História Bairro Periolo Cascavel Parana

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HISTÓRIA DO BAIRRO PERIOLO – CASCAVEL/PARANA

Nesta seção apresenta-se uma contextualização histórica da comunidade


abrangida pelo Programa Atitude no Núcleo do Periolo, o mapeamento da rede de serviços
comunitários, apresenta-se os espaços que podem ser utilizados pelo Programa para o
desenvolvimento de suas atividades, indicadores sobre violências sofridas e cometidas por
crianças e adolescentes, o olhar da rede sobre a comunidade, o olhar da comunidade sobre ela
mesma e, por fim, as impressões gerais dos técnicos do Programa sobre esta comunidade.

5.1 HISTÓRICO DA COMUNIDADE

Tendo em vista atingir o objetivo do programa de conhecer o território de


abrangência de cada núcleo, com suas particularidades, compreendendo a dinâmica social de
cada região, assim como características peculiares dos moradores, as equipes deram início aos
trabalhos, buscando na comunidade relatos da história dos bairros bem como, documentos
existentes. Sendo necessário também explorar junto a moradores antigos do bairro algo a
respeito.
Segundo matéria do Jornal Hoje, na data 01 de janeiro de 2008, de acordo
com o historiador Alceu Sperança, o nome Periollo é alusão à família proprietária da chácara
que deu origem ao bairro. No local, o pioneiro Olindo Periolo produzia e fornecia leite para
uma boa parte dos cascavelenses. Parte de sua chácara foi desapropriada pela prefeitura para
criar o Parque Ecológico. Nascido na cidade de Getúlio Vargas (RS) em 1916, Olindo Periolo
se estabeleceu em Cascavel em 1953. Ele morreu em 1974, e o loteamento, oficializado em
1977, recebeu seu nome.
Um dos moradores mais antigos, Sr. Osvaldo Garcia da Fonseca que chegou
na região há 36 anos atrás, se deparou com uma grande chácara e absoluta falta de estrutura
urbana. “Não existiam ruas e era uma pirambeira, hoje mudou bastante”, relata, lembrando
que água e luz chegaram a apenas 20 anos no bairro. Outro pioneiro Sr. Kennedy Desprinda
viu o Periollo nascer e crescer, ele mora na região há 34 anos. Segundo ele, quando era
criança o bairro tinha apenas algumas casas e cresceu devido à expansão imobiliária, na maior
parte com funcionários que trabalhavam na indústria de Óleos Pacaembu - hoje Diplomata
Indústria de Óleos - e na Coopavel, que ficava no terreno que hoje abriga o Centro de
Convenções e Eventos de Cascavel. Ele lembrou que a água chegou ao bairro quando ele
tinha dez anos de idade.
O pioneiro disse que atualmente a parte baixa do bairro está abandonada e
que precisa de melhorias. “Entra ano e sai ano e nenhum prefeito faz nada, não temos nem
ônibus nessa região. Grande parte da população precisa andar várias quadras para chegar em
casa”, disse. Para ele, é preciso também um módulo policial e uma capela mortuária, o que,
inclusive, já tem terreno disponível. Ainda segundo ele, outro problema é a falta de uma
passarela na BR-467 para dar segurança aos pedestres, principalmente dos alunos que
freqüentam o Centro Social Marista e que precisam atravessar a rodovia para irem à Escola
Municipal Luis Carlos Ruaro.
Também pioneiro residindo há cerca de 30 anos no bairro, Camilo Paulo da
Silva lembrou que, quando chegou ao local, no Periollo havia oito casas apenas. A principal
via, a Avenida Corbélia, era quase intransitável porque tinha uma grande quantidade de
nascentes e algumas valetas. O problema só foi resolvido anos depois, quando a via foi
pavimentada.
Hoje presidente da Associação de Moradores, Sr. Osvaldo Garcia da
Fonseca ainda luta por mais infra-estrutura no local. Das ruas, apenas 30% estão asfaltadas e
20% têm pavimentação poliédrica, mas 50% estão na terra. Apesar de a região ser habitada há
mais de 35 anos, infra-estrutura é deficitária. Ainda, segundo o Presidente do bairro, o
Periollo tem três problemas principais: a falta de asfalto, de segurança, com um grande
número de assaltos e brigas, e de rede de esgoto, que ainda não chegou à localidade. Osvaldo
disse que 2007 foi marcado por algumas conquistas, entre elas a construção do posto de saúde
do bairro e a melhoria na iluminação pública, no qual foram investidos cerca de R$ 130 mil.
“Não temos local de lazer, além disso, precisamos de um centro municipal de educação
infantil e de um campo de futebol”. Outras queixas do presidente são as entradas do bairro
pela BR-467, cuja duplicação dificultou a passagem para o Periollo, e as linhas do transporte
coletivo.
Conforme Osvaldo, parte da população sofre para pegar o lotação, já que,
sem asfalto, o ônibus não passa em um lado do bairro e a comunidade precisa andar bastante
para chegar ao ponto. “Com isso cerca de três mil pessoas são prejudicadas”, comentou. A
principal reclamação da Associação de Moradores do Bairro Periollo na área esportiva é
quanto ao campo de futebol. O que era alguns anos atrás um espaço muito procurado pelas
equipes de futebol nos fins de semana hoje está tomado pelo mato.
O Periollo não possui fábricas, existem muitos mercados de pequeno e
médio porte concentrados principalmente na Avenida Corbélia. O bairro tem uma farmácia e
duas lojas de R$ 1,99, também há vários bares. Existe uma igreja católica, a Paróquia
Imaculado Coração de Maria. E pelo menos 20 evangélicas, muitas pequenas, formadas pelos
próprios moradores.
Na região leste de Cascavel, está localizado também o bairro Morumbi,
onde era uma Fazenda chamada São Joaquim, e foi por volta de 1970 que chegaram os
primeiros moradores Elizeu Baldi e Gentil Bonato. Aprovado oficialmente em 21 de janeiro
de 1977, como Loteamento Parque Morumbi, não tinha comércio, rede elétrica nem
saneamento básico e a escola mais próxima ficava no bairro São Cristóvão, aproximadamente
5 km de distancia.
De acordo com o historiador Alceu Sperança, a área ocupada pelo Bairro
Morumbi passou de território rural para urbano, cuja transformação foi reflexo da expansão
da cultura da soja, uso intenso de maquinários e êxodo rural. “O Morumbi ficou na
clandestinidade até que o prefeito Jacy Scanagatta exigiu a regularização dos loteamentos,
logo ao tomar posse, em 1977, estancando a praga dos loteamentos irregulares”, explica o
historiador (Matéria do Jornal Hoje).
Os moradores do Bairro Morumbi desconhecem os fatores para a escolha do
nome. Segundo o pioneiro Levy Barbosa Leal, há 30 anos ele já era conhecido dessa forma. O
historiador e escritor Alceu Sperança diz que faz alusão a um dos distritos da cidade de São
Paulo. Segundo o site Wikipedia, o Morumbi, na língua tupi, significa colina verde.
Segundo outra fonte consultada sobre a escolha do nome do bairro, na
época acampou-se na “baixada” da rua Corbélia uma comunidade indígena, e o chefe
chamava-se Morumbi, sendo este o motivo pelo qual o bairro ficou conhecido por este nome.
Em 1973 começou a chegar mais moradores em 1977 foi inaugurada a Escola Municipal José
Henrique Teixeira situada à rua Serra das Furnas nº 1462 (Fonte: Trabalho Violência no
Morumbi, 2001).
Como lazer o bairro contava com um time de futebol e jogavam num campo
onde hoje é a Escola Estadual Olívo Fracaro na Rua Corbélia. O comércio foi surgindo com a
necessidade dos moradores, pois o bairro ficava distante do Centro e os meios de transporte
eram escassos na época. A primeira casa comercial do bairro foi a do Sr. Jaime, onde é hoje o
Mercado Pedroso. Em 1978 iniciou a construção da Igreja Católica Santa Rita de Cássia, e
instalaram-se outras igrejas, hoje são cinco evangélicas.
O Morumbi possui uma estrutura comercial modesta, são quatro mercados e
algumas lojas, principalmente de R$ 1,99, concentradas na Rua Europa e na Avenida
Corbélia. Também existem vários bares, e o posto de gasolina mais próximo fica na rodovia
BR-369. O bairro conta com um parque industrial, que ainda não está em funcionamento.
Já o bairro Colméia também foi regularizado na mesma época e segundo
moradores a origem do nome se deu por existir no local uma antena da Rádio Colméia. Nesta
região no ano de 2007 aproximadamente ocorreu uma ocupação de moradores na chamada
área verde, onde se percebe alta vulnerabilidade social, e precárias condições de moradia.
Outra área do Programa Atitude (Núcleo Periollo) é o Jardim Gramado uma
área ocupada dentro do Bairro São Cristovão, há cerca de oito anos por famílias sem-teto.
Neste local existem famílias que tem uma média de quatro filhos com idades que variam entre
4 a 13 anos, são famílias que tem como subsistência o trabalho de coleta de material
reciclável. As famílias visitadas reclamam que falta estrutura básica de saneamento e de
serviços que possam incluir os jovens e as famílias na comunidade. O coordenador do MNLM
(Movimento Nacional de Luta pela Moradia) em Cascavel, Silvio Gonçalves, e hoje
presidente da área de ocupação (Jardim Gramado) explica que casas que estão sendo
construídas no Município por meio de projetos habitacionais. Um dos projetos em andamento
é o Conjunto Habitacional Sanga Funda, no Bairro Floresta, que terá 288 casas para famílias
que moram na área ocupada do Jardim Gramado.

5.2 MAPEAMENTO DA REDE

A rede de serviços públicos existente na região do Periolo a qual encontra-se o


Núcleo do Programa Atitude pode ser visualizada na tabela a seguir:

BAIRRO REDE DE ATENDIMENTO


Centro Social Marista
COLMÉIA Escola Municipal Arminda Tereza
UBS (Unidade Básica de Saúde )
GRAMADO Escola Municipal Luiz Carlos Ruaro
CEI (Centro de Educação Infantil) Passionista
CAOM (Centro de Acompanhamento e Orientação ao Menor) – Portal do Sol
MORUMBI UBS ( Unidade Básica de Saúde )
CMEI ( Centro municipal de educação Infantil ) Passos Para a Vida
Colégio Estadual Olivo Fracaro
Escola Municipal José Henrique Teixeira
Colégio Estadual Marcos C. Schuster
PERIOLO CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) Região Leste
Escola Municipal Divanete A B da Silva
MOLIVI (Movimento para a Libertação da Vida)
UBS (Unidade básica de Saúde Norberto Frost)

5.3 LEVANTAMENTO E NEGOCIAÇÃO DOS ESPAÇOS EXISTENTES

A utilização dos espaços existentes dentro da comunidade se justifica devido ao fato


de que a própria comunidade utilize o que a ela pertence promovendo o fortalecimento dos
vínculos entre as pessoas e despertando conceitos de responsabilidade, zelo para com o
patrimônio público e sentimentos de pertença. Desta forma, abrem-se possibilidades para a
criação de espaços coletivos onde as pessoas possam exercer a cidadania.
O reconhecimento destes espaços foi realizado pelos técnicos do Programa Atitude,
através de visitas e diálogos com os representantes das entidades e lideranças do bairro,
definindo então alguns locais para a realização das atividades. Segue na tabela abaixo a lista
dos locais negociados:

INSTITUIÇÃO ESPAÇOS HORÁRIOS BAIRRO


Escola Divanete Salas de aula e Ginásio de Sextas-feiras período Periolo
Alves de Brito Esporte integral
Colégio Estadual Salas de aula Período noturno Periolo
Marcos Cláudio
Schuster
Paróquia Imaculado Salão Paroquial A definir Periolo
Coração de Maria
Salão Comunitário Instalações e Quadra Período integral Periolo
Poliesportiva descoberta
(necessário reforma)
Unidade Básica de Sala para atendimento Terças e Quintas– Periolo
Saúde individual feiras no período da
tarde e todos os dias
pela manhã
Centro Social 1 quadra de areia, 1 quadra A definir Periolo
Marista descoberta, espaço verde,
salas, anfiteatro

Salão Comunitário Instalações A definir Conjunto


Habitacional
São Francisco
Paróquia Nossa Salão Paroquial e campo de A definir Conjunto
Senhora Aparecida futebol Habitacional
São Francisco
Casa de Cultura Instalações A definir Periolo
Zona Norte

Colégio Estadual Salas de aula, Laboratório, Salas de aula no Morumbi


Olívio Fracaro Saguão período da tarde,
laboratório no período
integral e no saguão
definir horários
Escola Municipal 01 Sala com espelhos para Ginásio nas sextas- Morumbi
José Henrique dança e Ginásio coberto feiras e finais de
Teixeira semana e a sala a
definir
Salão Comunitário Instalações A definir Morumbi
Capela Santa Rita Salão Paroquial A definir Morumbi
de Cássia
Salão Comunitário Instalações(necessário A definir Colméia
reforma)
Salão Comunitário Instalações A definir Gramado
Escola Municipal A definir A definir Gramado
Luiz Carlos Ruaro

5.4 DADOS ESTATÍSTICOS DA COMUNIDADE

Esta seção visa traçar um perfil estatístico da comunidade abrangida pelo


Núcleo do Programa Atitude no Periolo, considerando algumas características
socioeconômicas gerais, resultados educacionais tanto da rede pública municipal quando da
rede estadual. Ainda, busca-se descortinar os tipos de violências sofridas e praticadas por
crianças e adolescentes residentes nessa comunidade.

5.4.1 Estatísticas socioeconômicas e educacionais

Sobre o perfil socioeconômico local, considerando a população residente


nos loteamentos que serão atendidos, verifica-se que 7304 pessoas encontram-se no banco de
dados do Cadastramento Único para Programas Sociais do Governo Federal. Sendo assim,
podemos dizer que esses 1999 domicílios são habitados por famílias de baixa renda. A maior
incidência é de moradores do bairro Morumbi, que apresenta 835 domicílios nos quais
residem uma população de 3046 pessoas com provável perfil para serem atendidos por
programas sociais.

CADASTRAMENTO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL


BAIRRO DOMICÍLIOS PESSOAS NUMERO TOTAL CATEGORIZADO1
Jardim Gramado 285 1156 1153
Morumbi 835 3048 3046
Periolo 702 2461 2461
São Francisco 177 649 644
TOTAL 7304

1
Na conversão dos dados para a utilização em outro programa que não o próprio do Cadastro Único, alguns
dados foram “perdidos”. Trata-se de uma distorção pequena mas, ainda assim, por opção metodológica serão
trabalhados com os dados reais que são, portanto, um pouco inferiores.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Cascavel – SEMED
os resultados educacionais das quatro escolas que compõem a rede pública na área de
abrangência do Núcleo do Periolo, encontram-se abaixo apresentados.
Na Escola Divanete A. B. da Silva, localizada no bairro Periolo, o índice de
aprovação foi de 94,60% dos 574 matriculados e não houve nenhuma desistência ou evasão
registrada no ano de 2008. Na Escola José Henrique Teixeira, o índice de aprovação foi de
90,25%, sendo um pouco menor que na escola anteriormente citada. Contudo, também não
ocorreu nenhum caso de evasão.
Na Escola Luis Carlos Ruaro, localizada no Jardim Gramado, o índice de
aprovação foi de 89,2%, o menor registrado na região, e houveram dois casos de desistência.
Tal escola, portanto, apresentou o mais fraco resultado escolar da região no ano de 2008. Por
outro lado, a Escola Professora Arminda T. Vilvvock, localizada no Jardim Colméia,
apresentou um índice de aprovação de 97,25% e nenhuma evasão em 2008.

Resultados Educacionais
Rede Pública Municipal (ensino de 1ª a 4ª)
2008
Aprovados 543 94,60%
Escola Divanete A. B. da Reprovados 31 5,40%
Silva Desistentes 0 0,00%
Total 574 100%
Aprovados 583 90,25%
Escola José Henrique Reprovados 63 9,75%
Teixeira Desistentes 0 0,00%
Total 646 100%
Aprovados 108 89,26%
Reprovados 11 9,09%
Escola Luis Carlos Ruaro
Desistentes 2 1,65%
Total 121 100%
Aprovados 212 97,25%
Escola Profa. Arminda T. Reprovados 6 2,75%
Vilvvock Desistentes 0 0,00%
Total 218 100%
Fonte: Semed, 2009.

De modo geral, verifica-se que dos 1559 matriculados no conjunto dessas


escolas municipais de Ensino Fundamental (1ª a 4ª), 93% obtiveram aprovação e apenas
0,12% de evasão, o que é pouco significativo no conjunto dos dados.
No contexto da rede pública estadual, em colégios ofertantes da 5ª a 8ª série
do Ensino Fundamental e Ensino Médio, os resultados educacionais são claramente mais
baixos que no nível anterior.
Considerando apenas o Ensino Fundamental do Colégio Marcos Cláudio
Schuster, localizado no Conjunto Habitacional São Francisco, no ano de 2008, percebe-se que
o índice de aprovação foi de apenas 75%, sendo este considerado um índice alarmante 2. A
evasão registrada foi de 3% do total. Quando considerado o mesmo índice de aprovação para
o nível médio de ensino, o quadro fica ainda mais preocupante: apenas 56% dos 406 alunos
matriculados foram aprovados no ano de 2008 e o percentual de abandono se eleva para 9%.

Rede Pública Estadual


Colégio Estadual Marcos Cláudio Schuster
2005 2006 2007 2008
Matriculados 673 100% 800 100% 772 100% 764 100%
Ensino Aprovados 496 74% 629 79% 652 84% 574 75%
Fundamental Transferidos 59 9% 50 6% 32 4% 33 4%
Reprovados 111 16% 93 12% 63 8% 131 17%
Abandonados 7 1% 28 4% 25 3% 26 3%
Matriculados 366 100% 409 100% 406 100% 406 100%
Ensino Aprovados 231 63% 249 61% 274 67% 226 56%
Médio Transferidos 40 11% 49 12% 19 5% 25 6%
Reprovados 56 15% 84 21% 70 17% 119 29%
Abandonados 39 11% 27 7% 43 11% 36 9%
Fonte: Seed, 2009.

No Colégio Estadual Olivo Fracaro, localizado no bairro Morumbi, no ano


de 2008, o percentual de aprovação foi de 86% e o número de evasão registrada foi de 3%
para o Ensino Fundamental. Já no nível subseqüente – Ensino Médio – o percentual de
aprovação foi de 74% e o de evasão é superior ao do colégio anterior, atingindo 14%, o que é
considerado um índice extremamente elevado também.

Colégio Estadual Olivo Fracaro


2005 2006 2007 2008
Matriculados 569 100% 618 100% 519 100% 529 100%
Ensino Aprovados 390 69% 450 73% 453 87% 457 86%
Fundamental Transferidos 67 12% 90 15% 28 5% 41 8%
Reprovados 78 14% 50 8% 24 5% 17 3%
Abandonados 34 6% 28 5% 14 3% 14 3%
Matriculados 272 100% 314 100% 268 100% 286 100%
Ensino Aprovados 168 62% 203 65% 198 74% 213 74%
Médio Transferidos 23 8% 29 9% 24 9% 17 6%
Reprovados 16 6% 14 4% 5 2% 15 5%
Abandonados 65 24% 68 22% 41 15% 41 14%
Fonte: Seed, 2009.

2
De acordo com a equipe técnica do Núcleo Regional de Educação de Cascavel, um índice de reprovação de 7%
já é considerado alarmante.
De modo geral, os resultados educacionais dessa comunidade do Núcleo do
Periolo podem ser visualizadas no gráfico a seguir. Observa-se que conforme se eleva o nível
de ensino, diminui o número de matriculados e também aumentam os índices de reprovação e
desistência. Apesar desses aspectos serem recorrentes, o que nos chama atenção é o fato dos
índices de reprovação e evasão serem tão elevados. Esse quadro é bem preocupante.

Resultados educacionais - 2008

5.4.2 Violências cometidas por crianças e adolescentes da comunidade do Periolo

Segundo relatório anual do CENSE I com relação ao ano de 2008, das 259
internações provisórias de adolescentes registradas no banco de dados institucional, 41
referiam-se a residentes na área de atuação do Núcleo do Periolo. De forma mais específica, 6
meninos moravam no bairro Cataratas, 18 no Morumbi, 2 no Periolo e 15 no São Cristóvão.
Desses meninos, 1 possuía 12 anos na data da apreensão, 5 estavam com 13
anos completos, 3 adolescentes tinham 14 anos, 9 deles estavam com 15 anos de idade, 10
meninos estavam com 16 anos, 9 com 17 anos e 4 adolescentes já tinham 18 anos da data da
internação provisória no CENSE I de Cascavel.
Sobre os motivos que justificaram suas privações de liberdade, pode ser
observado no quadro a seguir que se destaca a prática do ato infracional de roubo, com 20
casos ou 49% do total, e o ato infracional de tráfico de drogas, com 15 ocorrências ou 37% do
universo das apreensões de adolescentes da referida comunidade no ano de 2008. Ainda, têm-
se 6 casos de mandado de busca e apreensão, o correspondente a 14%.

CENSE I
NÚCLEO PERIOLO
BAIRRO DE BAIRRO DE DATA DATA
DESCRIÇÃO DA INFRAÇÃO IDADE
RESIDÊNCIA OCORRÊNCIA ENTRADA SAÍDA
Cataratas Cascavel 04/06/2008 20/06/2008 Mandado de Busca e Apreensão 15
Cataratas Cataratas 04/07/2008 21/07/2008 Mandado de Busca e Apreensão 15
Cataratas Centro 05/07/2008 18/07/2008 Mandado de Busca e Apreensão 18
Cataratas Região do Lago 04/12/2008 12/12/2008 Mandado de Busca e Apreensão 18
Cataratas Sem informação 03/06/2008 27/06/2008 Mandado de Busca e Apreensão 15
Cataratas Sem informação 05/06/2008 20/06/2008 Mandado de Busca e Apreensão 16
Morumbi Brasília 08/05/2008 27/05/2008 Roubo 17
Morumbi Canceli 11/07/2008 30/07/2008 Roubo 15
Morumbi Cascavel 07/12/2008 07/12/2008 Roubo 17
Morumbi Cascavel 08/05/2008 15/05/2008 Roubo 17
Morumbi Cascavel 09/03/2008 11/03/2008 Roubo 16
Morumbi Cascavel 09/03/2008 11/03/2008 Roubo 15
Morumbi Cascavel 11/07/2008 30/07/2008 Roubo 14
Morumbi Cascavel 12/12/2008 19/12/2008 Roubo 17
Morumbi Centro 12/03/2008 02/04/2008 Roubo 14
Morumbi Centro 12/04/2008 15/05/2008 Roubo 16
Morumbi Fórum de Cascavel 11/07/2008 30/07/2008 Roubo 18
Morumbi Morumbi 08/02/2008 21/02/2008 Roubo 15
Morumbi Pioneiros Catarinenses 12/12/2008 19/12/2008 Roubo 15
Morumbi Pioneiros Catarinenses 12/12/2008 19/12/2008 Roubo 16
Morumbi Rodovia em Cascavel 12/12/2008 19/12/2008 Roubo 17
Morumbi Rodovia em Cascavel 12/12/2008 19/12/2008 Roubo 13
Morumbi Sem informação 05/06/2008 16/07/2008 Roubo 17
Morumbi Sem informação 05/06/2008 08/07/2008 Roubo 18
Periolo Centro 27/03/2008 03/04/2008 Roubo 16
Periolo Periolo 27/03/2008 03/04/2008 Roubo 14
São Cristóvão Cascavel 13/05/2008 26/06/2008 Tráfico de drogas 13
São Cristóvão Cascavel 13/05/2008 11/06/2008 Tráfico de drogas 16
São Cristóvão Cascavel 13/05/2008 11/06/2008 Tráfico de drogas 16
São Cristóvão Cascavel 13/06/2008 24/07/2008 Tráfico de drogas 16
São Cristóvão Cascavel 14/06/2008 18/07/2008 Tráfico de drogas 17
São Cristóvão Cascavel 15/01/2008 28/02/2008 Tráfico de drogas 16
São Cristóvão Cascavel 18/05/2008 02/07/2008 Tráfico de drogas 13
São Cristóvão Cascavel 18/05/2008 18/05/2008 Tráfico de drogas 12
São Cristóvão Cascavel 18/07/2008 30/07/2008 Tráfico de drogas 17
São Cristóvão Centro 19/07/2008 30/07/2008 Tráfico de drogas 13
São Cristóvão Centro 19/07/2008 30/07/2008 Tráfico de drogas 15
São Cristóvão Santa Cruz 13/05/2008 11/06/2008 Tráfico de drogas 17
São Cristóvão Sem informação 13/05/2008 27/06/2008 Tráfico de drogas 16
São Cristóvão Sem informação 13/05/2008 11/06/2008 Tráfico de drogas 13
São Cristóvão Sem informação 13/05/2008 24/06/2008 Tráfico de drogas 15
TOTAL 41
Diante da apreensão de adolescentes pela prática de um ato infracional,
muitos deles foram sentenciados a cumprir algum tipo de medida socioeducativa, tanto em
meio aberto quando em meio fechado, pela privação de liberdade.
Considerando inicialmente os que foram conduzidos ao CREAS II para o
cumprimento de Medida Socioeducativa em meio aberto, que pode ser de liberdade assistida
(LA) ou de prestação de serviços comunitários (PSC), tem-se 67 adolescentes. É importante
lembrar que parte desses cumpriram medida socioeducativa por ato infracional cometido antes
de 2008 e que, portanto, essa estatística supera a do número de apreensões do CENSE I no
ano analisado.
Dos 27 adolescentes que cumpriram medida socioeducativa de liberdade
assistida e eram residentes na comunidade atendida pelo Núcleo do Periolo, a maioria era do
bairro Morumbi e São Cristóvão, ambos com 11 casos ou 41% do total.

CREAS II – LA
NÚCLEO PERIOLO
BAIRRO BAIRRO CONCENTRADO QUANTIDADE
Morumbi Morumbi 11
Jd Gramado São Cristóvão 9
Cataratas Cataratas 3
Jd Colméia Cataratas 2
Periolo Periolo 2
São Cristóvão São Cristóvão 2
TOTAL 27

Dentre os 40 adolescentes que foram sentenciados a cumprir medida


socioeducativa de prestação de serviços comunitários, 20 deles eram residentes no bairro São
Cristóvão (50% dos casos) e 9 no bairro Morumbi (equivalente a 22,5% do total).

CREAS II - PSC
NÚCLEO PERIOLO
BAIRRO BAIRRO CONCENTRADO QUANTIDADE
São Cristóvão São Cristóvão 12
Morumbi Morumbi 9
Gramado São Cristóvão 8
Periolo Periolo 4
Consolata Consolata 3
São Francisco Periolo 3
Jd Colméia Cataratas 1
TOTAL 40
Para finalizar as estatísticas oficiais disponíveis sobre as violências
cometidas por crianças e adolescentes da comunidade do bairro Periolo e adjacências é
importante verificar os números de internações no CENSE II atualmente.
Verifica-se, a partir da visualização da tabela abaixo, que em maio de 2009
havia 5 adolescentes da comunidade em análise privados de liberdade. Destes, 3 meninos ou
60% são do bairro Morumbi. Os outros dois são do bairro Cataratas e São Cristóvão.

CENSE II
Adolescentes internados – maio/2009
RESIDENTES EM CASCAVEL
NUMERO DE
BAIRRO ADOLESCENTES
Cataratas 1
São Cristóvão 1
Morumbi 3

5.4.3 Violências sofridas por crianças e adolescentes da comunidade do Periolo

Sobre as violências sofridas por crianças e adolescentes residentes na


comunidade do Periolo, foram obtidos dados sobre a vitimização por homicídios, com base
nos registros do Instituto Médico Legal de Cascavel, além de estatísticas do CAPSi, Conselho
Tutelar e CREAS I.
A partir de pesquisa empírica realizada diretamente nos livros de laudos de
necropsia do IML local, constatou-se que, dos 111 óbitos deflagrados por homicídios no ano
de 2008 no município de Cascavel, 20 crimes vitimaram a população da comunidade do
Periolo e entorno. Destes 20 casos encontrados, 7 vitimaram pessoas com menos de 18 anos
de idade. Estes casos, que encontram-se em destaque na tabela que segue, são os que aqui nos
interessam.
Das 7 mortes violentas de crianças e adolescentes da comunidade do Periolo
em 2008, 5 pessoas eram do sexo masculino (71% dos casos) e 2 do sexo feminino (29% dos
casos). Sobre o quesito faixa etária, constata-se 4 vítimas tinham 17 anos da data dos fatos
(57% do total), 1 vítima tinha 16 anos, outra 14 anos e, por fim, a outra vítima tinha apenas
um mês de vida na data em que sua vida foi violentamente suprimida.
Das 7 mortes analisadas, 6 foram causadas por instrumento pérfuro-
contundente (86%), ou seja, por projéteis de arma de fogo e apenas uma delas, a do bebê, por
instrumento contundente (agressão/espancamento), que levou a vitima a óbito por
traumatismo. Nos laudos de necropsia onde o cenário do óbito foi identificado, em todos os
casos, os crimes foram consumados em vias públicas urbanas da cidade de Cascavel. Desses
homicídios, 4 ocorreram no bairro São Cristóvão (que engloba o loteamento Gramado), 1 foi
consumado no Morumbi, outro no loteamento Colméia (bairro Cataratas) e outro no Periolo.

Instituto Médico Legal - Homicídios


NÚCLEO DO PERIOLO
FALECEU
INSTRUMENTO
SEXO IDADE COR DATA HORÁRIO NO CENÁRIO LOCALIZAÇÃO
UTILIZADO
LOCAL?
F 1 mês Branca 18/05/2008 22:00 Sim Não Inf. Gramado Traumatismo
F 14 Branca 05/07/2008 01:30 Sim Via pública Gramado Arma de fogo
M 16 Parda 26/10/2008 03:00 Sim Via pública Morumbi Arma de fogo
M 17 Branca 08/10/2008 21:00 Sim Via pública Colméia Arma de fogo
M 17 Branca 17/08/008 20:30 Sim Via pública Periolo Arma de fogo
M 17 Branca 18/12/2008 22:00 Sim Não Inf. Gramado Arma de fogo
M 17 Branca 01/09/2008 02:30 Não Via pública São Cristóvão Arma de fogo
M 18 Branca 08/02/2008 07:40 Sim Via pública Gramado Arma de fogo
M 22 Branca 18/01/2008 23:00 Sim Via pública Colméia Arma de fogo
M 22 Branca 06/07/2008 21:10 Sim Via pública Gramado Arma de fogo
M 23 Branca 23/02/2008 20:00 Sim Via pública Cataratas Arma branca
M 24 Branca 02/04/2008 11:41 Não Via pública Periolo Arma de fogo
M 25 Branca 22/11/2008 22:00 Sim Via pública Morumbi Arma de fogo
M 30 Branca 25/12/2008 22:15 Sim Não Inf. Cataratas Arma de fogo
M 33 Branca 27/07/2008 17:30 Sim Via pública Gramado Arma de fogo
M 35 Branca 10/04/2008 16:30 Não Não Inf. Gramado Arma de fogo
M 35 Branca 09/08/2008 00:30 Sim Via pública São Cristóvão Arma de fogo
M 38 Branca 05/07/2008 01:30 Sim Via pública Gramado Arma de fogo
M 43 Branca 30/08/2008 11:50 Não Via pública Periolo Arma de fogo
M De 40 a 50 Branca 19/05/2008 23:00 Sim Via pública São Cristóvão Arma de fogo

Das crianças atendidas pelo CAPSi no ano de 2008, considerando as


residentes nas unidades administrativas urbanas municipais de Cascavel, que totalizaram 148
casos ao longo do ano, 33 foram provenientes da comunidade do Periolo. Destas, a maioria
reside no Morumbi, 17 casos ou 51,5% do total. Em menor proporção, 8 residem no Cataratas
(24%), 5 no Periolo (15%) e 3 no São Cristóvão (9,5%). Verifica-se, portanto, índices
expressivos de atendimento apresentados pelo bairro Morumbi.

CAPSi
Cataratas 8
Morumbi 17
Periolo 5
São Cristóvão 3
TOTAL 33
As informações colhidas junto ao Conselho Tutelar de Cascavel e
posteriormente espacializadas por unidades administrativas urbanas de Cascavel, indicam que
de 2005 a 2009 as violações mais recorrentes aos direitos das crianças e adolescentes da
comunidade do Periolo foram relacionadas à convivência familiar e comunitária, responsável
por 28 dos 34 casos atendidos no período, ou correspondente a 82%. Complementarmente, o
bairro com o maior número de atendimentos registrados pela instituição foi o São Cristóvão,
com 18 atendimentos.

CONSELHO TUTELAR
EDUCAÇÃO,
LIBERDADE, CONVIVENCIA PROFISSIONALIZAÇÃO
VIDA E CULTURA,
BAIRRO RESPEITO E FAMILIAR E E PROTEÇÃO NO TOTAL ANO
SAUDE ESPORTE E
DIGNIDADE COMUNITARIA TRABALHO
LAZER
Cataratas 0 2 0 0 0 2 2005
Morumbi 0 0 1 0 0 1 2005
Periolo 0 0 4 0 0 4 2005
São Cristóvão 0 0 4 0 0 4 2005
Cataratas 0 0 0 0 0 0 2006
Morumbi 0 0 0 0 0 0 2006
Periolo 0 0 1 0 0 1 2006
São Cristóvão 0 1 2 0 0 3 2006
Cataratas 0 0 0 0 0 0 2007
Morumbi 0 0 0 0 0 0 2007
Periolo 1 0 2 0 0 3 2007
São Cristóvão 0 0 9 1 0 10 2007
Cataratas 0 0 0 0 0 0 2008
Morumbi 1 0 3 0 0 4 2008
Periolo 0 0 0 0 0 0 2008
São Cristóvão 0 0 0 0 0 0 2008
Periolo 0 0 0 0 0 0 2009
Morumbi 0 0 0 0 0 0 2009
Cataratas 0 0 1 0 0 1 2009
São Cristóvão 0 0 1 0 0 1 2009

Ainda com relação a casos de violências sofridas por crianças e


adolescentes, as informações disponibilizadas pelo CREAS I de Cascavel, quando
desagregadas por bairros, demonstram que na área de abrangência do Núcleo do Periolo, dos
13 casos de violência atendidos, destacam-se os de abuso sexual e negligência, ambos com 4
casos registrados ou 31% do total. O bairro com o maior número de atendimentos pelo
CREAS I foi o São Cristóvão que, quando considerado com o Gramado (que é um loteamento
do primeiro), foi responsável por 7 casos, dos 13 registrados no período, ou seja 54%.

CREAS I
TIPOS DE VIOLÊNCIA PARCIAL 2009 - NÚCLEO PERIOLO
VIOLÊNCIA VIOLÊNCIA ABUSO EXPLORAÇÃO
BAIRRO FÍSICA PSICOLÓGICA SEXUAL SEXUAL NEGLIGÊNCIA TOTAL
Gramado 0 2 0 2 1 5
Cataratas 0 0 0 0 2 2
Morumbi 0 0 2 0 0 2
São
Cristóvão 1 0 1 0 0 2
Jardim
Colméia 0 0 1 0 0 1
São
Francisco 0 0 0 0 1 1
TOTAL 13

5.5 MAPA INTELIGENTE


O mapa inteligente tem o objetivo fornecer uma localização facilitada dos bairros que
compõem o Núcleo do Programa Atitude no Periolo. É importante ressaltar que o Jardim
Gramado pertencente ao bairro São Cristóvão não encontra-se espacializado no mapa, mas é
uma área de abrangência do núcleo considerada de alta vulnerabilidade. Desta forma, a seguir
encontram-se destacadas as áreas conforme a vulnerabilidade social encontrada nos bairros.
Áreas de maior vulnerabilidade

Áreas de média vulnerabilidade

Áreas de baixa vulnerabilidade

5.6 PERSPECTIVAS DA REDE LOCAL

Para compreender a dinâmica existente entre a rede de serviços e a comunidade, os


técnicos do programa realizaram visitas aos serviços com o objetivo de conhecer a visão
destes em relação a comunidade onde estão inseridos.
A rede de atendimento dos bairros nos apontou diversas problemáticas, tais como:
violência física entre os adolescentes e prática de vandalismo destes em virtude ao uso de
drogas lícitas e ilícitas, abuso sexual infantil, famílias em situação de vulnerabilidade social
com dificuldades financeiras e precárias de moradia. Apontaram também, a falta de uma
estrutura física que ofereça opções de lazer. Ruas sem pavimentação, o que acarreta em
problemas de saúde, falta de saneamento básico, e falta de iluminação pública. Altos índices
de desemprego, e com isso muitas famílias tem como única fonte de renda o trabalho informal
como o de coleta de material reciclável.
Uma das dificuldades citada pelas escolas se refere à situação de risco em que as
crianças ficam expostas, uma vez que a maioria dos pais trabalham o dia todo, saem muito
cedo, e retornam tarde, em locais longe dos bairros. Segundo a escola, os pais vem nas
reuniões sobre pressão, ou quando são chamados por motivos tais como: o aluno está faltando
à aula, desrespeito aos professores ou fazendo uso de bebida alcoólica. Uma das escolas
propõe que trabalhemos com os pais de alunos que são agressivos. As escolas em sua maioria
não fazem evento aberto à comunidade. “Se abre vem o pessoal só para “tocar zona”, ocorrem
brigas e confusão”.
A problemática maior da escola é o uso de drogas e bebida alcoólica. A escola tem a
postura de não deixar esses alunos entrarem. Sendo em alguns casos necessário chamar a
patrulha escolar. “Chamou porque o aluno estava cheirando a maconha, na verdade só pra
ameaçar”. No bairro identificam várias problemáticas, como não ter diversão para os jovens e
espaço de lazer, o que faz com que os adolescentes usem a escola como ponto de encontro, e
não como espaço de aprendizado.
Outra escola visitada diz que uma das problemáticas está relacionada com a
freqüência, e a compreensão da família no acompanhamento de tarefas. Relata ainda que “já
foi pior, hoje ganhamos a presença mais freqüente dos pais na escola, já que no início do ano
foi feito um trabalho de conscientização dos pais cuja participação foi aumentando
gradativamente”. Quanto aos alunos com dificuldades maiores os pais também apresentam
uma não presença na escola, quando necessário e esgotadas alternativas a escola aciona o
Conselho Tutelar. E ainda outra escola tem como queixa a falta de respeito de alguns pais
perante os professores.
Na área da saúde, o atendimento é realizado através das 3 Unidades Básicas de Saúde
– UBS localizadas nos bairros do Periolo, Morumbi e Jardim Colméia, e também no Pronto
Atendimento Continuado – PAC II que se localiza no bairro Brasília, próximo ao Periolo. Em
uma das UBS’s visitadas foi relatado a falta de Médico Pediatra, desta forma o atendimento a
crianças e adolescentes é limitado à puericultura, pesagem e imunizações. Sendo, portanto,
estas atendidas em outras UBS’s. Sobre a área de Ocupação do Jardim Colméia foi colocado,
que existem muitas crianças com baixo peso. A enfermeira considera as mães bem
informadas, mas faltam condições financeiras para comprar alimento, e devido a falta de
saneamento básico há alta ocorrência de verminoses, pois a água que consomem é de mina
(sem tratamento).
De acordo com líderes religiosos existe grande marginalidade, violência e prostituição,
entre os jovens, problemas familiares. Muitos moradores são operários, e têm problemas com
o uso de álcool, o que acarreta em violência doméstica, e abuso sexual.

5.7 PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE A REDE E SOBRE A PRÓPRIA


COMUNIDADE

Para ter um entendimento das relações estabelecidas na comunidade, buscou-se dados


através de visitas domiciliares e ao comércio local onde em conversas informais com os
moradores, pôde-se verificar o que estes pensam do local onde residem.
Uma das queixas que permeou todas as conversas foi à falta de pavimentação asfáltica,
o que segundo eles acarreta em outros problemas: como de saúde, sobrecarregando os
serviços das UBS’s locais; dificuldade de se locomover em dias de chuva, e acúmulo de
poeira em épocas de seca, o que atrapalha também o comércio local. A falta de iluminação
pública e o precário sistema de segurança dos bairros em questão, também foram
insistentemente enfatizados.
Outro ponto levantado pelos moradores é a falta de oportunidades de emprego
próxima a região, o que os obriga a se deslocarem a uma distância considerável para trabalhar,
e com isso muitas vezes não tem alternativas para deixarem os filhos em segurança no período
em que estes não estão na escola, ficando, as crianças, vulneráveis a situação de perigo. Assim
como, a inexistência de espaço de lazer dificulta o acesso dos moradores a qualquer tipo de
recreação, faz com que adolescentes se reúnam em locais nem sempre adequados, o que torna
os mesmos suscetíveis a drogadição.
Uma preocupação que apareceu em todas as falas foi à necessidade de um espaço
adequado para crianças e adolescentes dentro da própria comunidade, onde possam
desenvolver suas potencialidades de uma forma saudável, mantendo-se fora da drogadição.
Outra questão comum da comunidade, é que lugares antes utilizados por todos, hoje
são usados, exclusivamente, por adolescentes drogaditos, e tem como conseqüência a prática
de atos ilícitos (pequenos furtos, vandalismo, etc.).
Como existe um número considerável de famílias moradoras antigas do bairro estas
acham que o bairro cresceu, melhorou muito no decorrer dos anos, mas que por outro lado
tornou-se mais violento. Em geral, as pessoas estão satisfeitas com o local onde moram,
porém reclamam que esta região da cidade nos últimos anos parece estar esquecida pelo poder
público.

5.8 DINÂMICA E FUNCIONAMENTO DO BAIRRO

Ao inserir-se na comunidade, num primeiro olhar, pôde-se verificar uma dinâmica


comum e cotidiana da maioria dos brasileiros, sendo que as pessoas vão para os seus trabalhos
ou à escola, participam de cultos religiosos e reuniões familiares, e retornam para suas casas
no final do dia.
No entanto, os moradores enfrentam algumas problemáticas como a falta de asfalto o
que dificulta o funcionamento de suas vidas, como por exemplo, o acesso ao transporte
coletivo nos dias de chuva, assim como também acarretando alguns problemas de saúde, ou
seja, interferindo significativamente na qualidade de vida dos moradores.
Em alguns locais, percebe-se que, a falta de oportunidade de emprego leva os
moradores ao trabalho informal, que na maioria das vezes se resume à coleta de material
reciclável e é comum verificar-se filhos menores acompanhando seus pais neste trabalho
insalubre.
Outra situação encontrada no bairro é a realidade de seus adolescentes. A falta de
infra-estrutura para o esporte, lazer e atividades que atuem no desenvolvimento saudável e na
promoção social destes jovens, faz com que na busca de formação de grupos, esses jovens
acabam por aglomerarem-se nos portões das escolas e proximidades levando ao uso de álcool
e drogas, perturbando a ordem e por vezes cometendo atos de vandalismo. Segundo os
moradores, é comum nos finais de semana observar-se adolescentes nos bares e locais
inapropriados fazendo uso de substâncias psicoativas, estando assim, vulneráveis a situações
de risco.
Outra preocupação levantada pela comunidade é a realidade do comércio de
entorpecentes, em que a existência de vários pontos de tráfico, leva ao aliciamento de
menores para a venda da mercadoria. Isto ocorre muitas vezes no espaço escolar e a entrada
dessas substâncias gera uma série de transtornos dentro da escola.

5.9 ALGUMAS CONCLUSÕES

Num primeiro olhar para a comunidade pôde-se observar que de acordo com uma das
propostas do Programa Atitude, o de trabalhar o fortalecimento dos vínculos familiares, se
mostra bastante necessário, uma vez que são evidenciados dados significativos do Conselho
Tutelar, de violação dos direitos das crianças e adolescentes com a problemática que envolve
a convivência familiar e comunitária. Assim como, é constatado nas comunidades do núcleo
várias problemáticas envolvendo a família, tais como: famílias numerosas, sem emprego
formal; baixo nível de escolaridade; sem moradia fixa ocasionando à rotatividade, o que
dificulta qualquer trabalho contínuo de acompanhamento com estas famílias.
O alcoolismo, e a gravidez precoce se mostram como fatores desestabilizadores destas
famílias, o que justifica trabalhar com grupo de famílias, objetivando com isso ajudá-las a
superar e aprender a lidar com seus conflitos de uma forma mais adequada, conseguindo
assim o fortalecimento dos vínculos de afeto entre familiares. Também se busca, com este
trabalho a real integração das famílias à comunidade, uma vez que devido à migração de um
bairro para outro, se excluem da dinâmica de funcionamento da comunidade onde ora se
encontram.
Ao trabalhar com essas famílias, espera-se promover uma conscientização do papel
importante que lhes cabe no desenvolvimento de seus filhos, compromissando os mesmos
sobre suas responsabilidades como pais. Já o trabalho com crianças e jovens tem como
parâmetro torná-los desde cedo conscientes de seu papel, e a importância da participação ativa
de cada um deles tanto na comunidade a qual pertencem, quanto na sociedade em geral.
Levando-os a entender que só com participação e sua própria ação modificarão a realidade
com a qual não estão satisfeitos, criando uma sociedade mais igualitária, com seus direitos
efetivados tornando-os cidadãos.
Outra proposta do Programa refere-se à superação da violência contra crianças e
adolescentes, já que se têm dados (CREAS I) alarmantes de abuso sexual infantil no núcleo.
Almeja-se que o trabalho com as famílias possa ser uma mola propulsora na prevenção e
diminuição dos índices de violências cometidos muitas vezes dentro do meio familiar, tal
como, na promoção da saúde mental de nossas crianças sendo que o núcleo analisado tem alto
índice de atendimento no CAPSi.
A violência cometida na família muitas vezes ocorre por conseqüência das
dificuldades em lidar com problemas do desenvolvimento da criança e do adolescente,
repetindo o modelo de educação que recebeu, nem sempre adequado. Busca-se com este
trabalho também criar uma rede de proteção, entre os serviços e as famílias, visando com isto,
estimular a denúncia, seja de trabalho infantil ou de abuso de qualquer natureza contra
crianças e adolescentes.
O Programa Atitude também tem como meta a oferta de oficinas profissionalizantes,
como forma de inserir os jovens, já em idade de trabalho, neste mercado tão competitivo de
forma mais igualitária, rompendo o ciclo de pobreza, uma constante nestas famílias tão
desassistidas. Além disso, busca-se atingir com essas oficinas um grande contingente de
adolescentes que se encontram fora da escola, devido ao alto índice de evasão escolar no
núcleo em questão, conhecidos pelos dados oficiais da Seed (Secretaria de Estado da
Educação).
Um importante eixo do Programa Atitude dentro da comunidade é o trabalho com
crianças e jovens sobre o uso de drogas, tanto de forma preventiva como também com aqueles
já na condição de drogadição. Para isso, serão realizadas palestras, oficinas, e trabalhos de
grupo como também o acionamento da rede de tratamento, se necessário.
De forma geral as atividades propostas visam também à diminuição de indicadores
hoje bastante elevados de violência praticados e sofridos por jovens, tal como a redução do
expressivo número da evasão escolar encontrado na comunidade, de acordo com os dados da
Seed (Secretaria do Estado da Educação). Pode-se observar, segundo os dados levantados que
a evasão escolar vem acompanhada do alto índice de criminalidade (tráfico, roubo e
homicídios). Desta forma, faz-se necessário, dar-lhes um espaço de apoio e acolhimento para
que ocorra a redução de tais índices. Com isso, se espera desenvolver vínculos de confiança
entre estes jovens e os técnicos do Programa Atitude, capazes de fazer com que eles busquem
o apoio necessário sempre que se sentirem vulneráveis.
O Programa Atitude vem trazer uma proposta de trabalho, que no contato com a
comunidade do Núcleo Periolo vem de encontro com as necessidades levantadas pelos
técnicos e com os anseios da comunidade. Isso nos motiva a realizar um trabalho em conjunto
com a comunidade, que traga resultados efetivos nas mudanças sociais e torne-os autônomos
criadores de seu próprio desenvolvimento como sociedade.

5.10 IMPRESSÕES GERAIS DA EQUIPE

Por Cascavel tratar-se de uma cidade localizada próxima a fronteira, favorece a


passagem do tráfico de substâncias psicoativas e o contrabando de mercadorias vindas dos
países visinhos como de outros Estados do país, o que traz conseqüências nocivas a
população, em especial as classes menos favorecidas, que são seduzidas a entrar neste meio
como uma oportunidade de renda pelo ganho fácil.
No núcleo, num primeiro momento, havia uma expectativa quanto ao que se
encontraria na comunidade, principalmente no que se refere à segurança dos técnicos,
sabedores dos altos índices de violência. No entanto, a recepção acolhedora dos morados, o
contato com as Agentes Comunitárias de Saúde e a rede em si, redirecionaram os olhares
sobre a comunidade. Devido a isso, romperam-se tais preconceitos, revelando a realidade a
que se encontra a comunidade. Carente e à margem da sociedade, sofre a desigualdade social,
e reflete o desenfreado crescimento populacional, evidenciado nas ocupações ilegais de
moradia.
Embora exista determinantes econômicos e sociais que caracterizam as necessidades
existentes na comunidade, o que provoca a desigualdade social, percebe-se as pessoas alheias
aos problemas, permanecendo acomodadas e resistentes a uma movimentação que as unam na
reivindicação dos seus direitos.
IMPRESSÕES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

A partir da inserção na comunidade podemos perceber a responsabilidade da atuação


dos técnicos do núcleo. Num primeiro olhar na comunidade algumas problemáticas mostram-
se mais evidentes, e que deverão ser trabalhados de forma mais incisivas. A gravidez precoce,
assim como adolescentes envolvidos com drogadição, deverão ser trabalhados em conjunto
com os outros técnicos e também com a rede de atendimento local. O trabalho com as famílias
deverá se dar de forma a atender as necessidades das mesmas guardando-se o cuidado de não
interferir demasiadamente na dinâmica familiar, respeitando a particularidade de cada núcleo
familiar. Um dos trabalhos a ser desenvolvido pelo assistente social, deverá ser a busca e a
mobilização dos moradores como grupo, visando a autonomia destes e sua independência em
relação aos profissionais do Programa, entendendo que o programa é por tempo determinado.
O objetivo do profissional é a promoção das potencialidades de cada individuo dentro de sua
comunidade, com criação de grupos cooperativos, para que estes possam superar suas
dificuldades, visto que uma das demandas apresentadas na comunidade é a falta de
oportunidade de trabalho.

IMPRESSÕES DA PSICOLOGIA

Numa primeira visão da comunidade, bastante superficial devido ao pouco tempo, é


possível perceber que as expectativas das pessoas referentes tanto ao Programa quanto ao
serviço da psicologia é elevado, o que nos obriga como profissionais a fazer um trabalho
muito cuidadoso. As necessidades mais evidentes parecem-nos um trabalho de inclusão das
pessoas, seja nos programas já existentes como também inclusão na própria família e na
comunidade a qual “pertencem”.
O fortalecimento da auto-estima se mostra um trabalho de urgência, assim como,
também o dos laços afetivos. Dificuldades evidenciadas por educadores no trato com
educandos também merecem um olhar mais atento dos profissionais da psicologia, pois
aparentemente tanto um como outro estão desamparados e parecem desconhecer uma forma
de aproximação sem que gerem conflitos. Incluem-se nesta nossa preocupação o de procurar
uma forma adequada de trabalhar e criar vínculos com os adolescentes que estão fora de
qualquer assistência ou cuidado, isto por si só, já se mostra um grande desafio. Para a
psicologia, portanto o trabalho deve ser pensado não só embasado com os conhecimentos
teóricos da área, mas principalmente, com as necessidades e as vivências da própria
comunidade em questão.

IMPRESSÕES DA EDUCAÇAO FÍSICA

A prática esportiva como lazer, é direcionada à camada da população que nas suas
horas livres deve se exercitar como necessidade e direito (BREGOLATO;2003)3.
A necessidade do movimento corporal é uma condição da natureza humana, onde se
vivencia, através dos jogos lúdicos, emoções que realizam as pessoas. O acesso ao lazer
envolve tempo disponível, investimentos e ainda atividades propostas pelos órgãos
competentes, em espaços a ele destinados.
Analisando a comunidade, através de um olhar profissional, pode-se ressaltar que,
uma das maiores queixa de seus moradores, sem dúvida nenhuma, é a falta de infra-estrutura
para a prática de esporte e do lazer, em específico para as crianças e adolescentes, que em sua
grande maioria, quando não estão na escola, não têm uma atividade de contra turno, ficando
esta ociosa em seu tempo livre. Estende-se também esta problemática aos jovens, adultos,
moradores do bairro em geral, que nos fins de semana, o único espaço para esta prática fica
sendo a escola, não atendendo toda a demanda do bairro.
Do mesmo modo que há uma precariedade, observa-se também, a falta de zelo com
estas instalações, haja vista que as quadras esportivas, comunitárias, estão depredadas, sem
condições de uso para a prática do esporte coletivo.
Levando-se em conta o que foi observado e analisado sobre a comunidade, pôde-se
concluir que esta precisa ser olhada com mais carinho pelas autoridades responsáveis, mas
também necessita de um trabalho que venha fortalecer os seus vínculos de união e
participativo nas causas comunitárias, tendo assim mais força para reivindicarem seus
direitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

3
BREGOLATO, R. A. Cultura corporal do esporte. São Paulo: Ícone, 2003.
Sendo o Atitude um programa diferenciado dos demais programas existentes, por
iniciar com um olhar multidisciplinar, a equipe já vê diante de si a responsabilidade que isto
representa para os técnicos.
Diante da demanda apresentada a equipe técnica já visualiza oficinas dirigidas aos
adolescentes com o objetivo de promover algo que desperte o interesse dos mesmos e seja
construtivo para seu desenvolvimento tanto pessoal como social. Foram propostas oficinas de
esportes, cultura, recreação, arte, arteterapia, orientação profissional, entre outras.
A partir do atendimento com os adolescentes outras demandas se fazem necessárias,
como o trabalho com as famílias. Neste sentido as oficinas envolvem grupo de pais, escola de
pais, visitas domiciliares e trabalhos de grupo em geral. No sentido de fortalecer os vínculos
familiares serão oferecidas oficinas livres, como gincanas, torneios esportivos, enfim
atividades envolvendo a família como um todo.
Um trabalho dessa abrangência requer um grande envolvimento dos técnicos, assim
como um olhar multidisciplinar compreendendo a realidade de forma a abranger as áreas de
entendimento que se propõe a efetivar o trabalho com a comunidade. Sendo assim, é um
trabalho que representa um grande desafio para os técnicos enquanto profissionais, devido a
vários fatores que compõem a questão social.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer a toda a rede de serviços públicos e privados que auxiliou a


equipe técnica na composição deste Diagnóstico e também na facilitação da nossa inserção à
comunidade. Em especial às UBS’s, ao CRAS Leste, à rede de ensino local tanto Estadual
quanto Municipal e Privado, às lideranças locais, ao comércio local, às lideranças religiosas, e
a todos os moradores que colaboraram na coleta de informações.

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