Trabalho Mat 2
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RESUMO
Este artigo tem como objetivo refletir sobre algumas possibilidades para a
formação matemática do professor dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, a partir da experiência do primeiro autor do texto em seu
estágio de doutorado realizado no Departamento de Didática da Matemática
da Universidade de Granada – Espanha. Adotamos como metodologia de
pesquisa a abordagem qualitativa e, para a produção e a análise de dados,
nos pautamo-nos nos documentos oficiais do curso de formação de
professores da Universidade de Granada, nas ementas das suas quatro
disciplinas relacionadas à matemática, assim como nos documentos
fornecidos aos alunos por aquela instituição. A análise dos dados evidenciou
que a diversidade de práticas propostas pode fazer com que os futuros
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28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil
ABSTRACT
1 Introdução
Mengali e Passos (2009), têm forte influência na sua identidade e na constituição do seu
modelo de aula. Via de regra, os futuros professores, que estão cursando a formação
inicial, tiveram um ensino de matemática focado nas operações aritméticas a partir de
algoritmos. Assim, essa formação deve possibilitar ao docente “construir um currículo
de matemática que transcenda o ensino de algoritmos e cálculos mecanizados,
principalmente nos anos iniciais, onde está a base da alfabetização matemática”
(NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p. 32).
Além disso, os futuros docentes demonstram “trazer marcas profundas de
sentimentos negativos em relação a essa disciplina, as quais implicam, muitas vezes,
bloqueios para aprender e para ensinar” (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p.
23), que explicitam frustrações, inseguranças e medos e que poderão repercutir no modo
como serão ministradas suas aulas nos anos iniciais de escolarização.
Dessa forma, continua a ser de fundamental importância a realização de pesquisas
sobre a formação matemática do professor dos anos iniciais, pois os aspectos
apresentados indiciam , que esses cursos parecem não formar adequadamente o docente
que ensinará matemática.
Considerando o exposto acima, o objetivo deste artigo é discutir e refletir sobre
algumas possibilidades para a formação matemática do professor dos anos iniciais do
Ensino Fundamental, a partir da experiência do primeiro autor deste texto em seu
estágio de doutorado realizado no início de 2012 no Departamento de Didática da
Matemática da Universidade de Granada – Espanha.
contabiliza-se também quanto tempo o aluno terá que dedicar-se àquela disciplina, com
a realização de trabalhos, atividades e estudos individuais e em grupo. Nesse sistema,
um crédito corresponde a 25 horas de trabalho.
A educação primária na Espanha, de acordo com a Ley Orgánica de Educación
(ESPANHA, 2006), engloba seis anos de escolarização de crianças entre 6 e 12 anos.
Dessa forma, equivale às séries iniciais no Brasil e abrange também o 6º ano do Ensino
Fundamental.
O Grado en Maestro en Educación Primaria tem duração de quatro anos e, no
ano letivo 2010-2011 e também 2011-2012, onze turmas iniciaram o curso, com
aproximadamente 65 alunos em cada uma delas.
Esse curso forma o professor para atuar apenas na Educação Primária, sendo
possível, no 4º ano, escolher uma menção – Educação Especial, Educação Física,
Educação Musical e Língua Estrangeira – e, para isso, o estudante deverá cursar um
mínimo de 30 créditos referentes a disciplinas de uma dessas menções
(UNIVERSIDAD DE GRANADA, [201-]a).
O curso tem quatro disciplinas relacionadas a matemática e seu ensino e
aprendizagem, como podemos ver no Quadro 1 abaixo:
Total de Tipo de
Disciplinas Ano Créditos
Horas disciplina
Bases matemáticas para la Educación
1º 9 225 Obrigatória
Primaria
Enseñanza y aprendizaje de las
2º 6 150 Obrigatória
matemáticas en la Educación Primaria
Diseño y desarrollo del currículum de
3º 7 175 Obrigatória
Matemáticas en la Educación Primaria
Competencias matemáticas en Educación
4º 6 150 Optativa
Primaria
Fonte: UNIVERSIDAD DE GRANADA ([201-]a)
Nesse Guia é disponibilizada também uma lista de livros e sites que serão
referências para os alunos, sendo a referência básica o livro Matemáticas para maestros
de Educación Primaria (SEGOVIA; ROMERO, 2011), de autoria dos professores do
Departamento de Didática da Matemática. Há ainda menção aos critérios de avaliação,
segundo os quais os estudantes são avaliados por meio de provas escritas (40% da nota
final), trabalhos realizados individualmente ou em grupo e pela participação (40% da
nota final) e frequência às aulas (20% da nota final).
A disciplina está dividida em sete temas – número natural e sistemas de
numeração; aritmética; números racionais; figuras geométricas; transformações planas e
orientação espacial; magnitudes e suas medidas; e introdução a estatística e
probabilidade – e, para cada tema há um Guión del Tema, documento que apresenta
seus objetivos e conteúdos, suas referências, as orientações para o trabalho, o
cronograma, alguns questionamentos que serão respondidos ao longo do estudo e várias
atividades.
Exporemos agora algumas atividades retiradas dos temas: aritmética, figuras
geométricas e magnitudes, para exemplificar e também para discutir aspectos que
compreendemos serem muito importantes na formação do professor da Educação
Primária.
Do tema 2 – Aritmética –, destacamos a discussão sobre as operações
fundamentais, que tem como um dos objetivos, entre vários outros, conhecer o
significado das operações com números naturais, os contextos e as situações a que estes
estão associados, assim como justificar os algoritmos tradicionais utilizados para
realizar as operações.
As ideias implícitas no Guión (UNIVERSIDAD DE GRANADA, [201-]d) deste
tema compartilham da concepção de que as operações devem ser ensinadas a partir das
estruturas aditivas e multiplicativas e que há diferentes conceitos implícitos nas
operações que não limitam a adição ao processo de juntar coisas de mesma natureza; a
subtração a uma operação inversa da adição, ou seja, à ideia de tirar uma quantidade de
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Invente um problema que tenha mais de uma solução e cuja resolução seja
com operações da estrutura aditiva.
Trabajo de Carlos
Ainda, para esse autor, esse processo depende das representações múltiplas do
professor. Isso significa que são muito importantes suas experiências, seus valores, seus
juízos e sua história de vida, pois cada indivíduo, como um sujeito único e constituído
pela inter-relação de todos esses elementos, agirá de uma forma diferente.
O professor precisa compreender, através da reflexão-na-ação, quais são as
representações figurativas do aluno, os “agrupamentos situacionais, contextualizados: as
relações que se estabelecem na maior proximidade possível das experiências
quotidianas” (SCHÖN, 1992, p. 85), para coordená-las com as representações formais –
o saber escolar – não de maneira a excluir a primeira, mas de modo a associá-las.
Essa associação apenas acontece se houver confusão, ou seja, não se aprende sem
ficar confuso e, para Schön (1992), o docente tem que dar valor à confusão do aluno e
também à sua própria confusão, porque, se ele mesmo não ficar confuso, não conseguirá
reconhecer o problema que precisa de resposta.
Retomando a apresentação das atividades, no tema 4 – Figuras geométricas – é
indicado, como um dos objetivos, conhecer e utilizar materiais e recursos para o ensino
de geometria plana e espacial. Dele destacamos as seguintes atividades: “Construa com
régua e compasso, se é possível, um triângulo de lados 3, 4 e 5 unidades e indique que
triângulo é. Faça o mesmo para um com lados 1, 2 e 4 unidades” (UNIVERSIDAD DE
GRANADA, [201-]e, p. 3). Ou, ainda, “defina e desenhe os cinco poliedros regulares.
Justifique porque há somente cinco” (UNIVERSIDAD DE GRANADA, [201-]e, p. 4).
Do tema 6 – Magnitudes e suas medidas – constam no Guión del Tema:
Magnitudes y sus medidas (UNIVERSIDAD DE GRANADA, [201-]f) as seguintes
atividades: “Enumere ao menos quatro magnitudes que sejam comuns aos seguintes
objetos: (a) criança, cachorro e peixe; (b) mesa, carro, pessoa; (c) copo, caixa e garrafa.
Identifique quantidades de magnitude referentes aos objetos” (p. 2). Outra atividade é:
“Em uma figura se representa uma circunferência, um quadrado circunscrito e um
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Questões:
1) Que matemática sabe esse menino?
2) O que ele não sabe?
3) Identifique a matemática que utiliza
quando: joga cartas, constrói
cometas, faz compras, estuda e
aprende o que é uma soma.
4) Justifique a utilidade que tem a
matemática que utiliza esse menino
nessas tarefas e identifique em que
situações é útil.
Figura 1 – Tirinha
Fonte: Guión del Tema: Matemática, cultura y sociedad (UNIVERSIDAD DE GRANADA, [201-]g)
Essa atividade possibilita a discussão dos conceitos matemáticos que podem fazer
parte de situações da vida cotidiana, pois, a partir das questões propostas, os futuros
professores poderão relacionar os diferentes conteúdos matemáticos presentes nas
atividades que o menino sabe realizar na tirinha. Porém, isso não quer dizer que o
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5 Algumas considerações
Além disso, a disciplina Bases matemáticas para la Educación Primaria não está
apenas focada nos conteúdos matemáticos, que, de certa forma, são vistos pelos futuros
professores durante toda sua vida escolar, mas busca também abordar aspectos como a
justificativa dos algoritmos das operações aritméticas e a busca de outros que não são
tradicionais. Da mesma forma, a disciplina de Enseñanza y aprendizaje de las
matemáticas en la Educación Primaria discute aspectos relacionados à importância da
matemática na sociedade, ao ensino e à aprendizagem, etc. Ainda, compreendemos que
essas disciplinas estão pautadas na resolução de problemas e abordam os fundamentos
da matemática, que são de grande importância para a formação dos professores.
Com isso, compreendemos que essas práticas proporcionadas no curso dessa
Universidade podem promover o desenvolvimento da reflexão nos docentes e
proporcionar “uma sólida formação teórico-prática que alavanque e alimente processos
de aprendizagem e desenvolvimento profissional ao longo de suas trajetórias docentes”
(MIZUKAMI, 2006, p. 216).
Corroborando essa afirmação, para Imbernón (2006, p. 60), a formação deve
proporcionar ao professor uma “bagagem sólida nos âmbitos científico, cultural,
contextual, psicopedagógico e pessoal que deve capacitá-lo a assumir a tarefa educativa
em toda a sua complexidade, atuando reflexivamente com a flexibilidade e o rigor
necessário”. Esse autor ainda destaca a necessidade de uma formação que gere a atitude
de buscar e valorizar a atualização por toda a carreira, devido às mudanças que ocorrem
constantemente.
Por fim, compreendemos que essa formação matemática de professores realizada
na Universidade de Granada pode fazer com que os futuros professores adquiram esses
aspectos aqui apontados. Esperamos, com este artigo, contribuir para a discussão sobre
a formação que ocorre no Brasil.
Agradecimentos
Referências
BATISTA, Fábio D.; LANNER, Anna R. A formação para o ensino de matemática nos
currículos de pedagogia das instituições de ensino superior do Estado de São Paulo:
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SHULMAN, Lee. Those who understand: knowledge growth in teaching. In: WILSON,
S. M. (Ed.).The wisdom of pratice: essays on teaching, learning and learning to teach.
United States of America: Jossey-Bass, 2004. p.189-215.
SMOLE, Katia C. S.; DINIZ, Maria I. (Org.). Ler, escrever e resolver problemas:
habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2001.