Como Remover Um Presidente Rafael Mafei - 240317 - 153736
Como Remover Um Presidente Rafael Mafei - 240317 - 153736
Como Remover Um Presidente Rafael Mafei - 240317 - 153736
Capa
Folha de rosto
Sumário
Dedicatória
Epígrafe
Introdução: A era das presidências interrompidas
são aqueles que procedem da má conduta de homens públicos ou, em outras palavras, do abuso ou
violação de alguma confiança pública. Sua natureza pode ser denominada política, uma vez que eles se
relacionam principalmente com prejuízos causados diretamente à própria sociedade.1
O tribunal e as penas
Qual autoridade seria capaz de julgar o presidente em um processo tão
sensível quanto um impeachment? Uma fundamentada resposta a essa dúvida
foi apresentada por Alexander Hamilton no ensaio de número 65 de O
Federalista:86 só o Senado poderia cumprir a importante missão. A Suprema
Corte, lembrava ele, era um órgão muito pequeno (à época composto de
apenas seis julgadores), e não seria difícil para um homem poderoso como o
presidente usar sua influência e cooptar dois ou três magistrados em seu favor.
Os ministros da Suprema Corte, além disso, eram indicados pela própria
presidência, o que poderia torná-los parciais em favor do homem a quem
deviam seu prestigioso cargo. Finalmente, as mesmas condutas que levavam
um presidente ao impeachment poderiam fazê-lo responder por acusações
criminais; nesse caso, o Judiciário precisaria estar disponível para julgá-lo
imparcialmente. O único papel da Suprema Corte seria ceder seu presidente
para conduzir as sessões de julgamento dos impeachments, por uma razão
simples: pela Constituição dos Estados Unidos, o Senado é presidido pelo vice-
presidente, a quem não convém qualquer participação no rito do julgamento.
Além de (em geral) correligionário do presidente, o vice é obviamente parte
interessada no desfecho do caso. Já a alternativa de um tribunal ad hoc,
constituído apenas para julgar acusações de impeachment, foi descartada por
ser morosa e cara.87
O Senado parecia a escolha natural para a tarefa. Sua correspondência com
a Câmara dos Lordes inglesa era óbvia e reconhecida pelos próprios
constituintes.88 A opção pelo Senado também espelhava a tradição da Europa
continental, onde assembleias de representação aristocrática historicamente
reuniam funções legislativas e judiciárias para as grandes causas.89 O Senado
foi pensado para ser a casa de composição mais elitista do Legislativo, formado
por homens eleitos pelos deputados estaduais,90 com mandatos mais longos,
de seis anos. Esses fatores levaram os redatores da Constituição dos Estados
Unidos a acreditar que o órgão teria membros mais maduros e serenos,
dotados da necessária prudência para conduzir um julgamento de alta
sensibilidade política, fazendo contraponto a uma eventual acusação
destemperada da Câmara dos Deputados.91
Quanto às consequências da condenação, o modelo inglês apontava para
um caminho que os constituintes dos Estados Unidos relutavam em seguir.
Não lhes parecia adequado que impeachments, muitas vezes influenciados
pelas paixões políticas do dia, pudessem levar a penas criminais severas como
banimento, prisão e morte.92 (O experiente Benjamin Franklin alertava que
querelas políticas não deveriam acabar em assassinatos.93) As colônias, que
também forneciam parâmetros nos quais os membros da Convenção da
Filadélfia se espelhavam, adotavam modelos variados: a Constituição da
Virgínia, de 1776, semelhante ao padrão inglês, mandava que o governador
afastado por impeachment sofresse “as dores e as penas estabelecidas pelas
leis”;94 em outras, porém, a única consequência da condenação era a remoção
do agente público do cargo, deixando eventuais penas corporais para
processos criminais à parte.95 A Constituição dos Estados Unidos optou pela
segunda via, deixando claro que a função do impeachment é proteger
instituições, e não, primariamente, punir o agente público condenado. A
inabilitação para exercer funções públicas seria votada caso a caso, com
duração proporcional à gravidade da conduta.
Por fim, os constituintes optaram por não permitir o afastamento cautelar
do presidente após aprovação da denúncia, rejeitando proposta nesse sentido
feita por Alexander Hamilton.96 Pelo voto de oito estados contra três,97
prevaleceu a posição de James Madison,98 que temia que a suspensão
prematura enfraquecesse em excesso o Poder Executivo. Assim, e ao contrário
do modelo que viria a ser adotado no Brasil, os presidentes dos Estados
Unidos que sofrem impeachment, isto é, são formalmente acusados pela
Câmara, como Andrew Johnson (1868), Bill Clinton (1998) e Donald Trump
(2019 e 2021), não se afastam do cargo para responder ao processo perante o
Senado.99
Tomando conhecimento dos graves acontecimentos que desde ontem se desenrolam no país, e
considerando a situação de fato pelos mesmos criada, [o Congresso Nacional] reconhece a existência
do impedimento previsto no art. 79, §1o, da Constituição Federal, para cuja solução o mesmo
dispositivo prevê o chamamento do vice-presidente no Senado Federal ao exercício da presidência da
República.116
A presidência cesarista
Plano P, de parlamentarismo
Um vice repaginado
E , Itamar Franco fez chegar à imprensa uma carta que
enviou a Collor protestando por não ter sido consultado sobre a reforma
ministerial promovida naquele mês. Foi a época da montagem do chamado
“Ministério dos Notáveis”, um gabinete composto por nomes de peso do
mundo jurídico, político e empresarial, que visava a resgatar a credibilidade do
governo.78 A missiva se dizia uma “carta pessoal reservada”, mas foi parar nos
jornais.79 O vice estava profundamente contrariado porque o e o senador
baiano Antônio Carlos Magalhães, , com quem ele tinha notórias e
figadais desavenças, haviam sido amplamente ouvidos na indicação de
nomes.80 Em protesto, Itamar nem mesmo compareceu à posse dos novos
membros do governo, que chamaria de “vitoriosos do terceiro turno”.81
Poucos dias depois, desfiliou-se do e ficou de pensar com calma sobre seu
futuro. Disse apenas que não iria “em hipótese alguma” para o ou o
.82
A partir de maio de 1992, quando Pedro Collor de Mello lançou a bomba
das relações impróprias entre seu irmão e Farias, Itamar passou a fazer
campanha aberta para construir sua viabilidade como sucessor de Collor. A
essa altura, o vice já havia se tornado um crítico público do governo. A
bombástica entrevista de Pedro ao jovem jornalista Luis Costa Pinto, da revista
Veja,83 em maio de 1992, fez do governo um completo pandemônio. Itamar, ao
contrário de vários ministros, não telefonou para dar sequer uma palavra de
conforto ao presidente.84 O vice passou a ser tão claro quanto podia em suas
demonstrações de que estava pronto para ascender à presidência. Apoiadores
seus fizeram campanha junto a empresários para dissipar sua imagem de
antiquado e estatizante.85
Políticos ainda próximos do presidente tentavam desconstruir a alternativa
Itamar, como , que alegou que o vice não tinha representatividade para
assumir a presidência.86 Em resposta, Itamar expressou a importância do
respeito à Constituição e clamou por uma “união nacional em torno da
legalidade”. Em sua defesa, aliados como o governador do Paraná, Roberto
Requião, do , alegavam que a posse do vice era a única alternativa
constitucionalmente aceitável.87 De sua parte, Itamar reiterava a todo instante
que estava pronto para assumir a presidência em caso de impeachment.88
Quanto aos militares, ainda ariscos nos primeiros anos da redemocratização,
eles tiveram “comportamento exemplar” na ascensão de Itamar e na queda de
Collor, segundo José Murilo de Carvalho:89 limitaram-se a observar tudo à
distância, sem qualquer ameaça de intervenção.
No começo do segundo semestre de 1992, quando caminhava a todo vapor
a de Farias e as ruas já estavam cheias com protestos dos “caras-
pintadas”, Itamar já se permitia reunir economistas para esboçar linhas de
ação de seu futuro governo.90 Collor havia sido definitivamente derrotado pela
inflação e estava acossado por uma taxa de rejeição que beirava incríveis 70%
em setembro de 1992. O pouco que lhe restava de capital político foi
queimado, sem sucesso, nas tentativas para sobreviver à acusação de crime de
responsabilidade apresentada pelos advogados Barbosa Lima Sobrinho,
presidente da Associação Brasileira de Imprensa (), e Marcello Lavenère
Machado, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (), no
dia 1o de setembro daquele ano. Mas o impeachment foi apenas o ato final de
uma série de escândalos políticos que começaram a aparecer à medida que a
popularidade do presidente declinava e os insucessos de seu governo se
avolumavam.
LBA, um quase escândalo
A “República de Alagoas”
O mundo de Fernando Collor de Mello ruiu definitivamente com a divulgação
de suas relações com Farias, empresário alagoano com tentáculos em vários
negócios públicos e homem de confiança do presidente. Tesoureiro da
campanha de Collor, era visto desde o início do governo como alguém
capaz de exercer influência junto à administração federal: indicava nomes para
ministérios e era procurado por empresas que tinham interesses em fazer
negócios com a União ou obter financiamentos de bancos públicos. Collor o
tinha como um dos grandes responsáveis por seu sucesso na eleição
presidencial: “Sem você, eu não teria ido nem para o segundo turno”, disse-lhe
no réveillon anterior a sua posse.105
Os diversos apaniguados de em vários cargos da administração federal
faziam parte do que se convencionou chamar de “República de Alagoas”. Um
deles era seu irmão, o médico Luiz Romero Farias, a quem Collor nomeou
secretário-executivo do Ministério da Saúde. Luiz Romero deixou o cargo em
setembro de 1991, na sequência do superfaturamento do leite em pó na ,
diante das primeiras denúncias que escancaravam o tráfico de influência
praticado por seu irmão. Collor não gozava de popularidade que lhe
permitisse suportar novas denúncias: além do irmão de , cinco outros
ocupantes da “República de Alagoas” foram exonerados do governo. Foi sua
primeira tentativa de se distanciar de quando suspeitas passaram a rondar o
amigo.106
Coube a Pedro Collor, irmão mais novo do presidente, detonar em
realidade a potência explosiva de . A indisposição entre eles remetia aos
negócios da família: Pedro desconfiava que Fernando queria enxertar nas
empresas do clã para ganhar mais poder do que os outros irmãos. Quando
Fernando favoreceu o amigo na compra da parte de Leopoldo Collor, o outro
irmão, nas Organizações Arnon de Mello, Pedro convenceu-se de que
Farias era testa de ferro de Fernando e seria usado para expulsá-lo da
sociedade após a morte da matriarca, dona Leda.107 Mais especificamente, a
desavença entre Pedro e remetia à disputa entre o jornal Tribuna de Alagoas,
que o segundo comprara havia pouco tempo, e a Gazeta de Alagoas, que
pertencia à família Collor e era tocada por Pedro.108 Este desconfiava que
Fernando apoiaria na disputa entre os dois jornais, levando a Tribuna a
sufocar a Gazeta, para diminuir a influência do irmão no grupo empresarial
familiar e atender às queixas de aliados de Fernando, que não eram bem
retratados no jornal dirigido por Pedro.
Pedro Collor decidiu contar o que sabia sobre as relações entre seu irmão e
Farias a partir de maio de 1992, principalmente através da revista Veja, que
já vinha na trilha do empresário alagoano: na edição anterior à bombástica
entrevista do irmão caçula do presidente, a revista publicou uma reportagem
especial detalhando as enroladas declarações de imposto de renda de . Mas
foi a edição 1236 que entrou para a história do impeachment no Brasil. Em
seguida à reportagem “Chegou no Planalto”, que detalhava as relações entre
Farias e o presidente, vinha a entrevista “O é o testa de ferro do
Fernando”. Pedro não poupou detalhes, mencionando até o consumo de
cocaína por ele e pelo irmão quando eram jovens em Brasília. Descreveu a
política miúda da obtenção de concessões de rádio pelo grupo da família,
relatou a disputa entre os jornais alagoanos, apontou a existência de um
apartamento em Paris não declarado pelo irmão, acusou de possuir sete
empresas ocultas no exterior e asseverou “não ter dúvidas” de que o irmão
aumentara seu patrimônio pessoal durante a presidência.109 Nos dias
seguintes, renovou as acusações em entrevistas a outros veículos.110 A síntese
das acusações de Pedro era de que os crimes de Farias beneficiavam o
presidente tanto econômica quanto politicamente.
Collor tentou reagir com a ajuda da mãe: conseguiu o apoio de dona Leda
para o afastamento de Pedro dos negócios da família.111 Sofreu, porém, um
duro golpe quando o procurador-geral da República, Aristides Junqueira
Alvarenga, determinou à Polícia Federal () que instaurasse inquérito para
apurar os crimes atribuídos por Pedro ao presidente, a Farias e à ministra
Zélia Cardoso de Mello, a quem Pedro acusava de passar informações
privilegiadas a .112 O pedido do procurador-geral mostrava que o Ministério
Público Federal () e a não estavam dispostos a poupar o presidente do
constrangimento das investigações. Estas seguramente fariam crescer o
escândalo, pois a imprensa estava pronta para publicar cada passo do caso. A
essa altura, a aprovação do governo já havia encolhido para a casa dos 20%,
enquanto a reprovação chegava ao dobro disso.113
Em 26 de maio, Collor falou em cadeia nacional de rádio e televisão sobre
as acusações pela primeira vez. Chamou de “falsidade” e “insensatez” as
denúncias do irmão. Avisou que havia solicitado ao Ministério Público a
instauração de ação penal contra Pedro, por crimes contra a honra, e que o
processaria por danos morais. Prometeu “a verdade” e exigiu
“responsabilidade” de seus acusadores e da imprensa, a quem acusou de
condenação antecipada.114 O pronunciamento adotou uma linha que custaria
caro a Collor mais adiante, no processo de impeachment: foi principalmente
sua insistência em negar fatos comprovados por documentos e testemunhas
que fundamentou a acusação do crime de responsabilidade por
comportamento indecoroso na presidência da República.
De início, Collor foi defendido pelos governadores com quem havia
costurado vantajosos repasses de verbas federais. Buscando desacreditar as
denúncias, Antônio Carlos Magalhães — o seria o último partido a
abandonar o presidente, já às vésperas da autorização de seu processo pela
Câmara — alimentava a acusação de que Pedro sofria de distúrbios
emocionais e estava fora de si,115 enquanto o governador do Rio de Janeiro,
Leonel Brizola, defendia uma nova “Cadeia da Legalidade” para proteger o
presidente.116 Magalhães e Brizola tentavam arregimentar deputados e
senadores para defender Collor no próximo campo de batalha, que se provou
fatal para seu destino: a que investigou Farias e suas relações com o
presidente da República.
A denúncia foi muito malfeita. […] É aquela coisa. Sentaram dez juristas para fazer uma denúncia […],
aquele pessoal que nunca fez uma denúncia na vida. […] Denúncia, quem faz é promotor. […]
Fizeram uma espécie de um discurso. […] Tivemos que fazer ou refazer a denúncia, dentro da
Comissão de Justiça, em que eu fui o relator.154
Talvez Jobim, que tampouco foi promotor alguma vez na vida, estivesse
apenas valorizando o papel de sua relatoria.155
Nelson Jobim fez sua parte para cumprir a promessa de Ibsen Pinheiro de
que a autorização da denúncia contra Collor seria votada até o final de
setembro: todas as medidas para a produção de provas solicitadas pela defesa
foram negadas, sob a justificativa de que elas deveriam ser produzidas no
Senado, onde o presidente seria julgado.156 O parecer alegou que o
indeferimento, isto é, o não acolhimento dos pedidos, se impunha para que a
Câmara não invadisse a competência do Senado, o que não faz sentido: assim
como a polícia não invade a competência do Judiciário quando ouve a vítima e
as testemunhas do crime na fase de inquérito, nada haveria de invasão em a
Câmara ouvir testemunhas ou analisar documentos (no caso de Dilma
Rousseff, essas oitivas aconteceram).157 Assim, o parecer seguiu para discussão
no plenário da Câmara na última semana de setembro de 1992. No dia 29, a
Câmara autorizou o processo de Collor pelo Senado, por maioria
avassaladora: 441 votos a favor, 38 contra e uma abstenção. O presidente não
compareceu aos debates nem enviou alguém para falar em seu nome.
Banqueiros em apuros
E , cinco dos mais renomados juristas do Brasil àquela altura
— Celso Antônio Bandeira de Mello, professor de direito administrativo da
de São Paulo; Fábio Konder Comparato e Goffredo da Silva Telles Júnior,
professores de filosofia do direito da Faculdade de Direito da ; Dalmo de
Abreu Dallari, colega de Comparato e Telles Júnior no Largo de São Francisco;
e Paulo Bonavides, especialista em direito constitucional da Universidade
Federal do Ceará — apresentaram denúncia por crime de responsabilidade
contra Fernando Henrique Cardoso. A estratégia de acusação por uma “frente
ampla de juristas” destoava do modelo que prevalecera nas denúncias contra
, a maioria das quais havia sido apresentada por políticos de partidos de
oposição, como e , ou por denunciantes solitários, normalmente
advogados ou jornalistas. Ela repetia a tática que havia sido bem-sucedida no
caso de Collor: das 29 denúncias que o ex-presidente sofrera, prosperou aquela
que foi apresentada por dois juristas com senioridade, Barbosa Lima Sobrinho
() e Marcello Lavenère Machado (), que presidiam entidades de
representação profissional associadas à causa da redemocratização.
A peça de acusação era breve, com menos de cinco páginas. Seu argumento
era muito simples, e também lembrava a acusação contra Collor: a base de
todos os crimes de responsabilidade é essencialmente ética, e os crimes devem
ser interpretados à luz dos padrões de moralidade política exigíveis de um
presidente da República. Segundo os denunciantes, o descarado assédio do
governo para que deputados bloqueassem investigações das muitas denúncias
contra o Executivo, com oferta de cargos e liberação de recursos, equivalia a
uma forma corrupção, nos termos da lei no 1079/1950.45
Esse argumento serve de porta de entrada para o problema das relações
entre Executivo e Legislativo no regime da Constituição de 1988. Convém
relembrar os fatos que antecederam essa 18a denúncia por crime de
responsabilidade oferecida contra . Em maio de 2001, o governo estava
ameaçado pela iminente criação da chamada “ da Corrupção”, que
prometia uma devassa em diversos departamentos da administração federal.46
Entre os fatos a serem investigados estavam a suposta prática de tráfico de
influência pelo secretário pessoal do presidente, Eduardo Jorge (do que ele
seria absolvido no futuro);47 irregularidades na atuação do Banco do Brasil
durante a privatização da Telenorte Leste; uso ilegal de recursos públicos em
obras do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o ;
corrupção e fraudes na concessão de incentivos fiscais à região amazônica, por
meio da atuação da Superintendência da Amazônia, a Sudam; e desvios na
utilização de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Havia também um clima de conflagração interno ao Senado, que acabou
por render a um inimigo poderoso: o senador Antônio Carlos
Magalhães.48 e o líder do governo na casa, José Roberto Arruda, do ,
estavam acuados por terem sido flagrados violando o painel de votação
eletrônica na sessão que deliberou a cassação do senador Luiz Estevão, do
, em 2000.49 Magalhães, que presidira o Senado até fevereiro daquele
mesmo ano,50 atribuiu ao e ao governo pouco empenho tanto em
trabalhar por sua reeleição quanto em defendê-lo no Conselho de Ética da
casa, onde ele respondia pela violação do painel. Líder de uma pequena
bancada de fiéis parlamentares, os chamados “carlistas”, ordenou que
todos apoiassem a criação da .
Em 9 de maio de 2001, a oposição protocolou o pedido de criação da
comissão mista com 209 parlamentares, sendo 180 deputados e 29 senadores.
Desses, 47 deputados e treze senadores vinham de partidos governistas.51 O
número era suficiente para garantir a criação da , mas por uma margem
apertada. Havia apenas nove assinaturas além do mínimo na Câmara; no
Senado, a folga era de apenas dois nomes. Para o governo, uma comissão tão
ampla implicava paralisia, na melhor das hipóteses, ou riscos de impeachment
e processos criminais, na pior delas. Assim, fazia sentido lutar até o fim para
impedi-la. , que vinha guardando certa distância do conflito no Congresso,
entrou pessoalmente na batalha e jogou pesado contra os governistas cujos
nomes estavam na lista: “Quem mantiver assinatura será considerado meu
adversário e assim será tratado”.52 Mas, além do dedo em riste, o governo
também distribuiu benesses: em uma operação que desembolsou entre 47
milhões e 60 milhões de reais,53 ele usou todo seu poder de liberação de
emendas e recursos para trazer os recalcitrantes de volta ao barco
situacionista. Com a ajuda do recém-eleito presidente do Congresso, Jader
Barbalho, que manteve aberta até a meia-noite do último dia do prazo a
possibilidade de retirada de assinaturas, o governo conseguiu que deputados
do , e do , inclusive os “carlistas”, voltassem atrás e deixassem de
apoiar a criação da . O toma lá dá cá poupou o governo da , mas foi
retratado como “corrupção” na denúncia apresentada pelos cinco renomados
juristas.
As pedaladas
O início da radicalização
A política em apuros
Embora as acusações que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff não
tivessem relação direta com a Lava Jato ou com suspeitas de corrupção
praticadas pessoalmente pela presidente, as investidas implacáveis do
contra parlamentares corruptos, empresários corruptores e doleiros lavadores
de dinheiro tiveram estreita relação com o processo. Isso se deu de três
maneiras diferentes. Primeiro, a operação estimulou políticos acuados a
agirem em sua própria proteção, sonhando com uma troca de governo que
pusesse freio à operação. Segundo, ela inflamou a indignação popular, já
escaldada com escândalos de corrupção do desde o julgamento do
Mensalão, em 2012; em resposta, uma parcela grande da população, com
justeza indignada com as sucessivas notícias sobre políticos e funcionários
públicos que haviam abusado de seus cargos para obter vantagens criminosas
para si e para seus partidos, respondeu enchendo as ruas com sucessivos
protestos que deram embalo popular ao impeachment. Terceiro, em alguns
lances específicos de sua cruzada anticorrupção, o Poder Judiciário atuou de
modo impróprio para obstaculizar a articulação política pela qual Dilma
Rousseff procurava se defender da radicalização provocada pela oposição. Essa
radicalização desaguou no impeachment quando seus perpetradores tiveram
segurança de que esse seria o modo mais efetivo para afastar a presidente do
cargo. O tempo dos atos do sistema judiciário, em alguns lances-chave para o
impeachment, parece ter sido calculado sempre em desfavor dos interesses da
defesa de Dilma. Quando convinha ao impeachment que o ato fosse praticado
rapidamente, inclusive dispensando formalidades de praxe, assim era feito, a
exemplo da divulgação da célebre conversa telefônica entre Dilma e Lula; mas
quando o conveniente era o oposto, o ato era retardado, como ocorreu com a
divulgação do não menos célebre áudio do senador Romero Jucá ou com o
afastamento cautelar do deputado Eduardo Cunha, ambos retidos até se votar
a autorização para o processo na Câmara dos Deputados. Como bem aponta
Fabiana Alves Rodrigues, em paródia do conhecido bordão do ministro Marco
Aurélio Mello, os processos da Lava Jato “tinham capa” — isto é, sua condução
não ignorava a condição das pessoas nele envolvidas, cujos nomes estão
gravados na capa dos autos —, “e essa capa influenciou a gestão temporal dos
casos”.78
Aos políticos acuados, a perspectiva da troca de Dilma por Temer dava
esperanças de sobrevivência. O vazamento de áudio protagonizado por
Romero Jucá, em 23 de maio de 2016, deixou isso evidente. Em uma conversa
gravada pelo então candidato a delator Sérgio Machado, ex-presidente de uma
subsidiária da Petrobras, Jucá, então presidente nacional do , mostrava
receio pela iminente delação de Marcelo Odebrecht. O senador estava
convencido de que a Lava Jato iria atrás de gente de todas as legendas, com o
objetivo de “acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova
casta, pura”. Jucá dizia a Machado que todas as lideranças políticas já haviam
percebido que estava “todo mundo na bandeja para ser comido”. Em dado
momento, revelou que ministros do haviam dito a ele que, enquanto
Dilma estivesse no governo, a pressão contra os políticos não cessaria, pois a
Lava Jato queria, no seu entender, tirá-la do poder: “Enquanto ela estiver ali
[…] os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca”. Para o senador,
a solução era uma só: “Tem que ter impeachment. É a única saída”. Com isso,
seria possível haver um acordo de pacificação política, com chancela do —
“com o Supremo, com tudo” —, para, em um governo de Michel Temer,
limitar os impactos da operação aos políticos que haviam sido atingidos até
aquele momento. “Delimitava onde está, pronto.”79
Embora essa gravação tivesse ocorrido em março de 2016, portanto um
mês antes da votação na Câmara dos Deputados que pavimentou um caminho
sem volta para o impeachment, o áudio foi divulgado apenas em maio, com
Dilma já afastada após o recebimento da denúncia pelo Senado. À época do
vazamento, Romero Jucá era ministro do Planejamento do governo interino
de Michel Temer. Do ponto de vista do impeachment, esse atraso foi
evidentemente impróprio, pois impediu a opinião pública de conhecer as reais
motivações por trás de uma articulação política que foi decisiva para a queda
da presidente. Sem o apoio do , que trabalhava pelas razões
inconfessáveis que vieram a público com o áudio de Romero Jucá, o
impeachment simplesmente não teria acontecido.
O desdobramento dos fatos deu razão aos temores do senador. De fato, a
justiça encurralou não apenas personagens do primeiro escalão do ,
como Eduardo Cunha, mas também Aécio Neves, figura de ponta do ,
embora o tenha feito apenas após eles terem cumprido seu papel no
impeachment: Cunha só foi afastado e preso depois de ter engendrado a
tramitação e a costura política da autorização para o processo na Câmara dos
Deputados; e Aécio só foi afastado e denunciado após ter dado força pública
ao nos julgamentos sobre as contas de governo, e de ter funcionado como
importante agente na condenação de Dilma pelo Senado.
O fator Cunha
“Verba volant”
O apoio popular
Voltemos até meados de 2015. Uma vez que o negou a Eduardo Cunha o
apoio no processo por ter mentido sobre as contas na Suíça, o presidente da
Câmara decidiu dar sequência ao impeachment — num ato que nem Michel
Temer nega ter sido uma “vingança política”.139 Entre os 48 pedidos de
impeachment de Dilma Rousseff que a Câmara recebera até o final de
novembro de 2015, Cunha escolheu então dar andamento à denúncia por
crimes de responsabilidade apresentada por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e
Janaína Paschoal. Era, na verdade, a terceira versão da denúncia. A primeira,
assinada apenas por Bicudo e Paschoal, veio datada de 31 de agosto de 2015.
Foi elaborada com a lógica de quem pesca com explosivos: jogar bombas para
depois colher o que boiar. Sob o argumento geral de que o governo vivia
profunda crise moral, a denúncia passou por todos os escândalos de maior
notoriedade, não apenas da gestão de Dilma Rousseff, como também da
gestão de Lula. Falava da compra da refinaria de Pasadena, da Lava Jato, da
venda de decisões administrativas no Carf, o Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais, e de empréstimos do . Também listava diversos
políticos do presos, denunciados e investigados por crimes, do Mensalão ao
Petrolão. Apenas ao final, e muito de passagem, falavam das pedaladas fiscais
praticadas desde 2011, e não houve menção aos decretos não numerados de
abertura de crédito suplementar. A denúncia argumentava também que atos
praticados no primeiro mandato de Dilma eram alcançáveis pelo
impeachment — um ponto no qual a Constituição acabou se tornando omissa,
pois a emenda da reeleição não alterou a redação original do texto
constitucional sobre crimes de responsabilidade presidenciais para prever
expressamente se atos do mandato anterior seriam ou não passíveis de
responsabilização no mandato subsequente, após o eleitorado ter votado para
manter o presidente no cargo. A peça pedia a condenação de Dilma por crimes
contra a probidade na administração pública, a lei orçamentária e o
cumprimento de decisões judiciais.140 Se os denunciantes, ambos experientes
profissionais do direito, seguiram a praxe argumentativa comezinha de
ordenar seus argumentos dos mais fortes para os mais fracos, a ordem dos
argumentos sugere que, àquela altura, eles viam as pedaladas como uma
acusação de menor potencial: a peça nitidamente apostou suas fichas na
comoção social que a Lava Jato, então no seu auge, vinha provocando.
Pouco mais de duas semanas depois, em 16 de setembro de 2015, um
aditamento àquela denúncia foi apresentado. Ela alterou, em primeiro lugar, o
rol de participantes: a peça ganhou um terceiro denunciante, Miguel Reale Jr.
Na primeira peça, Reale Jr. era citado duas vezes como doutrinador, ambas em
referência às pedaladas fiscais. Sua elevação à categoria de denunciante sugeria
que as pedaladas haviam sido promovidas como argumento acusatório. E, de
fato, ao se ler o aditamento, percebe-se que elas se tornaram o principal foco
da acusação. Não só as 26 páginas da emenda à primeira denúncia foram
inteiramente dedicadas às pedaladas, como também Júlio Marcelo de Oliveira,
membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas que cuidava do
assunto no tribunal, foi incluído como testemunha da acusação. A mudança de
escopo seguramente devia-se à perspectiva de que o em breve
recomendaria a reprovação das contas governamentais, conforme
trombeteava aos quatro ventos o relator do caso, ministro Augusto Nardes. Ao
final da denúncia, constava também o “de acordo” de lideranças da sociedade
civil que vinham organizando manifestações contra o governo: Carla
Zambelli, pelos Movimentos Contra a Corrupção; Kim Kataguiri, pelo
Movimento Brasil Livre; e Adelaide Castro Oliveira, pelo Vem pra Rua.
Em 15 de outubro de 2015, a terceira e última versão da acusação foi
apresentada. Além de Bicudo, Reale Jr. e Paschoal, assinaram a peça o
advogado Flávio Henrique Costa Pereira e, como apoiadores, os mesmos
líderes de movimentos sociais do aditamento de quinze dias antes, com a
substituição de Adelaide Castro Oliveira por Rogério Chequer, também do
Vem Pra Rua. Essa última versão da denúncia reunia os elementos das duas
primeiras e incluía condutas do primeiro e do segundo mandato, procurando
destacar as últimas, embora elas fossem menos expressivas em quantidade.
O impeachment na Câmara
O impeachment no Senado
Requeiro, nos termos do artigo 312, e parágrafo único do Regimento Interno do Senado Federal, o
destaque da expressão — aspas — “ficando, em consequência, inabilitada para o exercício de qualquer
função pública pelo prazo de oito anos” — fecha aspas — do quesito que é objeto de julgamento por
parte dos senadores no processo de impeachment da senhora presidente da República Dilma Vana
Rousseff, denúncia no 1, de 2016.199
A consequência prática da aprovação do requerimento seria desdobrar a
votação contra Dilma em dois quesitos distintos, evitando que sua inabilitação
por oito anos decorresse automaticamente da condenação. Foi uma manobra
de última hora da bancada do com o objetivo de minimizar danos: mesmo
que condenada e afastada do cargo, a presidente não perderia seus direitos
políticos, a não ser que o Senado assim decidisse em votação separada. A
oposição protestou invocando o texto da Constituição que impunha uma
única consequência para a condenação: “Perda do cargo, com inabilitação, por
oito anos”.
O senador Randolfe Rodrigues, aliado de Dilma, retrucou que não se
tratava de matéria constitucional, mas regimental, sendo o destaque um
“direito parlamentar subjetivo”. Randolfe se aproveitou do fato de que o
resultado da votação gera um tipo de documento, a resolução, que se aprova
mediante votação de um projeto, exatamente como as leis. Fez então um
argumento de analogia: se destaques são cabíveis para resoluções em geral,
por que não o seriam para a resolução específica da condenação de presidentes
por crimes de responsabilidade? A resposta veio do senador Aloysio Nunes: o
Senado estava ali para emitir não uma resolução legislativa comum, mas sim
uma sentença. Foi a vez de o senador petista Lindbergh Farias retrucar
invocando o texto da lei no 1079/1950, que prevê votação separada para a
remoção do cargo e para a inabilitação. Lindbergh lembrou também o
precedente do julgamento de Collor, que fora condenado à inabilitação
mesmo sem ter sido julgado quanto ao afastamento.
O presidente do Ricardo Lewandowski chamou então a decisão para si.
Alegando que iria “prestigiar o regimento”, e invocando o dispositivo
regimental que obrigava a aprovação do destaque quando ele fosse requerido
por bancada de partido com mais de três senadores (como era o caso do ),
ele assim o fez. Ironicamente, o ministro que tanto havia criticado o
“fatiamento” da votação no julgamento do Mensalão, em 2012, patrocinou
medida análoga dessa vez. Como consequência, a votação de Dilma Rousseff
foi desmembrada em dois quesitos: por 61 votos a vinte, ela foi condenada à
perda do cargo; mas por 42 a 36 acabou poupada quanto à inabilitação, pois
não foram atingidos os 54 votos exigidos pela Constituição para se chegar a
condenação em matéria de crimes de responsabilidade.
Dois dias depois, o jornalista Leandro Colon revelou que a estratégia do
“fatiamento” havia sido concebida duas semanas antes da sessão final de
julgamento, por senadores do . O plano teria recebido o apoio de
parlamentares pró-Dilma de outros partidos, como Kátia Abreu, do . Até
mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros, teria aconselhado
Lewandowski a aceitar o requerimento de destaque.200 Colon também
identificou e entrevistou aquele que teria sido o “ideólogo” da decisão: o
advogado de carreira do Senado Luiz Fernando Bandeira, que em 2016 era
secretário-geral da mesa diretora da casa. Em entrevista, Bandeira explicou
que, no seu entendimento, a pena de inabilitação de oito anos, prevista na
Constituição, era a “pena máxima”, e que poderia haver “dosimetria” quanto a
ela em caso de condenação. Disse ainda que, para ele, a votação do
impeachment constituía, sim, uma proposição, pois essa era a natureza de
quaisquer matérias submetidas à deliberação do plenário, o que autorizaria o
deferimento de destaques. O secretário-geral informou ainda que havia
tomado conhecimento da estratégia dias antes, e que pedira um parecer da
consultoria legislativa da casa, que confirmava seu entendimento, mas deixou
claro que o ministro Lewandowski não havia tomado decisão alguma até o
momento em que a proposição foi apresentada pela bancada do . Bandeira
também apontou que a Lei do Impeachment, de 1950, igualmente previa
votações separadas para a perda do cargo e a inabilitação, e lembrou o
precedente de Collor, como fizera Lindbergh Farias na sessão plenária.201
Em minha opinião, a posição de Bandeira, de Lewandowski e dos
defensores do “fatiamento” está equivocada. Não se pode ignorar que a
literalidade da lei no 1079/1950 baseava-se no texto da Constituição de 1946,
que nessa matéria é diferente do atual. Naquela carta, o dispositivo pertinente
dizia que a condenação por crime de responsabilidade sujeitava o presidente a
inabilitação por “até cinco anos” (art. 62, §3o). Ao deixar claro que a pena
prevista registrava um máximo (“até”), evidentemente era necessária uma
deliberação apartada para que se decidisse qual o tamanho, dentro desse
máximo, da inabilitação em caso de condenação. Porém, o atual texto
constitucional mudou: agora fala-se de “perda do cargo, com inabilitação, por
oito anos”. Não há margem para dosimetria alguma: a condenação
obrigatoriamente acarreta a inabilitação, por quantidade de tempo fixa e
predeterminada. Desconheço qualquer intérprete desse dispositivo
constitucional que tivesse alguma dúvida quanto à obrigatoriedade da pena de
oito anos até o “fatiamento” do julgamento de Dilma Rousseff.
Além disso, a decisão do Senado em matéria de impeachment não é uma
proposição de natureza legislativa, mas sim uma “sentença”, e senadoras e
senadores, nesses casos, são “juízes”, exatamente como afirmara Aloysio
Nunes. As duas expressões constam na Lei do Impeachment (arts. 34 e 35). O
rito da votação do impeachment de Dilma consagrou a mais estranha das
inversões que se pode ter na interpretação jurídica: a Constituição, de redação
bastante clara quanto a isso, foi interpretada a partir da escolha seletiva de
trechos de uma lei que lhe é anterior, bem como do regimento interno de
uma das casas legislativas, quando o correto seria o exato oposto — a lei e o
regimento do Senado é que deveriam ter sido interpretados a partir da
Constituição.
É preciso, porém, conceder um ponto ao argumento de Bandeira: ele estava
certo em invocar o julgamento de Collor em favor de sua tese, já que lá
também houve, de certo modo, uma votação apenas para a inabilitação (pois a
perda do cargo havia ficado prejudicada pela renúncia). O problema é que o
procedimento daquela votação, ao menos pelos fundamentos com que se deu
(a dualidade de penas), também está errado: para submeter Collor a
julgamento mesmo diante de sua renúncia, teria havido fundamentos jurídicos
melhores do que a alegação de que se tratava de duas penas autônomas,
conforme desenvolvi no capítulo 3.
Mas talvez toda essa polêmica de interpretação jurídica esteja errando o
alvo: e se os senadores, a despeito do que o direito estabeleça, simplesmente
queriam tirar Dilma do cargo, mas não achavam que ela merecia perder seus
direitos políticos? Bem, o direito lhes dava opções, mas a remoção do cargo
sem inabilitação não é uma delas. Cabe lembrar uma lição de John Labovitz,
um dos advogados que integrou o célebre Comitê Judiciário da Câmara dos
Deputados dos Estados Unidos durante os trabalhos de investigação contra o
ex-presidente Richard Nixon, e que tem lugar nesta discussão: “No sistema
[…] do impeachment, o Senado não pode ajustar a sanção ao crime, e sim
deve decidir se a única sanção disponível […] é cabível [à conduta]”.202 Se a
inabilitação por oito anos parece imerecida para a autoridade à luz do
comportamento do qual ela é acusada, a única opção jurídica é a absolvição.
Foi golpe?
“N Dilma não foi condenada por atos específicos, e sim
pelo ‘conjunto da obra’.” Esse argumento é primo-irmão da alegação de que o
Congresso define crimes de responsabilidade como bem quiser. “Conjunto da
obra”, nesse caso, referia-se à totalidade dos deméritos políticos do governo,
sobretudo na área econômica. Novamente, o argumento dá ao Congresso
uma licença para remover um presidente por motivos puramente políticos —
um poder que a Constituição não lhe atribui. Apenas eleitores, a cada quatro
anos, podem fazer esse julgamento de continuidade ou interrupção de um
governo pelos méritos ou deméritos de seus resultados.
Por outro lado, é importante apontar que há um sentido em que o
“conjunto da obra” pode ser fundamento próprio para um impeachment. No
caso que foi se construindo contra Richard Nixon, e que levou a sua renúncia
da presidência dos Estados Unidos em 1974, o presidente era acusado por um
conjunto de atos que, somados, revelavam um comportamento político que
atentava contra a integridade das instituições: Nixon praticava todo abuso de
poder ao seu alcance, inclusive lançando mão de órgãos de Estado, como a
Receita Federal, para prejudicar adversários. A totalidade de seu
comportamento impróprio, do qual a espionagem ao quartel-general do
Partido Democrata em Watergate foi apenas um capítulo, serviu para pintar o
retrato de um “conjunto da obra” que sugeria que os excessos do poder
presidencial eram uma ferramenta perenemente empregada por Nixon. Esse
“conjunto da obra”, porém, nada tinha a ver com uma avaliação sobre a
qualidade de seu governo: era a simples concatenação de atos individuais em
um padrão de conduta que revelava o abuso de poder presidencial como
estratégia de competição política.
“F Eduardo Cunha agiu com desvio de finalidade.” Ao lado
da tese da inexistência dos crimes de responsabilidade, essa outra esteve na
linha de frente da defesa pública de Dilma contra o impeachment. Esse
argumento é procedente, mas é preciso tomar cuidado com suas implicações.
Reconhecer a vilania de Cunha não deve exagerar o domínio do presidente da
Câmara sobre processos de impeachment. No caso específico do
impeachment de 2016, ela tampouco deve obscurecer a responsabilidade de
outras forças políticas que se aliaram a Cunha, por motivações semelhantes às
suas, e transformaram a derrubada de Dilma num projeto ecumênico de elites
acuadas pelos avanços da Lava Jato.
A essa altura, já pertence ao domínio dos fatos incontroversos que Eduardo
Cunha deu andamento ao pedido de impeachment por vingança contra a
presidente e especialmente contra o , por ter sido abandonado à própria
sorte no processo disciplinar que culminou com a cassação de seu mandato.
Nem mesmo Michel Temer nega isso.206
É preciso também reconhecer que o Poder Judiciário tem sua parcela de
culpa na mácula que Eduardo Cunha projeta sobre o impeachment de Dilma
Rousseff. O mal esperou baixar a poeira da votação de 17 de abril de 2016
para afastá-lo da presidência da Câmara dos Deputados, alegando que Cunha
abusava de seus poderes em benefício próprio. Se isso era verdade, e se bastava
para fundamentar seu afastamento, então ele deveria ter sido impedido de
seguir à frente do impeachment na Câmara desde dezembro de 2015, quando
sua destituição foi solicitada pela .
Há um evidente contrassenso em permitir-se afastar uma autoridade do
cargo para que ela não manipule instituições para escapar da cadeia, mas
tolerar que ela faça exatamente isso bem no processo que leva à destituição da
presidente da República. É o reconhecimento, pelo próprio , de que o
impeachment na Câmara dos Deputados foi conduzido por um político que
teve de ser afastado de seu cargo porque abusava de seus poderes para
beneficiar a si próprio e prejudicar o partido e a presidente acusada. Não sei se
há alguém que entenda que essa confissão extemporânea expia a culpa desse
pecado político mortal do processo contra Dilma. Evidentemente, não expia.
Porém, é preciso cuidado para não deixar a malvadeza caricata de Eduardo
Cunha deturpar nossa análise sobre a força da presidência da Câmara dos
Deputados no acionamento das engrenagens do impeachment. É correto
reconhecer que essa autoridade tem enormes poderes, tanto legais quanto
políticos, para colocá-las em movimento — ou mantê-las paradas; é errado,
porém, tratar o presidente da Câmara dos Deputados como único dono e
senhor absoluto do impeachment apenas em razão dos poderes
constitucionais e regimentais de que o cargo dispõe.
No processo de Dilma Rousseff, a curta presidência de Waldir Maranhão,
sucessor de Cunha após seu afastamento pelo , é um bom exemplo disso.
Se Cunha teve suas “cunhadas”, Maranhão também praticou uma
“maranhada” ao tentar anular a votação que autorizou o impeachment na
Câmara — decisão que não foi levada a sério por absolutamente ninguém.
Isso mostra que a força política do presidente da Câmara dos Deputados
não decorre exclusivamente de seus poderes legais para a condução no
processo. Cunha tinha essa força porque, ao contrário de Maranhão, dispunha
de um bancada relativamente grande de deputados leais à sua pessoa, todos
gratos pelo seu poder de favorecê-los na distribuição de verbas durante a
campanha.207
Mas, sobretudo, os enormes poderes de Eduardo Cunha — capazes de fazer
tanta gente olhar para o lado e fingir que não enxergava seus desvios de
finalidade praticados à luz do dia — vinham do fato de que grande parte da
elite política e empresarial naquele momento, em pânico pelo avanço da Lava
Jato, via na desfaçatez de Cunha o caminho mais curto para a construção de
uma ponte para o futuro fora da prisão no governo de Michel Temer.
Dessa forma, o melhor modelo de análise não despreza, por óbvio, os
poderes jurídicos e políticos do presidente da Câmara, mas não se impede de
enxergar o quanto outros elementos de força são relevantes para compreender
as limitações e possibilidades desse importante ator no processo de
impeachment. Cabe aqui um juízo contrafactual: imaginemos que Cunha
tivesse sido afastado pelo antes da votação do impeachment, como havia
requerido a , e que a eleição de Rodrigo Maia tivesse acontecido em
janeiro ou fevereiro. Que teria acontecido nessa hipótese? Possivelmente o
impeachment teria ido adiante ainda assim: o desejo de colocar Temer no
lugar de Dilma ia além de Eduardo Cunha, e qualquer presidente da Câmara
que tentasse se opor a esse desígnio acabaria defenestrado — exatamente
como ocorreu com Waldir Maranhão, o Breve. Eduardo Cunha dá rosto a um
desvio de finalidade que não foi apenas dele.
Essa lição é útil também para o governo Bolsonaro, como mostrarei no
epílogo.
“N Temer foi eleito tanto quanto Dilma.” Esse
argumento das urnas foi muitas vezes usado pelos defensores do impeachment
em reação às críticas.
É verdade. Mas ela foi eleita para ser presidente, enquanto ele foi eleito para
ser vice-presidente. É altamente discutível que eleitores tratem presidentes e
vices indistintamente no momento da eleição, como se lhes fosse indiferente
qual deles ocupará a chefia do Executivo; ainda mais em regimes
presidencialistas, no qual o personalismo político é forte.
Vale destacar que a Constituição de 1988 não equipara a legitimidade de
presidentes e vices: o artigo 77, §1o é explícito em afirmar que só o presidente
é propriamente eleito, sendo a eleição do vice uma decorrência da eleição do
titular da chapa: “A eleição do presidente da República importará a do vice-
presidente com ele registrado”. Segundo José Afonso da Silva, o vice-
presidente “sequer é votado”, justamente para evitar que o substituto
presidencial funcione como um adversário dentro do governo. “Foi a mecânica
que o sistema constitucional engendrou para evitar que o vice-presidente
eleito pertença a partido de oposição ao presidente”,208 fato corriqueiro sob as
Constituições de 1891 e 1946.
É bom lembrar que o próprio Temer reconheceu sua subordinação política
a Dilma quando lhe conveio, para rejeitar responsabilidade por decretos
semelhantes aos que levaram à acusação da presidente.
8. Realização de votação nominal, aberta e por chamada (, art 218, §8o),
pelo plenário da Câmara dos Deputados, sobre a admissibilidade da denúncia
para fins de seu processamento pelo Senado.
8.1. A votação será por chamada de deputados e deverá alternar
representantes dos estados do Norte e do Sul.** Dentro de cada Estado, a
ordem de chamada será alfabética, pelo prenome da deputada ou deputado
(, sessão no 091.2.55.O).
8.2. O quesito votado é único e indaga sobre a admissibilidade da denúncia
popular apresentada. Os votos podem ser “Sim” (pela admissibilidade da
denúncia), “Não” (por sua rejeição) ou “Abstenção” (, sessão no
091.2.55.O).
9. Se dois terços ou mais das deputadas e deputados (ou seja, no mínimo 342,
na atual configuração da Câmara dos Deputados) votarem “Sim”, a denúncia é
considerada admitida e o processo é remetido ao Senado Federal, sendo a
decisão comunicada ao presidente dessa casa dentro de duas sessões (,
art. 51, ; , art. 218, §9o). Caso contrário, a denúncia é arquivada.
* Siglas usadas nesta seção: : Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental; :
Câmara dos Deputados; : Código de Processo Civil; : Código de Processo Penal; :
Constituição da República Federativa do Brasil; : denúncia; : medida cautelar; : mandado de
segurança; : Regimento Interno da Câmara dos Deputados; : Regimento Interno do Senado
Federal; : Supremo Tribunal Federal.
** No caso de Dilma Rousseff, a ordem foi a seguinte: , , ,
, , , , , , , ,
, , , , , , , , , , , , , , e .
*** No julgamento de Dilma Rousseff, o prazo de manifestação foi de uma hora e meia para cada uma
das partes, incluso o tempo dos apartes, e o prazo de réplica e tréplica, de uma hora para cada (
1/2016, v. 70, p. 26 245).
**** No julgamento de Dilma Rousseff, o prazo para manifestação de cada senador inscrito foi de dez
minutos ( 1/2016, v. 70, p. 26 246).
***** No julgamento de Dilma Rousseff, admitiu-se a formulação de pedido de destaques, para votação
autônoma de parte do quesito, inclusive quanto à inabilitação por oito anos no caso de condenação.
Anexo II
A bibliografia sobre impeachment presidencial tem bons livros, que valem ser
lidos por quem quer se aprofundar no assunto. A lista de referências ao final
deste volume contém muitos artigos, dissertações, teses, livros e documentos
proveitosos, entre os quais destaco os que vêm a seguir.
Para as origens inglesas do impeachment, meu livro preferido é
Impeachment: The Constitutional Problems, de Raoul Berger, especialmente os
capítulos e . Há também um estudo aprofundado de John Smith Roskell
sobre o primeiro impeachment inglês, do conde de Suffolk, em 1386 (The
Impeachment of Michael de la Pole, Earl of Suffolk, in 1386). Muitos bons trabalhos
de história política passam por temas relevantes para um estudo dos
impeachments ingleses, como o clássico livro de John G. Bellamy (The Law of
Treason in England in the Later Middle Ages) e um influente artigo de Theodor
Frank Thomas Plucknett publicado na década de 1940 (“The origin of
impeachment”, no periódico Transactions of the Royal Historical Society). As atas
dos impeachments medievais na Inglaterra estão disponíveis (e traduzidas para
o inglês moderno) nos arquivos do projeto British History Online, do Institute
for Historical Research da Universidade de Londres.1 Trabalhos de juristas da
época de ouro dos impeachments ingleses, como Edward Coke e William
Blackstone, são acessíveis em bibliotecas digitais. Lê-los, assim como aos rolos
dos parlamentos medievais, é uma viagem ao passado que amplamente
recompensa os desafios da linguagem e os estranhamentos causados pela
distância temporal.
A bibliografia dos Estados Unidos é decerto a mais numerosa sobre o
impeachment presidencial. Para sorte de quem o estuda, ela ganhou recente
impulso com a presidência de Donald Trump. Os livros norte-americanos
sobre o impeachment normalmente têm um capítulo dedicado à história da
recepção do instituto na Constituição de 1787, mas nenhum se compara ao já
citado livro de Berger. Ainda entre os trabalhos históricos, o livro de Michael
Les Benedict sobre o caso Andrew Johnson (The Impeachment and Trial of
Andrew Johnson) é particularmente bom, por sua capacidade de apresentar o
contexto histórico e político em que o caso ocorreu, na saída da Guerra Civil
entre os estados do Norte e do Sul, sem descuidar de uma análise jurídica
cuidadosa dos argumentos de acusação e de defesa. Para os textos mais
dedicados aos pormenores da disciplina jurídica do impeachment, mas que
têm excelentes reflexões sobre questões de fundo que interessam a nós (como
a possibilidade de revisão judicial ou o equilíbrio entre responsabilização e
independência do Executivo em face do Legislativo), recomendo os livros de
Michael Gerhardt (The Federal Impeachment Process) e John Labovitz (Presidential
Impeachment). Gerhardt segue na ativa e publicou bons textos na imprensa
relativos aos impeachments de Donald Trump. Labovitz integrou o célebre
comitê judiciário da Câmara dos Deputados que redigiu um impactante
documento sobre os fundamentos para impeachment do presidente da
República na época de Richard Nixon (Constitutional Grounds for Presidential
Impeachment), cuja leitura vivamente recomendo. Vale também assistir às
entrevistas do projeto de história oral do Arquivo Nacional dos Estados
Unidos, em que os membros ainda vivos desse comitê deram detalhados
depoimentos sobre suas atividades.2 Alguns deles, à época jovens advogadas e
advogados sob o comando do lendário John Doar, tornaram-se personagens de
destaque no direito e na política, como Owen Fiss e Hillary Clinton. Entre os
livros mais recentes sobre impeachment presidencial, destaco os de Cass
Sunstein (Impeachment: A Citizen’s Guide), e Laurence Tribe e Joshua Matz (To
End a Presidency: The Power of Impeachment).
No caso brasileiro, houve também lançamentos recentes motivados pelo
caso de Dilma Rousseff que merecem ser consultados. Para uma leitura
jurídica organizada e abrangente do instituto do impeachment, recomendo o
livro de Marcelo Campos Galuppo (Impeachment: O que é, como se processa e por
que se faz). A coletânea organizada por Joaquim Falcão, Diego Werneck
Arguelhes e Thomaz Pereira (Impeachment de Dilma Rousseff: Entre o Congresso e
o Supremo) traz um bom conjunto de textos de explicação, crítica e análise de
conjuntura escritos durante aquele processo. O livro de Paulo Brossard segue
sendo um clássico, e deveria ser a primeira leitura nacional de quem quiser
estudar o impeachment a fundo. E há, claro, os julgamentos relevantes do ,
elencados na lista de referências no final deste livro.
Muita coisa boa sobre o tema foi escrita por não juristas. Os trabalhos de
Brasilio Sallum Jr. (O impeachment de Fernando Collor) e João Villaverde
(Perigosas pedaladas) são excelentes para se entender o contexto, os atores e as
circunstâncias dos casos Collor e Dilma. O livro de Villaverde é
particularmente útil para quem deseja entender o que foram as tais
“pedaladas”, a mais importante das acusações contra Dilma Rousseff. Entre as
obras de cientistas políticos brasileiros, destaco as de Guilherme Casarões,
sobre o caso Collor (A economia política do governo Collor: Discutindo a viabilidade
de governos minoritários sob o presidencialismo de coalizão), e o recente texto
comparativo de Arthur Augusto Rotta (Como depor um presidente). Alguns
cientistas políticos estrangeiros também têm escritos de muito proveito para o
entendimento do impeachment, inclusive com boas análises do Brasil. Tudo
que Aníbal Pérez-Liñán produziu (e segue produzindo) deve ser lido com
atenção. As listas de referências em seus trabalhos dão excelentes pistas sobre
o estado da arte da bibliografia internacional de ciência política a respeito do
impeachment presidencial.
Quem preferir descansar da leitura após concluir este livro ainda assim pode
seguir aprendendo sobre o impeachment presidencial no Brasil: a edição de
1992 do programa jornalístico Roda Viva, da Cultura, com noventa minutos
inteiramente dedicados ao impeachment de Collor está integralmente
disponível em repositórios abertos de vídeos na internet.3
Agradecimentos
1. Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, n. 65, pp. 177-8.
2. Para uma análise do argumento da inaptidão mental como fundamento para o impeachment, cf.
Rafael Mafei Rabelo Queiroz, “E se ele for louco?”.
5. Leiv Marsteintredet, Mariana Llanos e Detlef Nolte, “Paraguay and the Politics of Impeachment”.
6. Há que se destacar que o número de denúncias no Brasil será sempre elevado porque, além de um
país populoso, nosso modelo admite que denúncias sejam feitas por qualquer pessoa do povo. Em sua
origem inglesa, como ainda hoje em países como os Estados Unidos, o papel de acusador é limitado à
casa parlamentar baixa (House of Commons, House of Representatives). com o que o número de
acusações é compreensivelmente diminuto.
7. Os números de denúncias contra cada um dos presidentes são os seguintes: Fernando Collor de Mello
(29), Itamar Franco (4), Fernando Henrique Cardoso (275) Luiz Inácio Lula da Silva (37), Dilma Rousseff
(68), Michel Temer (31) e Jair Bolsonaro (mais de 100 até meados de abril de 2021). Há notícias de um
pedido de impeachment contra José Sarney, que motivou inclusive um dos primeiros julgamentos do
sobre o tema na vigência da Constituição de 1988 ( 20 941, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 9 fev.
1990), mas que não consta nos arquivos da Câmara dos Deputados. Para um breve relato da denúncia
contra Sarney, cf. Amanda Prado, “Além de Collor e Dilma, Sarney, Itamar, e Lula sofreram pedidos
de impeachment”; para os pedidos de impeachments desde Collor até Dilma Rousseff, cf. Fiquem
Sabendo, “Os pedidos de impeachment contra presidentes brasileiros desde 1990”; para Jair Bolsonaro,
cf. Agência Pública, “Os pedidos de impeachment de Bolsonaro”.
8. Rui Barbosa, “As ruínas da Constituição”, p. 80.
11. Valor Econômico, “Peru: Congresso aprova impeachment do presidente Martín Vizcarra”.
12. Cf., entre outros, Aníbal Pérez-Liñán, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin
America; Kathryn Hochstetler, “The Fates of Presidents in Post-Transition Latin America: From
Democratic Breakdown to Impeachment to Presidential Breakdown”, Young Hun Kim, “Impeachment
and Presidential Politics in New Democracies”, e vários artigos em Jody C. Baumgartner e Naoko Kada,
Checking Executive Power: Presidential Impeachment.
13. Arturo Valenzuela, “Latin American Presidencies Interrupted”, Journal of Democracy; Aníbal Pérez-
Liñán e John Polga-Hecimovich, “Explaining Military Coups and Impeachments in Latin America”;
Arthur Augusto Rotta, Como depor um presidente.
14. Guilherme Stolle Paixão e Casarões, A economia política do governo Collor: Discutindo a viabilidade de
governos minoritários sob o presidencialismo de coalizão; Marcus Vinícius Comenale Pujol, O impeachment de
Fernando Collor: Aspectos econômicos, políticos e jurídicos que levaram à queda do presidente; Sérgio Abranches,
Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro.
15. Cf. Sérgio Abranches, Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro;
especificamente sobre a queda de Collor, cf. Brasilio Sallum Jr., O impeachment de Fernando Collor:
Sociologia de uma crise.
16. Marcelo Campos Galuppo, Impeachment: O que é, como se processa e por que se faz; Bruno Galindo,
Impeachment: À luz do constitucionalismo contemporâneo, incluindo análises dos casos Collor e Dilma; Alexandre
Gustavo Melo Franco Bahia, Diogo Bacha e Silva e Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira, O impeachment
e o Supremo Tribunal Federal; Helder Felipe Oliveira Correia, A lei 1079/50 e o impeachment no direito
brasileiro; João Villaverde, Controle do soberano; Bonifácio José Suppes de Andrada, Mecanismos internos do
impeachment.
17. Cass R. Sunstein, Impeachment: A Citizen’s Guide, Laurence Tribe e Joshua Matz, To End a Presidency.
18. Michael J. Gerhardt, The Federal Impeachment Process; John R. Labovitz, Presidential Impeachment.
19. Raoul Berger, Impeachment; Michael Les Benedict, The Impeachment and Trial of Andrew Johnson;
William H. Rehnquist, Grand Inquests.
4. John G. Bellamy, The Law of Treason in England in the Later Middle Ages, p. 168. Latimer recebeu perdão
real pouco tempo depois.
5. Theodor Frank Thomas Plucknett, “The Origin of Impeachment”.
6. John Smith Roskell, The Impeachment of Michael de la Pole, Earl of Suffolk, in 1386, pp. 17-8.
7. John G. Bellamy, The Law of Treason in England in the Later Middle Ages, p. 168.
8. “Richard Lyons, mercador de Londres, foi impeached e acusado pelos ditos comuns de muitas fraudes,
extorsões e outros feitos malignos executados por ele contra nosso lorde o Rei e seu povo”; “Ainda,
William Lord Latimer foi impeached e acusado por inciativa dos ditos comuns de várias fraudes,
extorsões, agravos e outros feitos malignos executados por ele e por outros de seu povo e facção”. (Chris
Given-Wilson et al. [Orgs.], Parliament Rolls of Medieval England, abr.-jul. 1376, n. 17 e n. 20, grifos meus).
9. John G. A. Pocock, The Ancient Constitution and the Feudal Law: A Study of English Historical Thought in
the Seventeenth Century, p. 34.
10. John H. Baker, Manual of Law French, p. 65.
12. Martin Loughlin, The British Constitution: A Very Short Introduction, p. 25.
13. Corinne Comstock Weston, English Constitutional Theory and the House of Lords, pp. 9-42.
14. William Blackstone, Commentaries on the Laws of England, p. 12.
15. Ibid., pp. 60ss.
16. George Crabb, History of English Law, pp. 221-2.
17. Ibid., pp. 221-4.
18. Martin Loughlin, The British Constitution: A Very Short Introduction, p. 56.
19. George Crabb, History of English Law, p. 292.
20. Chris Given-Wilson et al. (Orgs.), Parliament Rolls of Medieval England. Maio 1368, n.75.
21. House of Representatives, Committee on the Judiciary, Impeachment of the President, 1867, p. 69.
22. John Smith Roskell, The Impeachment of Michael de la Pole, Earl of Suffolk, in 1386.
23. Bellamy atribui ao jurista Edward Coke (1552-1634) a responsabilidade pela popularização de uma
compreensão equivocada que se difundiu na cultura jurídica inglesa, segundo a qual o misprision
equivaleria a traição (misprision of treason). Bellamy registra, porém, que os primeiros usos
documentados do termo não tinham o qualificativo “de traição” e designavam apenas uma ação
equivocada (mistaken) ou errada (wrongful). John G. Bellamy, The Law of Treason in England in the Later
Middle Ages, p. 216.
24. William Blackstone, Commentaries on the Laws of England, p. 623.
25. John G. Bellamy, The Law of Treason in England in the Later Middle Ages, p. 216.
26. “The King”, “Our Lady his Queen”, “their Eldest Son and Heir”. Cf. Thomas Bayly Howell, A
Complete Collection of State Trials, v. , p. 974.
27. Chris Given-Wilson et al. (Orgs.), Parliament Rolls of Medieval England, Out. 1386, n. 5.
28. John G. Bellamy é da opinião de que a conduta de Suffolk, embora configurasse um grave delito
político (misprision), não se amoldava propriamente à lei da traição de 1352. Cf. John G. Bellamy, The Law
of Treason in England in the Later Middle Ages, p. 98.
29. Chris Given-Wilson et al. (Orgs.), Parliament Rolls of Medieval England, jan. 1395, “Introduction”.
30. John G. Bellamy, Complete Collection of State Trials, p. 113.
33. Gerald J. Meyer, The Tudors: The Complete Story of England’s Most Notorious Dynasty, pp. 420-1. As duas
esposas de Henrique decapitadas foram Ana Bolena, que motivou o rompimento do rei com o
catolicismo, e Catherine Howard, prima de Ana.
34. Gerald J. Meyer, The Tudors: The Complete Story of England’s Most Notorious Dynasty, p. 595.
35. Martin Loughlin, The British Constitution: A Very Short Introduction, p. 47.
36. Peter Ackroyd, History of England, v. 2: Tudors, p. 184.
37. Raoul Berger, Impeachment: The Constitutional Problems, p. 27; Stephen Sedley, Lions Under the Throne:
Essays on the History of English Public Law, p. 178.
38. Para o conceito de misprisions, ver nota 23 deste capítulo.
39. Unites States of America, Constitution of the United States, art. , sec. 9.
40. Geoffrey Robertson, The Tyrannicide Brief: The Story of the Man Who Sent Charles I to the Scaffold, p. 83.
41. Berger aponta que Josiah Quincy , porta-voz do grupo revolucionário Sons of Liberty, lembrou o
caso de Strafford em um jornal de Boston, celebrando o impeachment como instituto protetivo das leis
fundamentais e preventivo contra abusos de poder. Cf. Raoul Berger, Impeachment: The Constitutional
Problems, p. 30, n. 107.
42. Perez Zagorin, Rebels & Rulers 1500-1660, v. , p. 140.
49. Perez Zagorin, A History of Political Thought in the English Revolution, p. 191.
50. Samuel Gardiner, History of England from the Accession of James I to the Outbreak of the Civil War, 1603-
1642, p. 322.
51. Ronald G. Asch, “Wentworth, Thomas, First Earl of Strafford”. Carlos ainda tentou preservar a vida
de seu fiel oficial, propondo à Câmara dos Lordes que a pena capital aplicada a Strafford fosse comutada
em prisão perpétua, mas não foi atendido. Embora o processo contra Strafford tenha começado como
impeachment, ele tornou-se um attainder em meio ao procedimento. A razão da mudança é ainda hoje
profundamente controvertida na historiografia, já que o attainder exigia participação do rei, enquanto o
impeachment não. Para interpretações nesse debate, cf. Raoul Berger, Impeachment: The Constitutional
Problems, pp. 35-40.
52. Fábio Konder Comparato, A afirmação histórica dos direitos humanos, pp. 87-92.
53. Martin Loughlin, The British Constitution: A Very Short Introduction, p. 50.
54. Benjamin Constant identificou nesse distanciamento do rei em relação à administração do governo,
que passou às mãos do partido de maioria parlamentar, a chave da monarquia constitucional inglesa (cf.
Benjamin Constant, Ouvres politiques, p. 19).
55. Já na primeira metade do século , Robert Walpole, membro do Parlamento pela Câmara dos
Comuns, ganhou proeminência política sobre todos os ministérios e tornou-se de fato o primeiro
“primeiro-ministro” — termo de conotação pejorativa à época. Walpole renunciou às funções de
governo após as eleições de 1741, quando seus opositores conquistaram maioria parlamentar (cf.
Stephen Taylor, “Walpole, Robert, First Earl of Oxford”).
56. Martin Loughlin, The British Constitution: A Very Short Introduction, p. 51. O último ministro da
história inglesa a sofrer acusação através de impeachment foi Henry Dundas, em 1806 (cf. Michael Fry,
“Dundas, Henry, First Viscount Melville”).
57. Frank Bowman , High Crimes and Misdemeanors: A History of Impeachment for the Age of Trump, p. 40.
64. Bruce Ackerman, The Failure of the Founding Fathers: Jefferson, Marshall and the Rise of Presidential
Democracy, p. 24.
65. Bruce Ackerman, We the People: Foundations, pp. 28ss.
66. Thomas Paine, Rights of Man, Common Sense and Other Political Writings, p. 34.
67. Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, n. 70, p. 200.
68. “Muitas vezes torna-se impossível, em meio a acusações mútuas, determinar de quem é a culpa por
uma medida perniciosa. A responsabilidade é deslocada de uma pessoa para outra com tanta destreza, e
sob aparências tão plausíveis, que a opinião pública é deixada em suspense quanto ao verdadeiro autor da
medida” (Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, n. 70, p. 202).
69. Max Farrand, The Records of the Federal Convention of 1787, v. 2, 20 jul. 1787.
72. Unites States of America, Constitution of the United States, art. , sec. 1.
73. Bruce Ackerman, The Failure of the Founding Fathers, p. 24. Vale lembrar que não havia, à época,
partidos nacionais, canais para comunicação política em massa ou primárias partidárias para escolha de
candidatos pelo voto direto dos filiados.
74. Max Farrand, The Records of the Federal Convention of 1787, v. 2, 24 jul. 1787.
84. “O Senado terá poder exclusivo de julgar todos os impeachments. Quando se reunirem para esse fim,
[os senadores] estarão sob juramento ou afirmação” (Unites States of America, Constitution of the United
States, art. , sec. ). Também para isso havia antecedentes em algumas das antigas colônias: em Nova
York, a Constituição do estado mandava que julgamentos de impeachments, de competência da
Assembleia estadual, fossem conduzidos de forma “imparcial” e “de acordo com as provas” (cf. United
States of America (New York), The Constitution of New York, 20 abr. 1777, art. . Disponível em:
<https://avalon.law.yale.edu/18th_century/ny01.asp>. Acesso em: 27 jun. 2020).
85. Unites States of America, Constitution of the United States, art. ., sec. .
86. Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, n. 65, pp. 177-8.
87. Ibid., n. 65, p. 180.
88. Pierce Butler, representante da Carolina do Sul na Convenção da Filadélfia, em uma carta de 1788,
explicava que presidente, Câmara dos Deputados e Senado estavam para os Estados Unidos como rei,
Câmara dos Comuns e Câmara dos Lordes para os ingleses. A explicação foi dada para Weedon Butler,
um inglês que dirigia a escola onde estudava o filho de Pierce. Cf. Max Farrand, “Pierce Butler to
Weedon Butler”, The Records of the Federal Convention of 1787, v. 3. No mesmo sentido, diz Alexander
Hamilton, no ensaio n. 65 de O Federalista: “Foi o modelo do qual a ideia dessa instituição foi emprestado
que apontou esse rumo à convenção. Na Grã-Bretanha, é competência da Câmara dos Comuns levar a
cabo o impeachment, e da Câmara dos Lordes decidi-lo” (p. 178).
89. Segundo o historiador de política medieval Antonio Marongiu, “essas assembleias agiam como
conselhos de governo, cortes de justiça, corpos administrativos e financeiros e até mesmo órgãos de
justiça administrativa: pois essa visão alargada da Corte real exercia controle sobre atividades de oficiais e
agentes públicos” (Antonio Marongiu, Medieval Parliaments, p. 29).
90. Apenas em 1912 a eleição para o Senado tornou-se direta, por meio da 17a emenda constitucional.
91. Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, The Federalist Papers, n. 65, p. 180.
92. Frank Bowman , High Crimes and Misdemeanors: A History of Impeachment for the Age of Trump, p. 26.
94. Unites States of America, First Virginia Constitution, 29 jun. 1776 (disponível em:
<https://www.law.gmu.edu/assets/files/academics/founders/VA-Constitution.pdf>); John R.
Labovitz, Presidential Impeachment, p. 7.
95. Era o caso da Constituição de Nova York, de 1777, cujo artigo estabelecia que a condenação
em um impeachment não fosse além da perda do cargo e da inabilitação para o exercício de futuras
funções públicas (cf. Unites States of America (New York), The Constitution of New York, 20 abr. 1777, art.
. Disponível em: <https://avalon.law.yale.edu/18th_century/ny01.asp>. Acesso em: 27 jun.
2020).
96. Cf. Max Farrand, The Records of the Federal Convention of 1787, v. 3: “Appendix F: The Hamilton Plan”,
art. , § 13.
97. Max Farrand, The Records of the Federal Convention of 1787, v. 2, 14 set. 1787.
98. “Essa suspensão intermediária o colocará no poder de apenas um dos ramos do governo. Eles
poderão, a qualquer momento, para dar lugar a outro que será mais favorável aos seus pontos de vista,
votar uma destituição temporária do presidente” (cf. Max Farrand, The Records of the Federal Convention of
1787, v. 2, 14 set. 1787).
99. No segundo impeachment de Trump, o processo chegou ao Senado apenas após ele ter deixado o
cargo pelo final de seu mandato.
100. William Blount, acusado de conspirar contra o governo dos Estados Unidos para permitir a invasão
estrangeira no antigo território da Louisiana (cf. Laurence Tribe e Joshua Matz, To End a Presidency, p.
11).
101. O mais conhecido caso de impeachment contra um juiz foi o de John Pickering, em 1803 (cf. Lynn
W. Turner, “The Impeachment of John Pickering”). Pickering, que se tornou incapaz para a magistratura
pelo agravamento do alcoolismo, foi a primeira vítima da ira jeffersoniana contra juízes nomeados no
apagar das luzes do mandato presidencial anterior. A bibliografia sobre o seu caso é rica para o estudo do
impeachment por incapacidade mental nos Estados Unidos, sobretudo antes da 25a emenda
constitucional. Para uma leitura sobre a animosidade de Thomas Jefferson contra juízes federais, cf.
Lawrence W. Dixon, “The Attitude of Thomas Jefferson Toward the Judiciary”; e William H. Rehnquist,
Grand Inquests, pp. 50-1.
102. William H. Rehnquist, Grand Inquests, pp. 58-113.
103. Lincoln escolheu Andrew Johnson como vice não apenas para acenar com um projeto de união
entre nortistas e sulistas, mas também para recompensar a lealdade que ele demonstrara como senador:
foi o único sulista a ficar do lado da União quando os estados do Sul tentaram dissolver a federação, o
que levou à Guerra Civil de 1865.
104. Apud Gary L. Donhardt, In the Shadow of the Great Rebellion, p. 62.
105. William H. Rehnquist, Grand Inquests, p. 199.
108. Michael Les Benedict, The Impeachment and Trial of Andrew Johnson, pp. 3-5.
109. C-Span, “Presidential Historians Survey”. A pesquisa é citada por Cass Sunstein, Impeachment: A
Citizen’s Guide, p. 81.
110. Garry W. Gallagher et al., The American Civil War: The Mighty Scourge of War, p. 223.
111. Joseph T. Glatthaar, The American Civil War: The War in the West, 1863-1865, p. 90.
114. Congress of the United States, Annals of 39th Congress, sec. ., cap. 154, p. 431, 1867 (Disponível em:
<https://www.senate.gov/artandhistory/history/resources/pdf/Johnson_TenureofOfficeAct.pdf>).
Paulo Brossard traduz misdemeanors como “faltas” (ref.). Optei por “delitos” porque esse vocábulo faz
alusão à natureza criminal do ilícito. Importante lembrar que, na tradição brasileira, não houve
diferenciação entre “crimes” e “delitos”, ambos sendo sinônimos de “ilícitos criminais”, conforme
estabelecia o art. 1o do Código Criminal do Império (1830). Na tradição europeia, porém, “crimes” e
“delitos” eram diferentes. No código francês de 1810, “crimes” eram os ilícitos punidos com penas
“aflitivas ou infamantes”, enquanto delitos eram punidos com penas “correcionais” (art. 1o). Em inglês,
no mesmo sentido, misdemeanor designa, na compreensão jurídica do século , “um crime menor”
(William Blackstone, Commentaries on the Laws of England, p. 768), razão pela qual entendo que “delito” é
preferível a “falta”, já que esta última não tem substância essencialmente criminal.
115. Cass Sunstein, Impeachment: A Citizen’s Guide, p. 105.
116. Michael Les Benedict, The Impeachment and Trial of Andrew Johnson, p. 112.
117. John R. Labovitz, Presidential Impeachment, pp. 62-9.
118. Supreme Court of the United States. Myers vs. United States, 272 U.S. 52, 1926. Cass Sunstein
(Impeachment: A Citizen’s Guide, p. 106) aponta esse caso como prova de que a acusação contra Johson foi
uma vendeta política abusiva, sem fundamento constitucional aceitável.
119. Laurence Tribe e Joshua Matz, To End a Presidency, p. 55.
120. No mesmo sentido, John Labovitz argumenta que a acusação democrata iludiu-se em prender-se ao
Tenure of Office Act, seduzida pelo canto da sereia do “alto delito” preconizado no texto da lei. A pouca
ambição acusatória acabou servindo à defesa de Johnson, pois retirou do julgamento todo o debate sobre
a extensão do mal que sua presidência, infiel às leis e ao Congresso, causava a um país dilacerado pela
guerra e carente de uma liderança unificadora para seu processo de reconstrução (cf. John R. Labovitz,
Presidential Impeachment, p. 89.)
121. United States of America, Constitution of the United States, art. , sec. 3.
122. A imagem do mosaico para se referir à conduta da Johnson é de Laurence Tribe e Joshua Matz, To
End a Presidency, p. 56. Opinião semelhante, sobre a má estratégia acusatória, está no estudo seminal
sobre o impeachment de Andrew Johnson feito por Michael Les Benedict, The Impeachment and Trial of
Andrew Johnson, p. 36. No mesmo sentido, cf. ainda John R. Labovitz, Presidential Impeachment, pp. 88-9.
123. Laurence Tribe e Joshua Matz, To End a Presidency, pp. 54-6.
124. O escolhido foi John Schofield, da Virgínia, um conservador fiel ao plano aprovado pelo Congresso.
125. Michael Les Benedict, The Impeachment and Trial of Andrew Johnson, pp. 137-8.
5. José Antonio Pimenta Bueno, Direito público brazileiro e analyse da Constituição do Império, p. 116.
Pimenta Bueno também empregava o termo para designar condutas ilegais de magistrados (pp. 40ss).
Magistrados, embora integrassem, nos termos da Constituição de 1824, um poder independente, eram
não apenas profundamente imiscuídos nas questões políticas do reino por seus vínculos familiares e
sociais (cf. José Murilo de Carvalho, A construção da ordem: A elite política imperial, pp. 93ss), mas também
acumulavam funções na esfera local que iam muito além daquilo que hoje se atribui ao Poder Judiciário
(cf. Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, pp. 213ss.), a despeito das especificidades de formação
de juízes e de suas carreiras dentro do aparato estatal do Império (cf. José Reinaldo de Lima Lopes, “O
Supremo Tribunal de Justiça no apogeu do Império”, pp. 63ss.)
6. Essa linha autonomista foi proposta pelos deputados Manoel Caetano de Almeida e Albuquerque ()
e Lino Coutinho (), em detrimento da proposta de uma só lei que abrangesse todos os agentes
públicos, defendida por Nicolau de Campos Pereira Vergueiro () e Bernardo Pereira de Vasconcelos
(). Cf. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 20 jun. 1826, p. 216.
11. Constituição Política do Império do Brasil, 1824, art. 179, : “Todo cidadão poderá apresentar por
escrito ao Poder Legislativo, e ao Executivo, reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer
infracção da Constituição, requerendo, perante a competente autoridade a efetiva responsabilidade dos
infractores”. Embora o dispositivo não contemplasse explicitamente as denúncias por crimes de
responsabilidade contra ministros e conselheiros, era bem aceito o entendimento de que o direito de
petição abrangia essas situações. Para um exemplo da tentativa de aplicação do instituto dos crimes de
responsabilidade a uma alta autoridade imperial, ver a denúncia formulada contra o tenente-general
Joaquim de Oliveira Álvares e o ministro da Justiça, Teixeira de Gouveia, ainda durante o Primeiro
Reinado. Os fatos que a motivaram e o desenrolar na Câmara dos Deputados são descritos com bons
detalhes na biografia que Otávio Tarquínio de Sousa escreveu sobre o deputado Bernardo Pereira de
Vasconcelos (História dos fundadores do Império do Brasil, v. , pp. 96ss.). O caso do ministro da Guerra é
apresentado em riquíssimo detalhe na tese de doutorado de Luís Henrique Junqueira de Almeida
Rechdan, Constituição e responsabilidade: A articulação de mecanismos para controlar os atos ministeriais pela
Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil (1826-1829), pp. 328ss. Para a discussão do relatório da
comissão de constituição sobre a denúncia contra Joaquim de Oliveira Álvares, cf. Congresso Nacional,
Anais da Câmara dos Deputados, 10 jun. 1829, pp. 66-72.
12. Constituição da Federal da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 54.
13. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 2 out. 1891, p. 36.
14. Cf., por exemplo, Galdino Siqueira, O impeachment no regime constitucional brasileiro; e Lauro
Nogueira, O impeachment, especialmente no direito brasileiro. Para minha visão sobre a natureza jurídica dos
crimes de responsabilidade, cf. Rafael Mafei Rabelo Queiroz, “A natureza jurídica dos crimes de
responsabilidade presidencial no direito brasileiro: Lições a partir do impeachment de Dilma Rousseff”.
15. Paulo Brossard, O impeachment, pp. 65ss.
16. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 2 out. 1891, pp. 33-5.
17. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 2 out. 1891, p. 33.
18. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 2 out. 1891, p. 35.
19. Para as posições de Epitácio Pessoa e Felisbelo Freire, cf. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos
Deputados, 2 out. 1891, pp. 35-6.
20. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 53.
21. José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo, p. 545.
24. José Murilho de Carvalho, Forças Armadas e política no Brasil, pp. 25-6.
28. Para o manifesto de Deodoro da Fonseca e a minuta do decreto, cf. O Paiz, “Congresso Nacional”, p.
1.
29. Edgard Carone, A República Velha, p. 63.
30. Edgard Carone, A República Velha, pp. 64-8.
31. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 29, parte final.
32. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 52.
33. Antonio Herculano Lopes, “Do monarquismo ao ‘populismo’: O Jornal do Brasil na virada para o
século ”.
37. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 23 maio 1893, p. 128.
38. A Constituição de 1891, em seu artigo 42, previa a obrigatoriedade de novas eleições caso a
presidência se tornasse vaga antes de decorridos dois anos do mandato. Após o regime provisório
principiado em 1889, Deodoro da Fonseca iniciou seu mandato constitucional propriamente apenas em
fevereiro de 1891. Como sua renúncia ocorreu em novembro do mesmo ano, haveria obrigação de
Floriano, seu sucessor, convocar eleições, o que ele nunca fez. Cf. Paulo Bonavides e Paes de Andrade,
História constitucional do Brasil, p. 254.
39. José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e política no Brasil, p. 45.
40. Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, Brasil: Uma biografia, pp. 320-1.
42. A maior parte dos textos de Rui Barbosa sobre Floriano Peixoto está no tomo do volume de
suas Obras completas, sugestivamente intitulado “A ditadura de 1893”.
43. Boris Fausto, História do Brasil, p. 254.
44. Marina Ribeiro da Silva, “A primeira recusa de nomeação para o Supremo Tribunal Federal pelo
Senado: O dr. Barata Ribeiro”, pp. 3668-9.
45. Antonio Gasparetto Junior, Recursos extremos da administração estatal, p. 31. A lei inglesa chamava-se
Riot Act.
46. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 80 e §§.
47. Leda Maria Cardoso Naud, “Estado de Sítio”, p. 139. Como mostra a tese de Priscila Pivatto, as
discussões sobre suas limitações e competências para o estado de sítio foram um dos importantes
debates constitucionais da Primeira República (cf. Priscila Maddalozzo Pivatto, Ideias impressas, pp.
207ss.)
48. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 23 maio 1893, pp. 141ss.
49. A lei que regia a carreira de lentes do ensino superior à época limitava a demissão aos casos de crime
comprovado (Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 74: “As patentes, os
postos e os cargos inamovíveis são garantidos em toda a sua plenitude”).
50. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 23 maio 1893, p. 142.
51. João Barbalho Uchoa Cavalcanti, Constituição Federal Brasileira [1891], p. 164. O grande debate sobre
limitação ao estado de sítio na Primeira República referia-se à possibilidade de afastamento, ou não, das
imunidades de deputados e senadores. Seu momento seminal foram os habeas corpus impetrados por
Rui Barbosa em favor de parlamentares presos por ordem de Floriano Peixoto, em 1892, novamente sob
estado de sítio (ibid., pp. 165-6; Priscila Maddalozzo Pivatto, Ideias impressas, pp. 235ss; para a atuação de
Rui Barbosa, ver suas Obras completas, v. , t. ).
52. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891, art. 87, §3o: “Fica abolido o
recrutamento militar forçado”.
53. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 5 jun. 1893, pp. 93-122. Para um relato do
parecer da comissão, cf. Gazeta de Notícias, “Denúncia”, 31 mai. 1893, p. 1.
56. Na sequência do arquivamento da denúncia contra Floriano Peixoto, o Jornal do Brasil, pela pena de
Rui Barbosa, criticou a comparação impertinente com o caso de Andrew Johnson (cf. Jornal do Brasil,
“Lincoln, Johnson e Jackson”, p. 1.)
57. Gazeta de Notícias, “Denúncia”, p. 1.
58. Fabio Luis Tavares, A oligarquia paulista e sua articulação com o governo de Floriano Peixoto durante a
Revolta da Armada (1893-1894), p. 134.
59. José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e política no Brasil, p. 45; Hélio Silva, Floriano Peixoto: A
consolidação, pp. 121ss.
60. Emilia Viotti da Costa, O Supremo Tribunal Federal e a construção da cidadania, pp. 27-33.
61. Lêda Boechat Rodrigues, História do Supremo Tribunal Federal, t. , pp. 145-6.
62. José Reinaldo de Lima Lopes, O direito na história: Lições introdutórias, pp. 350ss. Para uma lista de
habeas corpus interpostos contra as medidas sanitaristas, ver José Reinaldo de Lima Lopes, Rafael Mafei
Rabelo Queiroz e Thiago dos Santos Acca, Curso de história do direito, pp. 462ss. Alguns desses
julgamentos estão disponíveis no portal de internet do , na aba “Julgamentos históricos”.
63. “É vedado ao Judiciário intervir para o fim de diretamente as atenuar, revogar ou anular, mandando
na última hipótese, que a Assembleia Legislativa reconsidere e renove sua decisão contra o vencido, ou
mantenha certa e determinada pessoa no cargo de governador ou vice-governador”, decidiu o tribunal
em 1895 (apud José de Castro Nunes, Teoria e prática do Poder Judiciário, p. 272). A mesma decisão é citada
por Paulo Brossard, O impeachment, p. 155. No mesmo sentido, ver , acórdão 343, 22 jul. 1899.
64. Cf. Paulo Brossard, O impeachment, p. 156. Trata-se do habeas corpus 3018, de 1911. Na nota 423,
Paulo Brossard informa que a tese foi reafirmada pelo tribunal em 1937, no julgamento do habeas
corpus 26 544.
65. Confira-se a posição de Pedro Lessa na matéria do habeas corpus 2793; cf. Carlos Bastide Horbach,
Memória jurisprudencial: Ministro Pedro Lessa, p. 88.
66. José de Castro Nunes, Teoria e prática do Poder Judiciário, p. 271.
68. “ 4091”, disponível na Revista do Supremo Tribunal Federal, v. , out. 1922, pp. 11ss.
75. , 378, rel. acórdão min. Luís Roberto Barroso, j. 17 dez. 2015.
76. Para uma narrativa das acusações e investigações contra Ademar de Barros, cf. Luiza Cristina
Villaméa Cotta, Adhemar de Barros (1901-1969): A origem do Rouba mas faz.
77. Correio Paulistano, “A Lei do Impeachment”, p. 2.
78. O presidente Eurico Gaspar Dutra chegou a considerar a hipótese de uma intervenção federal para
sanar as contas do Estado (cf. O Jornal, “Intervenção federal em São Paulo”, 1o jun. 1948).
79. Uma amostra da disposição do senador Olavo de Oliveira em combater o “apressar da marcha” do
projeto da Lei do Impeachment, que ele próprio enxergava como um risco para governadores, está nos
debates parlamentares que se seguiram à apresentação do projeto de lei no 22 de 1948, da Comissão
Mista de Leis Complementares do Congresso (Congresso Nacional, Anais do Senado, v. , sessões de
junho de 1948, pp. 297ss).
80. O dispositivo estabelece que a procedência da acusação — isto é, a votação na Câmara dos
Deputados, para o caso de presidentes — só será decretada “pela maioria absoluta [isto é, o primeiro
número inteiro superior à metade do total de membros] da Câmara que a proferir”. Era o que dizia o
texto enviado pela Câmara ao Senado e devolvido pelo Senado à Câmara em 24 de maio de 1949. Porém,
nessa volta à Câmara, o artigo ganhou um parágrafo único que dizia que a maioria absoluta para a
condenação pelo Senado seria calculada “sobre o número de representantes que efetivamente estiverem
em atividade no exercício de suas funções”. Ao diminuir o número sobre o qual a fração seria calculada,
o novo texto consequentemente diminuía também o número de votos necessários à condenação. À
época, suspeitava-se que o autor da alteração clandestina do texto havia sido o deputado paulista Plínio
Barreto, da . Segundo a fórmula por ele proposta, o número de deputados estaduais necessários ao
impeachment de Ademar cairia de 38 para 33, sendo que a coalizão oposicionista - contava
com 36 membros.
81. O Jornal, “Aprovada a redação da ‘Lei do Impeachment’ apesar de considerada inconstitucional”;
Correio Paulistano, “Sancionada a lei de responsabilidades”, p. 3.
82. Diário de Notícias, “Notas parlamentares”. O deputado federal Luís de Toledo Piza Sobrinho, da
de São Paulo: “Vamos fazer um processo contra o governador de São Paulo logo que a Lei do
Impeachment seja aprovada e sancionada” (cf. Diário de Pernambuco, “Dividido em três alas o em
São Paulo”).
83. Edmundo Barreto Pinto, petebista do Distrito Federal que foi autor de quase todas as 21 propostas de
emenda na comissão, e que havia se deixado fotografar de paletó de smoking e ceroulas pela revista O
Cruzeiro, em 1946, e acabou cassado por quebra de decoro parlamentar. Segundo Élio Gaspari, o
deputado dizia ter sido enganado pelos fotógrafos, que lhe haviam prometido não publicar a foto de
corpo inteiro. Na data de sua cassação, os autos do processo legislativo da Lei do Impeachment estavam
com ele em casa, e Pinto nunca se importou em voltar à Câmara para devolvê-los. A teve de
restaurar toda a documentação a partir de cópias, e só então a matéria pôde ser debatida e aprovada pela
Comissão. Cf. pronunciamento de Agamenon Magalhães nos autos de tramitação legislativa da lei no
1079/1950 e Elio Gaspari, “A filantropia de Ibaneis Rocha”.
84. O ofício do deputado Caiado de Godói está disponível na documentação de tramitação legislativa da
lei no 1079/1950 (cf. Câmara dos Deputados, projeto no 1384-, 1949).
85. Douglas Apratto Tenório, A tragédia do populismo: O impeachment de Muniz Falcão, p. 80. A regra que
impõe maioria de dois terços mesmo para o tribunal misto está no art. 78, §2o da lei no 1079/1950.
86. Douglas Apratto Tenório, A tragédia do populismo: O impeachment de Muniz Falcão, pp. 52-3; Jornal do
Brasil, “Metralha e morte adiam ‘impeachment’ em Alagoas”.
87. Para a competência da Câmara dos Deputados, cf. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1946,
art. 59, ; lei no 1079/1950, arts. 19-23; para a competência do Senado Federal, cf., respectivamente, art.
62, e arts. 24-34.
88. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 51: “Compete privativamente à Câmara
dos Deputados: . autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o
presidente e o vice-presidente da República e os ministros de Estado”.
89. Em comparação à lei de 1892, os crimes contra a existência política da União da lei no 1079/1950 são
descritos de modo mais sucinto e mais abrangente, pois ela (art. 5o, no 5) emprega uma cláusula
genérica para proibir auxílio “por qualquer modo” a nação estrangeira no contexto de guerras ou
hostilidades ao Brasil. As condutas que a lei anterior definia como crimes contra a Constituição e a forma
do governo federal foram absorvidas, na lei no 1079, pelos crimes contra a segurança interna do país, que
compreendem qualquer forma de tentativa de subversão, “por violência”, da federação ou das
constituições estaduais (art. 8o, no 2).
90. Congresso Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, 20 jun. 1826, p. 216.
91. Segundo a lei no 1079/1950, art. 36, senadores não podem participar do julgamento se tiverem
parentesco próximo ao acusado, ou se tiverem atuado como testemunha em fase anterior do processo.
Vale observar como esse impedimento não existe para outras atuações do ofício parlamentar: um agente
político é livre para fazer campanha pedindo voto para familiares e amigos, e pode até indicar um filho
para uma embaixada; do mesmo modo, deputados e senadores não precisam se declarar impedidos para
votar projetos de lei apresentados por esposas e maridos, filhos e filhas, irmãos ou irmãs.
92. , 4928, rel. min. Vilas Boas, j. 20 nov. 1957. Esse entendimento foi referendado sob a
Constituição de 1988 no 21 623, rel. min. Carlos Velloso, j. 17 dez. 1992.
93. Claudia Paiva Carvalho, Presidencialismo e democracia no Brasil (1946-1956), pp. 109-10. Dentre os
objetos das s contra Vargas estavam financiamentos concedidos pelo Banco do Brasil, as relações do
presidente com Samuel Wainer e o jornal Última Hora, que apoiavam as medidas de sua administração, e
ainda a criação do chamado “Bloco ”, O deputado Olavo Bilac Pinto, que chegaria a ministro do
na década de 1970, lutou pela instauração de uma para investigar as relações entre Vargas e Perón e
seus interesses pessoais na criação da aliança. Cf. João de Lira Neto, Getúlio, v. 3, p. 279. As investidas
jurídicas contra Getúlio eram frequentemente planejadas pela chamada “Banda de Música” da (cf.
Maria Victoria Mesquita Benevides, A UDN e o udenismo, pp. 84ss.) e alimentadas por Carlos Lacerda (cf.
João de Lira Neto, Getúlio, v. 3, pp. 244-5).
94. Adelina Alves Novaes e Cruz et al., Impasse na democracia brasileira, 1951-1955: Coletânea de documentos,
p. 273.
95. Tribuna da Imprensa, “‘Impeachment’ contra Vargas, processo contra Aranha”.
96. Luís Barrucho, “Anticomunista e pró-ditadura, autor de impeachment de Vargas vive ‘esquecido’ e
recluso”.
97. Adelina Alves Novaes e Cruz et al., Impasse na democracia brasileira 1951/1955: Coletânea de documentos,
p. 273.
98. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, 6 maio 1954, pp. 2286-7. O documento foi
republicado com os anexos que o instruíram e o parecer da comissão especial em Congresso Nacional,
Diário do Congresso Nacional, 2 jun. 1954, pp. 1-120.
99. Tribuna da Imprensa, “‘Impeachment’ contra Vargas, processo contra Aranha”.
100. O , contribuiu com nove deputados; a, com seis; o , com quatro; e, com um
deputado cada, , , , , , , , e (cf. Tribuna da Imprensa, “Comissão para
estudar o ‘impeachment’ de Vargas”).
101. “Antes da deliberação das instâncias competentes para julgar as contas do presidente, não é lícito a
quem quer que seja pretender que sobre elas se emita parecer, juízo ou sentença”, disse o relatório.
Vencidos, os deputados Herbert Levy, Mauricio Joppert, Bilac Pinto e João Dantas Júnior manifestaram-
se em sentido contrário, dizendo que a Câmara era livre para avaliar crimes de responsabilidade do
presidente mesmo sem manifestação do Tribunal de Contas (Diário do Congresso Nacional, sec. ,
suplemento n. 87, 2 jun. 1954, pp. 119-20).
104. Além da insistência do na candidatura de Juscelino, as lideranças dos grupos que se opunham a
ele tinham grandes dificuldades a chegar em um consenso entre as muitas candidaturas possíveis, dentre
as quais havia o mineiro Milton Campos e o militar Juarez Távora, ambos da ; o prefeito de São
Paulo, Jânio Quadros, do ; Etelvino Lins, pessedista dissidente de Pernambuco; e Ademar de Barros,
do paulista (Cf. -, “Café Filho”).
111. No dia 9 de novembro, o líder do na Câmara dos Deputados, José Maria Alkmin, visitou-o no
hospital e relatou tê-lo encontrado barbeado, penteado e bem-disposto na cama, reunido com Afonso
Arinos (cf. Edgard Carone, A República liberal, p. 109).
116. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, p. 8373.
117. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, p. 8373.
118. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, p. 8372.
119. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, p. 8373.
120. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, p. 8374.
121. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, pp. 8381-2. Como aponta
Skidmore (Brasil: De Getúlio a Castelo, p. 195), o voto sobre o “impedimento” de Luz “seguiu estritamente
a linha dos partidos”, o que enfatiza “o caráter partidário do conflito”.
122. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 12 nov. 1955, pp. 2795-6.
124. O impedimento para o exercício do cargo importa em substituição (“substitui o presidente, em caso
de impedimento”), enquanto a vacância do cargo importa em sucessão (“sucede [o presidente], no [caso]
de vaga”). O impedimento é fenômeno temporário, enquanto a vacância é permanente (cf. José Afonso
da Silva, Curso de direito constitucional positivo, p. 545).
125. Em inglês, o impeachment é a acusação, ao passo que “impedimento” refere-se ao efeito de essa
acusação ser julgada procedente pelo Senado — o presidente é “impedido” de seguir no cargo, é
“impedido” de ocupar outros cargos pelo prazo de oito anos. Como impeachment, em inglês, é a
acusação, é possível dizer que houve três presidentes dos Estados Unidos que sofreram impeachment:
Andrew Johnson (1868), Bill Clinton (1998) e Donald Trump, duas vezes (2019 e 2021), embora todos
tenham sido absolvidos no Senado.
128. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 22 nov. 1955, p. 8576.
129. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , suplemento, 22 nov. 1955, pp. 9ss (Câmara
dos Deputados); e seção , suplemento, 22 nov. 1955, pp. 28ss. (Senado Federal).
130. Congresso Nacional, Diário do Congresso Nacional, seção , 22 nov. 1955, p. 8575.
132. Em 1964, quando presidia o , Ribeiro da Costa manifestou apoio ao golpe militar contra João
Goulart, mas pouco tempo depois protagonizou uma disputa pública virulenta com o general Artur da
Costa e Silva, então ministro da Guerra de Castelo Branco, em torno da autonomia do Poder Judiciário
em face do Executivo em um alegado contexto de “revolução”. Para um relato do confronto, cf. Rafael
Mafei Rabelo Queiroz, “Cinquenta anos de um conflito: O embate entre o ministro Ribeiro da Costa e o
general Costa e Silva sobre a reforma do (1965)”, pp. 323-42.
133. Para uma crítica no mesmo sentido, cf. Paulo Brossard, O impeachment, p. 203.
134. Senado Federal, Anais do Senado, v. , sessões de jun. 1948, p. 288.
135. Rafael Mafei Rabelo Queiroz, “Impeachment e Lei de Crimes de Responsabilidade: O cavalo de
Troia parlamentarista”.
136. Diego Nunes e Murilo De Robbio, “Impeachment: Apontamentos para uma pesquisa histórico-
jurídica sobre a lei no 1079/1950”; Helder Felipe Oliveira Correia, A lei no 1079/50 e o impeachment no
direito brasileiro, pp. 74ss; Guilherme Lemos de Castro, O julgamento do presidente da República por crime de
responsabilidade, pp. 51-2.
137. Claudia Paiva Carvalho, Presidencialismo e democracia no Brasil (1946-1956), p. 115.
138. José Murilo de Carvalho, A construção da ordem: A elite política imperial e Teatro de sombras: A política
imperial, pp. 400ss.
139. José Antônio Cheibub descreve o voto de desconfiança, que permite ao Parlamento remover um
primeiro-ministro que perdeu apoio político como a “diferença crucial entre sistemas parlamentaristas e
presidencialistas”. Com isso, é possível retirar a causa de paralisia do governo quando ela decorra de
impasses políticos entre situação e oposição. “Nos sistemas presidenciais”, prossegue Cheibub, “a única
forma de lidar com a paralisia seria esperar pela próxima eleição”, ou então valer-se de atores que se
disponham a empregar “meios extraconstitucionais para ajudar a resolver o conflito” (Presidentialism,
Parliamentarism, and Democracy, p. 87). Cheibub rejeita o argumento usual — empregado no Brasil, entre
muitos outros, por Paulo Brossard — de que o regime presidencialista é essencialmente menos instável
do que o regime parlamentar: para ele, nos países onde houve ruptura democrática a quebra de regime
se explica menos pelo sistema de governo e mais pelas condições sob as quais esses regimes existiam (cf.
pp. 136ss).
140. Na acusação por abuso de poder, Trump recebeu um voto de um senador republicano (Mitt
Romney, de Utah) a favor da condenação. Cf. Peter Baker, “Impeachment Trial Updates: Senate Acquits
Trump, Ending Historic Trial”.
141. “Escudo legislativo” (legislative shield) é expressão empregada por Pérez-Liñán para salientar o papel
de veto que o Poder Legislativo tem no processo do impeachment. Cf. Aníbal Pérez-Liñán, Presidential
Impeachments and the New Political Instability in Latin America, pp. 132ss.
142. Ibid., p. 206.
2. Para a Revolta da Chibata e sua importância no imaginário político brasileiro do século , cf. Silvia
Capanema P. de Almeida, “Do marinheiro João Cândido ao Almirante Negro: Conflitos memoriais na
construção do herói de uma revolta centenária”.
3. Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, Brasil: Uma biografia, pp. 328-37; Cláudio Batalha, O movimento
operário na Primeira República.
4. Rui Barbosa, “As ruínas da Constituição”, p. 80.
5. Paulo Brossard, O impeachment, pp. 191-204.
8. Alejandro Kuajara Arandia, “O mercado de trabalho frente à crise dos anos 1980 e aos planos de
estabilização”, Indicadores Econômicos FEE, p. 148-9.
9. Miriam Leitão, Saga brasileira, pp. 89ss.
12. Em suas palavras: “O propósito imediato de meu governo, senhores, a meta número um de meu
primeiro ano de gestão, não é conter a inflação: é liquidá-la”. Cf. Fernando Collor de Mello, discurso “O
projeto de reconstrução nacional”, 15 mar. 1990, p. 13. Biblioteca da Presidência da República.
13. Ibid., p. 11.
15. Segundo Sallum Jr. e Casarões, o uso de s após a chegada da nova legislatura foi drasticamente
reduzido por Collor, inclusive como mecanismo para tentar melhorar sua relação com o novo Congresso
(“O impeachment do presidente Collor: A literatura e o processo”, p. 181).
16. O número é apresentado por Brasilio Sallum Jr. (O impeachment de Fernando Collor, p. 118). Ele destoa
do número apresentado por Guilherme Stolle Paixão e Casarões (A economia política do governo Collor, p.
79) e replicado por Sérgio Abranches (Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político
brasileiro), que é bem menor: 89 em todo o governo, média de 2,9 mensal. Em pesquisa na Câmara dos
Deputados, os resultados falam a favor dos dados de Sallum Jr.: a primeira de Collor, de 15 mar.
1990, foi a no 148, dispondo sobre a alienação de bens da União em Brasília; a última do mesmo ano foi a
290 de 17 dez. 1990, totalizando 143 em um ano, o exato número apresentado por Sallum Jr.
17. Pedro Abramovay, Separação de poderes e medidas provisórias, pp. 68-9.
24. Sérgio Abranches, Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 97.
25. Clovis Rossi, “De indignados e perplexos”.
29. Guilherme Stolle Paixão e Casarões, A economia política do governo Collor, p. 48.
30. Brasilio Sallum Jr., O impeachment de Fernando Collor, pp. 111-5.
31. Cf. pesquisa efetuada em 10 ago. 2020 no portal da Câmara dos Deputados (Pesquisa avançada de
legislação, medidas provisórias entre 1o fev. 1991 e 31 jan. 1992).
32. Luiz Carlos Bresser-Pereira, “O décimo primeiro plano de estabilização”, p. 132-6.
39. Os eleitos foram Ibsen Pinheiro (), para a Câmara, e Mauro Benevides (), para o Senado. Cf.
Brasilio Sallum Jr., O impeachment de Fernando Collor, p. 123.
40. Datafolha, “Avaliação do governo Collor: 1992”.
41. Nelson Jobim havia proposto dois para limitar a reedição de s pelo Executivo, em março e
abril de 1990: o 216 e o 223.
42. Goffredo Telles Jr., José Afonso da Silva e Ives Gandra Martins faziam, nesse sentido, crítica a Collor,
sugerindo apoio à iniciativa de Nelson Jobim. Cf. O Estado de S. Paulo, “Juristas divergem sobre projeto de
Jobim”.
47. Ary Ribeiro, “Congresso derruba do funcionalismo”. Jarbas Passarinho, ministro da Justiça que
assumira a tarefa de negociar sua aprovação, pediu demissão em penitência, mas foi demovido por
Collor (cf. Brasilio Sallum Jr., O impeachment de Fernando Collor, p. 137).
48. Íntegra da nota disponível em O Estado de S. Paulo, “Os militares desejam um país feliz”.
49. Marta Salomon, “Maciel anuncia nova sobre salários”.
50. Lei no 8222, de 5 set. 1991. O governo propunha indexação apenas do salário mínimo, ficando os
demais salários reajustáveis por livre negociação, mas os parlamentares aprovaram reajustes para salários
no valor de até três mínimos, além de terem fixado um valor para o salário mínimo que era maior do
que o defendido pela equipe econômica.
51. Folha de S.Paulo, “Projeto foi redigido prevendo os vetos”.
54. O Estado de S. Paulo, “Governadores aceitam debater Emendão”; Brasilio Sallum Jr., O impeachment de
Fernando Collor, p. 144.
55. O Estado de S. Paulo, “Collor envia Emendão ao Congresso”.
56. Sérgio Abranches, Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 105.
57. Brasilio Sallum Jr., O impeachment de Fernando Collor, p. 143.
58. Sérgio Abranches, Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 105.
59. Datafolha, “Avaliação do governo Collor: 1992”.
60. Sérgio Abranches, Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 106.
61. Luiz Antônio Fleury Filho, “Presidencialismo democrático”.
62. José Sarney, “Entrevista” in Luiz Maklouf Carvalho, 1988: Segredos da Constituinte, p. 53. Mário Covas
de fato saiu candidato em 1989. Com 11,51% dos votos válidos, ficou em quarto lugar no primeiro
turno, atrás de Collor, Lula e Leonel Brizola (cf. Paulo Beraldo e Vinicius Passarelli, “Eleição presidencial
de 1989”). O relato de Sarney deve ser visto com cautela, pois fontes da imprensa da época informam
que também ele trabalhou contra o parlamentarismo, ou ao menos contra a possibilidade de que ele
fosse aplicado para seu mandato (cf. O Estado de S. Paulo, “Sarney não aceita um regime misto”, p. 4).
63. Por fim, Collor passou a rejeitar até a alternativa da mudança para o parlamentarismo nos próximos
governos. Orientado pelo líder do governo na casa, senador Marco Maciel, do , percebeu que a
simples aprovação do parlamentarismo em seu governo, ainda que valesse apenas para o próximo
presidente, já o deixaria completamente desautorizado (Gilberto Dimenstein, “Maciel levou governo a
combater emenda”, pp. 1-6).
72. O qualificativo é empregado pelo ministro do Carlos Velloso para se referir a Itamar Franco (cf.
Carlos Mario da Silva Velloso, “Depoimento ao ”, p. 87). Para o atrativo da imagem pública de
Itamar à campanha de Collor, cf. -, “Franco, Itamar”.
73. Rosa Costa e Eduardo Kattah, “Com Collor, uma relação conturbada; com , a mágoa”.
82. O Estado de S. Paulo, “Irritado por não ter poder, Itamar decide deixar o ”.
90. Foram consultados nomes como André Lara Resende e outros da Fundação Getulio Vargas () e
do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
91. Aníbal Pérez-Liñán, Presidential Impeachments and the New Political Instability in Latin America, p. 68.
92. Marcos Emílio Gomes, “Histórias de primeiras-damas”.
93. Michele Tupich Barbosa, Legião Brasileira de Assistência: O protagonismo feminino nas políticas de
assistência em tempos de guerra (1942-1946), p. 59.
94. Ibid., p. 19.
95. Ibid.
98. Agentes políticos não podem utilizar, no marketing de políticas públicas, nomes, slogans ou cores
que façam alusão a si próprios ou a seus partidos, pois o art. 37 da Constituição exige que toda ação da
administração pública seja balizada, entre outros, pelo princípio da impessoalidade.
99. Além da compra de leite em pó superfaturado, outras denúncias atingiram a administração da ,
como o desvio de verbas pela falsa contratação de caminhões-pipa para abastecimento da população
atingida pela seca em Alagoas (Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto, p.474), ou a aquisição de
toneladas de alimentos que apodreceram antes de serem distribuídos (, 001 317/93-8, decisão no
310/93, rel. min. Fernando Gonçalves, j. 11 ago. 1993), entre outros.
100. As fontes constultadas trazem informações contraditórias sobre os processos enfrentados por
Rosane Collor e seu resultado. Não localizei, na Justiça Federal do , nem em tribunais superiores,
referência (nem por seu nome de casada, nem por seu nome de solteira, Rosane Brandão Malta) ao
processo criminal movido contra ela pelos alegados desvios na . A menção à sua absolvição nesse
processo criminal é feita por ela própria em uma entrevista ao jornal mineiro O Tempo: “Tive problemas,
mas, graças a Deus, fui inocentada” (O Tempo, “Rosane diz que ficou sem nada”). Em primeira instância,
Rosane foi condenada pela Justiça Federal a mais de onze anos de prisão, o que sugere que sua absolvição
se deu em grau de recurso (Sônia Filgueiras, “Justiça Federal condena Rosane Collor”). O caso teve
repercussões além da esfera penal: em 2001, o também condenou a ex-primeira-dama ao
pagamento de uma multa (O Estado de S. Paulo, “Tribunal condena Rosane Collor a pagar R$ 1,8 mil”).
115. “A psiquiatria aponta muitos casos em que um irmão se incomoda com a ascensão de outro. Existe
até quem mata uma pessoa só para sair numa manchete de jornal”, disse (Folha de S.Paulo,
“Governadores defendem Collor contra o irmão”).
116. Ricardo Osman, “Brizola aconselhou pronunciamento”.
118. Esse entendimento ficou claro apenas na presidência de Michel Temer (, inq. 4483, rel. min.
Edson Fachin, 19 maio 2017). A despeito da falta de clareza sobre a possibilidade de investigacão de um
presidente por crimes sem licença da Câmara dos Deputados, o procurador-geral da República, Aristides
Junqueira, esclareceu que a investigação poderia esbarrar em indícios de crimes, comuns ou de
responsabilidade, cometidos por Collor. Nessa hipótese, a investigação seria enviada à autoridade
competente, a depender dos delitos de que o presidente eventualmente fosse suspeito: o , no caso de
crimes comuns, ou o Congresso Nacional, no caso de crimes de responsabilidade (cf. O Globo, “Polícia
Federal não tem poder para instaurar um inquérito”.)
119. “O Congresso não pode fazer para investigar o presidente. Se vocês fizerem isso, vou ao
Supremo”, disse Nelson Jobim na reunião de líderes que debateu o tema (cf. O Globo, “Congresso decide
criar uma mista”).
121. Folha de S.Paulo, “Governadores defendem Collor contra o irmão” e “Líderes decidem amanhã se
instalam ”.
124. O Estado de S. Paulo, “ e Ulysses buscam saída para crise”; “Requião pede renúncia imediata do
presidente” e “Lula quer afastamento até fim da investigação”.
125. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp. 113-4. A paginação dos autos do processo de impeachment de Collor refere-se à
versão digitalizada () de cada um dos quatro volumes do documento.
126. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 118.
127. Até abril de 2021, quando este livro foi concluído, Turner respondia a processos criminais por
condutas praticadas em conjunto com Dario Messer, o chamado “doleiro dos doleiros” (cf. Fausto
Macedo, “Noronha mantém na prisão uruguaio amigo do ‘doleiro dos doleiros’”).
128. As revelações e declarações de deputados e senadores estão nos depoimentos de Cláudio Vieira e
Najun Turner na (Cf. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente
da República (Diversos no 12, 1992), v. , passim). Confirmação da operação feita pelo próprio Najun
Turner está em seu depoimento como testemunha no processo de impeachment perante o Senado, em
novembro de 1992 (idem, v. II, pp. 1157ss.). Na ocasião, o depoente detalhou o fechamento do negócio
com Cláudio Vieira, a quem Turner fora apresentado por Farias (idem, pp. 160-1). Relata-se também
que a mesma informação fora dada por ele à Polícia Federal, em depoimento prestado em 1o out. 1992.
130. Crimes de responsabilidade, como abuso inconstitucional dos poderes da função presidencial,
logicamente só podem ser cometidos por um presidente enquanto ele estiver no cargo. Da mesma
forma, o crime de corrupção passiva (do qual Collor era suspeito) exige nexo entre vantagens
ilegalmente recebidas por um agente público e atos próprios da função pública que sejam praticados,
retardados ou omitidos pelo agente em troca dessas vantagens ilegais. Por essa razão, deslocar a relação
ilícita entre Fernando Collor de Mello e Farias para o momento da campanha, anterior ao mandato,
poderia ser juridicamente proveitoso para a defesa de Collor.
133. O Fiat Elba foi comprado para Collor, e em seu nome. O cheque administrativo no 2800 do Banco
Rural, no valor de Cr$ 2.580.967,02, foi trocado pelo próprio banco pelo cheque no 443.414, de valor
rigorosamente idêntico, emitido pelo “fantasma” José Carlos Bonfim, em 5 abr. 1991. O cheque foi
entregue à concessionária de automóveis pelo motorista Eriberto França, por ordem da secretária
pessoal de Collor, Ana Acioli. Cf. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o
presidente da República (Diversos no 12, 1992), v. , p. 294.
134. Os habeas corpus tentados, sem sucesso, pela defesa de Fernando Collor de Mello contra a
foram: 69 608, 69 616, 69 647, 69 709, 69 674, 69 720 e 69 721.
135. A jurisprudência do não é consistente nesse sentido, pois em casos relativos a crimes de
responsabilidade de governadores o tribunal alega que só a União pode legislar sobre crimes de
responsabilidade por tratar-se de matéria penal (cf. , 2220, rel. min Cármen Lúcia, j. 16 nov.
2011). O entendimento levou à edição da súmula vinculante 46: “A definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de
competência legislativa privativa da União”.
136. O Globo, “Multidões vestem luto nas capitais”.
137. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 403.
139. Por ocasião do impeachment de Dilma Rousseff, assim ele se manifestou: “Se [a comissão] não
dispunha de poderes para investigar o presidente da República, como poderia imputar-me crimes que
não cometi, que não se investigou, [que] não indicou, nem sequer tipificou?” (cf. Fernando Collor de
Mello, “Réplica para a história: Uma catarse”, p. 15).
140. Evandro Lins e Silva, O salão dos passos perdidos, p. 441.
141. Regina Barreiros, “Documento do impeachment pede urgência”.
142. Evandro Lins e Silva, O salão dos passos perdidos, p. 441.
143. Segundo a imprensa, essa escolha havia sido tomada aproximadamente duas semanas antes da
apresentação da denúncia (cf. O Estado de S. Paulo, “Ibsen vê aprovacão do impeachment”; sobre a
estratégia das assinaturas, cf. O Globo, “Pedido terá apenas duas assinaturas”).
144. Evandro Lins e Silva, O salão dos passos perdidos, p. 442.
147. Folha de S.Paulo, “ não vai defender nem atacar Collor”.
148. Raquel Ulhôa, “Borja diz que renúncia não é ato de covardia”.
149. Edna Dantas e Eumano Silva, “Ibsen dá prazo para Collor se defender”.
150. A orientação pacificava uma celeuma que ficara aberta por falta de maioria clara na decisão do
20 941, de 1990, impetrado por adversários de José Sarney que queriam fazer andar uma acusação por
crime de responsabilidade contra ele. Na ocasião, alguns ministros que votaram com a maioria haviam se
manifestado pela não recepção da parte processual da lei no 1079/1950, enquanto outros, igualmente
vencedores, haviam opinado pela recepção da lei (cf. , 20 941, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 9
fev. 1990).
153. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 459.
154. Fernando de Castro Fontainha et al. (Orgs.). História oral do Supremo, . 9, pp. 132-3.
155. É importante destacar que uma denúncia mais abrangente não se mostraria incompatível com o rito
do processo de impeachment apresentado pelo presidente do , ministro Sydney Sanches, quando ele
assumiu a presidência das sessões de julgamento do Senado. Segundo aquele roteiro, que no fim foi
seguido no caso, o escopo final da acusação seria definido apenas no libelo acusatório apresentado ao
Senado. No caso de Collor, isso foi feito pelos advogados Evandro Lins e Silva e Sérgio Sérvulo da
Cunha. Há que se considerar também que a lei no 1079/1950 não pressupõe que a denúncia inicial à
Câmara seja feita por advogados: essa acusação inicial pode ser feita por “qualquer cidadão” (art. 14), que
no mais das vezes não dispõe dos instrumentos de investigação e das fontes documentais suficientes para
provar cabalmente suas suspeitas. Na petição apresentada contra Collor à Câmara dos Deputados, por
exemplo, os denunciantes requereram cópias dos autos da , que obviamente continham provas que
se mostraram determinantes à condenação do presidente. A lei trabalha com a lógica de que a denúncia
apresentada à Câmara condiciona os limites do processo, mas o escopo da acusação vai se especificando
com o andamento dos trabalhos, à medida que a acusação escolhe priorizar alguma das acusações na
denúncia, enquanto outras acabam deixadas a segundo plano.
156. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 690.
157. Entre 30 de março e 4 de abril de 2016, foram ouvidos os autores da denúncia e, como “convidados”
da defesa, o economista Nelson Barbosa e o jurista Ricardo Lodi Ribeiro.
158. Constituição da República Federativa do Brasil 1988, art. 86, §1o, inc. .
159. Lei no 1079, art. 23, §5o: “São efeitos imediatos ao decreto da acusação do presidente da República,
ou de ministro de Estado, a suspensão do exercício das funções do acusado e da metade do subsídio ou
do vencimento, até sentença final”.
162. Fernando de Castro Fontainha, Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos e Leonardo Seiichi
Sasada Sato (Orgs.). História oral do Supremo, . 5., p. 121.
163. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 702.
166. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 714.
167. Para os debates, cf. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da
República (Diversos no 12, 1992), v. , pp. 714-20.
168. Segundo Evandro Lins e Silva, a atuação técnica do senador Mariz, fruto de sua experiência como
promotor de justiça, foi decisiva para dar substância às acusações contra Collor (cf. Evandro Lins e Silva,
O salão dos passos perdidos, p. 459).
169. Essa etapa proveio de uma adaptação da lei no 1079, pois equivaleu à aplicação de seu art. 45, que
prevê um parecer prévio sobre a regularidade formal da denúncia, antes de seu debate aprofundado na
comissão especial. Essa parte da lei refere-se aos processos contra ministros do , em que a acusação e
o julgamento são feitos no Senado (como a Constituição de 1988 determinou que ocorresse também em
relação ao presidente, e distanciando-se da lógica original da lei no 1079, segundo a qual a acusação era
feita na Câmara).
170. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp. 738-9.
171. Na mesma data, 1o de outubro de 1992, foram obtidas 55 assinaturas requerendo a tramitação do
parecer da comissão especial de impeachment em regime de urgência no Senado. Essa providência era
necessária para que ele fosse imediatamente apreciado, passando na frente de outras matérias em
tramitação na casa.
172. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 745.
173. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 766.
174. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 768.
175. Fernando Henrique Cardoso, então senador, contou que foi até a casa de Itamar Franco e o
encontrou deitado na cama, reclamando de estar se sentido um oportunista. “Itamar, isso agora não
depende mais da sua vontade, mas de uma obrigação constitucional. Você, uma pessoa tão correta, tão
legalista, não vai querer agora desrespeitar a Constituição”, teria retrucado (cf. Jorge Bastos
Moreno, “Lições de um vice-presidente”).
176. Fernando de Castro Fontainha, Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos e Leonardo Seiichi
Sasada Sato (Orgs.). História oral do Supremo, . 5., p. 119.
177. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp. 792-800. Para uma descrição detalhada do rito do impeachment, ver Anexo , que
engloba os dispositivos da Constituição, da lei no 1079/1950 e os julgamentos do por ocasião dos
processos contra Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff.
178. Lei no 1079, art. 36: “Não pode interferir, em nenhuma fase do processo de responsabilidade do
presidente da República ou dos ministros de Estado, o deputado ou senador: a) que tiver parentesco
consangüíneo ou afim, com o acusado, em linha reta; em linha colateral, os irmãos cunhados, enquanto
durar o cunhado, e os primos co-irmãos; b) que, como testemunha do processo, tiver deposto de ciência
própria”.
181. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 27.
182. Para uma discussão sobre a diferença entre crimes comuns e “crimes de responsabilidade” (high
crimes and misdemeanors) nos Estados Unidos, por exemplo, veja-se o relatório sobre fundamentos de
impeachment elaborado pela comissão especial da Câmara dos Deputados no caso de Richard Nixon (cf.
House of Representatives, Committee on the Judiciary, Constitutional Grounds for Presidential Impeachment.
Report by the Staff of the Impeachment Inquiry, fev. 1974).
183. , 307, rel. min. Ilmar Galvão, j. 13 dez. 1994; e 465, rel. min. Cármen Lúcia, j. 24 abr.
2014.
184. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp.131-40.
189. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 80.
191. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp. 350-484.
192. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 79.
195. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 275.
196. -, “Coelho, Inocêncio Mártires”.
197. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , pp. 532-3.
201. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 538.
202. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 86.
203. , 21 689, rel. min. Carlos Velloso, j. 16 dez. 1993. Em 1997, Fernando Collor de Mello tentou
reaver seus direitos políticos (Pet. 1365, rel. min. Néri da Silveira, j. 3 dez. 1997), mas o pedido não foi
reconhecido pelo tribunal por impedimentos processuais.
204. Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o presidente da República (Diversos
no 12, 1992), v. , p. 556.
207. Lei no 1079/1950, art. 15: “A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por
qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”.
208. Lei complementar no 64, art. 1o, , k. Para a interpretação de que o “oferecimento de petição”
equivale, no impeachment, à leitura da denúncia na Câmara dos Deputados, cf. Marcelo Campos
Galuppo, Impeachment: O que é, como se processa e por que se faz, p. 163.
4. Escândalos e escudos
9. Orlando Machado Sobrinho, “Denúncia contra Itamar Franco à Câmara dos Deputados”. Arquivo
pessoal do autor.
10. Naoko Kada, “Impeachments as a Punishment for Corruption? The Cases of Brazil and Venezuela”.
Como será visto no capítulo seguinte, até mesmo o caso de Dilma Rousseff, que não foi formalmente
condenada por qualquer crime ligado a corrupção, confirma a força dessa determinante social. Grande
parte da opinião pública tinha Dilma como politicamente associada às práticas de corrupção do ,
expostas pela Lava Jato: se o era inequivocamente corrupto, então Dilma era corrupta porque era do
. Mesmo após seu afastamento temporário pela aceitação da denúncia pelo Senado, grande parte da
população achava que ela estava afastada por corrupção, e não por ilícitos orçamentários.
13. Fiquem Sabendo, “Os pedidos de impeachment contra presidentes brasileiros desde 1990”.
14. “A análise [da evidência disponível] sugere [que] é improvável que qualquer escândalo, isoladamente,
resulte em uma crise de opinião pública. Na maioria dos casos […], pessoas reiteradamente expostas pela
mídia ao longo do tempo têm sua reputação erodida, fazendo com que cada nova denúncia pareça mais
crível do que a anterior.” Os escândalos que derrubam presidentes costumam ocorrer apenas na
confluência de outros fatores, como crises de desemprego e reformas econômicas fracassadas ou
impopulares (cf. Aníbal Pérez-Líñan, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin
America, p. 123).
15. Ibid., p. 64.
17. Folha de S.Paulo, “Brasil perde US$ 2,9 bi desde o anúncio da desvalorização”.
18. Valdo Cruz, Marta Salomon e Vivaldo De Sousa, “ anuncia ajuste só após o 2o turno”.
20. Pedro Canário, “Operação do Banco Central para resgatar banco Marka foi legal, decide -1”.
21. Implementado durante o primeiro mandato de , o Proer resgatou ao menos sete bancos: o
Nacional, com custo de R$ 5,9 bilhões; o Econômico, com custo R$ 5,2 bilhões; o Bamerindus, a R$ 3,3
bilhões; e com menos de R$ 1 bilhão cada, os bancos Mercantil (R$ 530 milhões), Banorte (R$ 476
milhões), Pontual (R$ 325 milhões) e Crefisul (R$ 296 milhões) (cf. Lilian Venturini, “O que foi o Proer,
caso dos anos 90 agora desarquivado pelo Supremo”).
22. Trata-se da 1179, à qual se somou a resolução Bacen no 2208, ambas de novembro de 1995 (cf.
Banco Central do Brasil, “Proer: Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do
Sistema Financeiro Nacional”).
23. IstoÉ Dinheiro, “O desabafo de Chico Lopes”.
25. Na dos Bancos, Francisco Lopes foi pivô de um episódio que ficou marcado na história da
disciplina jurídica das investigações parlamentares. No dia de seu depoimento, 16 de abril de 1999, a
comissão pediu-lhe que assinasse um termo com o compromisso de responder às perguntas e dizer a
verdade, como se ele fosse testemunha. A defesa de Lopes interveio e argumentou que ele estava ali não
na qualidade de testemunha, mas sim de investigado. De fato, não bastasse a , a essa altura já corria
na Justiça Federal do Rio de Janeiro uma investigação que apurava as condutas da diretoria do Banco
Central no resgate a bancos. Forçar Lopes a depor como testemunha era uma evidente manobra da
para constrangê-lo a abandonar seu direito ao silêncio, ao qual ele só faria jus na qualidade de
investigado. Por não assinar o termo, Lopes saiu preso em flagrante da sala de sessões da comissão. Sua
defesa então recorreu ao , que corretamente fez valer seu direito constitucional ao silêncio, por meio
de uma liminar em concedida pelo ministro Sepúlveda Pertence (, 79 244-8, rel. min
Sepúlveda Pertence, j. 26 abr. 1999).
27. Chico Santos e Mônica Ciarelli, “Procurador diz ter nota de Cacciola a Lopes”.
28. Hugo Marques, “Renan avisa que considera iniciativa da Procuradoria ilegal”. Renan Calheiros
defendia que membros do não podiam ter atuado em diligências de investigação, e dizia-se
amparado pelo . Havia de fato uma decisão recente do tribunal afirmando que membros do
não podiam tomar parte em investigações, e que autoridades poderiam se recusar a atender requisições
nesse sentido. Contudo, os efeitos da decisão não eram gerais, mas limitados ao caso concreto no qual
havia sido tomada (cf. , 205 473, rel. min. Carlos Velloso, j. 15 dez. 1998). O demorou para
amadurecer sua interpretação sobre este tema, e concluiu, ao final, que o tem poderes de
investigação.
29. O Estado de S. Paulo, “ acusa justiça de ter sido arbitrária”.
30. Folha de S.Paulo, “Superintendente da do Rio é afastado”. Dias antes das buscas na casa dos
banqueiros e ex-diretores do Banco Central, e Renan já haviam concordado em trocar a diretoria-
geral da corporação, reclamando de atuação corporativista do antigo ocupante da função (O Estado de S.
Paulo, “ abre caminho para demissão de Chelotti”).
31. Carlos Heitor Cony, “Operação Abafa”.
32. Senado Federal, “Relatório Final. Comissão Parlamentar de Inquérito criada através do
Requerimento no 127, de 1999”. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/82020>.
Acesso em: 23 jul. 2020.
34. A denúncia imputava ao presidente a autoria do delito previsto no art. 9o, no 3, da lei no 1079/1950:
“Não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais
ou na prática de atos contrários à Constituição” (cf. Diário da Câmara dos Deputados, 22 jun. 1999, p. 29
098).
35. Adicionalmente, vale destacar que a Lei do Impeachment também se aplica a ministros de Estado,
embora, por entendimento do , a denúncia caiba ao procurador-geral da República, e o julgamento,
ao próprio tribunal (, Pet. 1656, rel. min. Maurício Corrêa, j. 11 set. 2002).
36. Michel Temer valeu-se de linguagem idêntica àquela do Código do Processo Penal, cujo art. 43, na
redação da época, dizia que o “juiz criminal” deveria rejeitar a denúncia quando “o fato narrado
evidentemente não constituir crime”.
37. Votaram contra o recurso os líderes do , , , , , do bloco ----
e, claro, do , partido do presidente da República.
38. Segundo uma das teorias do delito à época populares no Brasil, tipicidade e antijuridicidade eram os
elementos constitutivos do delito criminal. (cf. Diário da Câmara dos Deputados, 22. jun. 1999, pp. 29
095ss.)
39. , 378-, rel. acórdão min. Luís Roberto Barroso, j. 17 dez. 2015, p. 3.
40. Dos 27 pedidos de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso, o primeiro foi apresentado em
junho de 1995, e o último em dezembro de 2002 (cf. Fiquem Sabendo, “Os pedidos de impeachment
contra presidentes brasileiros desde 1990”).
41. Representação do deputado José Genoíno em 26 maio 1999. Cf. Diário da Câmara dos Deputados, 27
maio 1999, p. 24 094.
42. Diário da Câmara dos Deputados, 2 jun. 1999, p. 25 949.
43. O Estado de S. Paulo, Temer rejeita pedido de processo de impeachment contra presidente, 2 jun.
1999, p. A4.
44. Diário da Câmara dos Deputados, 11 jun. 1999, p. 27 319.
45. Celso Antônio Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari, Fábio Konder Comparato, Goffredo da
Silva Telles Júnior e Paulo Bonavides, “Denúncia contra Fernando Henrique Cardoso por crimes de
responsabilidade”, 16 maio 2020. A corrupção de que fala a lei no 1079/1950 (art. 6o, no 2, “outras
formas de corrupção”) não se resume aos crimes de corrupção, ativa e passiva, estritamente definidos no
Código Penal.
47. Eduardo Jorge Caldas Pereira foi absolvido das acusações que sofreu. Os procuradores Luiz Francisco
de Souza e Guilherme Schelb sofreram penas disciplinares pelo Conselho Nacional do Ministério
Público, que reconheceu perseguição dos dois a Eduardo Jorge (cf. Fausto Macedo, “Conselho admite
que Eduardo Jorge foi perseguido”). Jorge ainda ganhou processos cíveis contra diversos veículos de
imprensa (cf. Conjur, “Revista Veja é condenada a pagar indenização a Eduardo Jorge”).
49. Folha de S.Paulo, “Acareação reforça pressão para punir e Arruda”.
50. No começo de 2001, havia sido batido pelo peemedebista Jader Barbalho, do Pará, na eleição
para a presidência do Senado. Barbalho, por sua vez, também era alvo de denúncias por quebra de
decoro, acusado de corrupção no Banco do Pará durante sua gestão como governador do estado, além
das denúncias de inconsistência em sua declaração patrimonial à Justiça Eleitoral (cf. Vera Chaia e Marco
Antonio Teixeira, “Democracia e escândalos políticos”; Folha de S.Paulo, “Jader omitiu patrimônio para
auditoria”). Para escapar da cassação, que o deixaria inelegível, o senador baiano renunciou em 30 de
maio de 2001, quando ainda tinha vinte meses de mandato pela frente (Senado Federal, “ renuncia
ao mandato com críticas ao governo”).
51. Denise Madueño e Luiza Damé, “Oposição protocola com 60 nomes governistas”.
52. Folha de S.Paulo, “ convoca ministros e declara guerra contra ”.
53. Os dois valores aparecem nos relatos da operação governamental (cf. Lucio Vaz, “Liberação de
verbas atinge R$ 47 milhões na semana”; O Estado de S. Paulo, “Operação custa aos cofres públicos R$
60,1 milhões”).
54. Fiquem Sabendo, “Os pedidos de impeachment contra presidentes brasileiros desde 1990”.
57. Fernando Rodrigues, “Deputado diz que vendeu seu voto a favor da eleição por R$ 200 mil”.
58. Houve duas denúncias contra com fundamento na acusação de compra de votos pela reeleição:
a primeira foi apresentada em 17 de junho de 1997 por Domingos de Freitas Diniz Neto, e ficou na
gaveta da presidência da Câmara por quase dez anos: foi arquivada apenas em outubro de 2006, sob
fundamento de perda de objeto. A segunda foi apresentada por Célio Evangelista Ferreira em 15 ago.
2000, arquivada em novembro do mesmo ano por descumprimento de requisitos formais.
59. Aníbal Pérez-Líñan, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin America, pp. 142-3.
60. Naoko Kada, “Impeachment as Punishment for Corruption? The Cases of Brazil and Venezuela”.
67. José Antonio Cheibub, Presidentialism, Parliamentarism, and Democracy, pp. 55ss.
68. Evidências do uso de dinheiro ilegal na cooptação de apoio político para formar coalizões governistas
estão disponíveis em ações judiciais como o chamado processo do Mensalão (, 470) e operações
de combate à corrupção, como a Lava Jato, além de trabalhos acadêmicos, como os de Bruno Carazza
(Dinheiro, eleições e poder, pp. 121ss.) e o mais recente livro de Sérgio Abranches (Presidencialismo de
coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 248ss.). Todos revelam como a cooptação de apoio
político pode ir além dos mecanismos constitucionais e legais à disposição do Poder Executivo.
69. A acusação de compra de votos pela emenda da reeleição que beneficiou Fernando Henrique
Cardoso constou da colaboração premiada de Pedro Corrêa, à época deputado pelo , na Lava Jato:
segundo ele, a aprovação da emenda foi obtida mediante pagamento de propina a mais de cinquenta
parlamentares, no que chamou de “um dos episódios mais espúrios que presenciei como deputado
federal”. Corrêa confirmou a compra de votos de deputados do Acre, conforme a denúncia anterior, mas
revelou que havia também um movimento de compra de votos em sentido contrário, isto é, pela rejeição
da emenda. Segundo ele, essa rede de propinas de oposição era abastecida com recursos de seu colega de
partido Paulo Maluf, deputado paulista, que ambicionava disputar a presidência nas eleições de 1998. A
cópia do depoimento de Corrêa, no anexo 39 de sua colaboração, está disponível em Mateus Coutinho et
al. (“Delator da Lava Jato ‘desenterra’ emenda da reeleição no governo ”).
71. O oferece cobertura de risco para grandes projetos e celebra grandes contratos em dólar. Na
época, sua diretoria, considerada pequena, dispunha de ampla autonomia para autorizar contratos de
valor relativamente elevado, de até US$ 500 mil. O detinha o monopólio de resseguros no país, o
que obrigava empresas com grandes projetos no exterior, como a Petrobras, não apenas a contratar com
ele, como também a se valer dos corretores por ele autorizados (O Estado de S. Paulo, “ pode ser novo
alvo da oposição”). O desenho criava incentivos para o pagamento de propina a quem controlasse a
operação da empresa e tivesse poder sobre essas indicações rentáveis de corretagem. Jefferson havia
indicado o presidente da instituição, Luiz Appolonio Neto, menos de dois meses antes de o escândalo
estourar (O Estado de S. Paulo, “Presidente admite ligação com o ”).
72. Congresso Nacional, Relatório Final da dos Correios, abr. 2006, 3 v. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/84897>. Acesso em: 2 ago. 2020.
73. O segundo volume do relatório da dos Correios é inteiramente dedicado a descrever a
engenharia financeira e administrativa do chamado “Mensalão”.
78. Deputado do de Pernambuco e representante caricato do baixo clero da casa, Cavalcanti acabou
eleito em fevereiro de 2005 depois de um racha dentro do , que disputou a eleição com dois
candidatos (Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães). Com uma campanha de promessas
corporativistas, venceu o pleito em segundo turno contra Greenhalgh (Rose Ane Silveira,
“Independente, Severino Cavalcanti é eleito presidente da Câmara”). Sua gestão começou a ruir em
setembro do mesmo ano, quando o empresário Sebastião Augusto Buani, concessionário do restaurante
da Câmara dos Deputados, denunciou que Cavalcanti, quando era primeiro-secretário da Câmara, havia
lhe exigido R$ 40 mil para não dificultar a renovação da concessão a sua empresa. Após efetivada a
renovação, Buani alegou que Cavalcanti seguiu exigindo um pagamento mensal de R$ 10 mil do
empresário — o valor foi jocosamente chamado pela imprensa de “mensalinho” (Ana Paula Ribeiro,
“Empresário confirma ‘mensalinho’ a Severino Cavalcanti”).
79. Senado Federal, “Aldo Rebelo é o novo presidente da Câmara”.
80. Disse em depoimento em 2007: “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80%
aprovaram. Que compra de voto? […] Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo
federal? Não foi. Pelo ? Não foi. Por mim, muito menos” (cf. Fernando Rodrigues, “Conheça a
história da compra de votos a favor da emenda da reeleição”).
81. Lei no 1079/1950, art. 6o: “São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos poderes
Legislativo e Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados: […] 2) usar de violência ou ameaça
contra algum representante da Nação para afastá-lo da Câmara a que pertença ou para coagi-lo no modo
de exercer o seu mandato bem como conseguir ou tentar conseguir o mesmo objetivo mediante suborno
ou outras formas de corrupção”.
82. Como visto no capítulo 1, uma das razões da escolha do Poder Executivo unipessoal pelos
constituintes dos Estados Unidos em 1787 foi precisamente facilitar a atribuição de responsabilidade
política.
83. É possível especular que a proximidade de eleições presidenciais, que ocorreriam em dezembro de
1804, oferecia uma via política menos traumática para o afastamento de Burr. Embora Thomas Jefferson
tenha concorrido à reeleição naquele ano, seu companheiro de chapa na busca por um segundo mandato
não foi Burr, mas sim George Clinton.
84. Laurence Tribe e Joshua Matz, To End a Presidency, pp. 43-4.
5. O impeachment fiscal
1. Especulou-se que o acidenteque matou Eduardo Campos tenha sido ocasionado por perda de
orientação espacial do piloto, por falha mecânica ou mesmo pelo choque com algum objeto no ar (cf.
Fausto Macedo, “Procuradoria arquiva inquérito sobre morte de Eduardo Campos por ‘impossibilidade’
de descobrir causa da queda do avião”).
2. Folha de S.Paulo, “Eduardo Campos é enterrado no Recife; despedida ganha ares de ato político”.
3. Julio Wiziack e Mariana Carneiro, “Governo ‘sangra’ a Caixa e poupa o Tesouro para pagar benefício
social”.
4. Murilo Rodrigues Alves e João Villaverde, “Atraso no repasse de verba do Tesouro à Caixa cria impasse
no governo”.
5. Murilo Rodrigues Alves e João Villaverde, “Governo atrasa pagamentos do ‘Minha Casa’”.
6. Além das “pedaladas”, Dilma Rousseff foi condenada também pela edição de seis decretos de abertura
de crédito suplementar baseados em uma projeção irreal de resultado fiscal para o ano de 2015.
7. Gustavo Uribe, “Seis dias após 2o turno, protesto em São Paulo pede saída de Dilma”.
8. Ricardo Galhardo, “ pede nas ruas, mas ‘dentro das regras’”; Pedro Venceslau, “Aécio volta
e tenta manter protagonismo”; Mateus Coutinho, “Tucano é hostilizado depois de criticar radicais”.
10. Câmara dos Deputados, “ e elegem novamente as maiores bancadas”.
11. Senado Federal, “Confira como ficarão as bancadas no Senado a partir de 2015”.
12. A aliança governista reunia, além de partidos menores à esquerda, partidos médios e grandes de
centro. Entre os partidos de centro à esquerda, o elegeu uma bancada considerável em 2014, com 34
deputados; o , dezenove; o do, dez; e o Psol, cinco. Além do (66 deputados e dezoito
senadores), a coligação do nas eleições de 2014 ainda incluía o (37 deputados e três senadores), o
(36 deputados e cinco senadores) o (34 deputados e quatro senadores), o (21 deputados) e o
Pros (onze deputados e um senador). No Senado, do, Psol e tinham, juntos, oito senadores (cf.
G1, “Nova composição da Câmara dos Deputados”; G1, “Dos 27 senadores eleitos, apenas 5 são
mulheres”; , “Eleições 2014: Raio- Congresso”).
13. Laura Carvalho, Valsa brasileira, pp. 58-9.
14. Aníbal Pérez Líñán aponta que a popularidade de presidentes latino-americanos que sofreram
impeachments foi sensivelmente afetada pela tentativa de reformas neoliberais que diminuíam a
proteção estatal aos mais pobres, altos índices de desemprego e, possivelmente, altas taxas de inflação.
Cf. Aníbal Pérez-Liñán, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin America, pp. 117-
9).
15. Ibid., p. 91.
16. Datafolha, “Avaliação da presidente Dilma Rousseff: 813812, 17/18 jun. 2015”, p. 19.
18. Lula foi denunciado quatro vezes pela força-tarefa da Operação Lava Jato e condenado em primeira e
segunda instâncias por duas dessas denúncias. Em abril de 2021, o Pleno do STF reconheceu em caráter
definitivo a incompetência absoluta da 13a Vara Federal de Curitiba em relação às acusações contra Lula,
por falta de conexão das condutas a ele imputadas com os desvios na Petrobras que são o objeto de
investigação da Operação Lava Jato. No mesmo mês, o órgão plenário do tribunal formou maioria para
reconhecer a suspeição do juiz Sergio Moro contra Lula na ação penal referente ao apartamento triplex
na cidade do Guarujá ().
19. Embora a denúncia de Roberto Jefferson sobre o pagamento regular de uma “mesada” a deputados
da base aliada tenha sido feita em 2005, o julgamento da 470, iniciado em agosto de 2012, foi o
grande responsável pela enorme visibilidade pública do Mensalão, elevando-o à categoria de grande
escândalo nacional, seja pelo duro tom das falas dos ministros do , seja pela maciça cobertura da
imprensa acerca do dia a dia do julgamento.
20. “Petrolão”, neologismo criado a partir de outro, “Mensalão, é o apelido empregado para descrever os
esquemas de corrupção identificados pela Operação Lava Jato, a partir de 2014, em diretorias da
Petrobras cujas nomeações eram controladas por partidos políticos aliados ao governo federal.
21. Rayanderson Guerra, “Temer é chefe de organização criminosa há 40 anos, diz Lava Jato no Rio”.
24. Sérgio Spagnuolo e Tai Nalon, “Dilma ‘pedalou’ 35 vezes mais que Lula e juntos”.
Considerando, como exemplo, apenas os atrasos de repasses à Caixa Econômica Federal para pagamento
do seguro-desemprego, havia pedalado seis vezes em oito anos de governo, nunca de forma
consecutiva; Lula, sete vezes em oito anos; já Dilma, com apenas quatro anos e quatro meses de
governo, havia atrasado repasses por 21 meses, catorze dos quais consecutivos.
25. João Villaverde e Adriana Fernandes, “Tesouro paga mais para vender títulos e técnicos pressionam
Arno Augustin”; Sheila D’Amorim e Natuza Nery, “Indefinição leva Tesouro a ‘lavar roupa suja’”.
26. José Fucs, “Arno Augustin: ‘Não sei o que é contabilidade criativa’”.
27. O Globo, “‘Pedaladas fiscais’ dispararam no governo Dilma”.
28. Apenas como exemplo, destaco, entre os defensores da tese de que as pedaladas e os decretos de
abertura de crédito suplementar configuravam tanto violação à Lei de Responsabilidade Fiscal quanto
crime de responsabilidade, a opinião de José Maurício Conti, professor da Faculdade de Direito da
(“Desrespeito ao direito financeiro afastou Dilma do cargo de presidente”). Entre os opositores do
impeachment, destaco Ricardo Lodi Ribeiro, professor da Faculdade de Direito da Uerj (“Parecer sobre
pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff”, 7 dez. 2015. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/parecer-ricardo-lodi-impeachment-dilma.pdf>). Tanto Conti quando
Ribeiro foram ouvidos na comissão especial do Senado Federal para explicitar suas visões sobre os
fundamentos jurídicos do pedido.
29. Para uma descrição em maiores detalhes sobre o procedimento conciliatório na , cf. João
Villaverde, Perigosas pedaladas, pp. 130-9.
30. Ribamar Oliveira, “Governo já desistiu da meta fiscal de 1,9% do no ano”.
31. Adriana Fernandes et al., “Sem caixa, governo propõe lei para descumprir meta das contas públicas”.
32. Nathalia Passarinho, “ pede a cassação de Dilma e posse de Aécio como presidente”.
34. Sobre o desempenho do nas eleições de 1986, cf. Sérgio Abranches, Presidencialismo de
coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, p. 81.
35. Francine de Lorenzo Andozia, Passaram a mão na minha poupança, p. 66.
36. Para os rumores de alteração da política cambial e a ambiguidade de durante a campanha, cf.
Miriam Leitão, Saga brasileira, pp. 363-5.
37. Thomas Skidmore, Brasil: De Getúlio a Castelo, p. 192; Maria Victoria Benevides, A UDN e o udenismo:
Ambiguidades do liberalismo brasileiro, pp. 82ss.
38. G1, “ pede ao auditoria para verificar ‘lisura’ da eleição”.
39. Aníbal Pérez-Liñán, “Impeachment or Backsliding? Threats to Democracy in the 21st Century”, p. 4.
40. Conjur, “Juiz recebe denúncia e Aécio Neves se torna réu por corrupção passiva”.
41. Para um olhar sobre múltiplas formas de governança, cf. Jerry L. Mashaw, “Accountability and
Institutional Design: Some Thoughts on the Grammar of Governance”, pp. 115-56.
46. Edna Simão e Lorenna Rodrigues, “Déficit da Previdência fica R$ 7,5 bilhões acima do previsto em
2014”.
47. José Roberto R. Afonso, “Uma história da Lei Brasileira de Responsabilidade Fiscal”, pp. 126-54.
48. Ana Clara Costa, “O governo fez bancos do Estado pagarem as suas despesas — e isso não é
pedalada”.
49. Após tornar-se ele próprio secretário do Tesouro Nacional no governo de Michel Temer, Almeida
aparentemente fechou seu blog. Algumas das postagens estão ainda disponíveis, porque replicadas em
outras páginas. Na página de internet do economista da José Roberto Afonso, um artigo de 2012,
da autoria de Almeida, critica a realização de operações entre e Tesouro com o objetivo de
melhorar artificialmente o resultado primário das contas públicas (Cf. Mansueto Almeida, “Custo dos
empréstimos do Tesouro Nacional ao : R$ 22,8 bilhões em 2011”).
50. José Fucs, “Arno Augustin: ‘Não sei o que é contabilidade criativa’”.
51. Contas Abertas, Ofício 17/2014, 17 jan. 2014. Disponível em:
<http://www.agenciacontasabertas.com.br/noticia/contas-abertas-descobriu-pedaladas-fiscais>. Acesso
em: 17 set. 2020.
52. Como já foi dito antes, Augustin recorria ao álibi das convenções contábeis do Banco Central para
negar a acusação de “contabilidade criativa”: “Se alguém quer fazer uma nova metodologia, é um direito
que tem. Mas a metodologia usada pelo Brasil é uma metodologia internacional. […] [Nossa]
metodologia é conhecida, respeitada. O órgão que faz a conta do resultado primário para efeitos da Lei
de Diretrizes Orçamentárias () é o Banco Central. Se acham que a estatística que o Banco Central
produz não é adequada, eu respeito. Mas é a estatística que temos, e ela é muito boa” ( José Fucs, “Arno
Augustin: ‘Não sei o que é contabilidade criativa’”).
53. João Villaverde, Perigosas pedaladas, p. 150.
54. Ibid. A mudança não alcançava os atrasos nos repasses ao Banco do Brasil e ao , cuja natureza
era outra.
55. Ibid., p. 127.
56. Estado de Minas, “Governo vai mudar contratos com a Caixa para descaracterizar pedaladas fiscais”.
57. Jerry L. Mashaw, “Accountability and Institutional Design: Some Thoughts on the Grammar of
Governance”, p. 121.
58. A escolha de Levy levaria Dilma a enfrentar dificuldades políticas com o flanco mais à esquerda de
sua base de apoio. “Não faltam líderes de movimentos sociais ameaçando o governo com protestos e
outras manifestações contra a política econômica neoliberal de Levy”, como lembram Limongi e
Figueiredo (“A crise atual e o debate institucional”, p. 93).
59. , 021.643/2014-8, acórdão 825/2015, rel. min. José Múcio Monteiro, j. 15 abr. 2015.
60. André Borges e Fábio Fabrini, “Para , ‘pedalada’ foi crime de responsabilidade”, p. B5; Dimmi
Amora, “Para , pedaladas foram crime de responsabilidade”.
63. Para uma breve descrição das funções do , cf. Tathiane Piscitelli, Direito financeiro, pp. 233ss.
64. Nos termos do art. 73, §2, da Constituição de 1988, o é composto de nove ministros, dos quais
seis são escolhidos diretamente pelo Congresso. Mesmo as três vagas indicadas pelo presidente da
República normalmente têm origem em acordos firmados com parlamentares.
65. Fernanda Guimarães e Francisco Carlos de Assis, “ não tem ‘estatura institucional’ para
desencadear impeachment, diz Joaquim Barbosa”. A implicância de Barbosa com o vinha desde o
processo do Mensalão, em cujo acórdão há duras críticas do ministro quanto à credibilidade do tribunal
(, 470, 22 abr. 2013, p. 1483).
66. Gaúcho de Santo Ângelo, Augusto Nardes filiou-se à Arena durante a ditadura militar. Passou por
diversos partidos menores após a redemocratização, até chegar ao , legenda com maior número de
condenados no Mensalão e com outros tantos a perigo da Lava Jato. Em 2005, ele abandonou seu
mandato na Câmara dos Deputados para assumir o cargo de ministro do , por eleição da Câmara
dos Deputados (cf. Câmara dos Deputados, “Augusto Nardes”; Câmara dos Deputados, “Câmara elege
Augusto Nardes para ministro do ”).
71. Clarissa Lemgruber, “Oposição visita em desagravo à pressão do governo na véspera da análise
das contas”.
72. Fábio Fabrini, João Villaverde e Bernardo Caram, “Em decisão unânime, rejeita contas do
governo Dilma em 2014”.
73. , 027.170/2015-2, acórdão no 2460/2015, rel. min. Raimundo Carreiro, j. 7 out. 2015.
74. , ata 40, anexo , 7 out. 2015, p. 63. Disponível em:
<http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/CONSES/tcu_ATA_0_N_2015_40.pdf>. Acesso em: 20
set. 2020.
75. , ata 40, anexo , 7 out. 2015, p. 64. Disponível em:
<http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/CONSES/tcu_ATA_0_N_2015_40.pdf>. Acesso em: 20
set. 2020.
76. Étore Medeiros, “Pelo menos 17 governadores pedalaram impunemente”.
77. Fernando Limongi e Argelina Cheibub Figueiredo, “Por seu intervencionismo imoderado, não
terá como evitar confronto com Bolsonaro”.
78. Fabiana Alves Rodrigues, Lava Jato: Aprendizado institucional e ação estratégica na Justiça, p. 260. O livro
é um abrangente e detalhado relato do uso estratégico de ferramentas processuais pela matriz curitibana
da Lava Jato, com destaque para as espetaculosas ações de busca e apreensão, conduções coercitivas e
prisões cautelares. Rodrigues enfatiza também o aspecto do cálculo temporal no uso dessas ferramentas,
embora o objeto de seu estudo não envolva o impacto estimado desses atos sobre o processo de
impeachment de Dilma Rousseff.
79. El País, “‘A solução mais fácil era botar o Michel’: Os principais trechos do áudio de Romero Jucá”;
Rubens Valente, “Em diálogo, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato”.
80. Tal acusação seria obviamente imprópria, pois indicar o procurador-geral da República é prerrogativa
presidencial e não demanda sequer a deferência à lista tríplice, uma boa prática que só existiu nos
governos de Lula, Dilma e Temer. Não obstante, a baixíssima popularidade da presidente, somada ao
enorme prestígio social da Operação Lava Jato àquela altura, talvez a levasse a apuros se uma acusação
nesse sentido fosse feita contra ela.
81. Como visto no capítulo anterior, e seu ministro da Justiça, Renan Calheiros, interferiram
diretamente na em retaliação às operações contra ex-diretores do Banco Central após o escândalo do
apoio aos bancos Marka e FonteCindam; e Michel Temer enfrentou protestos de alguns procuradores da
República ao escolher Raquel Dodge, que não encabeçava a lista tríplice, como procuradora-geral da
República. Mais recentemente, Jair Bolsonaro não apenas mexeu na estrutura da — sob protestos de
seu então ministro da Justiça, Sergio Moro, que o acusou de ingerência política no órgão —, como
também indicou para procurador-geral um nome estranho à lista tríplice do e abertamente crítico
do que chamou de “lavajatismo” (cf. Poder 360, “‘É hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não
perdure’, diz Aras”).
82. “Rubens Valente, “Em diálogo, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato”.
83. Cf. voto de Paulo Brossard no 20 941, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 9 fev. 1990, pp.85-97.
84. Supreme Court of the United States. Nixon vs. United States, 506 U.S. 224, 1993.
85. O Estado de S. Paulo, “Grampo sugere que Dilma nomeou Lula ministro para evitar a Lava Jato”.
86. Para a íntegra da decisão, cf anexo à seguinte reportagem: Sérgio Rodas, “Moro reconhece erro em
grampo de Dilma e Lula, mas mantém divulgação”. A decisão foi tomada nos autos do Pedido de
Quebra de Sigilo Telefônico no 5006205-98.2016.4.04.7000, da 13a Vara Federal de Curitiba.
87. Ricardo Balthazar et al., “Conversas de Lula mantidas em sigilo pela Lava Jato enfraquecem tese de
Moro”.
88. Ricardo Balthazar et al., “Conversas de Lula mantidas em sigilo pela Lava Jato enfraquecem tese de
Moro” e “Leia os diálogos sobre escutas de Lula feitas pela ”, Folha de S.Paulo, 8 set. 2019, pp. A4-A8.
89. , 196 184, rel. min. Ellen Gracie, j. 27 out. 2004.
90. , 34 071 , rel. min. Gilmar Mendes, j. 18 mar. 2016.
91. Estado de Minas, “Gilmar Mendes defende posse de deputada Cristiane Brasil no Ministério do
Trabalho”.
92. Carolina Brigido, “ anula nomeação de Wellington César no Ministério da Justiça”.
93. , 388, rel. min. Gilmar Mendes, j. 9 mar. 2016. A ação havia sido ajuizada em 3 de março de
2016 pelo , através de uma singela petição de nove páginas.
94. , 137 349, j. 5 abr. 2011, e , 159 159, j. 8 jun. 2010, ambos relatados pela ministra Maria
Thereza Rocha de Assis Moura.
95. Rubens Valente, “Em diálogo, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato”,
96. O Estado de S. Paulo, “Supremo derruba sigilos e autoriza inquéritos contra 37 parlamentares”.
99. Ministério Público Federal, “Operação Lava Jato: denuncia Eduardo Cunha e Solange Almeida”.
100. Folha de S.Paulo, “Câmara elege Cunha e impõe derrota histórica ao Planalto”.
102. Julia Duailibi, “O plano Temer”; no mesmo sentido, cf. Bruno Boghossian, “Ação de Cunha como
arrecadador informal do em 2014 pode afetar Temer”.
105. Jamil Chade, “Suíça diz que Cunha abriu firmas de fachada”.
106. Hélio Pereira Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Conceição Paschoal. “Aditamento à denúncia
apresentada em 1o de setembro de 2015”, 16 set. 2015, pp. 16ss. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2015/9/art20150917-06.pdf. Acesso em: 22 abr. 2021.
107. Fiquem Sabendo, “Os pedidos de impeachment contra presidentes brasileiros desde 1990”.
108. Um possível enfrentamento desse limbo é a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal,
como previsto na lei no 1079/1950, para impor ao presidente da Câmara um prazo para apreciar a
denúncia, optando pelo seu indeferimento ou pelo despacho à Comissão Especial. O poder de ignorar a
denúncia impede o direito de recurso e, na prática, torna totalmente inócuo o direito de petição em
matéria de denúncia por crimes de responsabilidade.
109. Folha de S.Paulo, “ se opõe a Cunha, que revida e aceita pedido de impeachment de Dilma”.
111. Para uma detalhada discussão sobre o “peemedebismo” e seu papel no bloqueio de uma cultura
política democrática no Brasil, cf. Marcos Nobre, Imobilismo em movimento.
112. Marina Dias e Gustavo Uribe, “Temer diz a Dilma que governo precisa ‘ouvir mais’ e ‘ser mais
servo’”. Para a acusação de Michel Temer de que a carta fora vazada pelo Planalto, cf. Reinaldo Azevedo,
“Planalto vaza carta de Temer a Dilma, dá tiro no próprio pé e esquenta clima pró-impeachment”.
113. Fernando de Castro Fontainha, Christiane Jalles de Paula e Izabel Saenger Nuñez (Orgs.). História
oral do Supremo, . 7, p. 87.
114. Folha de S.Paulo, “Deputado teria sido filmado pela com mala de R$ 500 mil”.
115. Pedro Canário e Emerson Voltare, “ adulterou diálogos de Joesley e Temer, diz juiz federal”.
116. Veja, “Lava Jato: Michel Temer foi preso por crimes cometidos a ‘vida inteira’”.
117. Em março de 2021, a 12a Vara Federal do Distrito Federal absolveu Temer em uma de suas
acusações penais, relativa a supostos crimes praticados no setor de portos (Aguirre Talento, “Juiz absolve
ex-presidente Michel Temer e mais cinco em acusação de corrupção no setor dos portos”).
120. Folha de S.Paulo, “Temer assinou decretos das pedaladas como presidente em exercício”.
121. Fernanda Calgaro, “Senador induz Janaína a dar argumentos para afastar Temer”.
122. , 34 087 MC, rel. min. Marco Aurélio, j. 5 abr. 2016.
123. Bernardo Caram, “Maia diz que é atribuição de líderes fazer indicação para comissão de
impeachment”.
124. Anna Virginia Balloussier, “ aceita ação para destravar pedido de impeachment contra Temer”.
125. Mariana Oliveira, “Janot opina contra liminar para abertura de impeachment de Temer”.
126. Aníbal Pérez-Liñán, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin America, pp. 87ss;
Naoko Kada, “Comparative Presidential Impeachments: Conclusions”, p. 148.
127. Datafolha, “Avaliação da presidente Dilma Rousseff: 813843, 24/25 fev. 2016”.
128. Celso Rocha Barros, “Uma história de dois azares e um impeachment”, p. 71.
130. Supremo Tribunal Federal, “Ministro Teori Zavascki autoriza abertura de inquérito e revoga sigilo
em investigação sobre Petrobras”; O Estado de S. Paulo, “Supremo derruba sigilos e autoriza inquéritos
contra 37 parlamentares”.
131. Reinaldo Azevedo, “Gilmar Mendes: ‘TSE tem de evitar a continuidade de um projeto no qual
ladrões de sindicato transformaram o país num sindicato de ladrões’”.
134. Sergio Fernando Moro, “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, pp. 56-62.
135. Em pesquisas realizadas em todas as manifestações antigoverno em 2015, Pablo Ortellado e Esther
Solano identificaram que a “indignação com a corrupção” era o motivo mais evidente para as
mobilizações, e que a corrupção desvelada pela Lava Jato era percebida pelos participantes como o mais
grave escândalo político da história do Brasil (“Nova direita nas ruas? Uma análise do descompasso entre
manifestantes e os convocantes dos protestos antigoverno de 2015”, pp. 174-6).
136. Pesquisa /, Relatório síntese, rodada 131, 2/5 jun. 2016, p. 22. Disponível em:
<http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/PDFs%20CNT/Pesquisa%20CNT%20_
MDA/relatorio%20_sintese%20cntmda131.pdf>. Acesso em: 28 set. 2020.
137. Pesquisa / de junho de 2016 registrava 62,4% de apoio à opinião de que o afastamento de
Dilma Rousseff fora correto (cf. /, Relatório síntese, rodada 131, 2/5 jun. 2016, p. 22.
Disponível em: <http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/PDFs%20CNT/Pesquisa%20CNT%20_
MDA/relatorio%20_sintese%20cntmda131.pdf>). O índice é semelhante ao apoio do impeachment
registrado pelo Datafolha em abril de 2016: 61% (cf. Datafolha, “Avaliação do presidente Michel Temer:
PO813867, 14/15 jul 2016”).
138. Fernando Limongi e Argelina Cheibub Figueiredo. “Por seu intervencionismo imoderado, não
terá como evitar confronto com Bolsonaro”.
139. Andrea Jubé, “Temer admite que Cunha aprovou pedido de impeachment por vingança”.
140. Hélio Pereira Bicudo e Janaína Conceição Paschoal, “Denúncia por crimes de responsabilidade
contra Dilma Vana Rousseff”, 31 ago. 2015. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/arquivos/2015/9/art20150901-04.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2021.
141. Câmara dos Deputados, “Oposição cobra definição da Câmara sobre regras para processo de
impeachment”.
142. Câmara dos Deputados. Sessão Ordinária 378.1.55, 3 dez. 2015, p. 132. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-
de-materias/impeachment-da-presidente-dilma/sessao-378-de-031215>. Acesso em: 22 abr. 2021.
145. Câmara dos Deputados, “Cunha revoga decisão sobre tramitação de pedido de impeachment”.
148. Câmara dos Deputados. Sessão Ordinária 378.1.55, 3 dez. 2015, p. 132. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-
de-materias/impeachment-da-presidente-dilma/sessao-378-de-031215>. Acesso em: 22 abr. 2021.
149. Para o argumento de que impeachments não encontram condições de prosperar perto do fim dos
mandatos presidenciais, cf. Naoko Kada, “Comparative Presidential Impeachment: Conclusions”, pp.
149-50; João Villaverde e Lucas Paulino, “História mostra que período do mandato importa para
impeachment afastar presidente”. Uma ressalva: atos praticados no início ou no meio do mandato, já
conhecidos e digeridos pela opinião pública no momento das eleições, não devem embasar
impeachments no mandato seguinte. Quanto maior for o conhecimento público dos eventuais crimes de
responsabilidade praticados no primeiro mandato à época da eleição, mais se deve presumir que eles
foram avaliados pelos eleitores, que ainda sim preferiram reconduzir o incumbente para o segundo
mandato. Essa linha nem sempre será clara, devendo ser traçada caso a caso. Com Dilma, a dimensão
das pedaladas só veio a ser propriamente conhecida no segundo semestre de 2014, portanto já muito
perto das eleições, o que fala em favor de que elas possam ser consideradas em uma acusação no
segundo mandato.
150. Ver, por exemplo, Marcelo Campos Galuppo, Impeachment: O que é, como se processa e por que se faz, p.
59.
151. Câmara dos Deputados, Regimento Interno da Câmara dos Deputados, art. 218, §2o.
152. Aparentemente, Eduardo Cunha tomou-se como figura análoga a um juiz penal na acusação de
crimes comuns, em que o recebimento parcial da denúncia é possível. No direito processual penal,
entende-se que o recebimento da denúncia é um ato propriamente jurisdicional, adotado pelo
magistrado competente para julgamento da causa, que fixa o objeto do processo mediante avaliação das
condições de justa causa para a ação. Há uma notável diferença entre essa figura e o presidente da
Câmara, porém, já que este último não é autoridade competente para o recebimento da denúncia.
153. , 20 941, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 9 fev. 1990; no 23 885, (rel. min. Carlos Velloso,
j. 28 ago. 2002), o tribunal decidiu que o poder do presidente da Câmara dos Deputados na análise da
denúncia “não se reduz à verificação das formalidades extrínsecas e da legitimidade de denunciantes e
denunciados, mas se pode estender […] à rejeição imediata da acusação patentemente inepta ou despida
de justa causa, sujeitando-se ao controle do plenário da casa, mediante recurso”.
155. Câmara dos Deputados. “Resposta da presidência da Câmara dos Deputados à questão de ordem no
105/2015”, 23 set. 2015, pp. 9-10. Em sentido semelhante, Marcelo Galuppo (Impeachment: O que é, como se
processa e por que se faz, pp. 111-2) observa que o juízo do presidente da Câmara deve limitar-se “aos
requisitos processuais da acusação”, pois o juízo de autorização do processamento da denúncia compete
apenas à Câmara como um todo.
156. Câmara dos Deputados, 5/1992, 3 set 1992: “Instituída a comissão especial, destinada a proferir
parecer sobre a denúncia. A comissão é integrada por 49 deputados, indicados pelos partidos, na proporção
de suas bancadas” (grifos meus); Senado Federal, Autos do processo de “impeachment” contra o
presidente da República (Diversos no 12, 1992), v. , p. 412.
157. Na ocasião, Eduardo Cunha havia decidido que a comissão especial de impeachment seria composta
da seguinte maneira: “Fixado o número de vagas por partidos e blocos parlamentares, os líderes
indicarão a esta presidência, no prazo de 24 horas, os candidatos a titular e suplente de cada bancada, de
acordo com o número de vagas que lhes caiba pela proporcionalidade partidária, ponderada com a
exigência de participação de todos os partidos e blocos parlamentares da casa” (Câmara dos Deputados.
“Resposta da presidência da Câmara dos Deputados à questão de ordem no 105/2015”, 23 set. 2015, p.
12).
158. Paulo Gama, Gustavo Uribe e Ranier Bragon, “Oposição e articulam chapa avulsa para
comissão do impeachment”.
159. Congresso em Foco, “Confusão e quebra de urna marcam escolha da comissão do impeachment”.
160. , 378-, rel. acórdão min. Luís Roberto Barroso, j. 17 dez. 2015.
162. , 378-, rel. acórdão min. Luís Roberto Barroso, j. 17 dez. 2015, p. 38.
163. “Centrão” é o nome que se costuma dar ao bloco suprapartidário de legendas que garantem
governabilidade a presidentes eleitos em troca de cargos e liberação de verbas. O é comumente
apontado como o típico representante do Centrão em suas origens (cf. Marcos Nobre, Imobilismo em
movimento, pp. 11-2), embora outros partidos, como o atual Progressistas (antigo ), destaquem-se
atualmente nesse bloco.
164. Daniela Lima et al., “Criticado, Maranhão recua e remarca sessão na Câmara para as 17h30”.
165. Por esse motivo, o argumento de que presidentes da Câmara têm poder de controle total sobre o
impeachment deve ser considerado com cautela. Para um exemplo, cf. Luiz Fernando Gomes Esteves,
“Rodrigo Maia: O senhor do impeachment”.
166. Ricardo Della Coletta, Daniel Carvalho e Gustavo Uribe, “Eu acabei com a Lava Jato porque não
tem mais corrupção no governo, diz Bolsonaro”. O mais eloquente e simbólico fim da operação ocorreu
na primeira semana de fevereiro de 2021, quando o deputado Arthur Lira, um dos primeiros delatados
por Alberto Yousseff em 2014, tornou-se presidente da Câmara dos Deputados, eleito em primeiro turno
com o decisivo apoio do governo federal através de liberação de emendas parlamentares.
167. Supreme Court of the United States. Nixon vs. United States, 506 U.S. 224, 1993. Para uma visão
detalhada sobre o papel do judiciário na revisão de impeachments nos Estados Unidos, cf. Michael J.
Gerhardt, The Federal Impeachment Process, pp. 118ss.
168. Ver por exemplo, Alexandre Gustavo Melo Franco Bahia et al., O impeachment e o Supremo Tribunal
Federal. Thomas da Rosa Bustamante (“Parecer jurídico”), sem deixar de reconhecer ilegitimidade nas
condutas de Cunha e no processo de impeachment contra Dilma Rousseff, defendia uma reforma
constitucional que ou bem instituísse de vez o recall parlamentar do mandato presidencial, ou então
alterasse a Constituição para deixar mais rígidos os controles de admissibilidade de acusações por crime
de responsabilidade, o que implicaria dar maiores poderes ao sobre o mérito da acusação.
169. Opinião nesse sentido foi emitida por Charles Black Jr. por ocasião dos debates entre juristas em
meio às investigações contra Richard Nixon em 1974 (cf. Charles L. Black Jr., Impeachment: A Handbook,
pp. 61ss).
176. , 378-, rel. acórdão min. Luís Roberto Barroso, j. 17 dez. 2015.
177. , 34 196, rel. min. Luís Roberto Barroso, j. 12 maio 2016.
178. , 34 441, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 29 set. 2016; , 34 371, rel. min. Alexandre
de Moraes, j. 31 ago. 2016.
179. Câmara dos Deputados. Reunião no 0249/2016, 11 abr. 2016, p. 244. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-
de-materias/impeachment-da-presidente-dilma/reuniao-249-16-de-110416>. Acesso em: 7 out. 2020.
180. Câmara dos Deputados. “Relatório sobre denúncia por crime de responsabilidade 1/2015, rel. dep.
Jovair Arantes”, 6 abr. 2016, p.37. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/internet/comissoes/comissoes-especiais/parecer-ocr.pdf>. Acesso em: 7
out. 2020.
181. Câmara dos Deputados. “Relatório sobre denúncia por crime de responsabilidade 1/2015, rel. dep.
Jovair Arantes, 6 abr. 2016, pp. 37 e 64. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/internet/comissoes/comissoes-especiais/parecer-ocr.pdf>. Acesso em: 7
out. 2020.
182. Câmara dos Deputados. “Relatório sobre denúncia por crime de responsabilidade 1/2015, rel. dep.
Jovair Arantes, 6 abr. 2016, pp. 37 e 57. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/internet/comissoes/comissoes-especiais/parecer-ocr.pdf>. Acesso em: 7
out. 2020.
184. Cf. , 5498, rel. min. Marco Aurélio; , 34 127, rel. min. Luís Roberto Barroso; ,
34 128, rel. min. Luís Roberto Barroso; , 34 130, rel. min. Edson Fachin; e , 34 131, rel.
min. Edson Fachin.
185. Veja, “Após operação da , governo aposta no Senado para barrar impeachment”.
188. Senado Federal, 2a Sessão Legislativa Ordinária da 55a Legislatura (56a Sessão), 22 abr. 2016.
Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/s/3759>.
Acesso em: 8 out. 2020.
189. Senado Federal. “Comissão Especial destinada a proferir parecer sobre a denúncia no 1, de 2016,
relativa à autorização para o processo e o julgamento da presidente da República por suposto crime de
responsabilidade. Parecer do senador Antonio Anastasia”, 4 maio 2016, p. 1. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2016/05/04/veja-aqui-a-integra-do-parecer-do-
senador-antonio-anastasia>. Acesso em: 8 out. 2020.
190. Senado Federal. “Comissão especial destinada a proferir parecer sobre a denúncia no 1, de 2016,
relativa à autorização para o processo e o julgamento da presidente da República por suposto crime de
responsabilidade. Parecer do senador Antonio Anastasia”, 4 maio 2016, p. 124. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2016/05/04/veja-aqui-a-integra-do-parecer-do-
senador-antonio-anastasia>. Acesso em: 8 out. 2020.
191. Senado Federal. “Comissão especial destinada a proferir parecer sobre a denúncia no 1, de 2016,
relativa à autorização para o processo e o julgamento da presidente da República por suposto crime de
responsabilidade. Ata da 9a reunião”, 6 maio 2016. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-
de-materias/impeachment-da-presidente-dilma/reuniao-9-em-060516>. Acesso em: 8 out. 2020.
192. Teresa Cardoso, “Senado abre processo de impeachment contra Dilma Rousseff”.
193. Neste tópico, tenho interpretação parcialmente divergente de João Villaverde (Controle do soberano,
pp. 43-4), segundo quem Collor teria sido afastado logo após a votação na Câmara. Embora os jornais
assim tenham reportado, o afastamento de Collor, naquela ocasião, não dispensou o relatório preliminar
da comissão especial, nem a votação do Senado: a questão é que essas etapas foram cumpridas de modo
muito célere, em questão de horas, justamente para que o Senado pudesse afastar o presidente o mais
rapidamente possível. Mais detalhes estão disponíveis no capítulo 3.
195. Senado Federal. “Comissão especial destinada a proferir parecer sobre a denúncia no 1, de 2016,
relativa à autorização para o processo e o julgamento da presidente da República por suposto crime de
responsabilidade, ata da 31a reunião”, 4 ago. 2016. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-
de-materias/impeachment-da-presidente-dilma/reuniao-31-em-040816>. Acesso em: 8 out. 2020.
196. , Inq 4243, rel. min. Edson Fachin (antes, Teori Zavascki).
197. Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso, “Duque negocia delação e vai citar Dilma, Lula e o
”.
198. Beatriz Bulla e Fausto Macedo, “Ministro do defende pôr ‘freio’ na Lava Jato”.
199. Senado Federal, 2a Sessão Legislativa Ordinária da 55a Legislatura (133a sessão), 25 ago. 2016.
Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-
taquigraficas/-/notas/s/3885#fim>. Acesso em: 8 out. 2020.
200. Leandro Colon, “Ideia do , ‘fatiar’ votação foi concebida há duas semanas” .
204. A filosofia jurídica tem uma longa tradição de discussão sobre autoridade do direito e desobediência
aos poderes constituídos do Estado. Para um exemplo recente, cf. Kimberley Brownlee, Conscience and
Conviction: The Case for Civil Disobedience.
206. Andrea Jube, “Temer admite que Cunha aprovou pedido de impeachment por vingança”.
207. Cf., novamente, Julia Duailibi, “O plano Temer”. No mesmo sentido, cfr. Bruno Boghossian, “Ação
de Cunha como arrecadador informal do em 2014 pode afetar Temer”.
209. Aníbal Pérez-Liñán, Presidential Impeachment and the New Political Instability in Latin America, pp. 64ss;
Jody C. Baumgartner, “Introduction: Comparative Presidential Impeachment”, p. 14.
210. Para um mapeamento das múltiplas subespécies de “golpe” na literatura, cf. Leiv Marsteintredet e
Andrés Malamud, “Coup with Adjectives: Conceptual Stretching or Innovation in Comparative
Research?”.
211. Aníbal Pérez-Liñán, “Impeachment or Backsliding? Threats to Democracy in the 21st Century”, p.
4.
Epílogo
1. Embora Richard Nixon seja o ex-presidente mais lembrado quando se fala em impeachment
presidencial nos Estados Unidos, ele renunciou ao cargo antes de sofrer acusação formal da Câmara dos
Deputados.
2. A denúncia de incitamento à insurreição foi a segunda enfrentada por Trump. A primeira dizia
respeito ao uso de seus poderes para obstruir investigações parlamentares sobre suas relações com o
governo da Ucrânia; ele era suspeito de haver pressionado o governo ucraniano para desfavorecer o filho
de Joe Biden, seu adversário na disputa presidencial. Trump não foi condenado em nenhuma das vezes.
4. Até 13 de abril de 2021, a Câmara dos Deputados havia recebido 112 denúncias contra Jair Bolsonaro,
sendo 63 pedidos originais, seis aditamentos e 43 pedidos duplicados. De todos eles, apenas seis haviam
sido arquivados pela presidência da Câmara. Os demais aguardavam a providência legal, determinada na
lei no 1079/1950, de que as acusações sejam “lida[s] no expediente da sessão seguinte e despachada[s] a
uma comissão especial” de impeachment. Para uma base atualizada das denúncias contra Bolsonaro, cf.
Agência Pública, “Os pedidos de impeachment de Bolsonaro”.
5. Quanto a esse tópico, desenvolvo e atualizo o argumento que formulei no artigo “Falta de decoro sem
impeachment é crime sem castigo”.
6. Theodore Windt Jr., “Introduction”, p. xxi.
7. Poder 360, “Bolsonaro pede aos seguidores para arranjarem 1 jeito de filmar leitos vazios”.
8. Estado de Minas, “Após sugestão de Bolsonaro, deputados do Espírito Santo invadem hospital”.
9. Roberta Jansen, “Metade dos médicos relata pressão para dar remédio sem comprovação científica”.
10. Suzana Correa, “Médicos relatam demissões, agressões e coerção para receitar ‘tratamento
precoce’”.
11. House of Representatives of the United States. House Resolution 24, 13 jan. 2021. Disponível em:
<https://www.congress.gov/bill/117th-congress/house-resolution/24/text>. Acesso em: 7 maio 2021.
12. Para uma análise sobre o segundo impeachment de Trump, cf. meu artigo “O dilema do
impeachment”.
13. Agência Reuters, “Bolsonaro ataca Barroso por da Covid e diz que falta coragem moral ao
ministro do ”. O italiano Cesare Battisti foi condenado em seu país natal por crimes cometidos
enquanto integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo, na década de 1970. Em 2007,
foragido da justiça italiana, foi preso no Brasil. O governo brasileiro concedeu asilo político a Battisti em
2009, gerando longa disputa judicial. Em ato derradeiro de seu governo, Lula decidiu não extraditar
Battisti. A situação do italiano sofreu reviravoltas e ele fugiu do Brasil, provavelmente no final de 2018.
Foi preso na Bolívia e enviado à Itália, onde cumpre pena por suas condenações.
14. Houve outros episódios que ensejaram ameaças ou mentiras de Bolsonaro em relação ao . Os
mais conhecidos são: o “Inquérito das Fake News”, que investiga ataques contra o e seus ministros,
principalmente por parte de apoiadores de Bolsonaro; as decisões sobre competência de governadores e
prefeitos para combater a pandemia de covid-19; e as decisões do ex-ministro Celso de Mello quanto aos
pedidos de partidos de oposição para a apreensão do celular do presidente (o qual foi indeferido) e à
exibição da gravação da reunião ministerial de abril de 2020 (o qual foi deferido).
15. Art. 7o: “São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais: […] 9. violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem
assim os direitos sociais assegurados no art. 157 da Constituição”. Os artigos em questão referem-se à
Constituição de 1946, vigente à época da aprovação da lei no 1079/1950. Na Constituição de 1988, os
direitos sociais, um dos quais é o direito à saúde, estão previstos no artigo 6o.
16. Para uma base de dados atualizada das denúncias contra Jair Bolsonaro, ver Agência Pública, “Os
pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro”. Participei da elaboração de uma das denúncias
apresentadas contra Bolsonaro por sua atuação na pandemia, juntamente com Eloísa Machado e Juliana
Vieira dos Santos (cf. Conjur, “Ex-ministro da Saúde assina pedido de impeachment de Bolsonaro”).
17. Daniel Carvalho e Natália Cancian, “Brasil negou 3 vezes ofertas da Pfizer e perdeu ao menos 3
milhões de doses”. Bolsonaro também ordenou pessoalmente o cancelamento de opção de compra de 46
milhões de doses da Coronavac (cf. Guilherme Mazui, “‘É simples assim: um manda e o outro obedece’,
diz Pazuello ao lado de Bolsonaro”).
18. Deisy Ventura, Fernando Aith e Rossana Reis, “Propagação da Covid-19 no Brasil foi intencional”.
Para uma análise sistemática de maior fôlego, cf. Conectas e Cepedisa, “Direitos na pandemia”.
19. Caio C. Vieira Machado et al., Scientific [Self-]Isolation: International Trends in Misinformation and the
Departure from the Scientific Debate.
20. Ricardo Della Coletta e Bernardo Caram, “É guerra, tem que jogar pesado com governadores, diz
Bolsonaro à Fiesp”.
21. Em maio de 2020, o Conselho Nacional de Saúde divulgou o manifesto “Repassa Já”, assinado por 25
dos conselhos estaduais, protestando por verbas para equipamentos de proteção, testes, leitos de e
outras formas de apoio aos profissionais de saúde nos estados (cf. Conselho Nacional de Saúde,
“Manifesto Repassa Já!”).
22. João Prata, “ cobra governo federal por descumprir custeio de leitos em São Paulo; e não
receberam verba”.
23. Para uma exposição visualmente ordenada das normas pró-disseminação do vírus produzidas pelo
governo federal, cf. Conectas e Cepedisa, “Direitos na pandemia”, p. 8ss.
24. Senado Notícias, “Bolsonaro veta uso obrigatório de máscara no comércio, em escolas e em igrejas”.
25. Paulo Brossard, O impeachment, p. 197.
28. Cf. Fernando Limongi e Argelina Cheibub Figueiredo, “Por seu intervencionismo imoderado,
não terá como evitar confronto com Bolsonaro”.
29. Um campo de pesquisa mais recente sobre a relação entre protesto político e impeachments
contempla o fenômeno a partir de suas dimensões de gênero. Nessa linha, a deposição de Dilma Rousseff
rende um profícuo estudo de caso, tendo-se em vista diversos atos de protesto especificamente
direcionados a sua condição feminina. Confira-se, principalmente, Pedro A. G. dos Santos e Farida
Jalalzai, Women’s Empowerment and Disempowerment in Brazil, pp. 36 ss.
30. Fernanda Calgaro, Luiz Felipe Barbiéri e Paloma Rodrigues, “Questionado sobre impeachment, Maia
diz que prioridade no momento é crise do coronavírus”.
33. , “Maia nega omissão e diz que impeachment de Bolsonaro tiraria foco da covid”.
34. Ao longo de janeiro de 2021, Manaus viveu um colapso completo de seu sistema de saúde, com falta
de leitos e de cilindros de oxigênio, em decorrência da covid-19. A cidade saltou de 263 mortos em
dezembro de 2020 para mais de 2195 mortos no mês seguinte. Houve ainda recorde de internações pela
covid na cidade naquele mês, levando à falta de oxigênio e acarretando mortes de dezenas de pacientes
hospitalizados por asfixia (cf. Ivana Cristina de Holanda Cunha Barreto et al., “Colapso na saúde em
Manaus: O fardo de não aderir às medidas não farmacológicas de redução da transmissão da Covid-19”).
35. Kelli Kadanus, “Maia deixa 57 pedidos de impeachment na gaveta e diz que é inevitável”.
36. Ministério da Saúde, “Óbitos acumulados de Covid-19 por Semana Epidemiológica de notificação”.
37. Andréia Sadi, “‘Não vou deferir impeachment’, diz Rodrigo Maia”.
38. Agência Câmara de Notícias, “Câmara nega autorização para processo contra Temer no Supremo”.
39. Câmara dos Deputados. Sessão Extraordinária no 199, 2 ago. 2017. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/internet/votacao/Resultado_Votacao_SIP_1-2017_UF.pdf>. Acesso em:
18 abr. 2021.
42. Fiquem Sabendo, “Os pedidos de impeachment contra presidentes brasileiros desde 1990”.
43. Jairo Nicolau, O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018.
44. Datafolha, “Avaliação dos governantes na pandemia”.
45. Como apontei no capítulo 5, o destaque na votação, ocorrido na condenação de Dilma em 2016,
responsável por não se suspenderem os direitos políticos da presidente, não tem amparo constitucional e
representou um desvio do procedimento juridicamente correto.
46. Lula fez poucas falas de apoio ao impeachment. A mais contundente foi em outubro de 2020, quando
usou o Twitter para dizer que partidos e parlamentares ganharam “um motivo para discutir” o
impeachment a partir do veto de Bolsonaro à compra de vacinas do Instituto Butantan (cf. , “Lula
defende impeachment de Bolsonaro por vetar compra de CoronaVac”).
49. Gabriella Soares, “Bolsonaro liberou R$ 511,5 milhões em emendas para o Congresso em janeiro”.
50. Thiago Resende e Fábio Pupo, “Emendas do Orçamento privilegiam estados de aliados de
Bolsonaro”.
51. Fernanda Trisotto e Bruno Rosa, “Ministério da Economia diz que Censo de 2021 está cancelado”.
52. Na base da Agência Pública (“Os pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro”), são os pedidos de
números 14, 39, 61, 70 e 106.
53. Agência Pública, “Os pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro”, pedido número 34.
54. , 7362, rel. min. Cármen Lúcia, j. 22 abr. 2021. A ministra relatora negou seguimento ao
mandado de injunção, argumentando que “não há dispositivo constitucional a impor [ao presidente da
Câmara dos Deputados] o dever de estabelecer prazo para se apreciar requerimento de afastamento do
presidente da República”.
55. Agência Pública, “Os pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro”, pedido número 32.
56. Em 15 de janeiro de 2021, o governador de São Paulo aproveitou o auge da crise em Manaus para
cobrar “reação” do Congresso contra Bolsonaro (cf. Bruno Ribeiro, “Doria sobe o tom e cobra ‘reação’
do Congresso contra Bolsonaro”). No final do mesmo mês, Doria comparou Bolsonaro a um “vírus” que
precisava ser combatido (cf. Monica Bergamo, “Doria fala em ‘vírus Bolsonaro’ ao comentar
impeachment em entrevista a internacional”). Em fevereiro, ele voltou à carga e explicitamente
defendeu que o Congresso Nacional avaliasse as denúncias por crimes de responsabilidade já
apresentadas contra Bolsonaro (Eduardo Simões, “Doria defende que Congresso avalie pedidos de
impeachment de Bolsonaro”).
57. O senador Tasso Jereissati, figura histórica de destaque no , tem se mostrado pouco entusiasta
do impeachment, por exemplo (cf. Thiago Resende e Renato Machado, “Não há dúvida da culpa do
governo no desastre da pandemia, diz Tasso, membro da da Covid”).
58. O manifesto, lançado em março de 2021, foi assinado por ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do
Banco Central e do e presidentes de importantes instituições financeiras (cf. Merval Pereira,
“Lockdown emergencial”).
59. Ingrid Soares e Israel Medeiros, “Jantar de Bolsonaro com empresários causa controvérsia no meio
econômico”.
60. Em 1954, Getúlio Vargas sobreviveu ao impeachment examinado no capítulo 3, mas nem por isso viu
diminuir a pressão incessante contra seu governo. Michel Temer, em 2017, resistiu ao pedido de licença
para processo criminal perante o e não teve por isso um governo mais fácil: conviveu com
impopularidade crescente e com cercos constantes a seus principais aliados políticos. Nos Estados
Unidos, Andrew Johnson não sucumbiu ante uma primeira tentativa de impeachment em 1867, mas em
1868 seus opositores voltaram à carga, e ele escapou por apenas um voto no Senado; e em 2019 Donald
Trump foi absolvido em um primeiro processo de impeachment, mas foi novamente acusado no final do
mandato, além de ter sido derrotado nas eleições.
61. Agência Brasil, “Eduardo Bolsonaro diz que basta 'um soldado e um cabo' para fechar ”, 21 out.
2018. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/eduardo-bolsonaro-
diz-que-basta-um-soldado-e-um-cabo-para-fechar-stf>. Acesso em: 25 maio 2021.
1. Senado Federal, Atos do Senado Federal, “Senado Federal como órgão judiciário — Processo e
julgamento do presidente da República — Rito procedimental”, Diário Oficial da União, 8 out. 1992, pp.
14 246-7. Doravante mencionado como “Senado como órgão judiciário”.
2. Na sistemática original da lei no 1079/1950, o juízo de acusação cabia à Câmara dos Deputados. Com
a Constituição de 1988, nos termos das decisões do no 21 564 e na 378, os juízos de
acusação e julgamento ficaram concentrados no Senado Federal.
3. Embora a 378 mencione a regra da proporcionalidade, considerados tanto partidos quanto
blocos, apenas para a eleição da comissão especial na Câmara, a regra deve valer também para a
comissão especial do Senado. Não apenas porque essa é a regra geral de composição das comissões no
Senado, conforme determinação do próprio regimento interno da casa (art. 380, ), mas também
porque diversos dos papéis da Câmara na lei no 1079/1950 foram atribuídos ao Senado na Constituição
de 1988, já que essa casa condensou os juízos de acusação e julgamento, nos termos das ações apreciadas
pelo nas épocas dos processos de Fernando Collor e Dilma Rousseff, e dos ritos observados pela
Câmara e pelo Senado nas mesmas ocasiões.
1. Ver <https://www.british-history.ac.uk/no-series/parliament-rolls-medieval>.
2. National Archives, Richard Nixon Presidential Libraries & Museum, Oral Histories. Disponível em:
<https://www.nixonlibrary.gov/oral-histories/>. Acesso em: 28 out. 2020.
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em
2009.
Capa
Bloco Gráfico
Imagem de capa
Sem título, de David Galasse, 2021, técnica digital, 29,7 × 29,7 cm.
Preparação
Angela Ramalho Vianna
Checagem
Plínio Lopes
Revisão
Clara Diament
Thiago Passos
Márcia Moura
Versão digital
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978-65-5782-254-8