Títulos de Crédito e Contratos Empresariais

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DESCRIÇÃO

Apresentação dos conceitos dos diferentes títulos de crédito e contratos empresariais como
instrumentos das relações corporativas no Brasil.

PROPÓSITO

Apresentar ao aluno a legislação sobre os títulos de crédito e os atos cambiários, bem como
noções básicas acerca de letra de câmbio, nota promissória, duplicatas e cheque, além das
peculiaridades dos contratos empresariais, sua classificação e seus elementos de validade.

PREPARAÇÃO

Antes de iniciar a leitura e o estudo deste tema, tenha em mãos o Código Civil (Lei nº 10.406, de
2002), que é a principal fonte legislativa para a compreensão do conteúdo destes módulos, bem
como o Decreto nº 57.663, de 1966, e a Lei nº 13974, de 2019.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Categorizar o conceito de títulos de crédito, os elementos nele contidos e suas aplicações nas
relações creditícias

MÓDULO 2

Identificar os princípios contratuais e sua aplicação nos contratos empresariais

MÓDULO 1

 Categorizar o conceito de títulos de crédito, os elementos nele contidos e suas

aplicações nas relações creditícias

INTRODUÇÃO

Neste módulo, estudaremos os títulos de crédito, documentos com conteúdo formal previsto em
lei e dotados de atributos e princípios peculiares. Os títulos de crédito possuem grande vantagem
sobre outros documentos: facilidade, rapidez e informalidade de sua transmissão.

Além disso, eles têm a possibilidade de contar com garantia ou servir de garantia ao pagamento
e maior segurança para quem recebe o título e o crédito.
O documento ao qual a lei atribui a natureza de título de crédito pode ser físico ou eletrônico. Mas
tudo dependerá da legislação sobre ele. Vamos ver que, em muitos casos, o emitente não pode
escolher o suporte onde as informações estarão escritas ou gravadas, pois há uma imposição
legal para este.

O CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO E


SEUS ELEMENTOS

O artigo 887 do Código Civil traz o conceito de título de crédito, nesses termos:

ART. 887. O TÍTULO DE CRÉDITO, DOCUMENTO


NECESSÁRIO AO EXERCÍCIO DO DIREITO LITERAL E
AUTÔNOMO NELE CONTIDO, SOMENTE PRODUZ
EFEITO QUANDO PREENCHA OS REQUISITOS DA
LEI.”

(C.C./2002)

Esse conceito é a base para identificarmos, nas leis especiais, se o documento tem ou não
natureza de título de crédito. Isso é necessário, porque nem toda lei que o institui se refere ao
documento como tal.

Sendo preciso, então, recorrer ao Código Civil para verificar no título em questão a presença dos
elementos contidos no conceito.

 EXEMPLO
Consta do artigo 6º da lei que instituiu o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) − Lei nº
9514, de 1997 −, que é título de crédito nominativo, de livre negociação, lastreado em créditos
imobiliários e constitui promessa de pagamento em dinheiro. Essa lei se refere ao CRI como
título de crédito, logo, já se percebe que o legislador indica a natureza especial do documento,
não se tratando de mero documento de dívida. Em sentido idêntico, consta na Lei nº 5474, de
1968, que atualmente regula as duplicatas de compra e venda e de prestação de serviços: “Art. 2º
No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito
comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o
saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.” Também há indicação, embora
indireta, de que a duplicata é um título de crédito.

Em sentido diverso, vejamos que a Lei do Cheque (Lei nº 7357, de 1985) dispõe em seu artigo
1º: “O cheque contém: I - a denominação ‘cheque’ inscrita no contexto do título e expressa na
língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o
nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);IV - a indicação do lugar de
pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente
(sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.”

Não há nenhum dado quanto ao fato de ser o cheque um título de crédito, apenas a enumeração
de requisitos a serem observados na emissão. Com isso, para nos certificarmos de que o
cheque é título de crédito, o legislador impõe que utilizemos o Código Civil, no artigo 887. Assim,
é feita a identificação na regulamentação da lei especial dos elementos presentes no conceito,
como, no caso, o formalismo.

Foram destacados trechos da redação do artigo 887 do Código Civil para elucidar os elementos
presentes na redação que servem para identificar um documento como título de crédito.

Primeiramente, percebemos que o título de crédito é um documento necessário ao exercício do


direito nele contido. Essa parte do conceito expõe o elemento (ou atributo) da cartularidade.

A cartularidade é um elemento que decorre do termo cártula, ou seja, documento. Pelo elemento
ou atributo da cartularidade, o documento (escrito manual ou com gravação eletrônica de dados)
incorpora os direitos que nele estão mencionados.

Desse modo, o portador do documento deve apresentá-lo para exercer tais direitos. Exemplo da
cartularidade é a necessidade de apresentação do cheque a pagamento, pois nele estão
contidos os direitos de crédito e seus termos, como a quantia, o nome do beneficiário etc.

Assim, o cheque é um documento necessário para o exercício dos direitos, já que incorpora,
materializa o direito de crédito.
Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock

 ATENÇÃO

Embora o atributo da cartularidade, originariamente, tenha sido concebido para o papel, o

documento físico, ele se aplica a todos os títulos de crédito. Inclusive os escriturais, só que sua
aplicação também se dará para o documento eletrônico.

Para isso, o portador deverá comprovar seu direito na forma prevista na lei especial.

DUPLICATA ESCRITURAL
Um exemplo de título de crédito eletrônico é a duplicata escritural, ou seja, aquela emitida e
mantida até sua liquidação em registro perante entidade credenciada pelo Banco Central —
confira a Lei nº 13.775, de 2018, que instituiu a duplicata escritural.

De acordo com o artigo 6º da Lei nº 13.775, os gestores dos sistemas eletrônicos de


escrituração de duplicata emitida sob a forma escritural expedirão, a pedido de qualquer
solicitante, extrato do registro eletrônico da duplicata.

Esse extrato é o “documento” necessário ao exercício do direito e deverá reproduzir as


indicações da duplicata em meio eletrônico.

O direito cartular é literal e autônomo, ou seja, tem os atributos da literalidade e da autonomia.


A literalidade nos títulos de crédito tem relação com o seu conteúdo e as declarações nele
contidas, sendo interpretada restritivamente, ou seja, literalmente. Alguns exemplos ilustrativos:

Fonte: Roman Seliutin/Shutterstock

Aquele que assinar (manual ou eletronicamente) um título sem ter poderes para tal, ou
extrapolando os poderes que recebeu, fica obrigado perante o portador;

Fonte: Akira Kaelyn/Shutterstock


Ao transmitir o crédito, se o credor insere a expressão “sem garantia”, significa que ele não
responde pelo pagamento. Isso adverte aos futuros portadores que ele não se torna devedor
solidário;

Fonte: Tero Vesalainen/Shutterstock

Caso o devedor aceite o título, mas lance “aceite parcial” ou reduza o valor ao dar seu aceite,
essa limitação é válida e pode ser oposta ao portador atual do título e portadores anteriores.
Portanto, o direito do credor que emerge do título, direito cartular, é literal e não ampliado.

O elemento ou atributo da autonomia tem relação com as obrigações lançadas no título por
pessoa capaz ou por seu representante. Havendo mais de uma obrigação no título, cada uma
delas é independente entre si. Se houver alguma invalidade com uma das obrigações, as demais
não são atingidas pela primeira.

Por fim, o documento só tem efeito como título de crédito quando contém os requisitos da lei.
Esse atributo é denominado formalismo ou rigor cambiário. Com isso, se o documento não

contiver algum desses requisitos, denominados essenciais, ele não produzirá efeito como título
de crédito. Sendo assim, o direito nele mencionado não terá pelo menos algum dos demais
elementos ou atributos.

No Código Civil, estão disciplinados os denominados “títulos atípicos” ou “inominados”. Ou seja:


aqueles que não possuem nome e legislação próprios e são emitidos pelas partes sem que haja
uma finalidade predeterminada em lei.
Esses títulos inominados devem conter, como requisitos essenciais (de cunho formal), a data da
emissão, a indicação precisa dos direitos que conferem e a assinatura do emitente.

PRIMEIRA

Vejamos um exemplo de dispositivo legal que foi redigido com fundamento no atributo da
autonomia.

Lei do Cheque (Lei nº 7.357, de 1985, artigo 13).

“Art. 13 - As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes. Parágrafo


único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo que o
cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou
assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer
outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das
quais ele foi assinado.”

PRINCÍPIOS

A utilização de títulos de crédito traz inúmeras vantagens e maior segurança em relação aos
documentos comuns de dívida, pelos princípios de direito cambiário que norteiam a emissão, a
circulação e o pagamento. Veremos quais são estes princípios e em que momento eles podem
ser invocados.

LEGITIMAÇÃO DO PORTADOR

O possuidor de um título de crédito tem direito à prestação nele indicada. E isso pode ser a
entrega de uma mercadoria (exemplo: no conhecimento de transporte) ou o pagamento de certa
quantia em dinheiro (exemplo: na cédula de crédito bancário).
Quando o título é nominal, essa prestação só pode ser efetuada em favor do beneficiário. Mas,
quando o título for ao portador, qualquer pessoa está legitimada a receber a prestação, que é
devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente, por força do
artigo 905, parágrafo único, do Código Civil.

A despeito da legitimação do portador quanto aos direitos contidos no título de crédito, é possível
ao proprietário que o perder ou tiver extraviado, ou for injustamente desapossado dele, obter novo
título através de uma decisão judicial. Ou pode impedir que sejam pagos indevidamente capital e
rendimentos.

Fonte: Freedomz/Shutterstock
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Dessa forma, a aplicação do princípio da legitimação do portador somente se dará se o devedor


ficar inerte e não procurar obter uma medida judicial em seu favor.

APRESENTAÇÃO AO DEVEDOR

Tal princípio está referenciado no artigo 905 do Código Civil, que assegura ao portador de título
de crédito direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor.
 ATENÇÃO

Com isso, verifica-se a vantagem da legislação dos títulos de crédito, que dispensa qualquer
outra providência que poderia aumentar os custos de transação.

Advertimos que o credor deve observar os prazos de apresentação do título e de sua cobrança.
Além da necessidade pontual do protesto do título, pois a perda desses prazos ou a falta de
protesto podem acarretar a perda do direito de ação ou da pretensão à cobrança por força da
prescrição (veremos mais à frente, neste módulo).

INDEPENDÊNCIA

O título de crédito, na sua emissão, pode estar ou não vinculado a um documento. Portanto, o
princípio da independência pode ser afastado por lei especial que estipular a “dependência” do
título a outro documento.

 EXEMPLO

O exemplo mais marcante de título de crédito dependente é a duplicata de compra e venda ou a


duplicata de prestação de serviço, já que ambas só podem ser emitidas com base na fatura
correspondente.

A falta de emissão do documento preliminar ou sua irregularidade vicia o título de crédito ao qual
ele se liga. Entretanto, em regra, eles são documentos independentes, isto é, valem por eles
mesmos.

E a recíproca também se verifica, pois a omissão de qualquer requisito legal (exemplo: data de
emissão ou assinatura do emitente), que retire a validade como título de crédito, não implica a
invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. Também há independência, desvinculação do
título em relação ao negócio subjacente.

ABSTRAÇÃO
Outro princípio que não é aplicável a todos os títulos de crédito é o da abstração. Ele está
relacionado apenas aos casos de circulação do título de crédito por endosso, ou seja, títulos à
ordem (veremos mais à frente).

Se o título não circular, isto é, permanecer com o credor originário ou circular por outra forma que
não seja o endosso, não haverá abstração. Ela consiste na desvinculação do título à causa
anterior ou à causa de emissão.

Com isso, o portador atual — denominado endossatário — exerce um direito abstrato em relação
ao portador e ao negócio anterior. Nos casos de transmissão diversa do endosso, o efeito dessa
transmissão é o de cessão de crédito.

 EXEMPLO

Se um título de crédito for emitido em razão de um contrato de locação, poderá ser endossado
por causa distinta. Pois a causa de emissão não precisa ser a mesma nas transmissões futuras
do título. Isso dá uma grande flexibilidade ao credor de honrar compromissos com terceiros,
usando o título de crédito como instrumento de pagamento, sem precisar se prender à causa da
emissão ou da transmissão anterior.

INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS

O princípio da inoponibilidade de exceções pessoais é derivado do princípio da abstração, e sua


aplicação segue o mesmo pressuposto desse, ou seja, a circulação por endosso.

Para proteger o novo portador (endossatário) que recebe o título de boa-fé e, presumidamente,
desconhece as relações do devedor com portadores anteriores, são inoponíveis às exceções
fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes.

Há uma exceção neste caso: se o portador, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé, conforme se
extrai do artigo 916 do Código Civil.
CÓDIGO CIVIL

No mesmo sentido do Código Civil, a Lei nº 7357, de 1985 - Lei do Cheque) também
enuncia este princípio em seu “artigo 25: Quem for demandado por obrigação resultante de
cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o
emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente
em detrimento do devedor.”

Exemplo ilustrativo

A (devedor) emitiu um cheque em favor de B (credor), mas não cumpriu o contrato assumido.
Ocorre que B endossou o cheque para C, que desconhece a relação anterior, entre A e B.

Pelo princípio em comento, A não pode invocar sua relação pessoal com B para se eximir do

pagamento perante C, exceto se C estiver agindo de má-fé para prejudicar A.

LEGISLAÇÃO SOBRE OS TÍTULOS DE


CRÉDITO
Não há um código tratando dos títulos de crédito ou uma lei que reúna todos ou a maior parte
deles. A legislação sobre esse assunto pode ser dividida em duas partes: o Código Civil (artigos
887 a 926) e as leis especiais, que tratam dos títulos nominados ou típicos, podendo vários títulos
ser disciplinados por uma mesma lei.

Ao Código Civil cabe disciplinar os títulos de crédito inominados, aqueles que não recebem um
nome pelo legislador. Por isso, recebem essa designação. Para esses títulos, as normas do
Código são de aplicação compulsória, como se deduz da redação do:
ARTIGO 903: SALVO DISPOSIÇÃO DIVERSA EM LEI
ESPECIAL, REGEM-SE OS TÍTULOS DE CRÉDITO
PELO DISPOSTO NESTE CÓDIGO.”

(C.C./2002)

Como os títulos atípicos não são regulados em lei especial, não se aplica a ressalva contida na
primeira parte do artigo.

Em relação aos títulos regulados em leis especiais, percebemos que o Código Civil tem
aplicação subsidiária, pois suas disposições não prevalecem sobre as especiais. Por exemplo:
se houver uma norma que regule um título em espécie contendo preceito contrário ao do Código
Civil, ela prevalecerá, pois é a “disposição diversa”.

Fonte: Zerbor/Shutterstock

Os títulos de crédito podem ser utilizados para os mais diversos fins e circular em vários
mercados. Dentre os quais, podemos citar: o financeiro e o de capitais, mas também em
negócios diretamente com o consumidor.

Diante dessas múltiplas possibilidades, existem títulos que representam pagamentos em


mercadorias ou em dinheiro, títulos que conferem direitos sobre bens móveis ou imóveis, títulos
de securitização e de financiamento.
Considerando essas subcategorias, apresentaremos uma relação exemplificativa da legislação
com indicação dos títulos que ela regula.

Legislação Título(s) a que se refere(m)

Decreto nº 57.663, de 1966,


e Decreto nº 2.044, de 1908 Letra de câmbio e nota promissória
(parcialmente em vigor)

Lei nº 7.357, de 1985 Cheque

Lei nº 5.474, de 1968 Duplicatas de venda e de serviço

Decreto-lei nº 167, de 1967 Duplicata rural e nota promissória rural

Decreto nº 19.473, de 1930 Conhecimento de transporte

Decreto nº 1.102, de 1903 Conhecimento de depósito e warrant

Lei nº 8.929, de 1994 Cédula de produto rural

Decreto-lei nº 167, de 1967;


Decreto-lei nº 413, de 1969; Cédulas e nota de crédito (rural, industrial, comercial e à
Lei nº 6.840, de 1980, e Lei exportação)
nº 6.313, de 1975
Lei nº 9.514, de 1997 Certificado de recebíveis imobiliários

Cédula de crédito imobiliário, letra de crédito imobiliário


Lei nº 10.931, de 2004
e cédula de crédito bancário

Certificado de depósito agropecuário, warrant


agropecuário, certificado de direitos creditórios do
Lei nº 11.076, de 2004
agronegócio, letra de crédito do agronegócio e
certificado de recebíveis do agronegócio

Cédula imobiliária rural e certificado de depósito


Lei nº 13.986, de 2020
bancário

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ATOS CAMBIÁRIOS

Denominam-se “atos cambiários” aqueles que são praticados nos títulos de crédito pelas
pessoas envolvidas na relação cambiária, com finalidades distintas: emissão, reconhecimento do
débito, transmissão ou garantia ao cumprimento de obrigação.

O objetivo é apresentar as noções mais importantes sobre cada um desses atos, diferenciando-
os entre si.

SAQUE OU EMISSÃO

Denomina-se saque (ou emissão) o ato cambiário de criação do título de crédito, englobando
tanto o seu preenchimento (ou lançamento no sistema de gravação de dados) quanto a sua
assinatura.
SAQUE
EMISSÃO

SAQUE

Em regra, o termo saque é utilizado para o título de crédito que contém uma ordem de

pagamento dada pelo “sacador” (credor) ao sacado (devedor), para que efetue a prestação ao
beneficiário, como a letra de câmbio, as duplicatas ou o cheque.

EMISSÃO

Já o termo emissão é empregado para o título que contém uma promessa de pagamento do
emitente (devedor) ao beneficiário (credor), como a nota promissória, ou as cédulas e as notas
de crédito.

Nenhum título de crédito tem validade sem saque, que é o único ato cambiário necessário e
diretamente relacionado ao elemento do formalismo ou rigor cambiário. Cabe, a princípio, ao
sacador inserir no título as declarações essenciais.

Obedecendo, para isso, a legislação de cada título típico ou, para os atípicos, os requisitos do
artigo 889 do Código Civil. Entretanto, o saque pode ser feito por procurador com poderes
especiais para emitir títulos de crédito, mediante ordem e responsabilidade do mandante.

Embora o título de crédito seja um documento formal, é possível estar incompleto no momento de
sua emissão. Nesse caso, deve ser preenchido em conformidade com os ajustes realizados entre
o emitente e o beneficiário.

Na hipótese de o beneficiário completar o título em desacordo com os ajustes, o abuso de


preenchimento não constitui motivo de oposição ao terceiro portador que o recebeu por endosso.
Salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

ACEITE
O ato cambiário do aceite só tem aplicação nos títulos de crédito que contêm uma ordem de
pagamento a prazo. Consiste no reconhecimento do débito pelo devedor para pagamento à data
do vencimento e, também, das declarações contidas no título (ex.: valor, data de emissão, data de
vencimento, nome do beneficiário, estipulação de juros etc.).

 ATENÇÃO

Em regra, o aceite decorre da assinatura do sacado, pessoa a quem é dirigida a ordem de


pagamento, no anverso do título. Mas pode ser dado por procurador com poderes especiais, tal
qual ocorre no saque.

Uma vez firmado, o aceite não pode ser cancelado, pois se trata de um ato unilateral do sacado.
Todavia, se o sacado retiver a letra de câmbio apresentada para aceite e, antes da sua
restituição ao apresentante, riscar sua assinatura, é considerado como recusado.

Nas ordens de pagamento à vista não têm cabimento o aceite, haja vista que o portador
beneficiário apresentará o título diretamente a pagamento a partir do dia do vencimento. E, se
esse não for dia útil, no primeiro dia útil seguinte (confira a respeito no artigo 6º da Lei nº 7.357,
de 1985 — Lei do Cheque).

O Código Civil não regula o aceite, mas o instituto está presente na legislação sobre letra de
câmbio e duplicatas (veremos a seguir).

ENDOSSO

O endosso é um ato cambiário relacionado à transmissão do título de crédito e de todos os


direitos nele mencionados. O endossante (aquele que transfere o título por endosso) pode limitar

o endosso.

Isso quer dizer que reserva parte dos direitos para si (exemplo: endosso no valor parcial do título
ou de parte das mercadorias representadas). Nesse caso, teremos o endosso parcial, que é nulo,
em virtude do artigo 912, parágrafo único, do Código Civil.

Em princípio, mesmo sem cláusula expressa, o título de crédito pode ser transmitido por endosso.
Alguns somente podem ser transferidos dessa forma. Portanto, são denominados “títulos à
ordem inatos”, como as duplicatas, o conhecimento de depósito e o warrant.
Fonte: justplay1412/Shutterstock

Outros títulos poderão ser transferidos por endosso ou por cessão de crédito. Nesse caso,
mediante a inserção da cláusula “não à ordem” pelo sacador, como a letra de câmbio, a nota
promissória, o cheque ou o conhecimento de transporte.

Cabe ao sacador decidir o modo de transmissão, que vincula os signatários posteriores pelo
atributo da literalidade.

A cessão de crédito é uma forma alternativa de transmissão de obrigações, mas não se trata de
instituto de aplicação exclusiva aos títulos de crédito como o endosso.

A cessão de crédito é disciplinada no Código Civil (artigos 286 a 298) e tem várias diferenças
em comparação com o endosso, das quais se destacam:

Pode não abranger a totalidade do crédito, mediante disposição expressa;

A eficácia da cessão em relação a terceiros depende da elaboração de um documento


público (lavrado por um tabelião de notas) ou particular;

O devedor deve ser notificado pelo credor da cessão do crédito, do contrário a transmissão
da obrigação não tem eficácia em relação e ele;

O devedor pode opor ao cessionário (credor atual) as exceções que lhe competirem, bem
como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o
cedente (credor anterior);

Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

O endosso é tratado tanto no Código Civil (artigos 910 a 920) quanto em leis especiais,
prevalecendo estas quando dispuserem diversamente do primeiro (confira o artigo 903 do
Código Civil).

Tal qual o saque e o aceite, o endosso decorre de assinatura (manual ou eletrônica, conforme o
suporte do documento) do credor ou de seu procurador com poderes especiais, sendo o primeiro
endossante o credor originário.

 ATENÇÃO

Ao contrário dos outros atos cambiários, para a validade do endosso que se limitar a uma
simples assinatura do endossante, deve ser dado no verso do título. Sendo a assinatura do
endossante identificada como endosso, pode ser lançada no verso ou no anverso.

Ao endossar o título, o endossante pode designar ou não o beneficiário. No primeiro caso, o


endosso é em branco e o título passa a circular ao portador; no segundo, permanece como título
nominal (endosso em preto ou completo).

Se o endossatário recebe um título de crédito endossado em branco, pode mudá-lo para endosso
em preto. Basta completá-lo com o seu nome ou de terceiro. Ele pode, inclusive, endossar
novamente o título, em branco ou em preto.

Pode, ainda, transferi-lo sem novo endosso pela tradição, mantendo o documento ao portador
(confira o artigo 913 do Código Civil).

Além de transferir todos os direitos incorporados ao título e nele mencionados, o endosso tem
outro importante efeito: não torna o endossante responsável pelo pagamento, salvo se houver
declaração em sentido contrário.

Portanto, o endosso é presumidamente sem garantia ao pagamento e o endossante não é um


coobrigado.

Já esclarecemos que as disposições do Código Civil cedem diante de disposição diversa em lei
especial. Existem algumas delas que regulam certos títulos de crédito em que se adota outra
orientação, exatamente no sentido contrário:
O ENDOSSANTE, SALVO CLÁUSULA EM CONTRÁRIO,
É GARANTE TANTO DA ACEITAÇÃO COMO DO
PAGAMENTO DA LETRA”

(Decreto nº 57663, de 1966, Anexo I, artigo 15).

Nos casos de endosso de letra de câmbio e de nota promissória, por exemplo, ele é
presumidamente com garantia e o endossante é um coobrigado. Exceto se ele excluir sua
responsabilidade pela “cláusula sem garantia”, que será aplicada aos demais signatários e ao
portador pelo atributo da literalidade.

 ATENÇÃO

Nos títulos típicos ou nominados, é fundamental consultar a lei especial e verificar qual efeito ela
atribui ao endosso.

O endossante, mesmo se responsabilizando como um coobrigado no título, pode proibir novo


endosso. Isto é: inserir uma cláusula acessória ao seu endosso pela qual declara que não garante
o pagamento às pessoas a quem a letra for, posteriormente, endossada.

Com isso, o endossante limita sua obrigação apenas à pessoa para quem endossou e não a
garante para os portadores posteriores. A cláusula de proibição de novo endosso não tem
previsão no Código Civil, mas é admitida em leis especiais.

O endosso pode ser realizado antes ou após o vencimento do título. Mas é importante ressaltar
que o endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.

Tal regra, presente no artigo 920 do Código Civil, não é adotada uniformemente pela legislação
dos títulos de crédito em espécie ou nominados. Em determinadas situações, o endosso póstumo
(após o vencimento) pode ter efeito de cessão de crédito.

O endosso, uma vez lançado, não pode ser cancelado, seja total ou parcialmente, exceto se o
endossante tiver pago o título e recebê-lo quitado do portador. Nesses termos, poderá riscar seu
endosso, que será reputado cancelado, e dos endossantes posteriores a ele. Ausente essa
hipótese, o endosso cancelado é considerado não escrito.

ESPECIAIS

“Confiram-se o Decreto nº 57.663, de 1966, Anexo I, artigo 15 e a Lei nº 7.357, de 1985,


artigo 21, parágrafo único.”

 DICA

Cabe alertar sobre a existência do endosso impróprio, isto é, aquele em que o endossante

transfere o título sem a finalidade de transmitir todos os direitos nele incorporados, mas com
escopo de:

Cobrança;

Garantir uma obrigação assumida com o terceiro, a quem endossa.

No primeiro caso, o endosso contém a cláusula mandato ou “por procuração”, habilitando o


endossatário a agir como mandatário (procurador) do endossante para os atos de cobrança do
título, com posterior prestação de contas.

Já no segundo caso, quando o endosso contém a menção “valor em penhor” ou outra garantia,
como a fiduciária, o endossante utiliza o direito de crédito que advém do título (atributo da
cartularidade) para vinculá-lo ao pagamento de obrigações que assumiu perante o endossatário.
É o que se extrai dos artigos 917 e 918 do Código Civil.

AVAL
É o ato cambiário com finalidade de garantia pessoal a uma obrigação assumida por um
signatário do título (avalizado), seja ele sacador, endossante ou avalista.

Essa garantia pode ser dada por um terceiro ou mesmo por um signatário do título, denominado
avalista, e esse pode ser representado por procurador (mandatário) com poderes especiais.

O aval pode ser prestado antes ou depois do vencimento, a critério do avalista, produzindo, a
qualquer tempo, os mesmos efeitos.

Esse instituto é cabível nos títulos de crédito que contenham obrigação de pagar soma
determinada, disposição do artigo 897 do Código Civil, mas tal restrição pode ser afastada em
lei especial.

Ao contrário da fiança — garantia contratual acessória ao contrato principal —, o aval é ato


unilateral de vontade e independe da celebração de um contrato, sendo próprio dos títulos de
crédito.

Todavia, mesmo as obrigações assumidas nos títulos com cláusula “não à ordem” podem ser
garantidas por aval.

O AVALISTA
O AVAL

O AVALISTA

O avalista não garante o pagamento do título, mas sim da obrigação assumida pelo avalizado, a
quem se equipara. Outro fato a se observar é que mais de um avalista pode garantir, ao mesmo
tempo, a mesma obrigação (aval simultâneo).

O AVAL

O aval, também, deve ser lançado no próprio título, sendo possível ao avalista prestá-lo apenas
com sua assinatura ou, adicionalmente, com alguma palavra (exemplo: “Aval”, “Avalista”,
“Avalizo”) ou expressão (exemplo: “Em aval de”, “Bom para aval”).

Caso o aval seja resultante da simples assinatura do avalista, deverá ser lançado no anverso do
título.
De acordo com o artigo 897, parágrafo único, do Código Civil, é vedado o aval parcial, de modo
que o avalista não poderia validamente limitar a garantia a uma parte da obrigação assumida
pelo avalizado.

Contudo, registramos a existência de disposição diversa em algumas leis especiais, que


admitem, expressamente, o aval parcial, como o artigo 30 do Anexo I do Decreto nº 57.663, de
1966, e o artigo 29 da Lei nº 7.357, de 1985.

Perante o portador e beneficiário, o avalista responde solidariamente com os demais signatários


do título (sacador, endossante, aceitante) pelo aceite (quando cabível) e sempre pelo pagamento.

Fonte: Tero Vesalainen/Shutterstock

Ao contrário da responsabilidade do fiador, que é acessória em relação ao afiançado (benefício


de ordem), a obrigação do avalista é autônoma e independente.

Além disso, ela se mantém mesmo no caso de a obrigação do avalizado ser nula por qualquer
razão que não seja um vício de forma, ou seja, ausência de formalismo do título (como visto no
início deste módulo).

 RESUMINDO

Se o avalista realiza o pagamento, passa a ter direito de regresso em face do avalizado e contra
os obrigados para com este em virtude da letra. Isso ocorre, pois a ele se transferem os direitos
do credor satisfeito (opera-se a chamada sub-rogação da obrigação) emergentes do título.

O aval, uma vez prestado, não pode ser cancelado, sendo tal ato considerado não escrito.

Todavia, a despeito dessa regra, é admitido que o avalista poderá riscar seu aval e dos
obrigados posteriores a ele. Mas isso somente se tiver pago o título e se recebê-lo quitado do
portador. Ausente essa hipótese, aplica-se a regra geral da vedação do cancelamento.

OS ATOS CAMBIÁRIOS
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE LETRA DE
CÂMBIO, NOTA PROMISSÓRIA, CHEQUE E
DUPLICATAS
Existem muitos títulos de crédito, com as mais diversas finalidades, inclusive para oferta pública
nos mercados financeiros. Este módulo, porém, trará os tradicionais, presentes na maioria das
transações comerciais, como a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e as duplicatas.

LETRA DE CÂMBIO

Esse é o mais antigo dos títulos de crédito e sua origem remonta ao contrato de câmbio
praticado na Idade Média entre mercadores de cidades distantes, com moedas distintas.

Daniel Jedzura/shutterstock

No Brasil, também, foi o primeiro título a ser regulado em uma lei, no caso o Código Comercial
(1850). Atualmente, existem dois diplomas legais que tratam da letra de câmbio e da nota
promissória: o Decreto nº 2.044, de 1908, e o Decreto nº 57.663, de 1966.
Vamos abrir um parêntese para falar do Decreto nº 57.663, de 1966. Ele é conhecido como Lei
Uniforme de Genebra (LUG), fruto de uma convenção internacional realizada em 1930. Seu
objetivo era a adoção de uma lei uniforme em matéria de letra de câmbio e nota promissória e
estabelecer regras de regulação de conflitos de leis.

Para esclarecimento, o Decreto nº 2.044, de 1908, ainda permanece parcialmente em vigor nos
temas em que a LUG se omitiu (exemplos: ação cambial, ato cambiário praticado por
mandatário, anulação da letra de câmbio).

BBPPHOTO/shutterstock

Também ainda regula os dispositivos do Anexo I da LUG, que foram objeto de reserva no Anexo II
(consulte os artigos 2º, 3º, 5º, 6º, 7º, 9º, 10º, 13º, 15º, 16º, 17º e 19º do Anexo II para verificar os
dispositivos objeto de reserva).

Importante frisar que, de maneira subsidiária, o Código Civil, na parte que trata dos títulos de
crédito (confira o artigo 903), trata da letra de câmbio.

Em termos conceituais, a letra de câmbio é uma ordem de pagamento em dinheiro, à vista ou a


prazo, dada pelo sacador (credor) ao sacado (devedor) em favor do primeiro ou de terceiro
beneficiário (tomador).

O título pode ser emitido livremente por não ter o saque vinculado a certo contrato ou ato (título de
crédito abstrato). Entretanto, chamamos atenção à proibição contida no artigo 2º da Lei de
Duplicatas (Lei nº 5474, de 1968).
Esse artigo proíbe a utilização de qualquer outro título de crédito pelo vendedor para documentar
o crédito fundado em contrato de compra e venda, incluído obviamente a letra de câmbio.

Cabe ao sacador a emissão da letra de câmbio, podendo designar para tal ato procurador com
poderes especiais (saque por conta e ordem de terceiro).

E, também, o preenchimento do título com os requisitos essenciais (confira o artigo 1º do Anexo I


do Decreto nº 57663, de 1966, para verificar quais são os requisitos essenciais, e o artigo 2º do
mesmo anexo para verificar quais são os requisitos não essenciais).

 ATENÇÃO

O sacador se torna coobrigado desde o momento do saque. Ele responde pelo seu aceite e
pagamento perante o portador original e outros posteriores (cessionários ou endossatários). O
sacador não pode se exonerar de garantir o pagamento do título.

A letra de câmbio à vista deve ser apresentada para pagamento a partir do dia de seu
vencimento e, se esse não for dia útil, no primeiro dia útil seguinte.

Se for a prazo, deve ser apresentada para aceite do sacado até o dia do vencimento, salvo se o
sacador tiver inserido cláusula proibindo o aceite (confira o artigo 22 do Anexo I do Decreto nº
57.663, de 1966).

Caso o sacado dê seu aceite, torna-se obrigado principal pelo pagamento e, se tiver algum
avalista, o avalista também o será.

Não havendo aceite ou sendo parcial, o sacador garante o pagamento ao portador desde que a
recusa ao aceite seja comprovada pelo protesto, interposto em tempo hábil (confira o artigo 22
do Anexo I do Decreto nº 57.663, de 1966).

A transmissão da letra de câmbio pode ser feita por endosso (em branco ou em preto) ou por
cessão de crédito, a critério do sacador, porém para que não seja endossável é preciso a
aposição da cláusula não à ordem por esse.

Como nos demais títulos de crédito, o endosso é sempre integral e não pode ser cancelado,
exceto se o próprio endossante tiver feito o pagamento. Em que pese a corresponsabilidade do
endossante pelo aceite e pagamento (ao contrário dos títulos inominados), é possível que seja
feito sem garantia.
 SAIBA MAIS

Há ainda a proibição de novo endosso, situações em que, respectivamente, o endossante não se


torna coobrigado ou limita a sua coobrigação a seu endossatário imediato (confira o artigo 15 do
Anexo I do Decreto nº 57663, de 1966).

Qualquer obrigação assumida em uma letra de câmbio pode ter seu pagamento garantido por
aval, inclusive parcial, sendo o avalista equiparado ao avalizado. Logo, sendo o aval prestado em
favor do aceitante, o avalista é obrigado principal no título; sendo prestado em favor de outro
signatário, o avalista é coobrigado.

O avalizado pode ter mais de um avalista − nesse caso, os avais são simultâneos − ou um
avalista pode avalizar o anterior − os avais são sucessivos. Caso o avalista não indique o
avalizado (aval em branco), este será sempre o sacador.

Como obrigado cambiário, a obrigação do avalista é autônoma e independente da do avalizado,


não sendo admissíveis exceções pessoais ao portador, exceto em casos de vício de forma ou
má-fé comprovada. Para saber mais sobre o aval na letra de câmbio, confira os artigos 30 a 32
do Anexo I do Decreto nº 57663, de 1966).

NOTA PROMISSÓRIA

A nota promissória é outro título bastante conhecido e muito utilizado pelo modo de operação
bem simples. Possui, apenas, duas figuras intervenientes principais: o emitente e o beneficiário.

A legislação aplicável a esse título é a mesma da letra de câmbio, já vista. Advertimos, porém,
que todos os dispositivos relativos à nota promissória contidos no Decreto nº 2.044, de 1908
(artigos 52 a 56), estão revogados pela superveniência do Decreto nº 57.663, de 1966.

Em termos conceituais, a nota promissória é uma promessa de pagamento em dinheiro, à vista


ou a prazo, feita pelo emitente ou subscritor (devedor) ao beneficiário ou tomador (credor).
Fonte: de-focus/Shutterstock

O título pode ser emitido livremente por não estar vinculado a certo contrato ou ato (título de
crédito abstrato). Todavia, nada impede que essa vinculação ocorra, devendo constar do título
esse detalhe para ciência do terceiro.

Cabe ao devedor, na condição de emitente, preencher o título atentando aos requisitos


essenciais para sua validade (confira o artigo 75 do Anexo I do Decreto nº 57.663, de 1966, para
verificar quais são os requisitos essenciais, e o artigo 76 do mesmo anexo para verificar quais
são os requisitos não essenciais).

A identidade da legislação da nota promissória com a letra de câmbio não é casual e sim
proposital. Pois são aplicáveis às notas promissórias quase todas as disposições relativas às
letras de câmbio, tais como: endosso; vencimento; pagamento; direito de ação por falta de
pagamento; aval; e prescrição.

Cabem, contudo, algumas considerações:

NOTA PROMISSÓRIA
O ACEITE
O EMITENTE
O AVAL
NOTA PROMISSÓRIA

Na nota promissória não há o instituto do aceite, exclusivo dos títulos em que o sacador dá ordem
de pagamento ao sacado;

O ACEITE

O aceite é o “de acordo” a essa ordem;

O EMITENTE

O emitente de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma
letra, isto é, ele e seu avalista, se houver, são os obrigados principais nesse título e os
endossantes e seus avalistas, os coobrigados;

O AVAL

Se o aval não indicar a pessoa por quem é dado (aval em branco), considera-se em favor do
emitente da nota promissória.

NOTA PROMISSÓRIA RURAL

Outro título de crédito criado por inspiração da nota promissória é a nota promissória rural,
normatizada pelo Decreto-lei nº 167, de 1967, artigos 42 a 45. A sua emissão é causal, ou seja,
só pode ser feita nas situações previstas no artigo 42, que são:

VENDAS A PRAZO
Nas vendas a prazo de bens de natureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas
diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas (o comprador é o emitente);
RECEBIMENTOS
Nos recebimentos, pelas cooperativas, de produtos da mesma natureza entregues pelos seus
cooperados (a cooperativa é o emitente);

ENTREGAS
Nas entregas de bens de produção ou de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus
associados (o cooperado é o emitente).

A nota promissória rural poderá ser emitida sob a forma cartular ou escritural. Nesse caso,
mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração, mas observados, em qualquer das
hipóteses, os requisitos essenciais previstos no artigo 43 do Decreto-lei nº 167, de 1967.

CHEQUE

O cheque tem, também, semelhanças com a letra de câmbio, por se tratar de ordem de
pagamento em dinheiro, porém exclusivamente à vista. Diante dessa característica, não há
aplicação do instituto do aceite.

A legislação sobre o cheque, até 1985, era o Decreto nº 57.595, de 1966, que promulgou, no
Brasil, a Lei Uniforme em matéria de cheque (fruto de uma convenção internacional ocorrida em
1931). No entanto, a Lei nº 7.357, de 1985, passou a tratar do instituto e revogou as disposições
em contrário, tornando-se o diploma vigente.

O emitente do cheque é denominado sacador e deve ter fundos disponíveis (dinheiro) em poder
do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato. A infração
desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque.
Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock

Fonte: NIKCOA/Shutterstock

O sacador, ao preencher o cheque, deve atentar para os requisitos essenciais previstos no artigo
1º da Lei nº 7.357, de 1985, sob pena de o documento não valer como cheque. Outro requisito de
validade do cheque diz respeito ao sacado, que deve ser banco ou instituição financeira que lhe
seja equiparada (confira o artigo 3º da Lei nº 7.357, de 1985).
Após o preenchimento, o emitente deve assiná-lo, mas é admitida a assinatura por mandatário
com poderes especiais. Ou até mesmo a substituição desta por chancela mecânica.

O beneficiário do cheque pode ser o próprio emitente, pessoa por ele indicada (cheque nominal)
ou o portador. A emissão e o pagamento de cheque ao portador têm restrição, sendo vedado se
o valor for superior a R$100,00 (cem reais), tendo que ser nominal.

O beneficiário pode apresentar o cheque ao sacado para pagamento imediatamente após sua
emissão. Não importando que o cheque seja pós-datado, isto é, aquele emitido com data futura
de apresentação a pagamento.

Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock

Por ser um título exclusivamente à vista, o sacado deve efetuar o pagamento do cheque na data
de sua apresentação, mesmo que seja antes do dia indicado como de emissão.

O cheque pode ser apresentado a pagamento no estabelecimento do sacado indicado no título


(lugar de pagamento) ou a uma câmara de compensação. Não obstante, o portador deve
observar os prazos legais.
Fonte: Jne Valokuvaus/shutterstock

Quanto a isso, são: 30 dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; ou 60 dias,
quando emitido em outro lugar do País ou no exterior, sempre a partir do dia da emissão.

Se o cheque não for apresentado no prazo legal, o portador somente poderá cobrar seu valor
através da ação cambial (ação de execução) do emitente ou do seu avalista. No cheque, o
emitente é o obrigado principal e, como tal, garante o pagamento, considerando-se não escrita a
declaração pela qual se exima dessa garantia.

A forma de circulação do cheque é a mesma da letra de câmbio, por endosso ou cessão de


crédito, cabendo ao emitente a escolha. Também é vedado o endosso parcial, sendo possíveis
as cláusulas “sem garantia” e de proibição de novo endosso.

Três peculiaridades devem ser registradas:

O sacado não pode endossar o cheque, sob pena de nulidade;

Se o sacado receber o cheque por endosso, tal ato cambiário tem efeito apenas de
quitação, não podendo haver novo endosso;

O endosso do cheque após sua apresentação ou o prazo de apresentação tem efeito de


cessão de crédito (confiram-se os artigos 18 e 27 da Lei nº 7357, de 1985).

DUPLICATAS

Elas, também, são títulos de crédito com muitas semelhanças com a letra de câmbio.
São ordens de pagamento em dinheiro à vista ou a prazo dadas ao devedor pelo credor.

Entretanto, as duplicatas são títulos de crédito causais e à ordem. Isso quer dizer que a causa de
sua emissão não pode ser escolhida pelo emitente, sendo imposta por lei, e a circulação tem que
ser por endosso.

Com isso, as figuras do sacador, sacado e tomador são aquelas diretamente vinculadas ao
negócio que deu origem ao crédito.

Outros aspectos relevantes dizem respeito à necessidade de emissão prévia da fatura pelo
sacador. Sendo a duplicata uma cópia desta com efeito cambial, e a possibilidade de ação de
cobrança em face do sacado diante da recusa ao aceite.

DUPLICATA DE COMPRA E VENDA

Esta foi criada como título substitutivo da letra de câmbio para ser utilizada, facultativamente pelos
comerciantes. O objetivo era documentar o crédito oriundo do contrato de compra e venda
mercantil, podendo circular livremente por endosso, a fim de que o sacador obtivesse capital de
giro.

Com a revogação da parte primeira do Código Comercial, em 2002, pelo Código Civil, deixou de
existir o referido contrato. Mas persiste o contrato de compra e venda, que atualmente é a causa
da emissão.

O sacador da duplicata de compra e venda é o vendedor (credor); e o sacado é o comprador


(devedor). Como o vendedor se utiliza da duplicata para a cobrança do preço, ele é o beneficiário
e primeiro endossante.
Fonte: Bakhtiar Zein/Shutterstock

 ATENÇÃO

Cabe ao sacador observar, na emissão da duplicata, os requisitos essenciais, inclusive indicar o


número da fatura de compra e venda (confira o artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei nº 5.474, de 1968).

Como a duplicata é sacada após a realização da venda, presume-se que quando ela é remetida
ao sacado para aceite (confira como se dá a apresentação da duplicata no artigo 6º da Lei nº
5.474, de 1968) a mercadoria já foi entregue e recebida sem oposição.

Caso tenha havido algum problema com a mercadoria ou com as condições da venda,
reproduzidas na duplicata, o sacado tem a prerrogativa de recusar o aceite.

Havendo a comprovação de uma das causas para o não aceite, o sacado deve devolver a
duplicata ao apresentante dentro de 10 (dez) dias. Esse prazo é contado da data de sua
apresentação, acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.

ACEITE
Sobre a recusa do aceite, vejamos o que dispõe o artigo 8º, da Lei no 5.474 de 1968: “O
comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não
recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e
risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados”.

A retenção da duplicata pelo sacado constitui ato ilícito, sendo possível o protesto por falta de
devolução para comprovar esse fato.

A obrigação de pagamento da duplicata poderá ser assegurada por aval, sendo o avalista
equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a
sua; fora desses casos, ao comprador ou sacado.

A cobrança da duplicata não paga, com ou sem aceite, é feita por meio de ação cambial (de
execução), inclusive em face do sacado ou de seu avalista.

A emissão da duplicata de compra e venda pode ser escritural ou eletrônica, a critério do


sacador. Tal previsão, porém, não se encontra na Lei nº 5.474, de 1968, e sim em lei própria —
Lei nº 13.775, de 2018.

De acordo com essa lei, a emissão da duplicata é feita mediante lançamento em sistema
eletrônico de escrituração gerido por quaisquer das entidades que exerçam a atividade de
escrituração de duplicatas escriturais.

Todos os atos previstos na Lei nº 5.474, de 1968, referentes às duplicatas de compra e venda e
de prestação de serviços, deverão ser praticados no sistema eletrônico, tais como:

Apresentação;

Aceite;

Devolução e formalização da prova do pagamento;

Controle e transferência da titularidade;

Prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval.

Os gestores dos sistemas eletrônicos de escrituração são obrigados a expedir, a pedido de


qualquer solicitante, extrato do registro eletrônico da duplicata. Esse documento servirá de base
para a cobrança judicial da duplicata.

 ATENÇÃO

Cabe destacar a fixação de prazo menor de apresentação, por meio eletrônico, da duplicata
escritural — 2 dias úteis contados de sua emissão. E o sacado, também por meio eletrônico,
poderá recusar, no prazo de 10 dias, a duplicata escritural apresentada ou, no mesmo prazo
acrescido de sua metade, aceitá-la.

DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

Ela, também, é regulada pela Lei nº 5.474, de 1968, sendo-lhe aplicáveis, com as adaptações
cabíveis, as disposições referentes à fatura e à duplicata de compra e venda. Não obstante, a
emissão da duplicata de prestação de serviços não é imposta ao sacador, ao contrário da
duplicata de compra e venda.

De acordo com os artigos 20 e 22 da Lei nº 5474, de 1968:

TÊM LEGITIMIDADE PARA SACAR ESTA DUPLICATA:


AS PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS QUE SE
DEDIQUEM À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, INCLUSIVE
PROFISSIONAIS LIBERAIS; E OS QUE PRESTAM
SERVIÇO DE NATUREZA EVENTUAL”.

(Lei nº 5474, 1968)

A duplicata deverá ser sacada após a emissão da fatura, que discriminará a natureza dos
serviços prestados. O sacador deverá enviar a duplicata ao aceite do sacado, ocasião em que
este terá a oportunidade de aceitá-la, tornando-se obrigado principal pelo pagamento, ou
apresentar as razões de recusa.

Para ser considerada válida, a recusa deve estar fundada em um dos seguintes motivos:

Não correspondência com os serviços efetivamente contratados.

II

Vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados.

III

Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

DUPLICATA RURAL

Essa é a única espécie de duplicata que não é regulada na Lei nº 5.474, de 1968. Sua previsão
está no artigo 46 do Decreto-lei nº 167, de 1967.

Também é um título causal associado exclusivamente a vendas a prazo de quaisquer bens de


natureza agrícola, extrativa ou pastoril. No caso da aquisição efetuada diretamente por produtores
rurais ou por suas cooperativas, que são os sacadores dessa duplicata.

Tal qual a duplicata de compra e venda, a rural poderá ser emitida sob a forma cartular ou
escritural. Nesse caso, mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração. Mas
observados, em qualquer das hipóteses, os requisitos essenciais previstos no artigo 48 do
Decreto-lei nº 167, de 1967.
PRESCRIÇÃO NOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Sabemos que todos eles têm importantes funções econômicas e uma delas é a possibilidade de
obtenção de crédito mediante sua emissão e/ou circulação, de modo mais rápido e informal, mas
com segurança para o credor.

 DICA

Ao verificarmos os princípios, identificamos que o credor pode cobrar de todos os signatários,


em razão da autonomia entre as obrigações. E que, se o título circular por endosso, o devedor
não pode opor ao portador atual as exceções que teria ao pagamento perante portadores
anteriores.

Pois bem: para que tal tratamento seja dispensado ao credor no momento da cobrança, é
fundamental que ele observe os prazos para a propositura das ações de cobrança de cada título
de crédito.

Isso é de suma importância, pois os prazos não são os mesmos e podem variar conforme o título
em espécie e a pessoa que está sendo cobrada − se aceitante, sacador, endossante ou avalista.
É o que passaremos a expor.

Quando o devedor deixa de aceitar ou de pagar o título de crédito, ele descumpre uma obrigação.
O sacador, porém, é responsável pelo aceite e pagamento, bem como os endossantes e avalista.

Caso o sacado não aceite, o portador tem direito de cobrança antes do vencimento perante os
coobrigados, tendo obtido o protesto do título. A mesma solução se dá em caso de aceite, mas
sem que o pagamento seja efetuado.

O credor tem uma pretensão à cobrança do crédito contido no título em face dos devedores
solidários, tanto na hipótese de falta de aceite (títulos que representam ordens de pagamento a
prazo) ou de falta de pagamento.
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock

Essa pretensão deve ser exercida dentro de um prazo fixado sempre em lei e que não pode ser
reduzido ou ampliado pela vontade das partes. Esse é o prazo de prescrição que, se atingido, vai
extinguir a pretensão ao exercício daquele direito.

O Código Civil dispõe sobre esses prazos em seu artigo 206. E, quanto à prescrição, para haver
o pagamento de título de crédito, o prazo é de 3 anos, contados da data do vencimento (confira o
parágrafo 3º, inciso VIII, desse artigo).

Precisamos destacar que o próprio dispositivo legal ressalva as disposições de lei especial,
permitindo concluir que o prazo de 3 anos somente se aplica:

Para os títulos atípicos ou inominados, que não seguem lei especial;

Para os títulos nominados, caso não haja prazo prescricional fixado na lei própria.

Em razão dessa ressalva, é fundamental que o credor verifique, em primeiro lugar, se o título é
regulado por lei especial e se essa lei tem um prazo prescricional diferente do Código Civil. Ou
até mesmo se o evento fixado para o início da contagem do prazo prescricional (termo inicial) é
ou não a data do vencimento.

Havendo prazo específico em lei especial, este prevalecerá. Apresentaremos, a seguir, uma
relação exemplificativa de títulos que possuem prazos diferentes daquele do Código Civil.
Foram fixados em função da pessoa do devedor contra quem o credor exerce seu direito de
ação.

Título de crédito Prazo prescricional

3 anos, contados do dia do vencimento, na cobrança do


aceitante e de seu avalista;

1 ano, contado da data do protesto ou da data do


Letra de câmbio e nota vencimento (se o protesto for dispensado no título) na
promissória cobrança do endossante, do sacador e dos respectivos

(Anexo I do Decreto nº avalistas;

57663, de 1966, artigo 70) 6 meses, contados do dia em que o endossante pagou a
letra ou em que ele próprio foi acionado, na ação dos
endossantes e de seus avalistas um contra os outros e
contra o sacador e seu avalista;

Duplicatas de compra e
3 anos, contados do dia do vencimento, na cobrança do
venda e de prestação de
sacado/aceitante e de seu avalista;
serviços
1 ano, contado da data do protesto, na cobrança dos
(Lei nº 5.474, de 1968,
endossantes e de seus avalistas;
artigo 18)
1 ano, contado da data em que tenha sido efetuado o
OBS. A duplicata rural
pagamento do título de qualquer dos coobrigados contra
segue os prazos da letra
os demais (ação de regresso de um obrigado ao
de câmbio — Decreto-lei
pagamento da duplicata contra outro).
nº 167, de 1967, artigo 60.

Cheque 6 meses, contados do término do prazo de apresentação,


na cobrança do emitente e de seu avalista ou do
(Lei nº 7.357, de 1985,
endossante e de seu avalista;
artigo 59)
6 meses, contados do dia em que o obrigado pagou o
cheque ou do dia em que foi demandado (ação de
regresso de um obrigado ao pagamento do cheque
contra outro).

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

Após a ocorrência da prescrição, o credor, ainda assim, poderá propor uma ação de cobrança.
Mas essa não terá mais os benefícios da ação “cambial”, ou seja, aquela própria para a cobrança
dos títulos de crédito.

Isso porque, com a prescrição, o documento deixa de ser um título executivo extrajudicial. E terá
de passar por um procedimento preliminar para se tornar, novamente, um título executivo.

Esse procedimento se dá através da ação monitória, prevista no artigo 700 do Código de


Processo Civil.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1) MÁRIO ASSINOU COMO AVALISTA UMA NOTA PROMISSÓRIA E LIMITOU SEU AVAL A
50% (CINQUENTA POR CENTO) DO VALOR DO TÍTULO. DIANTE DE TAL LIMITAÇÃO,
QUAL DOS PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO DEVE SER APLICADO PARA MÁRIO
SE OPOR À EVENTUAL COBRANÇA DO VALOR INTEGRAL DA NOTA PROMISSÓRIA?

A) Cartularidade

B) Literalidade

C) Autonomia

D) Formalismo
2) JOANA RECEBEU DE JOSÉ, POR ENDOSSO, CHEQUE EMITIDO POR MARIA.
SABENDO-SE QUE O ENDOSSO DE JOSÉ PARA JOANA FOI EM BRANCO, JOANA NÃO
PODERÁ:

A) Mudá-lo para endosso em preto indicando novo beneficiário.

B) Endossar novamente o título, em branco ou em preto.

C) Transferi-lo a terceiro por tradição manual e sem novo endosso.

D) Realizar um endosso parcial.

GABARITO
1) Mário assinou como avalista uma nota promissória e limitou seu aval a 50% (cinquenta
por cento) do valor do título. Diante de tal limitação, qual dos princípios dos títulos de
crédito deve ser aplicado para Mário se opor à eventual cobrança do valor integral da
nota promissória?

A alternativa "B " está correta.

Observe que Mário lançou na nota promissória uma limitação a seu aval e só pode responder
perante o portador até metade do valor do débito. Ele pode se opor ao pagamento por meio da
invocação ao princípio da literalidade, ou à exceção relativa ao conteúdo literal do título de que
trata o artigo 915 do Código Civil.

2) Joana recebeu de José, por endosso, cheque emitido por Maria. Sabendo-se que o
endosso de José para Joana foi em branco, Joana não poderá:

A alternativa "D " está correta.

É vedado à Joana realizar endosso parcial do cheque, pois ele é sempre integral,
compreendendo todo o valor indicado no título.

MÓDULO 2

 Identificar os princípios contratuais e sua aplicação nos contratos empresariais


INTRODUÇÃO

Este módulo tem como tema central os contratos empresariais. Todo contrato é um ato jurídico,
pois decorre de um ato volitivo, ou seja, de livre manifestação da vontade (seja da pessoa física,
seja da pessoa jurídica) com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.

Além de ser um ato jurídico, o contrato integra uma categoria mais restrita, a dos negócios
jurídicos ou atos jurídicos em sentido estrito. Já que possuem sua formação e efeitos
condicionados à livre manifestação de vontade das partes.

Como, para a formação do vínculo contratual, é necessária a conjugação de vontades, ou


consensualismo, o contrato é um negócio jurídico bilateral, não se admitindo o “contrato consigo
mesmo”.

Por essa razão, por exemplo, não se denomina contrato o documento de constituição de uma
sociedade unipessoal, e sim ato unilateral ou documento de constituição.

Nem o Código Civil de 1916 e nem o atual apresentam a noção de contrato. O Código de 1916
conceituou “ato jurídico” no artigo 81 como:

ART. 18 - TODO O ATO LÍCITO, QUE TENHA POR FIM


IMEDIATO ADQUIRIR, RESGUARDAR, TRANSFERIR,
MODIFICAR OU EXTINGUIR DIREITOS”.

(C.C./1916).

O Código vigente não conceituou ato jurídico ou o negócio jurídico, limitando-se a apresentar os
requisitos de validade do negócio jurídico, em seu artigo 104.

Entretanto, como referência técnica, podemos citar a noção adotada pelo Código Civil italiano de
1942, fonte legislativa para o Código brasileiro. Em seu artigo 1321, conceitua contrato como o
acordo de duas ou mais partes (sujeitos de direito) para estabelecer (criar), regular (podendo
modificar) ou extinguir uma relação jurídica patrimonial entre elas.
O contrato empresarial não tem natureza distinta dos demais contratos dentro da teoria do
negócio jurídico. Existem, porém, certas peculiaridades em relação a outros contratos (exemplos:
civis, administrativos, de consumo) que serão tratadas a seguir.

BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE OS


CONTRATOS EMPRESARIAIS E SUAS
CARACTERÍSTICAS
Até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, havia um tratamento particular para os contratos
e as obrigações mercantis no Código Comercial (Lei nº 556, de 1850), que dedicava o Título V
da Parte Primeira ao tema. Ocorre que toda a parte primeira do Código Comercial foi revogada
expressamente pelo artigo 2045 do Código Civil.

Em razão da revogação, deixaram de ter regras próprias, compatíveis com as características das
relações mercantis ou comerciais (exemplo: paridade, elasticidade, informalidade, onerosidade,
boa-fé, importância dos usos).


De todos os contratos, apenas o de comissão mercantil foi mantido no Código Civil de 2002, com
a denominação reduzida para “comissão” (confira os artigos 693 a 709). Os demais foram
“unificados” com os congêneres civil, que eram disciplinados no Código Civil de 1916.

Em que pese o desaparecimento de um regramento próprio (disposições gerais e contratos em


espécie), na prática, continuam sendo celebrados contratos mercantis. Atualmente, porém, são
denominados empresariais, em referência ao empresário e sua empresa.

Ou seja: substituindo a nomenclatura tradicional que se referia ao comerciante e comércio ou à


mercancia. Cabe, também, observar que muitas leis especiais — não revogadas pelo Código
Civil — continuam disciplinando contratos empresariais ou institutos relacionados ao direito
empresarial.

 EXEMPLO
Alguns exemplos: arrendamento mercantil, franquia, representação comercial, ponto empresarial,
alienação fiduciária, concessão comercial, fretamento, seguro marítimo, transporte multimodal e
transporte aéreo.

DIANTE DA LACUNA LEGISLATIVA, VOCÊ DEVE


ESTAR SE PERGUNTANDO: COMO IDENTIFICAR
UM CONTRATO EMPRESARIAL? QUAIS SERIAM
AS CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS
EMPRESARIAIS?

RESPOSTA

RESPOSTA

O primeiro aspecto relevante para identificar um contrato como empresarial é a qualidade


de empresário das partes, de ambas e não apenas de uma delas. Para isso, é necessário
recorrer ao Código Civil, que conceitua, nos artigos 966 e 982, respectivamente,
empresário e sociedade empresária.

Em ambos os dispositivos, é essencial que haja o exercício profissional (com habitualidade)


de empresa. Isto é: atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens
ou serviços.

Em termos práticos, como o exercício regular da empresa decorre sempre do registro,


identifica-se o empresário pela sua inscrição na junta comercial, exceto o empresário rural,
que tem um regime de inscrição facultativa.

Um segundo aspecto relevante dos contratos empresariais está associado à sua função
econômica, que se vincula, necessariamente, ao exercício da empresa. Assim, ao celebrar
um contrato empresarial, as partes visam ao lucro ou à obtenção de vantagem econômica
equivalente para sua empresa.
E isso pode se dar pela aquisição de produtos ou serviços, obtenção de crédito, prestação
de garantias a obrigações de terceiros, investimento de recursos na empresa de terceiros
etc.

Cabe ressaltar que, se por acaso alguma pessoa participar do contrato não sendo empresário,
nem por isso ele se descaracteriza, pois é preciso sempre verificar se o fim é empresarial.

 EXEMPLO

Uma sociedade empresária contrai um empréstimo (contrato de mútuo) para aplicar na


modernização de sua empresa. E, para liquidação do débito, é emitida pela mutuária uma cédula
de crédito bancário (título de crédito), com aval de um sócio pessoa física não empresário.

O simples fato de um dos devedores solidários não ser empresário não descaracteriza o mútuo
como um contrato empresarial, embora regulado pelo Código Civil, pois a função econômica está
relacionada à empresa.

Podemos apontar como características dos contratos empresariais:

A paridade ou simetria;

A elasticidade;

A informalidade;

A onerosidade;

A boa-fé;

A importância dos usos como critério interpretativo.

As relações empresariais são paritárias ou simétricas, pois há equivalência de poderes e


forças entre as partes contratantes. Não há, porém, presunção de hipossuficiência e/ou
vulnerabilidade no que tange às questões contratuais.
Com isso, as cláusulas contratuais serão objeto de livre estipulação. Por serem ambas as partes
empresários, possuem conhecimento e experiência em questões econômico-financeiras em
geral. E são capazes de avaliar o fim pretendido e, desse modo, identificar vantagens,
desvantagens, riscos e potenciais de retorno em relação ao negócio.

ELASTICIDADE
A elasticidade dos contratos empresariais está presente no seu aspecto interpretativo. Afinal,
partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de
integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. Até mesmo com estímulo à
utilização da arbitragem para dirimir conflitos advindos da interpretação do contrato.

Ao contrário dos negócios civis, os negócios empresariais (unilaterais e bilaterais) são, em regra,
informais. No módulo 1, tratamos sobre a informalidade do endosso e do aval em relação aos
institutos da cessão de crédito e da fiança, pois ambos são válidos com simples assinatura.

E são dessa forma para que o empresário tenha celeridade e menor custo de transação no
momento da contratação e da execução. Em virtude disso, muitos contratos empresariais estão
sendo celebrados no ambiente virtual (“web space”), que se mostra propício e estimulante para
contratações em massa e a distância.

ONEROSIDADE
A onerosidade decorre, naturalmente, do objetivo do empresário ao contratar, isto é, obter lucro
ou vantagem equivalente, por isso não se concebe gratuidade nos contratos empresariais.

Um exemplo dessa característica encontra-se no contrato de transporte. Uma vez que o


transportador se obriga, mediante retribuição, a transportar pessoas ou coisas, não se subordina
às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Por fim, outra característica (marcante) nos contratos empresariais é a importância reservada aos
usos como critério interpretativo dos contratos empresariais, pois constituem uma das
fontes do direito empresarial.

Tal fato é histórico e já tinha relevância no Código Comercial. O referido Código, em seu artigo
131, apresentava bases para interpretação das cláusulas dos contratos comerciais, referindo-se
aos usos nestes termos:
ART. 131 - O USO E A PRÁTICA GERALMENTE
OBSERVADOS NO COMÉRCIO NOS CASOS DA
MESMA NATUREZA, E ESPECIALMENTE O COSTUME
DO LUGAR ONDE O CONTRATO DEVA TER
EXECUÇÃO, PREVALECERÁ A QUALQUER
INTELIGÊNCIA EM CONTRÁRIO QUE SE PRETENDA
DAR ÀS PALAVRAS”.

Atualmente, os usos ainda têm função interpretativa em razão do que dispõe o artigo 113 do
Código Civil.

Os usos são práticas espontâneas públicas, uniformes, reiteradas e lícitas. Inclusive regras
corporativas contidas em documentos de autorregulamentação, adotadas pelos empresários de
um determinado lugar (“praça”), região ou país.

Ainda nos dias atuais, a lei recorre a eles, subsidiariamente, em alguns contratos como de
depósito, mandato, comissão e corretagem (confira os artigos 628, 658, 701 e 724 do Código
Civil).

CÓDIGO CIVIL

“Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.”

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

Eles se dividem em clássicos e contemporâneos, sendo que estes não eliminam os primeiros,
mas os completam e, por vezes, os atenuam. Os princípios clássicos têm forte caráter
individualista, onde as partes teriam total liberdade para escolher quando contratar, o que
contratar e como contratar.

Em outras palavras, definem a oportunidade da contratação (e não são forçadas a contratar), o


conteúdo da avença e sua forma.

Com o passar do tempo e de fenômenos — como a produção de bens em massa, novas


tecnologias, regulação de certas atividades econômicas, intervenção do Estado em relações
privadas, globalização, entre outras causas —, os princípios clássicos passaram a conviver com
novos princípios. E, para estes, o contrato assume um papel “social” em vez de “individual”.

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS CLÁSSICOS


Autonomia da vontade das partes;

Obrigatoriedade dos contratos;

Relatividade dos efeitos dos contratos.

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE DAS


PARTES

As partes contratantes têm ampla liberdade para contratar, escolher a pessoa do contratante e
estabelecer entre si os termos e condições do vínculo contratual. Somente disposições
imperativas de ordem pública podem limitar essa autonomia.

 DICA

Nos contratos empresariais, que se relacionam com o exercício de atividades econômicas pelas
partes, a autonomia da vontade está alicerçada nos princípios constitucionais da livre iniciativa e
livre concorrência (confira o artigo 170 da Constituição de 1988).

Ela encontra limites nos atos anticoncorrenciais e contra a livre iniciativa (confira o artigo 36 da
Lei nº 12529, de 2011). Também constituiu limitação à autonomia da vontade as normas de
ordem pública, pontualmente presentes em alguns contratos.
 EXEMPLO

Aqueles que estabelecem seus elementos essenciais e relativos à responsabilidade civil objetiva
de algum dos contratantes ou de ambos. A Lei nº 13.874, de 2019, que institui a Declaração de
Direitos de Liberdade Econômica, faz essa ressalva em seu artigo 3º, inciso VIII.

Por esse dispositivo, estabelece que os negócios jurídicos empresariais paritários serão objeto
de livre estipulação das partes pactuantes. Assim sendo, aplicam todas as regras de direito
empresarial apenas de maneira subsidiária ao avençado, exceto normas de ordem pública.

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS


CONTRATOS (PACTA SUNT SERVANDA)

Esse princípio está associado ao brocardo “pacta sunt servanda”, ou seja, “os acordos devem
ser mantidos”. É um outro princípio clássico do direito contratual, que tem mais importância no
direito empresarial do que em outros ramos do direito em razão da presunção de paridade entre
as partes e profissionalismo.

A força obrigatória dos contratos é uma consequência lógica da autonomia da vontade. Ora, se
as partes são livres para pactuar seu conteúdo, se deduz que este deve prevalecer, em nome da
própria segurança do negócio. Assim, cria-se um vínculo jurídico obrigatório, no sentido de que “o
contrato é lei entre as partes contratantes“.

Nesse sentido, em reforço à manutenção dos acordos, dispõe o artigo 421, parágrafo único, do
Código Civil, que:

ART. 421 - NAS RELAÇÕES CONTRATUAIS


PRIVADAS, PREVALECERÃO O PRINCÍPIO DA
INTERVENÇÃO MÍNIMA E A EXCEPCIONALIDADE DA
REVISÃO CONTRATUAL”.

(C.C./2002).

PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS


DOS CONTRATOS

Afirma-se que os efeitos dos contratos são relativos, porque eles atingem apenas as partes
contratantes (efeitos internos), não alcançando a esfera jurídica de terceiros, seja para prejudicá-
los ou beneficiá-los.

Entretanto, em situações de abuso por uma das partes ou de ambas, o princípio da relatividade
dos contratos é afastado diante do interesse da coletividade (função social do contrato), pela
presença de cláusulas abusivas ou prejuízo ao interesse público, do meio ambiente etc.

Agora, estudaremos os princípios contemporâneos, que são: supremacia da ordem pública;


consensualismo; boa-fé objetiva; equilíbrio econômico; função social.

PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM


PÚBLICA

Como o contrato é um negócio jurídico, também está sujeito aos requisitos de validade deste, em
especial quanto à licitude do seu objeto (como poderá ser observado mais à frente neste
módulo).

Dessa forma, a autonomia da vontade é relativa, sujeitando-se à supremacia da lei e da ordem


pública. Consagra o princípio em comento o artigo 2035, parágrafo único, do Código Civil:
ART. 2035 - NENHUMA CONVENÇÃO PREVALECERÁ
SE CONTRARIAR PRECEITOS DE ORDEM PÚBLICA,
TAIS COMO OS ESTABELECIDOS POR ESTE CÓDIGO
PARA ASSEGURAR A FUNÇÃO SOCIAL [...] DOS
CONTRATOS.”

(C.C./2002).

Ao se referir à convenção, o dispositivo engloba o contrato, pois este também decorre de um


acordo de vontades.

PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO

A convergência de vontades acerca do objeto e do conteúdo tem força suficiente para fazer surgir
o contrato. Mas não se exige de forma especial, para sua formação, exceto de houver disposição
expressa em contrário exigindo um ato complementar.

A legislação brasileira segue essa orientação apenas em alguns tipos contratuais, em que há
formalidades e solenidades a serem atendidas, como veremos ainda neste módulo.

A vontade deve ser livre e consciente, mesmo em contrato de adesão, sob pena de anulação por
vício de consentimento, como erro, dolo ou coação (confira o artigo 171 do Código Civil).

Nos contratos empresariais, a vontade da sociedade é manifestada pelo seu órgão de


representação (administradores ou diretores), nos termos do artigo 1022 do Código Civil, e do
empresário incapaz autorizado por meio de seu representante ou assistente (confira o artigo 974
do Código Civil).

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA

É um dos princípios contemporâneos mais importantes, porque a boa-fé é uma das


características das relações empresariais. Nos contratos empresariais, presume-se que as
partes são informadas, estão em condição paritária, de boa-fé e têm consciência dos riscos do
negócio e os ponderam em relação às vantagens ou lucros que poderão advir dele.

A boa-fé não é apenas interna ou subjetiva (de cunho psicológico) manifestada na intenção de
contratar. É, também, um dever de conduta de cada parte durante e após a execução do contrato
(sentido objetivo).

A boa-fé é um limitador à aplicação do princípio clássico da autonomia da vontade,


desempenhando três funções:
a) interpretativa, b) restritiva e c) criadora.

FUNÇÃO INTERPRETATIVA
FUNÇÃO RESTRITIVA
FUNÇÃO CRIADORA

FUNÇÃO INTERPRETATIVA

Representa que a interpretação do conteúdo do contrato deve lhe atribuir o sentido que
corresponder à boa-fé.

FUNÇÃO RESTRITIVA

Função restritiva da boa-fé é uma proteção ao exercício abusivo de direitos, pois cria limites para
a atuação das partes, assegurando que tal exercício se dê de forma regular. Portanto, não se
manifestando de maneira abusiva ou contraditória à boa-fé, aos bons costumes ou ao seu fim
econômico ou social (confira o artigo 187 do Código Civil, que considera ato ilícito o abuso do
direito).

FUNÇÃO CRIADORA

Função criadora da boa-fé se refere aos deveres anexos à prestação principal das partes, em
todas as etapas da negociação (pré-negocial, negocial e pós-negocial). E possui a finalidade de
incentivar a cooperação mútua entre elas, impondo-lhes alguns deveres — como, por exemplo:
esclarecimento e informação, lealdade e cooperação, diligência, proteção e cuidado.

CUIDADO

Neste sentido, dispõe o artigo 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé”.

PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO

Esse princípio se aplica quando determinada obrigação se torna demasiadamente onerosa para
uma das partes em razão de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (exemplo: a
pandemia de COVID 19 e as medidas de distanciamento que afetaram o funcionamento de
vários estabelecimentos).

 ATENÇÃO

Nesse quadro, será possível negociar a revisão contratual, mesmo judicialmente, de modo a
assegurar, quando possível, o valor real da prestação. Mas sem anular o negócio jurídico com
fundamento na lesão por inexperiência, diante da característica de paridade ou simetria da
relação empresarial (confira os artigos 159 e 317 do Código Civil).

Observamos que o princípio do equilíbrio econômico, embora possa, pontualmente, afastar o


princípio da obrigatoriedade dos contratos, não o anula.

As cláusulas contratuais — como instrumento de alocação de riscos definidos pelas partes


(exemplo: garantias, prazos, índices de reajuste, solução de litígios) — devem ser respeitadas e
observadas.
As partes nos contratos empresariais têm direito de definir livremente o preço de produtos e de
serviços como consequência de alterações da oferta e da demanda, exceto em mercados
regulados (exemplo: tarifa de transporte público).

Fonte: Corepics VOF/Shutterstock

A esse respeito, confira as importantes disposições do artigo 421-A do Código Civil e do artigo
3º, inciso III, da Lei nº 13874, de 2019.

PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL

Ele se manifesta como limitador do princípio da relatividade dos efeitos do contrato. Em prol da
sociedade como um todo, as obrigações contratuais passam a ser oponíveis não apenas às
partes contratantes, mas também a terceiros, já que as relações jurídicas se manifestam dentro
de um contexto social.

 ATENÇÃO

Isso não ocorre com qualquer contrato empresarial, mas apenas com aqueles que possuem
contratação em massa e podem afetar o mercado (exemplo: contratos de seguro).
Com base no princípio da função social, devem as partes agir de forma a respeitar os interesses
socialmente relevantes que possam ser afetados pelo contrato (exemplo: consumidor, meio
ambiente, livre concorrência, função social da propriedade).

Dessa forma, afastaria a concepção individualista clássica de que terceiros não podem interferir
no conteúdo do contrato.

CONTRATO

O princípio da função social está amparado pelo artigo 421 do Código Civil (“A liberdade
contratual será exercida nos limites da função social do contrato”) e no parágrafo único do
artigo 2035 (“Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública,
tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social [...] dos
contratos”).

CONTRATOS EMPRESARIAIS E BANCÁRIOS


Verificamos que os contratos empresariais são celebrados entre empresários e, nessa categoria,
enquadram-se os bancos, que são instituições financeiras (confira o artigo 17 da Lei nº 4.595, de
1964).

Tradicionalmente, no revogado Código Comercial, os banqueiros eram considerados


comerciantes e suas operações, atos de comércio (mercancia). Os bancos são sempre
sociedades empresárias, pois devem adotar o tipo de companhia com autorização do Banco
Central para funcionar.
Assim, sempre que as operações bancárias (ou de banco) eram realizadas através da
celebração de contratos com outros comerciantes, estavam disciplinadas pelas normas do
Código Comercial.

Atualmente, mesmo com a revogação dessas disposições, os contratos bancários permanecem


na categoria de contratos empresariais.

O elemento essencial do contrato bancário é a qualificação de, pelo menos, uma das partes
como banco. E dentro disso, estando devidamente autorizado a funcionar, sob pena de nulidade
da operação e prática de crime contra o sistema financeiro nacional. Ademais, identifica-se o
contrato como bancário em razão das operações que o banco realiza.

OPERAÇÕES BANCÁRIAS

As operações bancárias, em sentido amplo, se inserem na empresa de intermediação de


recursos em moeda nacional ou estrangeira. Mas pode também incluir a captação de poupança
de investidores — quando o banco se torna devedor desses recursos − e a aplicação dos
mesmos recursos de terceiros.

Para efeitos didáticos, as operações bancárias são classificadas quanto à natureza e à função.
Na primeira categoria, estão aquelas próprias das atividades dos bancos (denominadas
operações bancárias típicas) e outras que não são exclusivas dos bancos, mas entram na
carteira de serviços prestados por eles (operações atípicas).

São operações típicas: depósito e mútuo bancários, abertura de crédito, crédito documentário,
adiantamento de contrato de câmbio. Como operações atípicas, temos: prestação de fiança,
aluguel de cofres, serviços de cobrança e desconto de títulos, cartão de crédito.
Fonte: Syda Productions/Shutterstock

Quanto à função, as operações bancárias podem ser ativas ou passivas, respectivamente,


quando o banco se torna credor do terceiro ou devedor em razão do objeto do contrato. Como
operações ativas podemos incluir os empréstimos, desconto de títulos, abertura de crédito,
adiantamento de contrato de câmbio; como operações passivas estão os depósitos bancários,
custódia de títulos, fiança bancária.

 ATENÇÃO

Cabe destacar que, nas relações empresariais, não se aplica o Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078, de 1990). Há exceção, em situações excepcionais, nas quais a parte,
mesmo empresária, prove sua condição de vulnerabilidade. Porque a ideia é de que as relações
empresariais são simétricas ou paritárias, afastando, por isso, a incidência do CDC.

Portanto, um empréstimo (mútuo bancário) concedido ao empresário não é, via de regra, um


contrato de consumo e sim empresarial.

CONTRATOS BANCÁRIOS EM ESPÉCIE


Em razão das múltiplas operações bancárias, nos mais variados segmentos de negócios,
atendendo tanto a consumidores quanto empresários, listaremos alguns contratos empresariais
bancários e suas noções fundamentais.

DEPÓSITO BANCÁRIO
É uma operação bancária típica e passiva em que o banco se obriga a restituir os bens
depositados quando a parte solicitar. Trata-se de contrato real que pressupõe a entrega dos
valores à guarda do depositário, mediante remuneração por esse serviço. Este pode utilizar os
recursos para fornecer crédito a terceiros, mas deverá tê-los à disposição para restituição ao
depositante.

MÚTUO BANCÁRIO
É denominado, usualmente, empréstimo bancário e, por meio dele, o mutuário recebe do
mutuante (banco ou instituição financeira) determinada quantia, para devolvê-la nos prazos e
condições acordados, com incidência de juros e outros encargos.

O Código Civil se refere a esse mútuo como “a fins econômicos”, dispondo que se presumem
devidos juros, podendo haver capitalização anual (confira o artigo 591 do Código Civil), mas
limitando a taxa de juros remuneratórios a 1% ao mês (conferir artigo 406 do Código Civil c/c
artigo 161, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional).

Entretanto, essa limitação não se aplica às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas
operações realizadas por instituições que integram o sistema financeiro nacional, conforme
entendimento do Supremo Tribunal Federal (Súmula nº 596).

As taxas máximas de juros seguem as regras de livre mercado, somente podendo ser limitadas
por ato do Conselho Monetário Nacional.

Se o mútuo for para pagamento em parcelas e com finalidade de aplicação dos recursos em
certo empreendimento (rural, industrial, comercial etc.), é comum tal contrato ser denominado
“financiamento”.

Esse tipo de contrato é, na sua essência, um mútuo. No entanto, pode o contrato ser vinculado a
títulos de crédito emitidos pelo mutuário, com ou sem garantias pessoais ou reais ao pagamento
em favor do credor.

Assim, combinam-se os contratos bancários com títulos de crédito representativos de promessa


de pagamento em dinheiro, como as cédulas ou notas de crédito rural, comercial, industrial, à
exportação, a cédula de produto rural financeira e a cédula de crédito bancário.

ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE


O contrato de abertura de crédito é, também, uma variação do mútuo bancário e tem por objetivo
conceder ao cliente, que é titular de uma conta-corrente de depósito, por tempo determinado,
mas renovável, uma soma determinada (limite de crédito). E, quanto a isso, é possível a utilização
total ou parcial dos recursos.

Pela concessão do limite, o creditador pode cobrar do creditado uma remuneração, mas não os
juros. Isso porque eles só são devidos quando toda, ou parte da quantia, é utilizada. Ao contrário
do mútuo bancário, em que os juros são devidos desde o momento em que a quantia é posta à
disposição do mutuário, utilizando-a ou não.

Para a cobrança dos valores creditados e não pagos, inclusive os encargos da operação e da
mora, o credor pode se valer da cédula de crédito bancário (CCB), caso ele tenha obtido sua
emissão do creditado.

DESCONTO BANCÁRIO
Tal contrato é muito utilizado pelos empresários que querem antecipar seu recebíveis (créditos
vincendos) para obter parte do seu valor com desconto ou deságio, razão do nome dado ao
acordo.

O banco antecipa o crédito ao empresário (descontado), cobrando taxas. É uma variante também
do mútuo, só que ao invés de juros que acrescem ao valor do principal, a taxa de desconto incide
para reduzir seu valor.

Qualquer crédito, inclusive vencido, pode ser objeto de desconto, mas o comum são créditos
vincendos, passíveis de transmissão por endosso ou cessão de crédito.

O descontante, como endossatário ou cessionário, poderá realizar seu crédito tanto do devedor
constante do título adquirido e de seus garantidores como do descontado. Pois o desconto é
sempre com responsabilidade pela solvência do devedor (pro solvendo).

ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO (ACC)


A principal finalidade desse contrato é proporcionar um fluxo de caixa para o exportador no tempo
entre a contratação da exportação e o pagamento do produto pelo importador.

A instituição financeira adianta (financia), de forma imediata, até 100% do valor da exportação,
dependendo do valor do crédito disponível ao exportador. Isso sem necessidade que este
aguarde o recebimento do importador. Logo, proporciona-lhe liquidez imediata para honrar
compromissos de sua empresa.

Trata-se de operação bancária típica e ativa, com prazo máximo para liquidação de 1.500 (mil e
quinhentos) dias, contados da data de sua contratação (Circular BC nº 4002, de 2020).
O adiantamento é todo feito em moeda nacional, relativo ao valor da venda feita em moeda
estrangeira. Sendo a conversão para a moeda real feita pela taxa de câmbio corrente do dia da
contratação do ACC.

AS DIFERENTES ESPÉCIES DE CONTRATOS


EMPRESARIAIS

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) SOBRE OS CONTRATOS EMPRESARIAIS, PODE-SE AFIRMAR QUE:

A) São irrelevantes para tais contratos os usos como critério de interpretação.

B) São contratos que não dão margem a informalidades.

C) São naturalmente onerosos.

D) São em regra de adesão, sem simetria.

2) MESMO COM A UNIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES PROMOVIDA PELO CÓDIGO CIVIL DE


2002, QUE REVOGOU AS DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO COMERCIAL SOBRE OS
CONTRATOS, É POSSÍVEL IDENTIFICAR UM CONTRATO COMO EMPRESARIAL A
PARTIR DE DOIS ASPECTOS RELEVANTES, SÃO ELES:

A) A qualidade de empresário das partes e a função econômica vinculada, necessariamente, ao


exercício da empresa.

B) A vulnerabilidade do devedor e a função econômica vinculada, necessariamente, ao exercício


da empresa.

C) A liberdade ilimitada das partes na contratação e a qualidade de empresário do devedor.

D) A qualidade de empresário do credor e a liberdade ilimitada das partes na contratação.

GABARITO
1) Sobre os contratos empresariais, pode-se afirmar que:

A alternativa "C " está correta.

Os contratos empresariais são regidos pela onerosidade.

2) Mesmo com a unificação das obrigações promovida pelo Código Civil de 2002, que
revogou as disposições do Código Comercial sobre os contratos, é possível identificar
um contrato como empresarial a partir de dois aspectos relevantes, são eles:

A alternativa "A " está correta.


São elementos ou aspectos relevantes para identificação do contrato como empresarial a
qualidade de empresário das partes e a função econômica vinculada, necessariamente, ao
exercício da empresa.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos o estudo do tema sobre títulos de crédito e contratos empresariais. No módulo 1,
verificamos que os títulos de crédito são documentos formais que asseguram ao portador um
direito literal e autônomo.

Com isso, há maior segurança para as partes que negociam, porque o direito literal está limitado
ao conteúdo do título, e este pode ser facilmente verificado por qualquer das partes ou por
terceiros.

Ademais, as obrigações contidas em um título de crédito são independentes entre si, de modo
que o credor pode cobrar de qualquer dos devedores, solidários pelo pagamento, na hipótese de
um deles não poder ser responsabilizado.

No módulo 2, observamos que os contratos empresariais são aqueles celebrados entre


empresários e cujo objeto tem relação direta com o exercício da empresa.

Sem embargo, como negócios jurídicos bilaterais, sem um tratamento legislativo distinto dos
contratos civis, os contratos empresariais estão sujeitos aos mesmos requisitos gerais de
validade quanto à capacidade, objeto e forma. E não se presume a vulnerabilidade de uma das
partes, ao contrário do que acontece nos contratos de consumo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS

ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

BRASIL. Código de Tributário Nacional. Lei no 5. 172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o
Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,
Estados e Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 de outubro de 1966.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.

BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário

Oficial da União, Brasília, DF, 17 março 2015.

BERTOLDI, Marcelo Marco; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito
comercial. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020.

COELHO, Fabio Ulhoa. Novo manual de direito comercial. 31. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2020.

COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. 4. ed. 6ª tiragem. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

FORGIONI, Paula. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2020.

MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

NEVES, Thiago Ferreira Cardoso. Contratos mercantis. 3. ed. Rio de Janeiro: GZ Editora,
2020.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 2. v.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. Títulos de crédito. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2020. 2. v.

EXPLORE+

Leia o artigo de Antonio Marcos Fonte Guimarães e Daniel Amin Ferraz: “A Lei da Duplicata
Escritural: uma análise sob a perspectiva do fomento ao financiamento da pequena e média
empresa no Brasil e da valorização da duplicata como garantia em operações de crédito”,
publicado na Revista da Procuradoria-Geral do Banco Central, v. 13, n. 1. jun. 2019, p. 121-134.
Essa leitura ajudará a entender melhor alguns conceitos trabalhados aqui.

Leia o trabalho apresentado por Claudia Elly Larizzatti Maia e Lucimara Aparecida Main, no XXIV
Congresso Nacional do CONPEDI, em 2015, intitulado Os contratos empresariais como
instrumento do desenvolvimento sustentável, e aprofunde seus conhecimentos.

CONTEUDISTA

Alexandre Ferreira de Assumpção Alves

 CURRÍCULO LATTES

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