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Aula 01 Biossegurança

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BIOSSEGURANÇA

Mariana Brandalise
Introdução à biossegurança
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever os principais conceitos e definições aplicados à biossegurança.


 Reconhecer a classificação de risco biológico e os níveis de biossegurança.
 Diferenciar barreiras primárias e secundárias de biossegurança.

Introdução
A construção e a manutenção de ambientes seguros é um dos principais
objetivos da biossegurança. As ações necessárias para atingir esse objetivo
são bastante diversas e se aplicam a diferentes ambientes de saúde. As-
segurar o cumprimento dos princípios de biossegurança é fundamental,
não apenas para os profissionais da saúde, mas para os pacientes, o meio
ambiente e todas as pessoas que convivem socialmente, estejam elas
envolvidas ou não com as atividades de saúde.
Neste capítulo, vamos compreender os aspectos básicos da
biossegurança.

Conceitos e definições sobre biossegurança


A biossegurança compreende um conjunto de procedimentos, ações, técnicas,
metodologias, equipamentos e dispositivos capazes de eliminar ou minimizar
riscos inerentes que podem comprometer a saúde do homem.
Ela tem o papel fundamental na promoção à saúde, uma vez que aborda
medidas de controle de infecção para proteção dos trabalhadores da área da
saúde, além de colaborar para a preservação do meio ambiente, no que se
refere ao descarte de resíduos provenientes desse ambiente, contribuindo,
dessa forma, para a redução de riscos à saúde de todos (CHAVES, 2016).
O objetivo principal da biossegurança é criar um ambiente de trabalho onde
se promova a contenção do risco de exposição a agentes potencialmente nocivos
ao trabalhador, aos pacientes e ao meio ambiente, de modo que esse risco seja
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minimizado ou eliminado. Essas definições mostram que a biossegurança


envolve as relações tecnologia/risco/homem, e que o controle dos riscos na
área da saúde inclui o desenvolvimento e a divulgação de informações, além
da adoção de procedimentos relacionados às boas práticas de segurança para
profissionais, pacientes e meio ambiente, de forma a controlar e minimizar os
riscos operacionais das atividades de saúde (DAVID et al., 2012).
A avaliação de risco incorpora ações que objetivam o reconhecimento ou
a identificação dos agentes biológicos e a probabilidade do dano proveniente
destes, por vários critérios, que dizem respeito não só ao agente biológico
manipulado, mas também ao tipo de ensaio realizado e ao próprio trabalhador.
Assim, os agentes biológicos que afetam o homem, os animais e as plantas
são distribuídos em classes de risco, que são definidos como o grau de risco
associado ao agente biológico manipulado.
De acordo com as Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com
Material Biológico, elaborado em 2004 pela Comissão de Biossegurança
em Saúde (CBS), do Ministério da Saúde, os tipos de agentes biológicos são
classificados em 5 classes, sendo elas:

Classe de risco 1 (baixo risco individual e para a coletividade): inclui


os agentes biológicos conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou
animais adultos sadios. Exemplo: Lactobacillus sp.

Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a comu-


nidade): inclui os agentes biológicos que provocam infecções no homem ou
nos animais, cujo potencial de propagação na comunidade e de disseminação
no meio ambiente é limitado, e para os quais existem medidas terapêuticas e
profiláticas eficazes. Exemplo: Schistosoma mansoni.

Classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comuni-


dade): inclui os agentes biológicos que têm capacidade de transmissão por via
respiratória e causam patologias humanas ou animais, potencialmente letais,
para as quais existem, usualmente, medidas de tratamento e/ou de prevenção.
Representam risco se disseminados na comunidade e no meio ambiente,
podendo se propagar de pessoa para pessoa. Exemplo: Bacillus anthracis.

Classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): inclui os


agentes biológicos com grande poder de transmissibilidade por via respiratória
ou de transmissão desconhecida. Até o momento, não há nenhuma medida
profilática ou terapêutica eficaz contra infecções ocasionadas por estes. Causam
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doenças humanas e animais de alta gravidade, com alta capacidade de dissemi-


nação na comunidade e no meio ambiente. Essa classe inclui, principalmente,
os vírus. Exemplo: Vírus Ebola.

Classe de risco especial (alto risco de causar doença animal grave e de


disseminação no meio ambiente): inclui agentes biológicos de doença animal
não existente no país e que, embora não sejam obrigatoriamente patógenos de
importância para o homem, podem gerar graves perdas econômicas e/ou na
produção de alimentos. Exemplo: Achantina fulica (caramujo-gigante-africano
trazido para o Brasil para produção e comercialização de escargot) (BRASIL,
2006; ARAÚJO et al., 2009).

Dessa forma, para a manipulação dos microrganismos pertencentes a cada


uma das classes, devem ser atendidos os requisitos de segurança, conforme o
nível de contenção necessário, que são denominados Níveis de Biossegurança.
Assim, de acordo com suas características e sua capacitação para manipular
microrganismos de risco 1, 2, 3 ou 4, os laboratórios são designados como nível
1 de biossegurança ou proteção básica (P1), nível 2 de biossegurança básica
(P2), nível 3 de biossegurança de contenção (P3) e nível 4 de biossegurança
de contenção máxima (P4), respectivamente (SANTA CATARINA, 2000).
Os quatro níveis de biossegurança (NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4) estão em
ordem crescente conforme o maior grau de contenção e complexidade do
nível de proteção.

NB- 1: Nível de Biossegurança 1


Requer procedimentos para o trabalho com microrganismos (classe de risco
1), que, normalmente, não causam doenças em seres humanos ou em animais
de laboratório:

 trabalho que envolva agentes bem caracterizados e conhecidos por não


provocarem doenças;
 trabalho em bancadas abertas;
 o laboratório não fica separado das demais dependências do edifício;
 é necessário o uso de EPIs (equipamento de proteção individual): jaleco,
óculos e luvas.
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NB- 2: Nível de Biossegurança 2


Requer procedimentos para o trabalho com microrganismos (classe de risco
2) que sejam capazes de causar doenças em seres humanos ou em animais de
laboratório, sem apresentar risco grave aos trabalhadores, à comunidade ou
ao ambiente. Trata-se de agentes não transmissíveis pelo ar. Há tratamento
efetivo e medidas preventivas disponíveis, dessa forma, o risco de contami-
nação é pequeno.
Especificações estabelecidas para o NB-1 e mais:

 fazer uso de autoclave;


 trabalhar em cabine de segurança biológica;
 restringir o acesso ao laboratório, pois este deve ser limitado durante
os procedimentos operacionais;
 usar proteção facial, aventais e luvas.

NB- 3: Nível de Biossegurança 3


Requer procedimentos para o trabalho com microrganismos (classe de risco 3)
que geralmente causam doenças em seres humanos, ou em animais, e podem
representar risco se forem disseminados na comunidade, mas, usualmente,
existem medidas de tratamento e prevenção:

 é necessário que haja contenção para impedir a transmissão pelo ar;


 toda manipulação deverá ser realizada em cabine de segurança;
 todos os resíduos e outros materiais devem ser descontaminados ou
autoclavados antes de sair do laboratório;
 o acesso ao espaço é controlado;
 é importante ter sistemas de ventilação.

NB- 4: Nível de Biossegurança 4


Requer procedimentos para o trabalho com microrganismos (classe de risco
4) que causam doenças graves ou letais para seres humanos e animais, que
são de fácil transmissão por contato individual casual. Não existem medidas
preventivas e de tratamento para esses agentes:
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 deve haver nível máximo de segurança;


 a instalação precisa ser construída em um prédio separado ou em uma
zona completamente isolada;
 ter cabines de segurança biológica ou com um macacão individual
suprido com pressão de ar positivo;
 controlar, de forma rigorosa, o acesso ao local.

Elementos de contenção
O objetivo da contenção no ambiente laboratorial é reduzir ou eliminar a
exposição da equipe de um laboratório, de outras pessoas e do meio ambiente
em geral aos agentes potencialmente perigosos.

Há três elementos de contenção:


 práticas e técnicas laboratoriais;
 equipamentos de segurança;
 projeto de instalação.

Esses elementos são divididos em contenção primária e contenção


secundária.
A contenção primária é proporcionada por técnicas de biossegurança,
nas quais os indivíduos necessitam receber treinamento em relação a elas.
Cada unidade do estabelecimento deve desenvolver seu próprio manual de
biossegurança, identificando os riscos e os procedimentos operacionais de
trabalho, o qual deverá ficar à disposição de todos os usuários do local.
As boas práticas laboratoriais constituem um conjunto de normas, proce-
dimentos e atitudes de segurança, as quais visam a minimizar os acidentes
que envolvem as atividades desempenhadas pelos laboratoristas, bem como
incrementam a produtividade, asseguram a melhoria da qualidade dos serviços
desenvolvidos nos laboratórios de ensino de microbiologia e parasitologia e,
ainda, ajudam a manter o ambiente seguro.
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Os equipamentos de segurança também são considerados como barreiras


primárias de contenção e, juntamente com as boas práticas em laboratório,
visam à proteção dos indivíduos e dos próprios laboratórios, sendo classificados
como EPI e EPC (equipamento de proteção coletiva).
EPI é todo o dispositivo de uso individual, destinado a proteger a saúde
e a integridade física do trabalhador. A sua regulamentação está descrita na
Norma Regulamentadora n° 06 (NR-06) do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE). O EPC, por sua vez, é todo o dispositivo que proporciona proteção a
todos os profissionais expostos a riscos no ambiente laboral (BRASIL, 1978).
Um exemplo de barreira de contenção bastante utilizada em laboratórios
é a cabine de segurança biológica, que é o dispositivo principal utilizado para
proporcionar a contenção de borrifos ou aerossóis infecciosos provocados por
inúmeros procedimentos microbiológicos.
Há três tipos de cabines de segurança biológica (Classe I, II e III) normal-
mente utilizados. As cabines de segurança biológica Classe I e II, que possuem
a frente aberta, são barreiras primárias que oferecem níveis significativos de
proteção para a equipe do laboratório e para o meio ambiente, quando utilizadas
com boas técnicas microbiológicas. A cabine de segurança biológica Classe
II também fornece uma proteção contra a contaminação externa de materiais
(p. ex., cultura de células, estoque microbiológico) que serão manipulados
dentro das cabines. A cabine de segurança biológica Classe III é hermética
e impermeável aos gases e proporciona o mais alto nível de proteção aos
funcionários e ao meio ambiente.

Além desses elementos citados, a imunização da equipe também faz parte da con-
tenção primária.

Já a contenção secundária diz respeito ao planejamento e à construção das


instalações do laboratório, de forma a contribuir para a proteção da equipe de
trabalho, das pessoas que se encontram fora do laboratório, da comunidade
e do meio ambiente contra agentes infecciosos que podem ser liberados aci-
dentalmente do laboratório.
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As barreiras secundárias incluem, tanto o projeto, como a construção


das instalações e da infraestrutura do laboratório. Essas características do
projeto incluem:

 sistemas de ventilação especializados em assegurar o fluxo de ar


unidirecionado;
 sistemas de tratamento de ar para a descontaminação ou a remoção
do ar liberado;
 zonas de acesso controlado;
 câmaras pressurizadas com entradas separadas para o laboratório ou
módulos para isolamento do laboratório.

A estrutura física laboratorial deve ser elaborada e/ou adaptada mediante


a participação conjunta de especialistas, incluindo pesquisadores, técnicos
do laboratório, arquitetos e engenheiros, de modo a estabelecer padrões e
normas para garantir as condições específicas de segurança de cada laboratório
(SANTA CATARINA, 2000; SANGIONI et al., 2010).
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ARAÚJO, A. S. D. et al. Manual de biossegurança: boas práticas nos laboratórios de


aulas práticas da área básica das Ciências Biológicas e da Saúde. Vitória: Universi-
dade Potiguar, 2009. Disponível em: <http://www.unp.br/arquivos/pdf/institucional/
docinstitucionais/manuais/manualdebiosseguranca.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Classificação de risco dos agentes biológicos. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2006. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
BRASIL. NR 6: Equipamento de Proteção Individual – EPI. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 06 jul. 1978. Atualizada em 07 jun. 2017. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/
images/Documentos/SST/NR/NR6.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2018.
CHAVES, M. J. F. Manual de biossegurança e boas práticas laboratoriais. 2016. Dispo-
nível em: <https://genetica.incor.usp.br/wp-content/uploads/2014/12/Manual-de-
biosseguran%C3%A7a-e-Boas-Pr%C3%A1ticas-Laboratoriais1.pdf>. Acesso em: 24
fev. 2018.
DAVID, C. L. et al. Biossegurança para laboratórios de ensino e pesquisa. Salvador: IMS/
CAT-UFBA, 2012. Disponível em: <http://www.ims.ufba.br/wp-content/uploads/
downloads/2012/09/Livro-biosseguranca-IMS1.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2018.
SANGIONI, L. A. et al. Princípios de Biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino
universitário de microbiologia e parasitologia. Ciência Rural, Santa Maria, [online],
2010. Disponível em: <https://cesmac.edu.br/admin/wp-content/uploads/2015/09/
Artigo-de-biosseguranca.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2018.
SANTA CATARINA. Sistema Único de Saúde. Laboratório Central de Saúde Pública.
Manual de biossegurança. Florianópolis: LACEN, 2000. Disponível em: <http://lacen.
saude.sc.gov.br/arquivos/MBS01.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2018.
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