Mono Marjorie Braga
Mono Marjorie Braga
Mono Marjorie Braga
Fortaleza
2004
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Fortaleza
2004
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Banca Examinadora
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Giovana Rodrigues Oliveira, Ms.
Orientadora
____________________________________
Expedito Wellington Chaves Costa, Esp.
_________________________________ ______________________________
Silvina Pimentel Silva, Ms. José Nelson Arruda Filho
Coordenadora do Curso Diretor do CED
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AGRADECIMENTOS
À minha mãe, que esteve comigo durante todo o tempo, vencendo todas as
barreiras;
“Ontem um menino
que brincava me falou
que hoje é semente
do amanhã,
para não ter medo
que esse tempo vai passar
não se desespere e
nem pare de sonhar.
Nunca se entregue
Nasça sempre da manhã
Deixe a luz do sol
Brilhar no céu do seu olhar.
Fé na vida,
Fé no homem,
Fé no que virá,
Nos podemos tudo
Nós podemos mais
Vamos lá pra ver o que será.”
Gonzaguinha
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CONSIDERAÇÕES FINAIS 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35
ANEXOS 36
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INTRODUÇÃO
Para que tal investigação acontecesse foi utilizada uma pesquisa qualitativa através
de um estudo de caso de uma instituição particular que oferece serviços de creche e pré-
escola. O estudo de caso foi realizado utilizando-se de observações da regência e a aplicação
de entrevistas com as professoras e a coordenadora. Na complementação desta investigação
foi utilizada a pesquisa bibliográfica com base em autores que dominam o tema da Educação
Infantil como Krammer (1992) que realiza com propriedade discussões relevantes para uma
maior qualidade nesta etapa educacional: “A educação pré-escolar brasileira é diferenciada
por uma legislação ambígua e omissa quanto às medidas de sua valorização para a maioria
da população infantil.”(1992, p.110). Para uma maior consistência na investigação e nas
críticas a pesquisa também contará com a análise de documentos que regem a Educação
Infantil como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que nos apresenta
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uma nova concepção de educar: “Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados,
brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis(...).”(1998, p.23).
O estudo sobre a função da Educação Infantil contribuiu para uma maior reflexão
acerca dos procedimentos utilizados nas instituições que atendem ao público de zero a seis
anos. E tentou desmistificar que o cuidar é uma característica meramente assistencial, estando
a margem do processo educacional.
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As idéias de Comenius, para aquela época, eram bastante ousadas visto que a
sociedade imaginava a criança como um adulto em miniatura, capaz de realizar a maior parte
das atividades destinadas para adultos. Ainda era preconizado que a criança ao nascer possuía
o estigma do pecado e a família deveria ensiná-la de acordo com os pressupostos da Igreja
para que no futuro ela se tornasse uma pessoa boa. Devido a este contexto, Comenius teve
seus princípios teóricos negados pela sociedade e pelo Estado.
No ano de 1774, João Frederico Oberlin fundou a primeira escola para crianças de
dois a seis anos, em Paris. A prática pedagógica era realizada através de passeios, brinquedos
e atividades manuais. A consolidação do seu trabalho não foi efetivada devido à falta de uma
filosofia consistente. (RIZZO, 1992)
Nesta mesma época uma italiana chamada Maria Montessori revolucionou a educação infantil
quando sugeriu que as mobílias da sala de aula fossem compatíveis com o tamanho das
crianças. Essa idéia espalhou-se por todas as pré-escolas e ajudou muito no desenvolvimento
da autonomia dos alunos e do próprio aprendizado na medida que os matérias pedagógicos
ficam ao alcance das crianças. Suas idéias fizeram parte do movimento da Escola Nova, o que
hoje alguns estudiosos consideram inadequados para a educação naquele dado momento era
considerado um avanço grandioso para o início da derrocada da metodologia tradicional.
“Suas idéias fazem parte do Movimento da Escola Nova que ao criticar a educação
tradicional propõe que a educação tenha como centro de interesses as necessidades
das crianças e que as atividades escolares estejam baseadas no caráter lúdico das
atividades infantis. Dentre os princípios filosóficos que se baseiam os métodos de
Montessori podemos citar: a construção da personalidade através do trabalho, o
ritmo de desenvolvimento próprio de cada criança, a liberdade, a ordem, o respeito
e a normalização.” (MACHADO, 2002, p.260)
capaz de empregar símbolos e signos, mas não possui capacidade de reversibilidade. Com
estas observações, Piaget nos proporciona um melhor esclarecimento sobre a construção do
aprendizado e a relevância do lúdico e do concreto para tal faixa etária.
Porém o autor desta teoria não deu o devido valor para a interação social dos
infantes como podemos presenciar em suas considerações sobre o período sensório-motor
quando é citado por Yves de La Taille (1992, p.15): “Nesse estágio, Piaget considera abusivo
falar em real socialização da inteligência. Essa é essencialmente individual, pouco ou nada
devendo às trocas sociais.”
sua faixa etária o estágio sensório-motor. Wallon dividiu a atividade muscular em duas
funções: cinética ou clônica, e postural ou tônica. Sendo que a primeira caracteriza a atividade
do músculo em movimento, e a segunda, seria o músculo parado.
“... atender aos menores de 8 anos; elaborar leis que regulassem a vida e a saúde
dos recém nascidos sic; regulamentar o serviço das amas de leite,sic velar pelos
menores trabalhadores e criminosos; atender as crianças pobres doentes
defeituosas, maltratadas e moralmente abandonadas; criar maternidades, creches e
jardim de infância.”(1992, p.52)
“Um equivoco comum é imaginar que ter uma visão pedagógica do atendimento às
crianças pequenas significa escolarizar rotinas, deixando de lado a dimensão lúdica,
como se a Educação Infantil fosse um estágio preparatório para o ensino
fundamental.” (Encarte Escola)
“Essa estrutura se apóia em uma organização por idades- crianças de zero a três
anos e crianças de quatro a seis anos- e se concretiza em dois âmbitos de
experiências- Formação Pessoal e Conhecimento de Mundo- que são construídos
pelos seguintes eixos de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes
visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, e Matemática.”
(MEC, 1998, p.43)
e, até o final da década, alcançar a meta de 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80%
das de 4 e 5 anos.” (PNE, 2000, p.42)
A política educacional voltada para a educação infantil vem crescendo a cada dia e
sua preocupação com esta etapa do ensino dar-se também em relação a sua ampliação e
qualidade. E quando falamos em qualidade no ensino o corpo docente aparece em primeiro
lugar como um dos fatores primordiais para que esta qualidade venha a ocorrer.
Uma dificuldade bem comum nos cursos de formação destes profissionais deve-se
a condução da pratica pedagógica, onde o tempo destinado para a ação educativa resume-se a
duas ou três disciplinas ao longo do curso. Há um consenso em relação à formação do docente
de educação infantil, onde a prática educativa e a teoria devem caminhar lado a lado para uma
maior qualificação. Para ocorrer a práxis nos programas de formação a escuta da realidade
educativa por meio dos educadores deve ser realizada de maneira efetiva.
O paradoxo ocorre entre esta meta e o artigo 62 da Lei no. 9.394/96 onde afirma
que a formação mínima para o educador infantil é o curso normal em nível médio. Este fato
acarretou o fechamento de vários cursos normais por todo o país, como nos estados do
espírito Santo, Mato Grosso, Rondônia e Roraima. (FERRARI; FUSCO, 2004, p.33)
“Sem dúvida, No Brasil, as discussões tem mostrado uma forte tendência de que o
local mais adequado para a formação desses profissionais é no ensino superior (...),
onde se desenvolve, de forma marcante e articulada, a docência, a pesquisa e a
extensão por meio de um corpo docente qualificado e em tempo integral.”
(MACHADO, 2002, p.194)
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não há uma fonte específica de recursos para financiar a educação infantil.” (MACHADO,
2002, p.59)
A LDB delimita que as crianças com faixa etária de zero a três anos devem receber
o atendimento pedagógico em creches. Este atendimento deve visar não apenas os cuidados,
mas também o desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo e social. E lembrando que é a partir
do nascimento até os três anos que as crianças formam mais de 90% das conexões cerebrais, e
que isto vai determinar as bases das suas competências e habilidades por todo o decorrer da
sua vida. Como estas crianças poderão desenvolver-se integralmente sobre os cuidados de
mulheres com pouca ou nenhuma instrução?
Este discurso não visa à eliminação destes profissionais que estão realizando há
anos o serviço de cuidado com os infantes, apenas nos permite pensar um pouco sobre a
construção do cidadão. Que condições a educação possui de melhorar a cidadania se não é
capaz de formar o futuro cidadão? Até que ponto as autoridades governamentais se
preocupam com a qualidade do ensino que estão ofertando a sua comunidade? Porque não
capacitamos os profissionais que atendem a população infantil se o discurso prega esta etapa
como a base da educação? Estas e tantas outras são perguntas pertinentes para que os avanços
da Educação Infantil saiam do papel e comecem a ocorrer na prática educativa.
A situação destas pessoas que prestam seus serviços às creches deve ser repensada
e articulada pelo estado para que o mesmo proporcione algumas medidas no intuito de
reverter este quadro social. A primeira medida deveria ser a formação inicial, capacitando
essas profissionais a exercerem melhor sua função. E outros que envolvem as instalações das
instituições, os equipamentos e materiais, a supervisão sistemática dentre outras.
O termo cognitivo nunca foi tão utilizado nas instituições de educação infantil
como hoje em dia. Parece que descobriram agora que a criança possui uma capacidade
enorme para aprender. Isso vem gerando uma ânsia por parte das pré-escolas e dos
professores para que seus alunos tenham uma aquisição do conhecimento cada vez mais
precoce. Admito que para o professor não há nada mais gratificante do que ele possuir alunos
“gênios” e demonstrar para todos sua competência ao ensinar. E assim cada vez mais cedo as
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crianças estão deixando de lado o brincar e outras necessidades para sentarem nas cadeirinhas
e prestarem atenção à professora a frente da lousa.
O Censo de 2001 revela que 43% das pré-escolas utilizam a cartilha para o
processo de ensino e aprendizagem das crianças. Sendo que 44% delas não usam material
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para a expressão artística e em quase 40% das instituições não existem brinquedos.
Demonstrando assim uma forte presença da escolarização sistemática nas Pré-escolas.
(UNESCO, 2003)
As Diretrizes vieram com força de lei para nortear as propostas pedagógicas das
creches e pré-escolas na tentativa de evitar este exagero das práticas educacionais. São
estabelecidas oito diretrizes.
A ludicidade é mencionada pela DCN como um dos princípios estéticos que deve
estar presente no processo de aprendizagem. Os profissionais da área de educação devem
respeitar o momento de brincadeira, mesmo aqueles que não são dirigidos, pois as crianças
pequenas mais do que as outras possuem a necessidade de momentos fantasiosos.
“Tal diretriz implica ultrapassar duas tendências comuns: a ênfase nas habilidades
psicomotoras e a ênfase na alfabetização e no estímulo ao calculo precoces.” (UNESCO,
2003, p.43)
É através desta nova ótica colocada pelas diretrizes que envolve o cuidar e o
educar como elementos primordiais ao desenvolvimento infantil que a ação pedagógica deve
acontecer em creches e pré-escolas.
As políticas para a educação infantil prevêem que o currículo deve levar em conta,
na sua concepção e administração, o grau de desenvolvimento da criança, a diversidade
cultural e os conhecimentos universais.
É a partir das brincadeiras e dos jogos que a criança inicia seu desenvolvimento
simbólico e social. Através do “faz de conta” a criança aprende a diferenciar e a distanciar-se
dos objetos de conhecimento, alcançando seu significado.
sua aula deve utilizar o jogo e o brincar como ferramentas para proporcionar a aprendizagem
cognitiva do aluno, fazendo com que o aprender seja prazeroso e significativo. O aluno deve
sentir, perceber, compreender, conceituar, discursar, transformar, ao invés de ter uma atitude
passiva, focada na memorização e repetição. Todo conhecimento procede da ação. Portanto,
sem ação não há aprendizagem.
A escola em estudo possui uma estrutura física com três salas de aula, um berçário,
um refeitório, uma quadra coberta e um parque infantil. As salas de aula são pequenas,
medindo em média 10 m2 . Apenas a sala de maternal é composta de dois espaços, além de um
banheiro e um trocador. Constam de boa ventilação, com exceção da sala de alfabetização que
não possui janelas. A acústica das salas é muito ruim, prejudicando a dinâmica das aulas.
A instituição de ensino que foi alvo de estudo não possui um projeto político
pedagógico. O documento que fundamenta a prática pedagógica é o plano anual. As
professoras recebem o plano, que já foi previamente elaborado, contendo os assuntos, os
objetivos a serem desenvolvidos e a orientação metodológica. A partir deste documento cada
professora elabora seu plano diário.
3.2.2. Observação
As salas de aula, assim como a escola, possuem decoração com temas infantis. Nas
paredes estão expostos os trabalhos realizados pelas crianças, cartazes do tempo e
aniversariantes do mês, alfabeto e numerais (nas salas de jardim e alfabetização). A sala do
maternal não comportava o número de crianças matriculadas, havendo uma mudança de sala
no início deste semestre. A mudança acarretou um ganho para as crianças do maternal que
contam, agora, com uma sala com banheiro e trocador. A sala de alfabetização é totalmente
inadequada para a prática educativa. Comporta o número de crianças matriculadas, mas não
tem nenhuma entrada de ventilação contando, ainda, com uma lavanderia instalada dentro da
sala. O timbre da voz das professoras é muito alto, prejudicando a dinâmica da sala de aula,
principalmente porque a acústica da escola é muito ruim, podendo-se ouvir o barulho das
salas vizinhas.
3.2.3. Entrevista
Durante a entrevista com as professoras foi indagado sobre o tempo em que estão
lecionando e sua formação; sua compreensão sobre educação infantil e como percebem o
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cuidar e o educar da criança na escola; e pedido para que elas descrevessem como é
estruturado o planejamento e a rotina de sala de aula.
acredita que a função educativa se consiste mais nos processos cognitivos, e estes devem ser
acompanhados pelo lúdico.
A questão levantada é muito pertinente visto que muitas vezes estes alunos passam
mais tempo com seus professores do que com os próprios pais. Qual pai que trabalha e tem
condições de ficar quatro horas ininterruptas ao lado do filho. Por esta razão o profissional da
educação deve ser preparado para corresponder a todas as ânsias geradas na infância sem
causar nenhum tipo de trauma psicológico.
“Sempre dar atenção a criança, não deixá-la sozinha por muito tempo, nem em
locais que possam gerar acidentes; proporcionar atividades que desenvolvam tanto
a coordenação quanto o raciocínio da criança.” (professora C)
“Como um processo lento, mas diria que vem se progredindo dia a dia.” (professora
A)
Ao final deste semestre a escola decidiu retirar os banhos que eram destinados aos
alunos do maternal I e o banho do final da tarde destinado àquelas crianças com serviços de
creches. O fim deste cuidado causou um certo desconforto entre alguns pais.
A escola em estudo apesar de não ter uma concepção embasada sobre o cuidar e o
educar na Educação Infantil, vem desempenhando de modo satisfatório os cuidados básicos
com as crianças, nos mostrando assim que apesar do professor escolarizar a rotina de sua sala
ele não pode e não consegue dissociar a educação e o cuidado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
os cuidados fornecidos para estas crianças, são perguntas que me motivaram a realizar esta
pesquisa.
Com a experiência de três anos como professora de Educação Infantil, nas salas de
maternal, jardim I e jardim II, percebi que há uma forte tendência por parte das pré-escolas e
das educadoras em escolarizar uma rotina onde o principal objetivo é o desenvolvimento
cognitivo e, em alguns casos, o psicomotor. No entanto, enquanto a escola tem como sujeito o
aluno e como objeto fundamental o ensino, as pré-escolas deveriam ter como sujeito as
crianças, e como objeto a complementaridade das relações familiares.
Entretanto a docência nos mostra que entre prática e teoria existe um grande
paradoxo, onde a escolarização das rotinas vem ocorrendo desde as salas de maternais, com
tarefas diárias que procuram desenvolver apenas os conhecimentos específicos. Esta
dissonância entre discurso e ação pedagógica leva a uma irregularidade e falta de qualidade na
Educação Infantil. Nesse contexto a creche e a pré-escola deveriam ser um espaço educativo
estruturado, com condições adequadas que possibilitem a criança o desenvolvimento de suas
potencialidades.
Esta pesquisa contribuiu para mostrar uma realidade muito freqüente no cotidiano
das instituições de educação infantil que é a escolarização de rotinas por parte das professoras
e escolas. Quebrando o paradigma de que o assistencialismo, no caso o cuidar, é nocivo e
ultrapassado para a educação de qualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGMANN, Ana. Educação Infantil I. Campina Grande do Sul / PR: ed. Lago, 1998.
(coleção vitória-régia)
Câmara dos deputados. Plano Nacional de Educação. Nelson Marchezam (Deputado Federal,
relator do PNE). Brasília-2000
FERRARI, Márcio. Revista Nova Escola; Um novo olhar para a Educação Infantil. Ed.
Abril- setembro de 2004. Encarte escola.
Fontes para a educação infantil. Brasília: UNESCO; São Paulo: CORTEZ; São Paulo:
FUNDAÇÂO ORSA, 2003.
HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 1995.
KRAMMER, Sônia. A política da pré-escola no Brasil: a arte do disfarce. 4.ed. São Paulo:
Cortez, 1992.
LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloysa. São Paulo: Summus,1992.
ANEXOS
ENTREVISTA
PROFESSOR
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ENTREVISTA
COORDENADORA
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