Farmacologia 05
Farmacologia 05
Farmacologia 05
Você vai conhecer os efeitos nocivos de substâncias químicas em animais não humanos, bem como os
mecanismos pelos quais esses efeitos ocorrem e seus impactos na saúde humana e de outros animais.
Profa. Cheryl Gouveia
1. Itens iniciais
Propósito
Compreender os efeitos nocivos decorrentes da interação de substâncias químicas com o organismo dos
animais não humanos é fundamental para o uso seguro e eficaz dessas substâncias, prevenindo, inclusive,
prejuízos à saúde humana.
Preparação
Tenha com você um livro de fisiologia veterinária para consultar os processos fisiológicos importantes e
compreender os mecanismos de ação dos fármacos e das drogas que causam intoxicações. Tenha também
um dicionário de termos médicos, como o Dicionário de termos técnicos-científicos de medicina veterinária,
da Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola, disponível na internet.
Objetivos
• Reconhecer a toxicocinética e a toxicodinâmica, os fatores que interferem na toxicidade e os meios
para diagnóstico de intoxicações.
• Identificar as drogas terapêuticas e de abuso que atuam como toxicantes, seus mecanismos de ação e
efeitos nocivos.
• Identificar os defensivos agrícolas e domissanitários que atuam como toxicantes, seus mecanismos de
ação e efeitos nocivos.
• Identificar as biotoxinas, bem como os seus mecanismos de ação e efeitos nocivos.
Introdução
O conhecimento acerca da toxicologia veterinária é fundamental para a proteção da saúde dos animais e a
segurança da saúde humana, já que eles podem ser expostos a diversas substâncias tóxicas físicas,
biológicas ou químicas presentes no ambiente.
Essa área da ciência estuda os efeitos nocivos dessas substâncias tóxicas em animais não humanos, desde
animais domésticos até espécies selvagens. Seu principal objetivo é:
Sua importância está na identificação, prevenção e tratamento de intoxicações em animais de companhia, que
podem ocorrer pela ingestão acidental de plantas tóxicas, de produtos domissanitários, de medicamentos, de
drogas de abuso ou de alimentos contaminados por toxinas biológicas.
Além disso, substâncias como domissanitários e defensivos agrícolas, micotoxinas e metais pesados podem
ser ingeridas por animais de produção por meio da alimentação ou do ambiente, podendo se acumularem nos
tecidos desses animais e, consequentemente, serem ingeridas pelos humanos.
Em casos como esses, a toxicologia veterinária é útil não somente para a identificação, prevenção e
tratamento de intoxicações, mas também para estabelecer limites seguros de exposição e assim garantir que
os produtos de origem animal não apresentem riscos para a saúde humana.
Contudo, não são apenas os animais domésticos que podem sofrer intoxicações, os animais selvagens, em
seus hábitats naturais, também podem ser expostos a poluentes ambientais, defensivos agrícolas e outros
produtos químicos tóxicos despejados na natureza. Assim, o estudo da toxicologia também é útil para
identificar, prevenir e tratar intoxicações em animais selvagens e no meio ambiente.
O papel do profissional médico-veterinário é garantir a proteção da saúde pública e o uso responsável de
produtos químicos e de outras substâncias potencialmente perigosas, baseado no conhecimento da interação
dessas substâncias com o organismo animal.
1. Toxicocinética e toxicodinâmica
Um agente tóxico ou toxicante quando interage com um organismo vivo provoca um ou vários efeitos nocivos
a ele e pode ser originado de alguns elementos. Vamos conferir!
Substância química
Substância biológica
Agente físico
Os agentes tóxicos biológicos são denominados biotoxinas, as quais podem ser produzidas por diferentes
organismos, como:
Bactérias Fungos
Fitotoxinas Zootoxinas
Atenção
A diferença entre veneno e peçonha é que a peçonha precisa ser inoculada no organismo para
desempenhar sua ação, enquanto o veneno precisa ser ingerido ou absorvido por via tópica.
A toxicidade refere-se ao potencial de um toxicante provocar um efeito nocivo por seu uso, exposição ou
manipulação, sendo quantificada a partir da dose letal 50% (DL 50), que é a dose necessária para provocar a
morte de metade dos indivíduos expostos.
São importantes porque quanto maiores elas forem, maior o risco de provocar efeitos nocivos no
organismo.
Estão diretamente relacionadas à toxicidade, pois quanto maiores elas forem, maior será a
disponibilidade do intoxicante no organismo.
Características físico-químicas
Estão relacionadas a uma maior ou menor absorção ou ligação a receptores celulares; por exemplo,
quanto maior for sua lipossolubilidade, maior será sua absorção pelas membranas celulares. Veja um
exemplo de agente tóxico altamente lipossolúvel.
Via de exposição
Veja um exemplo desse aspecto, o chumbo tem alto potencial tóxico quando inalado na forma de
poeira ou de vapores ou quando ingerido, mas tem baixo potencial tóxico quando em contato com a
pele.
A toxicidade pode variar de acordo com a espécie, raça, idade, peso, estado nutricional e fisiológico
do animal, incluindo gestação e lactação. Confira alguns exemplos:
Leve
Moderada
Quando os efeitos são reversíveis e não geram maiores prejuízos à saúde do indivíduo.
Grave
Quando os efeitos são irreversíveis, gerando grandes prejuízos à saúde do indivíduo ou mesmo a sua
morte.
Saiba mais
Intoxicação: É o termo utilizado para se referir ao conjunto de sinais e sintomas provocados pelo agente
tóxico no indivíduo exposto.
Bases da toxicidade
Assista a este vídeo e conheça os principais fatores que interferem na toxicidade de uma substância.
Conteúdo interativo
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Toxicocinética
É o campo de estudo da toxicologia que tem como objetivo conhecer todos os processos pelos quais os
agentes tóxicos passam no organismo vivo, o que inclui os processos de absorção, biodistribuição,
biotransformação e excreção.
Atenção
Ao ser exposto a uma substância tóxica, o indivíduo pode absorvê-la pela pele, pelos pulmões ou pelo
trato gastrointestinal. Com isso, a substância alcança a circulação sanguínea e é distribuída para os
tecidos orgânicos, podendo formar depósitos em tecido ósseo e adiposo.
Algumas dessas substâncias não são biotransformadas, mas outras passam por biotransformação hepática, o
que pode gerar metabólitos ativos ou inativos (atóxicos), excretados pela urina, pelas fezes, pelo suor e/ou
pelo ar expirado.
Etapas toxicocinéticas.
Agora vamos entender melhor cada etapa separadamente: absorção, biodistribuição, biotransformação e
excreção.
Absorção
Em geral, os efeitos nocivos dos agentes tóxicos ocorrem quando a velocidade de absorção é maior do que a
de excreção, resultando em um aumento da disponibilidade da substância no organismo. Isso, por sua vez,
amplia o potencial de interação da substância com seus alvos moleculares e, portanto, a produção de seus
efeitos.
A absorção dos agentes tóxicos ocorre de forma semelhante à dos fármacos e é influenciada pelos mesmos
fatores, inclusive sofrendo os efeitos de primeira passagem quando absorvidos pelo trato gastrointestinal. Um
ponto de atenção em relação aos toxicantes absorvidos por esse trato é a possível ocorrência do ciclo êntero-
hepático, o qual prolonga sua meia vida plasmática, aumentando sua toxicidade.
Ciclo êntero-hepático
Ocorre quando metabólitos biotransformados por conjugação com ácido glicurônico sofrem hidrólise por
uma enzima produzida pela microbiota intestinal, tornando-os absorvíveis pela mucosa intestinal e
aumentando seu tempo de eliminação.
Já quando a exposição é via pulmonar, os agentes tóxicos são rapidamente absorvidos por difusão passiva
devido a alguns fatores. Vamos conhecê-los:
Nesse caso, agentes tóxicos compostos por partículas finas, que não são filtradas nas vias aéreas craniais,
chegam com mais facilidade aos alvéolos, assim como os agentes insolúveis não são absorvidos e se
depositam nos pulmões, prejudicando suas funções.
A absorção de substâncias tóxicas através da pele depende da sua espessura e vascularização. Quanto mais
fina for a espessura do estrato córneo e quanto mais vascularizada a região, maior será a absorção de
toxicantes lipossolúveis por difusão passiva.
Biodistribuição
É a saída do toxicante da corrente sanguínea para os tecidos orgânicos, sendo um processo que ocorre
quando ele está livre no plasma e é capaz de atravessar as membranas das células endoteliais dos capilares
por difusão simples ou de penetrar pelos poros localizados nas paredes desses vasos.
Atenção
Os órgãos com maior fluxo sanguíneo apresentam as maiores concentrações do agente tóxico. Com o
passar do tempo, o agente tende a se acumular em tecidos-alvo ou em tecidos de depósito. Isso quer
dizer que, em tecidos mais vascularizados, a velocidade de distribuição é maior do que em tecidos
menos vascularizados, mas a afinidade do agente tóxico pelo tecido também influencia nesse tempo.
Uma vez que o toxicante deixa os vasos sanguíneos, ele permanece dissolvido nos líquidos intra e
extracelular, portanto, sua concentração plasmática diminui e a tecidual aumenta. A biodistribuição de um
agente tóxico pode ser medida a partir do cálculo do volume de distribuição do agente. Isso implica a divisão
da quantidade de substância tóxica à qual o indivíduo foi exposto pela sua concentração plasmática.
Então, podemos dizer que, quanto maior o volume de distribuição de um agente tóxico, menor será sua
concentração plasmática e, portanto, maior será a sua penetração nos tecidos orgânicos. Isso depende de
fatores como:
• A hidro ou lipossolubilidade
• A capacidade de ligação a proteínas plasmáticas ou teciduais
O tecido adiposo é um dos principais tecidos de depósitos de agentes tóxicos lipossolúveis, o que permite
que essas substâncias permaneçam no organismo por mais tempo e sejam liberadas lentamente para a
corrente sanguínea, mesmo após a exposição ter cessado.
Em períodos de jejum ou perda de peso, quando o organismo recorre a essas reservas de gordura para
obtenção de energia, ocorre liberação das substâncias tóxicas armazenadas para a corrente sanguínea,
podendo provocar novamente os efeitos tóxicos.
Biotransformação
Ocorre de forma semelhante à de fármacos, sendo realizada principalmente no fígado e incluindo as reações
de fase I e II. Um aspecto crítico ao considerar agentes tóxicos é que esse processo pode produzir
metabólitos ativos, por vezes, mais tóxicos que o agente inicial. Entenda melhor!
Bioativação Detoxificação
Excreção
A excreção dos agentes tóxicos também é similar a dos fármacos e ocorre principalmente pelos rins e pelo
fígado, de modo que seus metabólitos são eliminados pela urina ou pelas fezes.
Alguns metabólitos de agentes tóxicos são também excretados pelo leite; portanto, podem provocar
intoxicação em lactentes e em humanos, caso o produto seja destinado ao consumo por essa espécie.
Atenção
Tanto a excreção de agentes tóxicos ou de seus metabólitos pelo leite quanto a formação de depósitos
em determinados tecidos orgânicos destinados ao consumo humano podem provocar danos à saúde das
pessoas.
Por isso, foram estabelecidos limites máximos de resíduos (LMR), ou seja, a concentração máxima de agentes
tóxicos permitida em produtos de origem animal que não causam danos à saúde humana. Além disso, também
foram estabelecidos períodos de carência, ou seja, o período mínimo após a exposição que é necessário para
que as concentrações do agente tóxico ou de seus metabólitos nos tecidos animais alcancem o LMR. Esse
período está relacionado à meia-vida do toxicante!
Toxicodinâmica
É o campo de estudo da toxicologia que investiga os mecanismos desencadeadores de uma série de eventos
bioquímicos que promovem efeitos nocivos dos agentes tóxicos no organismo.
Inespecífico Específico
Inespecífico
Representa o mecanismo de ação de agentes tóxicos que agem rapidamente e indistintamente sobre qualquer
tecido orgânico, mas principalmente sobre a pele, os olhos, o trato respiratório cranial e a cavidade oral,
promovendo irritação, corrosão e morte celular. São eles:
• Ácidos
• Bases
• Fenóis
• Aldeídos
• Álcoois
• Destilados de petróleo
• Etilenoglicol
• Metanol
• Sais de metais
• Detergentes e solventes
Específico
A maior parte dos agentes toxicantes possui esse mecanismo de ação, isto é, age de forma específica,
podendo atuar sobre determinadas enzimas. Vamos conferir!
Carbamatos e organofosforados
Cianeto
Inibe a enzima citocromo C-oxidase, que participa da respiração celular, levando ao déficit de energia.
Chumbo
Inibe a enzima glutationa peroxidase, responsável pela eliminação de espécies reativas do oxigênio
geradas durante o metabolismo celular, o que leva ao estresse oxidativo das células.
Outro mecanismo específico está relacionado com a atuação sobre moléculas transportadoras. Vejamos!
Cocaína
A atividade catalítica de uma substância química também é um mecanismo específico que pode desencadear
o aparecimento de sinais de intoxicação. Um exemplo é a toxina botulínica, que impede a liberação de
acetilcolina em neurônios colinérgicos, resultando em paralisia da musculatura esquelética.
Conhecer a toxicodinâmica dos diferentes agentes toxicantes é importante tanto para identificar os sinais
clínicos associados aos quadros de intoxicação quanto para determinar o tratamento adequado.
Toxicocinética e toxicodinâmica
Neste vídeo, falaremos sobre os principais conceitos relacionados à toxicocinética e à toxicodinâmica.
Acompanhe!
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Diagnóstico de intoxicações
O correto diagnóstico de intoxicação é
essencial para garantir o tratamento adequado
do paciente na tentativa de evitar a ocorrência
de lesões mais graves, sequelas e óbito.
A próxima etapa consiste em observar os sinais clínicos do paciente, incluindo quando iniciaram e com que
velocidade evoluíram. Essa é uma etapa difícil porque intoxicações por diferentes agentes levam a sinais
clínicos parecidos.
Além disso, esses sinais podem ser confundidos por alguns outros provocados por enfermidades infecciosas,
parasitárias, metabólicas e endócrinas, devendo-se realizar o diagnóstico diferencial sempre que for o caso.
Quando ocorre morte súbita ou quando não foi possível identificar a causa da intoxicação e ocorreu óbito do
paciente, pode-se realizar a necropsia e os exames histopatológicos post mortem.
Atenção
Em casos de intoxicação, geralmente são observados sinais de gastroenterite e de esteatose hepática,
além de edema pulmonar e de congestão e hemorragia em vários órgãos.
A última etapa consiste na realização da análise toxicológica laboratorial de amostra biológica. Devido à
diversidade de substâncias tóxicas, há uma variedade de testes laboratoriais disponíveis. É recomendado,
portanto, que o médico-veterinário entre em contato com o laboratório e informe suas suspeitas para então
receber orientações específicas sobre o tipo de amostra necessária, bem como sobre os procedimento de
coleta, armazenamento e envio adequados.
• Análise colorimétrica
• Espectrofotometria
• Espectometria de massa
• Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA)
• Radioimunoensaio (RIA)
• Cromatografia de camada delgada, gasosa ou líquida
As amostras do paciente mais comumente utilizadas são sangue, urina, fezes, vômito e pelos. Também podem
ser realizados testes do material suspeito de provocar a intoxicação, como água, alimentos, solo e outros.
Para exames post mortem, são comumente utilizadas amostras de fígado, rins, encéfalo e tecido adiposo,
além de amostras do conteúdo gástrico e intestinal.
Meios para diagnóstico de intoxicações em animais
Neste vídeo, falaremos sobre os principais meios de diagnóstico de intoxicações em animais. Acompanhe!
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Verificando o aprendizado
Questão 1
I. Quanto menor a concentração do intoxicante, maior o risco de gerar efeitos nocivos no organismo.
II. Quanto maior a frequência da exposição, maior a disponibilidade do intoxicante no organismo.
III. Quanto maior a lipossolubilidade do intoxicante, menor o risco de provocar danos ao organismo.
I e II.
II e III.
I e III.
II.
I.
Questão 2
A biotransformação dos agentes tóxicos pode ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico, mas a maioria
das substâncias intoxicantes é biotransformada no fígado. Sobre esse processo, avalie as assertivas a seguir.
I. Apresenta a função principal de eliminar os agentes tóxicos do organismo de forma direta, resultando em
detoxificação.
II. Tem potencial de converter os agentes tóxicos em metabólitos mais reativos, aumentando o potencial de
dano celular.
III. Possui função de neutralizar os agentes tóxicos por meio de reações enzimáticas, promovendo a
detoxificação e a eliminação segura do organismo.
IV. A biotransformação transforma os agentes tóxicos em compostos inertes que se acumulam nos tecidos,
levando à bioativação.
I e II.
II e III.
III e IV.
I e III.
II e IV.
Drogas terapêuticas
As intoxicações por medicamentos podem ocorrer por ingestão acidental, por administração sem prescrição
médica ou por prescrição médica incorreta, e as espécies mais afetadas são os cães e os gatos. Essas
intoxicações estão relacionadas com altas doses, com toxicidade espécie-específica ou com idiossincrasias.
Idiossincrasias
Corresponde a uma predisposição particular que faz com que um indivíduo reaja de maneira não
esperada a um medicamento.
A administração de medicamentos sem prescrição médica é bastante perigosa, pois vários medicamentos são
contraindicados para determinadas espécies por possuírem alta toxicidade específica nesses animais. Vamos
entender melhor o que não é indicado!
Cães
Equinos
Gatos
Coelhos
Vejamos, agora, exemplos de medicamentos tóxicos que comumente causam quadros de intoxicação em
animais não humanos.
Esses metabólitos são tóxicos, e cães e gatos não são capazes de inativá-los por conjugação com a
glutationa, ocorrendo dano oxidativo nas células hepáticas. Isso causa necrose do fígado e formação de
hemoglobina oxidada (metemoglobina), que não transporta oxigênio.
A excreção por via renal complica o quadro para os gatos, uma vez que esse é um processo relativamente
lento nessa espécie.
Incluem:
• Vômitos
• Letargia
• Dispneia
• Icterícia
• Taquicardia
• Edema facial
• Sialorreia
Tratamento
Baseia-se no uso de N-acetilcisteína, que se liga diretamente aos metabólitos, melhorando sua
eliminação e minimizando o dano celular.
Além disso, é um precursor da glutationa, ajuda a eliminar os radicais livres de oxigênio, podendo
reduzir a extensão da metemoglobinemia, aumenta a produção endógena de óxido nítrico e promove
dilatação dos vasos hepáticos, reduzindo a lesão hepática. O prognóstico é reservado.
Em gatos, as intoxicações mais comuns ocorrem por ingestão de ácido acetilsalicílico. Esses anti-inflamatórios
atuam inibindo as ciclo-oxigenases, glicoproteínas que atuam na transformação do ácido araquidônico em
tromboxano e prostaglandinas, o que leva à redução do processo inflamatório.
Contudo, a inibição das ciclo-oxigenases também causa alterações gastrointestinais, hepáticas e renais, além
de promover distúrbios da coagulação por inibir a agregação plaquetária.
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Drogas de abuso
Geralmente, a intoxicação por drogas ilícitas ocorre por ingestão acidental, sendo mais comum em animais de
companhia, principalmente em cães.
Já em animais de produção ocorre mais comumente em equinos, estando relacionada com a dopagem
bioquímica, mais conhecida como doping.
A principal ação do THC está relacionada à interferência no sistema endocanabinoide, que desempenha um
papel crucial na regulação de diversos processos fisiológicos, como a modulação de:
• Dor
• Humor
• Apetite
• Memória
Esse sistema conta com receptores do tipo CB1 no SNC e do tipo CB2 em células do sistema imune e de
outros tecidos periféricos.
Quando o THC se liga aos receptores CB1, ele os ativa e desencadeia uma série de respostas celulares que
diminuem a liberação de noradrenalina, dopamina e glutamato, levando a alguns fatores, como:
Incluem:
• Depressão
• Ataxia
• Midríase
• Desorientação
• Distúrbios comportamentais
• Hiperestesia
• Recumbência
• Estupor
• Tremores musculares
• Convulsão
• Irritação do trato gastrointestinal
• Vômito
• Hipotermia
• Bradicardia
• Vocalização
• Fome compulsiva
Tratamento
Em bovinos, pode ocorrer ingestão acidental da planta seca presente em pastos, e os sinais clínicos da
intoxicação incluem tremores musculares, sialorreia, midríase, incoordenação motora e dificuldade de manter-
se em estação e de caminhar. Isso também pode ocorrer com equinos. Nesse caso, os sinais incluem dispneia,
tremores musculares, hipotermia, sialorreia, sudorese e recumbência.
Tenha muito cuidado, pois a intoxicação por maconha em qualquer espécie pode levar o animal a óbito!
Cocaína
A intoxicação por ingestão acidental de cocaína em cães é mais comum que em gatos, já em equinos atletas a
droga pode ser administrada intencionalmente para fins de doping.
A DL50 para cães varia de 3 a 13 mg/kg e para gatos é de 7,5 mg/kg. Trata-se de uma droga bastante
lipossolúvel e, portanto, facilmente absorvida. Dessa forma, é rapidamente distribuída para os tecidos
orgânicos, sendo capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e alcançar o SNC. Apresenta
biotransformação hepática, e a excreção ocorre pela urina.
A cocaína se liga aos transportadores de dopamina, noradrenalina e serotonina nas sinapses neuronais,
bloqueando a recaptação desses neurotransmissores e levando ao seu acúmulo na fenda sináptica. Esse
processo resulta na estimulação prolongada dos receptores pós-sinápticos, ocorrendo efeitos estimulantes.
Sinais de intoxicação
Incluem:
• Hiperexcitabilidade
• Tremores musculares
• Convulsões
• Midríase
• Sialorreia
• Ataxia
• Taquicardia
• Hipertermia
• Hipertensão
• Vômitos
Tratamento
Liga-se aos receptores de serotonina no cérebro, ativando-os de modo anormal e intenso. Isso desencadeia
uma cascata de eventos bioquímicos que aumenta a atividade neuronal e resulta em mudanças na
comunicação entre os neurônios e na modulação da liberação de neurotransmissores, promovendo
alucinações visuais, distorções de percepção e pensamento desorganizado.
Sinais de intoxicação
Incluem:
• Desorientação
• Midríase
• Vocalização
• Agitação
• Andar compulsivo
• Incapacidade de reconhecer o tutor
• Taquicardia
• Taquipneia
• Ataxia
Tratamento
Anfetaminas
A intoxicação por ingestão acidental de anfetaminas é mais comum em cães. A DL 50 de anfetamina para cães
é de 25 mg/kg.
Atenção
Anfetaminas são compostos lipossolúveis que são rapidamente absorvidos e distribuídos para rins,
fígado e pulmões, sendo capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e chegar ao SNC.
Incluem:
• Midríase
• Hiperatividade
• Inquietação
• Tremores musculares
• Convulsões
• Comportamentos estereotipados repetitivos
• Hipertermia
• Taquicardia
• Hipertensão arterial
• Ataxia
• Hemorragias cerebrovasculares
• Hipoglicemia
• Acidose láctica
• Insuficiência cardíaca
Tratamento
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Verificando o aprendizado
Questão 1
As plantas de Cannabis sp. produzem um grupo de substâncias químicas chamadas canabinoides, que
causam efeitos físicos e mentais quando consumidas por humanos e por outros animais. Nesse sentido, quais
são os sinais clínicos mais comuns da intoxicação por essa planta em cães?
A
Aumento da sede, vômitos e agressividade.
Questão 2
pulmão.
coração.
fígado.
rim.
intestino.
A alternativa C está correta.
A toxicidade do paracetamol em gatos está principalmente associada à incapacidade de inativação dos
metabólitos tóxicos gerados pela biotransformação da droga, o que leva a danos oxidativos nos
hepatócitos e resulta na necrose do fígado.
3. Defensivos agrícolas e domissanitários
Defensivos agrícolas
São produtos químicos, físicos ou biológicos utilizados para a eliminação, redução e/ou controle de pragas e
vetores, sendo também conhecidos como agrotóxicos, pesticidas, praguicidas ou produtos fitossanitários.
Entre os que mais provocam quadros de intoxicação na medicina veterinária estão os organofosforados, os
carbamatos, os piretroides, as avermectinas, as milbemicinas e o amitraz. Confira!
Organofosforados e carbamatos
São comumente utilizados para o controle de roedores, mas também são utilizados em crimes envolvendo a
intoxicação intencional de cães e gatos. Entenda melhor!
Organofosforados Carbamatos
Esses compostos são altamente lipossolúveis, sendo absorvidos pela pele e pelas mucosas. Quando
ingeridos, são absorvidos pela mucosa do trato gastrointestinal e distribuídos para todos os tecidos
orgânicos.
A DL50 para cães está entre 1 e 4 mg/kg. Gatos e animais jovens são mais sensíveis a essas substâncias.
Mecanismo de toxicidade
Tratamento
Piretroides
São compostos lipossolúveis, absorvidos por via dérmica, oral ou respiratória. São rapidamente
biotransformados pelo fígado e distribuídos pelos tecidos orgânicos, sendo excretados pela urina e pela bile.
Como exemplo de piretroides, temos:
• Cipermetrina
• Deltametrina
• Permetrina
A DL50 de piretroides para gatos, que são mais sensíveis à substância do que cães, é de 100 mg/kg, por isso
os produtos destinados ao uso em gatos são menos concentrados do que aqueles destinados para uso em
cães.
Mecanismo de toxicidade
Envolve a interação com canais de sódio presentes nos axônios dos neurônios, prolongando ou
impedindo seu fechamento após a transmissão do impulso nervoso. Isso faz com que ocorra um
influxo excessivo de íons sódio, diminuindo o potencial de ação e gerando impulsos nervosos
repetitivos. Além disso, esses compostos têm o potencial de antagonizar o ácido gama-aminobutírico
(GABA), um neurotransmissor que diminui a atividade do SNC.
Sinais clínicos
Tipo I (como a cipermetrina e a permetrina): possui a ausência de um grupo ciano ligado ao carbono
alfa da molécula. Ocorre a síndrome T, que se caracteriza por tremores musculares.
Tipo II (como a deltametrina): possui a presença de um grupo ciano ligado ao carbono alfa da
molécula. Ocorre a síndrome CS (coreoatetose e salivação), na qual aparecem movimentos
involuntários, variações do tônus muscular e sialorreia.
Efeitos excitatórios, com hipertermia, anorexia, ataxia, vômitos, convulsões e dispneia, são
observados em ambos os casos. Como a intensidade da interação com os canais de sódio é maior
nos que possuem o grupo ciano, os do tipo II são mais tóxicos do que os do tipo I.
Tratamento
Avermectinas Milbemicinas
Esses compostos são capazes de atravessar a barreira transmamária, mas em algumas raças (collie, pastor de
Shetland, old english sheepdog, pastor australiano, McNab, whippet, silken windhound e pastor suíço) são
também capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. A DL 50 para a maioria dos cães é de 2,5 mg/kg,
mas para essas raças é de 0,1 mg/kg.
O que torna essas raças mais sensíveis à toxicidade das avermectinas e milbemicinas é uma mutação no gene
MDR1, que leva a uma síntese anormal da glicoproteína-P. Como essa proteína é responsável pelo transporte
de algumas substâncias em diversos tecidos, inclusive através da barreira hematoencefálica, sua
característica afuncional permite a passagem de compostos que normalmente não passariam por ela.
Mecanismo de toxicidade
Envolve sua ação agonista do GABA no SNC, resultando na depressão da atividade encefálica.
Sinais clínicos
Incluem:
• Ataxia
• Desorientação
• Midríase
• Sialorreia
• Convulsão
• Diminuição do reflexo pupilar
• Hipotermia
• Bradicardia
• Coma e morte
• Ataxia
• Desorientação
• Midríase
• Sialorreia
• Convulsão
• Diminuição do reflexo pupilar
• Hipotermia
• Bradicardia
• Coma e morte
Tratamento
Fipronil
Tem a mesma toxicocinética e toxicodinâmica que as avermectinas e milbemicinas, mas a DL 50 é 640 mg/kg,
sendo mais seguro.
Sinais clínicos
Intoxicação crônica: podem levar à diminuição no tamanho e peso da prole, redução de sua
sobrevivência e atraso no seu desenvolvimento.
Tratamento
Amitraz
Pode ser absorvido pela pele e pelas mucosas,
incluindo a do trato gastrointestinal em caso de
ingestão. É distribuído para vários tecidos
orgânicos, sendo biotransformado por via
hepática e excretado pela urina e pela bile.
Mecanismos de toxicidade
Envolve a atuação do amitraz como agonista α2-adrenérgico, inibidor da monoamino oxidase (MAO –
enzima que participa da regulação da degradação metabólica de catecolaminas e serotonina), inibidor
da síntese de prostaglandinas e indutor da hiperglicemia.
Sinais clínicos
Incluem:
• Miose
• Ataxia
• Depressão
• Hipotermia
• Dispneia
• Prostração
• Perda dos reflexos
• Mucosas hipocoradas
• Fraqueza
• Vômito
• Diarreia
• Dor abdominal
• Hipomotilidade intestinal
• Poliúria
• Bradicardia
• Hipotensão
• Convulsão
• Prurido
• Eritema
• Hemorragia, em caso de exposição dérmica
Tratamento
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Domissanitários
São produtos químicos utilizados para higienizar, desinfetar e desodorizar ambientes residenciais, comerciais
e industriais. Fazem parte desse grupo os sabonetes, sabões, detergentes, antissépticos, desinfetantes,
anticongelantes, solventes e as tintas. Vamos conhecer mais detalhes!
Sabonetes e sabões
Alguns sabonetes e sabões em pedra contêm ingredientes químicos que podem ser irritantes para o sistema
gastrointestinal caso ingeridos, causando vômitos, diarreia e desconforto abdominal.
Detergentes aniônicos
Têm efeito cáustico provocado pela alcalinidade elevada, principalmente os utilizados em máquinas de lavar
louça. A ingestão desses produtos provoca o aparecimento dos mesmos sintomas que a ingestão de
sabonetes e sabões, porém são mais intensos.
Detergentes catiônicos
São altamente tóxicos. Eles podem gerar quadros de intoxicação tanto pela ingestão quanto pelo contato com
pele ou mucosas. Vejamos alguns sinais de intoxicação!
Sinais sistêmicos
• Sialorreia
• Hematêmese
• Fraqueza muscular
• Depressão
• Convulsões
• Choque
Sinais locais
• Alopecia
• Ulceração em pele e mucosas
No caso de contato com os olhos, essas substâncias podem provocar o aparecimento de úlcera de córnea.
Desinfetantes
Os fenóis, como a creolina, são capazes de desnaturar proteínas, sendo absorvidos pela pele, mucosa
respiratória e gastrointestinal. Nesses locais, determinam o aparecimento de lesões pela destruição celular
seguidas por insensibilidade local pela destruição de terminações nervosas.
São biotransformados no fígado pela conjugação com ácido glicurônico, o que torna os gatos mais sensíveis.
Seus sinais se dividem em dois tipos de intoxicação:
Crônica
Aguda
Ocorrem tremores musculares,
Por ingestão de compostos fenólicos,
arritmias cardíacas,
incluindo vômitos, sialorreia, ataxia e
metemoglobinemia, convulsão e
fraqueza muscular.
coma.
• Quando seus vapores são inalados, podem ocorrer espasmo de laringe e edema pulmonar.
• Quando em contato com a pele, provoca o aparecimento de dermatite.
• Quando ingerida, promove necrose da mucosa gastrointestinal, com vômito, diarreia, coma e
morte.
A exemplo da água sanitária, são tóxicos devido à ação oxidante do cloro, que leva à destruição de
células da pele e das mucosas. Em meio ácido formam o ácido hipocloroso, que é capaz de penetrar
mais intensamente nas mucosas.
Quando ingeridos, causam:
• Disfagia
• Sialorreia
• Vômitos com ou sem sangue
• Hipotensão
• Choque
São capazes de precipitar proteínas. Como exemplo temos a iodopovidona. Ao serem ingeridos,
causam:
O uso de soluções muito concentradas de iodo sobre a pele promove o aparecimento local de lesões
vesiculares.
Etilenoglicol
A biotransformação hepática dessa substância leva à formação de ácido glicólico, responsável por
promover acidose metabólica. Além disso, a biotransformação do ácido glicólico em ácido glicoxílico
resulta na formação de ácido oxálico, que se combina com o cálcio, formando o oxalato de cálcio, e
de ácido hipúrico, que forma cristais.
Tanto o oxalato de cálcio quanto os cristais de ácido hipúrico se depositam em capilares sanguíneos
nos rins.
Os sinais clínicos iniciam com depressão moderada, poliúria, polidipsia, ataxia e comportamento
agressivo, seguidos por taquipneia, hipotermia, miose, edema cerebral, arritmias cardíacas, edema
pulmonar, pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva e choque, terminando com falência renal,
uremia, aumento da acidose metabólica e morte.
Destilados de petróleo
São substâncias químicas encontradas em solventes, tintas e gasolina. Esses compostos são capazes
de dissolver lipídeos, sendo extremamente tóxicos.
• Dermatite grave
• Necrose
• Vômitos
• Diarreia
• Ataxia
• Sonolência
• Coma
• Tosse
• Dispneia
• Cianose
• Febre
• Edema pulmonar
• Morte
O tratamento das intoxicações por domissanitários é apenas sintomático, e o prognóstico varia de favorável a
desfavorável, em função do tipo e da quantidade do produto ao qual o paciente foi exposto, assim como da
via de exposição e de suas características individuais.
Todos esses produtos devem ser armazenados em locais de difícil acesso pelos animais. Do mesmo modo,
durante o uso, os animais devem ser retirados do local de aplicação.
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Verificando o aprendizado
Questão 1
Um fazendeiro comprou amitraz para tratar suas plantações e controlar pragas. No entanto, após aplicar o
composto em suas plantações, ele começou a notar que alguns animais do rebanho apresentaram sinais de
intoxicação aguda. Qual dos seguintes sinais clínicos é mais provável que o fazendeiro tenha notado?
Hipertensão arterial
Taquicardia
Pupilas mióticas
Hiperatividade
Hipertermia
Questão 2
O cresol é um fenol obtido a partir do óleo do alcatrão do carvão negro (também chamado de hulha), sendo
utilizado para a produção de desinfetantes e de outros produtos industrializados. Esse composto provoca
quadros de intoxicação em animais, e o principal sistema afetado nesses casos é o
A
respiratório.
cardiovascular.
nervoso central.
digestório.
urinário.
Escherichia coli
• Toxina Shiga atua inibindo a síntese de proteínas nas células endoteliais, o que leva à morte
celular. A ingestão dessa toxina provoca a síndrome hemolítico-urêmica, que pode causar
danos renais, anemia hemolítica, trombocitopenia e morte.
• Toxina de aderência difusa é produzida pela cepa enterotoxigênica. É capaz de aumentar a
secreção de fluidos e íons no intestino, levando à diarreia aquosa. A ingestão dessa toxina é
responsável por casos de diarreia do viajante, causando desconforto gastrointestinal
significativo.
Staphylococcus aureus
• Toxina estafilocócica produz sintomas como náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarreia.
• Toxina da síndrome do choque tóxico age como um superantígeno, estimulando uma resposta
imunológica intensa e desproporcional, o que causa sintomas como febre alta, erupções
cutâneas, hipotensão, insuficiência de múltiplos órgãos e, em casos graves, morte.
• Exfoliatina decompõe as proteínas que mantêm as camadas superficiais da pele unidas,
levando à formação de bolhas e descamação da pele semelhante a queimaduras, quadro
conhecido como síndrome da pele escaldada estafilocócica.
• Leucocidina de Panton-Valentine é uma citolisina que lisa leucócitos, podendo causar na pele e
nos tecidos moles infecções graves, como abscessos cutâneos, furúnculos e celulite.
Clostridium perfringens
A ação de todas essas toxinas pode resultar em danos teciduais graves, necrose e inflamação.
Clostridium botulinum
Produz a toxina botulínica, uma neurotoxina que atua inibindo a liberação de acetilcolina nas junções
neuromusculares, o que resulta em paralisia muscular flácida, podendo levar à morte. A ingestão de
alimentos contaminados com a toxina botulínica provoca fraqueza muscular, visão turva,
ressecamento de mucosas, disfagia e parada respiratória.
Vibrio cholerae
Produz a toxina colérica, que promove a secreção excessiva de íons de sódio e bicarbonato pelos
enterócitos, fazendo com que haja intensa saída de água e cloreto das células para a luz intestinal.
Isso resulta em diarreia aquosa profusa, inflamação local e desidratação severa, o que pode levar à
morte.
Bacillus cereus
É capaz de produzir a cereulida, uma toxina emética que induz a ocorrência de vômitos agudos, além
de náuseas e diarreia leve. Essa bactéria também é capaz de produzir enterotoxinas, que são toxinas
diarreicas que afetam o trato gastrointestinal, provocando a ocorrência de diarreia aquosa, cólicas
abdominais e náuseas.
Agora, vejamos os principais fungos que produzem toxinas responsáveis pela contaminação de alimentos.
Fusarium spp.
São capazes de produzir o deoxinivalenol e a zearalenona (toxinas que afetam o sistema endócrino
causando o estrogenismo).
Penicillium spp. e Aspergillus ochraceus
Alternaria spp.
Claviceps purpurea
Produzem a toxina ergotamina, responsável pelos graves quadros de envenenamento por ergotismo.
Das toxinas apresentadas, as principais que contaminam grãos e causam intoxicações em animais de
produção são:
• Aflatoxinas
• Zearalenona
• Ocratoxina A
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Toxinas vegetais
As toxinas produzidas por plantas são também chamadas de fitotoxinas, e as intoxicações com essas
substâncias ocorrem principalmente por:
Conhecida popularmente como cartucheira, saia branca ou trombeta, é uma planta ornamental que contém
em suas flores, folhas e sementes alcaloides tropanos, como a atropina e a escopolamina.
Sinais clínicos
São plantas ornamentais que contêm glicosídeos cardiotóxicos, como a andrometatoxina na azaleia e a
oleandrina na espirradeira. Esses glicosídeos inibem a bomba de Na⁺/K⁺-ATPase, diminuindo a condutividade
elétrica cardíaca.
Sinais clínicos
Incluem:
• Bradicardia
• Fibrilação atrial ou ventricular
• Anorexia
• Tenesmo
• Diarreia
• Dor abdominal
• Náuseas
• Vômito
• Sialorreia
• Lacrimejamento
• Depressão
• Hipotensão
• Dispneia
• Hipotermia
• Fraqueza muscular
• Convulsão
• Estupor
• Coma
É uma planta ornamental que contém em suas flores um glicosídeo cianogênico tóxico.
Sinais clínicos
Provoca:
• Cianose
• Dispneia
• Vômitos
• Cólica
• Diarreia
• Convulsões
• Coma
É outra planta ornamental que pode causar quadros de intoxicação, que contém em suas folhas, raízes e
sementes um glicosídeo e um ácido alfa-amino-beta-etilamino-propiônico (BMAA).
Sinais clinicos
• Vômito
• Diarreia
• Dor abdominal
• Polidipsia
• Tremores musculares
• Ataxia
• Convulsão
• Coma
Euphorbia pulcherrima (bico de papagaio) e a Euphorbia milii
(coroa-de-cristo)
Também são plantas ornamentais que provocam intoxicação pela presença de um látex irritante composto por
ésteres de diterpeno (bico de papagaio) ou por flavonoides e triterpenos (coroa-de-cristo).
Sinais clínicos
• Pústulas
• Prurido intenso
• Úlceras de córnea
• Ceratite ou conjuntivite
Quando ingeridas:
• Náuseas
• Vômito
• Gastroenterite
• Sialorreia
• Edema de língua
Todas elas possuem cristais de oxalato de cálcio, que podem causar intoxicações.
Sinais clínicos
• Disfagia
• Náuseas
• Vômito
• Diarreia
• Estomatite
• Gastroenterite
• Sialorreia
• Glossite
• Dermatite
• Queimaduras com erupções bolhosas
• Edema de faringe
• Dispneia
• Depressão
• Fraqueza muscular
É uma planta ornamental que possui saponinas e quinonas em suas folhas, caules e flores.
Sinais clínicos
• Vômito
• Diarreia
• Anorexia
• Glossite
• Sialorreia
• Dispneia
• Convulsão
• Torpor
• Convulsão
• Edema cerebral
• Coma
• Náuseas
• Vômito
• Diarreia sanguinolenta
• Gastroenterite hemorrágica
• Dor abdominal
É uma das plantas tóxicas mais importantes do país, causando intoxicação principalmente em ruminantes.
Sinais clínicos
A presença de ácido monofluoracético em suas folhas interrompe a fase inicial do ciclo de Krebs,
provocando, quando ingerido:
• Apatia
• Anorexia
• Relutância em se manter em estação
• Taquipneia
• Taquicardia
• Opistótono
• Nistagmo
• Movimentos de pedalagem
• Vocalização
• Dificuldade de locomoção
• Polaciúria
• Tremores musculares
• Morte (que pode ser súbita)
É outra planta tóxica para ruminantes e equinos. Sua toxicidade decorre da ação do ptaquilosídeo, uma
substância com efeitos radiomiméticos e carcinogênicos.
Sinais clínicos
Ao ser ingerida, essa substância provoca hematúria enzoótica, que corresponde à formação de lesões
hemorrágicas, inflamatórias e hiperplásicas na mucosa da vesícula urinária com hematúria, podendo
evoluir para neoplasias malignas.
Ocorre também:
• Rouquidão
• Disfagia
• Tosse
• Isolamento
• Letargia
• Timpanismo
• Halitose
• Hemorragia
• Ulcerações nas mucosas
• Emagrecimento progressivo
Tem suas folhas e frutos tóxicos quando verdes, pois eles contêm triterpenos que causam lesão grave do
parênquima hepático e obstrução dos ductos biliares.
Sinais clínicos
• Fotossensibilização das regiões despigmentadas da pele com posterior necrose das áreas
• Anorexia
• Inquietação
• Icterícia
• Escurecimento da urina
• Morte dos animais
Contém em suas folhas ácido monofluoracético, que interrompe a fase inicial do ciclo de Krebs.
Sinais clínicos
• Relutância em se levantar
• Andar rígido
• Tremores musculares
• Polaciúria
• Movimentos de pedalagem
• Vocalização
• Morte
Cestrum nocturnum (dama-da-noite)
Sinais clínicos
• Anorexia
• Náuseas
• Vômitos
• Parada ruminal
• Dorso arqueado
• Distúrbios comportamentais
• Midríase
• Ressecamento de mucosas
• Ranger de dentes
• Movimentos de pedalagem
Sinais clínicos
• Náuseas
• Vômito
• Dor abdominal
• Diarreia
• Sialorreia
• Miose
• Ataxia
• Dispneia
• Tremores musculares
• Convulsão
• Coma
Sinais clínicos
• Diarreia
• Vômito
• Hemorragias
Cymbopogon nardus (citronela)
Sinais clínicos
• Diarreia
• Dispneia
• Dermatite de contato
Também é um fitoterápico. Pode causar intoxicações, principalmente em gatos, pois sua formulação em óleo
pode ser absorvida através da pele.
Sinais clínicos
A intoxicação ocorre porque essa planta contém várias substâncias, como o cineol e o terpinol, que
provocam:
• Irritação local
• Desidratação
• Hipotermia
• Ataxia
• Tremores musculares
• Coma
• Falência hepática
Contém nepetalactona.
Sinais clínicos
• Euforia
• Excitação
• Vocalização
Em fêmeas gestantes, essa planta pode induzir o parto e/ou provocar abortos.
Potpourri
Potpourri .
É um desodorizador de ambiente, composto por uma mistura de óleos essenciais, que são detergentes
catiônicos.
Sinais clínicos
Quando ingeridos, esses detergentes têm ação corrosiva sobre as mucosas e podem causar:
• Sialorreia
• Depressão
• Hipotensão
Além disso, também podem causar dermatite e úlcera de córnea caso em contato com pele e olhos,
respectivamente.
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Toxinas animais
São também chamadas de zootoxinas, sendo os acidentes mais comuns aqueles causados por himenópteros,
aranhas, escorpiões, sapos e ofídios. Vamos entender melhor!
Aminas vasoativas
Fosfolipase A2
É sinergista da melitina.
Hialuronidase
Apamina
É neurotóxica.
Fosfatase ácida
A peçonha de vespas e marimbondos possui composição similar, mas a melitina e a apamina são substituídas
por:
Cininas Antígeno 5
• Dor
• Prurido
• Urticária
• Eritema
• Edema
• Febre
• Paralisia facial
• Ataxia
• Tremores musculares
• Convulsões
• Hemoglobinúria
• Hematoquezia
• Hematêmese
• Falência renal
Tratamento
Sapos venenosos
São animais que produzem toxinas por meio de
suas glândulas paratoides. A DL50 desse
veneno é de 1 mg/kg.
Os derivados esteroides inibem a bomba de Na⁺/K⁺-ATPase nas células do miocárdio, enquanto a bufotenina
possui ação ocitócica e vasoconstritora, além de atuar no SNC, provocando alucinações.
Sinais clínicos
Incluem:
• Sialorreia
• Vômitos
• Depressão
• Fraqueza
• Ataxia com andar em círculos
• Bradicardia
• Decúbito esternal
• Pupilas irresponsivas
• Convulsão
• Edema pulmonar
• Cianose
• Morte
Tratamento
Aranhas
As que mais provocam intoxicações em animais são a Loxosceles sp. (aranha marrom) e Phoneutria sp.
(aranha armadeira). Apesar de Latrodectus sp. (viúva negra) também ser peçonhenta, os acidentes com
animais não humanos são raros.
• Hialuronidase
• Lipase
• Esterases
• Proteases
• Esfingomielinase D
Esse último componente é uma proteína que exerce quimiotaxia para neutrófilos, fazendo com que eles
migrem para o local da inoculação da toxina. Isso promove agregação plaquetária e resulta em coagulação
intravascular ao redor da lesão, provocando necrose da pele na região.
Sinais clínicos
• Edema
• Dor local
Além de:
• Febre
• Equimose
• Formação de vesículas
• Anemia hemolítica
• Icterícia
• Oligúria
• Hemoglobinúria
• Anúria
• Insuficiência renal aguda
• PhTx1
• PhTx2
• PhTx3
Esses elementos ativam os canais de Na+ de forma prolongada, gerando despolarização de neurônios e
liberação de catecolaminas.
Sinais clínicos
Podendo ocorrer:
• Vômitos
• Sialorreia
• Hipotensão
• Hematoquezia
• Bradicardia
• Edema pulmonar
• Priapismo
• Midríase
• Tremores musculares
• Convulsão
• Choque
• Coma
Tratamento
Infelizmente o soro antiaracnídico tem indicação apenas para uso humano e, portanto, o tratamento é
sintomático e de suporte, com prognóstico reservado.
Escorpiões
Toxina composta por:
• Proteínas
• Aminoácidos
• Sais
• Neurotoxina
A neurotoxina atua sobre os canais de Na+ de forma prolongada, gerando despolarização de neurônios e
liberação de catecolaminas e de acetilcolina.
Sinais clínicos
Incluem:
Tratamento
Serpentes
Por fim, existem as toxinas produzidas por serpentes peçonhentas, como a Bothrops sp. (jararaca), a Crotalus
sp.(cascavel) e a Micrurus sp. (cobra coral). Os acidentes com Lachesis sp. (surucucu) são raros.
Jararacas
Peçonha composta por:
• Proteínas
• Carboidratos
• Lipídios
• Metaloproteinases (causam isquemia)
• Aminas biogênicas
• Hialuronidase (facilitam a absorção das toxinas)
Além disso, ocorre inflamação aguda no local da inoculação (dor, eritema e edema), agravada pela
ação da citolisina, que promove o aparecimento de vesículas e posterior necrose tecidual (facilitada
pela ação das metaloproteases). Além disso, a lesão endotelial promovida pela hemorragina pode
levar a um quadro de insuficiência renal aguda.
Cascavéis
Peçonha composta por:
• Enzimas
• Proteínas
• Crotoxinas A e B
• Crotamina
• Giroxina
• Convulxina
Sinais clínicos
Incluem:
• Prostração
• Parestesias
• Tremores musculares
• Oftalmoplegia
• Midríase
• Ptose palpebral
• Ptialismo
• Incoordenação motora
• Hematúria
• Mialgia
• Insuficiência renal aguda
• Hepatopatia
• Coagulação intravascular disseminada
Tratamento
O tratamento dos acidentes ofídicos botrópicos e crotálicos deve ser realizado com a administração
intravenosa de soro antiofídico de uso veterinário. Também deve ser mantido tratamento sintomático
e de suporte, sendo o prognóstico desfavorável.
O soro antiofídico apenas impede a progressão das lesões orgânicas por inativar as frações circulantes da
peçonha, no entanto, é incapaz de reverter as lesões já estabelecidas. Por isso, sua administração deve ser
realizada o mais rapidamente possível para que os danos à saúde do paciente sejam reduzidos.
Cobras corais
Peçonha composta por:
• Proteínas
• Carboidratos
• Aminoácidos
• Aminas biogênicas
• Metaloproteinases
• Neurotoxina pré-sináptica e neurotoxina pós-sináptica
Sinais clínicos
Incluem:
• Vômitos
• Sialorreia
• Depressão
• Quadriplegia
• Paralisia flácida dos membros (mais comum em gatos)
• Depressão e paralisia respiratória
• Anisocoria (mais comum em gatos)
• Hemólise
• Coagulação intravascular disseminada
• Hemoglobinúria
• Hematoquezia
• Hipotensão
• Taquicardia
• Dispneia
Tratamento
O soro antiofídico de uso veterinário não tem ação sobre a peçonha de cobras corais, portanto, o
tratamento é sintomático e de suporte, sendo o prognóstico desfavorável.
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Verificando o aprendizado
Questão 1
Um criador de gado de corte observou que um animal de seu rebanho apresentava edema no membro pélvico
esquerdo, com dor intensa e presença de vesículas. Além disso, notou que o bovino apresentava
sangramentos na gengiva e no nariz. Suspeitando de um acidente ofídico, qual das seguintes opções
representa o grupo mais provável de serpentes responsável por esses sinais clínicos?
Surucucus
Corais verdadeiras
Cascavéis
Najas
Jararacas
Um morador de uma área rural observou que seu gato apresentava sintomas incomuns após ter acesso a uma
planta ornamental de beleza exótica, conhecida como trombeta-dos-anjos ( Brugmansia suaveolens). O gato
apresentou um quadro de agitação, vômitos, taquicardia e polidipsia. Qual substância tóxica presente nessa
planta é responsável pelos sintomas observados pelo tutor?
Atropina
Trierpenos
Andrometatoxina
Oleandrina
Diterpeno
Considerações finais
Neste conteúdo, vimos que a toxicologia veterinária é uma ciência de grande importância na proteção da
saúde animal e humana. Seus estudos permitem identificar e compreender os efeitos tóxicos de substâncias
em animais não humanos, possibilitando intervenções médicas adequadas e prevenção de intoxicações. Além
disso, contribui para a segurança alimentar ao estabelecer limites seguros de exposição, bem como é
essencial para a conservação da vida selvagem e a saúde ambiental.
Com o contínuo avanço da pesquisa nessa área, podemos esperar melhores práticas de manejo, proteção
ambiental e cuidados médico-veterinários, garantindo um futuro mais saudável para todos os animais,
incluindo os seres humanos.
Explore +
Leia o artigo Intoxicação por paracetamol em felinos, de Yasmin Cunha dos Santos e colaboradores, que
mostra a gravidade desse tipo de intoxicação, publicado em 2016 nos anais do II Congresso de Ensino e
Graduação da Universidade Federal de Pelotas.
Para saber mais sobre como reconhecer o correto manejo de cães em casos de intoxicação por maconha, leia
o artigo Intoxicação de cães domésticos por Cannabis sativa: Revisão, de Udson Rangel Ribeiro e Priscila
Natália Pinto, publicado em 2023 na revista PUBVET.
Aprenda mais sobre as intoxicações por inseticidas com os artigos Intoxicações causadas por pesticidas em
cães e gatos. Parte I: organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretroides e Intoxicações causadas
por pesticidas em cães e gatos. Parte II: amitraz, estricnina, fluoracetado de sódio e fluoracetamida,
rodenticidas anticoagulantes e avermectinas, de Marília Martins Melo e colaboradores, publicados em 2002 na
revista MV&Z.
Leia sobre a ocorrência de surtos por biotoxinas em Surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à
ingestão de água contaminada, de Iveraldo S. Dutra e colaboradores, publicado em 2001 na revista Pesquisa
Veterinária Brasileira.
Referências
ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária: consulta rápida. Rio de Janeiro: Roca, 2017.
RIVIERI, J. E.; PAPICH, M. G. Adams Booth: farmacologia e terapêutica veterinária. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2021.
SPINOSA, H. de S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 6. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
SPINOSA, H de S.; GÓRNIAK, S L.; PALERMO-NETO, J. Toxicologia aplicada à medicina veterinária. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2020.
TOXTUTOR: LEARN ESSENTIAL PRINCIPLES OF TOXICOLOGY. O que é toxicocinética? (s. d.). Consultado na
Internet em: 3 set. 2023.