Resumos de AP2

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Uma avaliação psicológica impõe sempre intervenção, exceto em questões

puramente de investigação. É, portanto, importante adquirir competências para aplicar o


teste, bem como levá-lo até ao fim e articulá-lo com a intervenção.
É importante fazer uma avaliação psicológica, não apenas em momentos de crise,
mas quando o indivíduo está estabilizado, pois é assim que podemos obter informação
mais fidedigna relativamente ao estado de funcionamento do indivíduo.

Diagnóstico Psicológico vs. Avaliação Psicológica:


Durante muitos anos a psicologia só se preocupava com o diagnóstico, o que
levava à desumanização como resultado da etiquetagem daí advinda. A avaliação
psicológica vem combater esta etiquetagem.
Além disso, não existem diagnósticos puros, muito menos nos dias que correm.
Isto porque hoje em dia o nosso quotidiano é muito complexo (ex.: maior acesso à
informação), sendo nós constantemente influenciados pelo que nos envolve.

1 – AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE

Cada modelo psicológico tem a sua teoria de personalidade (ex.: “A personalidade


consiste em padrões de resposta persistentes de um indivíduo através de uma variedade
de situações. Compreende padrões de ação relativamente estáveis, muitas vezes
chamados traços, tendências disposicionais, motivações, atitudes e crenças que estão
combinadas numa auto-estrutura mais ou menos integrada.”).
Contudo, há aspetos comuns entre os vários modelos. Um aspeto geral a todos os
modelos é a diferenciação entre traços, que mudam devagar ao longo do tempo, e
estados, que mudam rápido. Há quem tente elaborar uma definição de personalidade
tendo em conta os pontos de acordo entre as diferentes teorias: “A personalidade pode ser
vista como relativamente estável. Pode mudar num período de tempo longo e uma pessoa
pode comportar-se adequada e de forma diferente em diferentes situações. Esta refere-se
a características importantes e duradouras de um indivíduo que exercem uma grande
influência no comportamento. Alguns aspetos da personalidade não são observáveis
como os pensamentos, memória e sonhos, enquanto outros são observáveis. Inclui ainda
aspetos inconscientes e conscientes”.
Quanto à estabilidade da personalidade, esta sofre influências por parte das
características dos instrumentos; da duração do intervalo de reteste; da operacionalização
da personalidade; da estabilidade dos constructos de personalidade; das características
pessoais dos indivíduos avaliados.
O objetivo da avaliação da personalidade é a descrição das pessoas, mas apenas a
descrição que se refere à personalidade. Não está relacionada com a aparência física ou o
funcionamento fisiológico, ou o comportamento como tal (O tipo de comportamentos não
é uma descrição da personalidade, mas a partir deles podem-se inferir caraterísticas de
personalidade), contudo está relacionada com os modos como a pessoa se comporta, os
seus humores, as situações e comportamentos que escolhe em oposição aos que evita. A
avaliação da personalidade realiza a descrição dos padrões de comportamento, não é
diagnóstico direto, este é inferido a partir da descrição de personalidade.
A avaliação da personalidade utiliza conceitos como intelecto, competências,
aptidões, atitudes, interesses, tipos ou padrões de comportamento e traços de
personalidade.

Não existe consenso entre os psicólogos quanto ao melhor método de avaliação


da personalidade, existindo duas grandes perspetivas: metodologia nomotética vs.
idiográfica, de acordo com Allport, ou predição estatística vs. clínica, de acordo com
Meehl.

Metodologias – Allport (1937):


Metodologia nomotética: procede a uma avaliação inter-individual, comparando
os resultados dos indivíduos com os de um grupo de referência (são comparados com
dados normativos). Pressupõe testes com fortes metodologias estatísticas, como testes de
autorrelato e inventários de personalidade, e tem como base teórica modelos
comportamentais.
Metodologia idiográfica: efetua uma avaliação intra-individual, encarando o
indivíduo como ser único no Universo, com características específicas e distintas dos
outros – procura aquilo que a pessoa tem de único. Está mais relacionada com estudos de
caso, e basei-ase em modelos humanistas.

Perspetivas de predição – Meehl (1954):


A predição a médio-longo prazo é muito difícil. A abordagem clínica usa uma
perspetiva mais idiográfica, enquanto a estatística usa mais a perspetiva nomotética.
Meehl sugeriu que a perspetiva nomotética dava uma melhor predição do comportamento,
contudo isto resultou numa grande polémica – com isto surgiram dois grandes grupos de
testes.

Métodos de avaliação:
Existem três grandes métodos de avaliação: entrevista (livre/não diretiva ou
estruturada, que pode ser classificada no grupo dos testes objetivos), testes projetivos e
testes objetivos. Os testes projetivos relacionam-se com a perspetiva idiográfica e clínica,
enquanto os testes objetivos se relacionam com a perspetiva nomotética e estatística. Os
testes projetivos têm boa correlação com comportamentos reais, enquanto os testes
objetivos se relacionam sobretudo com outros testes objetivos.
Os dois tipos de teste implicam processos cognitivos diferentes, pelo que as
diferenças nos resultados apenas mostram a complexidade do funcionamento psicológico.
Apesar de se levantar questões acerca da potência de predição de cada perspetiva, hoje
em dia, procura-se sobretudo a complementaridade.

Testes objetivos:
Os inventários de personalidade são testes de autorrelato que compreendem um
conjunto de itens verbais aos quais o paciente responde dentro de um grupo limitado de
opções de resposta. São testes com grande validade facial, em que o indivíduo
compreende as questões e responde em função daquilo que conhece de si mesmo (ex.: se
costuma ter insónias).
Atualmente, a maioria dos psicólogos utiliza testes objetivos em diferentes
contextos (clínica, recrutamento e seleção, investigação). No entanto, estes testes são
facilmente falsificáveis e são mais facilmente manipulados pelos sujeitos (ex.: candidatos
a emprego, indivíduos avaliados devido a problemas legais), já que possuem validade
facial, pelo que o avaliado percebe do que se trata e facilmente pode criar uma ficção –
levanta a questão da veracidade do autorrelato.
Entre os testes de personalidade objetivos mais utilizados encontram-se:
Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI), Teste 16PF de Cattell,
Personality Assessment Inventory (PAI), e Escalas de Millon (Inventário Multiaxial
Clínico de Millon, Millon Adolescent Personality Inventory, Millon Behavioral Health
Inventory).

Testes projetivos:
Estes instrumentos usam estímulos vagos e um formato de resposta livre para
obter uma amostra de comportamento verbal, a partir do qual se fazem inferências quanto
à estrutura psicodinâmica do paciente – não quer dizer que sejam subjetivos, mas partem
da exploração indireta. A validade facial é muito fraca (o indivíduo não compreende para
que é que aquilo serve) e os resultados dependem da capacidade de o indivíduo se projetar
no teste. Nestes testes não temos acesso apenas ao resultado final, mas também ao
processo de elaboração da resposta. No entanto, exigem boa formação dos profissionais.
A diferença entre os dois tipos de testes permite comparar como é que os
indivíduos se veem a si mesmos e como é que funcionam.
Entre as técnicas mais utilizadas nos anos 40 e 50 contavam-se: Teste de
Rorschach, Thematic Apperception Test (TAT), Utilização projectiva dos desenhos da
figura humana, Teste de Szondi, Make-A-Picture-Story Test (MAPS), Sentence
Completion Tests, Holtzman Inkblot Test, Teste de Zulliger e o Teste Patte Noire (PN).
Entre todos, aquele que continua a ser mais utilizado é o teste de Rorschach, devido ao
trabalho de Exner.

Entrevista:
A entrevista começou por ser uma conversa relativamente não estruturada com o
paciente, cujos objetivos eram obter a história de vida, avaliar a estrutura de personalidade
ou estabelecer um diagnóstico – entrevista livre ou não direta. No entanto, a entrevista
passou a ser vista como um procedimento subjetivo e pouco fiável quando alguns estudos,
especificamente o de Zubin, demonstraram a falta de validade dos diagnósticos
psiquiátricos baseados em entrevista (falta de validade inter-avaliador para um mesmo
paciente), o que afastou os clínicos da entrevista livre.
Desenvolveram-se, por isso, entrevistas estruturadas (que pode ser classificada
no grupo dos testes objetivos), que possuem boas qualidades psicométricas e são
ateóricas, pelo que potencialmente se adaptam a diferentes modelos conceptuais.
Direcionam e orientam a avaliação mais em função do cliente e de áreas específicas a
analisar. Entre as entrevistas estruturadas mais utilizadas encontram-se: Schedule for
Affective Disorders and Schizophrenia (SADS), Structured Clinical Interview for DSM-
III or DSM-III-R (SCID), e Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS), as quais foram
estabelecidas em conjunto com critérios de diagnóstico objetivos (ex.: do DSM).
A entrevista regressou com sucesso à avaliação psicológica, demarcando-se
bastante da entrevista livre. (1) A sua organização tende a ser estruturada e o
entrevistador, que deve ser um clínico com experiência, tem de obter certos itens de
informação, através de perguntas bem formuladas. (2) A entrevista deve responder aos
standards psicométricos de fidelidade e de validade. (3) As entrevistas estruturadas
tendem a ser ateóricas, mas baseiam-se em conhecimento científico contemporâneo de
psicopatologia (ex.: diagnóstico diferencial entre depressão e outras perturbações
afetivas). A entrevista é incontornável em psicopatologia, visto que, em última instância,
os testes de diagnóstico são validados face a julgamentos psiquiátricos. Assim, um teste
não poderá ser mais válido que uma entrevista, se a entrevista é o critério de validade.
O aumento de interesse pela entrevista estruturada ocorreu em paralelo com o
declínio das técnicas projetivas. Este declínio (na década de 60) deveu-se ao aumento
da sofisticação científica (ceticismo); ao desenvolvimento de instrumentos alternativos
(inventários de personalidade e escalas de autorrelato); e à ligação das técnicas projetivas
com algum dos ramos da teoria psicanalítica.
2 – UTILIZAR TESTES DE PERSONALIDADE

A Avaliação Psicológica é uma avaliação global relativamente à especificação do


individuo. Falar de testes de personalidade remete os psicólogos para a questão da
avaliação psicológica elaborada de modo completo, que inclui a personalidade do sujeito.
As questões centrais à volta deste tema podem ser: Os testes de personalidade servem só
para planificar uma intervenção? Será possível partir de testes de personalidade para
investigar o funcionamento psicológico humano?

Revisão Histórica:
Os primeiros estudos sobre a Avaliação Psicológica remetem para a avaliação da
Inteligência e das características psicofísicas. Já alguns autores e poetas de outros séculos
focaram muito antes de nós na importância da noção de “pessoa única”, e este conceito
está ligado com o de Personalidade. A personalidade é um conceito com menos de 100
anos, ou seja, é um objeto de estudo da psicologia muito recente.

Allport (1937):
Fez uma revisão da literatura existente até à data, verificando que existiam mais
de 50 definições distintas para a noção de personalidade, propondo também a sua
definição: “personalidade como organização dinâmica, intra-individual, das forças
psicofísicas que determinam a sua adaptação ao seu meio.”
Enfatiza a importância da individualidade e da visão da pessoa como um todo e
frisa que a psicologia tem de lidar com a individualidade ao longo do ciclo de vida, indo
contra o pensamento da época que era muito mais voltado para a procura de leis universais
que explicassem globalmente o significado do comportamento humano (estas leis
universais visavam apontar apenas o que os homens tinham em comum).

Murray (1938):
Tentou uma abordagem diferente onde dava ênfase à importância do estudo de
casos, ou seja, estudou muito a individualidade da pessoa.
Elaborou o TAT através dos seus estudos de caso juntamente com a descrição do
individuo do seu próprio caso, da descrição de terceiros e da impressão que ele como
psicólogo tinha dos sujeitos. Esta era então uma perspetiva muito mais concreta e precisa.

Allport e Murray diferenciaram as abordagens nomotética e idiográfica, e


defendiam a integração de ambas no estudo da personalidade (ex.: contraste das
características únicas de um indivíduo face às dos outros), através da utilização de
múltiplas fontes de informação.
Woodworth (1ª Guerra Mundial):
Tornou-se o pai do primeiro teste de papel e lápis de psicopatologia. A
preocupação dos psicólogos na guerra era não só selecionar recrutas testando aptidões
como também saber se estavam perturbados, pois poderiam tornar-se perigosos. Tentou
métodos para identificar a patologia, desenvolvendo um instrumento que depois foi
desenvolvido de modo a ser considerado um dos primeiros testes sobre características da
personalidade.
Outros autores defenderam também a criação de escalas de traços de introversão,
extroversão e traços de neuroticismo, mas foram mais utilizados no âmbito da
investigação e não da clínica.

Anos 40:
Confundiam-se os conceitos de avaliação psicológica e psicopatologia, o que foi
um grande erro. No início do sec. XX assistiu-se a uma preocupação apenas voltada para
as áreas da inteligência, aptidões, interesses vocacionais e nunca na pessoa como um ser
global.
Rapaport et al. (na Menninger Foundation) introduziram as baterias de testes,
assim como o conceito de psicodiagnóstico. Uma bateria de testes é algo muito completo
que permite fazer uma avaliação da inteligência e personalidade. Era maioritariamente
comporta por testes projetivos que avaliam os sujeitos na sua globalidade, integrando
cognição e emoção numa visão global. Até esta altura, a Avaliação Psicológica era
considerada um diagnóstico psicológico (mais uma vez mostrando a confusão com a
psicopatologia), porque só existia a preocupação de tratar as pessoas. Esta perspetiva
mostrou-se muito desumanizante e apenas contribuía à atribuição de etiquetas sociais.
O conceito de psicodiagnóstico distingue-se do conceito de diagnóstico
psicológico, já que o psicodiagnóstico se refere a um termo mais abrangente, que vai além
de uma etiqueta e consiste num procedimento multi-teste desenhado para avaliar a pessoa
como uma entidade única. Já o diagnóstico psicológico diz respeito a uma perspetiva
médica de identificação de sintomas e uma visão nosográfica. O termo psicodiagnóstico
evoluiu mais tarde para a noção de Avaliação Psicológica, que tem como objetivo a
compreensão do funcionamento psicológico onde os sintomas não são o principal nível
de disfuncionalidade. Este processo psicodiagnóstico teria como consequência um plano
de intervenção/tratamento.

Anos 50:
Emergem duas posições: (1) orientação empírica, que defende o estudo dos traços
individuais e a relação de cada um com o comportamento; (2) que aceita as ideias básicas
do grupo anterior sobre os traços, mas argumenta que os traços não podem ser
conceptualizados como um grupo de características independentes. Estes últimos
preferem pensar na personalidade como entidade unitária. O traço é um conceito
descritivo, não explicativo, que deve ser pesado em função da sua força ou importância
na economia psicológica individual.
No final dos anos 50, emerge o comportamentalismo radical e o conceito de caixa
negra – não existe personalidade e, mesmo que exista, não é passível de ser medida
através de testes psicológicos (crise do diagnóstico). A influência que este movimento
exerceu até anos 70 manifestou-se na decadência de programas de formação em avaliação
da personalidade, que gerou psicólogos que não sabiam avaliar, e na utilização de um
processo terapêutico orientado para o sintoma (sintoma confundido com a própria doença,
pelo que eliminar o sintoma eliminaria a própria doença). A ideia era que, uma vez
identificada a constelação de sintomas, bastava atribuir um tratamento específico (modelo
médico: identificação do sintoma leva automaticamente a um tratamento), processo que
negligenciava o indivíduo como entidade única. No entanto, esta abordagem teve o mérito
de conseguir intervir com pessoas com problemas de comunicação (ex.: autistas), o que
os outros modelos ainda não tinham conseguido.

Casos apresentados na aula:


Serão apresentados dois casos diferentes, com os mesmos sintomas. Será que os
mesmos sintomas poderão levar a um diagnóstico igual e, a partir daí, levar a uma
intervenção igual? Por exemplo, se considerarmos duas pessoas diferentes, ambas com
sintomas depressivos, poderão as duas receber um diagnóstico de depressão, levando a
que recebam a mesma intervenção?

Considerem-se duas mulheres, ambas com idades entre os 27 e os 32 anos, e


ambas com queixas de experiências disruptivas de ansiedade e ataques de pânico
frequentes. Estas apresentam os mesmos sintomas, mas poderão ser analisadas de formas
diferentes. Segundo a psiquiatria, o procedimento seria a medicação de ansiolíticos. Já
segundo um psicólogo especialista em reações de pânico ou ansiedade, o procedimento
seria a tentativa de redução de tensão e gestão de stress.
As vantagens de uma avaliação psicológica levariam a uma intervenção mais
eficaz, já que há mais especificidade na compreensão do cliente. Haveria eficácia na
utilização dos testes de banda larga (avaliação global) e banda estreita (avaliação com
grande precisão e muito específica). Geralmente, os psicólogos devem partir de uma
avaliação global (banda larga) para chegar depois a aprofundar aspetos mais precisos com
testes de banda estreita. A interpretação dos resultados deve ser feita em função das
características do cliente, da história de vida e dos conhecimentos teóricos do psicólogo.

Caso A:
Secretária numa empresa de contabilidade separou-se recentemente após 4 anos
de casamento. A avaliação da personalidade indicou uma pessoa defensiva, mas com
recursos disponíveis substanciais, com a capacidade tolerância ao stress e de controle
estrutural semelhante ao da maioria das pessoas, que se sente em estado de sobrecarga
devido ao stress situacional (separação). Esta sobrecarga provocou um potencial de
impulsividade que se manifesta mais na expressão emocional do que no pensamento.
Muito do seu stress está relacionado com a perda emocional recente. Muito focada sobre
si (narcisista) com tendência para sobrestimar o seu valor pessoal e vulnerável à rejeição
interpessoal. Externaliza a responsabilidade, sobretudo em acontecimentos negativos.
Pode ver rejeições como insultos devido ao seu autoconceito irrealista e desequilibrado.
Tem uma orientação dependente forte, ficando com uma ligação hostil-
dependente com os outros. Sente insegurança na relação com os outros, que tenta gerir
usando uma abordagem intelectual e autoritária. Muito emocional, muito auto-focada,
vulnerável à rejeição interpessoal, experiencia pânico e ansiedade em resposta a situações
em que as suas operações de coping não fornecem um controle adequado.

Caso B:
Designer de vestuário de uma companhia de teatro. A avaliação da personalidade
indicou uma pessoa conservadora, prudente que se sente insegura consigo e com a modo
de lidar com o mundo. Tem dificuldades em lidar com a ambiguidade e a complexidade
e desenvolveu uma orientação de coping e de tomada de decisão de modo a manter tudo
o mais simples possível para poder gerir.
Pessoa muito ideativa, consagra muito do seu pensamento à fantasia para evitar o
stress da realidade. Muito vulnerável à desorganização mesmo em situações de rotina,
porque tem poucos recursos disponíveis, tem dificuldade em processar informação nova
e tem muito medo de que os seus sentimentos possam desorganizar a sua capacidade de
tomar decisões. Tenta evitar situações com carga emocional principalmente naquelas em
que o relacionamento interpessoal se torna mais significativo.
Psicologicamente pobre, fácil, que tenta simplificar um mundo que ela sente como
demasiado complexo, interessa-se pelas pessoas e o modo como as tenta compreender
baseia-se mais na fantasia do que na experiência real. Gostaria de relações mais próximas,
mas tem medo dos sacrifícios em prol da relação. Vive um estado de ansiedade com
episódios de pânico quando ocorrem situações que ameaçam os seus recursos emocionais
limitados.

Caso A – estratégias de intervenção:


1) Intervenção de suporte para a ajudar no stress situacional provocado pela separação
recente – primeira fase de apoio para se ajudar a gerir o stress situacional, gerindo
melhor as emoções. Alertar o terapeuta para a sua orientação passivo-dependente
forte, devido a implicações significativas na relação terapêutica.
2) Tendência para externalizar a culpa e a expressão volátil de sentimentos, como alvos
de intervenção, mas apenas com uma terapia orientada para o insight, após
evolução a partir da terapia de suporte – intervenção mais longa e profunda para se
mudar a orientação passivo-dependente, tornando-a mais sociável; deve ajudar-se a
que se sinta importante e reconheça importância também nos outros, melhorando as
suas estratégias e capacidades de processar informação.
A paciente terá recursos psicológicos consideráveis, um estilo de coping
relativamente consistente (o terapeuta deve ter boas estratégias de coping porque a
paciente terá tendência em resistir ao tratamento) e um processamento de informação
rigoroso e energético. Depois de uma fase inicial de suporte, intervenção de longo prazo
orientada para o insight.

Caso B – estratégias de intervenção:


Como a sua ansiedade e o pânico existem em função da sua existência precária,
em que ela nunca tem a certeza que em simplificando o mundo a protegerá do stress, a
intervenção é fácil de identificar, mas a estratégia para o conseguir é mais difícil.
1) A mulher deve ser abordada com muito cuidado porque tem muitos deficits em se
compreender a si e aos outros, os seus recursos são limitados e o uso abusivo da
fantasia não a deixam adquirir competências de coping adequadas. Se for confrontada
com a necessidade de uma intervenção de longo prazo, irá desistir porque essa
perspetiva se tornará ameaçadora pela sua complexidade.
Será melhor iniciar a intervenção em aspetos específicos e deixar a porta aberta se
necessário. Sugerir uma intervenção focada no aumento das competências sociais e
trabalhando diretamente com sentimentos como forma de aliviar os sintomas de
ansiedade e de pânico.
O estilo de ultra simplificação e de abuso da fantasia como estratégias de coping
muito antigas podem ser vistas como resistências à intervenção. Este caso exige uma
intervenção com uma orientação mais desenvolvimental para colmatar deficits
significativos.

Conclusão:
Com os mesmos sintomas e o mesmo diagnóstico, estes dois casos seriam tratados
da mesma forma. No entanto, a avaliação da personalidade revelou que estamos perante
duas pessoas muito diferentes, com autoconceitos diferentes, relações interpessoais
diferentes, quantidade de recursos disponíveis e controles diferentes, desenvolvimentos
diferentes, gestão de emoções diferente que necessitam de estratégias de intervenção
adequadas à especificidade de cada um destes casos, para ultrapassar as dificuldades
utilizando as capacidades e os recursos disponíveis em cada situação.
3 – PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
Contextos teóricos:
Objetivo Teste Perspetiva
Perturbação de Psicodinâmica
Rorschach
comportamento Percetivo-cognitivo
História de caso Entrevistas; narrativas Personológica
Dimensões da Multivariada
NEO-PI-R
personalidade normal (psicométrica)
Empírica (empirismo
Patologia MMPI-2
realista)
Qualidade das relações Interpersonal Adjective
Interpessoal
interpessoais Scales

Perante um indivíduo que se suspeite ter perturbação de pensamento, um psicólogo


eclético deve obter a anamnese (história do caso) através da entrevista, e pode aplicar o
Rorschach, o NEO-PI-R e o MMPI II. Podia usar a escala de adjetivos individuais
(Interpersonal Adjective Scales) para avaliar as características e a forma como se
estabelecem as relações pessoais do sujeito. Estes instrumentos enumerados não
apareceram por acaso, mas sim num contexto histórico particular onde estava muito
presente a psicanálise, interacionismo simbólico, etc., e foram criados dentro de uma
perspetiva de avaliação da personalidade – há um objetivo num background.

Há diferentes escolas de pensamento, diferentes perspetivas – os 3 grandes modelos são


a psicodinâmica, o behaviorismo e o humanismo. Já ao nível da personalidade, há 5
perspetivas relevantes: Perspetiva Psicodinâmica, Perspetiva Personológica, Perspetiva
Multivariada, Perspetiva Empírica e o Paradigma Interpessoal. Estas 5 têm pontos
relacionados e pontos onde se distinguem (por exemplo, o MMPI foi associado a
realismo empírico, em vez de uma perspetiva de psicanalítica).

1.1 Perspetiva Psicodinâmica


História:
David Rapaport (1911-1960) é o sistematizador mais importante desta perspetiva e da
teoria psicanalítica. Foi dos primeiros autores que defendeu a ideia de que a
complexidade do individuo deve ser avaliada com vários testes que se complementam
uns aos outros e, portanto, defendeu a criação de baterias de testes. Criou o Manual de
Diagnóstico Psicológico (2 vol.) e o conceito de Psicodiagnóstico – este conceito é
muito semelhante ao conceito atual de Avaliação Psicológica. Distingue-se do contexto
de diagnóstico que atribui apenas uma etiqueta ao sujeito.
Quadro concetual:
Esta perspetiva dá mais ênfase às funções autónomas e adaptativas do ego e da
representação interna do self (psicologia do ego). É, por isso, uma perspetiva
neoanalítica que se afasta da avaliação da personalidade clássica.
Abandona conceitos defendidos por Freud ao enfatizar muito mais a importância de se
ser mais otimista, tornando-se mais próxima das visões humanistas.
Aborda os processos de pensamento e a forma como estes se desenvolvem (tipo de
pensamento que a pessoa tem, a qualidade do pensamento, e como este se desenvolveu
ao longo da vida). Estes pensamentos variam entre dois extremos: os pensamentos
orientados para a realidade (orientação realista) e os pensamentos orientados para a
fantasia (orientação instintiva) que são formados desde a infância e que se devem tornar
cada vez mais sofisticados. O extremo máximo da fantasia é representado através do
sonho, sendo mais orientado pelo inconsciente.
Rapaport desenvolveu ainda o metaconceito de estrutura. Para ele, a estrutura era um
requisito para o progresso. Freud fala da estruturação de personalidade na personalidade
neurótica e psicótica, enquanto Rapaport fala da estrutura como algo relativo à
personalidade e que se pode quantificar ao nível da avaliação – o conceito atual que
conhecemos como traço, ou seja, algo conhecido da personalidade que se pode
quantificar ao nível da avaliação.
Bowlby, Kaplan e Kohut introduzem ainda a Teoria das Relações de Objeto, pondo em
causa as ideias clássicas de Freud. Freud defendia a função catártica dos objetos, sendo
que para ele um objeto seria tudo aquilo que fosse exterior ao próprio sujeito, servindo
apenas de veículo para a energia. Já estes três autores defendiam que o indivíduo, desde
que nasce, procura objetos relacionais, procurando estabelecer com eles relações de
vinculação – deixaram de dar importância à orientação instintiva para dar relevância às
representações internalizadas sobre os outros significativos, que servem de base para
relações interpessoais desenvolvidas mais tarde (salto meta-teórico).
Surge então, no âmbito da avaliação da personalidade, a Abordagem Ego-Psicológica
(Allison, Blatt e Zimet) e a Abordagem das Relações de Objeto (Blatt e Lerner).

Instrumentos de avaliação:
Neste tempo, os psicológicos eram vistos como administradores de testes. Numa
primeira fase só mediam o QI (gostavam de ser tratados como técnicos), mas depois
começaram a fazer testes de avaliação psicológica propriamente dita, através de alguns
dos seguintes instrumentos – baterias multi-testes (testes projetivos e estruturados):
 Rorschach (projetivo)
 TAT (projetivo)
 Teste de Associação de Palavras (projetivo)
 WAIS (estruturado) – teste de inteligência para crianças
 Teste de Babcock de Eficiência Mental (estruturado) – avalia a eficiência mental
 Teste de Triagem de Formação de Conceito, de Goldstein (estruturado)
 Teste de Hanfmann-Kasanin de Formação de Conceito (estruturado) – mais
aprofundado
Usavam uma perspetiva psicodinâmica sobre o funcionamento adaptativo do ego, e para
isso enfatizavam os processos de pensamento e o funcionamento cognitivo da pessoa.

Princípios interpretativos:
1) Hipótese projetiva:
o Existe uma perspetiva anterior a esta hipótese que diz que o que se
projecta é patológico (ex.: Freud diz que o sentimento de perseguição
está ligado à culpabilidade, desejos de agressividade, etc.). Mais tarde,
surge a hipótese projetiva onde, em alguns testes (ex.: psicodrama) com
material relativamente ambíguo, era possível que a pessoa projetasse,
sem se aperceber, aspetos da sua personalidade. Esta perspetiva não era
como a de Freud, pois não dava um sentido negativo a tudo. Por
exemplo, no TAT há apenas uma fotografia e os indivíduos formam uma
história. Diferentes pessoas falam do cartão com certos pontos em
comum, mas há também grandes diferenças. A hipótese projetiva diz que
qualquer manifestação de comportamento humano é reveladora da
personalidade do sujeito. Ou seja, qualquer tipo de comportamento pode
revelar indicadores da personalidade e das características especificas que
tornam cada pessoa única.
o Contudo, no caso da Avaliação da Personalidade, o uso de tais testes não
encontrava muito consenso, considerando-se que era demasiado
ambíguo, e, segundo a hipótese projetiva, os indicadores estariam em
todo o lado e em lado nenhum. O autor do teste de Rorschach decidiu,
portanto, ir mais além, aprofundado um teste projetivo num teste que não
deixa de ser projetivo mas que tem uma codificação própria. As escolhas
num teste de Rorschach são diferentes do TAT (no TAT interpreta-se a
figura com a qual o sujeito se identifica).

2) Níveis de funcionamento do pensamento: tentou-se fazer a avaliação dos níveis


de pensamento dos sujeitos com testes mais orientados para a lógica e realidade
(escalas de WESCLER) ou mais orientados para a flexibilidade de pensamentos,
ou seja, pensamentos mais reversíveis (TAT e Rorschach).

3) Ajustamento psicológico.

Aplicações e estatuto atual:


Houve uma evolução do paradigma psicodinâmico de avaliação da personalidade para
uma perspetiva de relações de objeto compatível:
 Cognição social, processamento de informação, investigação sobre vinculação e
desenvolvimento do ego (Blatt e col.)
 Rorschach scoring system (representação humana) – Blatt, Brenneis, Schimek e
Glick (1976)
 Rorschach scoring system (temas de conteúdo e afeto das representações de
objeto) – Mayman (1967)
 Object relations scoring system for the TAT – Westen (1991)

1.2 Perspetiva Personológica


História:
Allport e Murray (anos 30) – Universidade de Harvard.
Desde os primórdios da história que se veem registos sobre o comportamento humano e
sobre a personalidade da pessoa, onde a pessoa no seu todo é tomada como unidade
básica de medida / de observação, e onde a história de vida da pessoa é a via preferida
para a sua compreensão (McAdams, 1994).
No contexto académico, Allport escreveu um livro sobre a personalidade, onde enfatiza
o uso de documentos pessoais na psicobiografia para a análise da pessoa, e passou uma
grande parte da sua vida a estudar como deve ser escrita uma história de vida
psicológica. Com esta reflexão, com Murray surgiu um método multiforme organismico
para estudar “vidas em progresso”. Para tal, reuniu-se uma equipa multidisciplinar que
se preocupava com vários instrumentos de avaliação que estudavam o indivíduo na sua
totalidade. Durante a 2ª Guerra Mundial surgiu também uma variante deste
procedimento que foi empregue à seleção de agentes secretos e sabotadores, servindo
mais tarde para selecionar agentes da CIA. Murray é o pai dos selecionadores de
agentes da CIA e do teste TAT.

Quadro concetual:
É uma abordagem multiforme (muitos avaliadores, muitos testes) e é
holística/organismica, isto é, estuda as vidas ao longo do tempo – Murray (1938).
Assim, este quadro conceptual foi pensado como um sistema de integração em vez de
ser uma teoria completa, preocupando-se mais com o sistema operacional.
Introduziu o conceito de ciclo de vida – segundo estes autores, o ciclo de vida do
individuo é a maior unidade de estudo. Para estudar isto, os autores introduziram
diferentes unidades de tempo de duração e complexidade variáveis, desde o episódio
único até à unidade-tema (motivo central da vida). Um tema pode ser compreendido em
termos da interação necessidades-pressão.
Erik Erikson desenvolveu a Teoria Psicodinâmica de Desenvolvimento da
Personalidade tendo em conta estádios de desenvolvimento psicossocial ao longo de
toda e isto foi importante para o desenvolvimento de psicobiografias (Gandhi e Luther
King).
Vários autores continuam a desenvolver estas teorias, considerando-se neo-eriksonianos
(Teoria neo-Eriksoniana de McAdams, 1993) e têm em conta conceitos teóricos e meta-
teóricos.

Instrumentos de avaliação:
Para a construção de uma psicobiografia, há autores que dizem que a história do
individuo deve ser tida em conta, não havendo um instrumento único para esta recolha e
sendo, por isso, usadas várias metodologias - “não há um método de recolha individual
assim como não há um método de investigação próprio (…) as histórias de vida podem
ser recolhidas por autorrelato, investigação em arquivos, investigação longitudinal, etc.
Podem usar-se vários instrumentos e várias teorias”.
Certos autores defendem ainda diferentes níveis na organização da vida – os mais
universais (leis gerais) e os mais específicos.
Reconhece-se então a necessidade de se usarem self-reports e a importância de um
conhecimento multimetodológico no estudo das vidas (pluralismo metodológico na
psicobiografia).
Aparecem então 25 procedimentos diferentes de avaliação:
 Autobiografia (Murray)
 Hipnose (White)
 Nível de aspiração (Frank)
 Produções dramáticas (Erikson)
 Rorschach (Beck)
 Vários formatos de entrevista, com métodos retrospetivo, introspetivo e
qualitativo
 TAT

Princípios interpretativos:
O estudo deste ponto foi sistematizado por Alexander (1990), que organizou o material
significativo consoante 9 critérios:
1) Primazia – o que acontece em primeiro lugar, mais relevantes
2) Frequência – o que acontece muitas vezes
3) Singularidade – o que acontece raramente
4) Negação – o que é negado completamente
5) Ênfase – o que sobrevalorizado e subvalorizado
6) Omissão – o que é retirado
7) Erro ou Distorção – erros fatuais ou atos falhados
8) Isolação
9) Incompletude – o que não é acabado ou tem falhas
Quer saber-se as motivações do cliente, com quem se identifica, que aspetos
significativos foram mencionados consciente e inconscientemente, etc.
Atualmente, começa a haver novamente um interesse pelo estudo da pessoa total
tentando compreender a personalidade normal sem estarmos só preocupados com a
psicopatologia. Estudam-se historias de vida como sendo discrições verídicas do que
aconteceu à pessoa, reconhecendo-se que a avaliação da personalidade é feita a um nível
de psicodiagnostico e não de diagnostico.

A avaliação personológica tenta compreender a história no momento e o


psicodiagnostico tenta perceber o individuo e integra-lo nos grupos aos quais pertence,
considerando o contexto.

Aplicações e estatuto atual:

1.3 Perspetiva Multivariada


História:
Os primeiros autores foram o Sir Francis Galton, Pearson e Spearman que estudaram
correlações entre indivíduos gémeos. Spearman identificou o fator geral da inteligência
que depois serviu de base às escalas de WESCLER. Os fatores são considerados
relações estatísticas que sintetizam os resultados dos testes em relação às variáveis
latentes do individuo. Ex: o Quociente de Inteligência pode ser considerado como um
fator g de alto nível que sintoniza as relações entre grupos de fatores verbais e não
verbais e entre fatores de grupos de menor dimensão.

Raymond Cattell: pai fundador da tradição multivarada da avaliação de personalidade.


Foi um dos primeiros a aplicar a analise fatorial ao estudo do temperamento (1933)
usando procedimentos analíticos e reduziu as compilações do Allport (ele fez uma
compilação exaustiva de termos descritivos de traços usando um dicionário
identificando 35 traços de superfície).

- FFM- Five Factor Modell


- Eysenck
- Costa & McCrae: deram origem ao Neo-pi
- Goldberg: trabalhou com o paradigma multivariado dos 5 fatores – nesta perspetiva há
desacordos parcial entre os autores. Alguns não concordam com o numero de fatores e o
seu significado e desacordos sobre a relação entre fatores e traços de personalidade.

Quadro concetual:
O quadro conceptual está ligado a diversos fatores relacionados com a teoria do traço,
teoria lexical, socio-analítica, interpessoal, etc.
Nesta perspetiva tentou-se fazer um levantamento de todos os termos que podem
descrever a personalidade. Ex: termos de linguagem “normais” podem exprimir
emoções ou motivos para um certo comportamento
Conseguiram identificar-se 5 dimensões ligadas à personalidade.

Instrumentos de avaliação:
Neo-pi-r – este teste tenta ver diversos aspetos da personalidade como a amabilidade,
relação com os outros, consigo mesmo, consciência do próprio individuo, neuroticismo,
introversão, etc. - Cattel 16 Personality Factor – Foi adaptado ao modelo dos 5 fatores
na sua ultima revisão
Hogan Personality Inventory
Personality Research Form

Princípios interpretativos:
Esta perspectiva baseia-se nas diferenças na interpretação dos diferentes instrumentos
nomeadamente diferenças de conteúdo ou diferenças nos métodos de correlação
factorial.
No entanto, Cattell referia 16 traços (foi depois acusado de identificar demasiados
fatores) e Eysenck apenas 3. Com esta discórdia, encontrou-se depois o ponto médio de
5 fatores – modelo de 5 fatores.

Aplicações e estatuto atual:


O modelo de 5 fatores tinha grande interesse principalmente à chegada da publicacão do
neo-pi-r que tentou explicar os princípios fundamentais normais e patológicos. O
inventário de personalidade de Hogan é mais usado em ambientes de trabalho e
organizações.
Nesta tradição multivariada houve sempre grandes polémicas relativamente ao número
de traços identificados e ao significado de cada um desses..
É a APA que investiga muitas de perturbações de personalidade principalmente com o
teste NEO-PI.
1.4 Perspetiva Empírica
História:
O teste mais conhecido é o MMPI realizado por muitos autores em 1943. Inicialmente
este instrumento foi feito para permitir um diagnóstico diferencial (quem era deprimido,
psicotico, etc). A história do mmpi ilustra a história da avaliação objetiva da
personalidade. Este instrumento, quando apareceu, ajudou ao declínio das técnicas
projetivas, havendo muita preocupaçao empirica e uma certa aproximação à perspetiva
comportamentalista.

Por um lado, certos autores promoveram este teste mas, por outro lado, houve muitas
críticas em relação ao modo como o teste foi construido e elaborado.
Assistiu-se a uma associação entre o MMPI e uma predição clinica (perspetiva
idiográfica), contrária à estatistica (perspetiva nomotética)
Esta perspetiva empírica permitiu fazer um salto das categorias tipológicas para
dimensões contínuas de traço, validade discriminante, etc. para a validade de construto
de escalas.

Quadro concetual:
Estudou-se o significado das respostas do sujeito aos itens dos testes objetivos
 estratégia racional
 estratégia empirica
 estratégia construtiva – resposta do sujeito é vista como uma manifestacão de
um construto de personalidade embrenhado numa rede de leis, isto é, está ligada
a aspetos de validade de construto. * estratégia interpessoal

Instrumentos de avaliação:
MMPI – tem um grande número de itens – isto tem um grande contra porque exige um
bom nível de literacia; demora muito tempo.
Vantagens: tem várias escalas de controlo das respostas do sujeito; tenta avaliar também
a consistência de resposta, etc.

Princípios interpretativos:
ESTRATÉGIA EMPÍRICA – mais usada no inicio para ajudar os psiquiatras a
diferenciar os pacientes
ESTRATÉGIA CONSTRUTIVA – Perspetiva da reinvenção do MMPI, tentando
evoluir para uma perspetiva orientada para o construto, obtendo-se resultados em
formas de configurações de perfis (e não apenas de valores).
ESTRATÉGIA INTERPESSOAL

Aplicações e estatuto atual:


Desenvolvimento do mmpi – a revisão do mmpi 2 aparece com uma preocupação com
a tecnologia e a aplicação do teste em formato digital. Houve também uma
preocupaçao com a utilização de notas T.

Apesar de todas as críticas, nota-se que houve uma evolução grande não só ao nível do
teste MMPI, mas também ao nível de toda a perspectiva. Antes, os autores que
defendiam o MMPI eram totalmente contra as escalas de auto-relato mas agora
conseguiram um acordo.

1.5 Paradigma Interpessoal


História:
Criada por um psicanalista nos anos 40.
No inicio, não estava totalmente liberta da perspectiva hidráulica e tinha orientação
comportamentalista, orientando-se para aquilo que as pessoas fazem umas às outras nas
transacções interpessoais.
Foi influenciada pela teoria do campo de Lewin - os campos psicológicos têm
influências bidireccionais. - A unidade interpessoal era considerada como unidade
básica de observação – vê a pessoa em interacção num campo complexo de
causalidades bidireccionais.
Foram feitas investigações em terapias de grupo para estudar a taxonomia dos
comportamentos interpessoais; estudo de comportamentos entre mãe-criança em
populações clinicas.
As aplicações mais interessantes são ao nível da psicoterapia.

Quadro concetual:
A personalidade é nada mais, nada menos, que regularidades padronizadas do que pode
ser observado nas relações de um individuo com outras pessoas, que podem ser reais no
sentido de actualmente estando presente, real mas ausente, e “personificado” ou
“ilusório” (Carson).

Instrumentos de avaliação:
IAS – escalas de adjetivos interpessoais
IIP – inventario de problemas interpessoais
IMI – Inventario do impacto de mensagens

Relaciona tudo com a teoria da comunicação, porque os indivíduos perturbados não têm
consciência das respostas que dão aos outros e sentem-se confusos quando os outros
lhes dão respostas negativas. O MMPI ajuda a identificar padrões de respostas que
podem ser negativas da parte do sujeito e ajuda a perceber o estilo interpessoal do
doente (dominante, amigável, submisso, amigável-submisso, etc.).

Princípios interpretativos:
Existe um sistema circunflexo (ver esquema) que vai desde o dominante ao submisso
(vertical). A parte horizontal é ligada aos indivíduos emocionalmente frios ou quentes.
As combinações dos eixos permitem identificar diversos tipos de indivíduos.

Aplicações e estatuto atual:

1.6 Conclusões
Há 5 focos principais de causas de comportamento. Ex.: Freud dizia que devíamos olhar
para o implícito para perceber o que o indivíduo fazia e porquê que o fazia.
Os instrumentos que foram criados num certo contexto podem ser usados por
psicólogos para tentar avaliar aspectos diferentes. Um teste evolui muito se não ficar
sempre preso à perspectiva na qual é criado. Ex.: o teste de rorschach partiu da
psicanalise mas ganhou muito com a perspectiva empírica.
Objectivo da aula: promover a consciência das fundamentações teóricas de cada
instrumento e saber as conceptualizações dos diferentes testes. Nenhum teste é perfeito
e nenhum consegue responder a todas as perguntas que se tem sobre a personalidade.
Devem conjugar-se os aspectos positivos e negativos de cada teste para podermos
complementar uns com outros, de modo a avaliar o cliente.
4 – AVALIAÇÃO DO RISCO DE AGRESSÃO E VIOLÊNCIA

Avaliação do risco – correta ou incorreta:


Uma pessoa que seja considerada perigosa pode sofrer perda ou diminuição de
direitos, indo até à detenção preventiva. Por esta razão, a avaliação incorreta do potencial
agressivo pode ter graves consequências para a vida de outros e trazer consequências
legais para o psicólogo – há países onde os psicólogos podem ser responsabilizados por
negligência quando não são capazes de identificar corretamente um risco de agressão num
sujeito.
A tarefa clínica de avaliação de risco de comportamento agressivo ou violento é
muito desafiante e pode ter consequências extremas. A avaliação incorreta pode ser de
dois tipos: sobrevalorização da agressividade, que leva à perda ou diminuição de direitos
(e.g. parentais) da pessoa avaliada, indo até à detenção preventiva; ou subvalorização da
agressividade, que pode ter consequências para a vida de outros e legais para o psicólogo.
Ocorre também o caso de indivíduos muito inteligentes que manipulam a situação de
avaliação, conseguindo fazer-se passar por quem não são.
Enquanto na avaliação intelectual ou de perturbação de pensamento, o esforço
do psicólogo concentra-se nas características dos clientes, na avaliação do
comportamento agressivo estão envolvidas interações interpessoais entre duas ou mais
pessoas, que ocorrem num contexto sociocultural, que pode envolver constantemente
influências situacionais. Podem ainda avaliar-se famílias, gangs, grupos sociais, ou até
mesmo governos.

Definição de agressão:
Em termos legais ou em diferentes contextos pode haver diferenças sobre a
definição de agressão. Pode aceitar-se que existem comportamentos agressivos indiretos,
latentes, inconscientes ou passivos, mas temos de nos focar na agressão humana aberta,
direta e intencional.
Isto é, agressão é um comportamento físico ou verbal que pode provocar
aflição, dor ou ferimentos, ou prejudicar a sua propriedade ou reputação.

Contexto da avaliação:
O contexto físico e o psicológico são particularmente importantes na avaliação do
risco − avaliação do potencial de um indivíduo ou grupo se envolver em agressão ou
violência em várias situações.
O contexto físico (local de avaliação) é sempre importante – neste caso, trata-se
da avaliação de pessoas potencialmente perigosas, podendo haver riscos de agressão para
o psicólogo. Esta avaliação pode ser conduzida em prisões ou áreas fechadas de
psiquiatria, podendo estar presentes um terceiro, guarda, advogado, procurador, etc. Pode
acontecer que o psicólogo não chegue a ver o sujeito que está a avaliar, no caso da análise
de documentos escritos ou outros.
O contexto psicológico e legal pode impor constrangimentos à avaliação. A
pessoa avaliada tem sempre um grande interesse nos resultados, o que pode colocar o
psicólogo e o sujeito numa relação de adversários, o que não acontece na maioria dos
contextos de avaliação psicológica. A questão “quem é o cliente” deve ser muito bem
compreendida pelo psicólogo (habitualmente o cliente é o sistema judicial), que o deve
comunicar ao sujeito, assim como os seus direitos de participar ou não voluntariamente,
para que este possa tomar uma decisão informada quanto à sua participação (a avaliação
pode ser recusada pelo sujeito, o que terá consequências para si). Como este ato
psicológico pode ter consequências legais para o psicólogo, este deve guardar todos os
seus registos e documentos, resultados de avaliação e até pode ser necessário realizar e
arquivar vídeos das entrevistas e de toda a comunicação com o sujeito avaliado. No caso
de uma avaliação incorreta do risco, as famílias das futuras vítimas poderão processar o
psicólogo.

Avaliação de comportamento agressivo:


A avaliação do comportamento agressivo pode ser de dois tipos: retrospetiva ou
prospetiva. Na avaliação retrospetiva a agressão ocorreu no passado e a avaliação deverá
explicá-la. É útil para o tribunal compreender e poder decidir a sentença (atenuantes,
agravantes), responsabilidades, indemnizações, ou para elaborar programas de
intervenção psicológica. Será relevante saber se a agressão foi provocada pela vítima ou
outros, por tumor cerebral, alteração da medicação, sadismo, altruísmo, etc.
Na avaliação prospetiva procura-se compreender se a pessoa ou o grupo (ou até
uma nação) é suscetível de cometer uma agressão no futuro, a curto ou médio prazo –
predição varia consoante o intervalo de tempo. Existindo risco, qual é o tipo de
comportamento agressivo; contra quem será direcionado o comportamento agressivo; em
que condições a agressão poderá ocorrer; se a possibilidade será maior ou menor do que
a taxa base (base rate); e quais as circunstâncias ou intervenções que poderão diminuir ou
aumentar o risco do comportamento agressivo. A resposta a estas questões poderá
determinar a libertação de um prisioneiro ou a possibilidade de um pai ou mãe poder
recuperar a guarda de um filho. Trata-se de uma das avaliações de risco mais difíceis de
realizar (nos EUA, a correção de predição é de 25-35%) e, em caso de falha, as
consequências serão sempre graves ou para a pessoa que tem menor risco e não poderá
recuperar os seus direitos, ou para aqueles que têm um maior risco e poderão provocar
vítimas. Toda a avaliação prospetiva ou de prognóstico de comportamentos agressivos é
sempre difícil de realizar.
É ainda importante distinguir entre avaliação de risco generalizado ou
individualizado. A avaliação do risco generalizado identifica grupos mais suscetíveis
do que a maioria de se envolverem em atos agressivos ou violentos (ex.: alteração da
gestão de doentes mentais ou de detidos, separando-os). A avaliação do risco
individualizado determina a ameaça colocada por uma pessoa, isto é, a possibilidade de
um indivíduo agredir alvos específicos (ex.: mulheres da família, colegas, figuras
públicas). Os terapeutas devem avisar as potenciais vítimas dos seus clientes.

Três elementos básicos para o ato de agressão:


A avaliação do risco é ainda complicada pelo facto de que, para um ato de agressão
ocorrer, são necessários três elementos básicos: um agressor potencial (alguém que está
disposto a desempenhar uma ação violenta), um alvo ou vítima acessível, e uma
oportunidade para o agressor atacar a vítima.

Avaliação da possibilidade de violência interpessoal:


De acordo com Megargee, nenhum teste estruturado ou projetivo, quando usado
sozinho, é capaz de predizer a violência individual de forma satisfatória, diferenciando
adequadamente pessoas agressivas de pessoas não agressivas. A agressão é um fenómeno
demasiado complexo e multi-determinado para ser avaliado por único teste. No entanto,
os testes psicológicos são úteis para avaliar construtos relevantes como hostilidade e
inibições. Utilizam-se vários tipos de testes psicológicos: escalas de autorrelato (MMPI-
2), testes projetivos (Rorschach, TAT, Teste de Frustração de Rosenzweig) e escalas de
heteroavaliação baseadas em estudos empíricos.
Investiga-se a história de vida, que pode ser mais informativa do que os testes
psicológicos, e todos os registos sobre atos agressivos (ex.: registos criminais,
processos). Como o comportamento agressivo é externo e ocorre num contexto
interpessoal, é mais documentado do que os comportamentos provocados por sintomas
(internos). A observação do comportamento é importante (ex.: frequência do ato), e
fazem-se entrevistas, que servem não só pelo seu conteúdo, mas também pela
oportunidade de observação das reações emocionais.
Como o comportamento agressivo é interpessoal, amigos, familiares e colegas,
que observaram o indivíduo numa grande variedade de situações, podem fornecer muita
informação útil. Em contextos institucionais de saúde mental são os médicos,
enfermeiros, pessoal de apoio e outros pacientes. Nas prisões, são os guardas, colegas de
cela, professores e supervisores.
Se as pessoas têm medo dos seus pares, isso deve ser levado a sério. Em contexto
ambulatório, uma entrevista no local de residência pode ser muito informativa, através
dos sons, cheiros, vistas do meio (ex.: abuso de substâncias, acesso a armas, atividades
recreativas).

A álgebra da agressão:
A álgebra da agressão é um quadro conceptual que especifica os determinantes
complexos do comportamento agressivo, tendo sido desenhado para ajudar os clínicos a
selecionar e integrar informação relevante na avaliação do risco de comportamento
perigoso: Rj.k = [Mj.k + H + Sf] – [Ij.k + Si]. Ou seja, a reação potencial para um ato
particular j direcionado ao alvo k (Rj.k) é igual à soma da motivação para um ato particular
j direcionado ao alvo k (Mj.k), da força do hábito (H) e de fatores situacionais favorecendo
a agressão (Sf) menos a soma da inibição contra o ato j direcionado ao alvo k (Ij.k) e de
fatores situacionais impedindo ou interferindo com a agressão (Si).

Avaliação dos fatores pessoais:


Instigação intrínseca para a agressão:
Os motivos intrínsecos são a raiva, hostilidade, cólera e ódio. Dependem da
intensidade e da duração, e quanto mais intensa e duradoura for a instigação, mais fácil
se torna avaliar. A cólera e a raiva são transitórias e podem apenas ser observadas em
situações particulares.
O psicólogo deve tentar perceber (1) qual a quantidade e direção da instigação
para a agressão, (2) quais as causas desta instigação, (3) se o cliente está em cólera, contra
quem é, porquê, e o que é que o cliente faz em relação em isso. A forma utilizada para
lidar com a cólera pode ser: atacar a fonte de instigação, atacas outro objeto
(deslocamento), observar violência em outros (vicariante) ou fazer atividades de
substituição/sublimação (e.g. desporto).
A instigação intrínseca tem origens fisiológicas: fatores genéticos que tornam as
pessoas mais irritáveis, algumas doenças ou características do sistema nervoso central ou
endócrino, influências hormonais como a testosterona, doenças físicas, fatores tóxicos e
drogas, fadiga e excitação generalizada; e origens psicológicas: frustração, ataques
verbais ou físicos e intrusões territoriais.
Para a avaliação da instigação intrínseca podem ser utilizados a escala de Raiva
do MMPI-2 e o Teste de Frustração de Rosenzweig (que avalia a reação ao stress da vida
corrente).

Instigação extrínseca (instrumental) para a agressão:


A agressão não é só originada pela cólera, também pode ajudar a atingir outros
objetivos. Motivações primárias e secundárias podem ser: ganhos pessoais e
satisfações como aquisição ou melhoria da autoestima; remoção de problemas como
inimigos ou testemunhas de crimes; conquistas sociais como poder ou o respeito dos
outros; e objetivos políticos ou religiosos.
A instigação extrínseca é mais difícil de avaliar, pelo que os psicólogos se apoiam
no autorrelato fornecido na entrevista e nos dados da história de vida. Além das
motivações intrínsecas e extrínsecas é necessário avaliar as competências da pessoa para
a ação agressiva.

Força do hábito:
O reforço das respostas agressivas aumenta a força do hábito, que é o segundo
fator mais importante que leva à agressão, sobretudo quando é bem-sucedida. A força do
hábito é o melhor preditor da agressão: quanto mais longo e forte for o historial de
agressão, maior a probabilidade de a pessoa se comportar da mesma forma no futuro.
Pode ser avaliada através do historial de comportamentos agressivos.

Inibições contra a agressão:


As inibições internas opõem-se à instigação e à força do hábito. Podem ser gerais
ou específicas de um ato violento, do alvo ou das circunstâncias. Podem incluir
preocupações pragmáticas, como medo que o ataque falhe e das retaliações, e
proibições morais (tabus, consciência, superego que classificam o ato como errado). As
inibições são difíceis de avaliar, pois não sabemos se é a inibição ou uma instigação
insuficiente. Podem-se avaliar diretamente as inibições através do role playing, terapia de
grupo, confrontação direta numa entrevista ou por observação direta se a pessoa estiver
motivada para agredir.
Os testes de personalidade em triangulação servem de provas indiretas das
inibições. Pessoas bem socializadas com valores fortes têm mais inibições contra a
agressão, censurada pela sua cultura do que os que são menos socializados.
Quanto a testes objetivos podem ser usados: o California Personality Inventory
(CPI), que avalia a socialização através das escalas de Socialização, Responsabilidade e
Autocontrolo, a escala clínica de Hostilidade Hipercontrolada do MMPI-2, que avalia
pessoas violentas devido a inibições excessivas, e a Escala de Psicopatia de Hare (o
psicopata é quem tem menos inibição para a agressão). Quanto a testes projetivos, o
Rorschach e o TAT permitem avaliar controlos deficientes e socialização pobre.
A história de vida permite verificar se a família favoreceu um desenvolvimento
moral forte. A inibição pode aumentar através da empatia ou compaixão pela vítima
potencial.
É mais fácil diminuir as inibições do que aumentá-las. Na redução das inibições,
há fatores fisiológicos: lesões ou doenças que afetam o sistema nervoso central, algumas
perturbações endócrinas e ações químicas desinibidoras de substâncias como o álcool; e
causas psicológicas: insucesso no desenvolvimento de inibições adequadas devido a
socialização deficiente ou abusos durante a infância e exposição a modelos que aprovam
a violência.

Fatores situacionais e condições externas:


Os fatores situacionais – meio, cenários, situações e estímulos − podem facilitar
ou impedir o comportamento agressivo. Os fatores situacionais e a personalidade não são
independentes, podem-se reforçar ou inibir. Assim, expectativas cognitivas em interação
com realidades situacionais podem causar frustração, que é a maior fonte de instigação
intrínseca. Por outro lado, fatores ambientais podem moderar a relação de fatores de
personalidade, como a empatia – a ameaça ou provocação fortes podem tornar violento
qualquer indivíduo.
Os fatores externos que influenciam a agressão são: temperatura ambiente;
design arquitetural; multidões; meios familiar, de pares ou de trabalho; disponibilidade
de álcool e de vítimas potenciais; comportamento de antagonistas, vítimas e associados;
clima político; disponibilidade e acesso a armas por um ou todos os antagonistas.

Risco potencial:
Se as instigações, a força do hábito e os fatores situacionais que favorecem a
agressão forem superiores às inibições e aos fatores situacionais que desfavorecem a
agressão, teremos risco de comportamentos agressivos ou de violência, tanto maior
quanto for a diferença desta equação. Em caso contrário, não teremos risco de agressão.
Numa dada situação, todas as possíveis respostas do sujeito (violentas e não violentas)
estão em aberto: aquela com mais potencial de reação (maior capacidade de satisfazer
mais necessidades com menor custo) é a escolhida.
Na avaliação retrospetiva, é óbvio que o ato agressivo que foi feito era o que
tinha mais potencial de reação. O objetivo do psicólogo é compreender o ato (ex.: se os
amigos encorajaram o comportamento desviante, se as crenças cognitivas indicaram que
a agressão era a alternativa mais honrada), de forma a desenvolver uma intervenção para
eliminar a recorrência, aumentar as respostas aceitáveis e baixar o potencial de reação do
comportamento agressivo.
Na avaliação prospetiva, a tarefa do psicólogo é determinar a amplitude de
respostas possíveis e calcular o seu potencial de reação relativo, também em função de
elementos situacionais. O psicólogo deverá realizar predições sofisticadas sobre a
possibilidade de o sujeito iniciar comportamentos agressivos específicos em
circunstâncias diferentes.
5 – AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO
Dados estatísticos:
Em 2011 em Portugal, a taxa de suicídio por cada 100 mil habitantes era de 9.6 –
diferenciando os géneros, era 15.5 nos homens e 4.1 nas mulheres. A taxa de suicídio
consumado é superior nos homens, mas o número de tentativas é superior nas mulheres.
Quanto maior a idade, maior o risco de suicídio, mantendo-se, nas faixas etárias mais
velhas, a grande diferença entre homens (em 2009, 15-24 anos: 6.7; 45-54 anos: 19.8;
+75 anos: 60.1) e mulheres (em 2009, 15-24 anos: 1.4; 45-54 anos: 5.6; +75 anos: 10.7).
Em Portugal, o suicídio é mais elevado no Alentejo, sobretudo em homens idosos.
A taxa de suicídio aumenta durante crises económicas e diminui em períodos de guerra.
Face aos outros países, Portugal tem uma taxa relativamente baixa (mais alta – Lituânia
42.1; mais baixa – Grécia 2.9). A taxa de suicídio entre doentes mentais e físicos
ultrapassa a da população geral. No entanto, a estimativa do número de suicídios
devido a perturbações psiquiátricas varia muito (ex.: entre doentes maníaco-depressivos
estará entre 15-55%).

Definição:
O comportamento suicida é a emergência de saúde mental mais frequente. O
suicídio consiste na tentativa premeditada, deliberada, de pôr termo à vida. É qualquer
tipo de comportamento que tenha como objetivo terminar com a própria vida, havendo
uma maior incidência em adultos do sexo masculino.
O para-suicídio engloba comportamentos de risco que colocam em causa a vida,
e tem uma taxa superior à do suicídio. É um ato não fatal, na sequência de um
comportamento invulgar, protagonizado por um indivíduo, sem a intervenção de outrem,
que provoca auto-lesão ou a ingestão de uma substância em sobredosagem para além do
prescrito ou de ser reconhecida como terapêutica, e que visa mudanças desejadas pelo
indivíduo, quer através desse ato, quer através das suas consequências físicas. Este termo
foi adotado para caracterizar atos de auto-destruição que não conduziram à morte ou nos
quais não se encontrava presente a intenção de morrer, havendo uma maior incidência em
jovens e mulheres.
As tentativas de suicídio podem ser um pedido de socorro. A ideação suicida pode
ser consciente ou não, e, apesar de ser fácil de avaliar com testes psicológicos, isso não
garante que a pessoa irá tentar realmente suicidar. Existe uma diferença abissal entre a
proporção de pessoas com ideação suicida e a proporção de tentativas de suicídio. Podem
ainda definir-se tipos específicos de suicídio: suicídio-autodestruição, quando a pessoa
não encontra mais nenhuma saída, suicídio-glória ou heroico, que é uma forma de salvar
a honra (principalmente em sociedades orientais), e suicídio relacionado com a religião,
como sacrifício em prol da comunidade ou de ideal.
Não existe uma explicação simplista para o suicídio. Entre os fatores conhecidos
encontram-se: predisposição biológica, reação à humilhação, desamparo/solidão/falta de
apoio, desespero (a melhor avaliação são testes que medem o desespero), culpa, fuga à
dor física ou psicológica (uma das causas mais frequentes), expressão de raiva violenta
(dirigida contra si próprio num momento impulsivo), reação à separação da família ou ser
amado (física ou afetiva), erotização da morte, e realização estética do sacrifício
patriótico.

Avaliação do risco de suicídio:


A avaliação do risco de suicídio continua entre as tarefas mais complexas e
difíceis realizadas por um psicólogo clínico, dado que a medição do risco efetivo é
probabilística. Assim, a avaliação pode cair no erro de ser por defeito ou por excesso.
Surgem questões clínicas e legais importantes, por um lado se houver negligência da
avaliação, por outro se for necessária intervenção involuntária (internamento
compulsivo) quando a pessoa representa perigo para si ou para os outros.
Apesar da literatura ser volumosa e diversa, é por vezes contraditória, e por isso
os psicólogos têm dificuldade em determinar a importância relativa dos vários fatores ao
avaliar o indivíduo.
Foi dada importância a algumas variáveis: história psiquiátrica anterior
(depressão, autoconceito); comportamento recente ou mudanças comportamentais
bruscas (ex.: fazer testamento); alteração significativa de circunstâncias (ex.: perda de
trabalho ou de rendimentos); ideação estranha (perturbações do pensamento, distorção da
autoimagem e do valor pessoal); ameaça para si ou para os outros (ex.: pessoas que matam
familiares antes do suicídio, condutores de transportes públicos); comportamento
relacionados como comprar corda, veneno ou arma; história de abuso de substâncias.

O psicólogo segue uma metodologia de sete passos para a avaliação e intervenção:


1) Recolha de informação sociodemográfica, para determinar se o paciente se encontra
num grupo de baixo ou alto risco.
2) Análise de indicadores clínicos e históricos:
a. Questões sobre fatores histórico-situacionais gerais.
b. Indicadores clínicos muito específicos e sinais de alerta (ex.: ter um plano).
c. Indicadores psicológicos como perdas recentes, ansiedade-depressão,
isolamento, desorientação-desorganização, consumo de álcool ou drogas.
3) Exploração inicial de risco, isto é, decidir se o risco potencial requer uma avaliação
mais profunda – se o risco for elevado, segue-se para o passo 4; se o risco for baixo,
segue-se com a avaliação e intervenção habituais.
4) Avaliação direta do risco utilizando:
a. Entrevista clínica (razões para o suicídio).
b. Avaliação através de autorrelato (escalas de Depressão e de Desamparo de
Beck).
5) Determinação do nível de risco e implementação da resposta.
6) Determinação da iminência de risco.
7) Implementação de estratégias de tratamento: se o risco for elevado, internamento
voluntário ou compulsivo; se o risco for baixo, psicoterapia, internamento em
ambulatório, suporte da família, vigilância.

Motto (1998) diz que a avaliação do risco de suicídio melhora com a experiência
clínica e que deve haver supervisão no trabalho com pacientes suicidas. Rosenberg (1997)
refere que a literatura indica estratégias baseadas na ação (avaliação dos fatores de risco
e intervenções diretas como hospitalização), mas faltam estratégias específicas para lidar
com a dor emocional do paciente com ideação suicida.
Rosenberg propôs um modelo de formação da avaliação do suicídio e intervenção:
1) Modelo de formação sistemático tendo em conta os princípios da especialidade
(expertise) e da psicologia cognitiva.
2) Fornece formação e treino para desenvolver competências de avaliação enquanto
outros programas se focam em ensinar como realizar entrevistas.
3) Estratégias de intervenção baseadas no afeto ou em sentimentos, com o objetivo de
visar pensamentos ou sentimentos latentes de suicídio.

Abordagem clínica da avaliação de doentes suicidas:


 Reconhece a natureza probabilística da deteção de risco vs. predição de risco.
 Reconhece as potencialidades e os limites das categorias tradicionais de
diagnóstico (DSM), assim como das várias teorias de psicoterapia e
psicopatologia.
 Compreende os fatores de risco epidemiológicos e clínicos em grupos específicos.
 Permite recordar quando uma consulta, supervisão e encaminhamento são
necessários.
 Integra uma história clínica, exame do estatuto mental, avaliação clínica,
consultas, informação de outros significativos e dados de avaliação psicológica e
estimativas de risco de suicídio para gerir o risco detetado.

Fatores relevantes para o risco de suicídio:


 Comportamento suicida prévio.
 Tipo de sintomas suicidas atuais.
 “Stressors” precipitantes.
 Apresentação sintomática.
 Autocontrole e impulsividade.
 Predisposições.
 Fatores protetores.

Avaliação com testes:


Muitos psicólogos defendem que os instrumentos não são úteis para este tipo de
avaliação, preferindo utilizar a entrevista clínica. No entanto, os testes específicos de
avaliação do suicídio mais utilizados são a Escala de Desamparo de Beck (BHS), que é
um forte preditor do suicídio consumado (uma pontuação de pelo menos 9 indica
potenciais tentativas de suicídio num futuro próximo), e o Beck Suicide Intent Scale
(SIS). Os testes tradicionais mais utilizados são o MMPI-2 (utiliza-se conjugação das
escalas de depressão e de psicopatologia/psicastenia), o Inventário de Depressão de
Beck (tem itens específicos sobre o suicídio, mas o teste por si só não é suficiente), o
Rorschach e o TAT (ex.: histórias sobre desespero e depressão, objetos enforcados ou
afogados).
Especificamente, o teste de Rorschach serve de prognóstico de uma possibilidade
que pode ocorrer no futuro, num contexto favorável ao suicídio. Possui um conjunto de
12 itens, a constelação suicida (introspeção negativa, sentimentos confusos face à mesma
situação, problemas de modulação de emoções, etc.), em que uma cotação de 8 é forte
indicadora de ideação suicida. No entanto, o teste de Rorschach não deve ser usado
sozinho, mas em conjunto com a história de vida e outros instrumentos psicométricos,
sendo que o psicólogo deve tentar obter o máximo de informação possível. O 16 PF
mostra que pessoas que tentam cometer suicídio tendem a ser tímidas, tensas, instáveis e
ansiosas, enquanto o Millon Clinical Multiaxial Inventory (MCMI) mostra traços
esquizoides, evitantes, dependentes e passivo-agressivos.

Problemas da avaliação com testes:


Como em toda a avaliação psicológica, existe o problema dos falsos negativos e
dos falsos positivos. Os falsos negativos são suicidas, mas isto não é captado pelos testes,
enquanto os falsos positivos não são suicidas, mas os testes dão esta informação.
O número de suicidas reais em relação aos indivíduos em risco de suicídio é muito
baixo. Apesar da ideação suicida ser o maior preditor do comportamento suicida, existem
problemas de validade com testes de avaliação da ideação suicida. De facto, vários testes
são importantes na avaliação do risco de suicídio, mas nenhum dá informação exata nem
é válido sozinho. Yufit propõe um método de avaliação composto por entrevistas
estruturadas e por uma bateria de avaliação psicológica composta por 13 testes objetivos
e projetivos (Suicide Assessment Battery).

Limitações teóricas do diagnóstico DSM:


Na avaliação do risco de suicídio as teorias psicológicas tradicionais e as
categorias de diagnóstico psiquiátrico têm um valor prático limitado, pelo que é
necessário manter uma abordagem integrada. A maioria dos psicólogos não utiliza a DSM
para avaliar o risco de suicídio, dado que o suicídio é transversal a todos os diagnósticos
e nem todos os suicidas têm psicopatologia: alguns são psicóticos, outros não; alguns
são impulsivos outros não.
Conclusão:
A avaliação do risco de suicídio é difícil porque, apesar de existirem muitos testes
e metodologias, nenhum tem validade suficiente para fazer uma predição exata. Além
disso, fatores ambientais, crenças, suporte, e características psicológicas complexas
também são determinantes para realizar suicídio.
Alguns indicadores de risco são depressão, ideação suicida, instabilidade
emocional, solidão e isolamento social, coragem, capacidade de planificar a sua morte,
compra de cordas ou outro material para executar o suicídio, nível de preparação
(testamento, organizar a vida, despedidas etc.).
6 – TESTES OBJETIVOS

A avaliação psicológica explora qualquer aspeto do trabalho clínico e de


investigação na área alargada da saúde mental. As técnicas de avaliação são elaboradas
para avaliar o funcionamento cognitivo, emocional, comportamental e social.
Os chamados testes de personalidade esforçam-se por avaliar a estrutura e as
características da personalidade de cada um, ou o modo particular de pensar, sentir ou
comportar. Outro grupo de testes, tem como objetivo a medida de sinais e sintomas de
psicopatologia ou de perturbações psiquiátricas.
Os testes de personalidade e de psicopatologia podem ser divididos em dois
grupos: (1) objetivos, com itens e questões estandardizados e uma escolha limitada de
respostas (sim ou não); e (2) projetivos, com estímulos originais ou ambíguos (ex.:
manchas de tinta, desenhos, banda desenhada), que incluem um formato de resposta
aberto-fechado (“open-ended”).

Em contraste com os testes projetivos, os questionários objetivos de personalidade


são compostos por itens relativamente não-ambíguos, apresentam opções de resposta
restritas, e possuem um esquema de pontuação que envolve pouco ou nenhum julgamento
por parte do avaliador, o que resulta numa fidelidade elevada. Por outro lado, têm mais
validade facial, pelo que é mais fácil para a pessoa avaliada antever e controlar os
resultados, e mais desejabilidade social. A maioria dos testes objetivos de avaliação da
personalidade utilizam o formato de autorrelato.
Foi proposta uma nova classificação: testes introspetivos ou de autorrelato,
baseados na linguagem e na autoavaliação, que são os antigos testes objetivos (inventários
e escalas de autorrelato e entrevistas clínicas); e testes baseados na realização, métodos
de avaliação externa em que se pede ao sujeito para fazer algo, que são os antigos testes
projetivos (Rorschach, TAT), fontes externas de informação, testes de inteligência,
neuroimagem e registos institucionais. A entrevista clínica contém habitualmente
métodos introspetivos e externos.
Os testes de autorrelato são melhores para avaliar estados experienciais internos
(como ansiedade), enquanto os testes baseados na realização são melhores a avaliar o
funcionamento e a predizer comportamentos espontâneos. Os testes de autorrelato têm
melhor correlação com outros métodos de autorrelato (ex.: MMPI-2 tem boa correlação
com diagnósticos psiquiátricos, que são também obtidos através de autorrelato em
entrevista), enquanto os testes baseados na realização têm melhor correlação com
medidas comportamentais (ex.: Rorschach tem melhor correlação com comportamentos,
como o número de hospitalizações). Os mecanismos utilizados por ambos são diferentes:
os testes de autorrelato requerem capacidade de introspeção e o psicólogo só conhece o
resultado final (ex.: pontuação), enquanto os testes baseados na realização não estão
dependentes da introspeção e dão acesso à forma como a pessoa elabora as respostas.
História dos testes objetivos:
Foram primeiramente desenvolvidos durante a I Guerra Mundial devido à
necessidade de avaliar os recrutas, tendo a APA promovido, com Terman, o
desenvolvimento dos testes de inteligência da série Alfa.
Woodworth desenvolveu na Universidade de Columbia um teste de papel e lápis
de aptidão psiquiátrica para as forças armadas, chamado Personal Data Sheet
(Woodworth, 1920), que foi o primeiro teste de personalidade a ser aplicado em larga
escala. Foi elaborado para detetar recrutas vulneráveis a colapsos durante o combate,
baseando as 200 questões iniciais nos sintomas neuróticos descritos na literatura e nos
sintomas dos soldados com problemas emocionais e comportamentais durante o serviço
militar. Na sua versão final houve uma redução para 116 itens com resposta sim-não, e
baseou-se em normas, incluindo educação, etnia, amostras normais e clínicas. Este teste
ficou conhecido como Woodworth Psychoneurotic Questionnaire e tornou-se o precursor
dos testes de personalidade.
Outros testes de personalidade pioneiros foram o Bernreuter Personality Inventory
(Bernreuter, 1933) e o Cross-Out Test (ou X-Out Test, de Pressey & Pressey, 1919). Este
último tinha como objetivo ajudar a classificar estados emocionais, através da
apresentação de listas de palavras agradáveis e desagradáveis, entre as quais os sujeitos
marcavam com um X as que considerassem erradas, desagradáveis, inapropriadas ou
aborrecidas.
Na década de 30, foi importante a publicação dos livros de Allport e de Murray,
autores que, de forma distinta, focaram a importância da medição da individualidade e da
personalidade e foram os precursores de metodologias mais sofisticadas de medição de
construtos.

Bases teóricas dos testes objetivos:


Todos os testes têm uma base teórica, mas alguns têm itens construídos com base
numa ligação a uma teoria particular. Por exemplo, o Millon Clinical Multiaxial
Inventory-III (MCMI-III) é baseado na teoria de perturbações da personalidade de
Millon; o Child Abuse Potential Inventory é derivado dos fatores psicológicos relatados
na literatura e relacionados com o abuso físico de crianças; e o Horney-Coolidge Type
Indicator é baseado na teoria tridimensional interpessoal de Horney.
Já os modelos empíricos, mesmo que tenham alguma base teórica, são geralmente
elaborados através de métodos estatísticos e usam frequentemente análise fatorial. O
16PF (Sixteen Personality Factor Questionnaire de Cattell, 1940), que levou várias
décadas a ser construído, procurou compreender os blocos básicos da personalidade,
estudando e catalogando todas as palavras que descreviam as características da
personalidade. Tupes e Christal (1961), numa revisão de milhares de palavras em inglês
descrevendo traços de personalidade, através da análise fatorial, criaram uma teoria em
que os traços de personalidade podiam ser resumidos a cinco fatores. Mais tarde, Costa e
McCrae (1985), criaram o NEO-PI (célebre teste dos cinco fatores) e anunciaram que este
podia ser alargado aos fatores anormais de personalidade.

O objetivo principal dos testes objetivos baseados no diagnóstico é de produzir


um diagnóstico psiquiátrico. Por exemplo, o Inventário de Depressão de Beck foi criado
para medir a gravidade dos sintomas depressivos, mas não foi elaborado para ser uma
medida de diagnóstico oficial da depressão. Para isso, teria de ser alinhado com um
sistema de diagnóstico como o DSM-IV ou o ICD-10.
O MMPI pode ser considerado um teste de diagnóstico, sendo o mais utilizado
nos últimos 55 anos, apesar de também não estar diagnosticamente alinhado com o DSM
ou o ICD. Já o Millon Clinical Multiaxial Inventory original foi criado para diagnosticar
perturbações da personalidade e a versão mais recente está alinhada com o DSM-IV.
Todas as entrevistas de diagnóstico, estruturadas e semiestruturadas, foram
desenhadas especificamente para auxiliar o diagnóstico psiquiátrico. Baseiam-se
explicitamente num sistema de diagnóstico, como o DSM-IV, e são tão úteis e válidas
quanto o seu critério provou ser. Quando o sistema de diagnóstico é atualizado, são
realizadas alterações nas entrevistas estruturadas.

Testes de autorrelato − impacto do funcionamento intelectual:


Utilizando testes objetivos para avaliar a personalidade, o psicólogo está
dependente da capacidade e vontade do cliente para fazer autorrelatos precisos. Por isso,
é importante determinar se as pessoas avaliadas conseguem revelar informação sobre as
suas personalidades de modo competente, atendendo à sua inteligência ou
funcionamento cognitivo (através da literacia) e capacidade de insight.
A maioria dos instrumentos de autorrelato requerem que a pessoa avaliada possua
um nível mínimo de literacia, e é também necessário tomar atenção ao nível educacional
da amostra de estandardização, devendo ser-se cuidadoso na interpretação de protocolos
de clientes cujo nível educacional não é o mesmo. O funcionamento intelectual influencia
a capacidade do cliente em fornecer informação, pelo que o resultado de um cliente com
poucas capacidades cognitivas deve ser interpretado com cuidado e, possivelmente,
complementado com informação de outras fontes.
A qualidade de insight sobre os próprios problemas que o cliente traz para a
situação de avaliação pode influenciar muito a validade da avaliação em si. A capacidade
de insight, que não ser extrapolada linearmente através do QI, pode ser inferida a partir
do próprio perfil de personalidade, e vários testes objetivos de personalidade têm medidas
de atitude que ajudam a avaliar a capacidade de autorrevelação. Em alternativa, outros
instrumentos foram concebidos para avaliar as pessoas através de itens comportamentais
que requerem pouco insight.
Veracidade do autorrelato:
Apesar da literatura indicar que as pessoas conseguem revelar informação acerca
da sua personalidade de forma competente através de medidas objetivas de autorrelato,
alguns indivíduos podem, contudo, não estar motivados para cooperar na sua avaliação
psicológica. Devido à necessidade de se apresentarem de uma determinada maneira,
algumas pessoas não respondem de forma honesta e aberta. Os exemplos mais comuns
de pessoas que não estão motivadas para cooperar são: candidatos a emprego, pais
envolvidos em disputas de guarda parental e indivíduos em avaliações devido a problemas
legais.
Um instrumento de autorrelato deve conter uma forma eficaz de identificar os
respondentes que estão a dissimular as respostas, e o método mais utilizado são escalas
de validade. Assim, testes sem escalas de validade poderão perder a utilidade em
determinadas situações de avaliação. Por exemplo, as escalas de validade do MMPI-2 são
um dos fatores que explicam o sucesso deste teste, que é utilizado por alguns psicólogos
apenas para avaliar a validade da aplicação de outros testes. A escala L do MMPI-2
apresenta resultados mais elevados de pessoas com capacidade de insight muito baixa.

Estabilidade da personalidade:
Um dos pressupostos da avaliação objetiva da personalidade é que as
características de personalidade medidas são estáveis. De facto, a estabilidade temporal
dos testes de personalidade encontra-se entre 0.5 e 0.7. Apesar destes valores serem
elevados, há determinadas variáveis que afetam a estabilidade das medidas de
personalidade – é importante tentar compreender as mudanças normativas da
personalidade:
1) A influência das características dos instrumentos, nomeadamente o número de
itens e a homogeneidade da escala.
2) A duração do intervalo de reteste, sendo que a personalidade parece ser mais
estável em intervalos curtos do que em intervalos longos (no entanto, isto pode
dever-se ao facto das pessoas se lembrarem e repetirem as respostas).
3) A operacionalização da personalidade, dado que a maioria dos testes mede
traços que são, por definição, estáveis e duradouros, e que as instruções e o
vocabulário usado nos itens estimulam as pessoas a fazer generalizações sobre si
próprias. Assim, a personalidade poderá parecer estável já que os seus construtos
são conceptualizados e medidos como estáveis.
4) A diferente estabilidade dos construtos de personalidade. Medidas de
psicopatologia apresentam menos estabilidade do que medidas de personalidade
normal (no entanto, isso poderá dever-se ao facto das primeiras estarem mais
sujeitas a desejabilidade social e a aquiescência). Por outro lado, medidas
relacionadas com a depressão têm baixa estabilidade (as pessoas que se sentem
mal tenderão a procurar mudar a sua personalidade) e medidas relacionadas com
a socialização têm elevada estabilidade.
5) Características pessoais dos indivíduos avaliados, havendo grandes diferenças
individuais na estabilidade da personalidade. Estudos afirmam que ocorrem
poucas mudanças de personalidade após os 30 anos, não apontam diferenças entre
homens e mulheres e indicam que pessoas mais rígidas tem características de
personalidade mais estáveis.

Testes objetivos mais utilizados:


Para avaliação de adultos em contexto clínico, utilizam-se o MMPI-2 (escalas de
validade, clínicas e de conteúdo num total de 567 itens), o Basic Personality Inventory
(BPI, de 240 itens), o Personality Assessment Inventory (PAI, com escalas de validade,
clínicas, de tratamento e interpessoais, num total de 344 itens), o Inventário Multiaxial
Clínico de Millon (MCMI-III, com escalas clínicas e índices de validade, num total de
175 itens), o Índice de Depressão de Beck (BDI, com 21 itens ou sintomas), o Inventário
da Ansiedade Traço-Estado (STAI), e o Índice de Pensamento Esquizofrénico de
Whitaker (WIST, com 25 itens de escolha múltipla).
Para avaliação da personalidade normal, utilizam-se o NEO-PI-R (com 240
itens, que avaliam as cinco dimensões Neuroticismo, Extroversão, Abertura à
experiência, Amabilidade e Conscensiosidade), o Questionário Multidimensional de
Personalidade (MPQ, de 276 itens, que tem uma abordagem dimensional), o 16PF (com
185 itens, que mede 16 fatores da personalidade e sumariza-os em cinco fatores globais:
extroversão, ansiedade, dureza, independência e autocontrolo), e o Inventário Psicológico
Califórnia (CPI, com 434 itens, semelhante em estrutura e conteúdo ao MMPI-2).
Para avaliação em contexto educacional e orientação vocacional, utilizam-se o
NEO-PI-R, o CPI e o MMPI-2.
Para avaliação no contexto da seleção profissional, utilizam-se o 16PF, o NEO-
PI-R e o CPI.

Estratégias de construção dos inventários de personalidade:


Estratégia racional:
Em geral, se quisermos obter informação sobre alguém, a forma melhor e mais
fácil é perguntar-lhe diretamente. O Personal Data Sheet de Woodworth foi construído
deste modo, sendo composto por itens que descreviam as condições psicológicas que
tornavam a pessoa inapta para o serviço militar. Este tipo de escala é eficiente se os
indivíduos estiverem dispostos a responder honestamente, mas é relativamente fácil
dissimular as respostas. As escalas racionais eram construídas sem verificações empíricas
da sua validade.

Estratégia teórico-racional:
Pode-se selecionar racionalmente itens para uma escala, não por se estar
interessado na resposta ao próprio item (estratégia racional), mas porque se pensa que a
resposta está relacionada com um construto que interessa, isto é, que o comportamento
medido pelo item está relacionado com um dado traço de personalidade.

Estratégia da consistência interna:


Se uma teoria diz que o construto que está a ser medido é um construto unitário,
então pode acreditar-se que todos os itens da escala poderão estar correlacionados
positivamente uns com os outros. Coeficientes de consistência interna (coeficiente alpha,
KR20 ou correlações entre cada item e o total de itens restantes) podem ser usados para
assegurar a homogeneidade da escala. No entanto, utilizando esta estratégia não se
garante que os itens medidos pertencem ao construto pretendido e não a outro (apenas se
garante que os itens estão todos correlacionados entre si), pois não se utiliza um critério
externo.

Estratégia empírica – grupo critério:


Nenhuma das estratégias anteriores usa dados empíricos para avaliar a relação
entres itens e o construto de interesse. Este método implica juntar um conjunto de itens,
aplicá-los ao grupo que se pretende descrever (grupo critério) e analisá-los em função de
resposta predominante do grupo. Os itens podem ter pesos distintos para refletir as suas
frequências. Os indivíduos são descritos em função da medida em que as suas respostas
correspondem às do grupo – quanto maior a pontuação na escala, maior a similaridade do
indivíduo face ao grupo. Há poucas escalas construídas deste modo.

Estratégia empírica – grupos de contraste:


Neste procedimento, um conjunto de itens é aplicado ao grupo de interesse (grupo
critério) e ao grupo face ao qual o grupo de interesse se deve diferenciar (grupo de
referência). Este último pode ser um grupo representativo de pessoas em geral ou um
grupo específico (ex.: amostra de doentes psiquiátricos). Devem-se reter os itens que
obtêm respostas significativamente diferentes pelos membros dos dois grupos.

Estratégia empírica – item métrica:


As escalas podem ser construídas com base em outros critérios para além do
conteúdo, por exemplo quando o objetivo é medir a aquiescência e desejabilidade social.
É necessário avaliar os estilos de resposta, isto é, a tendência para se preferir uma certa
opção de resposta independentemente do conteúdo do item. O indivíduo não responde ao
conteúdo do teste, mas sim com base em preferências de alguma categoria de resposta
(ex.: verdadeiro ou falso). Estas preferências são tendências duradouras e indicadoras de
um estilo básico de personalidade.
Em contraste com o estilo de resposta relacionado com uma tendência para
preferir um estilo de resposta independentemente do seu conteúdo, na desejabilidade
social há uma tendência para responder ao conteúdo do item com o objetivo de apresentar
uma certa imagem de si próprio.
A posição do empiricismo radical defende que escalas compostas de itens sem
relação com um construto têm um desempenho estatístico tão bom quanto as escalas com
conteúdo relevante – trata-se de uma aplicação bruta (forçada) da estratégia empírica dos
grupos de contraste. Assim, considera que basta juntar uma quantidade suficiente de itens
potenciais e um grande grupo de sujeitos e deixar os computadores fazer o resto. Esta
abordagem falhou.

Estratégia analítica fatorial:


É a extensão lógica do princípio da homogeneidade da escala. Esta estratégia
assume que não se sabe o que se deseja medir. O objetivo é determinar o que se mede e
só depois construir medidas dos construtos identificados através da análise fatorial. O
modelo assume que se está a identificar dimensões ao longo das quais as pessoas diferem,
e não é apropriado para grupos distintos.
7 – TÉCNICAS PROJETIVAS

A psicanálise freudiana define a projeção como o processo em que o sujeito


atribui ao outro sentimentos, desejos e tendências que recusa ou desconhece em si próprio,
e de que se quer libertar. Este movimento do interior para o exterior é inconsciente (o
consciente não conseguindo controlar a situação), e como tal tem sido tomado como um
mecanismo de defesa primário (marca o fracasso do recalcamento). No fundo, o sujeito
não consegue suportar ter ou ser aquilo de que pretende libertar-se. Trata-se de um
mecanismo de defesa de origem muito arcaica e que se encontra especialmente na
paranoia, mas também nos modos de pensamento normais como a superstição.
“operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou coisa,
qualidades, sentimentos, desejos, etc. que ele desconhece ou recusa nele. Trata-se de um
mecanismo de defesa de origem muito arcaica e que se encontra especialmente na
paranoia, mas também nos modos de pensamento normais, como a superstição.”
(Laplanche e Pontalis, 1981).
Frank defende outro mecanismo para explicar a projeção nas técnicas de avaliação
projetivas: a hipótese projetiva. Segundo Frank (1939), “podemos apreender a
personalidade do indivíduo e induzi-lo a revelar o seu modo particular de organizar a
experiência, oferecendo-lhe um campo (objetos, materiais, experiências) relativamente
pouco estruturado e pouco dotado de organização cultural, a fim que ele possa projetar
sobre esse campo maleável o seu modo de ver a vida, o sentido que lhe dá, os seus valores,
as suas estruturas e sobretudo os seus sentimentos. Provocamos assim uma projeção do
mundo privado, próprio da personalidade do indivíduo, porque este último deve organizar
o campo, interpretar o material e reagir a ele afetivamente”.
Sami-Ali (1977) estuda a relação entre o mecanismo de projeção proposto por
Freud e os testes projetivos, afirmando que há três tipos de posições relacionadas com a
filiação do conceito de projeção. Segundo a posição negativista, defendida por Eysenck,
não há nenhuma relação entre a projeção e as técnicas projetivas, ou seja, aquilo que a
pessoa vê é equivalente ao desenho (não se trata de projeção, mas sim de expressão).
Segundo a posição de compromisso, defendida por Rapaport, Haufmann, Mayman,
Murphy e Frank, todas as manifestações do comportamento humano são projetivas, sendo
que as técnicas projetivas apenas operacionalizam a “hipótese projetiva”. De acordo com
a posição de continuidade, defendida por Cattell, Sargent, Schaffer, Lazarus e
Rosenzweig, existe uma continuidade entre o conceito analítico de projeção e os seus
derivados psicométricos, como se fossem as duas faces da mesma moeda (teoria do
esquema).
Segundo Exner, pode distinguir-se entre expressão, ou descrição seca das
imagens, e projeção, ou tudo aquilo que se acrescenta à imagem (ex.: intenções,
sentimentos, movimentos, distorções, embelezamentos).

Testes projetivos:
Frank cunhou o termo técnica projetiva para descrever testes que usam estímulos
ambíguos para permitir ao indivíduo expressar as suas formas características de perceber
e organizar as experiências. Quando os estímulos são ambíguos e não existe uma resposta
pronta, a singularidade da forma de responder do indivíduo torna-se evidente, já que há
múltiplas formas de abordar a tarefa e a pessoa deve organizar ativamente a resposta. Um
pressuposto central dos testes projetivos é que os estímulos do ambiente são percebidos
e organizados pelas necessidades, motivações, sentimentos e estruturas cognitivas
específicas do indivíduo, e que uma grande parte deste processo ocorre automática e
inconscientemente.
Os testes projetivos operacionalizam a hipótese projetiva através de um estímulo
relativamente ambíguo em que o sujeito vai ver objetos (Rorschach) ou contar histórias
(TAT, CAT, RATC, PN, Era Uma Vez...). Isto irá revelar processos de personalidade e o
seu funcionamento psicológico, nomeadamente a gestão de conflitos, emoções,
capacidades cognitivas, como se vê a si próprio, qualidade das relações interpessoais,
gestão das emoções, motivação, assim como indicadores de psicopatologia entre os quais
a depressão, potencialidade de suicídio e alterações graves do pensamento.
Durante várias décadas, as técnicas projetivas foram consideradas como estando
ligadas à psicanálise e privilegiando uma perspetiva ideográfica da avaliação. Segundo
Allport, esta perspetiva afirma que cada individuo é um ser único, diferente de todos os
outros e que a avaliação psicológica deve incidir sobre os elementos que tornam aquele
individuo o único ser da sua espécie – análise intra-individual. Contrasta com a
perspetiva nomotética, que afirma o contrário, que todos os indivíduos têm uma
semelhança notável entre eles e que a avaliação deve incidir sobre aquilo que torna as
pessoas parecidas. Trata-se de uma análise inter-individual onde se privilegia os dados
normativos e os resultados de grupos em relação aos quais se irão comparar os resultados
do indivíduo.
Nenhuma destas perspetivas está totalmente certa ou errada, e o ideal seria
conseguir avaliar o individuo conseguindo compreender tudo o que o torna único e ao
mesmo tempo igual ou semelhante aos outros. Este objetivo pode ser realizado através da
utilização complementar de vários testes. O Teste de Rorschach e o RATC conseguem
dar uma resposta bastante boa, devido aos estudos normativos.
Alguns testes projetivos são Thematic Apperception Test (TAT), Children’s
Apperception Test – Animal (CAT-A), Children’s Apperception Test – Human (CAT-
H), Senior Apperception Test (SAT), Teste Patte Noire (PN), Robert’s Apperception Test
for Children (RATC), Era uma vez…, Teste de Rorschach.

Contextos de utilização:
Qualquer técnica projetiva pode ser utilizada com adultos e crianças, desde que
estas tenham uma capacidade mínima de comunicação. A avaliação psicológica, para se
realizar, pressupõe uma necessidade de compreensão do funcionamento psicológico
(incluindo pontos fortes e fracos), para se poder planificar uma intervenção com o
objetivo de resolver um problema.

Resultados possíveis:
Permitem obter a compreensão do processo, em vez de se ter apenas acesso ao
resultado final. Além disso, informam sobre a qualidade das relações interpessoais, auto-
perceção, gestão das emoções, conflitos, agressividade, capacidade de controlo do
comportamento e tolerância ao stress, processamento de informação, mediação cognitiva
e ideação.
Informam também sobre eventuais patologias: problemas de julgamento,
distorção percetiva, alteração da ideação; depressão, potencialidade de suicídio e
problemas afetivos; problemas de relacionamento interpessoal, fragilidade da
autoimagem e da autoestima; obsessividade; e tendências paranoides.

Utilidade:
Em complemento com outro tipo de testes, como testes de nível, escalas de
autorrelato e inventários, os testes projetivos permitem uma compreensão do
funcionamento psicológico para tornar possível a planificação de uma intervenção eficaz
e adaptada à especificidade de cada cliente.

Problemas:
No entanto, os testes projetivos apresentam algumas limitações, como o facto de
algumas provas não terem estudos normativos atualizados, e os problemas de validade de
algumas interpretações que não se apoiam em estudos empíricos.

Avaliação de esquemas e de estratégias de resolução de problemas:


Segundo Teglasi, a personalidade é um todo multidimensional funcional, com
um funcionamento complexo, e cada método de avaliação visa uma dimensão ou nível de
personalidade. Uma abordagem multimétodos permite revelar os diferentes padrões que
contribuem para o mosaico maior (ex.: a perceção da pessoa acerca de si própria pode
não corresponder exatamente aos seus comportamentos). Contudo, esperamos que
diferentes fontes de informação se confirmem umas às outras.
As técnicas projetivas não pertencem a uma teoria de personalidade específica. Os
métodos projetivos permitem respostas abertas e as suas interpretações acomodam vários
paradigmas, desde os cognitivos às neurociências e ao estudo da emoção e da cognição
social.
As respostas fornecem informação sobre a estrutura interna da personalidade, e
fornecem o contexto de compreensão do comportamento e da sintomatologia. A enfâse
nas estruturas internas é partilhada pela psicologia social, cognitiva e clínica,
nomeadamente o papel alargado das emoções e dos processos inconsciente. Os métodos
projetivos revelam a estrutura e o processo da personalidade, que é largamente
inconsciente, diferindo assim das check-lists e das entrevistas de autorrelato.
Podem ser vistas como medidas personalidade baseadas na realização da
personalidade, que revelam as estruturas internas, ou esquemas, como recursos
necessários para a vida quotidiana. A interpretação das respostas às técnicas projetivas
promove a integração de conhecimento de várias subdisciplinas.
Cada método projetivo estabelece uma tarefa que requer a aplicação adaptativa
destas estruturas, que são moldadas por todos os fatores que contribuem para o
desenvolvimento da personalidade. Têm como vantagens: a validade da administração do
teste ser independente do nível de literacia do cliente (ex.: Rorschach), uma boa fidelidade
inter-cotador com psicólogos experientes, e possuírem estudos normativos (ex.:
Rorschach e RATC).

Hipótese projetiva:
O objetivo das técnicas projetivas é de fornecer uma tarefa que permita ao
individuo de exprimir formas de perceber e organizar experiências. O estilo individual é
evidente quando o estímulo é ambíguo e não há respostas prontas. Os estímulos do meio
são percecionados e organizados pelas necessidades específicas, pela motivação,
sentimentos, quadros percetivos e estruturas cognitivas.
Na psicologia cognitiva ganhou importância o conhecimento das estruturas
organizadas de significado como os esquemas. No paradigma psicodinâmico a
emergência das relações de objeto, apoiam-se em estruturas internas semelhantes ao
esquema para guiar a informação sobre o self e os outros.

Teoria do Esquema e as técnicas projetivas:


Esquemas são representações internas da realidade, que fornecem regras para
guiar o comportamento em relações sociais e influenciam como a informação sobre
relações é armazenada na memória. As estruturas de conhecimento organizado e bem
aprendido (esquemas ou scripts) têm um impacto considerável no armazenamento e na
recuperação da memória. As tarefas projetivas requerem a sobreposição de esquemas
previamente adquiridos à perceção dos estímulos e à organização da resposta. Permite
analisar a natureza e adaptabilidade dos esquemas ativados pelas propriedades dos
estímulos.
As estruturas da memória (como os esquemas ou scripts) que armazenam a
informação sobre as situações, pessoas e acontecimentos, guiam a interpretação das
experiências ao fornecerem critérios de regulação da atenção para focar o processo de
codificação, armazenamento e recuperação da informação em domínios específicos.
Esquema evento: refere-se ao tipo de guião que organiza a compreensão de uma
sequência de eventos numa situação de rotina, como pedir uma refeição num restaurante.
Se conhecermos os guiões que os outros seguem, sabemos como irão agir e predizer os
seus comportamentos.
Esquemas da pessoa: incluem informação acerca do self, dos outros e das suas
interações, lidam com as regras do indivíduo para predizer, interpretar, responder a e
controlar os encontros carregados de afeto. A emoção é um organizador chave dos scripts
pessoais. Uma vez que o script se formou, este organiza e modifica novas experiências
para caber na estrutura pré-existente. O esquema pessoal desenvolve-se através da síntese
individual entre as experiências do passado tendo em conta o estilo individual de
processamento de informação e a construção do esquema pessoal junta modelos de
perceção, cognição, memória, afeto, ação e feedback. O processo de interpretar a nova
informação de acordo com a experiência previamente adquirida atua para além da
consciência (inconsciente) e pode levar a distorções sistemáticas na perceção, na
interpretação e na ação em encontros interpessoais.
Esquema causal: advém da necessidade de as pessoas necessitarem de uma
explicação causal e há uma sobreposição com a teoria da atribuição, que indica que os
indivíduos têm motivação para fazerem inferências causais sobre as experiências e as
atribuições são realizadas de acordo com a congruência com os esquemas existentes do
self e do outro e as relações assumidas entre causas e efeitos. Isto foi estudado nas
atribuições causais e a depressão. Tem relação com as crenças irracionais.

Um esquema ou script é um conjunto de expectativas acerca do que vai acontecer


a seguir numa dada situação, pelo que ao sabermos que esquema é que os outros estão a
seguir, sabemos como agir e conseguimos predizer as ações dos outros. Os esquemas são
organizados pela emoção, através da síntese das experiências passadas e de acordo com
o estilo individual de processar informação. Este processo de interpretar nova informação
de acordo com esquemas previamente adquiridos ocorre sem atenção consciente, pelo
que aumenta a eficiência na identificação e organização das perceções, no preenchimento
de informação em falta e na seleção de estratégias. Contudo, os esquemas também podem
levar a distorções sistemáticas na perceção, interpretação e ação interpessoal.
A sobreposição entre a teoria do esquema e a hipótese projetiva é evidente em
aspetos comuns. O desenvolvimento de esquemas ou de scripts e a sua recuperação da
memória representam um processo inconsciente através do qual as perceções do passado
influenciam a interpretação de situações atuais. Este é precisamente o processo avaliado
pelas técnicas projetivas, já que o seu foco é a aplicação dos esquemas individuais às
exigências da tarefa (como o esquema influencia o processo de resposta) e a generalização
aos desafios da vida que requerem adaptações semelhantes. Os esquemas são estruturas
mentais que devem ser suficientemente maleáveis para se adaptarem a novas situações e
a novas configurações de eventos.
Avaliação dos esquemas através de testes projetivos:
Pode distinguir-se entre esquemas duradouros e modelos de trabalho. Os
esquemas duradouros são estruturas de significado intrapsíquicas contendo formatos
generalizados de conhecimento que pode ser ativado por outras atividades mentais
relacionadas com esse conhecimento.
Os modelos de trabalho combinam fontes de informação internas e externas,
como contemplar uma atividade interpessoal ou uma tarefa como a do TAT. Integram
ativamente estímulos de uma situação presente com conhecimento do passado através de
engatilhamento de uma rede associativa de ideias fornecidas pelo esquema duradouro da
pessoa. O modelo de trabalho pode incorporar diferentes elementos de cada um dos
esquemas da pessoa. Quanto maior for o reportório dos esquemas duradouros da pessoa,
maior será a flexibilidade na construção de modelos de trabalho das situações
interpessoais.

Os esquemas ou scripts podem ser organizados em metascripts que refletem o


estilo pessoal de lidar com os scripts. Os meta-esquemas podem explicar a resiliência
porque influenciam como os indivíduos reformulam os seus esquemas quando
confrontados com o stress quotidiano, o fracasso ou acontecimentos inesperados. Os
indivíduos com esquemas mais complexos querem mais facilmente rever informação
negativa para explorar esquemas alternativos. Os esquemas mais flexíveis indicam que
as ideias atuais que parecem claras e evidentes neste momento, podem mudar em função
de nova experiência. Este processo não pode ser ensinado diretamente, mas é um produto
nas mudanças experienciadas na perceção, na compreensão e nos sentimentos em
confronto com informação nova.
Os esquemas muito bem desenvolvidos permitem que o indivíduo processe
informação complexa sem esforço e sem ter consciência disso, de forma quase
automática. Quanto mais abstratos forem os esquemas, maior flexibilidade pode existir
porque incluem conceitos condicionais e inferenciais, regras abstratas e informação
afetiva, embora exista a possibilidade de inconsistências entre a realidade e os esquemas
ativados (caso da psicose). A progressão de esquemas rudimentares para esquemas mais
complexos é o produto da experiência e do grau de esforço ativo, estratégico na
estruturação e organização da experiência.
A teoria do esquema reconhece o papel do afeto, da motivação, dos fatores
biológicos (genética e temperamento) como das influências ambientais (stress e apoios)
na sua interação com os processos cognitivos, assim como a influência da cultura.

Existem dois aspetos das estruturas de memória de longo prazo (esquemas) que
são importantes na interpretação das respostas nas técnicas projetivas: o conhecimento
processual e o conhecimento declarativo.
O conhecimento processual trata-se de processos inconscientes ou capacidades
como a estrutura da linguagem, a organização musical ou outras regras implícitas que
ordenam a informação ou a perceção. Já o conhecimento declarativo trata-se de
estruturas esquemáticas que implicam a recuperação de informação factual tais como
nomes, datas, localizações e eventos históricos.
As respostas nas técnicas projetivas revelam a organização implícita do
conhecimento assim como o conteúdo que entra na consciência em resposta aos estímulos
apresentados. A interpretação deve-se focar na organização dos esquemas examinando os
aspetos estruturais das respostas e a sequência das ideias expressas, assim como a análise
do conteúdo.

Processamento de informação inconsciente:


A ideia de que o comportamento humano se baseia num armazém considerável de
estruturas de conhecimento organizado operando para além da consciência é aceite pelos
psicólogos cognitivistas, havendo evidência crescente de que a informação não acessível
à consciência influencia a memória, a perceção e o pensamento.
Atitudes, expectativas e esquemas que são suficientemente fortes para serem
automaticamente ativados são considerados como tendo acessibilidade crónica.
Esquemas com acessibilidade crónica podem ser ativados por emoções que emergem em
reação a estímulos projetivos. Uma das vantagens das técnicas projetivas é a oportunidade
de estudar a estrutura e o conteúdo do esquema, mesmo quando temporariamente evocado
(ex.: evocado devido a uma experiência recente).

Conhecimento inerte vs. conhecimento utilizável:


As medidas projetivas, contrariamente às tarefas cognitivas ou às medidas de
autorrelato, permitem distinguir entre conhecimento inerte e conhecimento utilizável.
Conhecimento inerte é a informação que a pessoa conhece, mas que não utiliza
exceto se lhe for pedido explicitamente. A razão pela qual uma pessoa falha na utilização
de conhecimento relevante para resolver um dado problema é o facto desta informação
não chegar espontaneamente à consciência ou o esquema não estar suficientemente
desenvolvido. Em testes cognitivos típicos, a pessoa avaliada recebe pistas para aceder
ao conhecimento relevante, enquanto no dia-a-dia a pessoa tem de prestar atenção a
determinados aspetos para perceber que existe um problema.
A aprendizagem efetiva requer estratégias ativas para organizar, recuperar
informação como realçar ou dividir a tarefa em unidades que se possam gerir – diferença
entre o aprendiz ativo e o aprendiz inativo.
Os problemas reais são acompanhados de emoções, que moldam a forma como a
pessoa pensa sobre o problema. Assim, em testes estruturados as pessoas podem ser
capazes de verbalizar formas de resolução de um dado problema, mas em situações da
vida real não serem capazes de traduzir este conhecimento numa ação adequada. Os testes
projetivos revelam a acessibilidade espontânea destes esquemas.

Influências afetivas e motivacionais na cognição:


A emoção influencia a memória e julgamento e o processamento de informação
inconsciente. Epstein (1994) descreve o impacto da emoção no pensamento e defende a
existência de dois modos de processamento de informação interativos: o sistema
racional (processo deliberado) e o sistema experiencial guiado pela emoção (que ocorre
sem esforço deliberado nem consciência). O pensamento é transformado por emoções
intensas (ex.: ansiedade tende a enviesar a interpretação de textos ambíguos).
Westen (1993) afirma que os psicólogos cognitivistas não dão importância
suficiente aos fatores motivacionais e emocionais do processamento de informação
inconsciente. O afeto e a motivação podem realçar ou perturbar a organização e os
recursos na aquisição e na aplicação subsequente das estruturas do conhecimento.

Níveis de personalidade avaliados pelos testes projetivos:


Os métodos projetivos medem diferentes dimensões, ou níveis, da personalidade
face aos testes de autorrelato. McAdams (1995) propôs a existência de três níveis de
personalidade: (1) traços ou estilístico, tendências habituais; (2) construtos
desenvolvimentais ou motivacionais como objetivos, planos e esforços; (3) narrativa de
vida ou história desenvolvimental internalizada para fornecer significado, propósito e
coesão às experiências específicas.
Para Klopfer (1981), um traço em si mesmo pode ser compreendido também em
três níveis: (1) como é visto pelos outros significativos, ou a imagem pública (com ou
sem consciência); (2) como é visto pelo indivíduo, ou o autoconceito consciente; (3) como
se manifesta (com ou sem consciência) no comportamento, tal como nas respostas a
técnicas projetivas. De facto, os testes projetivos são melhores a predizer a imagem
pública dos traços de uma pessoa do que o autorrelato desses traços.

Motivação:
A motivação deve ser compreendida em relação a dois ingredientes: (1) o objetivo
ou intenção; e (2) a capacidade autorregulatória para manter o objetivo de forma
sustentada.
O esforço sustentado é facilitado pelo interesse e o prazer na atividade. Caso
contrário, seria necessária uma forma programação de incentivos externos. Deve-se
compreender as lacunas entre os objetivos ou intenções declarados da pessoa e os recursos
autorregulatórios.
Testes de personalidade de autorrelato vs. projetivos:
As medições através de autorrelatos (autoatribuição) e as inferências a partir de
material projetivo (implícito) não são equivalentes. Os autorrelatos podem fazer a
predição de comportamento quando estão a operar incentivos sociais ou quando a situação
está estruturada para incitar a resposta. Tanto a utilização de métodos diretos e indiretos
é útil na avaliação da personalidade, dependendo do propósito, e a utilização de ambos
fornece o quadro mais preciso:
 Métodos diretos: observação do comportamento, inventários ou entrevistas.
 Métodos indiretos: estímulos relativamente pouco estruturados, TAT, Rorschach
ou desenhos. A informação não é aparente e torna-se difícil manipular.
Os métodos diretos apresentam vários problemas, nomeadamente: (1) as
limitações no autoconhecimento impedem autorrelatos precisos; (2) os itens do teste são
suscetíveis de interpretação errada; (3) as situações da vida real não podem ser
representadas por itens de papel e lápis; (4) o desejo do cliente para gerir a sua imagem
requer a inclusão de escalas para detetar falsificação ou estilos de resposta; (5) os testes
produzem informação sem pistas para compreender a razão; (6) a relação entre traços nos
inventários e os comportamentos é complexa.

Contribuições das técnicas projetivas para o diagnóstico e a intervenção:


O processo de responder à tarefa projetiva, conceptualizado como impondo
significado ao estímulo, revela os esquemas do individuo, tanto em termos de organização
estrutural da experiência como o conteúdo do conhecimento. Os métodos apercetivos
temáticos fornecem informação sobre a atribuição de intenções à reações dos outros, a
interpretação de pistas sociais, as consequências antecipadas de ações alternativas, a
flexibilidade cognitiva e a organização das estruturas de significado.
As respostas ao Rorschach também clarificam o processamento de informação
social. Por exemplo, a preponderância de um estilo de resposta que simplifica o estímulo
(Lambda alto) indica que o sujeito se poderá envolver em situações de confronto devido
à tendência de tomar decisões sem considerar informações críticas (falta de recursos
acessíveis implica risco de “acting out”).
As respostas às técnicas projetivas podem variar num contínuo de serem flexíveis
adaptativas até demonstrarem vários níveis de perturbação que pode ir para além de um
diagnóstico específico. A profissão precisa de um sistema de diagnóstico que identifique
variáveis úteis para o processo de intervenção.

As técnicas projetivas como medidas de realização (atuação) da personalidade:


Os métodos projetivos são estímulos cujas qualidades são usadas para extrair
amostragens de comportamentos que se correlacionam com outros comportamentos. A
capacidade para organizar o mundo interior e lidar eficazmente com pensamentos
distrativos, emoções ou motivos deveria traduzir a habilidade para tolerar e lidar com
sucesso com a ambiguidade, complexidade e contradição aparente numa variedade de
situações.
O termo “teste de desempenho da personalidade” captura duas dimensões das
técnicas projetivas: (1) o aspeto da resolução de problema de acordo com a expetativa de
desempenho específico, como a qualidade formal no Rorschach; (2) a organização dos
recursos internos ou esquemas.
A distinção entre medidas de autorrelato e projetivas: autorrelatos pedem ao
sujeito para falar sobre o self, enquanto as medidas projetivas requerem a realização de
uma tarefa a partir da qual são inferidos os processos psicológicos.
Personalidade total
- Muitas soluções corretas
- Generalizar com critérios diferentes
- Diferenças nas condições de aprendizagem e de realização
Comparação entre técnicas projetivas e testes estruturados: X
O teste estruturado fornece as pistas verbais para aceder a informação específica
ou modelos que guiam a resolução de problemas; mostra o conhecimento aos pedaços
(produto final) sem revelar o processo envolvido na aprendizagem ou utilização deste;
especifica uma única solução correta; faz a predição da realização em situações
familiares; se a tarefa for complexa requer planificação de passos múltiplos; e é o produto
de aprendizagem lógica e análise.
O teste projetivo implica o uso espontâneo de esquemas para interpretar a cena,
reconhecer a existência do problema e formular uma resolução; revela a síntese de ideias
de acordo com o estilo característico das experiências a organizar; indica critérios gerais
de realização, como coerência, lógica e semelhança com o estímulo, de acordo com
muitas formas aceitáveis de realizar a tarefa; faz a predição de adaptação em situações
novas, com stress ou complexas; revela planificação através do tempo para antecipar
resultados e buscar objetivos; e é o produto da interação entre a reflexão lógica e o mundo.

Comparação entre técnicas projetivas e escalas de autorrelato:


O teste de autorrelato fornece informação que o indivíduo organizou
verbalmente e deseja partilhar; pode levar à distorção defensiva ou falsificação para
apresentar uma imagem socialmente aceitável; faz a predição de escolhas imediatas,
particularmente se desencadeadas pela situação; não captura a natureza idiossincrática
dos pensamentos porque as preocupações não estão ligadas ao processamento de
informação ou ao coping; e revela reflexões controladas que não são sensíveis ao
processamento cognitivo automático.
O teste projetivo revela aspetos que podem não ter sido incorporados no
autoconceito consciente do indivíduo (implícito) e que não será acessível à avaliação com
o autorrelato; ultrapassa o problema da falsificação através da avaliação de esquemas que
operam fora da consciência; faz a predição de preferências espontâneas e constantes;
revela o conteúdo dos pensamentos e estilo de processamento de informação (problema
de identificação, raciocínio); e revela estruturas funcionais que organizam ideias e ligam
intenções, ações e resultados e outros aspetos do processamento de informação.
8 – AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO

Avaliação psicológica em contexto terapêutico:


A avaliação psicológica é usada como uma intervenção terapêutica. Os
psicólogos clínicos e da saúde usam a avaliação psicológica como um instrumento de
diagnóstico (screening) e de planificação da intervenção, e a utilização de testes
distingue os psicólogos de outros profissionais. Além disso, também pode ser vista como
um instrumento de gestão dos resultados (outcomes).
No entanto, algumas pessoas questionam o valor da avaliação psicológica numa
área onde o foco deixou de ser as prioridades clínicas para passar a ser as prioridades
fiscais. Outras defendem que se trata de uma área onde a avaliação psicológica pode
contribuir significativamente para intervenções eficientes em termos de custos.
A utilidade da avaliação psicológica estende-se para além da mera descrição de
um indivíduo que se apresenta para ser tratado, tratando-se de um meio de facilitação da
intervenção e de compreensão dos problemas de saúde psicológica ao longo de processo
terapêutico. A avaliação psicológica pode ser usada para vários propósitos, como tomada
de decisão clínica, avaliação de resultados, e até como uma técnica terapêutica em si
mesma.
O processo de avaliação psicológica engloba: entrevista inicial e recolha de
informação; análise da informação, identificação de problemas e da sua gravidade, pontos
fortes e fracos (complexidade psicológica do cliente); elaboração de hipóteses e questões
de avaliação; escolha das técnicas e testes de avaliação; análise dos resultados;
conceptualização dos resultados e integração destes com a história de vida, o problema e
as perspetivas teóricas.

Problemas psicológicos na população:


A necessidade de serviços de saúde psicológica é significativa e as estatísticas
indicam que uma grande parte da população sofre de desordens mentais, nomeadamente
de depressão. Para além da eficiência terapêutica, vários estudos indicam benefícios
financeiros consideráveis com a intervenção psicológica em comparação com a não
intervenção, dado que muitos utentes dos serviços médicos são pacientes também
necessitam de apoio psicológico. Por exemplo, um estudo indicou que o tratamento de
problemas de saúde mental resultava numa redução de cerca de 20% dos custos globais
com cuidados de saúde – eficiência financeira.

Avaliação psicológica:
 Utilização de testes:
o Marca da psicologia clínica.
o Distinção de outros profissionais.
 Declínio de 1960 a 1990.
 Tomada de decisão:
o Identificação do problema.
o Avaliação da gravidade.
o Avaliação da complexidade psicológica do cliente.
o Elaboração da estratégia de intervenção.

Tomada de decisão clínica:


As decisões clínicas que o psicólogo deve tomar relacionam-se com a seleção,
planificação da intervenção e monitorização do progresso do tratamento. A seleção ajuda
a identificar a necessidade de um paciente ter um serviço específico, e a determinar a
probabilidade de existência de um determinado problema psicológico. Para a planificação
da intervenção, obtém-se informação que não é facilmente acessível por meio de outras
fontes e que ajuda a: compreender o paciente, identificar os problemas mais importantes
e a as melhores formas de lidar com eles. A monitorização do tratamento em intervalos
de tempo regulares dá feedback ao terapeuta acerca do seu progresso, encorajando-o a
manter a abordagem terapêutica inicial ou a modificá-la ou abandoná-la, substituindo-a
por outra.
Quanto à planificação da intervenção, a avaliação psicológica feita por um
clínico experiente fornece informação que a facilita e melhora em muito, tornando a
psicoterapia mais eficiente. Instrumentos como o MMPI-2 ajudam não só a identificar
problemas e a estabelecer comunicação com o paciente, mas também a garantir que o
plano terapêutico é consistente com a personalidade do paciente e com os recursos
externos. A avaliação dá indicação sobre: objetivos da intervenção, potenciais obstáculos
à terapia, áreas de crescimento potencial e problemas de que o paciente não tem
conhecimento consciente.
Os benefícios da avaliação psicológica na planificação da intervenção são vários.
(1) Identificação do problema: muitas vezes o paciente hesita ou é incapaz de identificar
a natureza dos seus problemas; responder a um questionário pode ser menos ameaçador
do que falar diretamente com o psicólogo; inventários multidimensionais, como o MMPI-
2, permitem identificar problemas secundários, mas significativos, que de outra forma
poderiam ser descurados. (2) Clarificação do problema quanto à sua severidade,
complexidade e ao grau em que dificultam o funcionamento do paciente nos seus papéis
de vida, aspetos que influenciam a abordagem terapêutica. (3) Identificação de
características importantes do cliente, já que os planos terapêuticos são desenvolvidos
e modificados consoante as características individuais (forças e fraquezas da
personalidade, capacidade de se envolver no processo terapêutico, resistências, estilo de
coping). (4) Monitorização do progresso quanto à evolução esperada: se há necessidade
de ajustamentos (ex.: abordagem mais ou menos intensiva), se estão a ocorrer mudanças
significativas, quando terminar o tratamento.
Avaliação terapêutica (Finn et al.):
Trata-se de uma abordagem proposta por Finn e colaboradores, segundo a qual a
avaliação psicológica pode ser vista como intervenção. O objetivo da avaliação
terapêutica não é monitorizar o progresso da terapia, mas sim recolher informação
precisa sobre o cliente e usar essa informação para ajudar os clientes a compreenderem-
se e a realizarem mudanças positivas na sua vida. Envolve a apresentação dos resultados
de avaliação diretamente ao paciente (importância do feedback) e a discussão do seu
significado. Nesta abordagem, o paciente está ativamente envolvido na formulação de
questões e torna-se um parceiro do processo de avaliação. Os dados de avaliação podem
servir como catalisadores de mudança terapêutica através do feedback objetivo que é
fornecido ao paciente, da estimulação da autoavaliação por parte do paciente, e da
oportunidade de paciente e terapeuta criarem, em conjunto, objetivos terapêuticos.
Finn propôs um processo de avaliação terapêutica, utilizando o MMPI-2,
composto por três passos. (1) Entrevista inicial: estabelecimento de relação,
identificação das questões que o paciente pretende ver respondidas, recolha de
informação e administração de métodos de avaliação. Após a aplicação dos testes e
análise dos resultados, (2) preparação da sessão de feedback: seleção de informação
relevante (consistência das respostas, sintomas principais, personalidade, comportamento
nas relações, implicações para o tratamento, impressões de diagnóstico), determinação da
melhor forma de apresentar a informação de modo que o paciente a aceite e a integre,
mantendo o seu sentido de identidade e autoestima. (3) Sessão de feedback: responder
às questões iniciais do paciente através dos resultados, começando com a informação que
o paciente terá mais facilidade em aceitar e passando cuidadosamente para os resultados
que poderão gerar mais ansiedade.

Avaliação psicológica como instrumento de gestão de resultados – controlo de


qualidade:
 Três dimensões da qualidade de cuidados:
o Estrutura
o Processo
o Resultados
 Avaliação pré e pós-intervenção.
 Resultados de intervenção devem abrangir várias áreas.

A avaliação dos resultados do tratamento deve medir o impacto nas facetas da


vida do cliente – saúde física, saúde mental, funcionamento social, papéis e funções, e
perceção geral da saúde – assim como aspetos de saúde específicos − sentimentos de bem-
estar, estatuto dos sintomas psicológicos, consumo de drogas ou álcool, desempenho
profissional ou académico, relações maritais e familiares, utilização dos serviços de
saúde, e capacidade de coping.
Os três principais objetivos da avaliação de resultados são medição,
monitorização e gestão. A medição envolve a avaliação pré e pós-intervenção de certas
variáveis de modo a determinar as mudanças ocorridas como resultado da intervenção
terapêutica. A monitorização refere-se à avaliação periódica dos resultados do
tratamento de forma a perceber-se exatamente o que é que provocou mudanças. A gestão
consiste na utilização da informação obtida através da monitorização para tomar decisões
no sentido da melhoria dos processos administrativos e clínicos.
A avaliação de resultados tem benefícios para os pacientes (melhoria da saúde,
da qualidade de vida, dos serviços de saúde) e para os prestadores de serviço
(informação acerca da qualidade dos serviços de saúde, aumento rentabilidade).

No futuro:
Quem paga (seguros de gestão de saúde, utilizadores, etc.) começa a pedir provas
de que o conhecimento obtido na avaliação psicológica contribui para a melhoria da
prestação de serviço terapêutico.
Os seguros de saúde nos EUA “pressionam” para que se passe de uma avaliação
com instrumentos multidimensionais (MMPI-2, Rorschach) para testes baratos, rápidos e
orientados para o problema.
Alteração de tendência para uma melhor utilização da informação obtida pela
avaliação psicológica para a tomada de decisões.

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