Refugiados
Refugiados
Refugiados
Rev. bras. estud. popul. vol.34 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2017 Epub June 26, 2017
http://dx.doi.org/10.20947/s0102-3098a0001
PONTOS DE VISTA
O fenômeno dos refugiados no mundo e o atual cenário
complexo das migrações forçadas
Daniela Florêncio da Silva1
1
* Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife-PE, Brasil ([email protected]).
A questão dos refugiados tem tido grande relevância nos últimos anos no cenário internacional
pela expressiva dimensão de seus fluxos, pelo desrespeito à dignidade humana e pela crescente
violência na sua contenção, apesar da sua condição de extrema vulnerabilidade.1 Ao longo da
história, fatores como conflitos e perseguições provocaram migrações forçadas, mas na
contemporaneidade a multiplicidade de fatores envolvidos na formação dos deslocamentos
forçados torna complexa a realidade dos refugiados. Na Antiguidade, um exemplo dessas
migrações forçadas ocorreu durante os últimos anos das Guerras Púnicas (264 a.C – 146 a.C)
entre Roma e Cartago, resultando na fuga dos cartagineses para outras regiões da África do
Norte (WARMINGTON, 2010). Embora a publicação citada mencione a palavra refugiado, em menção
aos cartagineses, a primeira referência histórica a essa palavra ocorreu no século XVII na França,
durante a fuga dos huguenotes (pessoas pertencentes à religião Protestante) devido à revogação
do Edito de Nantes em 1685, que impedia a perseguição religiosa e dava liberdade para a prática
do protestantismo (MOULIN, 2013).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a eclosão da Revolução Russa, o significativo número de
refugiados na Europa fez surgir o debate sobre sua proteção. Em 1921, por meio do Conselho da
Sociedade das Nações, surgiu o primeiro Alto Comissariado para Refugiados, principalmente
destinado ao apoio humanitário aos refugiados russos. Juridicamente, sua proteção foi
estabelecida em 1951 com a formulação do Estatuto dos Refugiados das Nações Unidas, mas
apenas vinculado aos fluxos de refugiados anteriores a 1951 e à possibilidade de os Estados só
aceitarem esses fluxos se fossem oriundos de países europeus, ou seja, não existia a
obrigatoriedade de aceitar refugiados de outros continentes. As ampliações jurídicas à sua
proteção e a eliminação de restrições foram, ao longo dos anos, ganhando definições mais
próximas das diferentes realidades e desafios dos refugiados ao redor do mundo (RAMOS, 2011).2
A partir da origem dessa proteção jurídica internacional, os refugiados passaram a fazer parte, no
âmbito das discussões sobre migrações, das migrações forçadas, diferenciando-se dos critérios
que institucionalizariam as migrações voluntárias.
Atualmente, as discussões em relação aos refugiados e direitos dos outros migrantes têm como
origem o desrespeito e a vulnerabilidade. O Estatuto dos Refugiados destaca-se como um
elemento dissonante nessa lógica desumana das restrições, da criminalização e da violência na
mobilidade humana, desenvolvidas desde o final da década de 1970.
O Estatuto tornou-se, também, um elemento norteador e de esperança, desde a massificação da
irregularidade da migração imposta por diferentes países, sofrendo tentativas de restrições e
revisões quanto à sua legitimidade.
Hoje, toma conta de diversos países um discurso político que condena qualquer forma
de migração, e que, inclusive, deseja revisar alguns pontos do Estatuto dos
Refugiados, como ficou claro no discurso de posse, proferido em 1998, da presidência
rotativa da União Europeia, cujo representante pertencia a Áustria, que afirmou de
forma contundente, a necessidade de se alterarem as normas que concedem o
refúgio, alegando que ele vem sendo utilizado por pessoas que não se encaixam na
sua descrição legal (BUSCH, 1999). Além desse exemplo, mais recentemente há o
caso da Itália e França que resolveram restringir a entrada de imigrantes de vários
países africanos devido aos acontecimentos da chamada Primavera Árabe. Tal
iniciativa recebeu a reprimenda do Conselho Europeu, mas nem por isso, esse
discurso de restrição aos imigrantes, inclusive aos refugiados, foi abandonado por
esse e por outros países (JAROCHINSKI SILVA, 2011, p. 210).
O que emerge com grande importância nesse contexto é a necessidade de criação de
instrumentos jurídicos, nacionais e internacionais, que concedam direitos eficazes aos que
migram, também, em condições de vulnerabilidade, mas não podem, juridicamente, obter a
condição de refugiado. A questão migratória, assim como outros parâmetros de cunho social,
cada vez mais, tem evidenciado um contexto em expansão, em que uma série de direitos tem
sido contestada e retirada.
A questão dos refugiados, hoje, vive seu maior desafio, depois da Segunda Guerra Mundial. Nos
últimos anos, as estatísticas3 alertam para dados que não param de crescer e em proporções em
que o custo humano parece não ter fim. Sempre foi um fenômeno mundial, mas agora, atinge de
maneira mais significativa, por exemplo, países nunca antes tão afetados com o seu fluxo, como
o Brasil. Sua temática “era tratada como um problema pontual e não como um assunto
permanente” (BRAGA, 2011, p. 08). Uma das características mais marcantes nos padrões atuais de
deslocamento forçado é a sua dispersão mais ampla pelo mundo, em diferentes escalas, tanto
regional quanto global, assim como o prolongamento de sua situação nesse processo (ZETTER,
2015
).
Quando se observam o contexto de formação e as estatísticas dos grandes fluxos de refugiados
que se desenvolveram após a Segunda Guerra Mundial e o da atualidade, percebe-se uma
mudança, não só na natureza dos conflitos, mas também no desenrolar de novos desafios em
seus horizontes. Esses desafios são compreendidos a partir de uma multiplicidade de fatores que
tornam sua origem complexa e dinamizam sua velocidade de formação, tendo como principais
motores propulsores a globalização, os conflitos pós-Guerra Fria e, como mais recente aspecto, a
guerra ao terror após o 11 de setembro de 2001 (BRAGA; KAROL, 2009; UNHCR, 2000,2006). Além
dos conflitos e perseguições, os fatores ambientais vêm ganhando cada vez mais visibilidade com
a discussão em relação aos refugiados ambientais, embora não sejam reconhecidos
juridicamente. A implantação de grandes obras de infraestrutura, como as hidrelétricas, ou o
desenvolvimento de grandes empreendimentos agrícolas tornaram-se, também, fatores de
formação de fluxos de refugiados. Um exemplo dessa realidade é o que vem acontecendo na
Etiópia, onde um grande fluxo de refugiados etíopes tem buscado proteção em outros países da
África Oriental em virtude da violência gerada no processo de expulsão de suas terras, agora
utilizadas em empreendimentos estrangeiros ou do Estado (HUMAN RIGHTS WATCH, 2012; STIENNE,
2015
).
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), ao analisar as mudanças
ocorridas nos fatores desencadeadores de conflitos e perseguições, ao longo de sua história de
proteção aos refugiados, destaca que no seu contexto de formação, em 1950, os esforços
concentrados eram na proteção de refugiados provenientes do fascismo e do stalinismo. Porém,
nas últimas décadas, os conflitos armados, principalmente desenvolvidos pelo contexto pós-
Guerra Fria, desempenharam papel determinante na evolução do número de refugiados.
Repressão política e violações maciças dos direitos humanos ainda são elementos
significativos em deslocamentos atualmente. Mas para a maioria dos refugiados de
hoje, conflitos armados – que frequentemente envolvem perseguição e outros abusos
dos direitos humanos contra civis – são a principal fonte de ameaça. Muitos dos
conflitos armados do período pós-Guerra Fria provaram ser particularmente perigosos
para os civis, evidenciados pela escala de deslocamento e pela alta proporção de
mortes de civis em relação aos militares. [...]. O custo humano devastador de guerras
recentes levou muita discussão sobre a natureza mutável dos conflitos armados no
período pós-Guerra Fria. [...]. O que distinguiu a década de 1990 a partir de décadas
anteriores foi o enfraquecimento dos governos centrais em países que tinham sido
amparados pelo apoio de superpotências, e a consequente proliferação de conflitos
baseados em identidade, muitos dos quais envolveram sociedades inteiras em
violência (UNHCR, 2000, p. 277, tradução nossa).
Na evolução da população de refugiados no mundo, entre 1951 e 2015 (Gráfico 1), nota-se um
acréscimo significativo do seu número no período entre 1980 e 1992, impulsionado, sobretudo,
pelo desenvolvimento da globalização e da Guerra Fria. Nos últimos anos, principalmente em
decorrência do conflito na Síria, os números têm atingido recordes. De acordo com as últimas
estatísticas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, só o contingente de
refugiados chegou a 21,3 milhões de pessoas em 2015 (UNHCR, 2016).4
Fonte: United Nations High Commissioner for Refugees – UNHCR, Population Statistics Data
Overview de 2016. Nota: Os dados referem-se, apenas, aos refugiados sob proteção do UNHCR.
GRÁFICO 1 Evolução do número de refugiados no mundo – 1951-2015
A “globalização neoliberal”, que se fortificou durante a década de 1970 (CASTLES, 2010, p. 14),
vem imprimindo grande complexidade a esse cenário ao gerar uma evidente desigualdade
econômica e concentração de riqueza no mundo. Analisando a relação dos processos migratórios
com a globalização, percebe-se que “a globalização e as migrações internacionais andam de
mãos dadas” (UNHCR, 2006, p. 12, tradução nossa) e “a mobilidade humana é uma forma crucial
de globalização” (CASTLES, 2010, p. 23), sendo que, nos últimos 30 anos, esse processo
desenvolveu um grande aumento no fluxo migratório mundial e, em conjunto com as
reconfigurações “das relações de poder político e militar, desde o fim da Guerra Fria, representa
uma “mudança radical contemporânea” – uma nova “grande transformação” (CASTLES, 2010, p.
29).
Para os refugiados, a globalização limita seu acesso à proteção, devido a um seletivo processo de
circulação de pessoas nas fronteiras políticas dos países (UNHCR, 2006), assim como desafia sua
definição em virtude da complexidade dos fluxos migratórios existentes.
O fim da Guerra Fria e a consolidação dos processos da globalização acentuaram as
contradições no encaminhamento da temática dos refugiados, principalmente com a
ascensão dos nacionalismos e dos conflitos étnicos ao lado dos problemas
econômicos. Assim, temos um conjunto de questões responsáveis pela mobilidade
das pessoas, seja pela violência praticada entre grupos de origem diferente, seja
pelas mazelas socioeconômicas que obrigam o deslocamento de milhares de
indivíduos por diferentes continentes (BRAGA; KAROL, 2009, p. 04).
Em 2015, o cenário descrito como “crise de refugiados” trouxe à tona diversos aspectos que vêm
impondo desafios aos direitos humanos, desequilibrando não só os aspectos socioeconômicos,
como também os ambientais. O expressivo título “World at war” do documento do Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR, 2015) destaca a preocupante situação
atual envolta em um cenário de combinação de novos e antigos conflitos, ainda em andamento,
que segundo António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, é agravada também pela
crise econômica, a partir da diminuição da ajuda humanitária e da clara ligação entre a
instabilidade gerada pela alta dos preços dos alimentos e pela desigualdade social e econômica
existente nas áreas urbanas.5 António Guterres ressalta, também, a estreita ligação entre
importantes conflitos existentes, como os da Líbia, Mali, Nigéria, Somália, Síria, Iraque, Iêmen e
Afeganistão.6
O maior deslocamento forçado de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial exprime uma
complexidade de fatores estruturantes que têm como base a lógica capitalista desproporcional ao
desenvolvimento humano, que se dispersa pelo mundo. Mundo este que tenta obscurecer “de
forma quase amoral, a presença dos países de recepção, no Norte e no Sul, nas lógicas dos
conflitos que estão na origem da fuga de milhões de pessoas” (AGUIAR, 2015, p. 02) por meio de
um discurso pautado na segurança e no medo, imbuído de questões identitárias e racistas. Como
afirma a escritora e jornalista canadense Naomi Klein (2015, grifo da autora, tradução nossa):
[...] a crise de refugiados, as medidas de austeridade na Grécia e “a degradação do
sistema planetário do qual toda a vida depende” estão todos interligados. “As
mesmas forças, a mesma lógica, estão por trás de todos esses atentados contra a
vida” [...] é uma “ideologia tóxica do fundamentalismo de mercado”.7
A “crise” atinge todos, e os refugiados, agora envoltos em diferentes contextos, estão
no front8 desse conflito, indicando as suas faces ocultas e as enfrentando nesse local mais frágil
de uma batalha.
A definição de refugiado vai muito além da declarada no Estatuto dos Refugiados, de que:
Em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951, e
temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a
grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que
não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou
que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha a sua
residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao
referido temor, não quer voltar a ele (ACNUR, 2011, p. 11).9
Considerando-se que “as migrações são um processo multidimensional, condensando toda a
complexidade da des-re-territorialização das sociedades” e que podem ser entendidas “como um
processo em diversos níveis de des-reterritorialização” (HAESBAERT, 2012, p. 233, 246), os
refugiados, nesse aspecto, estão em constante movimento não só no sentido do seu
deslocamento geográfico, mas também nas reflexões sobre sua definição impulsionadas pelos
muitos desafios que enfrentam. Eles reconstroem sua relação com o espaço durante seu
movimento forçado em busca de proteção e de novas possibilidades de reconstrução de suas
vidas, ou seja, de uma reterritorialização, que em muitos aspectos denota uma relação frágil e
vulnerável. Essa extrema vulnerabilidade, principalmente entendida pela perda de seus direitos
básicos, os deixa em uma condição de limites entre espaços (Estados), onde a retomada desses
direitos, ou pelo menos uma parte deles, “depende, prioritariamente, de sua reintegração
territorial e, por consequência, jurídica ao espaço da política governamental” (MOULIN, 2011, p.
148). “A acentuada desterritorialização”, cheia de cicatrizes e sofrimento, ocorrida no momento
de sua fuga, dá origem à sua fragilização territorial, ou sua relação com o espaço, mas tem como
consequência, também, o início de um novo ciclo de dinâmica territorial (HAESBAERT, 2012, p.
246).
Eles trazem consigo uma territorialidade “extra” (sua extraterritorialidade)10 na esperança de
conquistar outra, e seguir em frente criando novos laços. Em sua complexa dinâmica territorial
vivida, eles territorializam-se também, por meio de seus fluxos, virtuais, a partir dos territórios-
rede,11 ou in situ, constituindo assim, “territórios em trânsito”, pois “o território, assim como o
próprio espaço, antes de ser uma matéria estanque, é um movimento, um ato” (HAESBAERT, 2013,
p. 67 e 73). Eles recriam-se, reinventam-se, aprendem novas línguas, culturas, desafiam-se,
impõem velocidade e reflexão, questionam e movimentam, ao percorrerem seu caminho, agora
de geografias redesenhadas (FARKAS; MARTINHO, 2013). Eles estão em movimento, e esse ato
imprime novas perspectivas. Sua força é maior que qualquer filiação ou ato político, que
questionam no cerne de sua formação, o Estado-Nação.
Nas sensíveis e esclarecedoras palavras das documentaristas Helen Crouzillat e Laetita Tura, eles
são mais que migrantes, são “mensageiros”, em referência aos que migram de forma
desesperada, expressando a mensagem do funcionamento cruel e inaceitável de um sistema que
envolve a todos e pelo qual “eles têm sido devorados” em um “aterrador abismo que divide o
mundo em terras de abundância e terras de onde muita dessa abundância vem”.12
NOTES
1
De acordo com os últimos dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, 51%
da população de refugiados no mundo é formada por crianças e adolescentes (UNHCR, 2016).
2
Em 1967 entrou em vigor um Protocolo relativo ao Estatuto dos Refugiados que retirou as
limitações de tempo e geográficas de sua definição em relação à de 1951. Outras ampliações na
definição de refugiados ocorreram apenas em âmbitos regionais, em 1969 pela Organização da
Unidade Africana (atual União Africana) e pela Declaração de Cartagena de 1984 para a América
Latina.
3
A última estatística das Nações Unidas indicou 65,3 milhões de pessoas em deslocamento
forçado (refugiados, deslocados internos e solicitantes de asilo) pelo mundo (UNHCR, 2016). De
acordo com Hobsbawm (1995), estima-se que em maio de 1945 havia aproximadamente 40,5
milhões de pessoas em deslocamento forçado na Europa.
4
O contingente de 21,3 milhões refere-se à soma dos 5,2 milhões de refugiados palestinos, sob a
proteção da UNRWA (United Nations Relief and Works Agency), e dos 16,1 milhões de refugiados
sob a proteção do UNHCR em 2015. Desde a formação do Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados em 1950, os refugiados palestinos ficaram sob proteção da agência específica
das Nações Unidas para essa questão, a UNRWA.
5
Entrevista feita pelo jornal Euronews com António Guterres, em 2012. Disponível em:
<http://www.euronews.com/2012/06/19/antonio-guterres-we-re-witnessing-human-suffering-
on-an-epic-scale>. Acesso em: 10 out. 2015.
6
Artigo publicado pelo United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR, 2014), intitulado
UN Refugee Chief warns against overlooking humanitarian crises in Africa. Disponível em:
<http://www.unhcr.org/54292c399.html>. Acesso em: 23 jun. 2015.
7
Pensamento expresso pela autora em uma palestra no Festival of Dangerous Ideas, na Austrália
em 2015. Algumas partes da palestra foram transcritas no artigo de jornal, em publicação
eletrônica, Eco Watch (2015), assim como o vídeo de sua palestra. Disponível em:
<http://ecowatch.com/2015/09/08/naomi-klein-climate-refugees/>. Acesso em: 20 set. 2015.
8
Front no sentido de linha de frente. As referências desse pensamento vêm do antropólogo
Michel Agier, ao se referir à relação dos refugiados com as fronteiras e o cosmopolitismo, em
palestra na Bienal do Livro de Alagoas, em 23 de novembro de 2015, e de Rogério Haesbaert
(2013).
9
Essa é a definição adotada na Convenção de 1951. Como mencionado anteriormente, a
limitação temporal do ano de 1951 e a limitação geográfica foram retiradas no Protocolo
referente ao Estatuto dos Refugiados de 1967.
10
A questão da extraterritorialidade é abordada por Liliana Jubilut e André Madureira (2014).
Esse termo é utilizado no Direito Internacional como uma isenção jurídica adotada por países, por
meio de acordos diplomáticos para pessoas, como por exemplo, os diplomatas, ou a lugares
como as embaixadas. No caso dos refugiados, a extraterritorialidade refere-se à sua diferente
nacionalidade, por terem ultrapassado as fronteiras de seu país de origem, como declarado na
sua definição pelo Estatuto.
11
Neste caso, construídos principalmente pelas diásporas e suas diversas conexões
desenvolvidas, ao redor do mundo. Uma rede de solidariedade, principalmente entre parentes,
que mantém vidas.
12
O documentário em questão é o Les Messagers (2014). Informação obtida a partir da
publicação eletrônica Página Vermelha, em janeiro de 2015. Disponível em:
<http://www.paginavermelha.org/noticias/150105-filme-os-mensageiros.htm>. Acesso em: 02
dez. 2015.
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Recebido: 13 de Setembro de 2016; Aceito: 21 de Abril de 2017
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O regime legal específico que protege os direitos dos refugiados é conhecido como
“proteção internacional dos refugiados”. ... As disposições da Convenção de 1951
continuam sendo o padrão internacional para o julgamento de qualquer medida para a
proteção e tratamento dos refugiados.22 de mar de 2016
https://www.acnur.org/portugues/2016/03/.../refugiados-e-migrantes-perguntas-frequent...
Refugiado é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à
sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião
política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não
pode ou não quer regressar ao mesmo, ou devido a grave e ...
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Refugiado
Refugiado é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à
sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião
política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não
pode ou não quer regressar ao mesmo, ou devido a grave e ...
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Refugiado
Para compreender a crise dos refugiados, é necessário entender quem são
osrefugiados. ... A origem da maior parte dos refugiados são países da África ou do
Oriente Médio. Eles fogem por conta de conflitos internos, guerras, perseguições políticas,
ações de grupos terroristas e violência aos direitos humanos.26 de set de 2018
https://www.politize.com.br/crise-dos-refugiados/
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, com a sigla ACNUR em
português e UNHCR em inglês, é um órgão das Nações Unidas. Criado pela Resolução
n.º 428 da Assembleia das Nações Unidas, em 14 de dezembro de 1950, tem como
missão dar apoio e proteção a refugiados de todo o mundo.
https://pt.m.wikipedia.org/.../Alto_Comissariado_das_Nações_Unidas_para_os_Refugiad...
De forma resumida, refugiados são pessoas que deixam seus países par
a escapar da guerra e da perseguição, e podem provar isso de alguma forma. ... Qualquer
pessoa que se muda de um país a outro é considerado imigrante, a não ser que esteja
fugindo de guerras ou perseguição.31 de ago de 2015
Qual a diferença entre imigrantes e refugiados? | VEJA.com
https://veja.abril.com.br/mundo/qual-a-diferenca-entre-imigrantes-e-refugiados/
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/dados-sobre-refugio-no-brasil/
As condições de vida são precárias; a maior parte dos refugiados vive em tendas ou
abrigos improvisados sujeitos a vento, chuvas, lama, lixo e doenças. A sarna é um dos
mais recorrentes problemas de saúde no campo, segundo a organização Médicos Sem
Fronteiras (MSF).22 de fev de 2016
O Brasil recebe uma pequena parcela desse total: no total, nos últimos dez anos, 2,7 mil
sírios foram reconhecidos como refugiados no país, sendo 310 deles no ano passado,
segundo o relatório do Conare.21 de mai de 2018
De onde vêm as pessoas que pedem refúgio no Brasil - e qual a ...
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44177606
Para ser reconhecida como refugiada – como 7 mil residentes no Brasil –, a pessoa
precisa provar que sofre algum tipo de perseguição, por motivos como opinião política,
nacionalidade ou religião. “Do ponto de vista jurídico, ambas as alternativas conferem
direitos e garantias aos imigrantes”, afirma o diretor do Departamento de Migrações do
Ministério da Justiça, André Furquim. “O nosso desafio é fazer com que o imigrante
conheça a distinção entre ambos os institutos e, encarando a situação que está
vivenciando, opte por aquela alternativa que lhe melhor convier.”
temor e relatar pessoalmente para um servidor do Ministério da Justiça, que vai procurar
saber se existe mesmo a realidade que o solicitante conta no país de origem dele”,
explica o coordenador-geral do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Bernardo
Lafeté. O Conare é vinculado ao Ministério da Justiça.
ttps://veja.abril.com.br/mundo/total-de-refugiados-alcanca-recorde-historico-de-708-milhoes-diz-
acnur/
Nos últimos 70 anos, nunca houve tantas pessoas obrigadas a deixar seus lares e países
por causa de conflitos, perseguições e guerras. Em 2018, o recorde de 70,8 milhões de
seres humanos nessas condições, dos quais a metade tem menos de 18 anos de idade, foi
registrado pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), conforme os
dados do relatório anual Tendências Globais, divulgado nesta quarta-feira, 19.
De acordo com a Acnur, esse contingente de refugiados é 100% maior do que o total
verificado em 1999 e 2,3 milhões maior do que o de 2017. Trata-se do número
equivalente de habitantes da Turquia, da Tailândia e do somatório das populações dos
estados brasileiros de São Paulo, Minas Gerais e do Distro Federal.
O relatório informa que, em média, 37.000 pessoas foram forçadas a deixar seus lares ou
países em cada dia de 2018. Do total de 70,8 milhões, 58,3% ou 41,3 milhões de pessoas
estão deslocadas dentro de seus países. De cada cinco refugiados, quatro estão abrigados
em países vizinhos, o que faz da Turquia, do Paquistão, de Uganda e do Sudão os
maiores receptores de migrantes forçados.
O quinto maior, Alemanha, está distante dos principais países de origem dos refugiados
– Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália – que, juntos, respondem por
67% desse universo.
Crise da Venezuela
A Acnur constatou, em 2018, o avanço do número de refugiados da Venezuela no
exterior e dos deslocados internos na Etiópia. O caso da Venezuela mereceu, no
Tendências Globais deste ano, um capítulo especial. Conforme a própriaOrganização das
Nações Unidas (ONU) adiantara, o total de refugiados venezuelanos em outros países,
inclusive o Brasil, ultrapassou 4 milhões neste ano. Até o final de 2018, porém, chegava
a 3 milhões.
“As pessoas estão deixando a Venezuela por muitas razões: violência, insegurança, temor
de ser alvo por suas opiniões (reais ou aparentes), desabastecimento de comida e
remédios, falta de acesso aos serviços sociais e incapacidade de sustentar a elas mesmas
e seus familiares”, resume. “Vários fatores interconectados estão forçando os
venezuelanos a deixarem o país, mas dada a deterioração das condições política, sócio-
econômica e de direitos humanos, está claro que as considerações internacionais de
proteção, conforme os critérios da Convenção de 1951, do Protocolo de 1967 e da
Declaração de Cartegena sobre Refugiados de 1984 são aplicáveis para a maioria dos
venezuelanos”, completa.
A Acnur constatou que, ao longo de 2018, 593.800 refugiados regressaram a seus países
de origem, apesar do aumento de 2,3 milhões de deslocados internos e ao exterior. No
ano anterior, esse total fora maior, de 667.400 in 2017. O regresso é sempre um cenário
desejável, mas nem sempre possível, dada a continuidade de conflitos e perseguições em
vários países.
A Síria é um caso interessante a ser observado. Dos 6,7 milhões de sírios forçados a
deixar o país desde o início da guerra civil, em 2011, 210.900 regressaram apenas em
2018, em especial os que estavam refugiados na vizinha Turquia. A Acnur, entretanto,
adverte não haver garantias e condições suficientes no país para um retorno em larga
escala, seguro e com dignidade.