Resumos de AP2
Resumos de AP2
Resumos de AP2
1 – AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
Métodos de avaliação:
Existem três grandes métodos de avaliação: entrevista (livre/não diretiva ou
estruturada, que pode ser classificada no grupo dos testes objetivos), testes projetivos e
testes objetivos. Os testes projetivos relacionam-se com a perspetiva idiográfica e clínica,
enquanto os testes objetivos se relacionam com a perspetiva nomotética e estatística. Os
testes projetivos têm boa correlação com comportamentos reais, enquanto os testes
objetivos se relacionam sobretudo com outros testes objetivos.
Os dois tipos de teste implicam processos cognitivos diferentes, pelo que as
diferenças nos resultados apenas mostram a complexidade do funcionamento psicológico.
Apesar de se levantar questões acerca da potência de predição de cada perspetiva, hoje
em dia, procura-se sobretudo a complementaridade.
Testes objetivos:
Os inventários de personalidade são testes de autorrelato que compreendem um
conjunto de itens verbais aos quais o paciente responde dentro de um grupo limitado de
opções de resposta. São testes com grande validade facial, em que o indivíduo
compreende as questões e responde em função daquilo que conhece de si mesmo (ex.: se
costuma ter insónias).
Atualmente, a maioria dos psicólogos utiliza testes objetivos em diferentes
contextos (clínica, recrutamento e seleção, investigação). No entanto, estes testes são
facilmente falsificáveis e são mais facilmente manipulados pelos sujeitos (ex.: candidatos
a emprego, indivíduos avaliados devido a problemas legais), já que possuem validade
facial, pelo que o avaliado percebe do que se trata e facilmente pode criar uma ficção –
levanta a questão da veracidade do autorrelato.
Entre os testes de personalidade objetivos mais utilizados encontram-se:
Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI), Teste 16PF de Cattell,
Personality Assessment Inventory (PAI), e Escalas de Millon (Inventário Multiaxial
Clínico de Millon, Millon Adolescent Personality Inventory, Millon Behavioral Health
Inventory).
Testes projetivos:
Estes instrumentos usam estímulos vagos e um formato de resposta livre para
obter uma amostra de comportamento verbal, a partir do qual se fazem inferências quanto
à estrutura psicodinâmica do paciente – não quer dizer que sejam subjetivos, mas partem
da exploração indireta. A validade facial é muito fraca (o indivíduo não compreende para
que é que aquilo serve) e os resultados dependem da capacidade de o indivíduo se projetar
no teste. Nestes testes não temos acesso apenas ao resultado final, mas também ao
processo de elaboração da resposta. No entanto, exigem boa formação dos profissionais.
A diferença entre os dois tipos de testes permite comparar como é que os
indivíduos se veem a si mesmos e como é que funcionam.
Entre as técnicas mais utilizadas nos anos 40 e 50 contavam-se: Teste de
Rorschach, Thematic Apperception Test (TAT), Utilização projectiva dos desenhos da
figura humana, Teste de Szondi, Make-A-Picture-Story Test (MAPS), Sentence
Completion Tests, Holtzman Inkblot Test, Teste de Zulliger e o Teste Patte Noire (PN).
Entre todos, aquele que continua a ser mais utilizado é o teste de Rorschach, devido ao
trabalho de Exner.
Entrevista:
A entrevista começou por ser uma conversa relativamente não estruturada com o
paciente, cujos objetivos eram obter a história de vida, avaliar a estrutura de personalidade
ou estabelecer um diagnóstico – entrevista livre ou não direta. No entanto, a entrevista
passou a ser vista como um procedimento subjetivo e pouco fiável quando alguns estudos,
especificamente o de Zubin, demonstraram a falta de validade dos diagnósticos
psiquiátricos baseados em entrevista (falta de validade inter-avaliador para um mesmo
paciente), o que afastou os clínicos da entrevista livre.
Desenvolveram-se, por isso, entrevistas estruturadas (que pode ser classificada
no grupo dos testes objetivos), que possuem boas qualidades psicométricas e são
ateóricas, pelo que potencialmente se adaptam a diferentes modelos conceptuais.
Direcionam e orientam a avaliação mais em função do cliente e de áreas específicas a
analisar. Entre as entrevistas estruturadas mais utilizadas encontram-se: Schedule for
Affective Disorders and Schizophrenia (SADS), Structured Clinical Interview for DSM-
III or DSM-III-R (SCID), e Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS), as quais foram
estabelecidas em conjunto com critérios de diagnóstico objetivos (ex.: do DSM).
A entrevista regressou com sucesso à avaliação psicológica, demarcando-se
bastante da entrevista livre. (1) A sua organização tende a ser estruturada e o
entrevistador, que deve ser um clínico com experiência, tem de obter certos itens de
informação, através de perguntas bem formuladas. (2) A entrevista deve responder aos
standards psicométricos de fidelidade e de validade. (3) As entrevistas estruturadas
tendem a ser ateóricas, mas baseiam-se em conhecimento científico contemporâneo de
psicopatologia (ex.: diagnóstico diferencial entre depressão e outras perturbações
afetivas). A entrevista é incontornável em psicopatologia, visto que, em última instância,
os testes de diagnóstico são validados face a julgamentos psiquiátricos. Assim, um teste
não poderá ser mais válido que uma entrevista, se a entrevista é o critério de validade.
O aumento de interesse pela entrevista estruturada ocorreu em paralelo com o
declínio das técnicas projetivas. Este declínio (na década de 60) deveu-se ao aumento
da sofisticação científica (ceticismo); ao desenvolvimento de instrumentos alternativos
(inventários de personalidade e escalas de autorrelato); e à ligação das técnicas projetivas
com algum dos ramos da teoria psicanalítica.
2 – UTILIZAR TESTES DE PERSONALIDADE
Revisão Histórica:
Os primeiros estudos sobre a Avaliação Psicológica remetem para a avaliação da
Inteligência e das características psicofísicas. Já alguns autores e poetas de outros séculos
focaram muito antes de nós na importância da noção de “pessoa única”, e este conceito
está ligado com o de Personalidade. A personalidade é um conceito com menos de 100
anos, ou seja, é um objeto de estudo da psicologia muito recente.
Allport (1937):
Fez uma revisão da literatura existente até à data, verificando que existiam mais
de 50 definições distintas para a noção de personalidade, propondo também a sua
definição: “personalidade como organização dinâmica, intra-individual, das forças
psicofísicas que determinam a sua adaptação ao seu meio.”
Enfatiza a importância da individualidade e da visão da pessoa como um todo e
frisa que a psicologia tem de lidar com a individualidade ao longo do ciclo de vida, indo
contra o pensamento da época que era muito mais voltado para a procura de leis universais
que explicassem globalmente o significado do comportamento humano (estas leis
universais visavam apontar apenas o que os homens tinham em comum).
Murray (1938):
Tentou uma abordagem diferente onde dava ênfase à importância do estudo de
casos, ou seja, estudou muito a individualidade da pessoa.
Elaborou o TAT através dos seus estudos de caso juntamente com a descrição do
individuo do seu próprio caso, da descrição de terceiros e da impressão que ele como
psicólogo tinha dos sujeitos. Esta era então uma perspetiva muito mais concreta e precisa.
Anos 40:
Confundiam-se os conceitos de avaliação psicológica e psicopatologia, o que foi
um grande erro. No início do sec. XX assistiu-se a uma preocupação apenas voltada para
as áreas da inteligência, aptidões, interesses vocacionais e nunca na pessoa como um ser
global.
Rapaport et al. (na Menninger Foundation) introduziram as baterias de testes,
assim como o conceito de psicodiagnóstico. Uma bateria de testes é algo muito completo
que permite fazer uma avaliação da inteligência e personalidade. Era maioritariamente
comporta por testes projetivos que avaliam os sujeitos na sua globalidade, integrando
cognição e emoção numa visão global. Até esta altura, a Avaliação Psicológica era
considerada um diagnóstico psicológico (mais uma vez mostrando a confusão com a
psicopatologia), porque só existia a preocupação de tratar as pessoas. Esta perspetiva
mostrou-se muito desumanizante e apenas contribuía à atribuição de etiquetas sociais.
O conceito de psicodiagnóstico distingue-se do conceito de diagnóstico
psicológico, já que o psicodiagnóstico se refere a um termo mais abrangente, que vai além
de uma etiqueta e consiste num procedimento multi-teste desenhado para avaliar a pessoa
como uma entidade única. Já o diagnóstico psicológico diz respeito a uma perspetiva
médica de identificação de sintomas e uma visão nosográfica. O termo psicodiagnóstico
evoluiu mais tarde para a noção de Avaliação Psicológica, que tem como objetivo a
compreensão do funcionamento psicológico onde os sintomas não são o principal nível
de disfuncionalidade. Este processo psicodiagnóstico teria como consequência um plano
de intervenção/tratamento.
Anos 50:
Emergem duas posições: (1) orientação empírica, que defende o estudo dos traços
individuais e a relação de cada um com o comportamento; (2) que aceita as ideias básicas
do grupo anterior sobre os traços, mas argumenta que os traços não podem ser
conceptualizados como um grupo de características independentes. Estes últimos
preferem pensar na personalidade como entidade unitária. O traço é um conceito
descritivo, não explicativo, que deve ser pesado em função da sua força ou importância
na economia psicológica individual.
No final dos anos 50, emerge o comportamentalismo radical e o conceito de caixa
negra – não existe personalidade e, mesmo que exista, não é passível de ser medida
através de testes psicológicos (crise do diagnóstico). A influência que este movimento
exerceu até anos 70 manifestou-se na decadência de programas de formação em avaliação
da personalidade, que gerou psicólogos que não sabiam avaliar, e na utilização de um
processo terapêutico orientado para o sintoma (sintoma confundido com a própria doença,
pelo que eliminar o sintoma eliminaria a própria doença). A ideia era que, uma vez
identificada a constelação de sintomas, bastava atribuir um tratamento específico (modelo
médico: identificação do sintoma leva automaticamente a um tratamento), processo que
negligenciava o indivíduo como entidade única. No entanto, esta abordagem teve o mérito
de conseguir intervir com pessoas com problemas de comunicação (ex.: autistas), o que
os outros modelos ainda não tinham conseguido.
Caso A:
Secretária numa empresa de contabilidade separou-se recentemente após 4 anos
de casamento. A avaliação da personalidade indicou uma pessoa defensiva, mas com
recursos disponíveis substanciais, com a capacidade tolerância ao stress e de controle
estrutural semelhante ao da maioria das pessoas, que se sente em estado de sobrecarga
devido ao stress situacional (separação). Esta sobrecarga provocou um potencial de
impulsividade que se manifesta mais na expressão emocional do que no pensamento.
Muito do seu stress está relacionado com a perda emocional recente. Muito focada sobre
si (narcisista) com tendência para sobrestimar o seu valor pessoal e vulnerável à rejeição
interpessoal. Externaliza a responsabilidade, sobretudo em acontecimentos negativos.
Pode ver rejeições como insultos devido ao seu autoconceito irrealista e desequilibrado.
Tem uma orientação dependente forte, ficando com uma ligação hostil-
dependente com os outros. Sente insegurança na relação com os outros, que tenta gerir
usando uma abordagem intelectual e autoritária. Muito emocional, muito auto-focada,
vulnerável à rejeição interpessoal, experiencia pânico e ansiedade em resposta a situações
em que as suas operações de coping não fornecem um controle adequado.
Caso B:
Designer de vestuário de uma companhia de teatro. A avaliação da personalidade
indicou uma pessoa conservadora, prudente que se sente insegura consigo e com a modo
de lidar com o mundo. Tem dificuldades em lidar com a ambiguidade e a complexidade
e desenvolveu uma orientação de coping e de tomada de decisão de modo a manter tudo
o mais simples possível para poder gerir.
Pessoa muito ideativa, consagra muito do seu pensamento à fantasia para evitar o
stress da realidade. Muito vulnerável à desorganização mesmo em situações de rotina,
porque tem poucos recursos disponíveis, tem dificuldade em processar informação nova
e tem muito medo de que os seus sentimentos possam desorganizar a sua capacidade de
tomar decisões. Tenta evitar situações com carga emocional principalmente naquelas em
que o relacionamento interpessoal se torna mais significativo.
Psicologicamente pobre, fácil, que tenta simplificar um mundo que ela sente como
demasiado complexo, interessa-se pelas pessoas e o modo como as tenta compreender
baseia-se mais na fantasia do que na experiência real. Gostaria de relações mais próximas,
mas tem medo dos sacrifícios em prol da relação. Vive um estado de ansiedade com
episódios de pânico quando ocorrem situações que ameaçam os seus recursos emocionais
limitados.
Conclusão:
Com os mesmos sintomas e o mesmo diagnóstico, estes dois casos seriam tratados
da mesma forma. No entanto, a avaliação da personalidade revelou que estamos perante
duas pessoas muito diferentes, com autoconceitos diferentes, relações interpessoais
diferentes, quantidade de recursos disponíveis e controles diferentes, desenvolvimentos
diferentes, gestão de emoções diferente que necessitam de estratégias de intervenção
adequadas à especificidade de cada um destes casos, para ultrapassar as dificuldades
utilizando as capacidades e os recursos disponíveis em cada situação.
3 – PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
Contextos teóricos:
Objetivo Teste Perspetiva
Perturbação de Psicodinâmica
Rorschach
comportamento Percetivo-cognitivo
História de caso Entrevistas; narrativas Personológica
Dimensões da Multivariada
NEO-PI-R
personalidade normal (psicométrica)
Empírica (empirismo
Patologia MMPI-2
realista)
Qualidade das relações Interpersonal Adjective
Interpessoal
interpessoais Scales
Instrumentos de avaliação:
Neste tempo, os psicológicos eram vistos como administradores de testes. Numa
primeira fase só mediam o QI (gostavam de ser tratados como técnicos), mas depois
começaram a fazer testes de avaliação psicológica propriamente dita, através de alguns
dos seguintes instrumentos – baterias multi-testes (testes projetivos e estruturados):
Rorschach (projetivo)
TAT (projetivo)
Teste de Associação de Palavras (projetivo)
WAIS (estruturado) – teste de inteligência para crianças
Teste de Babcock de Eficiência Mental (estruturado) – avalia a eficiência mental
Teste de Triagem de Formação de Conceito, de Goldstein (estruturado)
Teste de Hanfmann-Kasanin de Formação de Conceito (estruturado) – mais
aprofundado
Usavam uma perspetiva psicodinâmica sobre o funcionamento adaptativo do ego, e para
isso enfatizavam os processos de pensamento e o funcionamento cognitivo da pessoa.
Princípios interpretativos:
1) Hipótese projetiva:
o Existe uma perspetiva anterior a esta hipótese que diz que o que se
projecta é patológico (ex.: Freud diz que o sentimento de perseguição
está ligado à culpabilidade, desejos de agressividade, etc.). Mais tarde,
surge a hipótese projetiva onde, em alguns testes (ex.: psicodrama) com
material relativamente ambíguo, era possível que a pessoa projetasse,
sem se aperceber, aspetos da sua personalidade. Esta perspetiva não era
como a de Freud, pois não dava um sentido negativo a tudo. Por
exemplo, no TAT há apenas uma fotografia e os indivíduos formam uma
história. Diferentes pessoas falam do cartão com certos pontos em
comum, mas há também grandes diferenças. A hipótese projetiva diz que
qualquer manifestação de comportamento humano é reveladora da
personalidade do sujeito. Ou seja, qualquer tipo de comportamento pode
revelar indicadores da personalidade e das características especificas que
tornam cada pessoa única.
o Contudo, no caso da Avaliação da Personalidade, o uso de tais testes não
encontrava muito consenso, considerando-se que era demasiado
ambíguo, e, segundo a hipótese projetiva, os indicadores estariam em
todo o lado e em lado nenhum. O autor do teste de Rorschach decidiu,
portanto, ir mais além, aprofundado um teste projetivo num teste que não
deixa de ser projetivo mas que tem uma codificação própria. As escolhas
num teste de Rorschach são diferentes do TAT (no TAT interpreta-se a
figura com a qual o sujeito se identifica).
3) Ajustamento psicológico.
Quadro concetual:
É uma abordagem multiforme (muitos avaliadores, muitos testes) e é
holística/organismica, isto é, estuda as vidas ao longo do tempo – Murray (1938).
Assim, este quadro conceptual foi pensado como um sistema de integração em vez de
ser uma teoria completa, preocupando-se mais com o sistema operacional.
Introduziu o conceito de ciclo de vida – segundo estes autores, o ciclo de vida do
individuo é a maior unidade de estudo. Para estudar isto, os autores introduziram
diferentes unidades de tempo de duração e complexidade variáveis, desde o episódio
único até à unidade-tema (motivo central da vida). Um tema pode ser compreendido em
termos da interação necessidades-pressão.
Erik Erikson desenvolveu a Teoria Psicodinâmica de Desenvolvimento da
Personalidade tendo em conta estádios de desenvolvimento psicossocial ao longo de
toda e isto foi importante para o desenvolvimento de psicobiografias (Gandhi e Luther
King).
Vários autores continuam a desenvolver estas teorias, considerando-se neo-eriksonianos
(Teoria neo-Eriksoniana de McAdams, 1993) e têm em conta conceitos teóricos e meta-
teóricos.
Instrumentos de avaliação:
Para a construção de uma psicobiografia, há autores que dizem que a história do
individuo deve ser tida em conta, não havendo um instrumento único para esta recolha e
sendo, por isso, usadas várias metodologias - “não há um método de recolha individual
assim como não há um método de investigação próprio (…) as histórias de vida podem
ser recolhidas por autorrelato, investigação em arquivos, investigação longitudinal, etc.
Podem usar-se vários instrumentos e várias teorias”.
Certos autores defendem ainda diferentes níveis na organização da vida – os mais
universais (leis gerais) e os mais específicos.
Reconhece-se então a necessidade de se usarem self-reports e a importância de um
conhecimento multimetodológico no estudo das vidas (pluralismo metodológico na
psicobiografia).
Aparecem então 25 procedimentos diferentes de avaliação:
Autobiografia (Murray)
Hipnose (White)
Nível de aspiração (Frank)
Produções dramáticas (Erikson)
Rorschach (Beck)
Vários formatos de entrevista, com métodos retrospetivo, introspetivo e
qualitativo
TAT
Princípios interpretativos:
O estudo deste ponto foi sistematizado por Alexander (1990), que organizou o material
significativo consoante 9 critérios:
1) Primazia – o que acontece em primeiro lugar, mais relevantes
2) Frequência – o que acontece muitas vezes
3) Singularidade – o que acontece raramente
4) Negação – o que é negado completamente
5) Ênfase – o que sobrevalorizado e subvalorizado
6) Omissão – o que é retirado
7) Erro ou Distorção – erros fatuais ou atos falhados
8) Isolação
9) Incompletude – o que não é acabado ou tem falhas
Quer saber-se as motivações do cliente, com quem se identifica, que aspetos
significativos foram mencionados consciente e inconscientemente, etc.
Atualmente, começa a haver novamente um interesse pelo estudo da pessoa total
tentando compreender a personalidade normal sem estarmos só preocupados com a
psicopatologia. Estudam-se historias de vida como sendo discrições verídicas do que
aconteceu à pessoa, reconhecendo-se que a avaliação da personalidade é feita a um nível
de psicodiagnostico e não de diagnostico.
Quadro concetual:
O quadro conceptual está ligado a diversos fatores relacionados com a teoria do traço,
teoria lexical, socio-analítica, interpessoal, etc.
Nesta perspetiva tentou-se fazer um levantamento de todos os termos que podem
descrever a personalidade. Ex: termos de linguagem “normais” podem exprimir
emoções ou motivos para um certo comportamento
Conseguiram identificar-se 5 dimensões ligadas à personalidade.
Instrumentos de avaliação:
Neo-pi-r – este teste tenta ver diversos aspetos da personalidade como a amabilidade,
relação com os outros, consigo mesmo, consciência do próprio individuo, neuroticismo,
introversão, etc. - Cattel 16 Personality Factor – Foi adaptado ao modelo dos 5 fatores
na sua ultima revisão
Hogan Personality Inventory
Personality Research Form
Princípios interpretativos:
Esta perspectiva baseia-se nas diferenças na interpretação dos diferentes instrumentos
nomeadamente diferenças de conteúdo ou diferenças nos métodos de correlação
factorial.
No entanto, Cattell referia 16 traços (foi depois acusado de identificar demasiados
fatores) e Eysenck apenas 3. Com esta discórdia, encontrou-se depois o ponto médio de
5 fatores – modelo de 5 fatores.
Por um lado, certos autores promoveram este teste mas, por outro lado, houve muitas
críticas em relação ao modo como o teste foi construido e elaborado.
Assistiu-se a uma associação entre o MMPI e uma predição clinica (perspetiva
idiográfica), contrária à estatistica (perspetiva nomotética)
Esta perspetiva empírica permitiu fazer um salto das categorias tipológicas para
dimensões contínuas de traço, validade discriminante, etc. para a validade de construto
de escalas.
Quadro concetual:
Estudou-se o significado das respostas do sujeito aos itens dos testes objetivos
estratégia racional
estratégia empirica
estratégia construtiva – resposta do sujeito é vista como uma manifestacão de
um construto de personalidade embrenhado numa rede de leis, isto é, está ligada
a aspetos de validade de construto. * estratégia interpessoal
Instrumentos de avaliação:
MMPI – tem um grande número de itens – isto tem um grande contra porque exige um
bom nível de literacia; demora muito tempo.
Vantagens: tem várias escalas de controlo das respostas do sujeito; tenta avaliar também
a consistência de resposta, etc.
Princípios interpretativos:
ESTRATÉGIA EMPÍRICA – mais usada no inicio para ajudar os psiquiatras a
diferenciar os pacientes
ESTRATÉGIA CONSTRUTIVA – Perspetiva da reinvenção do MMPI, tentando
evoluir para uma perspetiva orientada para o construto, obtendo-se resultados em
formas de configurações de perfis (e não apenas de valores).
ESTRATÉGIA INTERPESSOAL
Apesar de todas as críticas, nota-se que houve uma evolução grande não só ao nível do
teste MMPI, mas também ao nível de toda a perspectiva. Antes, os autores que
defendiam o MMPI eram totalmente contra as escalas de auto-relato mas agora
conseguiram um acordo.
Quadro concetual:
A personalidade é nada mais, nada menos, que regularidades padronizadas do que pode
ser observado nas relações de um individuo com outras pessoas, que podem ser reais no
sentido de actualmente estando presente, real mas ausente, e “personificado” ou
“ilusório” (Carson).
Instrumentos de avaliação:
IAS – escalas de adjetivos interpessoais
IIP – inventario de problemas interpessoais
IMI – Inventario do impacto de mensagens
Relaciona tudo com a teoria da comunicação, porque os indivíduos perturbados não têm
consciência das respostas que dão aos outros e sentem-se confusos quando os outros
lhes dão respostas negativas. O MMPI ajuda a identificar padrões de respostas que
podem ser negativas da parte do sujeito e ajuda a perceber o estilo interpessoal do
doente (dominante, amigável, submisso, amigável-submisso, etc.).
Princípios interpretativos:
Existe um sistema circunflexo (ver esquema) que vai desde o dominante ao submisso
(vertical). A parte horizontal é ligada aos indivíduos emocionalmente frios ou quentes.
As combinações dos eixos permitem identificar diversos tipos de indivíduos.
1.6 Conclusões
Há 5 focos principais de causas de comportamento. Ex.: Freud dizia que devíamos olhar
para o implícito para perceber o que o indivíduo fazia e porquê que o fazia.
Os instrumentos que foram criados num certo contexto podem ser usados por
psicólogos para tentar avaliar aspectos diferentes. Um teste evolui muito se não ficar
sempre preso à perspectiva na qual é criado. Ex.: o teste de rorschach partiu da
psicanalise mas ganhou muito com a perspectiva empírica.
Objectivo da aula: promover a consciência das fundamentações teóricas de cada
instrumento e saber as conceptualizações dos diferentes testes. Nenhum teste é perfeito
e nenhum consegue responder a todas as perguntas que se tem sobre a personalidade.
Devem conjugar-se os aspectos positivos e negativos de cada teste para podermos
complementar uns com outros, de modo a avaliar o cliente.
4 – AVALIAÇÃO DO RISCO DE AGRESSÃO E VIOLÊNCIA
Definição de agressão:
Em termos legais ou em diferentes contextos pode haver diferenças sobre a
definição de agressão. Pode aceitar-se que existem comportamentos agressivos indiretos,
latentes, inconscientes ou passivos, mas temos de nos focar na agressão humana aberta,
direta e intencional.
Isto é, agressão é um comportamento físico ou verbal que pode provocar
aflição, dor ou ferimentos, ou prejudicar a sua propriedade ou reputação.
Contexto da avaliação:
O contexto físico e o psicológico são particularmente importantes na avaliação do
risco − avaliação do potencial de um indivíduo ou grupo se envolver em agressão ou
violência em várias situações.
O contexto físico (local de avaliação) é sempre importante – neste caso, trata-se
da avaliação de pessoas potencialmente perigosas, podendo haver riscos de agressão para
o psicólogo. Esta avaliação pode ser conduzida em prisões ou áreas fechadas de
psiquiatria, podendo estar presentes um terceiro, guarda, advogado, procurador, etc. Pode
acontecer que o psicólogo não chegue a ver o sujeito que está a avaliar, no caso da análise
de documentos escritos ou outros.
O contexto psicológico e legal pode impor constrangimentos à avaliação. A
pessoa avaliada tem sempre um grande interesse nos resultados, o que pode colocar o
psicólogo e o sujeito numa relação de adversários, o que não acontece na maioria dos
contextos de avaliação psicológica. A questão “quem é o cliente” deve ser muito bem
compreendida pelo psicólogo (habitualmente o cliente é o sistema judicial), que o deve
comunicar ao sujeito, assim como os seus direitos de participar ou não voluntariamente,
para que este possa tomar uma decisão informada quanto à sua participação (a avaliação
pode ser recusada pelo sujeito, o que terá consequências para si). Como este ato
psicológico pode ter consequências legais para o psicólogo, este deve guardar todos os
seus registos e documentos, resultados de avaliação e até pode ser necessário realizar e
arquivar vídeos das entrevistas e de toda a comunicação com o sujeito avaliado. No caso
de uma avaliação incorreta do risco, as famílias das futuras vítimas poderão processar o
psicólogo.
A álgebra da agressão:
A álgebra da agressão é um quadro conceptual que especifica os determinantes
complexos do comportamento agressivo, tendo sido desenhado para ajudar os clínicos a
selecionar e integrar informação relevante na avaliação do risco de comportamento
perigoso: Rj.k = [Mj.k + H + Sf] – [Ij.k + Si]. Ou seja, a reação potencial para um ato
particular j direcionado ao alvo k (Rj.k) é igual à soma da motivação para um ato particular
j direcionado ao alvo k (Mj.k), da força do hábito (H) e de fatores situacionais favorecendo
a agressão (Sf) menos a soma da inibição contra o ato j direcionado ao alvo k (Ij.k) e de
fatores situacionais impedindo ou interferindo com a agressão (Si).
Força do hábito:
O reforço das respostas agressivas aumenta a força do hábito, que é o segundo
fator mais importante que leva à agressão, sobretudo quando é bem-sucedida. A força do
hábito é o melhor preditor da agressão: quanto mais longo e forte for o historial de
agressão, maior a probabilidade de a pessoa se comportar da mesma forma no futuro.
Pode ser avaliada através do historial de comportamentos agressivos.
Risco potencial:
Se as instigações, a força do hábito e os fatores situacionais que favorecem a
agressão forem superiores às inibições e aos fatores situacionais que desfavorecem a
agressão, teremos risco de comportamentos agressivos ou de violência, tanto maior
quanto for a diferença desta equação. Em caso contrário, não teremos risco de agressão.
Numa dada situação, todas as possíveis respostas do sujeito (violentas e não violentas)
estão em aberto: aquela com mais potencial de reação (maior capacidade de satisfazer
mais necessidades com menor custo) é a escolhida.
Na avaliação retrospetiva, é óbvio que o ato agressivo que foi feito era o que
tinha mais potencial de reação. O objetivo do psicólogo é compreender o ato (ex.: se os
amigos encorajaram o comportamento desviante, se as crenças cognitivas indicaram que
a agressão era a alternativa mais honrada), de forma a desenvolver uma intervenção para
eliminar a recorrência, aumentar as respostas aceitáveis e baixar o potencial de reação do
comportamento agressivo.
Na avaliação prospetiva, a tarefa do psicólogo é determinar a amplitude de
respostas possíveis e calcular o seu potencial de reação relativo, também em função de
elementos situacionais. O psicólogo deverá realizar predições sofisticadas sobre a
possibilidade de o sujeito iniciar comportamentos agressivos específicos em
circunstâncias diferentes.
5 – AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO
Dados estatísticos:
Em 2011 em Portugal, a taxa de suicídio por cada 100 mil habitantes era de 9.6 –
diferenciando os géneros, era 15.5 nos homens e 4.1 nas mulheres. A taxa de suicídio
consumado é superior nos homens, mas o número de tentativas é superior nas mulheres.
Quanto maior a idade, maior o risco de suicídio, mantendo-se, nas faixas etárias mais
velhas, a grande diferença entre homens (em 2009, 15-24 anos: 6.7; 45-54 anos: 19.8;
+75 anos: 60.1) e mulheres (em 2009, 15-24 anos: 1.4; 45-54 anos: 5.6; +75 anos: 10.7).
Em Portugal, o suicídio é mais elevado no Alentejo, sobretudo em homens idosos.
A taxa de suicídio aumenta durante crises económicas e diminui em períodos de guerra.
Face aos outros países, Portugal tem uma taxa relativamente baixa (mais alta – Lituânia
42.1; mais baixa – Grécia 2.9). A taxa de suicídio entre doentes mentais e físicos
ultrapassa a da população geral. No entanto, a estimativa do número de suicídios
devido a perturbações psiquiátricas varia muito (ex.: entre doentes maníaco-depressivos
estará entre 15-55%).
Definição:
O comportamento suicida é a emergência de saúde mental mais frequente. O
suicídio consiste na tentativa premeditada, deliberada, de pôr termo à vida. É qualquer
tipo de comportamento que tenha como objetivo terminar com a própria vida, havendo
uma maior incidência em adultos do sexo masculino.
O para-suicídio engloba comportamentos de risco que colocam em causa a vida,
e tem uma taxa superior à do suicídio. É um ato não fatal, na sequência de um
comportamento invulgar, protagonizado por um indivíduo, sem a intervenção de outrem,
que provoca auto-lesão ou a ingestão de uma substância em sobredosagem para além do
prescrito ou de ser reconhecida como terapêutica, e que visa mudanças desejadas pelo
indivíduo, quer através desse ato, quer através das suas consequências físicas. Este termo
foi adotado para caracterizar atos de auto-destruição que não conduziram à morte ou nos
quais não se encontrava presente a intenção de morrer, havendo uma maior incidência em
jovens e mulheres.
As tentativas de suicídio podem ser um pedido de socorro. A ideação suicida pode
ser consciente ou não, e, apesar de ser fácil de avaliar com testes psicológicos, isso não
garante que a pessoa irá tentar realmente suicidar. Existe uma diferença abissal entre a
proporção de pessoas com ideação suicida e a proporção de tentativas de suicídio. Podem
ainda definir-se tipos específicos de suicídio: suicídio-autodestruição, quando a pessoa
não encontra mais nenhuma saída, suicídio-glória ou heroico, que é uma forma de salvar
a honra (principalmente em sociedades orientais), e suicídio relacionado com a religião,
como sacrifício em prol da comunidade ou de ideal.
Não existe uma explicação simplista para o suicídio. Entre os fatores conhecidos
encontram-se: predisposição biológica, reação à humilhação, desamparo/solidão/falta de
apoio, desespero (a melhor avaliação são testes que medem o desespero), culpa, fuga à
dor física ou psicológica (uma das causas mais frequentes), expressão de raiva violenta
(dirigida contra si próprio num momento impulsivo), reação à separação da família ou ser
amado (física ou afetiva), erotização da morte, e realização estética do sacrifício
patriótico.
Motto (1998) diz que a avaliação do risco de suicídio melhora com a experiência
clínica e que deve haver supervisão no trabalho com pacientes suicidas. Rosenberg (1997)
refere que a literatura indica estratégias baseadas na ação (avaliação dos fatores de risco
e intervenções diretas como hospitalização), mas faltam estratégias específicas para lidar
com a dor emocional do paciente com ideação suicida.
Rosenberg propôs um modelo de formação da avaliação do suicídio e intervenção:
1) Modelo de formação sistemático tendo em conta os princípios da especialidade
(expertise) e da psicologia cognitiva.
2) Fornece formação e treino para desenvolver competências de avaliação enquanto
outros programas se focam em ensinar como realizar entrevistas.
3) Estratégias de intervenção baseadas no afeto ou em sentimentos, com o objetivo de
visar pensamentos ou sentimentos latentes de suicídio.
Estabilidade da personalidade:
Um dos pressupostos da avaliação objetiva da personalidade é que as
características de personalidade medidas são estáveis. De facto, a estabilidade temporal
dos testes de personalidade encontra-se entre 0.5 e 0.7. Apesar destes valores serem
elevados, há determinadas variáveis que afetam a estabilidade das medidas de
personalidade – é importante tentar compreender as mudanças normativas da
personalidade:
1) A influência das características dos instrumentos, nomeadamente o número de
itens e a homogeneidade da escala.
2) A duração do intervalo de reteste, sendo que a personalidade parece ser mais
estável em intervalos curtos do que em intervalos longos (no entanto, isto pode
dever-se ao facto das pessoas se lembrarem e repetirem as respostas).
3) A operacionalização da personalidade, dado que a maioria dos testes mede
traços que são, por definição, estáveis e duradouros, e que as instruções e o
vocabulário usado nos itens estimulam as pessoas a fazer generalizações sobre si
próprias. Assim, a personalidade poderá parecer estável já que os seus construtos
são conceptualizados e medidos como estáveis.
4) A diferente estabilidade dos construtos de personalidade. Medidas de
psicopatologia apresentam menos estabilidade do que medidas de personalidade
normal (no entanto, isso poderá dever-se ao facto das primeiras estarem mais
sujeitas a desejabilidade social e a aquiescência). Por outro lado, medidas
relacionadas com a depressão têm baixa estabilidade (as pessoas que se sentem
mal tenderão a procurar mudar a sua personalidade) e medidas relacionadas com
a socialização têm elevada estabilidade.
5) Características pessoais dos indivíduos avaliados, havendo grandes diferenças
individuais na estabilidade da personalidade. Estudos afirmam que ocorrem
poucas mudanças de personalidade após os 30 anos, não apontam diferenças entre
homens e mulheres e indicam que pessoas mais rígidas tem características de
personalidade mais estáveis.
Estratégia teórico-racional:
Pode-se selecionar racionalmente itens para uma escala, não por se estar
interessado na resposta ao próprio item (estratégia racional), mas porque se pensa que a
resposta está relacionada com um construto que interessa, isto é, que o comportamento
medido pelo item está relacionado com um dado traço de personalidade.
Testes projetivos:
Frank cunhou o termo técnica projetiva para descrever testes que usam estímulos
ambíguos para permitir ao indivíduo expressar as suas formas características de perceber
e organizar as experiências. Quando os estímulos são ambíguos e não existe uma resposta
pronta, a singularidade da forma de responder do indivíduo torna-se evidente, já que há
múltiplas formas de abordar a tarefa e a pessoa deve organizar ativamente a resposta. Um
pressuposto central dos testes projetivos é que os estímulos do ambiente são percebidos
e organizados pelas necessidades, motivações, sentimentos e estruturas cognitivas
específicas do indivíduo, e que uma grande parte deste processo ocorre automática e
inconscientemente.
Os testes projetivos operacionalizam a hipótese projetiva através de um estímulo
relativamente ambíguo em que o sujeito vai ver objetos (Rorschach) ou contar histórias
(TAT, CAT, RATC, PN, Era Uma Vez...). Isto irá revelar processos de personalidade e o
seu funcionamento psicológico, nomeadamente a gestão de conflitos, emoções,
capacidades cognitivas, como se vê a si próprio, qualidade das relações interpessoais,
gestão das emoções, motivação, assim como indicadores de psicopatologia entre os quais
a depressão, potencialidade de suicídio e alterações graves do pensamento.
Durante várias décadas, as técnicas projetivas foram consideradas como estando
ligadas à psicanálise e privilegiando uma perspetiva ideográfica da avaliação. Segundo
Allport, esta perspetiva afirma que cada individuo é um ser único, diferente de todos os
outros e que a avaliação psicológica deve incidir sobre os elementos que tornam aquele
individuo o único ser da sua espécie – análise intra-individual. Contrasta com a
perspetiva nomotética, que afirma o contrário, que todos os indivíduos têm uma
semelhança notável entre eles e que a avaliação deve incidir sobre aquilo que torna as
pessoas parecidas. Trata-se de uma análise inter-individual onde se privilegia os dados
normativos e os resultados de grupos em relação aos quais se irão comparar os resultados
do indivíduo.
Nenhuma destas perspetivas está totalmente certa ou errada, e o ideal seria
conseguir avaliar o individuo conseguindo compreender tudo o que o torna único e ao
mesmo tempo igual ou semelhante aos outros. Este objetivo pode ser realizado através da
utilização complementar de vários testes. O Teste de Rorschach e o RATC conseguem
dar uma resposta bastante boa, devido aos estudos normativos.
Alguns testes projetivos são Thematic Apperception Test (TAT), Children’s
Apperception Test – Animal (CAT-A), Children’s Apperception Test – Human (CAT-
H), Senior Apperception Test (SAT), Teste Patte Noire (PN), Robert’s Apperception Test
for Children (RATC), Era uma vez…, Teste de Rorschach.
Contextos de utilização:
Qualquer técnica projetiva pode ser utilizada com adultos e crianças, desde que
estas tenham uma capacidade mínima de comunicação. A avaliação psicológica, para se
realizar, pressupõe uma necessidade de compreensão do funcionamento psicológico
(incluindo pontos fortes e fracos), para se poder planificar uma intervenção com o
objetivo de resolver um problema.
Resultados possíveis:
Permitem obter a compreensão do processo, em vez de se ter apenas acesso ao
resultado final. Além disso, informam sobre a qualidade das relações interpessoais, auto-
perceção, gestão das emoções, conflitos, agressividade, capacidade de controlo do
comportamento e tolerância ao stress, processamento de informação, mediação cognitiva
e ideação.
Informam também sobre eventuais patologias: problemas de julgamento,
distorção percetiva, alteração da ideação; depressão, potencialidade de suicídio e
problemas afetivos; problemas de relacionamento interpessoal, fragilidade da
autoimagem e da autoestima; obsessividade; e tendências paranoides.
Utilidade:
Em complemento com outro tipo de testes, como testes de nível, escalas de
autorrelato e inventários, os testes projetivos permitem uma compreensão do
funcionamento psicológico para tornar possível a planificação de uma intervenção eficaz
e adaptada à especificidade de cada cliente.
Problemas:
No entanto, os testes projetivos apresentam algumas limitações, como o facto de
algumas provas não terem estudos normativos atualizados, e os problemas de validade de
algumas interpretações que não se apoiam em estudos empíricos.
Hipótese projetiva:
O objetivo das técnicas projetivas é de fornecer uma tarefa que permita ao
individuo de exprimir formas de perceber e organizar experiências. O estilo individual é
evidente quando o estímulo é ambíguo e não há respostas prontas. Os estímulos do meio
são percecionados e organizados pelas necessidades específicas, pela motivação,
sentimentos, quadros percetivos e estruturas cognitivas.
Na psicologia cognitiva ganhou importância o conhecimento das estruturas
organizadas de significado como os esquemas. No paradigma psicodinâmico a
emergência das relações de objeto, apoiam-se em estruturas internas semelhantes ao
esquema para guiar a informação sobre o self e os outros.
Existem dois aspetos das estruturas de memória de longo prazo (esquemas) que
são importantes na interpretação das respostas nas técnicas projetivas: o conhecimento
processual e o conhecimento declarativo.
O conhecimento processual trata-se de processos inconscientes ou capacidades
como a estrutura da linguagem, a organização musical ou outras regras implícitas que
ordenam a informação ou a perceção. Já o conhecimento declarativo trata-se de
estruturas esquemáticas que implicam a recuperação de informação factual tais como
nomes, datas, localizações e eventos históricos.
As respostas nas técnicas projetivas revelam a organização implícita do
conhecimento assim como o conteúdo que entra na consciência em resposta aos estímulos
apresentados. A interpretação deve-se focar na organização dos esquemas examinando os
aspetos estruturais das respostas e a sequência das ideias expressas, assim como a análise
do conteúdo.
Motivação:
A motivação deve ser compreendida em relação a dois ingredientes: (1) o objetivo
ou intenção; e (2) a capacidade autorregulatória para manter o objetivo de forma
sustentada.
O esforço sustentado é facilitado pelo interesse e o prazer na atividade. Caso
contrário, seria necessária uma forma programação de incentivos externos. Deve-se
compreender as lacunas entre os objetivos ou intenções declarados da pessoa e os recursos
autorregulatórios.
Testes de personalidade de autorrelato vs. projetivos:
As medições através de autorrelatos (autoatribuição) e as inferências a partir de
material projetivo (implícito) não são equivalentes. Os autorrelatos podem fazer a
predição de comportamento quando estão a operar incentivos sociais ou quando a situação
está estruturada para incitar a resposta. Tanto a utilização de métodos diretos e indiretos
é útil na avaliação da personalidade, dependendo do propósito, e a utilização de ambos
fornece o quadro mais preciso:
Métodos diretos: observação do comportamento, inventários ou entrevistas.
Métodos indiretos: estímulos relativamente pouco estruturados, TAT, Rorschach
ou desenhos. A informação não é aparente e torna-se difícil manipular.
Os métodos diretos apresentam vários problemas, nomeadamente: (1) as
limitações no autoconhecimento impedem autorrelatos precisos; (2) os itens do teste são
suscetíveis de interpretação errada; (3) as situações da vida real não podem ser
representadas por itens de papel e lápis; (4) o desejo do cliente para gerir a sua imagem
requer a inclusão de escalas para detetar falsificação ou estilos de resposta; (5) os testes
produzem informação sem pistas para compreender a razão; (6) a relação entre traços nos
inventários e os comportamentos é complexa.
Avaliação psicológica:
Utilização de testes:
o Marca da psicologia clínica.
o Distinção de outros profissionais.
Declínio de 1960 a 1990.
Tomada de decisão:
o Identificação do problema.
o Avaliação da gravidade.
o Avaliação da complexidade psicológica do cliente.
o Elaboração da estratégia de intervenção.
No futuro:
Quem paga (seguros de gestão de saúde, utilizadores, etc.) começa a pedir provas
de que o conhecimento obtido na avaliação psicológica contribui para a melhoria da
prestação de serviço terapêutico.
Os seguros de saúde nos EUA “pressionam” para que se passe de uma avaliação
com instrumentos multidimensionais (MMPI-2, Rorschach) para testes baratos, rápidos e
orientados para o problema.
Alteração de tendência para uma melhor utilização da informação obtida pela
avaliação psicológica para a tomada de decisões.