Info 1141 STF
Info 1141 STF
Info 1141 STF
Informativo 1141-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
▪ STF prorrogou validade da Lei 12.990/2014, que instituiu o sistema de cotas raciais em concursos públicos federais.
SERVIÇOS PÚBLICOS
▪ É constitucional o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos, para a outorga a particulares de concessão ou de
permissão dos serviços e das obras públicas de portos secos.
FGTS
▪ O FGTS, por ter uma função social a cumprir, está sujeito a critérios diferenciados do mercado financeiro em geral,
de modo que o índice oficial da inflação (IPCA) deve ser a referência mínima para a correção dos saldos dos depósitos
realizados nas contas a ele vinculadas.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
▪ A inclusão do terço de férias no cálculo da contribuição previdenciária patronal só vale a partir da publicação da ata
do julgamento sobre o Tema 985.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
STF prorrogou validade da Lei 12.990/2014, que instituiu
o sistema de cotas raciais em concursos públicos federais
Importante!!!
ODS 10
A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos
públicos realizados no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das
fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas
pela União.
O art. 6º dessa lei previu que o sistema de cotas teria vigência pelo prazo de 10 anos, ou seja,
ele terminaria dia 10 de junho de 2024.
O Psol e a Rede Sustentabilidade ingressaram com ADI, no STF, pedindo a manutenção da
política de cotas para candidatos negros em concursos públicos mesmo após esse prazo.
De acordo com os partidos, não houve a efetiva inclusão social almejada pela política
afirmativa.
O STF, ao apreciar medida cautelar, deu interpretação conforme a Constituição ao art. 6º da
Lei nº 12.990/2014, a fim de que o prazo nele constante seja entendido como marco temporal
para avaliação da eficácia da ação afirmativa, determinação de prorrogação e/ou
realinhamento e, caso atingido o objetivo da política, previsão de medidas para seu
encerramento, ficando afastada a interpretação que extinga abruptamente as cotas raciais.
Em outras palavras, tais cotas permanecerão sendo observadas até que se conclua o processo
legislativo de competência do Congresso Nacional e, subsequentemente, do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 7.654 MC-Ref/DF, Rel. Min. Flávio Dino, julgado em 17/06/2024 (Info 1141).
O que acontece se, ao reservar os 20% de vagas aos negros, surgir um número fracionado? Ex: em um
concurso para 9 vagas, 20% será igual a 1,8 vagas. O que fazer nesse caso?
• Se a fração for igual ou maior que 0,5 (cinco décimos): o número de vagas deverá ser aumentado para o
primeiro número inteiro subsequente. Ex: concurso para 9 vagas (20% = 1,8). Logo, será arredondado para
2 vagas destinadas a negros.
• Se a fração for menor que 0,5 (cinco décimos): o número de vagas deverá ser diminuído para o número
inteiro imediatamente inferior. Ex: concurso para 16 vagas (20% = 3,2). Logo, será arredondado para 3
vagas de negros.
Se quiser conhecer mais a respeito dos argumentos sobre a constitucionalidade dessa Lei, confira os
comentários no Info 868.
Declaração falsa
Se ficar constatado que o candidato fez declaração falsa sobre sua cor, a Lei prevê que ele será eliminado
do concurso.
Caso a declaração falsa somente seja constatada após o candidato já ter sido nomeado, a sua admissão
poderá ser anulada, após processo administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla
defesa.
Além disso, o candidato ainda poderá ser processado criminalmente.
Critério da heteroidentificação
O STF afirmou que o critério da autodeclaração é constitucional. Isso porque deve-se respeitar as pessoas
tal como elas se percebem.
Entretanto, a Corte afirmou que é possível também que a Administração Pública adote um controle
heterônomo, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na
autodeclaração.
Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do
concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de comissões com composição
plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração.
APLICAÇÃO DA LEI
A reserva de vagas tratada pela Lei nº 12.990/2014 vale para todos os três Poderes da União (Executivo,
Legislativo e Judiciário), além do MPU e DPU.
A Lei nº 12.990/2014 não se aplica para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. No entanto, caso
estes entes editem leis semelhantes, elas também são consideradas constitucionais.
Não ficou definido, neste julgamento, se as cotas valem também para concursos de remoção e promoção.
Isso porque este tema não constou do pedido nem foi discutido em memoriais.
candidatos negros. Ao mesmo tempo, na lista de ampla concorrência, ele ficou em 79º lugar. Logo, ele
será nomeado nas vagas destinadas à ampla concorrência.
O que acontece se as vagas reservadas aos candidatos negros não forem integralmente preenchidas?
Na hipótese de não haver candidatos negros aprovados em número suficiente para ocupar as vagas
reservadas, tais vagas remanescentes serão revertidas para a ampla concorrência e serão preenchidas
pelos demais candidatos aprovados, observada a ordem de classificação.
Ex: em determinado concurso, 4 vagas eram reservadas para candidatos negros. Ocorre que somente 3
candidatos negros fizeram a pontuação mínima exigida (nota de corte). Assim, essa quarta vaga poderá
ser preenchida por candidato não negro.
Quanto aos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos, o STF exemplificou
a forma correta de interpretar a lei. No caso de haver 20 vagas, 4 seriam reservadas a negros, obedecida
a seguinte sequência de ingresso: primeiro colocado geral, segundo colocado geral, terceiro colocado
geral, quarto colocado geral, até que o quinto convocado seria o primeiro colocado entre os negros, e
assim sucessivamente.
Dessa forma, evita-se colocar os aprovados da lista geral primeiro e somente depois os aprovados por cotas.
Após esse período, as cotas para negros em concursos públicos da administração pública federal
acabariam, salvo se fosse verificado que a medida ainda seria necessária quando, então, deveria ser
editada uma nova lei prorrogando o prazo.
Ocorre que estava chegando o dia final e o Congresso Nacional não havia, ainda, aprovado nenhuma lei
prorrogando o prazo.
Diante disso, em 17/05/2024, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) e a Rede Sustentabilidade
ingressaram com ADI no STF formulando três pedidos:
1) a expansão da reserva de cotas para os concursos públicos estaduais, municipais e distritais;
2) a reserva das vagas mesmo quando o número ofertado de vagas for inferior a três; e
3) a prorrogação do prazo por tempo indeterminado.
Decisão monocrática
Em 26/05/2024, o Ministro Relator Flávio Dino deferiu a medida cautelar para conceder o terceiro pedido
acima. Em outras palavras, o Ministro determinou que o sistema de cotas deverá continuar, mesmo após
o prazo do art. 6º da Lei (10/06/2024), até que o Congresso Nacional termine de analisar o projeto de lei
que prevê a prorrogação das cotas. Confira o dispositivo da decisão:
“Ante o exposto, com fundamento no art. 10, § 3º, da Lei n. 9.868/1999 e no art. 21, V, do
Regimento Interno, concedo a medida cautelar, ad referendum do Plenário, para dar
interpretação conforme à Constituição ao art. 6° da Lei n° 12.990, de 9 de junho de 2014, a fim de
que o prazo constante no referido dispositivo legal seja entendido como marco temporal para
avaliação da eficácia da ação afirmativa, determinação de prorrogação e/ou realinhamento e, caso
atingido seu objetivo, previsão de medidas para seu encerramento, ficando afastada a
interpretação que extinga abruptamente as cotas raciais previstas na Lei nº 12.990/2014. Ou seja,
tais cotas permanecerão sendo observadas até que se conclua o processo legislativo de
competência do Congresso Nacional e, subsequentemente, do Poder Executivo.”
O fim da vigência da ação afirmativa sem a devida avaliação de seu impacto e eficácia na redução das
desigualdades raciais, das consequências de sua descontinuidade e dos resultados já alcançados, além de
contrariar os objetivos da própria lei afronta regras da Constituição Federal que visam erradicar as
desigualdades sociais e construir uma sociedade justa e solidária, livre de preconceitos de raça, cor e
outras formas de discriminação:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
(...)
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
Visando a concretização dos objetivos constitucionais, o Brasil assumiu o compromisso – por meio da
ratificação da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, referendou a medida cautelar
anteriormente concedida que deu interpretação conforme a Constituição ao art. 6º da Lei nº 12.990/2014,
a fim de que o prazo nele constante seja entendido como marco temporal para avaliação da eficácia da
ação afirmativa, determinação de prorrogação e/ou realinhamento e, caso atingido o objetivo da política,
previsão de medidas para seu encerramento, ficando afastada a interpretação que extinga abruptamente
as cotas raciais.
SERVIÇOS PÚBLICOS
É constitucional o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos, para a outorga a particulares
de concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de portos secos
ODS 8, 9, 11 E 17
É constitucional o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos, para a outorga a particulares
de concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de “portos secos”.
Todavia, esses períodos devem ser compreendidos como prazos máximos (ou prazos-limites),
na medida em que é vedado ao legislador fixar uma duração contratual aplicável, de forma
invariável e inflexível, a toda e qualquer concessão ou permissão.
É inconstitucional a prorrogação da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos
“portos secos” cujas outorgas iniciais não forem antecedidas de procedimento licitatório. Essa
prorrogação viola a regra da obrigatoriedade de prévia licitação (art. 175 da CF/88).
Ainda que a outorga inicial seja precedida de licitação, é inconstitucional a prorrogação direta
e automática — por força de lei — da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos
“portos secos”.
O STF modulou os efeitos da decisão para permitir que o Poder Público promova, no prazo
máximo de 24 meses contados da data da publicação da ata deste julgamento, as licitações de
todas as concessões ou permissões cuja vigência esteja amparada nos dispositivos
mencionados e que estejam em desacordo com a interpretação ora conferida, findo o qual os
respectivos contratos ficarão extintos de pleno direito.
STF. Plenário. ADI 3.497/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/06/2024 (Info 1141).
Anos depois, foi editada a Lei nº 10.684/2003, que inseriu dois parágrafos no art. 1º da Lei nº 9.074/95:
Art. 1º (...)
§ 2º O prazo das concessões e permissões de que trata o inciso VI deste artigo será de vinte e cinco
anos, podendo ser prorrogado por dez anos.
§ 3º Ao término do prazo, as atuais concessões e permissões, mencionadas no § 2º, incluídas as
anteriores à Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, serão prorrogadas pelo prazo previsto no §
2º.
ADI
O Procurador-Geral da República ingressou com ADI contra esses dois parágrafos.
No processo, a PGR argumentou que, em razão das prorrogações feitas pela lei, as permissões e
concessões para a exploração de portos secos vigorariam por tempo demais, causando prejuízos ao poder
público.
A situação seria ainda mais grave porque atualmente esse serviço seria prestado por empresas que não
participaram de licitação (procedimento de seleção que garante a mesma oportunidade a todos que
queiram explorar o serviço).
A PGR sustentou que a lei impugnada conflita com o princípio da moralidade previsto no art. 37, caput, da
CF/88, bem como com o inciso XXI do mesmo artigo e com o art. 175 da CF/88, uma vez que permitiu a
prorrogação de concessões sem realização de licitação.
É constitucional — por ser razoável e proporcional — o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos,
para a outorga a particulares de concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de “portos
secos”
Os prazos de duração de contratos para a prestação de serviços públicos por empresas privadas devem
viabilizar o equilíbrio entre os investimentos a serem realizados pela empresa (os gastos, feitos geralmente
no início do contrato) e as receitas obtidas por ela (os ganhos, recebidos ao longo do contrato). No caso
dos portos secos, a exploração do serviço exige investimentos altos por parte da empresa. Por isso, o
aumento da duração dos contratos de concessão e permissão pode ser necessário para que, com o tempo
adicional, as empresas consigam obter receitas suficientes para compensar as despesas.
O lapso temporal do contrato deve possibilitar o equilíbrio entre os gastos e as receitas obtidas pela
empresa prestadora de serviço público. Na espécie, o vulto dos investimentos a serem realizados e das
outras condicionantes contratuais de caráter econômico-financeiro demandam prazo mais dilatado para
sua amortização. Ademais, os referidos prazos não destoam dos assinalados para a outorga de outros
serviços públicos.
Todavia, esses períodos devem ser compreendidos como prazos máximos (ou prazos-limites), na medida
em que é vedado ao legislador fixar uma duração contratual aplicável, de forma invariável e inflexível, a
toda e qualquer concessão ou permissão.
Cabe ao administrador público definir, em cada situação concreta, o prazo de duração contratual e, se for
o caso, o de sua prorrogação, os quais podem ser até mesmo inferiores aos previstos pelo Poder
Legislativo.
É inconstitucional — por ferir a regra da obrigatoriedade de prévia licitação (art. 175, CF/88) — a
prorrogação da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos “portos secos” cujas outorgas
iniciais não forem antecedidas de procedimento licitatório
Conforme jurisprudência do STF, é vedada a possibilidade de manutenção de outorgas vencidas, precárias,
com prazo indeterminado, ou pactuadas sem licitação sob a égide da Constituição Federal de 1988, sendo
que eventual vício na contratação original também macula o prolongamento posterior da vigência.
Ainda que a outorga inicial seja precedida de licitação, é inconstitucional a prorrogação direta e
automática — por força de lei — da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos “portos
secos”
Em alguns casos, a prorrogação do prazo do contrato pode ser mais eficiente e trazer mais vantagens para
o poder público e os usuários do serviço do que a realização de nova licitação.
As regras previstas no art. 1º, §§ 2º e 3º, da Lei nº 9.074/95 (com a redação dada pelo art. 26 da Lei nº
10.684/2003) não autorizam a prorrogação automática dos prazos de duração dos contratos. É preciso
que os gestores públicos avaliem a situação de cada contrato para definir o prazo necessário, respeitando
o limite estabelecido pela lei.
A prorrogação se insere no âmbito da discricionariedade administrativa, conforme juízo de conveniência
e oportunidade, devendo estarem presentes os seguintes requisitos:
(i) lei que a autorize;
(ii) interesse público na continuidade da avença, devidamente averiguado e justificado pelo gestor;
(iii) anuência do contratado; e
Além disso, para as empresas que não participaram de licitação para a exploração de portos secos, os
contratos atuais não podem ser prorrogados. Nesses casos, por razões de segurança jurídica, o poder
público terá o prazo de 24 meses para realizar a licitação.
Em suma:
É constitucional — por ser razoável e proporcional — o prazo de 25 anos, prorrogável por até 10 anos,
para a outorga a particulares de concessão ou de permissão dos serviços e das obras públicas de “portos
secos”. Todavia, esses períodos devem ser compreendidos como prazos máximos (ou prazos-limites),
na medida em que é vedado ao legislador fixar uma duração contratual aplicável, de forma invariável e
inflexível, a toda e qualquer concessão ou permissão.
É inconstitucional — por ferir a regra da obrigatoriedade de prévia licitação (art. 175, CF/88) — a
prorrogação da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos “portos secos” cujas outorgas
iniciais não forem antecedidas de procedimento licitatório.
Ainda que a outorga inicial seja precedida de licitação, é inconstitucional a prorrogação direta e
automática — por força de lei — da vigência dos contratos de concessão ou de permissão dos “portos
secos”.
STF. Plenário. ADI 3.497/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/06/2024 (Info 1141).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a
ação para conferir interpretação conforme aos §§ 2º e 3º do art. 1º da Lei nº 9.074/1995, acrescidos pelo
art. 26 da Lei nº 10.684/2003, para que:
FGTS
O FGTS, por ter uma função social a cumprir, está sujeito a critérios diferenciados do mercado
financeiro em geral, de modo que o índice oficial da inflação (IPCA) deve ser a referência mínima
para a correção dos saldos dos depósitos realizados nas contas a ele vinculadas
Importante!!!
ODS 8, 10 E 16
A remuneração do FGTS não pode ficar abaixo da inflação (IPCA). Isso viola a Constituição, pois
faz com que os trabalhadores percam dinheiro, já que seu saldo do FGTS não acompanha o
aumento geral dos preços.
Portanto, quando a forma atual de remuneração do FGTS (TR mais juros de 3% ao ano) ficar
abaixo da inflação, o Fundo deverá compensar os trabalhadores, fazendo a remuneração
chegar até o índice oficial de inflação (IPCA).
Essa compensação teve a concordância das quatro maiores centrais sindicais do país, que
representaram os trabalhadores em negociação com o governo.
A decisão será aplicada ao saldo existente na conta do FGTS a partir da publicação da ata do
presente julgamento, que ocorreu em 17/06/2024.
Isso garante o direito de propriedade do trabalhador, ao mesmo tempo em que protege os
projetos sociais que são realizados com o FGTS. É que, além de funcionar como uma espécie de
poupança do trabalhador, o dinheiro do FGTS é usado para fins sociais importantes: ele ajuda
a financiar a compra de casas para pessoas de baixa renda e obras de saneamento básico e de
infraestrutura urbana. Se o índice a ser utilizado para a correção dos valores depositados no
FGTS fosse muito alto, os juros desses financiamentos aumentariam e isso prejudicaria a
parcela mais pobre da população que se beneficia desses projetos sociais.
STF. Plenário. ADI 5.090/DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Flávio Dino,
julgado em 12/06/2024 (Info 1141).
FGTS
FGTS é a sigla para Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Foi criado pela Lei nº 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa.
Atualmente, o FGTS é regido pela Lei nº 8.036/90.
O FGTS nada mais é do que uma conta bancária aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no
momento em que celebra seu primeiro contrato de trabalho.
Nessa conta bancária, o empregador deposita todos os meses o valor equivalente a 8% do salário pago ao
empregado, acrescido de juros e atualização monetária (conhecidos pela sigla “JAM”).
Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de
“poupança”, que é utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa
para alguma finalidade relevante, assim considerada pela lei.
Se o empregado for demitido sem justa causa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada
do trabalhador, uma indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados
na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos
dos respectivos juros (art. 18, § 1º, da Lei nº 8.036/90).
O trabalhador que possui conta do FGTS vinculada a seu nome é chamado de trabalhador participante do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
O FGTS possui natureza jurídica de direito social do trabalhador, sendo considerado, portanto, fruto civil
do trabalho (STJ. 3ª Turma. REsp 848.660/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 13/05/2011).
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos
de poupança com data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade mensal para
remuneração.
Desse modo, o FGTS tem rendimento igual à Taxa Referencial (TR) mais juros de 3% ao ano.
A TR é uma taxa de juros de referência calculada pelo Banco Central e serve para atualizar alguns tipos de
investimentos e empréstimos.
Desse modo, o legislador determinou que, se o Poder Público fosse condenado a pagar uma quantia, ela
deveria ser acrescida de correção monetária e que o índice aplicado, neste caso, seria a TR – Taxa
Referencial.
Ocorre que o STF declarou que essa previsão é inconstitucional. Isso porque a TR é um índice fixado ex
ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação considerada no
período. Em outras palavras, a TR é calculada antes de a inflação ocorrer. Assim, a remuneração da
caderneta de poupança – diferentemente de qualquer outro índice oficial de inflação – é sempre
prefixada. Essa circunstância deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da poupança
e a evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação.
Por essa razão, diz-se que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços
apurada no período em referência. É o caso da TR (poupança).
Dessa maneira, como este índice não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à própria
decisão judicial, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não será o valor
que o credor irá receber efetivamente. Este valor terá sido corroído pela inflação.
Nesse sentido:
STF. Plenário. ADI 4357/DF, ADI 4425/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, ADI 4357/DF, rel. orig. Min. Ayres
Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 13 e 14/3/2013.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).
5) A decisão será aplicada ao saldo existente na conta do FGTS a partir da data de publicação do resultado
do julgamento (17/06/2024).
6) Caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/90) definir a forma dessa compensação.
7) Isso garante o direito de propriedade do trabalhador, ao mesmo tempo em que protege os projetos
sociais que são realizados com o FGTS. É que, além de funcionar como uma espécie de poupança do
trabalhador, o dinheiro do FGTS é usado para fins sociais importantes: ele ajuda a financiar a compra de
casas para pessoas de baixa renda e obras de saneamento básico e de infraestrutura urbana. Se o índice
a ser utilizado para a correção dos valores depositados no FGTS fosse muito alto, os juros desses
financiamentos aumentariam e isso prejudicaria a parcela mais pobre da população que se beneficia
desses projetos sociais.
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na
forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para
o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento.
Outro fator que foi ponderado é a busca da previsibilidade da segurança jurídica da calculabilidade.
Além disso, o STF afirmou que deveria ser prestigiada a autonomia privada coletiva (art. 7º, XXVI, CF/88):
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
Como assim? Por que falar em autonomia privada coletiva? Porque, no caso concreto, houve um acordo,
firmado no dia 03/04/2024, entre a Advocacia Geral da União e as quatro maiores centrais sindicais do
País, no sentido de que, nos anos em que a forma legal de atualização for inferior ao IPCA, caberá ao
Conselho Curador do Fundo — órgão tripartite, formado por empresários, trabalhadores e o governo —
determinar a forma de compensação.
O STF entendeu que essa medida, além de garantir o direito de propriedade do trabalhador — por permitir
que a correção monetária acompanhe o aumento geral dos preços — protege os projetos sociais a serem
realizados com o dinheiro do Fundo, o qual não funciona apenas como uma “poupança compulsória do
trabalhador”, mas também como um financiador da política habitacional, isto é, da aquisição da casa
própria por pessoas de baixa renda e da realização de obras de saneamento básico e de infraestrutura
urbana.
Em suma:
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), por ter uma função social a cumprir, está sujeito a
critérios diferenciados do mercado financeiro em geral, de modo que o índice oficial da inflação (IPCA)
deve ser a referência mínima para a correção dos saldos dos depósitos realizados nas contas a ele
vinculadas, a fim de garantir a manutenção do poder aquisitivo do trabalhador (arts. 5º, XXII e XXIII, e
170, III, CF/88).
STF. Plenário. ADI 5.090/DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Flávio Dino, julgado
em 12/06/2024 (Info 1141).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a
ação para determinar:
(i) a remuneração das contas vinculadas na forma legal (TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados
auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA) em todos os exercícios; e
(ii) nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, que caberá ao
Conselho Curador do Fundo — art. 3º da Lei nº 8.036/1990) — definir a forma de compensação.
Importante!!!
ODS 16
É inconstitucional — por criar sanção de caráter perpétuo — norma que, sem estipular prazo
para o término da proibição, impede militares estaduais afastados pela prática de falta grave
de prestarem concurso público para provimento de cargo, emprego ou função na
Administração Pública direta ou indireta local.
STF. Plenário. ADI 2.893/PE, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 17/06/2024 (Info 1141).
Art. 28. O Militar do Estado afastado pela prática de falta grave, nos termos da legislação que lhe
for aplicável, não poderá participar de concurso público para provimento de cargo, emprego ou
função na administração pública estadual, direta ou indireta.
ADI
O Partido da República (antes denominado Partido Liberal) ingressou com ADI contra essa previsão
alegando que “Qualquer norma que estabeleça um juízo, apriorístico, sem sentença final transitada em
julgado, é inconstitucional e injusto”.
Em embargos de declaração, o STF decidiu que, nas hipóteses descritas no art. 137, parágrafo único, da
Lei 8.112/90, deverá ser aplicado o prazo de incompatibilidade de 5 anos previsto no caput do art. 137 ,
até que o Legislativo fixe outro.
Assim, os ex-servidores que forem demitidos por crime contra a administração pública, improbidade
administrativa, aplicação irregular de dinheiros públicos, lesão aos cofres públicos e dilapidação do
patrimônio nacional e corrupção somente poderão ser investidos em novo cargo público federal depois
do prazo de 5 anos.
STF. Plenário ADI 2975 ED, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso, julgado em 27/03/2023.
A conclusão foi que princípios e garantias penais podem ser aplicados ao direito administrativo
sancionador, com as devidas adaptações. Entre essas garantias, destaca-se a proibição de penas de caráter
perpétuo (CF, art. 5º, XLVII, "b"). Por isso, foi declarada a inconstitucionalidade do dispositivo que impedia
o retorno ao serviço público de servidores demitidos ou destituídos por infringir o art. 132, I, IV, VIII, X e
XI, do RJU.
A inconstitucionalidade decorre justamente da perpetuidade da sanção administrativa. Se houvesse um
prazo estipulado, não haveria violação ao art. 5º, XLVII, “b”, da Constituição Federal.
É importante notar que, no julgamento da ADI 2975, o STF admitiu que servidores que cometeram ilícitos
graves, como crimes contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de
dinheiros públicos, lesão aos cofres públicos, dilapidação do patrimônio nacional e corrupção pudessem
retornar ao serviço público se fossem aprovados em novo concurso.
Logo, esse mesmo raciocínio deve ser aplicado para militares do Estado que foram afastados por falta
grave.
Caso a falta grave do militar estadual mereça uma punição mais severa, dependendo de sua natureza, a
lei pernambucana deverá estabelecer um prazo ainda maior para o retorno à Administração Pública.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 28 da Lei Complementar nº
49/2003 do Estado de Pernambuco.
Além disso, o Tribunal determinou que a Assembleia Legislativa e o governador do Estado de Pernambuco
sejam comunicados da presente decisão, a fim de que, se entenderem pertinente, deliberem sobre o prazo
de proibição de retorno ao serviço público dos policiais militares afastados em razão do cometimento de
falta grave, e que, até que eventualmente o façam, será adotado o prazo de 5 anos previsto no caput do
art. 137 da Lei nº 8.112/90.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A inclusão do terço de férias no cálculo da contribuição previdenciária patronal
só vale a partir da publicação da ata do julgamento sobre o Tema 985
ODS 8 E 10
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art.
201;
III - sobre a receita de concursos de prognósticos;
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuições previstas no art. 195, I, “a” e II serão
destinados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários do RGPS (administrado pelo
INSS).
Em razão disso, a maioria dos autores de Direito Previdenciário denomina as contribuições do art. 195, I,
“a” e II de “contribuições previdenciárias”, como se fossem uma subespécie das contribuições para a
seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado.
Contribuições previdenciárias
A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo cujo dinheiro arrecadado é destinado ao
pagamento dos benefícios do RGPS (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.)
Existem duas espécies de contribuição previdenciária:
PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE
1ª) Trabalhador e demais segurados Incide sobre o salário de contribuição, exceto no caso do
do RGPS (art. 195, II). segurado especial.
2ª) Empregador, empresa ou Incide sobre a folha de salários e demais rendimentos do
entidade equiparada (art. 195, I, “a”). trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.
Para que incida a contribuição previdenciária sobre os valores pagos aos empregados é necessário que a
verba paga tenha duas características cumulativas:
a) precisa ter natureza remuneratória; e
b) deve ter um caráter de habitualidade.
Vamos analisar se os valores pagos a título de férias estão, ou não, sujeitos à contribuição previdenciária.
Férias
O art. 7º, XVII, da CF/88 assegura aos trabalhadores o direito a férias anuais.
No mês das férias, o trabalhador, além de ter direito ao descanso, receberá uma verba adicional
correspondente a um terço a mais do seu salário normal. A isso chamamos de “terço constitucional de
férias” porque foi introduzido pela CF/88.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal;
Ex: João recebe o salário de R$ 1 mil. Na época das férias, ele receberá R$ 1.300,00, ou seja, o salário
normal (R$ 1 mil) acrescido de um terço (R$ 300,00).
Incide contribuição previdenciária sobre o salário do trabalhador pago durante as férias por ele
gozadas? Ex: no mês de março João estava de férias, mesmo assim, a empresa terá que pagar a
contribuição previdenciária?
SIM. Incide contribuição previdenciária sobre o pagamento de férias gozadas. Isso porque essa verba
possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT. Logo, integra o salário de
contribuição.
Em nosso exemplo, a alíquota da contribuição será aplicada sobre os R$ 1 mil.
Incide contribuição previdenciária sobre o valor do terço de férias gozadas? No momento de fazer o
cálculo da quantia que a empresa irá pagar como contribuição previdenciária, deverá a alíquota recair
também sobre o terço de férias?
• STJ: decidiu que não, ou seja, que não deveria incidir. Isso porque, para o STJ, o terço de férias gozadas
não teria natureza remuneratória e, além disso, não seria um ganho habitual do empregado. Logo, não
preencheu nenhum dos dois requisitos acima mencionados. Veja:
A importância paga a título de terço constitucional de férias possui natureza indenizatória/compensatória,
e não constitui ganho habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a incidência de
contribuição previdenciária (a cargo da empresa).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.230.957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/02/2014 (Recurso
Repetitivo – Tema 479) (Info 536).
Assim, em nosso exemplo, segundo o entendimento do STJ, a empresa teria que pagar a contribuição
previdenciária sobre o valor das férias (alíquota que incidirá sobre R$ 1.000,00), mas não sobre o valor do
terço de férias (300 reais).
• STF: seis anos depois do entendimento acima fixado, o STF decidiu de forma diversa. Confira:
É legítima a incidência de contribuição social, a cargo do empregador, sobre os valores pagos ao
empregado a título de terço constitucional de férias gozadas.
STF. Plenário. RE 1072485, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema
985) (Info 993).
Desse modo, como o tema envolve a interpretação do texto constitucional, o STJ teve que se adequar ao
entendimento fixado pelo STF:
Em suma:
A mudança da jurisprudência é motivo ensejador para a excepcional modulação dos efeitos da decisão
que fixou a tese referente ao Tema 985 da repercussão geral (“É legítima a incidência de contribuição
social sobre o valor satisfeito a título de terço constitucional de férias”), de modo que, anteriormente à
data de seu julgamento, no ano de 2020, devem ser mantidos apenas os pagamentos já efetuados pelas
empresas e não questionados judicialmente.
STF. Plenário. RE 1.072.485 ED/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Luís Roberto Barroso,
julgado em 12/06/2024 (Info 1141).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu parcial provimento aos embargos de
declaração, com atribuição de efeitos ex nunc à decisão de mérito que apreciou o Tema 985 da
repercussão geral, a contar da data da publicação da ata de julgamento (15/09/2020), ressalvadas as
contribuições já pagas e não impugnadas judicialmente até esse dia, que não serão devolvidas pela União.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. E 6. C