A Missão Do Pastor Escolar

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A MISSÃO DO PASTOR
ESCOLAR

0:00 / 0:00 Antônio Tavela

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JUL-AGO 2024

MINISTÉRIO
Como influenciar as novas gerações.

S
er pastor de uma unidade escolar da Educação
Adventista é uma oportunidade de
desempenhar um ministério de grande
magnitude e abrangência. Nessa área,
podemos ser plenamente pastores e realizar uma obra DOWNLOAD

grandiosa. Ainda que poucas pessoas sejam capazes de


vislumbrar todo o potencial dessa atividade, felizmente a
MAIS ARTIGOS NESTA
liderança da igreja tem procurado reconhecer cada vez mais REVISTA
a relevância desse importante ministério.

Em maio de 2017, uma comissão estabelecida pela Divisão


Sul-Americana tratou o tema da valorização do ministério PROCLAMANDO AS
de um pastor que se dedica à Educação Adventista. Dentre BOAS-NOVAS
as várias recomendações, está o uso do termo “pastor
escolar” no lugar de “capelão escolar” (voto 2017-012),
com o objetivo de fortalecer sua identidade com o corpo
ministerial do Campo local. Ainda que suas funções e
atribuições tenham certa especificidade, o pastor escolar
deve ser visto pela igreja como um verdadeiro ministro do
evangelho, que está em pleno cumprimento do ministério POR UM FIO
pastoral.

A revelação e o pastor escolar

Antes, porém, das recomendações da liderança da igreja,


podemos lançar mão da revelação divina para avaliar a
relevância do ministério ligado à área de Educação.
Segundo a Bíblia e o Espírito de Profecia, quem se dedica a
APRENDIZADO
essa obra realiza uma tarefa nobre e valiosa. CONTÍNUO

As Escrituras, em centenas de referências aos verbos


ensinar, educar e instruir, realçam a importância dessa
atividade que tem como protagonista o próprio Deus. Entre
os textos que aludem a essa realidade, destaco as palavras
de Paulo a Tito: “Porque a graça de Deus se manifestou,
trazendo salvação a todos. Ela nos educa para que,
renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos
neste mundo de forma sensata, justa e piedosa” (Tt 2:11,
12).

Em outro texto, o apóstolo Paulo destaca o papel daquele


que ensina, enfatizando que, para haver crescimento e
fortalecimento da igreja, há a necessidade desse dom
espiritual: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e outros para
pastores e mestres” (Ef 4:11).

Fica claro que é o Espírito Santo que chama e capacita


pastores para se dedicarem ao ensino (1Co 12:11). E como
há diversidade de dons, aqueles que são vocacionados para
ensinar devem valorizar a sua vocação como um chamado.

Entre tantas referências bíblicas ao ensino, o ministério de


Jesus merece ser destacado. Vindo ao mundo para salvar a
humanidade, Ele Se dedicou intensamente a essa tarefa, ­‐
tornando-a Sua principal ocupação, a fim de que pudesse
revelar às pessoas o caráter do Pai e o caminho da vida
eterna. Ellen White comentou: “No Mestre enviado de
Deus, o Céu deu aos seres humanos o que possuía de
melhor e maior. Aquele que tomara parte nos conselhos do
Altíssimo, que habitara no íntimo do santuário do Eterno,
foi o escolhido para, em pessoa, revelar à humanidade o
conhecimento de Deus.”1

Além de pregar e curar, Jesus Se dedicou a ensinar


(Mt 4:23). Não foi por acaso que até Seus inimigos O
chamaram de Mestre. Por essa razão, a vida e o ministério
de Jesus atestam, inquestionavelmente, que ensinar é uma
obra de grande valor aos olhos de Deus.

Além da Bíblia, os escritos de Ellen White também realçam


a importância do pastor escolar. Observe estas citações:
“Aquele que coopera com o propósito divino, transmitindo
aos jovens o conhecimento de Deus e moldando-lhes o
caráter em harmonia com o Dele, realiza uma elevada e
nobre obra.”2

“Aqueles que tiverem mais vocação para o ministério


devem ser empregados para dar aulas de Bíblia em nossas
escolas. As pessoas escolhidas para essa obra precisam ser
estudantes meticulosos da Bíblia, que tenham profunda
experiência cristã; e seu salário deve ser pago do dízimo.”3

“As associações devem cuidar para que as escolas sejam


providas de professores bem competentes no ensino da
Bíblia, bem como que possuam profunda experiência cristã.
Os melhores talentos do ministério devem ser empregados
em nossas escolas.”4

Já que “no mais alto sentido, a obra da educação e da


redenção são uma”,5 quem toma parte na tarefa de educar
está trabalhando para redimir. Na avaliação divina, não há
gradação entre o ministério da igreja e o ministério escolar,
pois ambos estão realizando a mesma obra. As funções
podem ser diferentes, mas o propósito é o mesmo.

Contexto e atribuições

Imagine a cena: Um jovem acaba de se formar no seminário


onde foi preparado para ser um pastor de igreja e, em
seguida, chega ao seu primeiro campo de trabalho: uma
escola. O diretor lhe dá as boas-vindas e deseja que seu
ministério seja muito proveitoso. Imediatamente, após ser
empossado, algumas perguntas vêm à sua mente: Por onde
começo? Quais são as minhas atribuições? O que devo
fazer?

O ideal seria que todos os pastores designados para o


ministério escolar já tivessem recebido o devido preparo e
possuíssem respostas para essas perguntas. No entanto,
assim como aconteceu comigo há quase 30 anos, muitos
pastores de escola, ao assumirem seu posto de trabalho,
também se angustiam por se sentirem completamente
despreparados. Diante dessa realidade, algumas questões
merecem uma respeitosa reflexão.

No sonho de Deus, a Educação Adventista foi estabelecida


para ser um instrumento de salvação de pessoas. Cada
aluno colocado sob a tutela espiritual das escolas
adventistas é um candidato ao reino de Deus. E se há
alguém dentro da escola que não pode perder isso de vista,
é o pastor escolar. Sua energia e seus esforços devem ser,
intencionalmente, canalizados para esse objetivo.

Assim sendo, o pastor escolar deve, incansavelmente,


desafiar aqueles que lideram a sua unidade a entender que
“a força de nossa escola está em manter o elemento
religioso em ascendência,”6 e isso se faz buscando o
desenvolvimento espiritual de toda a comunidade escolar. A
partir de um planejamento elaborado com bastante
intencionalidade, suas ações devem levar aqueles que estão
sob seu pastoreio a crescer espiritualmente.

De acordo com o teólogo George Knight, isso só é possível


quando se busca o conhecimento de Deus. Ele destaca
ainda que esse conhecimento não é apenas teórico, mas
prático e relacional.7 A começar pelo próprio pastor escolar,
quem faz parte da Educação Adventista deve ter a alegria
de dizer que conhece a Deus por experiência própria e
mantém um relacionamento pessoal com Jesus Cristo.

No entanto, vale lembrar que não há verdadeiro


conhecimento de Deus separado da Sua Palavra. Nenhuma
unidade da Educação Adventista deveria permitir que a
Bíblia ficasse em segundo plano. Ainda que haja exigências
acadêmicas a ser cumpridas, a primazia da Bíblia em
relação às outras ciências deveria ser uma realidade
constante. Ellen White escreveu: “Há risco de nosso colégio
ser desviado de seu desígnio original. O propósito de Deus
foi dado a conhecer – que nosso povo tenha a oportunidade
de estudar as ciências aprendendo ao mesmo tempo os
requisitos de Sua Palavra. Devem ser feitas conferências
sobre temas bíblicos. O estudo das Escrituras deve ter o
primeiro lugar em nosso sistema de educação.”8

Outra questão a ser considerada é que o pastor escolar terá


um enorme rebanho para pastorear. Todas as pessoas que
estão ligadas à sua escola são suas ovelhas. Mesmo uma
escola pequena oferecerá um rebanho maior do que a
maioria das igrejas à sua volta. Observe os grupos que
formam uma comunidade escolar: alunos – adventistas e
não adventistas; servidores – equipe administrativa,
professores e equipes de apoio; familiares – especialmente
o núcleo familiar do aluno; território – moradores que
vivem e trabalham nas adjacências da escola.

De alguma maneira, todos esses grupos devem ser


contemplados pelo trabalho do pastor escolar e isso, sem
dúvida, é um enorme desafio. Somente pela atuação do
Espírito Santo é possível liderar um projeto de pastoreio de
tanta gente, contando, logicamente, com a mobilização de
outros funcionários que estejam dispostos a cumprir a
missão.

A prioridade do ministério escolar

Por que se estabelecem escolas? Qual é o seu propósito? Na


verdade, a melhor pergunta seria: Para quem se
estabelecem escolas? A resposta é óbvia! Em qualquer lugar
do mundo, as escolas são estabelecidas por causa dos
alunos. Eles são a razão da existência de qualquer unidade
de ensino e, no caso da Educação Adventista, toda ação
direcionada a eles tem o objetivo de salvá-los, pois sua
missão é educar para a eternidade.

Sendo assim, o pastor escolar deve manter bem claro em


sua mente que a matéria-prima do seu ministério são os
alunos. Deus o chamou para ser um instrumento de
salvação desse grupo, sobretudo, dos alunos a­ dventistas.
Por sinal, Deus ordenou o estabelecimento da Educação
Adventista para atendê-los. Com o passar do tempo, esse
propósito original foi se perdendo, sendo trocado até por
motivos nobres, como evangelizar e buscar excelência
acadêmica, mas esses objetivos não são a razão de
existirmos. Fomos estabelecidos para ajudar no processo de
salvação dos nossos filhos. Evidentemente, não vamos nos
esquecer dos demais alunos que chegam até nós.

Há pouco tempo, a Divisão Sul-Americana estabeleceu que


uma de suas ênfases é cuidar das Novas Gerações a fim de
que elas permaneçam na igreja. Com base nisso, a
Educação Adventista ganha ainda mais importância, pois,
inquestionavelmente, ela pode ser um poderoso instrumento
de apoio à igreja e às famílias.
Ainda que, em média, apenas 20% dos alunos da Educação
Adventista no Brasil sejam adventistas, o pastor escolar
deve considerá-los suas principais ovelhas, para não correr
o risco de esquecê-las em virtude do grande número de
alunos a ser evangelizados. Além do pastor, a equipe
administrativa da escola deve planejar ações que sejam
voltadas para eles, contemplando três objetivos claros: 1)
Levá-los a uma experiência pessoal com Jesus Cristo; 2)
fortalecer sua identidade adventista; e 3) envolvê-los na
missão da igreja.

Em um dos discursos de Jesus, encontramos uma


contundente advertência: “De que adianta uma pessoa
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16:26).
Aplicando essa advertência ao nosso contexto, poderíamos
dizer: “De que adianta evangelizar todos os alunos que
ainda não conhecem o evangelho e perder os alunos
adventistas?”

É verdade que a responsabilidade pela educação, em


primeira instância, é da família. Mas não podemos nos
esquecer de que Deus ordenou o estabelecimento de nossas
escolas por causa dos nossos filhos. Esse é o propósito
original de nossa existência.

Evangelismo subsidiado

Ainda que a Educação Adventista não tenha sido


estabelecida pensando nos alunos não adventistas, temos
que reconhecer que não há proibição à presença deles em
nossas escolas. Tanto é assim que o crescimento e a
multiplicação de nossas unidades escolares se deram
especialmente com as matrículas deles.

Os alunos não adventistas nos oferecem uma oportunidade


maravilhosa de evangelização. Eles não apenas se fazem
presentes; eles pagam para estarem lá. Pagam para receber,
além dos conhecimentos acadêmicos curriculares, o
conhecimento do evangelho. É isso que eu chamo de
“evangelismo subsidiado”.
O pastor escolar evangeliza em um ambiente de grande
diversidade religiosa. Portanto, deve ser muito sábio para
que suas abordagens demonstrem respeito pela fé de todos
os alunos. Isso não impede que o trabalho seja rea­lizado
com bastante ousadia, movido pela fé, pedindo a Deus que
o oriente e lhe mostre qual é a melhor estratégia para
semear a mensagem do evangelho sem correr o risco de
fechar o coração dos alunos.

O pastor escolar sabe que chegará o tempo em que muitos


ouvirão o convite divino (Ap 18:1) e, como consequência,
haverá “um só rebanho e um só pastor” (Jo 10:16). Por isso,
em relação a esse enorme grupo, sua missão é semear o
evangelho e ver em cada aluno um candidato ao reino do
Céu.

Exército bem alinhado

Alguém pode pensar que trabalhar na Educação Adventista


significa trabalhar em uma empresa. Mas ainda que muitos
tenham isso em mente, o pastor escolar deve ter convicções
diferentes. Para ele, uma Escola Adventista é uma agência
missionária para salvação de pessoas.

Uma das maiores tarefas do pastor escolar é manter o foco


da sua escola nessa direção. Com humildade, mas também
com autoridade, deve sinalizar a todos qual é a missão. Para
tanto, ainda não inventaram uma estratégia melhor do que
promover o envolvimento no trabalho.

Começando pela equipe administrativa da escola, mas de


maneira especial mirando os professores – seus verdadeiros
colegas de ministério, pois entram diariamente nas salas de
aula e têm contato direto com os alunos –, o pastor escolar
tem a solene missão de unir todos na mesma causa.
Recepcionistas, bibliotecárias, equipe de tecnologia,
monitores, zeladores… todos devem ser inspirados,
motivados e desafiados a ampliar sua influência espiritual
para que, intencionalmente, sejam o “bom perfume de
Cristo” (2Co 2:15).
Ruy Shiozawa, CEO de uma empresa global de pesquisa,
citou a história de um zelador da Nasa, ocorrida na década
de 1960. Varrendo o chão, ao ser questionado sobre o que
estava fazendo, respondeu sem pestanejar: “Estou levando
o homem para a Lua.”9

Se um zelador da Nasa tinha consciência do propósito de


seu trabalho, quanto mais aqueles que trabalham na
Educação Adventista, levando-se em conta que estão
trabalhando para conduzir seus alunos para o Céu.

Conclusão

Diante do que foi exposto, gostaria de me dirigir àqueles


que estão no front de batalha, compartilhando algumas
orientações que eu gostaria de ter recebido quando comecei
meu ministério em uma pequena escola do interior do
Paraná: (1) Faça seu trabalho com alegria e entusiasmo. A
falta de preparo não justifica indolência, rebeldia ou má
vontade; (2) planeje o que você pretende fazer e
compartilhe seus sonhos com os administradores da escola;
(3) envolva muitas pessoas no seu projeto. Em uma escola,
assim como em uma igreja, esse é o trabalho mais
importante do pastor; (4) use o método de Cristo: misture-
se com as pessoas, seja simpático e ministre às
necessidades delas; (5) floresça onde está plantado. Mesmo
que não se sinta vocacionado, creia, você não está aí por
acaso; (6) siga o conselho de Paulo: “Seja sóbrio em todas
as coisas, suporte as aflições, faça o trabalho de um
evangelista, cumpra plenamente seu ministério” (2Tm 4:5).

Juntamente com as alegrias do ministério, sempre haverá


aflições, seja na escola, na igreja ou em uma função
administrativa. Mas a parte que merece destaque é:
“Cumpra plenamente seu ministério.”

Antônio Tavela, capelão da Casa Publicadora Brasileira

Referência

1 Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,


2021), p. 50.
2 White, Educação, p. 11.

3 Ellen G. White, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes (Tatuí,

SP: Casa Publicadora Brasileira, 2024), p. 310.

4 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,


2023), p. 330.

5 White, Educação, p. 20.

6 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa


Publicadora Brasileira, 2021), v. 5, p. 17.

7 George Knight, Mitos na Educação Adventista (Engenheiro Coelho, SP:

Unaspress, 2010), p. 46.

8 White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 23.

9 “Funcionário que Encontra Significado no Trabalho Ajuda Mais a

Empresa”, G1, 6 de agosto de 2015, disponível em

<link.cpb.com.br/3ee0ab>, acesso em 16/5/2024.

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