Análise Crítica Filme Libras

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DR.

RAUL BAUAB
FACULDADES INTEGRADAS DE JAÚ
CURSO DE PSICOLOGIA

ANNA ROMAIKE COLAVITE

ANALISE CRITICA SOBRE O FILME "E SEU NOME É JONAS " E SUA RELAÇÃO
COM O TÓPICO 2 - ABORDAGENS EDUCACIONAIS PARA SURDOS:
ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E BILINGUISMO.

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A LIBRAS, SOB ORIENTAÇÃO DA DISCENTE


DAIANE NATALIA SHIAVON MARQUES

JAÚ – SP
2023
O filme "E seu nome é Jonas" lançado em 1979 e dirigido por Richard Michaels
retrata a vida de Jonas, uma criança surda que devido a uma série de fatores
apresenta uma intensa dificuldade em se comunicar e em certos momentos é
tratado como deficiente intelectual chegando a passar um tempo internado em uma
clínica, embora tivesse suas características cognitivas dentro da normalidade e sua
única barreira fosse aprender uma forma de linguagem compatível. Assim como o
nome da obra sugere a vida de Jonas e a forma como ele é visto está inicialmente
atrelada a ideia do deficiente incapaz de falar por si mesmo, ter opinião sobre as
situações que ocorrem consigo, sem identidade, independência, a margem,
alienado da realidade a sua volta, simultaneamente culpado de sua condição e
pressionado a se adaptar a forma na qual as pessoas ouvintes se comunicam,
através da educação oralista.
Os fatores que influenciaram para o aumento da dificuldade e sofrimento do garoto
na sua vivência e comunicação foram combinações entre os diversos tipos de
preconceitos da sociedade a sua volta, inclusive dos familiares, opiniões de diversos
profissionais que teoricamente deveriam buscar diferentes recursos para
desenvolver as potencialidades do garoto, mas que na prática reforçam noções
preconceituosas e limitadoras sem conseguir enxergar as verdadeiras necessidades
tanto de Jonas quanto de todos aqueles que são representados por ele.
É possível notar a princípio a tentativa de impor a Jonas uma educação oralista,
com foco em leitura labial para compreensão da pessoa ouvinte. Infelizmente essa
forma de comunicação esteve presente como ideologia dominante na maior parte do
século XX. Tendo como uma das bases a filosofia de Aristóteles onde a linguagem
falada é o único meio de desenvolver o pensamento humano, no oralismo o sujeito
é entendido como um deficiente que precisa ser direcionado a normalidade
utilizando estimulação auditiva e reabilitação da fala. Foi a partir do período
denominado Isolamento Cultural iniciado em 1880 com a proibição do uso da Língua
de Sinais que o Oralismo ganhou força e foi sustentado até meados de 1960 onde
se fortaleceu o movimento da comunidade surda contra esse tipo de educação.
No filme, esse fortalecimento do movimento pela linguagem de sinais e da união da
comunidade surda pode ser visto a partir da entrada de Jonas em uma escola para
surdos focada em educação bilinguista. Onde, diferente de sua outra escola com
enfoque oralista, ele foi capaz de se desenvolver.
É de fundamental importância citar o papel que a mãe de Jonas exerceu ao longo
do enredo onde ela em meio a sentimentos de culpa, tristeza e principalmente
determinação de fazer seu filho conseguir se expressar e entender os anseios e
necessidades daqueles a sua volta alcançou o sucesso construindo recursos para o
desenvolvimento do filho através do contato com a cultura da comunidade surda, o
compartilhamento de experiências com outras famílias que também passavam pelos
mesmos desafios a fim de entender mais sobre essa outra comunidade que estava
ali e ao mesmo tempo não tinha visibilidade na sua antiga realidade moldada em
torno de preconceitos.
O contato íntimo com a cultura produzida por surdos independentes e totalmente
capazes de se expressar e compreender as pessoas à sua volta através da Língua
de Sinais fez com que a família de Jonas e ele desenvolvessem o sentimento de
integração em um grupo construindo novos vínculos e passando a aprender desde
os conceitos mais abstratos aos mais cotidianos. Um deles inclusive foi o da morte,
algo fundamental para que ele finalmente pudesse compreender o luto do avô e
simboliza-lo de uma forma mais saudável. O contato com o outro que até então se
mostrava difícil passa por um processo de transformação e aos poucos a noção do
deficiente coadjuvante de sua própria história vai sendo substituída pelo de
protagonista.
Ao todo o filme foi capaz de abordar diversas questões enfrentadas pela
comunidade surda que ainda são atuais mesmo depois de 44 anos de lançamento
da obra. Partindo desde os preconceitos encontrados dentro e fora do âmbito
familiar bem como os diferentes recursos que essas família fazem para lidar com a
questão da comunicação. Ou a influência das antigas percepções da pessoa com
deficiência que necessita de uma educação integralista e é responsável por se
adaptar às formas de comunicação utilizadas pelas pessoas ouvintes.
A obra sobretudo nos faz questionar quantos Jonas ao longo da história da
humanidade foram diagnosticados erroneamente e passaram a vida inteira dentro
de asilos ou hospitais psiquiátricos; ou quantos passaram a viver em abrigos devido
ao abandono das famílias que não estavam dispostas a aceitar um filho diferente;
quantos foram forçados a uma educação oralista que gerava diversos impactos
negativos incluindo na aprendizagem e formação profissional; quantos passaram
suas vidas inteiras acreditando serem incapazes de conquistar uma independência
ou realizar seus sonhos. Embora a resposta dessas perguntas seja inconclusiva, a
abertura que o filme abre sobre elas pode ser uma rica fonte de mudanças para
todos aqueles que assistem.
Hoje no Brasil existe uma série de diretrizes voltadas a uma educação inclusiva que
visam garantir o acesso a um ensino completo e adaptado às necessidades de cada
deficiência, a língua brasileira de sinais inclusive é reconhecida por lei e pode ser
utilizada em todas as áreas da vida. Essa abordagem educativa e a língua precisam
ser reforçadas no dia a dia, seja em capacitação dos profissionais de todas as
escolas do país, ou durante a formação nas escolas e universidades e até mesmo
em treinamentos de empresas dos mais diversos tipos de áreas de forma a garantir
acesso a empregos e recursos para verdadeira inclusão da pessoa com deficiência
auditiva.

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