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Trocadilho com o nome Belly, dado que «belly button» significa umbigo. [N. do T.]
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ome de um doce em forma de pastilha composto por menta envolvida em cho-
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colate. [N. do T.]
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Eu disse:
— Vamos sentar-nos para eu comer a minha maçã.
E assim fizemos. Sentámo-nos num banco virado para a praia.
Trinquei cuidadosamente a minha maçã; estava com medo de
ficar com o caramelo todo colado aos dentes. Depois, como é que
ele ia beijar-me?
Bebeu ruidosamente a Coca-cola dele e depois espreitou para
o relógio.
— Quando acabares isso, vamos ao lançamento das argolas.
Ele queria ganhar um peluche para me oferecer! Já sabia qual
ia escolher — o urso polar com os óculos de arame e um cache-
col. Andei o verão todo de olho nele. Já me imaginava a mostrá-lo
à Taylor. Oh, isto? Foi o Conrad Fisher que o ganhou para mim.
Devorei rapidamente em duas dentadas o resto da maçã.
— ‘Tá bem — disse, limpando a boca com as costas da mão.
— Vamos lá.
O Conrad dirigiu-se diretamente para as argolas e tive de andar
super-rápido para acompanhá-lo. Como de costume, não se mos-
trava muito conversador, pelo que para compensar falei ainda
mais do que o costume.
— Acho que quando voltarmos a minha mãe vai finalmente
pôr televisão por cabo. O Steven, o meu pai e eu já andávamos
há que tempos a tentar convencê-la. Ela diz sempre que é con-
tra a televisão, mas depois vê filmes no A&E3 todo o tempo em
que aqui estamos. É tão hipócrita — comentei, mas a minha voz
esmoreceu quando percebi que o Conrad nem sequer me ouvia.
Ele estava a olhar para a rapariga que trabalhava no jogo das argolas.
Ela devia ter uns 14 ou 15 anos. A primeira coisa em que repa-
rei foi nos calções dela. Eram amarelo-canário e muito, muito
curtos. Exatamente o tipo de calções que os rapazes me gozaram
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Canal de televisão norte-americano sobre artes e entretenimento. [N. do T.]
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por usar dois dias antes. Senti-me tão bem ao comprar aqueles
calções com a Susannah e depois os rapazes riram-se de mim.
Os calções assentavam bem melhor nela.
Tinha as pernas magras e cheias de sardas, tal como os braços.
Tudo nela era magro, até os lábios. O cabelo dela era comprido
e ondulado. Ruivo, mas num tom tão leve que parecia cor de pês-
sego. Acho que era o cabelo mais bonito que eu alguma vez vira.
Ela tinha-o passado para um dos lados e era tão comprido que
o sacudia sempre ao entregar as argolas às pessoas.
O Conrad tinha vindo ao passadiço por causa dela. Trouxera-me
porque não queria ir sozinho e porque sabia que o Steven e o
Jeremiah o gozariam. Era isso. Era a única razão. Percebi logo
pelo modo como olhava para ela, pelo modo como quase parecia
suster a respiração.
— Conhece-la? — perguntei.
Pareceu espantado, como se se tivesse esquecido que eu ali
estava.
— A ela? Não, nem por isso.
Mordi o lábio.
— E queres?
— Quero o quê? — O Conrad estava confuso, o que era irri-
tante.
— Queres conhecê-la? — perguntei, impaciente.
— Acho que sim.
Agarrei-o pela manga da camisa e encaminhei-me para a cabina.
A rapariga sorriu-nos e sorri de volta, mas foi só para o espetáculo.
Eu estava a representar um papel.
— Quantas argolas? — perguntou ela. Usava aparelho, mas
nela parecia interessante, como se fossem joias de dentes e não
do tipo ortodôntico.
— Queremos três — respondi-lhe. — Gosto dos teus calções.
— Obrigada — disse ela.
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Depois de ter desfeito as malas, fui logo para a piscina, onde sabia
que encontraria os rapazes. Estavam deitados em espreguiçadei-
ras, com os pés sujos de terra a balançar.
Assim que o Jeremiah me viu, levantou-se de repente.
— Senhoras e senhores-res-res — começou com grande apa-
rato, fazendo uma vénia como se fosse o apresentador de um
circo. — Creio que está na hora… do nosso primeiro chapão do
verão.
Constrangida, afastei-me ligeiramente deles. Um movimento
súbito e tudo estaria acabado — iriam atrás de mim.
— Nem penses — disse eu.
O Conrad e o Steven levantaram-se, cercando-me.
— Não podes contrariar a tradição — disse o Steve. O Conrad
limitou-se a sorrir com malícia.
— Já sou muito velha para isto — frisei, desesperada. Recuei
e foi então que me seguraram. O Steven e o Jeremiah agarraram-
-me pelos pulsos.
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com os seus preciosos óculos de sol da Hugo Boss que lhe custa-
ram três semanas de trabalho.
Depois, eu disse:
— Acho que me torceste o tornozelo, Conrad. — Fingi sentir
dificuldades para nadar até junto deles.
Ele aproximou-se da beira da piscina.
— Tenho a certeza que hás de sobreviver — disse, com um
sorriso trocista.
— Pelo menos ajuda-me a sair — exigi.
Agachou-se e estendeu-me a mão, que eu agarrei.
— Obrigada — disse, meia zonza. E depois segurei-o bem e
puxei-lhe o braço com a máxima força que pude. Desequilibrou-se,
caiu para a frente e tombou na piscina com um estouro ainda
maior do que o meu. Acho que foi a vez em que mais me ri na vida.
Tal como o Jeremiah e o Steven. Acho que toda a Cousins Beach
nos ouviu rir.
A cabeça do Conrad veio rapidamente à tona e ele nadou até
junto de mim em duas braçadas. Receei que estivesse zangado,
mas não estava, pelo menos não completamente. Sorria, mas de
um modo ameaçador. Esquivei-me dele.
— Não me apanhas — disse eu, muito animada. — Muito
lento!
Sempre que ele se aproximava, eu nadava para longe.
— Marco — chamei, entre risinhos.
O Jeremiah e o Steven, que regressavam à casa, disseram:
— Polo!
O que me fez rir, nadar mais devagar, e o Conrad apanhou-me
o pé.
— Larga-me — arquejei, ainda a rir.
O Conrad abanou a cabeça.
— Pensei que era demasiado lento — disse ele, boiando na
água mais junto a mim. Estávamos na zona mais funda da piscina.
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