mieder – nas- estudo da paremiologia (estudo científico dos provér-
ceu a ideia da criação de uma associa- bios) e tem a sua sede em Tavira. A AIP-IAP afirma-se
ção internacional dedicada ao estudo como instituição cultural, estranha a qualquer ideologia
científico dos provérbios. A inexistência política ou religiosa, tendo por missão contribuir para
a nível mundial de uma instituição para a defesa e promoção dos ideais e princípios da UNES-
esse fim, apesar das tentativas frustra- CO através de uma atividade cívica orientada para a
das conduzidas por investigadores de salvaguarda do património cultural intangível na área
renome mundial para a concretização da tradição oral – paremiologia e domínios afins. Ao
dessa ideia, reforçou o propósito de ir longo de séculos o ser humano foi deixando a sua pe-
por diante. Para tal terão também con- gada ecológica habilmente sintetizada em expressões
tribuído a boa cooperação da Câmara proverbiais com características comuns a várias cultu-
Municipal de Tavira na realização do ras. A paremiologia permite, por isso, uma transmissão
ICP07, o bom clima, o ambiente cultu- universal de conhecimentos às gerações vindouras, a
ral da cidade, o excelente acolhimento que se junta uma grande plasticidade de adaptação a
e, particularmente, as muito favoráveis novas situações. Este enorme potencial é assumido e
condições económicas proporciona- posto ao serviço da comunidade internacional pela AI-
das pelos agentes hoteleiros da cidade. P-IAP que o usa como uma estratégia inter (cultural +
Após meio ano de intenso labor, a cria- geracional) dirigida a um público-alvo muito diversifi-
ção, em Tavira, da Associação Interna- cado. O foco nos sectores da educação / formação, em
cional de Paremiologia / International cooperação com outros agentes culturais envolvidos
Association of Paremiology (AIP-IAP), de forma sustentável num processo de promoção da
em 07 de maio de 2008, tornou-se uma paz e da convivência entre os povos num mundo global
realidade. Foi, então, constituído um tem como bússola o provérbio “Assim como semeares,
primeiro elenco diretivo cuja presidên- assim colherás”.
cia foi ocupada pela Professora Doutora
Maria Gabriela Cabral Bernardo Funk. Para cumprir a sua missão, a AIP-IAP – única Asso-
A partir daí, têm sido eleitos sucessivos ciação no seu género a nível mundial – assume os se-
elencos diretivos presididos pelo signa- guintes objetivos gerais:
tário, Doutor em Ciências da Educação; • organizar conferências de paremiologia;
acompanha-o na presidência da Assem- • promover a investigação paremiológica e áreas
bleia Geral, a investigadora e paremió- afins;
loga Doutora Outi Lauhakangas. • realizar estudos de paremiologia em diferentes

20
sectores de atividades, que se desdobram nas Associação, bem como a apreciação e consi-
seguintes finalidades: deração que os vários públicos-alvo têm feito
• encorajar a cooperação internacional entre acerca do potencial paremiológico e sua apli-
académicos e associações trabalhando em cação em vários domínios do relacionamento
paremiologia e áreas científicas afins; humano. A transversalidade proverbial per-
• estabelecer programas de ação educativa mite criar uma série de ações facilitadoras de
com entidades oficiais públicas ou privadas, uma efetiva interdisciplinaridade, perspetivar
de âmbito nacional ou internacional, destina- pontos de convergência no diálogo intercul-
dos à transmissão da cultura paremiológica; tural e intergeracional e, consequentemente,
• facilitar o intercâmbio e a difusão da informa- ajudar na preservação do património cultural
ção paremiológica e de áreas culturais próxi- imaterial. “Quem faz viagem, sabe para onde
mas através do estabelecimento de redes in- vai” e, estrategicamente, o plano de interven-
formáticas internacionais; ção de médio e longo prazo compõe-se de ati-
• incentivar jovens investigadores para a rea- vidades distribuídas por:
lização de estudos paremiológicos visando a
defesa e preservação do património cultural A1. Sessões junto de agrupamentos es-
dos Países de que são cidadãos; colares como forma de sensibilização à inter-
• organizar ciclos de conferências internacio- disciplinaridade e formação de professores e
nais com a periocidade e localização que se alunos no que respeita ao aproveitamento do
revelarem adequadas à valorização da heran- potencial educativo dos provérbios em cada
ça cultural paremiológica; disciplina.
• promover a realização de estudos no âmbito
A2. Sessões descentralizadas em várias
da paremiologia a nível internacional;
localidades do País com atividades de ani-
• publicar anualmente um boletim informativo
mação cultural, pedagógica e social, ajustadas
- ADAGIUM - sobre o estado da arte da inves-
ao perfil de cada público-alvo e fomentando a
tigação paremiológica a nível internacional;
capacidade de transmissão de conhecimentos
de geração em geração e a valorização do pa-
Para a consecução destas metas e tendo sempre
trimónio cultural imaterial local.
presente a ligação com a vida do quotidiano, foram
definidas áreas de intervenção e delineadas estraté- A3. Sessões calendarizadas destinadas a
gias e metodologias de trabalho que impliquem au- exemplificar a ligação entre a paremiologia e
tonomia de pensamento e reflexão na multiplicação, outras áreas afins através da:
divulgação e valorização de conceitos. Sabemos que
académicos, educadores, investigadores, linguistas, 1. Realização de ciclos de exposições em
professores e outros interessados na temática pare- academias seniores, arquivos, bibliotecas, mu-
miológica têm mostrado a vontade necessária para seus, unidades ligadas à restauração, …, em
que a AIP-IAP possa prosseguir no cumprimento da paralelo com a realização de concertos, pa-
sua missão cívica. “Toda viagem começa no que- lestras, tertúlias, …, e de acordo com o tipo de
rer”, ao qual se associa o constante recurso ao do- instituição.
mínio da Paremiologia como
principal motor e condutor na
aproximação intercultural en-
tre gerações e povos. A com-
preensão havida entre institui-
ções públicas ou privadas, com
especialistas e jovens investi-
gadores leva a que a realização
de atividades se faça sempre
num ambiente de cooperação
agradável e útil na sociedade.
A expetativa resultante tem
ultrapassado em muito a atua-
ção pública dos membros da

21
2. Participação em programas especí- além da divulgação dos provérbios a nível mundial
ficos instituídos por Câmaras Municipais, e da preservação do património cultural intangível
Direção Regional de Cultura do Algarve, em (PCI) os ICPs têm contribuído para uma maior e me-
programas pontuais com Fundações e Em- lhor aproximação entre pessoas, povos com cultu-
baixadas e, ainda, com outras entidades, ras distintas.
onde as atividades proverbiais se enqua-
dram. A6. Preparação de visitas culturais à cidade e
outras localidades destinadas a dar a conhecer a
A4. Publicação de materiais pedagógi- riqueza patrimonial do nosso País, levando os par-
cos e educacionais da autoria de membros ticipantes nas atividades da AIP-IAP e dos ICPs à
da AIP-IAP, versando aspectos das suas in- comparação de distintas realidades.
vestigações paremiológicas e, também,
como produtos que espelham as vivências A consistência deste plano ao longo de mais de
culturais dos seus autores no contacto com uma década, particularmente no que respeita à rea-
a realidade. lização anual dos Colóquios, desde 2007, têm proje-
tado a AIP-IAP por esse mundo fora e fortalecido
A5. Organização dos Colóquios Inter- o crescimento da “Família Paremiológica” que, ano
disciplinares sobre Provérbios / Interdis- após ano, se reúne em “Tavira, cidade capital mun-
ciplinary Colloquia on Poverbs (ICPs), no dial do provérbio”. O facto de ter sido em Tavira que
seguimento do ICP07 e concebidos como uma grande parte dos paremiólogos e paremió-
espaços de partilha internacional. Para grafos se conheceram pessoalmente deu origem

22
ao provérbio “Todos os caminhos vão por malfeitores encobertos é negli-
dar a Tavira”. Tais expressões, autênti- genciar a sabedoria popular quando
cos slogans publicitários, são acarinha- recorda “Desvio desconhecido, peri-
das pela cidade e os seus dirigentes or- go acrescido”!!! A AIP-IAP e os seus
gulham-se de acolher a AIP-IAP no seu membros sabem acompanhar a evo-
território, anualmente, os ICPs e apoiar lução dos tempos e adaptar-se às cir-
a AIP-IAP pelos serviços prestados em
cunstâncias pois “Hoje, como ontem
prol da harmonia global. Por toda a ati-
vidade resumidamente apresentada a e amanhã, escolhe-se o trilho confor-
AIP-IAP foi confirmada (em 2016) como me o milho”. Assim, o uso dos meios
uma Organização Não-Governamental tecnológicos permitirá dar um sinal
(ONG) acreditada para prestar serviço de adaptação às circunstâncias atuais
de consultoria ao Comité do Património e futuras, ir ao encontro das dificulda-
Cultural Imaterial da UNESCO na área des financeiras sentidas pelos partici-
da tradição oral-paremiologia. Por ou-
pantes e pelas instituições que repre-
tro lado, a dinâmica empreendida levou
a Comissão Nacional da UNESCO a criar sentam e, ainda, manter a tradição
(em 2016) o Clube UNESCO de Paremio- de realizar em Tavira o ICP20, de 01
logia-Tavira (CUP-T), como parceiro pri- a 08 de novembro!!! Todos queremos
vilegiado na comunidade educativa, es- contribuir para confinar a pandemia,
timulado pela AIP-IAP e orientado para respeitando as restrições sanitárias
a promoção de uma cidadania ativa e em vigor e, sobretudo, atuando como
para a defesa dos valores proclamados
cidadãos responsáveis que recordam
pela UNESCO, conscientes de que “Com
tempo e perseverança tudo se alcança”. a sabedoria popular: “Se não dominas
o vento, orienta as velas”!!!
O período de restrições várias impos-
tas pela presença do Covid19 – vírus co- Rui Soares
barde, democrático e invisível que impõe Presidente da AIP-IAP/CUP-T
silêncio à humanidade inteira – é, salvo
melhor opinião, uma oportunidade para
refletir sobre os excessos de sociedade
vítima da sua própria conduta. Transfor-
mar o ser humano em robot controlado

23
DOS LIVROS PARA A TELA
Oliver e Benji
A paixão pelo futebol

A série japonesa Oliver e Benji marcou várias gerações devido à vibrante paixão
pelo futebol incutida, aliada à perseverança e humildade das personagens principais
que motivaram vários jovens na altura, hoje míticos jogadores.
O nome Lionel Messi diz-vos alguma coisa?

Talvez muitos meninos não associem, mas a série Oliver e Benji, deriva de um manga criado por Yoichi
Takahashi. Tais escritos foram a base para a série de sucesso nos anos 80, um pouco por todo o mundo.
A verdade é que todos os meninos apaixonados por futebol (o desporto rei) ficavam colados à TV e a
gritar golo com as personagens.
A série foi transmitida em Portugal em 1993, e depois em 2004, e até hoje é considerada a mais
mediática no que ao futebol diz respeito.
Os escritos manga (a origem desta icónica série) surgiram como forma de elevar o futebol no Japão e
criar uma cultura futebolística no país.
O autor Yoichi Takahashi conseguiu elevar o futebol e as suas aventuras (e desventuras) até chegar à
seleção principal do seu país. Com efeito, os episódios tornaram-se épicos!
Dentro da história, os nossos olhares voltam-se imediatamente para a personagem principal, Oliver
Tsubasa, que juntamente com Benji e Tobi Misaki vencem o campeonato nacional de jovens.
Mas, atente-se que nesta caminhada Oliver enfrenta todas as dificuldades inerentes ao futebol. Lesões,
desvantagem no marcador, a armadilha do fora de jogo, etc. E no âmbito da superação de cada
obstáculo, assistimos a Tsubasa cada vez mais forte e capaz , em constante evolução.
E foi essa empatia com os seguidores da série que a tornam única! Os momentos eram inolvidáveis. Na
verdade, os craques da série fizeram o percurso que qualquer jogador enfrenta na vida real.

24
De facto, a série foi muito mais que um simples desenho animado
que dava na televisão para entreter jovens apaixonados do futebol
mundial. O projeto televisivo em “Oliver e Benji” constituiu uma forma
de trazer a mensagem de Fairplay, desportivismo e dedicação a todos
os que apreciam o Desporto-Rei.

Algumas curiosidades
No início da história, Oliver Tsubasa tem apenas 12 anos. É esperto,
brincalhão e sonha em tornar-se o melhor jogador de futebol do
mundo. Acaba de se mudar e quer entrar na equipa de futebol da
escola de Nankatsu.
O pai de Tsubasa, Koudai Ozora, trabalha como capitão de marinha e
está no mar a maior parte do tempo, por isso, este foi criado pela sua
mãe, Natsuko. No entanto, ele tem um irmão mais jovem, Daichi.
Com campos intermináveis, defesas mágicas, saltos mortais, assim
ficava marcada esta série, que é derivada do manga escrito e ilustrado
por Yoichi Takahashi chamado de “Captain Tsubasa” e publicada na
famosa revista Weekly Shōnen Jump entre 1981 e 1988.
Logo após conhecer o sucesso do manga, a Toei Animation adquiriu os
direitos e passou a produzir o anime (ainda inédito no Brasil) que teve
um total de 128 episódios e foram exibidos entre 1983 e 1988. Depois
dessa série que era um pouco mais infantil, foram produzidas “Captain
Tsubasa J”, “Captain Tsubasa Road to 2002” e “Captain Tsubasa (2018)”,
essa última exibida pelo Cartoon Network.
No Brasil, “Supercampeões” (como assim é conhecida no Brasil)
estreou a 12 de setembro de 1997 e foi até 27 de setembro de 1998,
quando era exibida apenas aos domingos.
Em 2018, um dos maiores portais de informação desportiva da China
comparou o golo de bicicleta do futebolista Cristiano Ronaldo, frente
à Juventus, com as acrobacias de Oliver Tsubasa, esta personagem de
manga japonesa dos anos 1980.
Criada em 1981, a série anime "Campeões: Oliver e Benji" estreou em
Portugal em 1993, na RTP2, e foi mais tarde reproduzida pelo Canal
Panda e pela SIC. A série de ficção popularizou-se pelas suas jogadas
fantásticas e golos e fintas em movimentos acrobáticos.
Segundo um estudo citado pelo sports.qq.com, 70% das crianças
japonesas começaram a jogar futebol depois de assistirem àquela
série.

Irene Mónica Leite

25
A CASA DOS POETAS

VIOLETA FIGUEIREDO
Violeta Figueiredo nasceu na Figueira
da Foz, em 1947. Licenciada em Filologia
Românica, foi professora do Ensino
Secundário. Publicou uma dezena de livros
infantis.
Foi guionista das séries "Rua Sésamo",
1.ª e 3.ª séries, e "Terra Instável".
Tem-se dedicado igualmente à
investigação histórica.
Na área da literatura para a infância e
a juventude, ganhou, em 1990, o Prémio
Verbo/Semanário e, em 1991, o Prémio
Inapa/Centro Nacional da Cultura.
Várias das suas obras integram as listas do
PNL.

Dos títulos que publicou, destacam-se


Marilu Micifu (s.d.), Eram Férias e Havia Sol
(1990), Mistérios em Tempo de Aulas (1991),
Fala Bicho (1992), A Casa da Floresta (1994),
Os Donos da Praia (1996), O Gato do Pelo em
Pé (1997), A Excursão dos Gambozinos (2001),
A Verdadeira Vida da Formiga Rabiga (2001),
Gambozinos Marinheiros (2002) e Tempo Maluco
(2003).

Poemas para as Quatro Estações


Para que as plantas floresçam na primavera, é preciso que, antes disso, o inverno as embale na terra, que
o outono lhes espalhe as sementes ao vento, que o verão lhes amadureça os frutos. Os animais vão e vêm,
conforme faz mais frio ou mais calor, e até nós nos comportamos de maneira diferente, com alegrias e afazeres
próprios de cada tempo. Nenhuma estação do ano faz sentido sem as restantes. Bom mesmo é sabermos
contemplar a beleza de cada uma delas — essa espécie de poesia de que nos apercebemos não só com os
sentidos, mas, sobretudo, com o coração.
Nomeado melhor livro infantojuvenil 2017 pela Sociedade Portuguesa de Autores.

Poemas da Horta e Outras Verduras


Poemas da horta e outras verduras? Mas, será que podemos fazer ou, mesmo, ler poemas sobre um nabo
ou uma abóbora-menina?... Claro que sim. Aqui, acima de tudo, brinca-se. Com palavras, com poemas, com
histórias. Por acaso — ou não será assim tão por acaso? —, as personagens são da horta, mas poderiam ser
outras. E até tu podias entrar neste livro.
São, sobretudo, pequenas histórias que acontecem todos os dias. Para as descobrires, só tens de estar
atento… e ter alma de poeta!

26
POEMAS INÉDITOS

Nada de Nadinha expl


ica-se Nada de Nadinha, as
serpentes Nada de Nadinha polig
Eu, às vezes, quando nã lota
o falo e o cavalo de bronze
calo-me.
Calo-me, calo-me, calo-
me, Eis o Nada de Nadinha Nada de Nadinha arranh
cubro-me de calos a
na estátua do Terreiro um bocadinho de Inglês
até me doer a vista
a chamar rei D. João mas de Francês nada ar
e ter de ir ao calista ranha,
ao rei D. José I. Francês para ele é Chinê
e ser forçado a falar: s.
– E agora vai um malhão Se ele arranhasse o Fran
“– O quê, cinco euros ca cês
da calo?!” em honra d’el-rei D. João assim como arranha o Ing
“– São preços tabelados ! lês,
”, talvez a coisa mudasse
responde o calista
Tanto ele como as serpen e ele também arranhasse
e fala logo em mercado tes
s internacionais sapateiam bravamente. um bocadinho o Chinês,
e capitais de risco.
Quando embatem no ca o qual talvez se vingasse
Um calista economista valo
jamais se cala, gritam para o alto, a avisá e com razão o arranhasse
fala, fala, fala, -lo: …
– Pousa a pata, olha o m Isto de ser poliglota,
badala como um sino, au jeito!…
meus amigos,
deixa entupidos os ouvid
os Mas o cavalo de bronze às vezes tem seus perig
dum pobre cliente inoce os!
nte. nem pensa em largar a po
Eu, é fatal como o desti se:
no, “Ninguém foge à sua po
depois de ir a um desses se,
calistas é um molde que nos calha
economistas, …”
Frente ao céu e ao mar
tenho de ir ao otorrino. da palha
mantém a pata no ar
– Ao otorrino?
e faz a palavras loucas
– Ao otorrinolaringolog
ista. orelhas moucas.
– Para quê, Nadinha?
– Para limpar os ouvidos
entupidos
pelo calista economista.
Saio tão arreliado
que me torno a calar um
bom bocado,
aí um ano ou dois,
mas depois assim que re
paro,
paro,
e vou logo ao oftalmolo
gista
porque ir logo ao oftalm
ologista
me fica mais barato
do que ir primeiro ao ca
lista
e depois ao otorrinolarin
gologista.
– Estás a brincar comigo
?
– Estou.

27
LEMOS, GOSTÁMOS E... RECOMENDAMOS.
QUANDO VOU
DORMIR O MUNDO EMA E A ESTRELA
PARA CARENTE.
A história centra-se em
Quando vou dormir o mun-
Ema, uma menina de 9
do para, de Leonor Tenreiro,
anos movida a sonhos e
com ilustrações de Rachel Caiano, é uma lista curiosidade. Por mais que
detalhada e carregada de imaginação do que não os pais e a professora lhe
acontece quando fechamos os olhos para dormir. digam para deixar de estar
Como se o sono colocasse entre parênteses os sempre com a cabeça nas
acontecimentos do nosso dia que se retomam nuvens e se concentre nos
estudos, a sua inquietude é maior. Numa noite em
quando acordamos.
que o sono teimava em não vir, a jovem descobre
Se reparares bem verás que entre o texto da
uma estrela que, pelo movimento e luminosidade
página inicial (“Quando vou dormir, o mundo para constantes, parece querer comunicar com ela.
mas é que para mesmo) e o texto da penúltima pá- Quando decifra que a estrela está perdida na
gina (“Até que eu desperte”) há um grande núme- imensidão do céu, resolve ajudá-la na hora, tarefa
ro de coisas que NÃO acontecem: os brinquedos que leva a bom porto!
ficam no mesmo lugar, os balões não rebentam, o A narrativa, quer do ponto de vista do argumento
(simples, mas consistente), quer através da
pai continua a bocejar e a mãe a vestir o roupão, a
articulação das suas (5) partes, é estruturada, e
vizinha fica a meio do gorro do neto, o café do sr.
agradável de ler. A aparente densidade do texto é
Aníbal não chega à chávena, as bolinhas de sabão sabiamente matizada por duas ou três estratégias
ficam no ar sem rebentar, a chuva não molha os narrativas, suscetíveis de captar a atenção do leitor
carros, os arrepios e as cócegas nunca terminam, (autónomo): o evidente humor na descrição de
os elevadores ficam parados, a comida não fica alguns episódios; a convocação do leitor através
salgada, o livro nunca chega ao fim, entre outras de perguntas (até sobre o curso da narrativa); os
diálogos que, não sendo abundantes, oferecem
coisas que não acontecem. Ou melhor: não acon-
ao texto o equilíbrio necessário para que se torne
tecem por acontecerem na nossa cabeça.
dinâmico; a tipologia, aparentemente inconciliável,
Estranho? Talvez, mas a conclusão da página fi- das personagens com recurso à personificação no
nal faz-nos pensar: “Quando vou dormir, o mundo caso da estrela e ao realismo imagético no caso de
para, só a minha cabeça é que não”. Ema, fascinada pela noite e as suas estrelas.
Nas ilustrações de Rachel Caiano, cujo estilo já Finalmente, o desenlace surpreendente da
conheces de outros livros da Ilustradora, encon- narrativa deixa ao leitor a possibilidade de (re)
pensar a matéria dos sonhos:
trarás um mapa com informações que completam
As ilustrações de Carla Monteiro, apesar de
e alargam o sentido e o alcance do texto, como
figurativas, seduzem pela forte paleta de
por exemplo, a indicação das 21:00, as frases cores, pela conjugação visual entre universos
“encontra estes desenhos no livro” ou “ descobre aparentemente inacessíveis, sem deixar de
o intruso”, nas guardas. Ou a ilustração onde um oferecer, em alguns apontamentos, pontes (não
relógio sugere o globo terrestre. pontos) de vista divergentes do texto, o que
Um livro para ler e pensar! enriquece a narrativa e manifesta uma simbiose
perfeita entre texto e imagem.
Leonor Tenreiro (2019). Quando vou dormir o mundo Um livro a ler, sem dúvida! E a partilhar, nem que
para. (Ilustrações de Rachel Caiano). Lisboa: Livros seja em código Morse!
Horizonte!
Sérgio Almeida (2020). Ema e a Estrela Carente.
(Ilustração: Carla Monteiro). Rio Tinto: Mosaico de
Palavras.

28
CABEÇA DE
ANDORINHA.
A primeira coisa que O GATO MALHADO
aprenderás com este livro
é que é preciso ter cuidado Decerto já ouviste a expressão
com os nomes que chamas “aqueles são como o cão e o
aos outros. É que pode gato” para dizer que não se
acontecer-te o mesmo que dão bem e que implicarem faz
a esta menina (se não fosse a ilustração podería- parte da sua natureza.
mos dizer que é um menino) a quem todos dizem Este livro de Clara Cunha
que tem “cabeça de andorinha”. (conhece-la como autora de O
Começou a ver, observar, verificar, investigar, Cuquedo) apresenta-nos um gato malhado que vive
conversar e a descobrir que o significado que as
no quintal da D. Alzira é um cão patudo que vive no
pessoas davam ao que lhe chamavam não coin-
quintal da D. Celeste.
cidia com o que de facto acontecia na sua cabeça:
A separar ambos os quintais está o quintal da D.
“(…) os meus pensamentos são como papagaios
Perpétua.
de papel presos por um fio e (…) nunca se perdem,
porque há sempre esse tal fiozinho que os prende Ora, certa noite, um estrondo vindo do fundo do
a mim.” quintal da D. Alzira não só proporciona o encontro
Outra coisa que aprenderás com este livro é a inesperado e estranhamente amigável entre o gato
importância de pensares em assuntos importantes malhado e o cão patudo como com um pinguim
e bonitos e não em pensamentos de grandeza, que caído duma nave espacial.
não servem para nada. Feita a descoberta de que o pinguim não sabe
“Os pensamentos importantes são aqueles que voar, mas sabe cantar, o gato e o cão, através de
servem para fazer do mundo um lugar ainda mais episódios rocambolescos confiam o novo amigo aos
bonito.” (…) As pessoas sensíveis é que deviam cuidados da D. Perpétua.
mandar no mundo, porque têm cabeças, corações “Uma vez por mês, os amigos juntavam-se no
bonitos e olhos que sabem ver as coisas verdadei- quintal da D. Celeste a contar histórias e a comer
ramente importantes.”
biscoitos de cão”, isso “até que um dia, numa noite
Nota bem: se tu tiveres cabeça de andorinha ou
escura como breu, ouviram um estrondo.”
de pássaro, ou um pássaro na cabeça, uma coisa
As ilustrações de Teresa Cortez, cheias de cor e
importante aconteceria: “o mundo ficaria um lugar
vivacidade, destacam-se sobretudo pela ironia e o
ainda mais lindo e, claro, todas as gaiolas seriam
proibidas.” humor.
As ilustrações de Ana Oliveira são de uma apa- A ler, sem dúvida.
rente fragilidade, mas se as olhares com os olhos
Clara Cunha (2019). O Gato Malhado. (Ilustrações de
do coração logo verás que na verdade não é assim.
Teresa Cortez). Lisboa: Livros Horizonte.
Um livro para leres e conversares sobre ele com
os teus amigos!

Joana M. Lopes (2019). Cabeça de Andorinha. (Ilus-


trações de Ana Oliveira). Lisboa: Livros Horizonte.

29
LEMOS, GOSTÁMOS E... RECOMENDAMOS.
DUAS
CASAS A SINFONIA
DOS ANIMAIS
Duas Casas,
texto de Pedro O conhecido
Saraiva e autor do romance
ilustrações de bestseller O Código
Anabela Dias, é Da Vinci, aventura-
um livro com 7 se com A Sinfonia
poemas dramáticos, no sentido literário e dos Animais, pelo
literal do termo. Cada poema é o capítulo da universo da Literatura Infantil e Juvenil.
grande história das casas, das duas casas: a Com ilustrações de Susan Batori, este livro
casa do pai e a casa da mãe. funciona como um jogo, dado que podemos
Duas Casas é uma metáfora da situação ler e também ouvir os poemas/histórias
existencial vivida por muitas crianças que o constituem. Além disso, guarda
na atualidade, que experimentam a dentro de si algumas letras escondidas,
incomunicação, que descobrem que porque cada história tem letras escondidas
«procurar uma casa no mundo é muita na ilustração, que, se postas em ordem,
distância a percorrer», e que há diversos formam o nome de um instrumento musical
tipos de casas – casas constipadas e – e são 19 instrumentos musicais que estão
outras por constipar -, e sobretudo, representados nas guardas do livro.
casas em construção (desarranjadas, O leitor é, ainda, desafiado a procurar a
desencontradas). Crianças com contas abelhinha laboriosa que se esconde em todas
difíceis de fazer, que cedo descobrem que as páginas do livro e a decifrar uma frase
«as casas não são nossas, elas deixam-nos lá codificada na última página. Refira-se que, nas
morar» e que, mesmo a correr, descobrem últimas páginas, que se abrem num grande
que numa casa o mais importante é o plano de quatro páginas, a ilustração mostra
coração. E compreendem que a sua casa são todos os animais do livro associados aos
duas casas… e aprendem a viver e ser felizes respetivos instrumentos.
assim… Enfim, um livro para ler, ouvir, descobrir
Belíssima viagem poética ao mundo e… brincar.
(complicado) de tantas crianças do nosso
tempo. Dan Brown & Susan Batori (2020). A Sinfonia
As ilustrações de Anabela Dias dos Animais. Lisboa: Bertrand Editora.
completam de cor e harmonia densa a
metáfora textual, constituindo ambos uma
paradoxal casa comum para o coração dos
pequenos leitores.
Edição Bilingue!

Pedro Saraiva & Anabela Dias (2020). Duas


Casas. S/L: Imaginar do Gigante!

30
Tens em casa uns pimpolhos atrevidos, Neste programa de subscrição mensal, tens
irrequietos, curiosos e muito ativos? Ou uns acesso a:
malandremos que precisam de ser espicaçados?
Gostavas que eles lessem livros de literatura 2 ebooks
fantásticos, adaptados à sua idade? (1 de histórias e 1 de poemas)
Gostavas de os educar pela literatura de um 2 músicas (áudio)
modo lúdico? de alguns dos nossos livros
Gostavas de ter um programa que te ajudasse 2 Meditações literárias
nesse trabalho educativo? (meditações construídas a partir dos livros da
Mas... (há sempre um mas), não tens tempo nem Trinta)
oportunidade para cuidar disso? 6 Jogos / Quizzes / passatempos
Ou acreditas que o livro por si só não chega, é a partir de livros da Trinta
preciso mais? 2 Ilustraçōes/fotografias originais
Ou, naturalmente, achas que isso custará uma em formato de cartaz (sobre leitura, livros, poesia)
pipa de massa? Vídeos de entrevistas
aos nossos autores (Autores que falam de si)
Nós temos a solução para ti... [trimestral]
Que te parece se uns malucos que gostam História de livros contadas
de fazer trinta-por-uma-linha te dessem por autores e contadores de histórias [trimestral]
a possibilidade de, todos os meses, teres
disponível on-line Podes aceder a mais informações sobre este
2 ebooks (um de poemas e outro de histórias) programa de subscrição mensal (membership) no
para eles lerem ou tu lhes leres? site da Trinta-por-uma-linha:
E se a isso juntasses duas músicas infantis https://trintaporumalinha.com/
retiradas de livros? Este programa começa no início do mês de março
E se não só tivesses livros e músicas, mas e é de subscrição mensal - está disponível 100%
pudesses também dar a conhecer aqueles que on-line e quem o subscrever pode ainda, por
escrevem os poemas e as histórias? esse facto, usufruir de 30% de desconto na
E se tivesses também histórias contadas por aquisição de livros em papel. Fantástico, não é?
bons narradores para lhes dares a ouvir?
E se tivesses ainda oportunidade de fazer uma Este programa é suportado por um conjunto de 20
meditação mensal, a partir de um livro? Fundadores que terão acesso gratuito e vitalício
E se a tudo isto juntares alguns passatempos ao mesmo!
(sopa de letras, palavras cruzadas, quizzes, etc)?
E, finalmente, se pudesses imprimir um cartaz Vá lá! Anima-te e subscreve este programa de
para lembrar/motivar para a leitura? subscrição mensal que te vai permitir fazer Trinta-
por-uma-linha!

31
A LER
De que são feitas as histórias?

A Trinta-por-uma-linha e A Casa do João aca- Acreditamos que esta será uma poderosa ferramen-
bam de publicar o 1.º Caderno de Educação ta para ajudar os professores que queiram potenciar a
Literária. Trata-se de um livro/caderno, de autoria escrita e a leitura (criativa) dos seus alunos...
de Maria da Conceição Vicente, com ilustração e Para os alunos que acedam a este livro/caderno a
design de Bolota, intitulado De que são feitas as mensagem é um desafio:
histórias?
E a pergunta do título guarda dentro a promes- Já pensaste que uma história se pode “desmontar”
sa de que, quem ler e exercitar o que nele é dito, em várias “peças”, para ver como funciona? E que, só
escreverá histórias fantásticas... percebendo como essas “peças” se organizam, poderás
ser ca- paz de construir as tuas próprias
Desmontar um brinquedo, observar e histórias?
voltar a montar as
peças, na Este caderno, além de te
tentativa mostrar de que são feitas as
de perce- histórias, vai proporcionar-te
ber como divertidos momentos de es-
funciona, crita e dar-te pistas para que
é um com- possas transformar-te num
portamento pequeno escritor.
inerente à Brevemente, sairá o 2.º
curiosidade Caderno, cujo tema será:
infantil. Ora, De que são feitos os poe-
se os livros de- mas?, da autoria de João
vem – e quanto Manuel Ribeiro.
a isto não há
qualquer dúvida Os objetivos desta
–, partilhar es- coleção de Cadernos
paço com os brin- são consentâneos
quedos, porque com os do PEL - Pro-
não ajudar os mais grama de Educação
pequenos a des- Literária, programa
construir histórias, d' A Casa do João e
para que possam, que visa promover
em seguida, apren- a edição e divul-
der a construí-las? gação de subsídios
Como escrever/ capazes de susten-
construir histórias é tar a EL no Jardim de Infância, e no En-
um desafio que carece sino Básico, ao nível da leitura, audição, compreensão
de acompanhamento, pela necessidade do e escrita; realizar encontros de formação para pais, ed-
domínio de vários códigos e da gestão da imag- ucadores, professores, mediadores de leitura e outros
inação, este caderno assume-se como material de profissionais e promover atividades e experiências de
apoio na tarefa de mostrar aos mais pequenos de EL centradas nas várias dimensões da EL, nomeada-
que são feitas as histórias, ponto de partida para a mente: a leitura, a escrita e a compreensão.
descoberta de futuros caminhos de escrita.

32
OS NOSSOS PARCEIROS
O CCA - Centro UNESCO de Amarante
vence 1.º Prémio Fundação Manuel
António da Mota para Clubes UNESCO

O site pretende dar visibilidade ao trabalho


dos Clubes UNESCO na comunidade portuguesa,
ao mesmo tempo que dá a conhecer o trabalho da
Rede de Clubes UNESCO nos diversos ecossiste-
mas da Comissão Nacional da UNESCO.
Por outro lado, espera-se estimular o tra-
balho em rede e as parcerias com o setor privado,
com a Universidade e demais organizações da so-
ciedade civil.
O Prémio Fundação Manuel António da
Mota para Clubes UNESCO "Criar Alicerces na So-
ciedade, Construir Pontes para a Paz” é instituído
pela Comissão Nacional da UNESCO com o apoio
O CCA - Centro UNESCO de Amarante e o Clube da Fundação Manuel António da Mota e visa rec-
UNESCO Cresaçor venceram ex-aequo o 1.º Prémio ompensar os esforços dos Clubes UNESCO portu-
Fundação Manuel António da Mota para Clubes UNES- gueses que se destacam, na sua atividade anual,
CO "Criar Alicerces na Sociedade, Construir Pontes para pelo alcance das suas iniciativas em prol da pro-
a Paz". moção dos valores defendidos pela UNESCO, con-
O júri constituído por um representante da tribuindo igualmente para os ODS - Objetivos de
Fundação Manuel António da Mota, Rui Pedroto, um Desenvolvimento Sustentável.
representante da Federação de Associações, Centros e A Fundação Manuel António da Mota
Clubes UNESCO, Aires Carvalho, e um representante da (FMAM) constitui o contemporâneo e natural
Comissão Nacional da UNESCO, Anna-Paula Ormeche, corolário da matriz e tradição filantrópicas do
considerou que ambos os projetos "são importantes, Grupo Mota-Engil, na senda do legado do seu fun-
por permitirem um maior conhecimento e projeção da dador, Manuel António da Mota.
Rede de Clubes UNESCO, tanto a nível interno como A FMAM é um importante instrumento
externo, passando uma mensagem de complementari- da política de responsabilidade social do Grupo
dade e união e procurando debater questões prementes Mota-Engil, enquanto expressão organizada e
como os direitos humanos e o papel da comunicação sistematizada de uma gestão ética e socialmente
social”. comprometida, em nome de uma cidadania em-
O júri decidiu assim, por unanimidade, atribuir presarial ativa e participativa.
o Prémio ex-aequo aos projetos Plataforma Digital da Os Clubes UNESCO são grupos constituídos
Rede Portuguesa de Clubes UNESCO (www.rpcu.pt) para desenvolver uma atividade livre e desinteres-
e Semana dos Direitos Humanos (iniciativa anual) - O sada em prol dos objetivos e ideais da UNESCO,
poder da mensagem. onde se dá primazia ao gosto pela iniciativa, ao
Francisco Laranjeira, presidente do CCA, explica a sentido de responsabilidade e ao trabalho em gru-
génese do projeto: po.
“A implementação de uma plataforma digital que
sirva todos os Clubes UNESCO de Portugal é o nosso
contributo para o fortalecimento de uma rede que se
destaca pela promoção dos valores UNESCO, os seus
programas e os seus ideais”.

33
A Palavra é tua!
Textos de alunos

O Município de Ílhavo leva a cabo, todos os anos, o Concurso Literário Jovem, uma
iniciativa de promoção da escrita entre os alunos de todos os Ciclos do Município.
Aqui ficam alguns dos textos premiados em 2020 com o primeiro lugar.

1º Prémio – 1º Ciclo

A pétala da rosa
Uma pétala rosada
Separou-se da sua flor.
Era uma bela rosa
Num canteiro cheio de cor.

Várias flores à sua volta,


Eram todas de encantar.
Eram tão belas as cores
Que não me cansava de olhar.

Um certo dia,
A pétala teve de voar
Com a ventania
Que passou naquele lugar.

A pétala, de mansinho,
Foi pousar suavemente
Nas mãos de uma menina
Que a agarrou docemente. A beleza de uma pétala,
De uma rosa perfumada
A menina, encantada, E o amor de uma menina
Dentro dum livro a guardou. Tornam a vida encantada.
Depois de muito tempo,
Perfumada a pétala continuou. A bela menina
Da pétala não se separou.
Seu destino era perfumado, Aquele amor indestrutível
Mesmo separada da sua flor. Sempre a acompanhou.
Por isso, perfumou o livro da menina
Que a guardou com muito amor. Maria Luísa Nunes de Sousa
Escola Básica de Farol da Barra

34
1º Prémio – 3º Ciclo 1º Prémio – Secundário

A cidade de cabeça para baixo Tesouro Meu


Lá estás tu no teu cantinho
Era uma cidade como tantas outras… como sempre, em silêncio e sossegado
Tudo estava triste, e eu observo de mansinho
O dia inteiro a suspirar. para não ser apanhado.
O que se estaria a passar?
Permaneces quieto, consciente do teu valor,
com postura firme e resolvida,
Numa azáfama desenfreada, e eu olho, com amor,
Com os telemóveis sempre a tocar, querendo-te na minha vida.
Para trás e para a frente,
Nem sabiam por onde andar. Com forma bem definida,
textura uniforme e macia,
existência nada aborrecida,
Porquê tanta correria?
repleto de sabedoria!
Viver merecia mais alegria!
Mais tempo para contemplação… Cheguei mais perto.
Assim, NÃO! Muito perto, por sinal.
Duvidei que estivesse certo.
Que maçadora cidade, Arrisquei, não havia outro igual…
Que semblantes tão sem graça!
Toquei-te com cuidado,
O que está a acontecer-te, cidade?
com a ponta dos meus dedos
Oh, mas que grande desgraça!
e, de repente, assustado,
descobri alguns segredos…
Mas haverá solução?
Como ajudar esta gente? Toda aquela austeridade
Talvez a única opção, que me parecias ter
Seja um olhar para o antigamente! era apenas ansiedade
do que tem muito a dizer.
Maria Carlos Silveira Sá Duarte Ferreira
E a capa dura e fria
Escola Secundária da Gafanha da Encarnação como um escudo protetor
era apenas fantasia,
beleza e muita cor!

Finalmente te abri.
Cheiravas a alfazema
e toda a riqueza que vi
era sobre o mesmo tema.

Tantas memórias contadas


pelo autor que as escreveu,
neste livro ficarão gravadas
como um tesouro que, agora, é meu…

Luísa Rodrigues Vilarinho


Escola Secundária da Gafanha da Encarnação

35
A Palavra é tua!

1º Prémio
Tiana e os Sapotis
Era uma vez uma princesa que se chamava — Sapotis, sapotis, sapotis…
Tiana e queria ter mais liberdade para descobrir O chefe dos Sapotis, o Grande Sapotis, quan-
o mundo que a rodeava. A Tiana vivia num do ouviu chamar, berrou aos seus soldados
castelo com a mãe, a rainha Joana, e o pai, o rei que apontassem as armas ao inimigo que
André. chamava. Quando se aproximaram, viram
O castelo onde eles viviam situava-se num reino que era a filha do rei André e da rainha Joana.
verdejante, com imensas pessoas e lugares O Grande Sapotis perguntou com uma voz
maravilhosos, como o Jardim-das-flores, o grave:
Bosque municipal e o Parque das Camélias, — O que fazes aqui?
entre muitos outros lugares fantásticos. Tiana respondeu:
A Tiana podia ir a todos estes lugares com — Venho aqui pedir desculpa pelo comporta-
guardas, mas estava impedida de passar os mento dos meus pais! Soube recentemente
limites do reino. Não entendia porque é que que os meus pais tentaram apoderar-se da
os pais não a deixavam sair. Falavam-lhe dos vossa floresta! Como futura rainha, venho
Sapotis que viviam em redor do reino. Mas ela apresentar as minhas desculpas! Quero que
nem sabia o que eram os Sapotis! Tanto insistiu se possa viver em paz nos nossos reinos!
com os pais, que estes lhe contaram a história O chefe disse:
do início ao fim. — Vemos dentro de ti uma verdadeira rainha!
Contaram-lhe da luta que tiveram anos atrás Conta connosco para viver em paz daqui em
contra os Sapotis, por causa da floresta onde diante!
eles moravam. O rei André queria anexar aquela Desde esta primeira visita, os dois povos
floresta ao seu reino. ficaram em paz e visitavam-se regularmente.
A Tiana não achou justo que os pais quisessem Não houve mais problemas entre os Sapotis
apoderar-se da floresta dos Sapotis. Decidiu, e o reino da princesa Tiana e até se conta
então, numa noite sem ninguém saber, ir pedir que os Sapotis adoram visitar o Parque das
desculpa aos Sapotis pelo comportamento dos Camélias quando estão em flor!
pais. Não achava normal os vizinhos estarem
Rita Matos Fernandes
chateados.
Centro Escolar da Coutada
Não viu ninguém e decidiu chamar:

36
Textos de alunos

1º Prémio – 2º Ciclo
A GAIVOTA
Era uma vez uma gaivota que sabia falar português. Essa Pelo caminho, ainda lhe perguntei:
gaivota estava a cantar quando eu a encontrei. — Quando já souberes falar fluentemente gaivotês,
Fui ter com ela, mas estava muito assustado. Ela viu-me e queres voltar para junto da tua família ou ficas cá?
disse-me: — Depois vejo. Je ne sais pas encore — respondeu.
— Não te assustes, eu sou só uma gaivota solitária que — O que é que isso significa? — estranhei.
aprendeu a falar. — Ainda não sei — disse ela.
— Porque é que és uma gaivota solitária? — perguntei Passados cerca de sete meses, a gaivota já falava
ainda um pouco assustado. — És tão boa a cantar! fluentemente gaivotês, então levei-a à praia e
E era. Parecia mesmo a Ruth Marlene a cantar perguntei-lhe:
(especialmente porque estava a cantar A moda do pisca- — Vais ou ficas?
pisca). Ela respondeu-me assim:
— Ainda bem que fizeste essa pergunta! — começou. — — Vou e é já. Tenho 95 anos e sou um velho sábio.
Eu ainda era uma cria quando fui levada pelos humanos. O que tu fizeste foi fantástico. Por mim passaram
Meteram-me um chip na asa para saberem sempre onde mais oito miúdos da tua idade e nem quiseram
eu estava. Os meus pais nunca me ligaram muito. Desde saber. Tu tiveste medo, mas vieste. Por isso, antes
que saí da casca todas as gaivotas me ignoram, mas eu de partir, vou conceder-te um desejo.
também não sei a língua delas, para lhes poder falar. Eu — Bem, há uma coisa que eu gostava muito que
só sei falar português e francês e só sei falar essas línguas acontecesse… Eu faço anos daqui a 15 dias. Eu
porque ouço bem as pessoas. Eu já tive dois tratadores: desejo ardentemente ter uma festa de anos
um no ECOMARE e o outro no Oceanário. O do ECOMARE como as que tinha antes. As festas em que eu
era português e chamava-se David, o do Oceanário era podia conviver com os meus amigos, abraçá-los e
francês e chamava-se Pierre. O Pierre falava fluentemente também à minha família.
português, mas quando estava comigo desabafava em — O teu desejo será realizado — disse ele, enquanto
francês. O David ensinou-me trava-línguas e eu comecei a se desfez em pó e se misturou com a areia.
decorá-los porque assim aprenderia melhor a… Passados 15 dias, eu acordei de forma diferente.
— Mas porque é que és uma gaivota solitária? — interrompi. Acordei com o barulho da campainha a tocar.
— Eu sou uma gaivota solitária porque não sei falar gaivotês, Desde que ficámos em isolamento social, nunca
entendes?! — respondeu já um pouco frustrada. — A minha mais ninguém veio cá a casa e tocou à campainha.
família sempre teve dificuldades em compreender-me Fui ver quem era. Era o meu melhor amigo João.
devido às línguas que eu falava, o francês e o português. Mal pôs o pé dentro de casa mostrou-me o jornal
Então nunca consegui fazer amigos. do dia e disse:
— Pois agora tens um! — disse eu. — Amigo, eu não sei o que aconteceu, mas o
— Quem? — perguntou ela. número de casos positivos baixou para zero em
— Eu, é claro! Quem mais havia de ser?! E vou ensinar-te a todo o mundo! Já não há COVID-19!
falar gaivotês. — Não acredito! O sábio é mesmo mágico!
Levei-a para casa, mas com uma condição: ela não podia — Hã??? — disse o João sem perceber.
falar junto dos meus pais, tinha de ser uma gaivota muda. — Nada, nada. Vamos mas é preparar a minha festa
Tenho a certeza de que se ela falasse ia ser levada para um de anos, enquanto os outros não chegam!
laboratório para ser estudada. Maria Ramos Figueiredo
— Lembra-te, não podes falar! — relembrei. Escola Básica da Gafanha da Encarnação
— Oui! Oui! — disse ela.

37
OPINIÃO

I O GA R C Í A T E I J E I R O
ANTON

Dende o meu punto de vista, a Literatura infantoxuvenil abertos, tolerantes, emocionados,


ten que posuír certas características indispensables reflexivos perante textos que abren
para penetrar no lectorado e xogar o papel que debe na camiños na vida.
formación integral dos cativos/as,
O escritor ético debe crear un discurso
Dúas desas características (que engloban boa parte deste
coherente coa súa forma de pensar
obxectivo) son a ética e a estética. Ética e estética son dúas
a literatura, pero nunca escribir ao
caras da mesma moeda. Se os escritores imos na procura
servizo dunha teoría e reducir a súa
dos valores intrínsecos da estética, xa comezamos a ser
obra a unha arma para manter teorías
éticos, pois facer arte da palabra debe ser un compromiso
particulares que o afasten da literatura
ineludible. A arte humaniza.
libre de superficialidade. É importante
Se un escritor ou escritora non contempla algunha destas
que, exista un compromiso íntimo de
características está a adulterar o discurso literario honesto
atracción lectora sen traizoar a nosa
que debe conter toda obra literaria.
voz literaria para seducir o lectorado,
porque, se así non for, menospreza
E se falamos de ética na escrita, estamos a falar de
tanto ese lectorado coma a si mesmo.
autenticidade literaria, de ser fiel ao compromiso do
Hai que manter a honestidade da escrita
autor/a coa literatura, de non ser infiel sobre o concepto
á marxe de modas. Só un discurso ético
que o impulsou a escribir, para facer que a literatura
dá valor ao que se escribe.
sexa unha arte disposta a acadar lectores competentes,

38
A É T I C A E A E S T É T ICA
A LIX ENTR E

Nesta dirección apunto que o escritor/a: Non me gustan os textos baleiros, de fogos de
• ha de ser honrado consigo mesmo. artificio que non provocan case nada. Textos sen
• non vale calquera cousa para os nenos/as fondo, superficiais. Textos illados de emoción,
• debe ser esixente literariamente e non tramposos no seu planteamento.
baixar a calidade da escrita en ningún Emoción, palabra clave da estética. Qué é a
momento. literatura sen emoción? E non digamos a poesía?
• debe escribir pensando que vai propor- Unhas construcións artificiais que non conducen
cionar pracer e que os lectores se divir- a case nada.
tan dun xeito intelixente; que pen- A estética ten que basearse nunha complicidade
sen, debatan, reflexionen e haxa unha entre o fondo e maila forma. Ten que axudar a
posible transformación antes e des- formar lectores sensibles sen que o pareza. Ten
pois de ler un libro. que intentar que se sinta o que se le, que penetre
• debería fuxir do panfleto e creará o seu paseniño na conciencia lectora de quen ten o libro
traballo con intelixencia literaria. nas mans. Sen artificios pero como dardos que se
• é fundamental para min que un texto li- cravan dentro e deixan pegada.
terario provoque preguntas para que o Textos coidados cunha linguaxe precisa,
lector busque respostas. instalados na corrección sintáctica, na puntuación
• non me gustan os textos melindrosos e clara e limpa, con palabras / versos / parágrafos
sensibleiros que fan do neno/a un ser de sinxelos –ou non tanto- pero tendo en conta
segunda categoría, porque non o son. que estamos falando de LIX. Iso si: endexamais
• non me gustan os libros utilitaristas que simples.
son como libros de autoaxuda disfraza- Deben contaxiar o lector/a a través de imaxes
dos de literatura. ben construídas, que sacodan, que non sexan
indiferentes e que o leven polas canles da
Eses que teñen unha finalidade por riba do curiosidade.
autenticamente literario: libros para perder o medo, Temos que ser coidadosos e tecer un discurso
para non ouriñar na cama, para dirixir sentimentos coherenter cara a un lectorado en formación. Iso
e comportamentos, aqueles que non saen dos non debemos esquecelo.
lugares comúns e que tanto empobrecen e adornan E, xa que logo, claridade expositiva, temas
a literatura. sedutores, imaxes poéticas belidas e a utilización
artística da palabra ese tesouro que temos que
Un libro ético é aquel que se debe á literatura sen salvagardar da fealdade e do vulgar que tanto
adxectivos; esa literatura que fai do ser humano dano fan á literatura. Esa literatura que se ve
o que é. Unha persoa en constante evolución atacada, demasiadas veces, pola vulgaridade e
formativa e que, a través da estética, lle permite pola falta de respecto a un lectorado que precisa
medrar por dentro. referentes para darlle un certo sentido á súa vida.
E xa que nomeo a estética, falo da beleza dos textos
(coidados, correctos, limpos, directos, provocadores [Texto em galego - Comunição no I Encontro de
de sentimentos serenos, cheos de contidos…) Escritores de LIJ de A Casa do João]

39
DICAS DE ESCRITA
Literatura: uma reflexão ética e uma reflexão estética!
segundo Alfredo Gómez Cerdá

Alfredo Gómez Cerdá (Madrid, 1951) é um escritor espanhol principalmente de literatura


infantil e juvenil. Formado em cinema (espanhol), deu os primeiros passos neste meio,
mas é mais conhecido como escritor de obras para crianças e jovens, área em que se
tornou um dos principais autores. Publicou mais de cem filmes e vários romances e
contos; escreveu diversos roteiros para Desenhos Animados e BD; contribui para a
imprensa e em revistas especializadas e participa em inúmeras atividades relacionadas
com a literatura infantil e juvenil.

1. Sê honesto. E alguém me vai dizer: o que diabos a honestidade tem a ver com a literatura?
Um escritor, José Ovejero, publicou há pouco tempo um livro, “Escritores delincuentes”, no qual
nos contava como alguns escritores famosos não foram um modelo de virtudes, pelo contrário, e
alguns até foram para a cadeia, onde cumpriram pena, até por assassinato. Não me refiro a esse
tipo de honestidade, é claro, mas à honestidade do ponto de vista literário. Escreve o que sentes,
o que vives intensamente, o que te move e o que te mexe por dentro... "Sê honesto", repito-me
muitas vezes. Escrever sobre outros assuntos não vale a pena.

2. Preocupa-te até à obsessão pela simplicidade. Simplicidade é o estilo literário mais sublime
que existe - e o mais difícil, é claro. Simplificar consiste em dizer a coisa certa com as palavras
certas. O estilo literário de qualquer escritor que se preze deve ser um caminho constante para a
simplicidade. Mas, geralmente, acontece o oposto.

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3. Foi Bioy Casares quem disse que todas as histórias do mundo podem ser contadas
em duzentas páginas? Bem, é isso mesmo. Ao princípio, o escritor acha que qualquer
parágrafo da sua obra é indispensável. Com o passar do tempo, descobre que o seu
trabalho pode melhorar bastante se apagar aquele parágrafo, e o outro, e aquele além...
E quem não perceber isso será um pedante insuportável que morrerá asfixiado pelas
próprias explosões.

4. Faz perguntas a ti mesmo. Este é um exercício essencial para um escritor. Tão


importante quanto fazer abdominais para um atleta. Se um ser humano faz perguntas
a si mesmo, pode encontrar as respostas ou pode descobrir que há coisas que não têm
resposta. Mas se um escritor faz perguntas, estará a dar os passos essenciais para dar
forma e significado a uma história, personagens, um enredo ... Um livro surge, em grande
parte, da capacidade do seu autor fazer perguntas a si mesmo; não de respondê-las, é
claro, sobre as quais falarei no ponto número cinco.

5. Não dês respostas ou soluções. Se houver alguma dúvida, ajuda o leitor a encontrar
essas respostas. Um livro, como disse Kafka, deve nos agarrar-nos pelos colarinhos e
sacudir-nos. O importante será sempre o abanão e a confusão. Para intuir a verdade, é
preciso passar primeiro pela confusão.

6. Não traias as personagens. Não podes tomar partido por nenhuma delas. Que sejam
elas quem discute, quem se justifica, quem age, quem erra, quem conta. Tu, autor, não
julgues. Tu não podes trair nem a mais detestável de todas. Por exemplo, imagina a história
de um assassino em série; ele será um ser repugnante do ponto de vista social e moral,
mas não do ponto de vista literário. Não o julgues. Coloca-te no seu lugar e entende os
seus motivos. A história da literatura está repleta de escritores traiçoeiros.

7. Existem lugares que escondem uma história e histórias que escondem muito mais
do que podemos ver a olho nu. Procura esses lugares. Tu podes encontrá-los no fundo de
uma xícara de chá, polvilhado com os restos de um muffin; ou subindo o rio Congo. Não
esperes que os lugares, as histórias cheguem até ti.

8. Dois olhares. Olha para dentro. Busca dentro de ti: as tuas memórias, as tuas
experiências, as tuas frustrações, os teus sentimentos…. Dentro de ti existe um universo
literário. E cuidado. Olha para as pessoas que encontras todos os dias na rua. Repara no
que está a acontecer ao teu redor. Esses dois olhares devem ser como uma broca e nunca
devem parar no superficial.

9. Não há dia sem uma linha escrita. Grava esta frase clássica em casa. Na cabeceira da
cama, na casa de banho, no lugar onde te sentas para escrever... Não há dia em que não
escrevas nem seja só uma linha. Escreve pelo menos uma linha todos os dias e lê pelo
menos uma linha todos os dias.

10. Uma reflexão ética e uma reflexão estética. É algo mais, a literatura e a arte em
geral? Podemos dizê-lo por outras palavras, de outra maneira, dando voltas, com rodeios,
adornando-o... Mas, no fundo, é apenas isto, não há mais, não há menos.

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CURIOSIDADES LITERÁRIAS
Nunca desistir

O irlandês Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis, sabia que,
mais cedo ou mais tarde, seria publicado, porque acreditava em si mesmo como
escritor. Por isso, não deixou de enviar os seus manuscritos para as editoras até
que o seu primeiro livro fosse publicado. Recebeu cerca de 800 recusas, mas
nunca desistiu. Hoje, é um dos escritores mais admirados e entre seus escritos
estão textos como "As Crónicas de Nárnia" e "Cartas do diabo a seu sobrinho".

Manias de escritor

O escritor Edgar Allan Poe disse, numa entrevista, que seria muito interessante
para os escritores contar o longo processo que os leva a escrever, que costuma
ser cheio de manias, em vez de fazer os seus leitores acreditarem que tudo vem
do trabalho, do talento e da inspiração.
Entre os hobbies de alguns escritores encontramos que Juan Ramón Jiménez
precisava de silêncio absoluto para escrever. Tal era sua obsessão que revestia
as paredes com cortiça, porque o canto de um pássaro, por exemplo, o
desconcentrava.
John Cheever preferia escrever na cozinha da sua casa porque se inspirava
melhor do que no escritório.
Gabriel García Márquez teve sempre uma flor amarela na sua mesa de trabalho.
Mario Vargas Llosa trabalha rodeado de estatuetas em forma de hipopótamo.
Ernest Hemingway usou sempre um amuleto: pé de coelho ou castanha.
Carmen Martín Gaite usou apenas a caneta que herdou do pai.
Roberto Bolaño só escrevia à noite e com os seus fones de ouvido ouvindo heavy
metal.

Um Prémio Nobel com humor

Assim que soube que tinha recebido o Prémio Nobel de Literatura, um jornalista
questionou a Camilo José Cela se ficou surpreendido por receber o Prémio Nobel
de Literatura, ao qual o escritor respondeu: “Muito, principalmente porque
estava à espera do da Física".

Interromper uma sesta

Franz Kafka foi, uma tarde, visitar a casa de um amigo e, ao chegar, passou pelo
pai do seu amigo que dormia pacificamente num sofá. Kafka quis desculpar-se, e
de forma a não impedir o homem de retomar o seu sonho... levantou os braços e,
cruzando a sala em ponta dos pés, disse baixinho: "Perdoe-me senhor, considere-
me um sonho".

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DE VIVA VOZ

Os idiomas têm frases, ditos, expressões comuns com um significado claro


para quem os usa, mas que te deixam «a ver navios», isto é, sem perceber
nada. São as ditas «expressões idiomáticas». A língua portuguesa está cheia
delas.
Meter o Rossio na Bestesga Não ter pés nem cabeça
A Rua da Betesga é uma rua estreita Esta expressão significa estar a fazer, a
que liga, na parte sul, a Praça do Rossio à pensar, algo completamente disparatado,
Praça da Figueira. Assim, meter uma praça incoerente ou despropositado. Algo que
grandiosa como o Rossio (com o Teatro não tem ponta por onde se lhe pegue.
D. Maria II, a estátua de D. Pedro IV, duas
fontes, o Café Nicola e a Pastelaria Suíça, Não ter papas na língua
entre outros), é, portanto, impossível. Esta expressão significa ser franco, dizer
Ora, meter o Rossio na Betesga quer dizer o que se pensa, sem rodeios ou medos.
tentar algo impossível. Dizer tudo à maluca. Sem ter na língua
nada que nos impeça de falar, de dizer o
Favas contadas que queremos dizer…
Dizer que isso são favas contadas quer
dizer que dada coisa é certa e segura. Pôr as barbas de molho
Costuma usar-se quando queremos dizer Desde tempos idos que a barba dos
que algo vai acontecer com toda a certeza. homens é sinal de prestígio e poder. Ora,
Fica a saber que, na Grécia Antiga e no pôr as barbas de molho significa acautelar-
Império Romano, as favas eram usadas em se para não as deixar cortar ou arder. Há
votações: uma fava significava um voto a quem complete este provérbio com uma
favor, uma fava preta era um voto contra. frase que a antecede: «Quando vires as
No final, os sins e os nãos eram contados, barbas do teu vizinho a arder, põe as tuas
melhor dizendo… as favas eram contadas! de molho».

Chover a cântaros Unhas de fome


Chover a cântaros quer dizer chover Dizer que alguém tem unhas de fome
torrencialmente. Ou seja, está a chover significa dizer que é avarento, que põe
tão intensamente que parece estar a ser mãos e unhas a tudo, não deixando nada
despejada de vários cântaros ou potes (que para os outros que, assim, passam fome…
são vasos de barro ou metal para guardar
ou transportar água). Ter dor de cotovelo
Esta expressão quer dizer ter ciúme
Balde de água fria ou inveja de alguém ou alguma coisa.
Apanhar com um balde de água fria Se bateres com o cotovelo em alguma
significa sofrer uma desilusão, uma coisa vais sentir uma dor muito forte.
deceção. Quando uma pessoa está à espera A expressão compara essa dor com o
de determinado acontecimento ou coisa sentimento de inveja, que desagrada e
e sucede o contrário, sofre um choque incomoda como uma dor forte.
comparado ao de um balde de água fria
pela cabeça abaixo.

43
CITAÇÕES
PARA PENSAR

Eu sinto uma necessidade sem fim de aprender, de Quem duvida que o desporto é uma janela
melhorar, de evoluir, não apenas para agradar ao importantíssima para a propagação do jogo limpo e
treinador ou aos fãs — mas também para satisfazer a da justiça? No fim de contas, o jogo limpo é um valor
mim mesmo. essencial no desporto!
Cristiano Ronaldo Nelson Mandela
in Discurso (1997)
Odiei cada minuto de treino, mas não parava de
repetir a mim mesmo: ‘não desistas, sofre agora para O desporto tem o poder de superar velhas divisões e
viver o resto de tua vida como campeão’. criar o laço de aspirações comuns.
Muhammad Ali, boxer pelos Estados Unidos. Nelson Mandela
in Discurso (1996)
Quero ser lembrado no futuro como alguém que
O desporto é o único meio de conservar no homem as
inspirou outras pessoas a fazer coisas que pareciam
qualidades do homem primitivo.
impossíveis.
Jean Giraudoux
Carl Lewis
atleta pelos Estados Unidos. O desporto pode criar esperança onde outrora só
havia desespero. É mais poderoso do que o governo na
Aprendi desde menino que tudo na vida se consegue destruição de barreiras raciais. O desporto ri na cara de
com luta e dignidade: correr com as pernas, aguentar todos os tipos de discriminação.
com o coração, vencer com a cabeça. Nelson Mandela
Vanderlei Cordeiro de Lima, In Discurso (2000)
maratonista pelo Brasil.
“A essência da boa disciplina é o respeito. Respeito pela
fracasso sempre me levou a tentar com mais autoridade e respeito pelos outros. Respeito por si e
entusiasmo na vez seguinte. respeito pelas regras. Essa é uma atitude que começa
Michael Jordan, em casa, É reforçada na escola, E aplicada pela vida
jogador de basquete pelos Estados Unidos. toda.”
André Agassi
Jogamos com a cabeça e, quando precisamos, com o
coração. “Eu gosto de vencer. Posso aceitar perder, mas acima de
Hortência, tudo, eu gosto de jogar.”
jogadora de basquete pelo Brasil. Boris Becker

P'ra escolas não há bairrismo, “Como as nossas paixões pelos desportos são tão
Não há amor nem dinheiro. profundas e tão amplamente distribuídas, é provável
Porquê? Porque estão primeiro que façam parte do nosso hardware - não estão nos
O Futebol e o Ciclismo! nossos cérebros, mas nos nossos genes.”
Carl Sagan
António Aleixo
in "Este Livro que Vos Deixo..."

44
PARA BRINCALHARES
CONTINUAR O POEMA...
Se gostas muito de um poema, podes adaptá-lo e torná-lo teu, mudando-lhe as
palavras e os pensamentos...
Ora vê o exemplo da Lengalenga do Vento:

Andava o senhor vento


um dia passeando Agora eu:
encontrou uma formiga:
– Senhor vento, que força!
Lá caí de barriga. Andava o senhor vento
_________________________________
Andava o senhor vento
bailando no olival encontrou ____________________:
quando viu um lagarto: – Senhor vento, _______________!
– Senhor vento, que força!
Já nem por aqui escapo. __________________________________

Andava o senhor vento


correndo no jardim Andava o senhor vento
quando ouviu uma flor: __________________________________
– Senhor vento, que força!
encontrou _____________________:
Tenha pena de mim.
– Senhor vento, _______________!
Andava o senhor vento __________________________________
a rir pelo pinhal
quando ouviu uma galinha:
– Senhor vento, que força! Andava o senhor vento
Uma pinha na pinha!
_________________________________
Então o senhor vento encontrou ____________________:
foi para o alto do monte
– Senhor vento, ______________!
e encontrou um moinho:
– Senhor vento, que bom! _________________________________
Eu estava tão sozinho!

Andava o senhor vento Andava o senhor vento


pé ante pé na vinha _________________________________
quando avistou um cão:
encontrou ____________________:
– Senhor vento, que força!
Fui de focinho ao chão! – Senhor vento, _______________!
__________________________________
Andava o senhor vento
a brincar pela rua
quando viu uma cereja:
– Senhor vento, que força!
Não me empurre, que me aleija!
Maria Alberta Meneres (Lengalenga do Vento)

45
PARA BRINCALHARES
PALAVRAS COLADAS
As palavras são uma bela
ferramenta de diversão e de
construção de sentidos...Tu podes
decompor / recompor palavras de
forma a reforçar o seu sentido ou a
produzir outros. E, depois, podes
construir um texto para elas ou a
partir delas.

Ora vê estes exemplos do livro Cronicando, de Mia Couto (Ed. Caminho)

O falcão: já viram os olhos como são felinos? Certo seria chamar-se falgato.
O macho da catatua: o catateu.
O macho da gazela? O gazele.
A fêmea do elefante, a elefanta.
A mais bela cá na área? A canária.
E que dizer da ave que pia e logo se arrepende: a ave dos arrepios.
O pelicano. Como está magro: é só pele e cano.
Rectifico o albatroz: alba sim, atroz nunca.

Agora eu:

46
SOPA DE LETRAS
DESPORTO

G O R T B D L Ç A T L E T A X C E V T S
M L A N L C V P Z L R U L P B U D M P L
H I N W M U N Y B T M E G A O N A C T V
G M R J O G O E H Q X N W J R L N R H P
O P V G U C Y Q W Ç L V D M T A Ç A C B
E Í C O T D R E S S A P V S O Y A E K T
V A L T Ç L N J X J K F I N B G N I F H
S D H N B A S Q U E T E B O L Q E U L W
H A V E N Z P Y Q K R I M C U L T D O F
R S B M R A U X B Á T U A Y N S X N V U
N P I A M P V M E L K O V I A J Z E P T
C O S G Ç L H N Á W E J L L Á E P S J E
J I Q N S A V N R P L K W C F N M R V B
A H C O N R E V I T O P U N T E X N F O
R E B L G P A T W E B I N A E N L A P L
B L G O I O B G P T E U E D I K Y M W Ç
O Ç E R P S N O A S D P R O N A L D O I
L Á S P E X M L E O N W P E Y F R G S A
A B J W B J A O M T A Q C J A T H D L K
E L R Q H E Ç I E W S F X U C E S T O E

ANDEBOL FUTSAL
ATLETA GOLO
BASQUETEBOL JOGO
BOLA OLIMPÍADAS
CANOAGEM PASSE
CESTO PENÁLTI
CICLISMO PROLONGAMENTO
DANÇA RONALDO
FUTEBOL TAÇA

47
PARA BRINCALHARES
PARA DESENHARES

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