Vizinhança para Bem-Viver - Rayane Dames de Oliveira
Vizinhança para Bem-Viver - Rayane Dames de Oliveira
Vizinhança para Bem-Viver - Rayane Dames de Oliveira
2022
Dedicado a quem me olhou nos olhos
às águas que me abraçam
e às folhas, que gosto de tocar com as mãos
BRASIL RIO DE JANEIRO REGIÃO DOS LAGOS RIO DAS OSTRAS
Temos convivido em Rio das Ostras por ao menos 4.000 anos – o que
podemos ver em rica arqueologia de comunidades que viveram aqui.
Antes dos europeus chegarem, antes da bíblia e do capitalismo,
nós já assistíamos ao Sol nascer na praia de Itapebuçu.
Ocupação inicial
A construção da Rodovia Amaral Pei-
xoto, um dos principais elementos confor-
madores desse espaço, seguida da aber-
tura dos primeiros loteamentos, na década
de 50, inicia uma onda de apropriação do
território, voltado principalmente para o
IRIRY
ZEIMA 1 ITAP
Setor O EB
U
Ç
U
O recorte escolhido para estudo se situa entre o Mar, a rodovia e duas
áreas de proteção ambiental - A Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa
do Iriri [Iriry] e a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) de Itapebussus
[Itapebuçu], que se extende até a fronteira com Macaé. Aqui se preservam
diversos fragmentos de restinga e alagados, e por essa sensibilidade ambien-
tal, o trecho está definido no zoneamento municipal como ZEIMA 1 - Zona
Especial de Interesse do Meio Ambiente.
Seu território foi repartido em loteamentos, que se comportam como
pequenos bairros no imaginário dos moradores, parecidos porém pouco inte-
grados entre si, registrados na prefeitura como um único Setor O. A estrutura
viária, em terra batida, segue um padrão em malha, com diversos trechos de
desconexão e pouca consideração aos aspectos naturais do território.
BOSQUE DA AREIA
FLORESTA DAS GAIVOTAS
ENSEADA DAS GAIVOTAS
PRAIAMAR
REDUTO DA PAZ
VERDES MARES
TERRA FIRME
MAR Y LAGO
LOTEAMENTOS E HIDROGRAFIA
Mapa produzido pela autora em 2022,
a partir de base disponibilizada pela Prefeitura
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O
CONTORN
RODOVIA AMARAL PEIXOTO
Mapa elaborado pela autora em 2022, com base em análise de imagens de satélite.
O levantamento leva em conta a projeção das construções, sem analisar se elas se
encontram habitadas - admite-se certo grau de imprecisão nos dados.
bÁsico
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Imagem: Low Impact Development: A Design Manual for Urban Areas | Arkansas University (2011) (traduzida)
1. Diversos autores tem utilizado esse conceito para o desenvolvimento de soluções práticas. Cito como
referência: A Catalog of Nature-Based Solutions for Urban Resilience / World Bank (2021);
2. Bruna Peres Battemarco - Quadro Metodológico para Avaliação Quantitativa de Projetos de
Urbanização, sob a ótica da interação Agua e Cidade | Dissertação COPPE UFRJ (2020);
3. Cecília Herzog - Cidade para Todos: (re)aprendendo a conviver com a natureza (2013)
Ao longo das Ruas C, das Begônias e
Manuel Bandeira, parte mais baixa da
topografia e ponto crítico de alagamentos,
se localiza um corredor de escoamento de
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águas. Nas partes do trajeto mais próxi-
mas às áreas verdes, a água corre protegi-
da por vegetação, sendo filtrada aos
poucos. Junto a partes mais densas da
3 ocupação, as camadas de aterro se con-
vertem um lamaçal nos períodos de chuva
MAR (cada vez mais constantes e imprevisíveis)
e a circulação junto a elas fica impossibili-
tada em alguns momentos. Entendendo
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que esse é o local de acomodação natural
da água, é de bom senso mantê-la alí.
Nesse caminho, a água poderá seguir
seu curso por um canal naturalizado, mais
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ou menos largo a depender da ocupação.
Os lotes vazios em sua borda podem ser
transformados em reservatórios temporá-
Perfis topográficos das Avenidas 1:Amazonas,
rios de água, para os momentos de cheia,
2: Netuno, 3: Euclides da Cunha e 4: Sônia
Maria da Rocha, obtidos via Google Earth e espaços de convívio durante os períodos
de seca.
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pavimentação
permeável
pavimentação
permeável
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Ainda que essa seja uma reinvindicação dos moradores, esse tipo de
pavimentação impossibilita a absorção de água pelo solo, aumenta seu
escoamento pelas superfícies e contribui para a ocorrência de alagamentos
nos pontos mais sensíveis do sistema. As alternativas mais adequadas de
pavimentação são pisos permeáveis ou semi-permeáveis, como os blocos
intertravados para as faixas de rolamento, e saibro para as ciclovias.
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A partir de um acompanhamento,
podem ser implantados sistemas agroflo-
restais nessas áreas, com espécies
alimentícias e medicinais da Restinga, ou
que se adaptem bem a ela. Dado as con-
dições do solo, arenoso, não é possível
obter com facilidade uma grande produ-
ção no local, mas a prática do cultivo
pode ser uma ferramenta de coesão e cui-
dado social. As bordas dessa área
podem tornar-se um circuito de caminha-
das, pedaladas e integração.
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Uma rede de praças distribuidas pela área, cada uma com sua identidade pró-
pria e um mesmo conjunto de equipamentos básicos em todas, fortalecem a comu-
nidade ao servirem de suporte para as interações sociais, a livre espressão e apre-
ciação do entorno.
A repetição de um mesmo conjunto de elementos de apoio contribui para a
resiliência do lugar, ao criar um sistema ‘seguro para falhar’. Levando em conta as
condições do novo milênio e as formas de convívio já estabelecidas em nossa cultu-
ra, foram considerados equipamentos básicos comunitários:
“Da ruela mais modesta até a grande praça cívica, estes espaços
pertencem ao cidadão (...). A esfera pública é o teatro de uma
cultura urbana. É onde os cidadãos desempenham seus papéis,
é o elemento que pode agregar uma sociedade urbana.”
Prefeitura Municipal de Rio das Ostras - Plano Diretor do Município. Rio das
Ostras, 2006
GOMES, Maria Laura Monnerat. Núcleo urbano de Rio das Ostras: elementos
denidores da ocupação e os impactos ambientais. Dissertação de Mestrado
em Engenharia Ambiental - Instituto Federal Fluminense. Campos dos Goytaca-
zes, 2010
BIBLIOGRAFIA TEÓRICO-CONCEITUAIS
LID - Low Impact Development: a design manual for urban areas - UACDC,
Arkansas, 2010
McHARG, Ian L. Design with nature - Nova York: Natural History Press, 1969
ZAD notre-dame-de-lames