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COMUNIDADE RH

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O REGIME JURÍDICO
DAS FÉRIAS

 Janeiro 13, 2020  CRH Angola

HOME LEGAL & RH ANALITICO O REGIME JURÍDICO

DAS FÉRIAS

Diz-nos a experiência, que grande parte dos


profissionais que na gestão diária dos Recursos
Humanos lidam com matéria jurídico-laboral, não
possui formação jurídica. Tal facto exige maior
engenho desses profissionais na compreensão
dessas questões e na resolução dos conflitos daí
emergentes. Foi por essa razão pensado neste
artigo, para de forma simples e resumida ajudar a
dirimir ou pelo menos reduzir os conflitos que
recorrentemente surgem da aplicação errada da
Lei.

O Regime Jurídico das Férias para o sector


privado consta da Lei 7/15 de 15 de Junho – Lei
Geral do Trabalho, ao passo que o regime para o
funcionário público consta da Lei 10/94 de 24 de
Junho – Lei que aprova o regime jurídico das
férias, faltas e licenças na Administração Pública.
Começaremos a nossa abordagem pelo Regime
Jurídico das Férias no sector privado e em
posteriormente assinalarmos o que o difere do
regime da Função Pública.

1. Noção Geral de Férias: “merecido” período de


descanso anual, que deve ser concedido ao
trabalhador após o exercício das actividades
laborais por certo período de tempo (período
aquisitivo). Doutrinários há que, definem as férias
como o “período do Contrato em que o trabalhador
está autorizado a não prestar serviços, mas, tem
direito a remuneração”.

2. Natureza Jurídica: É unanime entre os


doutrinários que as férias têm do ponto de vista
do Trabalhador a natureza de um Direito-dever.
Direito de exigir o gozo das férias, direito que é
irrenunciável, e cujo gozo efectivo não pode ser
substituído (salvo excepções previstas na lei). É
um dever de não trabalhar durante este período.

Para o empregador, as férias têm a natureza de


dupla obrigação. Por um lado, a obrigação de
permitir o afastamento temporário do trabalhador,
e em simultâneo a obrigação de remunera – lo.

3. Finalidade: As férias destinam-se a recuperação


física e mental do trabalhador, bem como
possibilitam o seu convívio social. Daí a sua
importância e especial relevância (art.130 LGT).

4. Direito a Férias: Requisito essencial para ter


direito a férias e poder goza-las é, ter trabalhado
no ano anterior, pois o direito a férias reporta-se,
isso é, diz respeito ao trabalho prestado no ano
civil anterior (artigo 129.º da LGT).

O Trabalhador passa a ter direito a férias no dia 1


de Janeiro de cada ano (art.129º LGT) e deve tirar
ou gozar as referidas férias até ao dia 31 de
Dezembro deste mesmo ano. Excepcionalmente e
a pedido do trabalhador, ou por razões
respeitantes ao empregador, este pode autorizar
que as férias em causa possam ser gozadas
depois de Dezembro, mas nunca depois de 31 de
Março do ano seguinte àquele em que deviam ser
gozadas.

4.1. Direito a Férias no Ano de Admissão: No ano


de admissão, o trabalhador não pode tirar férias. O
Direito a férias referentes ao trabalho prestado
neste ano adquire-se no dia 1 de Janeiro do ano
seguinte e podem ser gozadas a partir do
momento em que se completa seis meses de
trabalho efectivo. A título de exemplo,
consideremos um trabalhador que é contratado a
1 de Novembro de 2019, apenas poderá tirar férias
depois de 1 de Maio de 2020, altura em que
completa seis meses de trabalho (artigo 129º, n.º
3 da LGT).

5. Duração: O período total anual das férias é de


22 dias úteis, não devendo ser considerados para
o efeito de contagem, os dias de descanso
semanal, descanso complementar e feriados
(art.131ºLGT).

5.1. Excepção: Nos casos de suspensão do


Contrato de Trabalho, nas situações Licença sem
Remuneração e nas férias referentes ao ano de
admissão, o período de férias corresponde a dois
dias úteis de férias para cada mês de trabalho
completo. Em todo caso, o período de férias não
pode ser inferior a seis (6) dias úteis.

6. Formalidade para Concessão: No início de cada


ano, a entidade empregadora deve elaborar o
plano de férias onde constem as férias de todos
os trabalhadores, com as respectivas datas de
início e fim. Este plano deve ser afixado em local
acessível a todos até o dia 31 de Janeiro. As férias
sempre que possível, devem ser marcadas por
acordo entre a entidade empregadora e o
trabalhador, com a devida antecedência e quando
não é possível que assimseja, caberá a decisão
final ao empregador.

7. Férias e Faltas: As férias dos trabalhadores


podem sofrer descontos em função das faltas
cometidas pelo trabalhador ao longo do ano.
Assim sendo, as faltas injustificadas dão lugar ao
desconto na proporção de um (1) dia de férias por
cada dia de falta. Já relativamente as faltas
justificadas que não conferem direito a
remuneração, dão lugar ao desconto de um (1) dia
de férias por dois (2) dias de falta. Dá, igualmente,
lugar a desconto nas férias, a dispensa para
prestação de provas escolares, sendo deduzido
meio-dia de férias por cada dia de dispensa para a
realização de provas. Também nestes casos, a
duração anual do período de férias nunca pode ser
inferior a seis (6) dias úteis (art.º154º LGT).

8. Perda do direito ao gozo de férias: O trabalhador


perde o Direito ao gozo de férias, se por razões
que lhe sejam imputáveis, não as gozar até ao
final do primeiro trimestre do ano a seguir ao
vencimento das férias.

9. Cancelamento ou adiamento das férias: sempre


que na data marcada para o gozo das férias o
trabalhador estiver impedido por motivos legais ou
por doença, devem as férias ser adiadas ou
suspensas. No caso de doença, deve o gozo ser
suspenso por um período de 5 dias úteis, devendo
ser marcada nova data pelo empregador para que
o trabalhador conclua o gozo das férias.

10. Férias no contrato a Termo: os trabalhadores


admitidos por tempo determinado, cuja duração
inicial ou renovação do contrato não ultrapasse
um ano, têm direito ao gozo de férias na
proporção de 2 dias por cada mês completo de
trabalho. Podem, se assim desejarem, substituir o
gozo das férias por remuneração equivalente, que
deverá ser paga no termo do contrato. (113º LGT).

11. Fracionamento do Período de Férias: Por


razões de natureza económica pode o empregador
ter interesse em repartir o período de gozo de
férias em vários momentos do ano. Esta
possibilidade justifica-se com a necessidade de
mitigar os impactos negativos que uma
paralisação prolongada poderia causar para o
normal funcionamento actividade da empresa.

12. Prestação de serviço durante o período de


férias: O Direito ao gozo de férias é um direito
irrenunciável, o que pressupõe que o trabalhador
não deve prestar qualquer tipo de serviço nesse
período. Ressalvada fica feita à permissão da lei
para a substituição do gozo das férias seja por
remuneração correspondente, ou outra
compensação acordada com o trabalhador.

13. Férias e Maternidade: O período de férias das


mulheres que tenham filhos menores (até aos 14
anos) a seu cargo é aumentado na proporção de
um dia de férias para cada filho (art.º 252ºLGT).

14. Remuneração e Gratificação das Férias:


Durante o período de férias, o trabalhador tem
direito a remuneração correspondente à este
período. Acrescenta – se à remuneração uma
gratificação (gratificação ou de férias de férias)
equivalente à 50% do salário base. Este valor é um
limite mínimo estabelecido por lei, nada obstando
que a entidade empregadora fixe um valor
superior para a gratificação (art.º 158.º, n.º 1, al.
a)).

14.1. Nos casos em que haja lugar a suspensão


do Contrato de Trabalho, tendo o trabalhador
direito ao gozo de férias, mas não as tendo
gozado por razões que não lhe sejam imputáveis,
são as férias substituídas pelo pagamento da
remuneração correspondente (art.º 137.º da LGT).

14.2. Já na Cessação de Contrato, devem ser


pagas ao trabalhador as férias que este ainda não
tenha gozado. Por outro lado, haverá ainda lugar à
remuneração na proporção de dois (2) dias úteis
por cada mês completo de trabalho, desde o dia
01 de Janeiro até a data da Cessação do Contrato
(art.º 138.º da LGT).

14.3. Por fim, quando há lugar a Cessação do


Contrato de Trabalho antes de vencido o período
de férias, há lugar a remuneração na proporção de
dois (2) dias úteis de férias por cada mês
completo de trabalho, desde à data de admissão,
até a data da Cessação (art.º 138.º da LGT).

15. Violação do Direito a férias: Nas situações em


que, fora do âmbito legal ou contratual, o
empregador impedir o trabalhador de gozar as
férias, deve o trabalhador receber a título de
indemnização o dobro da remuneração
correspondente ao período de férias não gozadas,
assim como, deverá gozar as férias em falta até
ao primeiro trimestre do ano seguinte ao
impedimento (art.º 140.º da LGT).

Descritas que estão as linhas gerais do regime no


sector privado, passaremos então para o regime
do sector público, do qual evidenciaremos os
aspectos que o diferencia do sector privado.

A primeira nota a ressaltar, embora sem qualquer


relevância em termos práticos, é relativa ao
período de duração das férias. Que no sector
privado refere a Lei 22 dias úteis, ao passo que no
sector Público, estabelece – se 30 dias (art.º 4º
n.º1 da Lei 10/94 de 24 de Junho).

Outra nota vai para o ano civil de admissão, em


que, quando o início das funções ocorra até 31 de
Agosto, tem o funcionário direito ao gozo de férias
proporcional ao tempo trabalhado (art.º 5º da Lei
10/94 de 24 de Junho).

Há ainda expressa imposição no sector público,


que o início das férias seja marcado para dia útil,
de preferência após o dia de descanso semanal.
Por outro lado, impõe-se ainda que o trabalhador
informe antes do início das férias, os meios pelos
quais poderá ser contactado durante o período de
ausência (art.º6º n.º6º e art.º 12º
respectivamente, da Lei 10/94 de 24 de Junho).

Impõe-se ainda em determinados sectores (como


o da educação), que as férias coincidam com a
paralisação dos trabalhos da Instituição (art.º 7º
n.º7 da Lei 10/94 de 24 de Junho).

Relativamente aos procedimentos, estabelece-se


que o mapa de férias do ano seguinte deve ser
afixado até o dia 20 de Dezembro de cada ano
(art.º 7º n.º1 da Lei 10/94).

Há em princípio a regra da proibição da


cumulação das férias, salvo nas situações em que
a Lei expressamente permite (art.º 8º da Lei 10/94
de 24 de Junho).

Um ponto muito curioso é a regra estabelecida em


relação a cessação definitiva de funções. Na
função pública, a regra é a de que, quando cessa
definitivamente a função, o funcionário público
tem Direito a receber a remuneração relativa a
dois (2) dias e meio por cada mês completo de
trabalho, em contra posição aos dois (2) dias
estabelecidos no sector privado (art.º 11º n.º1 da
Lei 10/94).

Conclusão: Férias sim! Essenciais para uma mente


sã e melhor desempenho profissional!
É fundamental o controle rigoroso e
aplicação correcta da Lei relativamente a questão
do gozo, ou acumulação das férias, para se evitar
que as organizações tenham custos adicionais em
caso de Cessação de Contrato.

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Novo Ano, Novas Comunidade



Oportunidades? Recursos

Humanos –
Desafios 2020

6 thoughts on “O
Regime Jurídico das
Férias”
Daniel Chipango diz:
Janeiro 15, 2020 às 8:00 am

Muito claro!

Responder
Suzete Nambewo diz:
Fevereiro 26, 2020 às 1:30 pm

Muito bom!
Muito claro.

Responder
José Miguel Mbechi diz:
Abril 28, 2020 às 11:32 am

Muito bom este artigo e bastante claro

Responder
Grace diz:
Setembro 4, 2020 às 8:17 am

Gostei do Artigo
Foi mesmo o que queria saber e ter prova dos
artigos
Obrigada.

Responder
Márcio Josemar Samuel Morais diz:
Janeiro 11, 2021 às 7:37 pm

Boa noite! Preciso dum exclarecimento do artigo


11 da lei 10/94 de 24 de Junho. Qual é o
exclarecimento que preciso? Suponhas que
comece as minhas funções em janeiro de 2020,
quando é que posso gozar as férias? Quando
completar um ano ou não?Outra coisa, no ano
seguinte as minhas funções cessam por
imperativo do decreto que regula o pessoal do
gabinete dos titulares da administração central e
local, ou seja, por exoneração do titular do poder
executivo,todo pessoal do seu gabinete cessa as
funções automaticamente, também sou
contemplado no que o artigo 11 diz,embora seja
pessoa estranha a administração? Agradeço
profundamente por uma explicação.

Responder
Arminda da Silva Miguêns Fernando diz:
Maio 13, 2021 às 10:26 am

bom dia preciso de uma explicação, quando o


trabalhador sai de férias de apos seis mês de
trabalho e pago 25% do salário certo? A pois seis
mês deve sair outra vezes de férias e receber
outro 25%

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