Circulo de Construcao de Paz No Brasil U

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Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do

movimento restaurativo
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CAPÍTULO 5

CÍRCULO DE CONSTRUÇÃO DE PAZ NO


BRASIL:
UMA PRÁTICA DOMINANTE
Jurema Carolina da Silveira Gomes (TJPR)
Paloma Machado Graf (UEPG)

Muitos, muitos milhares de anos atrás, quando isolamos a faísca de


fogo e começamos a carregar as brasas do calor, do cozimento e da luz
conosco de um local para outro, o fogo trouxe uma nova experiência à
existência. [...] O fogo afastou predadores, torrou as raízes e nozes que
eram os alimentos básicos da nossa dieta e cozinhou nossas carnes. Com
a chama, poderíamos fornecer mais comida e sustentar mais pessoas.
Entramos em círculo porque o fogo nos levou até lá. Lutando para se
manter aquecido, lutando para se manter seguro, fazia sentido colocar
fogo no centro. Um círculo permitiu espaço para cada pessoa encarar a
chama e, como membro de um círculo de fogo, cada um de nós poderia
reivindicar um lugar para se aquecer e um pedaço de comida. Foi a
partir dessa tomada de lugar instintiva, a comunidade se desenvolveu.
(BALDWIN, 1998, p. 27 – tradução nossa)
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INTRODUÇÃO
Conhecemos a justiça restaurativa em meados no ano de 2014,
quando o livro de Howard Zehr foi apresentado em uma conversa
informal e transformou nossas vidas. Desde 2014, nossa trajetória
profissional e pessoal mudou – pensávamos, agíamos, trabalhávamos
com justiça restaurativa a maior parte do nosso tempo. A primeira
metodologia a nós ensinada para aplicar justiça restaurativa dentro
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (local onde iniciamos
nossa jornada restaurativa), foi o círculo de construção de paz, sis-
tematizado por Kay Pranis, por meio dos cursos realizados pela As-
sociação dos Juízes do Rio Grande do Sul – AJURIS. Deste modo,
providenciamos para este capítulo uma análise sobre a influência do
círculo de construção de paz, reconhecido como a prática de justiça
restaurativa mais aplicada no Brasil e a reflexão acerca da sua in-
corporação como forma de emancipação e de empoderamento da
comunidade de modo institucionalizado pelo Poder Judiciário bra-
sileiro. Ainda, contextualizamos o surgimento desta metodologia no
nosso país e como isso contribuiu para a mudança do sistema judi-
ciário brasileiro, pari passu irradiando para comunidade e para outros
setores, tornando-se uma prática predominante. Os eixos emergem
do entendimento acerca do surgimento do círculo de construção de
paz no Brasil, a performance e o impacto deste fenômeno no Judi-
ciário, o esclarecimento sobre as metodologias de aplicação de justi-
ça restaurativa mais conhecidas e aplicadas pelos Tribunais e como o
círculo de construção de paz se firmou como prática mais acessível
e preponderante no Brasil.
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Por fim, apresentamos o círculo de construção de paz como um
movimento democrático e revolucionário que prioriza o envolvimen-
to comunitário para a resolução e/ou transformação dos conflitos,
com a intervenção da rede de atendimento e de proteção socioas-
sistencial, calcadas em políticas públicas aos sujeitos participantes
com escopo de amparar as necessidades individuais e coletivas para
contribuir no processo de fortalecimento do senso comunitário e
não discriminatório. Para que isso ocorra de forma perene e trans-
formativa, é necessário um movimento interno por parte do Poder
Judiciário, que reveja e que tensione com suas próprias estruturas de
poder e de opressão para atender e aplicar as práticas restaurativas de
forma coerente com seus princípios e valores.

AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO BRASIL


A justiça restaurativa é um movimento social global, com vasta
diversidade de aplicabilidade, tendo como desiderato transformar as
sociedades, principalmente no que tange a sua forma de lidar com
o crime, o conflito e os comportamentos (JOHNSTONE; VAN
NESS, 2011, apud GRAF, 2019). Compreender a justiça restaurativa
como movimento social é encontrar em seus princípios e seus valo-
res uma filosofia que determina a forma que uma sociedade deve se
comportar e interpretar suas leis, lidar com seus conflitos e intera-
gir com o Estado, os órgãos e a população, impactando nas esferas
sociais, políticas e culturais. Por isso, a justiça restaurativa se adapta
ao caso concreto, por meio da metodologia escolhida a ser aplicada.
Esta é uma diferente forma de entender o conflito - a partir de um
pensamento sistêmico em sobreposição ao pensamento fragmenta-
do, na busca da compreensão integral da realidade concreta e das
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várias áreas do saber. Partimos do pressuposto de que é necessário
envolver as pessoas – seus sentimentos, seus valores, seu sentido de
autoresponsabilização – nesta distinta forma de encarar o conflito e
sua resolutividade.
Diante disso, percebemos que o Poder Judiciário brasileiro em-
preende um contemporâneo movimento em que almeja entregar
uma prestação jurisdicional a partir da construção de uma cultura de
não violência (como pode ser visto nas Resoluções n° 125/2010 e
225/2016 do Conselho Nacional de Justiça- CNJ). Para que ocorra
esta mudança paradigmática, entendemos que é necessário formar
agentes propositores de novas práticas que sejam mais pacificadoras,
coerentes e efetivas ante as demandas sociais surgidas na contempo-
raneidade. Porém, essas práticas devem estar em conformidade com
os princípios e os valores das práticas restaurativas como a inclusão,
a participatividade e a não discriminação.
O início dos estudos sobre justiça restaurativa no Brasil é atri-
buído à Pedro Scuro Neto, junto ao Projeto de Jundiaí, no ano de
1998, nas escolas do Estado de São Paulo (NETO, 1999 apud GRAF.
2019). À Pedro Scuro Neto é outorgado o pioneirismo acadêmico
brasileiro, visto que no ano de 1999 efetuou a primeira publicação
sobre o tema no Brasil. Há também os relatos de Dominic Barter, de
que aplicava justiça restaurativa desde o ano de 1995 nos Morros de
Santa Marta, dos Prazeres e do Vidigal, na cidade do Rio de Janeiro
(PALLAMOLLA, 2017 apud GRAF, 2019).
Apesar de tais experiências comunitárias e acadêmicas, a justiça
restaurativa tomou impulso e alcançou o Poder Judiciário a partir do
pioneirismo atribuído ao Desembargador gaúcho Leoberto Narciso
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Brancher, juiz de 1° grau à época, responsável pelo primeiro caso re-
gistrado com a utilização das técnicas restaurativas, realizado no dia 4
de julho de 2002, denominado “caso zero”. Não obstante, Brancher
relata que seus estudos e experiências com as práticas restaurativas
iniciaram antes, em meados do ano de 1999 (BRANCHER; FLO-
RES, 2016 apud GRAF, 2019). Consta na pesquisa “Relatório Analí-
tico Propositivo - Justiça Pesquisa. Pilotando a Justiça Restaurativa:
o papel do Poder Judiciário”, efetuada pelo CNJ (2018) que o marco
oficial do reconhecimento e do recebimento da justiça restaurativa
pelo Poder Judiciário iniciou no ano de 2005, originando a chama-
da Justiça Restaurativa Judicial, cuja trajetória pode ser mapeada em
dois tempos contínuos: a) com o projeto piloto “Promovendo Prá-
ticas Restaurativas no Sistema de Justiça Brasileiro” da Secretaria da
Reforma do Judiciário, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul
e Distrito Federal e b) com “institucionalização-expansão” decor-
rente da Resolução n.º 125/2010 e n° 225/2016, do CNJ.
No Brasil, o movimento da brasilidade restaurativa foi encam-
pado e expandido pelo Poder Judiciário e as práticas e as políticas
assumiram diferentes formas, porém, guiadas pelos ensinamentos de
Howard Zehr e de Kay Pranis. Isso porque, de acordo com o estudo
realizado pelo CNJ (2018), o marco teórico-metodológico sobre a
justiça restaurativa no Brasil é um campo de “hegemonia internacio-
nal” entre Howard Zehr (Teoria das Lentes) e Kay Pranis (Círculo de
Construção de Paz/Peacemaking Circles), acompanhados de Dominic
Barter e de Marshall Rosenberg (Círculo Restaurativo e Comunica-
ção Não-Violenta). No Brasil ocorreu uma diversidade quanto ao
marco inicial, que foi praticamente concomitante nas searas jurídica,
escolar e comunitária, mas com o protagonismo do Poder Judiciário.
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Podemos entender que a justiça restaurativa é um termo utilizado
para descrever não apenas uma técnica ou um método de resolução
de conflitos, mas também processos colaborativos, co-criativos, em
que os atores sociais do conflito são considerados protagonistas e se
juntam para dialogar sobre os danos causados (GRAF, 2019; CNJ,
2018), quais as possíveis formas de repará-los e quais são as reper-
cussões desse fato para o futuro, baseados principalmente nos ensi-
namentos trazidos por Kay Pranis e Howard Zehr (CNJ, 2018).
No ano de 2019, o CNJ realizou a pesquisa de “Mapeamento dos
Programas de Justiça Restaurativa”, na qual observamos que o Po-
der Judiciário encampou a prática restaurativa dentro do seu sistema,
sendo aplicado por 25 Tribunais de Justiça (96% do total) e por 3
Tribunais Regionais Federais (60% do total), tendo como principais
campos de atuação a Infância e Adolescência, a Justiça Comunitária,
a Violência Doméstica e Familiar, o Direito de Família, o Direito Pe-
nal e a Área Cível, mas não se excluiu a viabilidade de aplicação em
qualquer outro âmbito.
A prática de justiça restaurativa predominante no Brasil, utilizada
em 93% dos programas dos Tribunais, é o círculo de construção de
paz de Kay Pranis (CNJ, 2019). Outras metodologias também são
utilizadas no Brasil por programas realizados pelos Tribunais, como
as Conferências de Grupos Familiares (15,9%), a Mediação Vítima-
-Ofensor (25%) e o Círculo Restaurativo (45,5%) (CNJ, 2019). No
entanto, “As metodologias restaurativas mais utilizadas ou de maior
interesse são as práticas circulares, seja os círculos de construção
de paz de Kay Pranis e os baseados em comunicação não-violenta”
(CNJ, 2019, p. 39).
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Tendo em vista a utilização dessas outras práticas, oportuno des-
crever, sucintamente, as diferenças entre cada uma delas.
a) Círculo Restaurativo foi o nome referenciado por Dominic
Barter à prática coletiva desenvolvida nos morros do Rio de Janeiro
com a comunidade. Incorporou ao formato circular outras técni-
cas, especialmente a Comunicação Não-Violenta, desenvolvida por
Marshal Rosemberg. Pode-se dizer que se trata de uma construção
coletiva e comunitária local, de Dominic Barter e dos protagonistas
dos morros cariocas, diferente do círculo de construção de paz que
tem a sua base na ancestralidade e nas práticas desenvolvidas pelos
povos das primeiras nações. Ainda difere do círculo baseado nos
ensinamentos de Kay Pranis, pois não utilizam os elementos estrutu-
rais intencionais e têm uma sistematização própria (BARTER, 2006;
PALLAMOLLA, 2017 apud GRAF, 2019). Importante destacar que a
expressão “círculos restaurativos” com letras minúsculas, é utilizada
em grande maioria nos projetos dos Tribunais, que se referem ao cír-
culo de Kay Pranis e não aos de Dominic Barter (PALLAMOLLA,
2017 apud GRAF, 2019).
b) A Mediação Vítima-Ofensor é utilizada em Brasília desde o
projeto-piloto de 2005 (CNJ, 2017). É o encontro entre o autor e o
receptor do fato criminoso, com a assistência de um facilitador para
falar sobre o fato e reparação de dano. É dividida em 3 (três) fa-
ses: sessões individuais com os envolvidos no delito, sessão conjunta
com todos e, posteriormente, um novo encontro para monitorar o
cumprimento do acordo. A partir das recentes visitas e de cursos
ministrados por Ivo Aertsen, estabeleceu-se um caminho viável e
crescente em todo território brasileiro, posto que ausente de elemen-
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tos simbólicos e ritualísticos do círculo de Kay Pranis (CNJ, 2018;
GRAF, 2019).
c) A Conferência de Grupo Familiar é uma metodologia am-
plamente difundida na Nova Zelândia e que nasceu do desconten-
tamento e da ineficácia do sistema de justiça juvenil daquele país e
diante da massiva institucionalização dos jovens provenientes das
minorias, especialmente da comunidade maori. Os maoris alegavam
que o sistema de justiça juvenil era antiético, pois estava orientado
para punir ao invés de resolver problemas, era imposto e não nego-
ciado e deixava a família e a comunidade de fora do processo. Assim,
em 1989, foi aprovada uma lei que modificou o sistema de justiça ju-
venil daquele país, substituindo para a maioria dos jovens ofensores
o antigo procedimento legal pela conferência de grupos familiar. A
justiça restaurativa na Nova Zelândia não é uma alternativa a justiça
formal, mas sim o centro de todo o sistema.
São encontros em que participam os autores e os receptores do
fato, seus respectivos familiares, amigos, advogados, rede de aten-
dimento e apoio, ou quem mais for importante para a prática, com
a assistência de facilitadores/coordenadores, para discutir sobre as
consequências do crime, como o dano pode ser reparado e quais são
as medidas para evitar a repetição do fato, com enfoque mais propo-
sitivo (CNJ, 2018).
São poucas as práticas no Brasil, conforme pesquisa do CNJ
(2018; 2018), porém, na pesquisa de 2018, foi identificado que, ape-
sar do discurso dos envolvidos quanto à afirmação de que efetuam
círculo (de Kay Pranis), na interpretação dos pesquisadores, em ver-
dade, se trata de Conferências Familiares, de acordo com a metodo-
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logia apontada por Braithwaite (BRAITHWAITE, 1989). Pode ha-
ver outras práticas de Conferências de Grupos Familiares pelo Brasil
que não se autodenominam desta maneira, ou por falta de conheci-
mento, ou pela preponderância do processo circular já descrito aci-
ma (CNJ, 2018; GRAF, 2019).
Pallamolla (2017, p. 240, apud GRAF, 2019), afirma que o proces-
so circular é a “prática hegemônica da justiça restaurativa no Brasil”.
A prevalência do chamado “processo circular” como técnica (ou mé-
todo), utilizado para a execução das práticas restaurativas, decorrente
do chamado círculo de construção de paz (peacemaking circles ou cír-
culo de pacificação) de Kay Pranis, são a metodologia mais utilizada
no Brasil, sendo praticamente a única utilizada no Estado do Paraná
- por consequência dos primeiros cursos ofertados, ministrados pela
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS.
De acordo com o Relatório de Atividades da Comissão de Prá-
ticas Restaurativas do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, de
relatoria do então Presidente da Comissão, Desembargador Roberto
Bacellar, no ano de 2016:
A primeira capacitação de juízes e servidores em Justiça Restaurativa
ofertada pelo TJPR foi realizada em maio de 2014, na comarca de Ponta
Grossa e ministrada pela Escola Superior da Magistratura do Rio Grande
do Sul, da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS, em que
foram apresentados aos princípios e valores fundamentais aos processos
circulares e a uma abordagem transformativa dos conflitos, percebendo
na Justiça Restaurativa uma possibilidade efetiva de resolução adequada
dos conflitos levados ao Poder Judiciário. A comissão viabilizou junto
ao TJPR a realização de capacitações em Francisco Beltrão, Guarapuava,
União da Vitória, Maringá, Londrina e Curitiba, a exemplo daquela
oferecida inicialmente em Ponta Grossa. Em decorrência da capacitação
ofertada, optou-se por trabalhar a Justiça Restaurativa na modalidade de
círculos de construção de paz, sem afastar a possibilidade de aplicação
de outros métodos consensuais autocompositivos. Essa é uma tendência
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que tem sido observada em outros estados, a exemplo do Paraná, com
acompanhamento do Conselho Nacional de Justiça – CNJ. (p. 2).
Todavia, importante destacarmos que não é o simples sentar em
círculo que define se uma prática é restaurativa ou não. Christina
Baldwin (1998) esclarece:
A essa altura eu já sabia: um círculo não é apenas uma reunião com as
cadeiras reorganizadas. Um círculo é uma maneira de fazer as coisas de
forma diferente da que estamos acostumados. O círculo é um retorno
à nossa forma original de comunidade, bem como um salto em frente
para criar uma nova forma de comunidade1 (p.26, tradução nossa).
O processo de estar em círculo, que pessoas não-nativas utilizam
atualmente, advém da tradição dos círculos de fala dos povos das
primeiras nações da América do Norte que as utilizam há milênios.
Diversos povos nativos americanos (do norte ao sul) utilizam essa
prática, das mais diferentes formas, mas o círculo de construção de
paz ensinado por Kay Pranis no Brasil, estão referenciados nos po-
vos das planícies da América do Norte, principalmente do Canadá.
Para estes povos, os círculos são muito mais do que apenas técnicas
de diálogo e de tomada de decisões, é um estilo de vida que incor-
pora uma filosofia única de valores e princípios (LIVINGJUSTI-
CEPRESS, 2020). Na década de 1990, os membros das primeiras
nações do Canadá iniciaram uma trajetória de ensinamentos do pro-
cesso circular para pessoas não nativas, tendo em vista que as comu-
nidades estavam em busca de alternativas para o encarceramento em
massa da sua população, que nada mais era do que uma forma de
genocídio do seu povo. Efetuar esse trabalho de ensinamento e de
aprendizagem, demandou a participação de juízes, de promotores e
1.By now I knew: A circle is not just a meeting with the chairs rearranged. A circle is a way
of doing things differently than we have become accustomed to. The circle is a return to our
original form of community as well as a leap forward to create a new form of community.
(original)
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de advogados não nativos (LIVINGJUSTICEPRESS, 2020). Nesse
processo, aos não nativos foi oportunizado experienciar o processo
circular e o seu poder de transformação, sendo que, a partir dessas
origens, surgiu um movimento de compartilhamento e de expansão
dos círculos entre os não nativos na América do Norte, mormente
nos Estados Unidos da América (LIVINGJUSTICEPRESS, 2020).
Diversas primeiras nações contribuíram para a esquematização
dos círculos entre os não nativos, sendo a The Hollow Water First Na-
tion2 que mais teve participação em apresentar a filosofia dos círculos
como potencial para lidar com os danos às comunidades (LIVING-
JUSTICEPRESS, 2020). A principal referência teórica desses ensi-
namentos pode ser encontrada nos livros de Rupert Ross, como por
exemplo Returning to the Teachings: Exploring Aboriginal Justice Canada3.
Em Yukon, no Canadá, os membros das primeiras nações treina-
ram diversos não nativos, sendo alguns deles, profissionais da justiça,
como o juiz do Tribunal Territorial de Yukon, Barry Stuart (LIVIN-
GJUSTICEPRESS, 2020).
Entendemos como círculo de construção de paz uma estrutura
que cria alternativas para os participantes se expressarem para estar
“presente como um ser humano inteiro” (PRANIS, 2010, p. 25). E
apesar de ser uma prática “importada”, temos que esta decorreu de
um movimento suleador4, na medida em que o protagonismo do
2.A Primeira Nação Água Oca (tradução nossa).
3.Retornando aos Ensinamentos: Explorando a Justiça Aborígene do Canadá (tradução
nossa).
4.Suleador é uma variação do termo sulear, o qual problematiza e se coloca de forma contrária
ao movimento decorrente do termo nortear, em contraposição à dicotomia de que norte=
acima e sul= abaixo. A utilização desse termo criado por Marcio Campos e propagado por
Paulo Freire, insere a ótica do sul como forma de opor-se à lógica dominante do norte global.
Posto isso, sulear é considerar a criação de novos mundos diversos da hegemonia ideológica
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processo é de povos que foram relegados e marginalizados pelos
colonizadores. Nesse modelo, há vários tipos de círculos: de diálogo,
de restabelecimento, de sentenciamento, de apoio, de construção de
senso comunitário, de resolução de conflitos, etc. Podem ser utiliza-
dos para situações não-conflitivas, a fim de celebrar, de dialogar ou
de tomar decisões, como também podem ser utilizados para a cons-
trução de um consenso em situações conflituosas.
Kay Pranis cita em seu livro (2010), diversas possibilidades de apli-
cação; em vista disso, elencamos algumas para melhor compreensão:
dar apoio e assistência às vítimas de crimes, sentenciar adolescentes e
adultos infratores, reintegrar egressos do sistema prisional, desenvol-
ver missão e planos estratégicos para organizações, tratar de desenten-
dimentos entre vizinhos, lidar com a disciplina nas escolas, resolver
conflitos familiares, facilitar o diálogo entre comunidades de imigran-
tes e governo local, etc. O círculo possui um formato e elementos
essenciais que o caracterizam. Nas palavras de Pranis (2010, p. 25/28):
Os participantes se sentam nas cadeiras dispostas em roda, sem mesa no
centro. Às vezes se coloca no centro algum objeto que tenha significado
especial para o grupo, como inspiração, algo que evoque nos participantes
valores e bases comuns. [...] Usando elementos estruturais intencionais
(cerimônia, um bastão de fala, um facilitador ou coordenador,
orientações e um processo decisório consensual) os Círculos objetivam
criar um espaço onde os participantes se sentem seguros para serem
totalmente autênticos e fiéis a si mesmos.[...] Num Círculo, chega-se
à sabedoria através das histórias pessoais. Ali a experiência vivida é
mais valiosa do que conselhos. Seus integrantes partilham experiências
pessoais de alegria e dor, luta e conquista, vulnerabilidade e força, a fim
de compreender a questão que se apresenta.

do norte global de raça, economia, cultura, etc., tendo como protagonistas das narrativas as
vozes historicamente silenciadas. Assim, sulear não é mera condição geográfica, mas leva
em consideração a posição dos sujeitos dentro de um sistema e contexto de marginalização
e opressão. (ADAMS, 2008; CAMPOS; 1991).
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No círculo de construção de paz em casos conflitivos, participam
os sujeitos envolvidos e seus respectivos apoiadores (se indicarem),
assistidos por facilitadores. Nesse caso, o processo circular é dividi-
do em 3 (três) etapas: pré-círculo (individual com cada participante
do círculo, podendo ser realizados quantos forem necessários), o cír-
culo (com a presença de todos os envolvidos) e o pós-círculo (com
a presença de todos, para monitorar o termo de consenso pactuado)
(PRANIS, 2010).
Conversar em formato circular é uma das formas mais antigas de
tomada de decisão e de consenso e, talvez, a primeira vez que o ser
humano tenha se juntado nesse formato foi quando “descobriu” o
fogo e se juntou com os seus semelhantes para se proteger do frio
e de predadores, bem como transformar seus alimentos (PRANIS,
2010; BALDWIN, 1998). Sentar em círculo transmite a sensação de
transparência, de liderança compartilhada, de equidade, posto que
não há lados, não há polarização. As decisões tomadas em círculo
são naturalmente intuitivas, uma vez que ancestral e emergem da
conversação de acordo com o fluir do círculo, como uma egrégora
(PRANIS, 2010; BALDWIN, 1998). O círculo é o jeito humano de
estar junto e de conhecer o outro (BALDWIN; LINNEA, 2010).
É importante lembrar dessa linhagem longa e amorosa, pois agora nos
sentamos diariamente em filas em salas de aula, auditórios, ônibus e
aviões, olhando para trás das cabeças uns dos outros. Ou enquanto nos
sentamos ao longo das bordas retas de mesas e escrivaninhas lutando
para encontrar uma maneira de se comunicar e estar uns aos outros.
Depois de tudo isso, de séculos de separação e isolamento, o círculo nos
acolhe de volta em uma forma onde podemos ouvir, ser ouvidos e ser
respeitados, onde podemos pensar e criar juntos. Círculo é o meio de nos
afastar da dramática e irritada forma de trocas públicas que agora não
são apenas comuns, mas aparentemente as únicas opções disponíveis
para o diálogo. Sentados juntos como iguais, desacelerou e manteve a
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forma, com base na familiaridade antiga - exatamente o que precisamos
neste momento! (WHEATLEY, 2010, p.9 - tradução nossa).
A responsabilidade do círculo é compartilhada, a liderança é ro-
tativa e a confiança é depositada juntamente com a construção de
valores e de propósitos para um futuro melhor (PRANIS, 2010).
Um círculo não é apenas uma reunião com as cadeiras reorganizadas.
Um círculo é uma maneira de fazer as coisas diferente do que estamos
acostumados. O círculo é um retorno a nossa original forma de
comunidade, bem como um salto em frente para criar uma nova forma
de comunidade (BALDWIN, 1994, p. 26, tradução nossa).
O facilitador de um círculo de construção de paz age com um
guardião, e é responsável pelo bem-estar das pessoas que participam,
da criação conjunta de um ambiente seguro de fala e de escuta e que
respeite o processo. Deverá, igualmente, atentar para a elaboração de
perguntas que possam despertar nos indivíduos o diálogo franco e
sincero, para o despertar do processo de responsabilização e de repa-
ração pelos danos causados - se for o caso (PRANIS, 2010; GRAF,
2019). Todavia, é importante reafirmar que por mais preparado que
o facilitador esteja, não existe um roteiro perfeito e uma segurança
plenamente garantida sobre o que pode emergir do círculo (GRAF,
2019). O facilitador não tem poder sobre o resultado do círculo. Mas
é importante que esteja bem com o não saber (PRANIS, 2016). Por
mais cauteloso que se queira ser, por mais atencioso e disponível que
se pareça estar, não se tem certeza de como será recebido. Assim,
a curiosidade e as perguntas são peças essenciais para atender as
situações quando, em algum momento, (res)surgirem polaridades e
desequilíbrios das relações de poder ou situações em que se possam
colocar algumas das pessoas em posição de vulnerabilidade. À vista
disso, questionar sobre o que está acontecendo e como as pessoas
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estão se sentindo é fundamental para o processo circular. A seguran-
ça e o bem-estar dos envolvidos deve ser prioridade (GRAF, 2019).
Percebemos que os círculos alcançam resultados mais positivos
quando realizado em ambientes onde as pessoas se sentem acolhidas
e confortáveis, para que possam expressar o seu melhor e sua ver-
dade, sem julgamentos. O círculo convida à contribuição e emerge
sentimentos e emoções que, muitas vezes, colaboram para a constru-
ção de uma solução para uma situação complexa. Nesse sentido, o
Poder Judiciário, ao adotar tal prática, oportuniza que os jurisdicio-
nados ressignifiquem a sua relação com o sistema e possam confiar
em métodos que os acolham como parte da construção da solução,
sem a imposição de uma decisão verticalizada que não considera as
circunstâncias intrínsecas de cada caso concreto, ao mesmo tempo
que se assegura a chancela do Estado.
O Poder Judiciário, apesar de não executar a justiça restaurativa
como alternativa ao sistema, abriu suas portas para esse diferente
formato de fazer justiça, no intuito de tentar cumprir com sua fun-
ção social e com a política comunitária de prestar serviços à comu-
nidade e de promover segurança social, além de gerar confiança no
sistema de decisões que se aproxime de um atendimento multiface-
tado, em parceria com a rede de proteção social e políticas públicas
de desenvolvimento e cuidado.

CÍRCULO DE CONSTRUÇÃO DE PAZ: POR QUAL RAZÃO É


PREDOMINANTE?
Em solo brasileiro, restou evidente que a prática restaurativa mais
conhecida e aplicada é a ensinada por Kay Pranis, que veio ao Bra-
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
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sil pela primeira vez no ano de 2010. O Desembargador Leoberto
Narciso Brancher foi o responsável por trazer Kay Pranis ao Brasil e
por divulgar a prática por todo o território, por meio de cursos mi-
nistrados pela AJURIS. A escolha do círculo de construção de paz
se deu após Howard Zehr, em sua primeira visita ao Brasil no ano
de 2008, indicar Kay Pranis à Leoberto Brancher, quando este lhe
questionou sobre qual a metodologia restaurativa possuía mais enfo-
que comunitário (ORTH, 2020). Kay Pranis relata que quando veio
ao Brasil pela primeira vez percebeu que adentrava em campo fértil,
lugar onde pessoas estavam dispostas para uma “mudança cultural
profunda” (ARLÉ, 2020, p. 29):
A primeira vez que vim ao Brasil foi em 2010, com o objetivo de
compartilhar o processo dos Círculos de Construção de Paz com pessoas
interessadas em Justiça Restaurativa. A nível pessoal, descobri que os
brasileiros são incrivelmente carinhosos, hospitaleiros e engajados. A nível
profissional, descobri que as pessoas que conheci estão profundamente
comprometidas com a promoção da paz e da justiça, perpassando todas
as áreas da cultura. [...] Outro termo de minha experiência no Brasil que
também me influenciou foi ‘convivência’. Penso nesta palavra em inglês
como ‘vivermos juntos de um jeito bom’. Os brasileiros me deram uma
lente para entender o meu próprio trabalho de maneira mais completa.
Agora vejo meu trabalho como apoio a uma mudança cultural profunda
em direção a ‘vivermos juntos de um jeito bom’.
No ano de 2010, Kay Pranis realizou capacitações nos Estados
do Rio Grande do Sul, do Maranhão e do Rio de Janeiro. A partir
destas capacitações, foram formados instrutores que reproduziram
esses ensinamos pela AJURIS e pela Terre des hommes, que por con-
sequência, qualificaram diversos outros Tribunais e instituições,
que culminou num evidente alinhamento e metodização da prática,
se tornando, então, predominante em detrimento de outras meto-
dologias (ORTH, 2020).
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
114
Além deste processo de replicação por órgãos institucionalizados,
a prática foi tomando força e forma também por conta da disponibi-
lidade de Kay Pranis em retornar ao Brasil em outras oportunidades,
como nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013, 2017, 2018, 2019, para
ministrar palestras e realizar cursos de formação de facilitadores e de
instrutores. Ao mesmo tempo em que ocorreu este processo de pre-
dominância na prática, sobreveio a exclusividade teórica das práticas
ante a publicação dos primeiros livros sobre o assunto, pela editora
Palas Athena, em que os autores são Howard Zehr (2008) e Kay Pra-
nis (2010). Além do mais, no Estado do Rio Grande do Sul, precur-
sor do projeto Justiça para o Século XXI, fora viabilizada a tradução
e a divulgação gratuita do livro “No coração da esperança”, escrito
por Kay Pranis e Carolyn Boyes-Watson (PRANIS; BOYES-WAT-
SON, 2011), o qual apresenta os ensinamentos básicos e práticos da
metodologia de círculo de construção de Paz.
Desta maneira, mesmo com a construção influenciada e domi-
nada pelos protagonistas do movimento judiciário restaurativo, no-
tamos que diante da aplicabilidade da prática, de norte a sul do país,
houve uma profunda identificação da população brasileira com a
metodologia, que tem como base rituais e signos, que reverberam
diferentes interpretações e identificação.
A identificação faz sentido para os brasileiros. Kaká Werá (2018;
2018a) explica que, no Brasil, os povos autóctones também utilizam
processos circulares para lidar com situações de desequilíbrio. Werá
(2018) esclarece que na tradição Tupi, a prática de justiça parte de uma
ideia (a qual pertence a outros povos tradicionais também), chamada
korá, que significa, ao mesmo tempo, centro e círculo. Cada pessoa se
torna íntegra e se mantém em seu korá, seu centro. Porém, existem 4
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movimento restaurativo
115
(quatro) grandes conflitos dentro da comunidade que tiram a pessoa
de seu centro. Para os Tupis, a comunidade não compreende somente
o reino humano, mas também o reino vegetal, animal e mineral, con-
siderados como o espaço visível, material. A comunidade anterior,
que nos sustenta, que é imaterial, é chamada de valores. A comunida-
de tem um quarto ponto, que é o centro intangível, o grande mistério,
chamado de yamandu ou Ñamandu, o inominável, o grande silêncio,
o que não se pode dizer o que é, porém, se sente e entende, como o
amor. Portanto, o sentido de comunidade para os Tupis engloba os 4
reinos, o amor e os valores ancestrais (WERÁ, 2018).
O nosso centro divide-se em 2 (centros), um centro social (com a
tribo, a comunidade, o povo) e um centro íntimo, pessoal (referente
às nossas questões internas com o mundo). Werá (2018a) explica que
os 4 (quatro) grandes conflitos ou pontos que causam desequilíbrio
são: a) quanto à sobrevivência – qualquer situação que coloque al-
guém em risco de morte, quando há fome, medo da escassez, quando
necessidades básicas não são atendidas, b) quanto à exclusão – quan-
do há processos de exclusão na família ou na comunidade, c) quanto
à fragmentação do ser – ocorre quando expectativas não são atendi-
das, quando há falta de comunicação com o conjunto, com o outro
e, d) quanto à desconexão – quando o sujeito se desconecta consigo
mesmo ante a não aceitação da sua essência, com seus dons reprimi-
dos. Quando ocorre essa desconexão é necessário retornar ao centro
e, assim, realizam um círculo chamado pelos Tupis de kuaracy- korá5.
O indivíduo que causou um dano ou feriu uma relação passa por
um processo para retornar e se conectar com esse centro. A pessoa
5.Kuaracy quer dizer ao mesmo tempo sol (emanação), mas a palavra KUARA quer dizer
vida e CY é mãe, então é o círculo da vida ou círculo sagrado do sol ou emanação mãe que
se desdobra em círculo (WERA, 2017/2018).
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
116
é colocada dentro do círculo/centro e a ela são feitas 4 perguntas: a)
Sobre as necessidades: Alguém de nós, desse grande círculo, deixou,
por algum motivo, de atender necessidades suas? Werá (2018a) relata
que a pessoa não pode deixar de se expressar para responder, pode
chorar, cantar, mas tem que se expressar. Assim, a primeira pergunta
é sobre necessidade, qual necessidade que não foi atendida. b) Sobre
expectativas: Quais as expectativas ou os sonhos que você criou que
nós não atendemos? Tem que expressar a resposta, falar sobre seus
sonhos não compreendidos ou não realizados para poder seguir para
terceira pergunta. c) Sobre exclusão: Há alguém neste círculo ou den-
tro de si mesma, com o qual se sente excluída, colocada de fora? d)
Sobre os acordos: Diante disso, qual é o esforço que você quer fazer
ou se propõe a fazer para ser reconduzido e voltar ao centro? E qual
é o esforço que você espera das pessoas envolvidas? Essas perguntas
são importantes pois apresentam à pessoa o caminho para voltar para
casa, para seu korá, bem como para buscar que o indivíduo retome
sua responsabilidade em relação aos seus atos. Assim, é possível que
a comunidade perceba a sua parcela de responsabilidade em relação
ao indivíduo também. Outrossim, os acordos são importantes pois
acolhem e abrigam as necessidades e reinserem a pessoa na comuni-
dade, fazendo com que ela retome seus sonhos (WERÁ, 2018).
Percebemos que o círculo, as perguntas, os valores, o acolhimen-
to, o cuidado e a responsabilização são componentes da ancestrali-
dade brasileira e essa cosmovisão de mundo e de justiça participativa
remete ao sentido e ao significado identificados pela aproximação e
pela escolha do círculo de construção de paz no Brasil, podendo ser
utilizados esses conhecimentos como parcela do processo circular
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
117
restaurativo brasileiro, no intuito de adaptar a prática para a criação
de uma movimento pela brasilidade restaurativa.
Conforme o Mapeamento realizado pelo CNJ no ano de 2019
quanto às práticas mais desejadas para a realização de novos cur-
sos o “(...) círculo da paz aparecem como a opção mais frequen-
te (90,9% dos casos), [...] o círculo restaurativo (68,2%), processo
circular (50%) e círculo sem vítima (40,9%). Conferência de grupo
familiar foi a opção com menor nível de interesse (38,6%)” (p. 30).
Com base na referida pesquisa, notamos um evidente movimento
pela utilização da prática do círculo de construção de paz. Além das
questões relacionadas ao domínio da publicação do conhecimento
teórico pela editora Palas Athena em território brasileiro, em relação
à tradução em português da sequência de livros The Little Books of
Justice & Peacebuilding6 da Editora norte americana Good Books e da
carência da tradução de livros, que indicavam outras formas de apli-
cação da prática restaurativa, até meados do ano de 2018 (quando a
própria Editora Palas Athena começou a publicar a sequências dos
livros com outras temáticas), temos que os círculos foram bem re-
cebidos por diversas organizações brasileiras e permaneceu como a
escolhida entre muitos profissionais.
Apesar das circunstâncias que envolveram e influenciaram a in-
clusão e a predominância do círculo de construção de paz no sistema
judicial, é inegável, e ao mesmo tempo importante considerarmos,
que foi bem aceita e acolhida tanto pelo Poder Judiciário, pelo Minis-
tério Público, pela Defensoria Pública, quanto nas escolas e demais
institutos, e com isso, trouxe benefícios aos envolvidos com a difu-
são da justiça restaurativa em todo território nacional (GRAF, 2019).
6.Os pequenos livros da justiça e construção da paz (tradução nossa).
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
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118
Os círculos trabalham com rituais, com cerimônias, com simbo-
logias e com significado. Portanto, compreendemos que, mesmo que
o movimento do círculo de construção de paz no Brasil tenha ini-
ciado a partir dos trabalhos realizados pelo Rio Grande do Sul, por
meio da AJURIS e no Ceará pela Terre des hommes, a referida prática
foi eleita, permanecendo como majoritária e mais exercida no Brasil
por escolha dos próprios agentes que praticam a justiça restaurativa,
conforme pesquisa realizada pelo CNJ, pois se identificaram com a
prática e a elegeram como predominante. A simplicidade da prática
circular, que não requer recursos demasiados complexos ou dispên-
dios financeiros exacerbados para sua realização e o foco na geração
de conexão entre os envolvidos, foi fundamental para que o círculo
de construção de Paz tenha sido incorporado e “escolhido” pelos
brasileiros. Kay Pranis, defende (ARLÉ, 2020, p.31):
Temos fome de significado e pertencimento em nossas vidas. Uma
cultura de paz pode ser construída a partir desse anseio de estarmos
em bons relacionamentos uns com os outros. Esse trabalho conjunto
alimenta nosso espírito e, ao mesmo tempo, engaja nossos corações e
mentes e nos dá esperança em tempos de desânimo.
Esse processo de conexão, de engajamento e de pertencimen-
to, culminou para o processo de hegemonização da prática, pois o
círculo de construção de paz é dialógico, informal e descomplicado,
podendo ser facilitado por sujeitos sem formação profissional espe-
cífica e pode ser realizados em diversas circunstâncias, bem como
atende um número variável de pessoas, sendo aplicável tanto pre-
sencialmente como virtualmente. Como esse processo circular é in-
clusivo e não possui estrutura hierárquica, pode melhor responder
quando aplicado aos contextos sociais e culturais específicos dos
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
119
participantes, principalmente aos que envolvam a comunidade e a
família neste processo (BICKMORE, 2017).
No entanto, sem prejuízo do reconhecimento da importância do
processo de incorporação da justiça restaurativa no Brasil, oportuno
ressaltar que não negamos o fato de a prática restaurativa ter sido
cooptada e institucionalizada por um poder constituído majoritaria-
mente por pessoas brancas7, como o Poder Judiciário. Há diversas
pesquisas e literaturas críticas que indicam e apontam ser o tradicio-
nal sistema de justiça brasileiro racista, misógino, discriminatório e
segregador (SALGADO, 2016; ALMEIDA, 2018)8 - fato este que
destoa dos princípios, da essência e da filosofia restaurativa e, por-
tanto, deve ser analisado e considerado no processo de incorporação
das práticas restaurativas.
Diante deste desafio, indagamos: o que pode ser feito para que se
proporcione o desenvolvimento da justiça restaurativa, que é inclusiva
e participativa, em consonância com seus princípios e sua essência,
sem ser afetada e corrompida por um sistema opressor e discrimi-
natório? Lang (2020) propõe que os sujeitos que se encontram na
posição de poder e de tomada de decisões utilizem suas condições
de status para escutarem, incluírem e aprenderem com aqueles que
viveram processos discriminatórios por toda uma vida. Notoriamen-
te, alguns grupos sociais e raciais foram (e ainda são) historicamente
marginalizados pelo sistema, logo, devemos levar em consideração,
neste momento de quebra paradigmática da abordagem sobre justi-
7.De acordo com o Perfil Sociodemográfico dos Magistrados, efetuado pelo CNJ no ano
de 2018, 18,1% dos magistrados brasileiros se autodeclararam negros ou pardos, sendo que,
do número total de magistrados brasileiros, somente 6% são mulheres negras.
8.O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) realizou, no ano de 2017, um estudo
em que aponta que 63,7% da população carcerária brasileira é formada por negros.
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movimento restaurativo
120
ça dentro do Poder Judiciário, que a presença, a voz e a participação
desses grupos é necessária para a construção de diretrizes de progra-
mas e de projetos restaurativos mais justos, equânimes e inclusivos.
Destarte, o círculo de construção de paz também pode ser utilizado
como processo de transformação do próprio sistema judicial, no
intuito de trabalhar em parceria com a comunidade e na inclusão
das vozes historicamente marginalizadas, desde que comprometido
com o combate para as mudanças estruturais dominantes contra a
discriminação e o preconceito, principalmente no que tange ao racismo.
Baldwin e Linnea (2010) defendem que as culturas baseadas em
hierarquia, no controle e na dominação aboliram o círculo de seu
sistema de controle social, uma vez que ele atende à democracia. Por
conseguinte, aqueles que buscam a opressão, a dominação e a discri-
minação como forma de governar, sabem o quanto o círculo tem po-
tencial transformador das comunidades, tendo em vista que foca no
empoderamento e na emancipação dos sujeitos de forma individual
e, também, coletiva. A simplicidade da forma circular para tomada
de decisões, de transformação de conflitos e de atendimento de ne-
cessidades convidam os participantes a usufruírem de uma liderança
compartilhada, sendo esta, a forma mais antiga e revolucionária de
viver em sociedade, porquanto abre as janelas da criatividade e da
colaboração, acreditando que todos possuem algo a compartilhar e a
contribuir (BALDWIN; LINNEA, 2010).
O círculo de construção de paz é um processo democrático, es-
sencialmente inclusivo e desprovido de preconceitos, que ensina a
acreditar no potencial das diferenças, nos direitos humanos, na dig-
nidade humana e na transformação da sociedade, para acolher as vo-
zes (mesmo que dissonantes) em uma horizontalidade que permite
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
121
o encontro de uma solução justa, focada no atendimento das neces-
sidades e modificar a realidade dos sujeitos em um processo que dê
conta de responsabilizar, de empoderar e de reparar danos - se for
o caso. Portanto, o processo de incorporação da prática restaurativa
no sistema judiciário só será completa e coerente quando este aden-
trar nas camadas mais profundas de sua estrutura, enfrentando os
problemas culturais e institucionais discriminatórios e segregadores,
para rever as formas de fazer justiça.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é evidente que a justiça restaurativa no Brasil,
sem prejuízo do reconhecimento das suas fontes e emergências plu-
rais, foi incorporada e institucionalizada pelo Poder Judiciário, com
iniciativas de projetos e de programas que incluem a comunidade e a
organização da sociedade civil9. A despeito da encampação do Poder
Judiciário, temos que a justiça restaurativa, desenvolvida na esfera
judiciária, tem dialogado com a comunidade e com a rede socioassis-
tencial, na medida em que os projetos atendem a sociedade e impac-
tam nas relações humanas, havendo diversas parcerias e pactos de
cooperação entre o judiciário e escolas, ONGS, institutos, fundações
e universidades, por exemplo.
Podemos atribuir diversos motivos para que a utilização do cír-
culo de construção de paz seja predominante como metodologia de
justiça restaurativa e tenha se solidificado no sistema judiciário: a) a
9.De acordo com o Mapeamento de Programas de Justiça Restaurativa no Brasil (CNJ)
há fortalecimento da rede de proteção e as instituições mais beneficiadas pelas práticas
restaurativas são: Escolas (61,4%), Rede Socioassistencial (47,7%), Universidades e
Faculdades (45,5%), Programas Socioeducativos (45,5%) e Coordenadorias da Mulher e
Serviços de apoio às vítimas de violência Doméstica (45,5%).
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
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simplicidade da técnica, b) a recorrente vinda de Kay Pranis ao Brasil
para promoção de cursos de capacitação de facilitadores e de ins-
trutores, c) a hegemonia teórica da tradução dos livros pela Editora
Palas Athena, d) a inexistência de obrigação de qualificação profis-
sional específica para se tornar facilitador, e) a participação da comu-
nidade no processo, f) a escolha dos agentes executores das práticas,
g) a identificação do círculo com a cosmovisão de mundo e de justiça
dos Tupis, etc. Todos os motivos se complementam e se atravessam
na medida em que convergem para a construção de uma nova cul-
tura jurídica, mais humanizada, mais democrática e mais acessível,
focada nas necessidades e na reparação dos danos.
Como seres humanos, o formato circular sempre esteve em nos-
sa memória e ancestralidade, pois sentar em círculo é a forma mais
extraordinária de conhecermos uns aos outros e nos expressarmos
com profundidade, sendo esse resgate uma busca para encontrar
uma forma de vivermos bem em conjunto, estando nas entranhas da
ancestralidade brasileira.
Christina Baldwin, em seu livro Calling the Circle – the first and fu-
ture culture10 (1998), conta como o fogo uniu e criou o senso de per-
tencimento, a essência da comunidade. Sentar em círculo, ao redor
daquilo que provia segurança, vida, luz, calor e alimento, era um sen-
timento instintivo e coerente àquele movimento. Colocar aquilo que
dá significado à existência do humano no centro, permitia reivindi-
car uma nova forma de se colocar no mundo. Isso fez sentido para
eles, assim como fez para nós, quando tivemos os primeiros contatos
com as práticas circulares no Brasil. Cada sujeito vive em uma trama
social, política, cultural e espiritual diferente, que forma o seu jeito
10.Chamando o círculo - a primeira e a futura cultura. (tradução nossa)
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
movimento restaurativo
123
de conviver com os demais. Cada um vive em um contexto de socie-
dade que molda seu comportamento (BALDWIN,1998), sendo isso
importante para identificar as necessidades coletivas de cada socie-
dade. A isso, Joaquín Herrera Flores (2009) denomina de impuro,
aquilo que é contaminado pelo contexto. Interpretar a realidade dos
sujeitos pela impureza, permite que possa se contaminar pela histó-
ria e pelas circunstâncias para o conhecer em sua complexidade, já
que está situado num espaço concreto, sendo possível ser descritível,
cognoscível e relatável (HERRERA FLORES, 2009), e é isso que o
círculo de construção de paz permite.
Concluímos que a escolha do círculo de construção de paz como
prática predominante dentro do Poder Judiciário, além das circuns-
tâncias elencadas acima, em verdade decorre da busca dos opera-
dores do direito em estar com os jurisdicionados, em um processo
que permita transformações sociais e estruturais, ao mesmo tempo
em que apresenta uma justiça acolhedora, inclusiva, democrática e
participativa, para que os sujeitos afetados estejam envolvidos no
processo de construção das respostas que buscam, assim como no
atendimento das suas necessidades.
Neste sentido, o círculo de construção de paz, encampado como
política judiciária nacional por meio do CNJ, tornou possível pensar
na construção de uma justiça, mas que deve tensionar com as pró-
prias estruturas fechadas e discriminatórias, ensejando uma mudança
cultural e estrutural a partir de movimentos realizados de dentro do
sistema, sendo assim, subversiva, que reverbera nas relações huma-
nas e com o meio ambiente, na busca de uma sociedade mais justa,
democrática, antirracista e atravessada pela cultura da paz.
Sulear a Justiça Restaurativa: as contribuições latino-americanas para a construção do
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