Reposição de ERAL

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ESTUDOS REGIONAIS: AMÉRICA LATINA

HEMERSON MANOEL SOUZA DOS SANTOS

ENSAIO SOBRE A BIBLIOGRAFIA DA MESA REDONDA “PARA QUE SERVE A


IDEIA DE AMÉRICA LATINA?”

JOÃO PESSOA
2024
Ensaio sobre a bibliografia da mesa redonda “para que serve a ideia de
América Latina?”
A ideia de América Latina funciona como um conceito variado que, embora
frequentemente criticado e ter passado por momentos de crises, onde que nessas
circunstâncias ter ocorrido perda de força da região como um conceito de unidade,
como por exemplo, por disposição política ou mesmo a falta de interesse do todo, ou
mais especificamente do maior país da região, o Brasil, esse país em certos
momentos ter buscado uma ascensão como a liderança da região o que por muitas
vezes não ser bem vista pelos demais países, ou seja, entrando em choque com os
interesses dos vizinhos. Apesar disso, a ideia de América Latina continua a
desempenhar um papel crucial na formação de identidades, na análise de dinâmicas
sociais e políticas e na busca por um entendimento mais profundo das
especificidades da região. A partir das contribuições de autores da bibliografia
indicada como referência, podemos explorar as diversas funções e consequências
da construção dessa ideia.

Grosfoguel, critica as narrativas de caráter eurocêntricas, argumenta que a ideia de


América Latina é fundamental para contestar as vozes que especulam ao tratar a
região como "atrasada" ou "subdesenvolvida". Portanto, ter uma visão interna das
dinâmicas da região traz muito mais riqueza às conclusões em relação à América
Latina, é possível entender essas dinâmicas com muito mais propriedade do que as
narrativas construídas pelas visões eurocêntricas. Para ele, os dependentistas
latino-americanos oferecem uma visão que desafia a noção de que o
desenvolvimento deve seguir um modelo ocidental, que é frequentemente
apresentado como um padrão universal. Essa contestação é basilar, pois permite
que as especificidades históricas e sociais da América Latina sejam reconhecidas e
valorizadas, em vez de serem ignoradas ou distorcidas por uma perspectiva
eurocêntrica.
Assim, a ideia de América Latina serve como um campo de busca de sobrevivência
do conceito e busca de entendimento, onde as vozes locais podem ser ouvidas e as
realidades regionais podem ser discutidas em seus próprios termos. Ou seja, a
busca de vozes internas latinoamericanas de caráter emancipador, poderá contribuir
na construção de políticas socioeconômicas aos moldes das necessidades e
especificidades da região, em contraposição às visões eurocêntricas que buscam
introduzir soluções para a América Latina que na verdade são soluções para os
problemas ocidentais. Ou seja, problemas latinoamericanos têm que ser resolvidos
por latinoamericanos, com soluções latinas.
Uma autonomia poderá servir como alicerce para uma soberania política e
econômica plena, pois as soluções propostas pelos estrangeiros do norte global que
muitas vezes são de origem de sociedades colonizadoras, à região foram gestadas
pelas mesmas matrizes que gestaram os problemas.

Por outro lado, à luz do Mauricio Tenorio Trillo que destaca a complexidade e a
ambivalência da ideia de América Latina. O autor anteriormente citado observa que,
apesar das críticas à vagueza do conceito, a ideia continua a ser relevante e
influente. Trillo sugere que a América Latina, como um conceito, pode funcionar
como uma "segunda natureza" que molda narrativas sobre progresso, identidade e
desigualdade ao longo dos séculos. Essa longevidade conceitual do termo América
Latina implica que, mesmo em um mundo globalizado, as particularidades e
dinâmicas da América Latina ainda têm uma função de significância na formação de
identidades e na construção de discursos históricos. A ideia de América Latina,
portanto, não apenas serve de termo caracterizador de um território marginalizado,
que apesar de estar marginalizado não está distante das dinâmicas globais como já
explanado, mas também como um espaço de diálogo e reflexão sobre o que
significa ser parte dessa região.
Mesmo havendo dúvidas sobre quem é ou deixa de ser latinoamericano,
especialmente em relação ao caso brasileiro, existe essa narrativa sem
fundamentação que é defendida por alguns, no entanto, percebe-se o entendimento
da latinoamericanidade como um elemento aglutinador, muitas vezes valorizado,
outras não. Principalmente observa-se essa afinidade ou não pela ideia de pertencer
a região a depender do espectro ideológico de certos indivíduos, o que irá refletir na
disposição oficial diplomática dos Estados da região conforme a orientação
ideológica do governo que estiver na direção desses países.

Além disso, Vieira traz à mesa uma complementação à discussão ao abordar as


diferentes visões políticas a respeito da integração comercial no contexto do
Mercosul. Ele destaca que as avaliações das políticas de integração variam
conforme o setor da sociedade que emite a opinião, refletindo interesses de setores
específicos das camadas da sociedade que irão se dispor a uma possível integração
regional de acordo com a conveniência que lhes convir. Com isso, percebe-se que
essa diversidade de opiniões sobre a ideia de América Latina revela que ela não se
trata de um conceito dado, ou seja não há uma definição, um conceito fechado, mas
sim um campo de tensões e negociações que pode ser utilizado para promover tanto
fortalecimento da integração quanto para distinguir cultural e politicamente as
diferenças entre os países da região. Assim, a concepção de América Latina serve
como um ponto de partida para discussões sobre identidade, política e economia,
permitindo que diferentes vozes e perspectivas tenham espaço na arena de
discussões.

Portanto, a ideia de América Latina é uma ferramenta necessária e soberana que


serve para desafiar narrativas hegemônicas, contribuir com a reflexão sobre
identidades e fortalecer o diálogo sobre as complexidades da região. Grosfoguel,
Trillo e Vieira, fortalecem a discussão sobre a ideia de América Latina, ao ressaltar a
importância de revisitar e discutir essa ideia, reconhecendo seus encadeamentos
históricos e contemporâneos.
Diante do exposto, é possível inferir que a ideia de América Latina não apenas
teima, mas tende a continuar a ser um campo vívido para a discussão e o
disgnóstico das dinâmicas sociais, políticas e culturais que moldam a vida na região.
REFERÊNCIAS
GROSFOGUEL, Ramón. Desenvolvimento, modernidade e teoria da
dependência na América Latina. Revista REALIS, v. 3, n. 2, p. 10-43, 2013.
Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/realis/article/view/8789. Acesso em:
17 set. 2024.

TRILLO, Mauricio Tenorio. América Latina: a ideia, mais uma vez. Interseções:
Revista de Estudos Interdisciplinares, v. 14, n. 2, p. 241-267, 2012. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/intersecoes/article/view/8551. Acesso em: 17 set.
2024.

VIEIRA, Alexandre. Mercosul: breves notas sobre seus aspectos


políticos-ideológicos. Dissertação (Sociologia política) - Departamento de Ciências
Sociais, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, p. 86-118. 2000.

Você também pode gostar