Estrutura e Diversidade Das Comunidades Arbóreas
Estrutura e Diversidade Das Comunidades Arbóreas
Estrutura e Diversidade Das Comunidades Arbóreas
HISTÓRICOS DE USO
Daniel Salgado Pifano1,4*, Erilva Machado Costa2, Fabrício Alvim Carvalho3, José
Felipe Salomão Pessoa3, Renato Garcia Rodrigues1,4 e Edson Gomes de Moura Júnior4
1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Colegiado de Ciências Biológicas, Rodovia BR-407, KM 12, Lote 543 S/n, Projeto
Rodovia BR-407, KM 12, Lote 543 S/n, Projeto de Irrigação Nilo Coelho, CEP 56300-000, Petrolina, PE, Brazil.
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica, Rua José Lourenço Kelmer, S/n,
Campus Universitário, São Pedro, CEP, 36036-900, Juiz de Fora, MG, Brazil.
4
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental, Rodovia BR-407, KM 12, Lote
543 S/n, Projeto de Irrigação Nilo Coelho, CEP 56300-000, Petrolina, PE, Brazil.
histórico de uso (agricultura, corte de madeira e pecuária) quanto a riqueza, composição, partição
1
importância). Alocamos 142 parcelas de 20 x 20 m, sendo 92 em áreas de agricultura, 47 de
pecuária e seis de corte de madeira, medindo indivíduos com DAP ≥ 15,8 cm. Não registramos
diferenças na riqueza das comunidades arbóreas entre as três classes de histórico de uso.
desiguais para frequência, abundância e importância das espécies nas áreas com histórico de corte
Broken-Stick aos dados de abundância das espécies arbóreas nas parcelas das diferentes classes
de histórico de uso. Nós concluímos que o histórico de uso do solo associado aos ajustes
morfofisiológicos das espécies, corte seletivo de plantas com valor comercial e/ou tempo de
comunidades arbóreas das áreas em regeneração da Caatinga que investigamos. Entretanto, esses
fatores podem influenciar igualmente alguns atributos dessas comunidades (ex. baixa riqueza e
phytogeographical domain of the Brazilian semi-arid region, and understanding the influence of
different histories of human use on the diversity and phytosociology of plants in regeneration
areas is a challenge for plant ecology. In this research, we comparatively analyze tree
communities in regenerating areas of the Caatinga with different historical uses (agriculture,
logging, and livestock) in terms of richness, composition, partition of beta diversity (turnover and
density, dominance, and values of cover and importance). We allocated 142 plots measuring 20
x 20 m, with 92 in agricultural areas, 47 in livestock areas, and six in logging areas by measuring
individuals with DAP ≥ 15,8 cm. We recorded no differences in richness between communities
2
with different use histories or between communities of different classes. However, we found
differences in the composition (explained by turnover) and abundance between communities with
a history of agriculture or livestock. We observed higher and less unequal values for frequency,
abundance, and importance of species in areas with a history of logging compared to livestock or
agriculture areas. The adjustment of the Broken-Stick model to the species abundance data in the
plots with different histories of human use. We conclude that the history of land use associated
with the morphophysiological adjustments of the species, selective cutting of plants with
commercial value, and/or time of abandonment of the areas influence the composition,
Caatinga that we investigated. However, such factors had a similar influence on some attributes
of these communities (e.g., low richness and proportional distribution of abundance species).
INTRODUÇÃO
por cerca de 850 mil km2 de áreas do Bioma “Floresta e Mata Tropical Sazonalmente Seca”, além
colunares ou costeladas (Queiroz et al. 2017). De forma geral, no período chuvoso, as áreas em
estágio avançado de sucessão da Caatinga apresentam solo parcialmente coberto por árvores e
arbustos que possuem folhas, flores e frutos, além de um estrato vegetal de baixo porte composto
de herbáceas e plântulas de espécies que podem adquirir porte arbóreo ao final do seu ciclo de
3
vida (Melo et al. 2019). No período seco, essas mesmas áreas de Caatinga apresentam árvores e
arbustos desfolhados e que não produzem flores, frutos e/ou sementes, um estrato herbáceo pouco
abundante e pobre em espécies (quando presentes) e solo muito exposto ao sol (Melo et al. 2019).
consideravelmente nos últimos 20 anos, menos da metade da área de abrangência desse Domínio
(Moro et al. 2014, Fernandes et al. 2020). As lacunas de informações sobre a riqueza, composição,
ecossistemas, pois são atributos que refletem alterações causados pela ação antrópica (Queiroz et
al. 2021).
taxonômica, ecologia e biogeografia de plantas do DFC, estima-se que 80% de sua vegetação
original ou seu estágio sucessional esteja alterada por atividades antrópicas ligadas ao usos do
solo, como por exemplo, corte de madeira, pecuária e agricultura (Albuquerque et al. 2012, Melo
et al. 2019, Jesus et al. 2022). O resultado do abandono de áreas da Caatinga que passaram por
inexistente ou com baixa diversidade taxonômica e funcional (mesmo no período chuvoso), além
abundantes (representado principalmente por espécies generalistas e/ou pioneiras com baixo
porte), indivíduos muito espaçados entre si e solo totalmente exposto ao sol (Marangon et al.
2013). A maior diferença de uma área abandonada de Caatinga com histórico de uso de corte de
madeira em relação a uma área com histórico de pecuária ou agricultura é que na primeira há
(Silva et al. 2023), que repercute na frequência, abundancia e valor de importância das espécies
da comunidade.
4
De maneira geral, estudos florísticos e fitossociológicos com comunidades de plantas
da área e o uso do solo por essa atividade (Jesus et al. 2022). Áreas em regeneração com décadas
ecossistema original ao mesmo tempo em que há redução dos efeitos dos mecanismos de uso
(Jesus et al. 2021). Por isso, áreas de Caatinga em regeneração com muito tempo de abandono
permitem o estabelecimento de populações arbóreas nativas abundantes, com grande área basal e
A pecuária pode reduzir a aptidão das espécies de plantas direta ou indiretamente pelo
partes de plantas, incluindo mudas, sementes e frutos, especialmente de espécies que não possuem
mecanismos de proteção (Silva 1999, Leal et al. 2003). Muitas espécies de plantas arbóreas
ocorrentes na Caatinga apresentam espinhos (Souza & Lorenzi 2012) e/ou possuem folhas
intempéries ambientais locais, causada pela remoção total da cobertura vegetal. Em áreas
ajustadas a solos sazonalmente úmidos e com temperaturas amenas no período chuvoso (Souza
et al. 2015).
o desmatamento e a substituição da vegetação nativa por uma cultura de porte e ciclo de vida
diferentes (Lima et al. 2022). Atrelada à substituição da vegetação nativa está a alteração do
produtiva do solo em cultivos não manejados e/ou sem a devida reposição de nutrientes (Lima et
al. 2022). Além disso, têm-se a contaminação e a degradação dos recursos hídricos ocasionadas
pela lixiviação dos adubos químicos e a salinização dos solos pelo uso de água com teores
elevados de sais, pelo manejo inadequado dos ciclos de fornecimento de água e/ou pela deficiente
drenagem nas pastagens irrigadas (Cerqueira et al. 2021). Espécies com adaptações
morfofisiológicas a solos mal drenados, pobres em nutrientes e/ou com pH alterado (ex. com
raízes profundas e relações simbióticas com fungos) podem colonizar áreas em regeneração na
agricultura, a compreensão dos efeitos desses usos sobre parâmetros de estrutura e fitossociologia
Caatinga ainda é um desafio para a ecologia vegetal. Por isso, objetivamos com esse estudo
comunidades arbóreas de áreas com diferentes históricos de uso (pecuária, agricultura e corte de
hipóteses são: (i) a riqueza apresentará valores similares e baixos nas três classes de histórico de
abundância das espécies nas comunidades com maior tempo de abandono (pecuária) em relação
valor de importância das espécies da comunidade com histórico de corte de madeira em relação
à pecuária e agricultura, devido o corte seletivo de espécies com valor comercial; (v) haverá maior
abundancia, área basal e valor cobertura vegetal das espécies nas áreas com histórico de pecuária
MATERIAIS E MÉTODOS
Local de estudo
A microrregião de Angicos contempla uma área com cerca de 1000 ha, inserida entre os
municípios de Pedra Preta e Jandaíra (36O 07’ 32’’, 5S 21’ 25’’), ambos no estado do Rio Grande
Sazonalmente Seca da Caatinga com uso inadequado do solo devido a históricos de mais 70 anos
ligados a agricultura (cinco), pecuária (dez) ou corte de madeira (duas), segundo informações
obtidas junto aos administradores das áreas (Figura 1, Tabela 1). O tempo de abandono das áreas
e o número de parcelas investigadas varia de acordo com a classe de histórico de uso (Tabela 1).
com solo do tipo cambissolo eutrófico e podzólico vermelho-amarelo (Beltrão et al. 2005). De
acordo com os mapas ambientais do WordClim versão 2.0 (Fick & Hijmans 2017), obtidos com
dados da série histórica de 1970 e 2000, a precipitação média anual e a temperatura média anual
nas áreas estudadas são relativamente semelhantes entre si, quando comparado ao gradiente
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Figura 1. Mapas bioclimáticos de temperatura (ºC) e precipitação (mm) da área de estudo (exportados
do WordClim 2.0, Fick & Hijmans 2017) e localização das 17 áreas onde foram alocadas as 146 parcelas.
Legenda: (1) Benvinda I; (2) Benvinda II; (3) Pau d'arco; (4) Algaroba; (5) Pedra rosada; (6) Pau Branco;
(7) Ubaeira; (8) Boa Vista II; (9) Bom Sucesso; (10) Morada Nova; (11) Boa Vista I; (12) Santo
Expedito; (13) Asa Branca; (14) Milagres; (15) São Francisco; (16) Pedra Vermelha; (17) Santa Luzia.
Figure 1. Bioclimatic maps of temperature (ºC) and precipitation (mm) of the study area (exported from
WordClim 2.0, Fick & Hijmans 2017) and location of the 17 areas where the 146 plots were allocated.
Legend: (1) Benvinda I; (2) Benvinda II; (3) Pau d'arco; (4) Algaroba; (5) Pedra rosada; (6) Pau
Branco; (7) Ubaeira; (8) Boa Vista II; (9) Bom Sucesso; (10) Morada Nova; (11) Boa Vista I; (12) Santo
Expedito; (13) Asa Branca; (14) Milagres; (15) São Francisco; (16) Pedra Vermelha; (17) Santa Luzia.
Tabela 1. Número de áreas (Nº) e de parcelas investigadas (NP) por classe de histórico de uso, área total
amostrada (em hectares - ha) e o tempo mínimo de abandono para cada classe de histórico de uso
investigada.
Table 1. Number of areas (Nº) and investigated plots (NP) per land use history class, total area sampled
(in hectares - ha), and the minimum abandonment time for each investigated use history class.
Coleta de dados
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Foram alocadas, de forma aleatória, 145 parcelas de 400 m² (20 m x 20 m), totalizando uma
área amostral de 5,8 ha em todas as áreas amostrais. O número de parcelas avaliadas por classe
de histórico de uso (agricultura, corte de madeira e pecuária) variou de acordo com o número de
foram mensurados, devidamente marcados com plaquetas especiais feitas de couro sintético
em uma única categoria (morto). Nos casos de exceção, os indivíduos que apresentavam
bifurcação abaixo de 1,30 m de altura foram separados e cada fuste foi considerado na medição
quando sua medida atendia ao critério, com posterior fusão dos valores de DAP dos fustes
pertencentes ao mesmo indivíduo através da raiz quadrada da soma dos quadrados (Scolforo &
Mello 1997). As cactáceas lenhosas com porte arbóreo foram incluídas apenas quando atendiam
A coleta do material vegetativo ou fértil seguiu as técnicas propostas por Fidalgo & Bononi
(1984), para posterior identificação. A identificação dos indivíduos ocorreu em campo e, quando
identificação foi realizada com auxílio de chaves taxonômicas disponíveis ou através de analogia
Universidade Federal de Juiz de Fora. Os materiais férteis coletados foram incorporados à coleção
do CESJ. As famílias foram classificadas de acordo com o Angiosperm Phylogeny Group APG
matrizes de dados com os seguintes dados: (i) soma da abundância de cada espécie em todas as
parcelas de cada classe (matriz A); (ii) presença ou ausência de cada espécie em cada classe de
histórico de uso (matriz B); (iii) abundância das espécies por parcela das diferentes classes de
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histórico de uso (matriz C). A partir da matriz A nós aplicamos curvas de rarefação e estimativas
de riqueza (com o estimador CHAO 1) para cada classe de histórico de uso, comparando os
indivíduos da classe com maior (riqueza observada) ou menor (riqueza estimada) abundância.
Para realizarmos essas análises e gerarmos um gráfico com as curvas rarefação das classes de
histórico de usos investigadas nós utilizamos o pacote iNEXT versão 3.0.0 (Hsieh et al. 2016) do
distintas classes de histórico de uso. Utilizamos a mesma matriz para calcularmos a diversidade
beta (β = γ/α, sendo γ diversidade total em comunidades e α a diversidade média entre essas
comunidades) da área de estudo ou das classes de histórico de uso (par a par), bem como
espécies entre comunidades) ou “aninhamento” (que avalia perda de espécies entre comunidades)
nesses valores de diversidade beta (Baselga 2010). Para realizar o cálculo βsor e seus componentes
nós utilizamos o pacote Betapart (Baselga et al. 2012) do software R versão 4.2.3 (RCore 2023).
A partir da matriz “C” nós aplicamos um teste de permutação (n = 1000) com o método de
das parcelas das diferentes classes de histórico de uso. A posteriori nós aplicamos uma Multi-
Response Permutation Procedures (MRPP) para testar a significância dos agrupamentos (par a
par) entre as distintas classes de histórico de uso. Para aplicarmos o NMDS e MRPP nós
utilizamos o software Pc-Ord 6.0 (McCune & Mefford 2011). Para verificar se ocorreu
autocorrelação espacial dos dados das comunidades arbóreas das parcelas, nós aplicamos o
coeficiente de Moran’s I (para sete classes de distância) aos eixos significativos do NMDS,
abundância relativa das espécies, avaliando o perfil de distribuição das abundâncias e verificando
se ocorreu dominância ou predominância de espécie(s) para cada classe. Através do pacote SADS
versão 0.4.2 (Prado et al. 2022) do software R versão 4.2.3 (RCore 2023) nós testamos qual(ais)
do(s) modelo(s) de distribuição de abundância clássicos (Log Série, Log Nomal ou Broken-Stick)
fitossociológicos: a área basal (AB), os valores absolutos e relativos de frequência (FA e FR),
densidade (DA e DR) e dominância (DoA e DoR) além do valor de cobertura (VC) e de
importância (VI) (Braun-Blanquet 1979, Mateucci & Colma 1982, Whittaker 1984). A partir dos
verificar se a ordenação dos dados de cada parâmetro fitossociológico diferiu entre as classes de
histórico de uso, bem como aplicamos a posteriori o teste de Dunn (com correção de Bonferroni)
para conhecer quais dessas classes diferiram entre si. Cabe ressaltar que nós escolhemos o teste
premissa de normalidade, exigida para testes paramétricos de comparação de médias, como por
exemplo, a ANOVA. Para aplicar os testes de Kruskal-Wallis e Dunn, bem como avaliar a
pacote Rstatix versão 0.7.2 (Kassambara 2023) do software R versão 4.2.3 (RCore 2023).
RESULTADOS
marginatum (A.St.-Hil., Juss. & Cambess.) A.Robyns, estão na lista vermelha das espécies
ameaçadas de extinção da IUCN (em inglês International Union for Conservation of Nature),
ambas com status de conservação vulnerável a extinção. A partir da sobreposição dos intervalos
diferentes classes de histórico de uso (Figura 2). A sobreposição dos intervalos de confiança
apresentados pelo estimador CHAO 2 (Tabela 2) nos relevou que a riqueza estimada das
comunidades arbóreas das três classes de histórico de uso não diferiram significativamente entre
si.
Tabela 2. Valores de abundância (Abd), área basal (AB), riqueza observada (Riq) e média de abundância
por espécie (Abd/Riq) em todas as comunidades arbóreas investigadas para cada classe de histórico de uso,
além dos intervalos de confiança máximo (IC máximo) e mínimo (IC mínimo) da riqueza estimada (Chao
1) para 111 indivíduos (abundancia total das comunidades com histórico de corte de madeira).
Table 2. Values of abundance (Abd), basal area (AB), observed richness (Riq), and average abundance
per species (Abd/Riq) in all tree communities investigated for each land-use history class, as well as the
maximum (IC máximo) and minimum (IC mínimo) confidence intervals of the estimated richness (Chao 1)
for 111 individuals (total abundance of communities with logging history).
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Chao 1 Chao 1
Classe de histórico de AB Abd / Chao
Abd Riq (IC (IC
uso (m²) Riq 1
mínimo) máximo)
Agricultura 783 79,87 27 29 21,59 16,8 48,18
entre as comunidades arbóreas das três classes de histórico de uso (13 espécies), o que representa
38,24% da riqueza total da área de estudo (Figura 3). As comunidades arbóreas com histórico de
corte de madeira reuniram apenas uma espécie com registro exclusivo às parcelas com este uso
(7,14% do total de espécies registradas nestas parcelas) e não tiveram espécies compartilhadas
com as comunidades de outras classes de histórico de uso (Figura 3). Anotamos o mesmo número
de espécies (6) com registros exclusivos às comunidades arbóreas com histórico de agricultura ou
pecuária, o que representa 22,22% da riqueza total observada em cada uma dessas classes de
histórico de uso (Figura 3). Registramos que os componentes Turnover (βtur = 0,19) e
estudo (βsor = 0,38). Entre as classes de histórico de uso, observamos as maiores diversidade beta
entre corte de madeira e agricultura (βsor = 0,36) ou corte de madeira e pecuária (β = 0,36), ambos
com maior contribuição por aninhamento (βnes = 0,29 / βtur = 0,07 cada). Entre agricultura e
pecuária βsor foi igual a 0,22, tendo apenas o turnover como componente de contribuição.
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Figura 3. Diagrama de Venn indicando o número e o percentual de espécies arbóreas exclusivas ou
compartilhadas entre as distintas classes de histórico de uso investigadas (agricultura, corte de madeira
e pecuária) em uma mesorregião da Caatinga.
Figure 3. Venn diagram indicating the number and percentage of tree species exclusive or shared among
the distinct land use history classes investigated (agriculture, logging, and cattle farming) in a Caatinga
mesoregion.
0,28; R2 eixo 1 = 0,39; R2 eixo 2 = 0,23) da variabilidade dos dados de composição de espécies
das comunidades arbóreas das parcelas de cada classe de histórico de uso investigada. O primeiro
eixo do NMDS indicou uma discreta variação das comunidades arbóreas das parcelas de áreas
com histórico de agricultura e corte de madeira em relação as parcelas de áreas com histórico de
pecuária (Figura 4), o que foi confirmada pela análise de MRPP (Tabela 3). Os coeficientes de
Moran’s I computados a partir dos scores dos dois eixos significativos do NMDS evidenciaram
14
que as distâncias entre as parcelas não influenciaram na estruturação das comunidades arbóreas
da área investigada, ou seja, não ocorreu autocorrelação espacial dos dados de estrutura de
Figura 4. Representação dos dois eixos explicativos da análise de Escalonamento Multidimensional Não
Métrico (NMDS - p = 0,0100; Stress = 0,28; R2 eixo 1 = 0,39; R2 eixo 2 = 0,23), indicando a similaridade
entre as comunidades arbóreas nas parcelas investigadas das distintas classes de histórico de uso de uma
mesorregião da Caatinga.
Figure 4. Representation of the two explanatory axes of the Non-Metric Multidimensional Scaling
analysis (NMDS - p = 0.0100; Stress = 0.28; R2 axis 1 = 0.39; R2 axis 2 = 0.23), indicating the similarity
among the tree communities in the investigated plots of the distinct land use history classes of a Caatinga
mesoregion.
Tabela 3. Valores de teste (T), heterogeneidade dentro do grupo corrigida ao acaso (A) e significância do
teste (p) da análise Multi-Response Permutation Procedures (MRPP), indicando diferenças das
comunidades arbóreas de cada classe de histórico de uso investigada.
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Table 3. Values of test (T), within-group heterogeneity corrected for chance (A), and test significance (p)
of the Multi-Response Permutation Procedures (MRPP) analysis indicating differences in the tree
communities of each land use history class investigated.
Classes T A p
Agricultura x corte de madeira -0,27 0 0,321
O número de indivíduos total e a área basal da comunidade arbórea foi maior nas áreas com
histórico de pecuária, seguido das áreas com uso voltado à agricultura e corte de madeira (Tabela
revelaram que as espécies registradas nas parcelas com histórico de corte de madeira tiveram
àquelas observadas para as espécies das parcelas com histórico de agricultura ou pecuária (Tabela
4; Material Suplementar, Figura 1). Isso se refletiu nos elevados valores de importância (VI) das
espécies registradas nas parcelas com histórico de corte de madeira (Tabela 4), embora Piptadenia
retusa (Jacq.) P.G.Ribeiro tenha reunido cerca de 50% dos indivíduos das comunidades avaliadas
Tabela 4. Mediana, máximo e mínimo (entre parênteses) dos parâmetros fitossociológicos de comunidades
arbóreas de diferentes classes de histórico de uso avaliadas em uma microrregião da Caatinga; resultados
de Qui-quadrado (X2) e p (valor) dos testes de Kruskal-Wallis que avaliaram se cada parâmetro
fitossociológico diferiu entre classes de histórico de uso. Legenda: Número de indivíduos (N), área basal
(AB), densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), frequência absoluta (FA), frequência relativa
(FR), dominância absoluta (DoA), dominância relativa (DoR), valor de cobertura (VC) e valor de
importância (VI).
Table 4. Median, maximum and minimum (in parentheses) of phytosociological parameters of tree
communities from different classes of land use history assessed in a Caatinga microregion; results of Chi-
square (X2) and p value of the Kruskal-Wallis tests that assessed whether each phytosociological parameter
differed between classes of land use history. Key: Number of individuals (N), basal area (AB), absolute
density (DA), relative density (DR), absolute frequency (FA), relative frequency (FR), absolute dominance
(DoA), relative dominance (DoR), cover value (VC) and importance value (VI)
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Parâmetro Classes de histórico de uso X2 p (valor)
Registramos que Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. apresentou o maior VI nas comunidades
arbóreas com histórico de pecuária. Esse táxon representou 20,11% do total de indivíduos, 13,8%
Constatamos que P. retusa, Seigler & Ebinger, Cenostigma pyramidale (Tul.) Gagnon &
importância nas comunidades arbóreas com histórico de agricultura e corte de madeira (Material
Verificamos que as áreas com histórico de corte de madeira contemplaram quatro espécies
(28,57% da riqueza total) com abundância superior à média por espécie dentro dessa classe de
uso, enquanto que nas áreas com histórico de pecuária e agricultura foram oito (29,62%) e nove
do tipo Broken Stick teve melhor ajuste aos dados das comunidades das três classes histórico de
uso, embora o modelo Log Série também tenha se ajustado aos dados das três classes (Tabela 5).
17
Figura 5. Ranqueamento da abundância relativa logaritimizada (log10) das espécies arbóreas nas
comunidades das distintas classes de histórico de uso investigadas de uma mesorregião da Caatinga.
Figure 5. Log-rank of relative abundance (log10) of tree species in the communities of the investigated
distinct land use history classes of a Caatinga mesoregion.
Tabela 5. Resultado do ajuste dos modelos de distribuição de abundância das espécies (Log Série, Log
Normal e Broken Stick) das comunidades arbóreas de diferentes classes de histórico de uso em uma
mesorregião da Caatinga. Legenda: Valor de Qui-quadrado (X2).
Table 5. Results of the fit of species abundance distribution models (Log Series, Log Normal, and Broken
Stick) of tree communities in different land use history classes in a Caatinga mesoregion. Legend: Chi-
square value (X2).
18
Oecologia Australis (ISSN: 2177-6199)
Ahead of print (https://revistas.ufrj.br/index.php/oa/issue/view/1109/showToc)
Article ID: AO#53794
Published online: 01 June 2023
DISCUSSÃO
está intrinsecamente relacionado ao tempo de abandono e tipo de perturbação, e que por sua vez
molda a estruturação de comunidades de plantas arbóreas da Caatinga (Jesus et al. 2022). Assim,
é possível inferir que o pouco tempo de abandono das áreas investigadas com histórico de
agricultura ainda potencializem as mudanças ambientais promovidas por este uso e, com isso,
impeça que suas comunidades arbóreas se reestabeleçam a uma condição natural ou de um estágio
avançado de sucessão, teoricamente possível nas áreas com maior tempo de abandono (pecuária).
espécies arbóreas pioneiras e generalistas de porte médio. Ademais, notamos que as parcelas
nestas áreas se caracterizaram pela ausência de um estrato subarbustivo, estrato herbáceo quase
inexistente e solo totalmente exposto ao sol, características que definem áreas de Caatinga em
estágio inicial de sucessão (Melo et al. 2019). Por outro lado, as áreas investigadas com histórico
de pecuária tiveram, de forma geral, árvores isoladas e poupadas de corte para fornecer sombra
ao gado, pequenos arbustos, solo parcialmente coberto por plântulas e estrato herbáceo. Essas
Caatinga (Melo et al. 2019). Assim, é possível que o elevado turnover de espécies entre as
estrutura dessas comunidades (indicada pelo NMDS e confirmada pela MRPP) sejam explicadas
tanto pelos mecanismos associados ao uso de cada classe de histórico de uso quanto pelo tempo
de abandono das áreas de cada classe, que se expressam no estágio sucessional das comunidades.
Em um estudo prévio, Ferraz et al. (2013) constataram que ao menos 22 parcelas de 400
m2 são necessárias para inferir, com certo grau de confiança, a riqueza e a composição de espécies
arbóreas em uma área de Caatinga sedimentar, semelhante a que estudamos. Somado a isso é
sabido que há relação direta entre riqueza e abundância de indivíduos arbóreos em áreas de
regeneração da Caatinga (Jesus et al. 2022). Portanto, o baixo número de parcelas investigadas
nas áreas com histórico de corte de madeira pode ter influenciado nos resultados de aninhamento
19
da comunidade arbórea dessas áreas e aquelas com histórico de pecuária e agricultura, bem como
pode ter mascarado a diferença da estrutura das comunidades arbóreas das classes pecuária e corte
Estudos têm mostrado que o corte seletivo de madeira da Caatinga promove a criação de
espaços abertos que possibilitam a regeneração de tocos e rebrotas de espécies pioneiras, bem
na área e a facilitação do acesso à luz (Santos et al. 2023). Além disso, já mencionamos na
introdução que a supressão da vegetação arbórea de áreas com histórico de corte seletivo de
madeira na Caatinga é realizada apenas para espécies com alto valor comercial (ex. uso medicinal,
alimentício e/ou produção de cerca viva, lenha e carvão), enquanto que em áreas voltadas à
pastos ou monoculturas (Silva et al. 1999, Lima et al. 2022). Tais características dessas classes
de histórico de uso, associados aos mecanismos de uso do solo particular de cada classe podem
dos valores de importância das espécies arbóreas nas áreas investigadas com histórico de corte
pachycladus F.Ritter (Facheiro) (Lucena et al. 2013), nas áreas investigadas com histórico de
corte de madeira sustenta a existência de supressão seletiva de espécies lenhosas com uso
competição interespecífica para assumir que condições ou recursos ambientais estão sendo
ecológicos ligados a interação de espécies (McGill et al. 2007). Com isso, é possível afirmarmos
que a divisão de nicho dentro das comunidades arbóreas estudadas, formadas por espécies
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taxonômica e funcionalmente relacionadas, não seja orientada diretamente pelas interações
interespecíficas (em espacial a competição) ligadas aos mecanismos dos diferentes históricos de
uso da área investigada. Isso implica dizer que a divisão de nicho dentro dessas comunidades
venha a ser melhor explicada por processos estocásticos ou pelos ajustamentos morfofisiológicos
de cada espécie às condições ambientais impostas ao longo do período de abandono dessas áreas.
Por exemplo, P. retusa, tem o crescimento e o vigor das suas sementes (Ferreira et al. 2021),
assim como o recrutamento de plântulas e o ganho de área basal dos indivíduos da espécie (Lopes-
Nunes 2022) favorecidos por elevada temperatura e reduzida umidade no solo, características
comuns de áreas em regeneração que foram submetidas ao corte da vegetação (Souza et al. 2015).
ambientes com solo parcialmente exposto por um período dilatado, como por exemplo, áreas
que esperávamos, considerando que outras populações adensadas e amplamente distribuídas desta
espécie já haviam sido registradas nas comunidades arbóreas de áreas em regeneração da Caatinga
com diferentes históricos de uso (Queiroz et al. 2021, Jesus et al. 2022). Características como
crescimento foliar em condições de pouca umidade do solo (Queiroz et al. 2021) podem explicar
importância das árvores categorizadas como mortas nas três classes de histórico de uso
basal e abundância das comunidades arbóreas das três classes de histórico de uso analisados nos
permite inferir que o número de indivíduos mortos esteja associado à elevada taxa de mortalidade
inicial.
21
O baixo VI das espécies ameaçadas de extinção registradas em toda a área de estudo indica
consequentemente, manter e/ou regenerar as populações das espécies nativas da Caatinga e/ou
espécies ameaçadas de extinção. Das três espécies ameaçadas de extinção registradas na área de
madeireiro (Lucena et al. 2007), o que pode levar as populações dessa espécie à extinção local na
nossa área de estudo. Ainda assim, o elevado número de indivíduos de A. urundeuva que
registramos na área de estudo surpreende positivamente. Isso demonstra que mesmo com elevado
potencial de extrativismo madeireiro dessa espécie, suas populações na área de estudo ainda são
Em síntese, nós confirmamos as quatro primeiras hipóteses do nosso estudo, exceto para o
padrão igual de distribuição da abundância das espécies arbóreas nas áreas das diferentes classes
de histórico de uso investigadas (hipótese ii). Ratificamos a influência dos fatores “histórico de
Confirmamos também que a manutenção das espécies sem valor comercial nas áreas com
relativa) e valores de importância das espécies na comunidade arbórea investigada nessas áreas,
quando comparada àquelas das áreas com histórico de pecuária ou agricultura, cuja supressão da
vegetação foi total. O ajuste do modelo de Broken-Stick aos dados de abundância das espécies
arbóreas nas parcelas das diferentes classes de histórico de uso nos revelou que a divisão de nicho
dentro das comunidades estudadas não foi orientada diretamente pelas interações interespecíficas
(em espacial a competição) ligadas aos mecanismos de uso do solo dessas classes. Nesse sentido,
acreditamos que a divisão de nicho nessas comunidades seja melhor explicada por processos
22
impostas ao longo do período de abandono dessas áreas. Essa provavelmente também é a
explicação atribuída para a igualdade dos valores de abundância (absoluta e relativa), área basal
e valor de cobertura das espécies das comunidades arbóreas das áreas com histórico de agricultura
e pecuária. A espécies mais abundante nas áreas com histórico de corte de madeira - P. retusa,
a esse uso, como por exemplo, a dormência tegumentar da semente ou investimento em ganho de
área basal em áreas com elevada temperatura e reduzida umidade no solo. O registro de três
espécies ameaçadas de extinção com baixos valores de importância nas comunidades arbóreas
estudadas indicam que populações dessas espécies são pequenas e/ou pouco frequentes nas
promover medidas protetivas que conservem a vegetação nativa da microrregião de Angicos (ex.
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Material Suplementar
Tabela 1. Coeficientes de Moran’s I para sete classes de distância (em Km) a partir dos scores dos dois
eixos significativos da NMDS, evidenciando que não ocorreu autocorrelação espacial para a estrutura das
comunidades arbóreas avaliadas em parcelas de uma microrregião da Caatinga com diferentes históricos
de usos.
Table 1. Moran’s I coefficients in seven distance classes (Km) based on the scores of the two significant
axes of the NMDS, showing that there was not spatial autocorrelation for the tree communities structure
assessed in parcels of the Caatinga microregion with different use history.
Tabela 2. Espécies em ordem decrescente de VI nas comunidades arbóreas das diferentes classes de
histórico de uso avaliadas em uma microrregião da Caatinga. Legenda: Número de indivíduos (N), área
basal (AB), densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), frequência absoluta (FA), frequência
relativa (FR), dominância absoluta (DoA), dominância relativa (DoR), valor de importância (VI) e valor de
cobertura (VC).
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Table 2. Tree’ species in descending order of importance value in communities from different classes of
land use history assessed in a Caatinga microregion. Key: Number of individuals (N), basal area (AB),
absolute density (DA), relative density (DR), absolute frequency (FA), relative frequency (FR), absolute
dominance (DoA), relative dominance (DoR), cover value (VC) and importance value (VI).
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