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Interação em contexto judicial
• Análise da Conversa: perspectiva de análise do
discurso desenvolvida nos Estados Unidos, sob forte influência dos estudos em Microssociologia desenvolvidos pela Escola de Chicago. • Ações conversacionais são ações sociais Foco no texto oral • O texto oral apresenta diferentes características em relação ao texto escrito. • Texto escrito: mais planejado • Texto oral: menos planejado • A fala apresenta, portanto, marcas da produção simultânea do texto. • Escrita: rasuras (a depender da tecnologia) • Fala: hesitações, falsos começos, reformulações, lapsos... Conversa institucional • O discurso jurídico é um tipo de conversa institucional, veiculado em um contexto de trabalho (COULTHARD, JOHSON, 2007) • As identidades trazidas à tona giram em torno da instituição: juiz, advogado, promotor, testemunha, réu... Conversa institucional • De acordo com Drew e Heritage (1992), a conversa institucional apresenta características que a diferem de uma conversa cotidiana. • Alocação de turnos: o representante da instituição é o responsável pela distribuição de turnos. • A conversa institucional é sempre dirigida a um objetivo. • Esses aspectos da interação contribuem para as relações assimétricas que existem na configuração dos discursos institucionais, como membro da instituição tendo a vantagem e o membro leigo ocupando uma posição de menos poder (COULTHARD; JOHNSON, 2007, p. 16) Metodologia • Transcrição do material por meio do Modelo Jefferson de Transcrição Exemplo de aplicação • Análise de quatro audiências de conciliação, buscando descrever entender a maneira como se dá o uso de formulações e reformulações em audiências de conciliação de um Juizado Especial Cível. • Durante a fase de negociação, o mediador faz uso de algumas estratégias de formulação e reformulação textual para que o entendimento da conversa não seja prejudicado. Durante as diferentes fases da interação, nomeadamente o relato do conflito e a negociação, o mediador recorre a essas estratégias. Reformulação • Neste trabalho, entendemos por formulação as atividades linguístico-discursivas como parafrasear, explicar, pedir explicação, resumir, descrever, etc. Quando um problema de formulação textual surge, a reformulação é utilizada para contornar aquele problema e garantir a comunicação. A reformulação é, portanto, uma ferramenta de coesão textual, na medida em que serve para retomar o que foi dito anteriormente, seja pelo próprio falante, seja pelo seu interlocutor. As audiências de conciliação • As audiências de conciliação foram criadas pelo Poder Judiciário em 1995 e visam à negociação entre as partes em conflito para que o processo não precise ir a julgamento, o que acarreta em economia monetária e temporal. • Partes envolvidas na interação: mediador, reclamante e reclamado. As audiências de conciliação • A audiência de conciliação é preliminar ao julgamento e conta com a participação de um mediador que tenta conciliar as partes. O trabalho do mediador corporifica a meta de resolução do conflito e finalização antecipada do processo. Entretanto, o mediador não conta com poder formal de decisão, depende apenas das suas habilidades comunicativas para influenciar as partes em conflito a chegarem a uma decisão satisfatória para ambos (LADEIRA, 2008, p. 73). Relações de poder assimétricas • Como nos diz Corona (2011), em uma conversa institucional, os participantes que não pertencem àquele grupo que compartilha daquela linguagem especializada tendem a não compreender logo de imediato o sentido de certos termos, “já o representante da instituição pode utilizar-se de jargões técnicos, geralmente do conhecimento apenas daqueles que têm formação na área, para fortalecer a assimetria com relação ao cliente, ratificando, assim, seu status de detentor do conhecimento.” (CORONA, 2011, p 21). Reformulação de termos técnicos Identidades construídas no processo • Pudemos notar que durante o percurso interacional, várias identidades diferentes vão sendo construídas pelos participantes da conversa, seja as identidades já lhes atribuídas pelo contexto institucional (mediador, reclamante, reclamado), sejam aquelas construídas de acordo com o momento da negociação (consumidor lesado, narrador da história do conflito, negociador, expert, etc.)
• Reconheceram semelhanças entre a identidade na Análise da
Conversa e o ethos discursivo na Análise do Discurso? • A partir da nossa análise, portanto, pudemos notar que a principal finalidade do uso de reformulações de termos jurídicos por parte do mediador das audiências de conciliação é fazer com que os participantes compreendam de forma adequada o assunto sobre o qual estão discutindo e toda a atividade interacional desenvolvida na conversa. Essa estratégia coesiva é de fundamental importância para a resolução do conflito que levou os participantes àquela audiência na medida em que a boa compreensão da conversa faz com que a negociação se dê de forma satisfatória. Para finalizar • A análise do discurso, em suas diferentes ramificações, se debruça sobre o estudo da língua em interação. Leva-se em conta não apenas o sistema, mas o uso que é feito dele pelos falantes, com determinada finalidade, em um determinado contexto sócio-histórico. • Por isso, é interdisciplinar, recorrendo à História, Economia, Filosofia, Direito, dentre outras áreas...