1 - Intimação

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: 1

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


0012082-53.2017.5.15.0122
Relator: GERSON LACERDA PISTORI

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 26/06/2020


Valor da causa: R$ 85.200,00

Partes:
RECORRENTE: ADILSON CANTEIRO
ADVOGADO: NATALIA GOMES LOPES TORNEIRO
RECORRIDO: HONDA AUTOMOVEIS DO BRASIL LTDA

ADVOGADO: JULIANA REBELO DAVID


ADVOGADO: CRISTIAN ALVES FERNANDES
ADVOGADO: MARCELO MIGUEL ALVIM COELHO
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
9ª CÂMARA
Relator: GERSON LACERDA PISTORI
ROT 0012082-53.2017.5.15.0122
RECORRENTE: ADILSON CANTEIRO
RECORRIDO: HONDA AUTOMOVEIS DO BRASIL LTDA

PROCESSO nº: 0012082-53.2017.5.15.0122 (ROT)


RECORRENTE: ADILSON CANTEIRO
RECORRIDO: HONDA AUTOMOVEIS DO BRASIL LTDA
ac

Trata-se de recurso ordinário (ID. c1f7b92) interposto pelo


reclamante, ADILSON CANTEIRO, em face à sentença (ID. c5ff787) que julgou
improcedentes os pedidos exordiais.

O recorrente requer a nulidade da sentença, alegando a


ocorrência de cerceamento de defesa. No mérito, insiste nos pedidos referentes aos
adicionais de periculosidade e de insalubridade e às horas extras.

Isento da realização do preparo recursal.

O reclamado apresentou suas contrarrazões (ID. 76043e8)


pugnando pelo não provimento do recurso oposto.

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade.

O apelo merece ser conhecido, pois preenchidos a contento


todos os pressupostos processuais de admissibilidade, com especial destaque para os
termos das normas dos artigos 895, I, da CLT, artigo 6º e parágrafo único do Ato
Conjunto CSJT/TST 15/2008, Resolução CNJ 185/2013, e Instrução Normativa TST 39
/2016.

Destaque-se também o fato de que o julgamento deste feito


observará as recentes disposições contidas na Instrução Normativa nº 41/2018, do C.
TST, a qual passou a regular a aplicação das normas processuais da Consolidação das
Leis do Trabalho alteradas pela Lei 13.467/2017.

2. Preliminarmente - do cerceamento de defesa.

Assinado eletronicamente por: ROGERIO FERNANDES DE OLIVEIRA - Juntado em: 24/10/2022 15:45:37 - 6e663f0
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Suscita o reclamante preliminar de nulidade da sentença, por


cerceamento de defesa, alegando ausência de análise à impugnação ao laudo pericial e
o indeferimento da oitiva das testemunhas.

Diferentemente do que sustenta o reclamante, o juízo de origem


indeferiu a oitiva do testigo indicado, por entender que as provas produzidas nos autos
e neles acostadas eram suficientes para o seu convencimento.

Isso porque nos termos dos artigos 370 e 375 do CPC e 765 da
CLT, cabe ao magistrado a direção do processo, de modo a ter ampla liberdade na
condução das provas, observando a rápida prestação jurisdicional e indeferindo
diligências que sejam despiciendas à formação de sua convicção, não configurando
cerceamento do direito de produção de provas eventual indeferimento de oitiva de
testemunhas ou mesmo de perguntas em audiência.

Tenha-se em mente, no aspecto, o teor do art. 195, da CLT, pelo


qual a caracterização da insalubridade e da periculosidade se dá por meio de perícia.

No mais, cumpre salientar que a manifestação do autor (ID.


5dc9e7d) quanto aos termos e resultados da perícia ultrapassou em muito o prazo de 5
dias imposto pelo juízo de origem (ID. cf8c925) e, operada a preclusão, não cabe falar
em ausência de resposta por parte do vistor.

Assim, inexistindo nulidade ou cerceamento de defesa, rejeita-se


a preliminar.

3. Mérito.

3.1. Dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

Reafirma o reclamante fazer jus ao recebimento dos adicionais


de periculosidade e insalubridade, porque trabalhava exposto a substâncias químicas e
inflamáveis.

Sem razão, contudo.

Ainda que o julgador não se encontre adstrito às conclusões do


expert, a prova do labor em condições perigosas e insalubres deve ser feita por meio
de perícia técnica, conforme preleciona o artigo 195 da CLT, o que efetivamente
ocorreu nos autos.

No caso em exame, o laudo técnico (ID. f2ade7a), elaborado por


perita da confiança do juízo, e não infirmado por prova em contrário, esclareceu que o
recorrente não desenvolveu suas atividades em tais circunstâncias.

Assinado eletronicamente por: ROGERIO FERNANDES DE OLIVEIRA - Juntado em: 24/10/2022 15:45:37 - 6e663f0
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Com efeito, assim constou do laudo pericial:

"Em face do exposto, em conformidade


com o Artigo 193 da CLT combinado com os Anexos da NR 16
da Portaria 3.214/78 do MTE, CONCLUO QUE AS ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS PELO RECLAMANTE DURANTE O PERÍODO
LABORAL IMPRESCRITO NÃO SÃO PERICULOSAS,

E AINDA

Em face do exposto, em conformidade


com o Artigo 189 da CLT combinado com os Anexos da NR 15
da Portaria 3.214/78 do MTE, CONCLUO QUE AS ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS PELO RECLAMANTE DURANTE O PERÍODO
LABORAL IMPRESCRITO NÃO SÃO INSALUBRES."

É importante ressaltar, outrossim, que a expert fundamentou:

" O Reclamante alegou realizar o


enchimento de bisnagas de plástico aproximadamente 05
vezes ao dia com primer para aplicação. Esta Perita
cronometrou o tempo de enchimento do recipiente que foi de
12 segundos.

Sendo assim, temos que o Reclamante


ficava exposto à área de risco e em atividade de risco durante
o enchimento do recipiente, tempo de exposição médio de 01
minuto ao dia. Considerando a jornada de trabalho diária do
Reclamante de 480 minutos (08 horas) temos que o tempo de
exposição em área e atividade de risco era menor do que
0,5% [...]

Assim considera-se a permanência do


Reclamante em atividade de risco habitual e por tempo
extremamente reduzido, de forma que não lhe é devido
adicional de periculosidade por agentes inflamáveis."

Verifica-se, portanto, que o reclamante não desempenhou


atividades perigosas nos termos da NR 16, ou da NR 15, da Portaria n. 3.214/78, do
MTE, e que a perita chegou a tal conclusão após análise pormenorizada das condições
de trabalho observadas e do tempo despendido nas atividades supostamente
insalubres ou perigosas.

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Registre-se, por oportuno, que a prova pericial foi realizada por


perita técnica da confiança do juízo, após criteriosa avaliação das condições do
ambiente e legislação aplicável, estando ele, pois, plenamente fundamentado e
embasado.

Sendo assim, o trabalho pericial deve ser acolhido in totum, pelo


que fica mantida a improcedência do pedido.

Prejudicado, assim, o pleito relativo ao acúmulo de adicionais.

Sem reforma.

3.2. Das horas extras - tempo à disposição.

Insiste o reclamante no pedido de pagamento de horas extras


pelos minutos em que esteve à disposição da empresa, antes do início da jornada, para
deslocamento interno, desjejum, higiene e uniformização.

Entende este Relator que o tempo despendido pelo empregado


no deslocamento interno ou nos preparativos para assumir o posto de serviço deve ser
computado como de efetivo labor, ainda que no período em questão ele tenha
permanecido em inatividade ou tenha eventualmente se ocupado com atividade alheia
ao objeto do contrato de trabalho com a reclamada, tudo sem prejuízo da incidência
dos minutos residuais previstos nos artigos 4º e 58, §1º, ambos da CLT, e na Súmula
429 do C. TST.

Desse modo, diferentemente do alegado pela reclamada,


mostra-se irrelevante que o trabalhador tenha permanecido em inatividade ou se
ocupado com atividades alheias ao objeto do contrato de trabalho, haja vista o
declarado na Súmula 366 do C. TST e 58 deste Regional.

E essa linha de pensamento também pode ser aplicada sobre a


lógica das diferenças deferidas em face do tempo de deslocamento.

Ora, a partir do momento em que passa pela portaria da


empresa coloca-se em integral disposição do empregador, isso segundo interpretação
do artigo 4º da CLT e do entendimento contido na Súmula 429 do C. TST.

Ressalte-se, no aspecto, que as alterações materiais aportadas


pela Lei 13.467/217 não incidem sobre o contrato de trabalho em comento, que vigeu
de 13/03/2008 a 02/05/2017.

Em outras palavras, pode-se afirmar que tanto os minutos


residuais quanto o período gasto com deslocamentos internos na empresa, troca de

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uniforme e desjejum devem ser considerados sim como tempo à disposição do


empregador.

De acordo com a exordial, o reclamante afirmou que sua


jornada de trabalho era das 06h00min às 15h00min, de segunda a sexta, mas que
despendia de 15 a 20 minutos antes da entrada e após a saída com as seguintes
atividades: deslocamento, lanche, higienização e troca de uniforme. Pretendeu a
condenação da reclamada como extras das horas laboradas além da 8ª diária e 44ª
semanal com adicional e reflexos.

No apelo, sustentando que somente até outubro/2014 a troca


de uniforme in loco era obrigatória, limita o pedido nos seguintes termos:

Assim, imperiosa a reforma do r.


julgado de origem a fim de condenar a ré ao pagamento de
horas extras relativo ao tempo a disposição base de
15min06seg diários desde o período imprescrito até 31/10
/2014 gasto com deslocamento interno + uniformização
obrigatória + 10min diários com café e higiene pessoal, e de 01
/11/2014 até a demissão com 12min16seg com deslocamento
interno + 10 minutos diários com higiene pessoal/café, com
os adicionais pleiteados na inicial (50 e 100%) e reflexos em
aviso prévio indenizado, DSR, férias +1/3, 13º salário, FGTS,
multa de 40%,inclusive com a aplicação da OJ 97 da SDI-1 do
C. TST, como requerido em inicial."

Com razão.

Em audiência de instrução a testemunha da reclamada, única


ouvida na instrução, confirmou parcialmente a tese autoral ao asseverar, com respeito
ao lanche tomado nas dependências da empresa:

"[...] que a maioria dos trabalhadores


toma café da manhã na empresa; que não sabe dizer se o
Reclamante estava com a maioria ou se nunca tomou café da
manhã na empresa; que o depoente tomava café da manhã;
que o tempo entre consumir café e fazer a higienização antes
de bater o ponto é de cerca de dez minutos."

Em sua peça de defesa, a ré juntou laudo de inspeção judicial


(ID. ba7f773 - Pág. 12), datado de 11/11/2013, demonstrando que o tempo de

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deslocamento até a linha de montagem, com a troca de uniforme, era de 15 minutos


diários. Acrescentou que a partir de 1/11/2014, a uniformização na empresa passou a
ser facultativa, de forma que o tempo à disposição foi reduzido a 9 minutos.

Ficou demonstrada, portanto, a ocorrência de tempo extra a


serviço da empregadora, resultante da soma do tempo despendido com refeição (10
minutos) e com deslocamento e uniformização (15 minutos e, posteriormente, 9
minutos).

Deste modo, entendo que faz jus o autor à percepção de 25


minutos por dia de efetivo serviço como extras em face de se encontrar à disposição da
reclamada, até 31/10/2014, e 19 minutos diários, a partir de 1/11/2014, até a data da
demissão. Por consequência, determino o pagamento como extras de todas as horas
laboradas além da 8ª diária e 40ª semanal (esclarecendo-se desde logo que, quando do
cômputo das horas extras, aquelas prestadas além da 40ª semanal somente serão
apuradas após a dedução daquelas laboradas além da 8ª diária, evitando-se, portanto,
o bis in idem).

Para o cômputo das horas extraordinárias em questão utilizar-


se-ão os controles de jornada juntados ao feito.

O divisor a ser utilizado é o de 220 horas, observando-se,


outrossim, a incidência dos adicionais, de 50% para as horas extras.

Diante da habitualidade, são devidos reflexos sobre aviso prévio


indenizado, DSRs, férias mais 1/3, 13º salários e depósitos de FGTS (8%) e multa de 40%.

Altere-se.

3.3. Prequestionamento

A SBDI-1 do C. TST, através da Orientação Jurisprudencial n. 118,


sedimentou o seguinte entendimento:

"OJ-SDI1-118 PREQUESTIONAMENTO.
TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA N. 297 (inserida
em 20.11.1997)

Havendo tese explícita sobre a


matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela
referência expressa do dispositivo legal para ter-se como
prequestionado este".

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Por tal motivo, para todos os efeitos: 1) consideram-se


prequestionadas as matérias tratadas nesta decisão; 2) declara-se não haver violação a
qualquer dispositivo normativo delineado no bojo das razões recursais.

4. Conclusão.

ISSO POSTO, este relator decide conhecer do recurso interposto


pelo reclamante, ADILSON CANTEIRO, assim como rejeitar as preliminares arguidas
para, no mérito, dar-lhe parcial provimento a fim de condenar a reclamada ao
pagamento de horas extras e reflexos pelo tempo do trabalhador à sua disposição,
tudo conforme fundamentação, ficando os demais temas recorridos mantidos por seus
próprios e jurídicos termos.

Custas no valor de R$ 100,00, atualizadas de acordo com o novo


valor da condenação, ora arbitrado em R$ 5.000,00.

Partindo-se do princípio de que todos os temas recorridos


foram previamente questionados e apreciados de maneira efetiva, isso à luz do inciso
IX do artigo 93 da CF/1988, e nada obstante a faculdade prevista no artigo 897-A da
CLT, convém que as partes litigantes, cientes do dever mútuo de bem observar a
lealdade processual, atentem-se para as novas disposições contidas nos incisos IV, V, VI
e VII, todos do artigo 793-B da CLT, introduzidos pela Lei 13.467/2017.

RETIRADO DE PAUTA NA SESSÃO DE 10/08/21 POR


DETERMINAÇÃO DO RELATOR.

Sessão de julgamento extraordinária virtual realizada em 15 de


setembro de 2022, conforme previsão do inciso III, § 5º do art. 3º da Resolução
Administrativa nº 020/2019 deste E.TRT.

Composição: Exmos. Srs. Desembargadores Gerson Lacerda


Pistori (Relator), Thelma Helena Monteiro de Toledo Vieira (Presidente) e Juiz Alexandre
Vieira dos Anjos (atuando no gabinete da Exma. Sra. Desembargadora Maria da Graça
Bonança Barbosa, em férias).

Ministério Público do Trabalho: Exmo(a) Sr (a). Procurador (a)


Ciente.

Acordam os magistrados da 9ª Câmara do Tribunal Regional do


Trabalho da 15ª Região em julgar o processo nos termos do voto proposto pelo(a) Exmo
(a) Sr(a) Relator(a).

Votação unânime.

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GERSON LACERDA PISTORI

Desembargador Relator

CAMPINAS/SP, 24 de outubro de 2022.

ROGERIO FERNANDES DE OLIVEIRA


Diretor de Secretaria

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https://pje.trt15.jus.br/pjekz/validacao/22102415453292500000090575428?instancia=2
Número do processo: 0012082-53.2017.5.15.0122
Número do documento: 22102415453292500000090575428

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