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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
DIREITO CIVIL IV
ALUNAS: ANA GABRIELA BARBOSA RODRIGUES 20210020130
BEATRIZ SILVA SOARES 20210018140
CONTRATO DE EMPREITADA
O contrato de empreitada é legislado pelo Código Civil de 2002 entre seus
artigos 610 e 626, por esse motivo é considerado um contrato típico e nominado, pois é constituído por previsão legal específica. Ainda, de acordo com a definição de Plácido e Silva “o contrato em virtude do qual um dos contratantes comete a outro a execução de um determinado serviço, mediante certa retribuição proporcional ao serviço executado, ou a que for ajustada”. Nesse passo, a empreitada tem como finalidade a entrega da obra finalizada conforme especificado no instrumento do contrato, em face de pagamento de determinada retribuição. Logo, o foco primordial da empreitada seria a entrega da obra contratada previamente, isto é, demonstra ser uma obrigação de resultado, não existindo nenhum tipo de vínculo empregatício entre as partes envolvidas. Cabe enfatizar que o objeto da empreitada não é somente a entrega de uma edificação estritamente, já que a obra contratada pode ter sentido de trabalho literário, artístico ou científico. Desse modo, há uma ampla gama de possibilidades quando se versa sobre o tipo contratual da empreitada, sendo passível de alcançar qualquer bem que para sua construção requeira intervenção do homem. Em síntese, a empreitada também pode se configurar na execução de obras imateriais, por exemplo como a composição de uma música. Assim sendo, a empreitada pode ser conceituada em relação ao seu conteúdo como um contrato no qual o empreiteiro se obriga a entregar, sem subordinação, seja pessoalmente ou através de terceiros, determinado objeto finalizado, causando vínculo contratual com o dono da obra, conforme estipulado pelas partes no contrato. Ademais, o empreiteiro recebe o pagamento do valor estabelecido anteriormente, portanto é um contrato de teor oneroso. Portanto, seus elementos essenciais são as partes contratantes, a concretização de uma obra e o pagamento pela realização da respectiva obra em certo preço. Isso implica nas obrigações das partes, já que a empreitada cria uma obrigação de resultado para o empreiteiro, que se qualifica na entrega da obra e de pagamento do dono da obra ao contratado para executar o trabalho. Nesse sentido, o que tange aos seus elementos, segundo Orlando Gomes, a empreitada pode ser considerada como um tipo contratual bilateral, oneroso, consensual, e em geral, comutativo, uma vez que pode vir eventualmente a ser aleatório. Orlando Gomes discorre que é sobre um contrato de execução única e, com o tempo de duração, “como quando o empreiteiro se obriga a produzir, repetidamente, a obra, executando-a em série, por unidades autônomas”. Ademais, o membro da Academia Brasileira de Direito Civil Arnaldo Rizzardo conceitua os elementos presentes na empreitada da seguinte forma: “A bilateralidade, pelo fato de criar, mutuamente, para ambas as partes, direitos e obrigações. à remuneração paga para o empreiteiro corresponde a execução da obra devida ao dono, isto é, ao direito de um contratante é correlata a obrigação do outro. A onerosidade, que representa a remuneração devida pelo dono da obra ao empreiteiro em razão do trabalho que este realiza, ou do serviço prestado. A consensualidade, o que significa bastar o consentimento para a formação do contrato. A comutatividade, representada pela equivalência mútua das prestações e das vantagens”. Ainda, de acordo com a legislação em vigor, o empreiteiro também pode se obrigar a fornecer os materiais que serão usados, além de seu próprio trabalho. O Código Civil Brasileiro classifica a empreitada em duas diferentes modalidades, a de lavor ou a de materiais. Na de lavor, o empreiteiro não possui responsabilidade de fornecer nenhum tipo de material para a conclusão da obra, apenas sua mão de obra. É diferente na de materiais, que além de fornecer a mão de obra, o empreiteiro também disponibiliza o material necessário, assim se tornam responsáveis. “Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais”. É pertinente esclarecer que se não for estabelecido no contrato, em regra, é a modalidade de lavor que é assumida. Isso acontece em função do primeiro parágrafo do art. 610: “§ 1° A obrigação de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.” Acerca do objeto do contrato de empreitada, este tem relação com qualquer tipo de produção, portanto, não abarca somente as edificações como as obras materiais, assim como as criações artísticas e intelectuais. Dessarte, se evidencia que o construtor tem como obrigação o resultado, de forma que deve ser conforme as diretrizes estipuladas pelo contrato convencionado entre as partes. Com isso, em oposição aos tipos obrigacionais de meio, como a prestação de serviços, o contratado se vincula ao resultado. A jurista Maria Helena Diniz disserta sobre o tema: “empreitada contém uma obrigação de resultado, por ter em vista a obra executada, de modo que só será devida a remuneração se a obra for realmente feita”. Além disso, o resultado da obra precisa cumprir com a expectativa definida pelo contrato, como expõe Mário Moacyr Porto sobre as obrigações do empreiteiro, que é parte na empreitada: “não é de apenas executar os trabalhos da construção, mas executá-los de modo satisfatório, de maneira que a obra contratada e entregue seja sólida, segura e funcional, nos termos do ajuste”. Sobre a remuneração no contrato exposto, ela possui várias cláusulas de reajustamento e pode acontecer em dinheiro ou por outro meio, até mesmo sendo possível configurar em cota-parte da obra. Caio Mário da Silva Pereira opina acerca do assunto: “empreitada com reajustamento é a que contém cláusula permissiva da variação do preço em consequência do aumento ou diminuição valorativa de seus componentes, como sejam a mão de obra e os materiais. Nas épocas de instabilidade, é frequentemente convencionada, pondo o empreiteiro coberto das súbitas oscilações do mercado e defendendo-o do injusto locupletamento do dono da obra; mas, por outro lado, evita os orçamentos demasiadamente elevados com os quais, a pretexto de defender-se de preços instáveis, o contrato permite que as partes, periodicamente ou à vista dos eventos determinantes de alterações, revejam a retribuição contratada, atualizando-a”. Ainda sobre o reajustamento, Orlando Gomes fala sobre as cláusulas contratuais: “Perfeitamente lícitas, é necessário, contudo, que o direito do empreiteiro ao reajustamento seja expressamente consignado no contrato”. No que se refere à empreitada sem reajustamento, leciona Caio Mário da Silva Pereira que “é a que determina o preço certo para a execução da obra, insuscetível de variação, ainda que o dos salários ou dos materiais aumente. Sendo o empreiteiro um especialista, presume-se que a terá calculado na previsão dos acontecimentos, e não pode surpreender a outra parte com a exigência de quantia a maior do que o preço ajustado”. É relevante destacar que o reajuste feito pelo empreiteiro pode ser resultado de hipóteses em que há onerosidade excessiva superveniente, que emana em função de caso fortuito ou força maior, postulados pelo artigo 393 do Código Civil: “Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”. “Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir”. No tocante ao que versa sobre a remuneração em casos de silêncio das partes, o Código Civil afirma que a empreitada é sem reajustamento: “Art. 619. Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra”. Há também a chamada empreitada por preço de custa, de acordo com Caio Mário da Silva Pereira “é aquela em que o empreiteiro fica obrigado a realizar o trabalho, sob sua responsabilidade, com fornecimento de materiais e pagamento de mão de obra, mediante reembolso do despendido, acrescido do lucro assegurado”. No tocante ao encerramento do contrato de empreitada, pode advir da execução do contrato, isto é, quando a obra é finalizada e entregue dono, o contrato se encerra. Além disso, a chamada resilição bilateral também tem o poder de encerrar o contrato, pois da mesma forma que o contrato surge do livre acordo de vontade entre as partes, ele também poderá acabar se for da vontade de ambos os integrantes contratuais. Nesse sentido, existe também a resolução do contrato gerada pelo inadimplemento de uma das partes. Segundo ao art. 623, CC, o dono da obra pode requerer a rescisão unilateral do contrato nos seguintes moldes: “Art. 623. Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da obra suspendê-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas e lucros relativos aos serviços já feitos, mais indenização razoável, calculada em função do que ele teria ganho, se concluída a obra”. No mais, o contrato também pode ser encerrado se houver onerosidade excessiva vinda da obra, nas hipóteses em que ocorrerem imbróglios imprevisíveis de execução e o dono da obra não querer reajustar o preço estipulado anteriormente. As modificações na obra que são impostas pelo dono da obra, alterando sua natureza primária, mesmo que o contratante se comprometa a arcar com o acréscimo dos valores, também pode consistir no encerramento contratual. Ocorre a cessação também com o falecimento do empreiteiro quando o contrato for feito de forma intuitu personae, mas se não for assim determinado, a empreitada segue produzindo efeitos na imagem dos sucessores do empreiteiro. Por fim, a falência do empreiteiro também é um dos casos que pode fazer com que cesse o contrato de empreitada. Por último, o caso de falência do empreiteiro também é uma hipótese que pode fazer com que contrato de empreitada chegue ao fim. Em referência aos riscos presentes na empreitada de materiais, se acontecer alguma eventualidade que danifique a obra, antes da entrega do resultado ao dono da obra, os prejuízos serão responsabilidade do empreiteiro, já que segundo Maria Helena Diniz, ele “ainda não cumpriu o seu dever de entregar pronta a obra encomendada”. Mas se eventuais danos ocorrerem no período de mora do contratante ao recebê-la, o mesmo será responsável totalmente. Sobre a empreitada de lavor, há de se levar em conta a culpa do empreiteiro nos casos de danos, para somente assim poder responsabilizar o mesmo, sustenta Maria Helena Diniz, “o empreiteiro apenas fornece a mão – de – obra, os riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono da obra (CC, art. 612), pois os materiais lhe pertencem, e por sua conta correrão”. Assim sendo, quando a empreitada for de lavor, cada parte responderá pela quota que lhe corresponde, portanto, o dono da obra é responsável pela coisa, e o empreiteiro pela mão de obra prestada.
PRINCIPAIS DISTINÇÕES ENTRE A EMPREITADA E A PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS A empreitada e a prestação de serviços são institutos jurídicos distintos, porém pode haver confusão entre esses tipos contratuais, por esse motivo é importante diferenciar os dois negócios jurídicos à luz da doutrina e da legislação vigente no país. À vista disso, na empreitada, o negócio jurídico tem como obrigação o resultado, enquanto na prestação de serviços a obrigação do prestador é de meio. Ainda, é pertinente observar os dispositivos legais que diferenciam ambos os contratos, que são de natureza típica. Discorre o Código Civil sobre o conteúdo dos respectivos contratos: “art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais.” e “Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.” Nesse contexto, a própria legislação pátria vigente faz distinções entre os dois tipos contratuais, nos arts. 610 e 626 sobre a empreitada e no art. 593 e seguintes sobre a prestação de serviços. No que concerne à natureza da obrigação existente em cada um dos tipos contratuais, a diferença repousa no resultado que a empreitada busca, isto é, o objeto do negócio jurídico é determinado e certo, por conseguinte cabe ao empreiteiro, sem subordinação, entregar o resultado no prazo cabível e dentro do que foi estipulado no contrato. Logo, há claras diferenças entre as obrigações que regem os referidos contratos, pois na prestação de serviços, a principal obrigação do prestador é o meio, não o resultado, como na empreitada.
No diz respeito à remuneração nos tipos contratuais em epígrafe, na
empreitada é pago o valor certo estabelecido no contrato com fundamento no resultado, seja parcial ou completo, do objeto contratado. Já na prestação de serviços, o valor de pagamento é ajustado conforme o tempo em que foi prestado o serviço e esse lapso de tempo é moderado por lei: “Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra”.
Em síntese, o prestador tem por base as horas trabalhadas quando se trata
da remuneração na prestação de serviços, enquanto o empreiteiro é pago pelo trabalho feito, em sua entrega final ou de forma parcial. Essa conjuntura demonstra ainda mais o teor da obrigação na empreitada, que se trata do objeto em si, assim a remuneração acontece com a entrega do mesmo. Já na prestação de serviços o principal é a atividade exercida pelo prestador, que é pago justamente pelas horas prestadas.