Os Processos A Globalização by Boaventura Sousa Santos
Os Processos A Globalização by Boaventura Sousa Santos
Os Processos A Globalização by Boaventura Sousa Santos
FATALIDADE OU UTOPIA?
EDIÇÕES AFRONTAMENTO
Organizador: Boaventura de Sousa Santos
Título: Globalização: Fatalidade ou Utopia?
© 2001, Edições Afrontamento
Edição: Edições Afrontamento/Rua de Costa Cabral, 859/4200-225 Porto
Colecção: A Sociedade Portuguesa Perante os Desafios da Globalização / 1
Capa: FBA – Ferrand, Bicker & Associados
N.º de edição: 764
ISBN: 972-36-0569-4
Depósito legal: 171333/01
Impressão e Acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa Maria da Feira
Outubro de 2001
Capítulo 1
Boaventura de Sousa SantoS
Os processos da globalização
1. INTRODUÇÃO
1. Repare-se, no entanto, que Chase-Dunn enfatiza a continuidade dos acontecimentos recentes no seio do sis-
tema mundial.
32 Os processos da globalização
zantes e estas formas destrutivas de vida social que tornam problemático o que
por muito tempo foi visto como o objecto mais básico da sociologia: a socie-
dade concebida quase exclusivamente como o Estado-nação bem delimitado
(1990: 2). Para o Grupo de Lisboa, a globalização é uma fase posterior à interna-
cionalização e à multinacionalização porque, ao contrário destas, anuncia o
fim do sistema nacional enquanto núcleo central das actividades e estratégias
humanas organizadas (1994).
Uma revisão dos estudos sobre os processos de globalização mostra-nos que
estamos perante um fenómeno multifacetado com dimensões económicas,
sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo com-
plexo. Por esta razão, as explicações monocausais e as interpretações monolíti-
cas deste fenómeno parecem pouco adequadas. Acresce que a globalização das
últimas três décadas, em vez de se encaixar no padrão moderno ocidental de
globalização – globalização como homogeneização e uniformização – susten-
tado tanto por Leibniz como por Marx, tanto pelas teorias da modernização
como pelas teorias do desenvolvimento dependente, parece combinar a univer-
salização e a eliminação das fronteiras nacionais, por um lado, o particularismo,
a diversidade local, a identidade étnica e o regresso ao comunitarismo, por
outro. Além disso, interage de modo muito diversificado com outras transfor-
mações no sistema mundial que lhe são concomitantes, tais como o aumento
dramático das desigualdades entre países ricos e países pobres e, no interior de
cada país, entre ricos e pobres, a sobrepopulação, a catástrofe ambiental, os
conflitos étnicos, a migração internacional massiva, a emergência de novos
Estados e a falência ou implosão de outros, a proliferação de guerras civis, o
crime globalmente organizado, a democracia formal como condição política
para a assistência internacional, etc.
Antes de propor uma interpretação da globalização contemporânea, descre-
verei brevemente as suas características dominantes, vistas de uma perspectiva
económica, política e cultural. De passo aludirei aos três debates mais impor-
tantes que tem suscitado, formuláveis em termos das seguintes questões: 1) a
globalização é um fenómeno novo ou velho?; 2) a globalização é monolítica, ou
tem aspectos positivos e aspectos negativos?; 3) aonde conduz a crescente
intensificação da globalização? Nos debates acerca da globalização há uma forte
tendência para reduzi-la às suas dimensões económicas. Sem duvidar da impor-
tância de tal dimensão, penso que é necessário dar igual atenção às dimensões
social, política e cultural.
Falar de características dominantes da globalização pode transmitir a ideia
de que a globalização é não só um processo linear, mas também um processo
meios para manter sob controlo esses focos de instabilidade. Por sua vez, os
conflitos entre capital e trabalho que, por deficiente institucionalização, con-
tribuíram para a emergência do fascismo e do nazismo, acabaram sendo plena-
mente institucionalizados nos países centrais depois da Segunda Guerra Mun-
dial. Hoje, num período pós-fordista, tais conflitos estão a ser relativamente
desinstitucionalizados sem que isso cause qualquer instabilidade porque, entre-
tanto, a classe operária fragmentou-se e estão hoje a emergir novos compromis-
sos de classe menos institucionalizados e a ter lugar em contextos menos cor-
porativistas.
Deste metaconsenso faz ainda parte a ideia de que desapareceram igual-
mente as clivagens entre diferentes padrões de transformação social. Os três
primeiros quartéis do século XX foram dominados pelas rivalidades entre dois
padrões antagónicos: a revolução e o reformismo. Ora se, por um lado, o colapso
da União Soviética e a queda do Muro de Berlim significaram o fim do para-
digma revolucionário, a crise do Estado-Providência nos países centrais e semi-
periféricos significa que está igualmente condenado o paradigma reformista.
O conflito Leste/Oeste desapareceu e arrastou consigo o conflito Norte/Sul
que nunca foi um verdadeiro conflito e que é agora um campo fértil de inter-
dependências e cooperações. Em face disto, a transformação social é, a partir
de agora, não uma questão política, e sim uma questão técnica. Ela não é mais
que a repetição acelerada das relações cooperativas entre grupos sociais e entre
Estados.
Fukuyama (1992), com a sua ideia do fim da história, deu expressão e divul-
gação a este metaconsenso. Huntington (1993) secundou-o com a sua ideia do
«choque de civilizações», ao defender que as clivagens tinham deixado de ser
políticas para passarem a ser civilizacionais. É a ausência das clivagens políti-
cas da modernidade ocidental que leva Huntington a reinventá-las em termos
de uma ruptura entre o Ocidente, agora entendido como tipo de civilização, e o
que misteriosamente designa por «conexão islâmica confucionista». Este meta-
consenso e os que decorrem subjazem às características dominantes da globali-
zação em suas múltiplas facetas a seguir descritas. Pelo que ficou dito atrás e
pela análise que se seguirá, torna-se claro que as características dominantes da
globalização são as características da globalização dominante ou hegemónica.
Mais adiante faremos a distinção, para nós crucial, entre globalização hegemó-
nica e globalização contra-hegemónica.
Boaventura de Sousa Santos 35
2. Walton (1985) refere três formas sucessivas de «divisões internacionais do trabalho», caracterizando-se a
última e actual pela globalização da produção levada a cabo pelas multinacionais. Uma revisão das diferentes
abordagens às «novas divisões internacionais do trabalho» pode ser vista em Jenkins (1984). Ver igualmente
Gordon (1988).
3. Ver Stallings (1992a: 3). Em finais da década de oitenta, as empresas multinacionais norte-americanas e
36 Os processos da globalização
estrangeiras protagonizaram 80% do comércio internacional nos EUA e mais de um terço dos negócios interna-
cionais norte-americanos foi, na verdade, intra-empresarial, i.e., decorreu entre diferentes unidades, geografica-
mente separadas, da mesma empresa. Para além disso, hoje em dia, quase todo o investimento estrangeiro
directo e uma larga parte das transferências tecnológicas são efectuados pelas empresas multinacionais (Sassen,
1994: 14).
Boaventura de Sousa Santos 37
4. Sobre o impacto das empresas multinacionais, ver o capítulo 3, «The Largest Transnational Corporations and
Corporate Stategies», do relatório da UNCTAD de 1999 World Investment Report, 1999. Foreign Direct Invest-
ment and the Challenge of Development (disponível na Internet: <www.unctad.org/en/pub/ps1wir99.htm>).
Segundo este relatório, as empresas multinacionais lideram a produção internacional – entendendo-se por tal a
produção de bens e serviços num dado país, controlada e gerida por empresas com sede noutro país – e esta
liderança concentra-se cada vez mais nos países centrais. Cerca de 90% das 100 maiores empresas multina-
cionais estão sediadas nos países desenvolvidos. Com isto aumenta também a pressão destas empresas no sen-
tido da liberalização do investimento estrangeiro directo: das 145 alterações na regulação do investimento
directo estrangeiro decretadas em todo o mundo em 1998, 136 foram no sentido de criar condições mais favo-
ráveis ao investimento.
Boaventura de Sousa Santos 39
dial, enquanto os 20% mais pobres detinham apenas 1%. Segundo o mesmo
Volume I, Parte I, Capítulo 1
Relatório, mas relativo a 2001, no quinto mais rico concentram-se 79% dos
utilizadores da Internet. As desigualdades neste domínio mostram quão dis-
tantes estamos de uma sociedade de informação verdadeiramente global. A
largura da banda de comunicação electrónica de São Paulo, uma das socieda-
des globais, é superior à de África no seu todo. E a largura da banda usada em
toda a América Latina é quase igual à disponível para a cidade de Seul (PNUD,
2001: 3).
Nos últimos trinta anos a desigualdade na distribuição dos rendimentos
entre países aumentou dramaticamente. A diferença de rendimento entre o
quinto mais rico e o quinto mais pobre era, em 1960, de 30 para 1, em 1990, de
60 para 1 e, em 1997, de 74 para 1. As 200 pessoas mais ricas do mundo aumen-
taram para mais do dobro a sua riqueza entre 1994 e 1998. A riqueza dos três
mais ricos bilionários do mundo excede a soma do produto interno bruto dos
48 países menos desenvolvidos do mundo (PNUD, 2001).
A concentração da riqueza produzida pela globalização neoliberal atinge
proporções escandalosas no país que tem liderado a aplicação do novo modelo
económico, os EUA. Já no final da década de oitenta, segundo dados do Federal
Reserve Bank, 1% das famílias norte-americanas detinha 40% da riqueza do
país e as 20% mais ricas detinham 80% da riqueza do país. Segundo o Banco,
esta concentração não tinha precedentes na história dos EUA, nem compara-
ção com os outros países industrializados (Mander, 1996: 11).
No domínio da globalização social, o consenso neoliberal é o de que o cres-
cimento e a estabilidade económicos assentam na redução dos custos sala-
riais, para o que é necessário liberalizar o mercado de trabalho, reduzindo os
direitos laborais, proibindo a indexação dos salários aos ganhos de produtivi-
dade e os ajustamentos em relação ao custo de vida e eliminando a prazo a
legislação sobre salário mínimo. O objectivo é impedir «o impacto inflacioná-
rio dos aumentos salariais». A contracção do poder de compra interno que
resulta desta política deve ser suprida pela busca de mercados externos. A eco-
nomia é, assim, dessocializada, o conceito de consumidor substitui o de cida-
dão e o critério de inclusão deixa de ser o direito para passar a ser a solvência.
Os pobres são os insolventes (o que inclui os consumidores que ultrapassam
os limites do sobreendividamento). Em relação a eles devem adoptar-se medi-
das de luta contra a pobreza, de preferência medidas compensatórias que mino-
rem, mas não eliminem, a exclusão, já que esta é um efeito inevitável (e, por
isso, justificado) do desenvolvimento assente no crescimento económico e na
competitividade a nível global. Este consenso neoliberal entre os países cen-
trais é imposto aos países periféricos e semiperiféricos através do controlo da
Boaventura de Sousa Santos 41
7. Em 1995, a malária afectava, por cada 100 habitantes, 16 pessoas no Quénia, 21 na Nova Guiné Papua,
33 na Zâmbia (PNUD, 1999).
42 Os processos da globalização
para 0,22 (OCDE/DAC, 2000). O mais perverso dos programas de ajuda inter-
Volume I, Parte I, Capítulo 1
8. Ver Stallings (1992b). Da perspectiva das relações internacionais, ver Durand et al. (1993).
Boaventura de Sousa Santos 43
alcance destas pressões torna-se particularmente visível uma vez que estas
ocorrem após décadas de intensa regulação estatal da economia, tanto nos paí-
ses centrais como nos países periféricos e semiperiféricos. A criação de requi-
sitos normativos e institucionais para as operações do modelo de desenvolvi-
mento neoliberal envolve, por isso, uma destruição institucional e normativa
de tal modo maciça que afecta, muito para além do papel do Estado na econo-
mia, a legitimidade global do Estado para organizar a sociedade.
O segundo factor de novidade da globalização política actual é que as assi-
metrias do poder transnacional entre o centro e a periferia do sistema mundial,
i.e., entre o Norte e o Sul, são hoje mais dramáticas do que nunca. De facto, a
soberania dos Estados mais fracos está agora directamente ameaçada, não tanto
pelos Estados mais poderosos, como costumava ocorrer, mas sobretudo por
agências financeiras internacionais e outros actores transnacionais privados,
tais como as empresas multinacionais. A pressão é, assim, apoiada por uma
coligação transnacional relativamente coesa, utilizando recursos poderosos e
mundiais.
Tendo em mente a situação na Europa e na América do Norte, Bob Jessop
identifica três tendências gerais na transformação do poder do Estado. Em pri-
meiro lugar, a desnacionalização do Estado, um certo esvaziamento do apare-
lho do Estado nacional que decorre do facto de as velhas e novas capacidades do
Estado estarem a ser reorganizadas, tanto territorial como funcionalmente, aos
níveis subnacional e supranacional. Em segundo lugar, a des-estatização dos
regimes políticos reflectida na transição do conceito de governo (government)
para o de governação (governance), ou seja, de um modelo de regulação social e
económica assente no papel central do Estado para um outro assente em parce-
rias e outras formas de associação entre organizações governamentais, para-
-governamentais e não-governamentais, nas quais o aparelho de Estado tem
apenas tarefas de coordenação enquanto primus inter pares. E, finalmente, uma
tendência para a internacionalização do Estado nacional expressa no aumento
do impacto estratégico do contexto internacional na actuação do Estado, o que
pode envolver a expansão do campo de acção do Estado nacional sempre que
for necessário adequar as condições internas às exigências extra-territoriais ou
transnacionais (Jessop, 1995: 2).
Apesar de não se esgotar nele, é no campo da economia que a transnaciona-
lização da regulação estatal adquire uma maior saliência. No que respeita aos
países periféricos e semiperiféricos, as políticas de «ajustamento estrutural» e
de «estabilização macroeconómica» – impostas como condição para a renego-
ciação da dívida externa – cobrem um enorme campo de intervenção econó-
Boaventura de Sousa Santos 45
Uma vez que as pessoas mais caras de servir pelas telecomunicações (basicamente o
telefone) estavam nas áreas menos povoadas e dado que estas populações detinham,
em geral, um desproporcionado poder político e eleitoral (as zonas rurais do Sul e do
Centro dos EUA), era tentador para os políticos construir sistemas monopolistas que
encorajassem o estabelecimento de preços em função de custos médios para um con-
junto de serviços uniformizados. A inovação tecnológica mantinha baixos os custos
absolutos, os subsídios cruzados mantinham felizes os constituintes mais importan-
46 Os processos da globalização
tes e os governos podiam realçar o seu papel na promoção da equidade, definida como
Volume I, Parte I, Capítulo 1
prova no que ficou descrito acima. Na sua base está a ideia de que o Estado é o
oposto da sociedade civil e potencialmente o seu inimigo. A economia neoli-
beral necessita de uma sociedade civil forte e para que ela exista é necessário
que o Estado seja fraco. O Estado é inerentemente opressivo e limitativo da
sociedade civil, pelo que só reduzindo o seu tamanho é possível reduzir o seu
dano e fortalecer a sociedade civil. Daí que o Estado fraco seja também ten-
dencialmente o Estado mínimo. Esta ideia fora inicialmente defendida pela
teoria política liberal, mas foi gradualmente abandonada à medida que o capi-
talismo nacional, enquanto relação social e política, foi exigindo maior inter-
venção estatal. Deste modo, a ideia do Estado como oposto da sociedade civil
foi substituída pela ideia do Estado como espelho da sociedade civil. A partir
de então um Estado forte passou a ser a condição de uma sociedade civil forte.
O consenso do Estado fraco visa repor a ideia liberal original.
Esta reposição tem-se revelado extremamente complexa e contraditória
e, talvez por isso, o consenso do Estado fraco é, de todos os consensos neoli-
berais, o mais frágil e mais sujeito a correcções. É que o «encolhimento» do
Estado – produzido pelos mecanismos conhecidos, tais como a desregulação,
as privatizações e a redução dos serviços públicos – ocorre no final de um
período de cerca de cento e cinquenta anos de constante expansão regulató-
ria do Estado. Assim, como referi atrás, desregular implica uma intensa acti-
vidade regulatória do Estado para pôr fim à regulação estatal anterior e criar
as normas e as instituições que presidirão ao novo modelo de regulação
social. Ora tal actividade só pode ser levada a cabo por um Estado eficaz e
relativamente forte. Tal como o Estado tem de intervir para deixar de inter-
vir, também só um Estado forte pode produzir com eficácia a sua fraqueza.
Esta antinomia foi responsável pelo fracasso da estratégia dos USAID e do
Banco Mundial para a reforma política do Estado russo depois do colapso do
comunismo. Tais reformas assentaram no desmantelamento quase total do
Estado soviético na expectativa de que dos seus escombros emergisse um
Estado fraco e, consequentemente, uma sociedade civil forte. Para surpresa
dos progenitores, o que emergiu destas reformas foi um governo de mafias
(Hendley, 1995). Talvez por isso o consenso do Estado fraco foi o que mais
cedo deu sinais de fragilização, como bem demonstra o relatório do Banco
Mundial de 1997, dedicado ao Estado e no qual se reabilita a ideia de regula-
ção estatal e se põe o acento tónico na eficácia da acção estatal (Banco Mun-
dial, 1997).
O consenso da democracia liberal visa dar forma política ao Estado fraco,
mais uma vez recorrendo à teoria política liberal que particularmente nos
Boaventura de Sousa Santos 49
o que, por sua vez, só é possível na medida em que existir um sistema judi-
Volume I, Parte I, Capítulo 1
cial eficaz.13
Nos termos do Consenso de Washington, a responsabilidade central do
Estado consiste em criar o quadro legal e dar condições de efectivo funciona-
mento às instituições jurídicas e judiciais que tornarão possível o fluir roti-
neiro das infinitas interacções entre os cidadãos, os agentes económicos e o
próprio Estado.
Um outro tema importante nas análises das dimensões políticas da globali-
zação é o papel crescente das formas de governo supraestatal, ou seja, das insti-
tuições políticas internacionais, das agências financeiras multilaterais, dos blo-
cos político-económicos supranacionais, dos Think Tanks globais, das diferen-
tes formas de direito global (da nova lex mercatoria aos direitos humanos).
Também neste caso o fenómeno não é novo uma vez que o sistema interestatal
em que temos vivido desde o século XVII promoveu, sobretudo a partir do
século XIX, consensos normativos internacionais que se vieram a traduzir em
organizações internacionais. Então, como hoje, essas organizações têm funcio-
nado como condomínios entre os países centrais. O que é novo é a amplitude e
o poder da institucionalidade transnacional que se tem vindo a constituir nas
últimas três décadas. Este é um dos sentidos em que se tem falado da emergên-
cia de um «governo global» («global governance») (Murphy, 1994). O outro sen-
tido, mais prospectivo e utópico, diz respeito à indagação sobre as instituições
políticas transnacionais que hão-de corresponder no futuro à globalização eco-
nómica e social em curso (Falk, 1995; Chase-Dunn et al., 1998). Fala-se mesmo
da necessidade de se pensar num «Estado mundial» ou numa «federação mun-
dial», democraticamente controlada e com a função de resolver pacificamente
os conflitos entre Estados e entre agentes globais. Alguns autores transpõem
para o novo campo da globalização os conflitos estruturais do período anterior
e imaginam as contrapartidas políticas a que devem dar azo. Tal como a classe
capitalista global está a tentar formar o seu Estado global, de que a Organização
Mundial do Comércio é a guarda avançada, as forças socialistas devem criar
um «partido mundial» ao serviço de uma «comunidade socialista global» ou
uma «comunidade democrática global» baseada na racionalidade colectiva, na
liberdade e na igualdade (Chase-Dunn et al., 1998).
13. Trato em detalhe o tema do primado do direito e do sistema judicial no contexto da globalização noutro lugar
(Santos, 2000b). Sobre a questão do crédito ao consumo e consequente endividamento dos consumidores ver,
por último, Marques et al. (2000).
Boaventura de Sousa Santos 51
14. Cf. Featherstone (1990); Appadurai (1990); Berman (1983); W. Meyer (1987); Giddens (1990, 1991);
Bauman (1992). Ver também Wuthnow (1985, 1987); Bergesen (1980).
52 Os processos da globalização
16. Ver também Featherstone (1990: 10); Wallerstein (1991a: 184); Chase-Dunn (1991: 103). Para Wallerstein
o contraste entre o sistema-mundial moderno e os impérios mundiais anteriores reside no facto de o primeiro
combinar uma única divisão do trabalho com um sistema de Estados independentes e de sistemas culturais múl-
tiplos (Wallerstein (1979: 5)).
56 Os processos da globalização
17. Sobre esta questão, ver Stallings (1995), onde são analisadas as respostas regionais da América Latina, do
Sudeste Asiático e da África subsariana às pressões globais. Ver também Boyer (1998) e Drache (1999).
Boaventura de Sousa Santos 57
18. Entre muitos outros, ver Boyer (1996, 1998); Drache (1999).
60 Os processos da globalização
19. Sobre os conceitos de turbulência de escalas e de explosão de escalas, ver Santos (1996).
Boaventura de Sousa Santos 63
QUADRO 1
64
Os processos da globalização
Práticas Instituições Forma de Poder Forma de Direito Conflito Estrutural Critério de Hierarquização
Inter-estatais • Estados; Trocas desiguais • Direito Internacional; Lutas inter-estatais pela Centro, periferia,
• Organizações de prerrogativas • Tratados posição relativa semiperiferia
Internacionais; de soberania. internacionais; no sistema mundial
• Instituições • Direito da integração (promoção/
Financeiras regional. /despromoção;
Multilaterais; autonomia/
• Blocos Regionais /dependência).
(Nafta, União
Os processos da globalização
Europeia; Mercosul);
• Organização Mundial
do Comércio.
Capitalistas globais • Empresas Trocas desiguais • Direito do trabalho; Luta de classes pela Global, local
Multinacionais. de recursos ou valores • Direito económico apropriação
mercantis. internacional; ou valorização
• Nova lex mercatoria; de recursos mercantis
• Direito de propriedade; (integração/
• Direito de propriedade /desintegração;
intelectual; inclusão/exclusão).
• Direito de patentes.
• Direitos humanos;
Sociais e culturais • Organizações; Trocas desiguais • Direito de nacionalidade Lutas de grupos sociais Global, local
transnacionais Não Governamentais; de identidades e de residência; pelo reconhecimento
• Movimentos sociais; e de culturas. • Direito de emigração; da diferença
• Redes; • Direito de propriedade (inclusão/exclusão;
• Fluxos. intelectual. inclusão autónoma/
/inclusão subalterna).
Boaventura de Sousa Santos 65
Aliás, enquanto no SMM os dois pilares tinham contornos claros e bem distin-
tos, no SMET há uma interpenetração constante e intensa entre as diferentes
constelações de práticas, de tal modo que entre elas há zonas cinzentas ou
híbridas onde as constelações assumem um carácter particularmente compó-
sito. Por exemplo, a Organização Mundial do Comércio é uma instituição
híbrida constituída por práticas interestatais e por práticas capitalistas globais
do mesmo modo que os fluxos migratórios são uma instituição híbrida onde,
em graus diferentes, consoante as situações, estão presentes as três constela-
ções de práticas. Em terceiro lugar, ainda que permaneçam no SMET muitas
das instituições centrais do SMM, elas desempenham hoje funções diferentes
sem que a sua centralidade seja necessariamente afectada. Assim, o Estado, que
no SMM assegurava a integração da economia, da sociedade e da cultura nacio-
nais, contribui hoje activamente para a desintegração da economia, da socie-
dade e da cultura a nível nacional em nome da integração destas na economia,
na sociedade e na cultura globais.
Os processos de globalização resultam das interacções entre as três conste-
lações de práticas. As tensões e contradições, no interior de cada uma das cons-
telações e nas relações entre elas, decorrem das formas de poder e das desigual-
dades na distribuição do poder.20 Essa forma de poder é a troca desigual em todas
elas, mas assume formas específicas em cada uma das constelações que deri-
vam dos recursos, artefactos, imaginários que são objecto de troca desigual. O
aprofundamento e a intensidade das interacções interestatais, globais e trans-
nacionais faz com que as formas de poder se exerçam como trocas desiguais.
Porque se trata de trocas e as desigualdades podem, dentro de certos limites,
ser ocultadas ou manipuladas, o registo das interacções no SMET assume mui-
tas vezes (e credivelmente) o registo da horizontalidade através de ideias-força
como interdependência, complementaridade, coordenação, cooperação, rede,
etc. Em face disto, os conflitos tendem a ser experienciados como difusos,
sendo por vezes difícil definir o que está em conflito ou quem está em conflito.
Mesmo assim é possível identificar em cada constelação de práticas um con-
flito estrutural, ou seja, um conflito que organiza as lutas em torno dos recur-
sos que são objecto de trocas desiguais. No caso de práticas interestatais, o con-
flito trava-se em torno da posição relativa na hierarquia do sistema mundial já
que é este que dita o tipo de trocas e graus de desigualdades. As lutas pela pro-
moção ou contra a despromoção e os movimentos na hierarquia do sistema
20. Em trabalho anterior, ao analisar o Mapa Estrutural das Sociedades Capitalistas (Santos, 1995: 417; 2000a:
cap. 5), considerei que a troca desigual era a forma de poder do espaço-tempo mundial. Os processos da globali-
zação são constituídos pelo espaço-tempo mundial. Em cada uma das constelações de práticas circula uma
forma específica de troca desigual.
66 Os processos da globalização
21. A compressão tempo-espaço acarreta consigo a ideia da irreversibilidade e permanência dos processos de
globalização. No entanto, Fortuna chama a atenção para a hipótese de a globalização ser temporária. Repor-
tando-se ao processo de globalização das cidades, fala da existência «de um processo de globalização decorrente
da valorização temporária dos recursos imagéticos e representacionais» (1997: 16).
Boaventura de Sousa Santos 71
por duas vias possíveis: pela exclusão ou pela inclusão subalterna. Apesar de,
na linguagem comum e no discurso político, o termo globalização transmitir a
ideia de inclusão, o âmbito real da inclusão pela globalização, sobretudo econó-
mica, pode ser bastante limitado. Vastas populações do mundo, sobretudo em
África, estão a ser globalizadas em termos do modo específico por que estão a
ser excluídas pela globalização hegemónica.22 O que caracteriza a produção de
globalização é o facto de o seu impacto se estender tanto às realidades que
inclui como às realidades que exclui. Mas o decisivo na hierarquia produzida
não é apenas o âmbito da inclusão, mas a sua natureza. O local, quando
incluído, é-o de modo subordinado, segundo a lógica do global. O local que pre-
cede os processos de globalização, ou que consegue permanecer à margem, tem
muito pouco a ver com o local que resulta da produção global da localização.
Aliás, o primeiro tipo de local está na origem dos processos de globalização,
enquanto o segundo tipo é o resultado da operação destes.
O modo de produção geral de globalização desdobra-se em quatro modos
de produção, os quais, em meu entender, dão origem a quatro formas de glo-
balização.
A primeira forma de globalização é o localismo globalizado. Consiste no
processo pelo qual determinado fenómeno local é globalizado com sucesso,
seja a actividade mundial das multinacionais, a transformação da língua inglesa
em lingua franca, a globalização do fast food americano ou da sua música popu-
lar, ou a adopção mundial das mesmas leis de propriedade intelectual, de paten-
tes ou de telecomunicações promovida agressivamente pelos EUA. Neste modo
de produção de globalização o que se globaliza é o vencedor de uma luta pela
apropriação ou valorização de recursos ou pelo reconhecimento da diferença. A
vitória traduz-se na faculdade de ditar os termos da integração, da competição e
da inclusão. No caso do reconhecimento da diferença, o localismo globalizado
implica a conversão da diferença vitoriosa em condição universal e a conse-
quente exclusão ou inclusão subalterna de diferenças alternativas.
À segunda forma de globalização chamo globalismo localizado. Consiste
no impacto específico nas condições locais produzido pelas práticas e imperati-
vos transnacionais que decorrem dos localismos globalizados. Para responder a
esses imperativos transnacionais, as condições locais são desintegradas, deses-
truturadas e, eventualmente, reestruturadas sob a forma de inclusão subal-
terna. Tais globalismos localizados incluem: eliminação do comércio de proxi-
midade; criação de enclaves de comércio livre ou zonas francas; desflorestação
22. Cf. também McMichael (1996: 169). A dialéctica da inclusão e da exclusão é particularmente visível no
mercado global da comunicação e da informação. Com excepção da África do Sul, o continente africano é, para
este mercado, um continente inexistente.
72 Os processos da globalização
23. O globalismo localizado pode ocorrer sob a forma do que Fortuna chama «globalização passiva», a situação
em que «algumas cidades se vêem incorporadas de modo passivo nos meandros da globalização e são incapazes
de fazer reconhecer aqueles recursos [globalizantes próprios] no plano transnacional» (1997: 16).
24. A divisão internacional da produção de globalização articula-se com uma divisão nacional do mesmo tipo: as
regiões centrais ou os grupos dominantes de cada país participam na produção e reprodução de localismos
nacionalizados, enquanto às regiões periféricas ou aos grupos dominados cabe produzir e reproduzir os naciona-
lismos localizados. Para tomar um exemplo recente, a Exposição Universal de Lisboa, a Expo’98, foi o resultado
da conversão em objectivo nacional dos objectivos locais da cidade de Lisboa e da classe política interessada em
promover uma imagem do país onde não cabem as regiões periféricas nem os grupos sociais dominados. Umas e
outros foram localizados por esta «decisão nacional» ao serem privados dos recursos e dos investimentos que,
pelo menos parcialmente, lhes poderiam ter cabido se a Expo’98 não se tivesse realizado.
Esta tensão entre localismos nacionalizados e nacionalismos localizados é intrínseca ao Estado capitalista
moderno. O que é novo é a crescente congruência entre localismos nacionalizados e localismos globalizados.
Usando de novo o exemplo da Expo’98, a nacionalização do desígnio expositivo não teria sido possível se este
não tivesse sido previamente globalizado entre o pequeno cartel de países competentes para se exporem e para
exporem os restantes países.
Boaventura de Sousa Santos 73
25. A ideia do cosmopolitismo como universalismo, cidadania do mundo, negação das fronteiras políticas e terri-
toriais, tem uma longa tradição na cultura ocidental, da lei cósmica de Pitágoras e a philallelia de Demócrito ao
«Homo sum, humani nihil a me alienum puto» de Terêncio, da res publica christiana medieval aos humanistas
da Renascença, da ideia de Voltaire para quem «para ser bom patriota [é] necessário tornar-se inimigo do resto
do mundo» até ao internacionalismo operário.
26. A distinção entre o material e o simbólico não deve ser levada para além de limites razoáveis já que cada um
dos pólos da distinção contém o outro (ou alguma dimensão do outro), ainda que de forma recessiva. O «mais»
material a que me refiro são basicamente os direitos económicos e sociais conquistados e tornados possíveis pelo
Estado-Providência: os salários indirectos, a segurança social, etc. O «mais» simbólico inclui, por exemplo, a
inclusão na ideologia nacionalista ou na ideologia consumista e a conquista de direitos desprovidos de meios efi-
cazes de aplicação. Uma das consequências da globalização hegemónica tem sido a crescente erosão do «mais»
material, compensada pela intensificação do «mais» simbólico.
Boaventura de Sousa Santos 75
de discriminação sexual, étnica, rácica, religiosa, etária, etc. Por esta razão, em
parte, o carácter progressista ou contra-hegemónico das coligações cosmopoli-
tas nunca pode ser determinado em abstracto. Ao invés, é intrinsecamente ins-
tável e problemático. Exige dos que nelas participam uma auto-reflexividade
permanente. Iniciativas cosmopolitas concebidas e criadas com um carácter
contra-hegemónico podem vir a assumir posteriormente características hege-
mónicas, correndo mesmo o risco de se converterem em localismos globaliza-
dos. Basta pensar nas iniciativas de democracia participativa a nível local que
durante anos tiveram de lutar contra o «absolutismo» da democracia represen-
tativa e a desconfiança por parte das elites políticas conservadoras, tanto nacio-
nais como internacionais, e que hoje começam a ser reconhecidas e mesmo
apadrinhadas pelo Banco Mundial, seduzido pela eficácia e pela ausência de
corrupção com que tais iniciativas aplicam os fundos e os empréstimos de
desenvolvimento. A vigilância auto-reflexiva é essencial para distinguir entre a
concepção tecnocrática de democracia participativa sancionada pelo Banco
Mundial e a concepção democrática e progressista de democracia participativa,
embrião de globalização contra-hegemónica.27
A instabilidade do carácter progressista ou contra-hegemónico decorre ainda
de um outro factor: as diferentes concepções de resistência emancipatória por
parte de iniciativas cosmopolitas em diferentes regiões do sistema mundial.
Por exemplo, a luta pelos padrões mínimos da qualidade de trabalho (os chama-
dos labor standards) – luta conduzida pelas organizações sindicais e grupos de
direitos humanos dos países mais desenvolvidos, com objectivos de solidarie-
dade internacionalista, no sentido de impedir que produtos produzidos com
trabalho que não atinge esses padrões mínimos possam circular livremente no
mercado mundial –, é certamente vista pelas organizações que a promovem
como contra-hegemónica e emancipatória, uma vez que visa melhorar as con-
dições de vida dos trabalhadores, mas pode ser vista por organizações similares
dos países da periferia como mais uma estratégia hegemónica do Norte, cujo
efeito útil é criar mais uma forma de proteccionismo favorável aos países ricos.
O segundo modo de produção de globalização em que se organiza a resistên-
cia aos localismos globalizados e aos globalismos localizados é o que eu
designo, recorrendo ao direito internacional, por património comum da huma-
nidade. Trata-se de lutas transnacionais pela protecção e desmercadorização de
recursos, entidades, artefactos, ambientes considerados essenciais para a sobre-
vivência digna da humanidade e cuja sustentabilidade só pode ser garantida à
escala planetária. Pertencem ao património comum da humanidade, em geral,
27. Analiso esta questão no meu estudo sobre o orçamento participativo em Porto Alegre (Santos, 1998a).
76 Os processos da globalização
28. Sobre o património comum da humanidade, ver, entre muitos outros, Santos (1995: 365-373) e o estudo
exaustivo de Pureza (1999).
Boaventura de Sousa Santos 77
29. Sobre a globalização de-baixo-para-cima ou contra-hegemónica, ver Hunter (1995); Kidder e McGinn (1995).
Ver também Falk (1995, 1999). Ambos os trabalhos visam as coligações e redes internacionais de trabalhadores
que emergiram do NAFTA.
78 Os processos da globalização
30. No mesmo sentido, é sugerido que os movimentos progressistas devem usar os instrumentos do naciona-
lismo económico para combater as forças do mercado.
Boaventura de Sousa Santos 79
31. Sobre os conceitos de democracia de alta intensidade e de democracia de baixa intensidade, ver Santos
(1998b) e Santos (2000b).
32. Sobre este ponto, cf. Santos (1997).
Boaventura de Sousa Santos 81
com deficiente articulação com o sector privado; elevada protecção social. Ape-
sar de Portugal continuar a ser uma sociedade semiperiférica, a institucionali-
dade capitalista que domina entre nós aponta para o tipo de capitalismo esta-
tal. A plena consolidação deste modelo de institucionalidade parece estar blo-
queada no nosso país, pelas pressões contraditórias, ainda que desiguais, de que
o modelo é alvo e que, por paradoxal que pareça, são exercidas pelo próprio
Estado: por um lado, as pressões no sentido do capitalismo social democrático
e, por outro lado, as pressões bem mais fortes no sentido do capitalismo mer-
cantil. Neste caótico processo de transição há ainda vestígios de capitalismo
mesocorporativo, sobretudo em face da articulação íntima entre o Estado e os
grupos financeiros e entre o Estado e grandes empresas públicas e privadas em
fase de internacionalização.
Em face da coexistência destes quatro grandes tipos de capitalismo (e certa-
mente de outros tipos em vigor nas regiões do mundo não integradas na classifi-
cação), pode questionar-se a existência de uma globalização económica hegemó-
nica. Afinal, cada um destes tipos de capitalismo constitui um regime de acu-
mulação e um modo de regulação dotados de estabilidade, em que é grande a
complementaridade e a compatibilidade entre as instituições. Por esta via, o
tecido institucional tem uma capacidade antecipatória ante possíveis ameaças
desestruturantes. A verdade, porém, é que os regimes de acumulação e os modos
de regulação são entidades históricas dinâmicas; aos períodos de estabilidade
seguem-se períodos de desestabilização, por vezes induzidos pelos próprios êxi-
tos anteriores. Ora desde a década de oitenta, temos vindo a assistir a uma
enorme turbulência nesses diferentes tipos de capitalismo. A turbulência não é,
porém, caótica e nela podemos detectar algumas linhas de força. São essas linhas
de força que compõem o carácter hegemónico da globalização económica.
Em geral, e nos termos da definição de globalização acima proposta, pode
dizer-se que a evolução consiste na globalização do capitalismo mercantil e na
consequente localização dos capitalismos mesocorporativos, social democrá-
tico e estatal. Localização implica desestruturação e adaptação. As linhas de
força por que uma e outra se têm pautado são as seguintes: os compromissos
entre o capital e o trabalho são vulnerabilizados pela nova inserção na econo-
mia internacional (mercados livres e procura global de investimentos directos);
a segurança da relação social é convertida em rigidez da relação salarial; a prio-
ridade dada aos mercados financeiros bloqueia a distribuição de rendimentos e
exige a redução das despesas públicas em material social; a transformação do
trabalho num recurso global é feita de modo a coexistir com a diferenciação de
salários e de preços; o aumento da mobilidade do capital faz com que a fiscali-
dade passe a incidir sobre rendimentos imóveis (sobretudo os do trabalho); o
84 Os processos da globalização
33. Esping-Anderson definiu o índice de desmercadorização como sendo o grau em que os indivíduos ou famílias
podem manter um nível de vida aceitável, independentemente da participação no mercado (1990: 37). Este
grau de desmercadorização não depende só do nível das prestações sociais, mas também das condições de elegi-
bilidade e restrições nos direitos, do nível de substituição dos rendimentos e do leque dos direitos.
86 Os processos da globalização
existe um sistema de assistência social generosa para os que não estão abrangi-
Volume I, Parte I, Capítulo 1
que se seguiram foi activamente promovido, quando não imposto, aos países
intervencionados pelas políticas de ajustamento estrutural.
No mesmo ano em que o Banco Mundial publicou o seu relatório, a Comis-
são Europeia publicou o Livro Branco sobre a Política Social Europeia (Comis-
são Europeia, 1994). Nesse Livro Branco afirma-se o compromisso em manter o
modelo europeu de Estado-Providência, o qual, pese embora as suas diferenças
internas, se caracteriza por elevados níveis de protecção social, garantidos como
direitos de cidadania pelo Estado, cuja intervenção assegura a solidariedade
nacional e torna possível a desmercadorização da protecção social. Ao contrá-
rio do que se passa com o modelo do Banco Mundial, parte-se do pressuposto
que é possível compatibilizar o aumento da competitividade e o crescimento
económico com altos níveis de protecção social.
Passou então a falar-se de um modelo social europeu alternativo ao modelo
neoliberal. Esta concorrência estabeleceu-se não apenas entre modelos de bem-
-estar social, mas também, e em última instância, entre dois modelos do capita-
lismo global, o europeu e o norte-americano. Neste sentido, é possível falar de
fracturas no interior da globalização económica e social hegemónica. Que essas
fracturas podem constituir o ponto de entrada para lutas sociais ficou demons-
trado com os conflitos no interior da Comissão do Livro Branco da Segurança
Social, criada pelo Governo socialista saído das eleições de 1995. Reflexos de
conflitos activos ou latentes na sociedade portuguesa sobre a reforma da segu-
rança social, os conflitos no interior da Comissão foram formatados pela pola-
rização entre o modelo neoliberal e o modelo social europeu.35 As fracturas no
interior da globalização hegemónica revelaram a existência de modos de regu-
lação capitalista qualitativamente distintos. As lutas sociais que tais fracturas
permitem são progressistas na medida em que lutam pelo modo de regulação
que gera menos iniquidade e garante, a título de direitos de cidadania, maior
protecção social aos grupos sociais mais vulneráveis. Num estudo preparado
para a Presidência Portuguesa da União Europeia no 1º semestre de 2000, Boyer
– em geral muito atento às especificidades do capitalismo europeu – defende
que os sistemas de bem-estar europeus, se adequadamente reformados, podem
ser um dos grandes triunfos da Europa no contexto mundial (1999).
As fracturas na globalização económica e social hegemónica têm-se vindo a
aprofundar nos últimos anos. As crises na Rússia e nos países asiáticos vieram
mostrar a extrema fragilidade de um modelo de desenvolvimento assente no
sistema financeiro e obrigaram para já a repensar as receitas do ajustamento
35. Os trabalhos da Comissão são analisados em detalhe em Santos e Ferreira 2001 (volume 3, capítulo 5, desta
colecção).
88 Os processos da globalização
1) Deve ser feita uma distinção entre os elementos que são inerentes aos
sistemas e esquemas de pensões (modelos teóricos) e aqueles elementos
que surgem com a sua implementação. Esta distinção deve permitir per-
ceber se o sistema ou esquema de pensões só precisa de correcções ou se
tem que ser totalmente substituído por outro, e se este outro irá funcio-
nar melhor nas mesmas circunstâncias. A implementação de qualquer
modelo tem que ter em consideração as circunstâncias históricas concre-
tas e estas são diferentes de país para país.
2) As medidas de reforma devem ter em conta os sistemas e esquemas já
existentes. Ou seja, não se deve confundir a passagem de um sistema a
outro com a introdução de um sistema ou esquema onde nada existia
antes, pois no primeiro caso existem custos de transição que têm que ser
considerados.
3) Na análise intergeracional dos efeitos das medidas, há que não focar
exclusivamente o longo prazo, pois corre-se o risco de, em nome das gera-
ções futuras, se imporem pesados custos às gerações actuais.
Boaventura de Sousa Santos 89
fenómeno global, a menos que as causas endógenas, diferentes de país para país,
tenham entre si afinidades estruturais ou partilhem traços de causas remotas,
comuns e transnacionais. E de facto este parece ter sido o caso. Pese embora as
diferenças nacionais, sempre significativas, podemos detectar no novo protago-
nismo judicial alguns factores comuns. Em primeiro lugar, as consequências da
confrontação entre o princípio do Estado e o princípio do mercado na gestão da
vida social de que resultaram as privatizações e a desregulamentação da econo-
mia, a desmoralização dos serviços públicos, a crise dos valores republicanos,
um novo protagonismo do direito privado, a emergência de actores sociais pode-
rosos para quem se transferiram prerrogativas de regulação social antes detidas
pelo Estado. Tudo isto criou uma nova promiscuidade entre o poder económico
e o poder político que permitiu às elites circular facilmente e, por vezes, pen-
dularmente, de um para outro. Esta promiscuidade, combinada com o enfra-
quecimento da ideia de bem público ou bem comum, acabou por se traduzir
numa nova patrimonialização ou privatização do Estado que muitas vezes
recorreu à ilegalidade para se concretizar. Foi a criminalidade de colarinho
branco e, em geral, a corrupção que deram a notoriedade aos tribunais.
Em segundo lugar, a crescente conversão da globalização capitalista hege-
mónica em algo irreversível e incontornável combinada com os sinais de crise
dos regimes comunistas conduziu à atenuação das grandes clivagens políticas.
Estas, que antes permitiam a resolução política dos conflitos políticos, deixa-
ram de o poder fazer e estes últimos foram atenuados, fragmentados e persona-
lizados até ao ponto de se poderem transformar em conflitos judiciais. Chama-
mos a este processo político de despolitização, judicialização da política. Em
terceiro lugar, esta judicialização da política, que foi, na sua génese, um sin-
toma da crise da democracia, alimentou-se desta. A legitimidade democrática
que antes assentava quase exclusivamente nos órgãos políticos eleitos, o parla-
mento e o executivo, foi-se transferindo de algum modo para os tribunais.
Este fenómeno, que, além dos países atrás referidos, tem vindo a ocorrer na
última década em muitos outros países da Europa de Leste, da América Latina
e da Ásia,37 e a mesma relação entre causas próximas (endógenas e específicas) e
causas remotas (comuns, transnacionais), pode ser detectada, ainda que com
adaptações. Por esta razão, considero estarmos perante um fenómeno de globa-
lização de baixa intensidade.
Muito diferente deste processo é o que, na mesma área da justiça e do
direito, tem vindo a ser protagonizado pelos países centrais, através das suas
38. Sobre este «movimento» da reforma global dos tribunais, ver Santos (2000b).
94 Os processos da globalização
39. Wallerstein (1991a); Hopkins et al. (1996). Ver também Arrighi e Silver (1999).
Boaventura de Sousa Santos 95
tativa mas também social) e, como consequência, está a atingir o seu limite
máximo de ajustamento e de adaptação e esgotará em breve «a sua capacidade
de manutenção dos ciclos rítmicos que são o seu bater cardíaco» (1991a: 134).
O colapso dos mecanismos de ajustamento estrutural abre um vasto terreno
para a experimentação social e para escolhas históricas reais, muito difíceis de
prever. Com efeito, as ciências sociais modernas revelam-se aqui de pouca uti-
lidade, a menos que elas mesmas se sujeitem a uma revisão radical e se insiram
num questionar mais amplo. Wallerstein designa tal questionamento por uto-
pística (distinto de utopismo), i.e., «a ciência das utopias utópicas… a tentativa
de clarificar as alternativas históricas reais que estão à nossa frente quando um
sistema histórico entra numa fase de crise, e avaliar nesse momento extremo
de flutuações as vantagens e as desvantagens das estratégias alternativas»
(1991b: 270).
De uma perspectiva diferente embora convergente, Arrighi convida-nos a
revisitar as previsões de Schumpeter acerca do futuro do capitalismo e com
base nelas coloca a questão schumpeteriana: poderá o capitalismo sobreviver
ao sucesso? (Arrighi, 1994: 325; Arrighi e Silver, 1999). Há uns 50 anos, Schum-
peter formulou a tese de que «o desempenho actual e prospectivo do sistema
capitalista é tal que refuta a ideia de o seu colapso ocorrer sob o peso do fra-
casso económico, mas o seu próprio sucesso corrompe as instituições sociais
que o protegem e «inevitavelmente» cria as condições sob as quais não conse-
guirá sobreviver e que apontam fortemente para o socialismo como o seu apa-
rente herdeiro» (Schumpeter, 1976: 61). Schumpeter era assim muito céptico
acerca do futuro do capitalismo e Arrighi defende que a história poderá vir a
dar-lhe razão: «A sua ideia de que uma outra viragem bem sucedida estava ao
alcance do capitalismo revelou-se obviamente correcta. Mas as possibilidades
indicam que, durante o próximo meio século, a história provará estar também
certa a sua outra ideia de que a cada viragem bem sucedida se criam as condi-
ções sob as quais a sobrevivência do capitalismo é cada vez mais difícil»
(Arrighi, 1994: 325). Em trabalho mais recente, Arrighi e Silver salientam o
papel da expansão do sistema financeiro nas crises finais das ordens hegemóni-
cas anteriores (holandesa e britânica). A actual financeirização da economia glo-
bal aponta para a crise final da última e mais recente hegemonia, a dos EUA.
Este fenómeno não é, pois, novo, o que é novo, e radicalmente novo, é a sua com-
binação com a proliferação e o crescente poder das empresas multinacionais e
o modo como elas interferem com o poder dos Estados nacionais. É nesta com-
binação que se virá a sustentar uma transição paradigmática (1999: 271-289).
A leitura subparadigmática vê o período actual como um importante pro-
cesso de ajustamento estrutural, no qual o capitalismo não parece dar mostra
96 Os processos da globalização
40. Aglietta (1979); Boyer (1986, 1990). Ver também Jessop (1990a; 1990b); Kotz (1990); Mahnkopf (1988);
Noel (1987); Vroey (1984).
Boaventura de Sousa Santos 97
41. Sobre estas três estratégias do Estado moderno, ver Santos (1995: 99-109).
42. Apesar de considerarem a globalização um fenómeno velho, alguns dos teóricos do sistema mundial, como é
o caso de Wallerstein, perfilham leituras paradigmáticas a partir de análises sistémicas, nomeadamente da aná-
lise da sobreposição de pontos de ruptura nos diferentes processos de longa duração que constituem o sistema
mundial moderno.
98 Os processos da globalização
acção política nas condições turbulentas dos nossos dias. Os argumentos para-
digmáticos apelam a actores colectivos que privilegiam a acção transformadora
enquanto os argumentos subparadigmáticos apelam a actores colectivos que
privilegiam a acção adaptativa. Trata-se de dois tipos-ideais de actores colecti-
vos. Alguns actores sociais (grupos, classes, organizações) aderem apenas a um
dos argumentos, mas muitos deles subscrevem um ou outro, consoante o
tempo ou o tema, sem garantirem fidelidades exclusivas ou irreversíveis a um
ou a outro. Alguns actores podem experienciar a globalização da economia no
modo subparadigmático e a globalização da cultura no modo paradigmático,
enquanto outros as podem conceber de modo inverso. Mais do que isso, alguns
podem conceber como económicos os mesmos processos de globalização que
outros consideram culturais ou políticos.
Os actores que privilegiam a leitura paradigmática tendem a ser mais apo-
calípticos na avaliação dos medos, riscos, perigos e colapsos do nosso tempo e
a ser mais ambiciosos relativamente ao campo de possibilidades e escolhas
históricas que está a ser revelado. O processo de globalização pode assim ser
visto, quer como altamente destrutivo de equilíbrios e identidades insubsti-
tuíveis, quer como a inauguração de uma nova era de solidariedade global ou
até mesmo cósmica.
Por sua vez, para os actores que privilegiam a leitura subparadigmática, as
actuais transformações globais na economia, na política e na cultura, apesar
da sua relevância indiscutível, não estão a forjar nem um novo mundo utó-
pico, nem uma catástrofe. Expressam apenas a turbulência temporária e o
caos parcial que acompanham normalmente qualquer mudança nos sistemas
rotinizados.
A coexistência de interpretações paradigmáticas e de interpretações subpara-
digmáticas é provavelmente a característica mais distintiva do nosso tempo. E
não será esta a característica de todos os períodos de transição paradigmática? A
turbulência inevitável e controlável para uns é vista por outros como prenúncio
de rupturas radicais. E entre estes últimos, há os que vêem perigos incontrolá-
veis onde outros vêem oportunidades para emancipações insuspeitáveis. As
minhas análises do tempo presente, a minha preferência pelas acções transfor-
madoras e, em geral, a minha sensibilidade – e esta é a palavra exacta – incli-
nam-me a pensar que as leituras paradigmáticas interpretam melhor a nossa
condição no início do novo milénio do que as leituras subparadigmáticas.43
43. A justificação desta posição é apresentada noutro lugar (Santos, 1995; 2000a).
Boaventura de Sousa Santos 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aglietta, Michel (1979), A Theory of Capitalist Regulation. Londres: New Left Books.
Albrow, Martin; King, Elizabeth (orgs.) (1990), Globalization, Knowledge and Society.
Londres: Sage.
Appadurai, Arjun (1990), «Disjuncture and Difference in the Global and Cultural Eco-
nomy», Public Culture, 2, 1-24.
Appadurai, Arjun (1997), Modernity at Large. Minneapolis: University of Minnesota Press.
Appadurai, Arjun (1999), «Globalization and the Research Imagination», International
Social Science Journal, 160, 229-238.
Arrighi, Giovanni (1994), The Long Twentieth Century. Londres: Verso.
Arrighi, Giovanni; Silver, Beverly (1999), Chaos and Governance in the Modern World
System. Minneapolis: University of Minnesota Press.
Banco Mundial (1994), Averting the Old Age Crisis: Policies to Protect the Old and Pro-
mote Growth. Oxford: Oxford University Press.
Banco Mundial (1997), World Development Report 1997. Nova Iorque: Oxford Univer-
sity Press.
Barber, Benjamim; Schulz, Andrea (orgs.) (1995), Jihad Vs. McWorld: How Globalism
and Tribalism Are Reshaping the World. Nova Iorque: Ballantine Books.
Bauman, Zygmunt (1992), Intimations of Postmodernity. Londres: Routledge.
Beck, Ulrich (1992), Risk Society. Towards a New Modernity. Londres: Sage.
Becker, David et al. (1987), Postimperialism. Boulder: Lynne Rienner Publishers.
Becker, David; Sklar, Richard (1987), «Why Postimperialism?», in D. Becker et al., 1-18.
Bergesen, Albert (1990), «Turning World-System Theory on its Head», in M. Feather-
stone (org.), 67-81.
Bergesen, Albert (org.) (1980), Studies of the Modern World-System. Nova Iorque: Acade-
mic Press.
Berman, Harold (1983), Law and Revolution. The Formation of Western Legal Tradi-
tion. Cambridge: Harvard University Press.
Berry, Wendell (1996), «Conserving Communities», in Mander e Goldsmith (orgs.), 407-417.
Boulding, Elise (1991), «The Old and New Transnationalism: An Evolutionary Perspec-
tive», Human Relations, 44, 789-805.
Boyer, Charles (1998), «Le politique à l’ère de la mondialization et de la finance: Le point
sur quelques recherches regulationnistes». Comunicação ao Colóquio «Evolution et
transformation des systèmes economiques: Approches comparatives du capitalisme
et du socialisme». Paris, EHESS, 19-21 Junho.
Boyer, Robert (1990), The Regulation School: A Critical Introduction. Nova Iorque:
Columbia University Press.
Boyer, Robert (1999), «Institutional Reforms for Growth, Employment and Social Cohe-
sion: Elements of a European and National Agenda», Estudo preparado para a Presi-
dência Portuguesa da União Europeia no primeiro semestre de 2000. Paris: CEPRE-
MAP, Novembro.
100 Os processos da globalização
Boyer, Robert; Drache, Daniel (orgs.) (1996), States Against Markets: The Limits of Glo-
balization. Nova Iorque: Routledge.
Castells, Manuel (1996), The Rise of the Network Society. Cambridge: Blackwell.
Chase-Dunn, Christopher (1991), Global Formation: Structures of the World-Economy.
Cambridge: Polity Press.
Chase-Dunn, Christopher et al. (1998), «Globalization: A World-System Perspec-
tive», XIV World Congress of Sociology, Montreal. Disponível em: <http://csf.colo-
rado. edu/systems/archives/papers/>.
Chossudovsky, Michel (1997), The Globalization of Poverty: Impacts of IMF and World
Bank Reforms. Londres: Zed Books.
Clarke, Tony (1996), «Mechanisms of Corporate Rule», in J. Mander e E. Goldsmith
(orgs.), The Case Against the Global Economy. São Francisco: Sierra Club Books,
297-308.
Cowhey, Peter F. (1990), «The International Telecommunications Regime: The Political
Roots of Regimes for High Technology», International Organization, (44)2, 169-199.
Drache, Daniel (1999), «Globalization: Is There Anything to Fear?», Comunicação
apresentada no Seminário Governing the Public Domain beyond the Era of the
Washington Consensus?: Redrawing the Line between the State and the Market.
Toronto: York University, 4-6 de Novembro.
Durand, Marie-Françoise et al. (1993), Le monde: Espaces et systèmes. Paris: Presses de
la Fondation Nationale des Sciences Politiques & Dalloz.
Eliassen, Kjell; Sjovaag, Marit (orgs.) (1999), European Telecommunications Liberaliza-
tion. Londres: Routledge.
Esping-Andersen, Gøsta (1990), The Three Worlds of Welfare Capitalism. Cambridge:
Polity Press.
Evans, Peter (1979), Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and
Local Capital in Brazil. Princeton: Princeton University Press.
Evans, Peter (1986), «State, Capital and the Transformation of Dependence: The Brazi-
lian Computer Case», World Development, 14, 791-808.
Evans, Peter (1987), «Class, State and Dependence in East Asia: Lessons for Latin Ameri-
canists», in Deyo (org.), 203-225.
Falk, Richard (1995), On Human Governance: Toward a New Global Politics. Univer-
sity Park, Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press.
Falk, Richard (1999), Predatory Globalization: A Critique. Cambridge: Polity Press.
Featherstone, Mike (1990), «Global Culture: An Introduction», in Featherstone (org.),
1-14.
Featherstone, Mike (org.) (1990), Global Culture: Nationalism, Globalization and
Modernity. Londres: Sage.
Featherstone, Mike et al. (1995), Global Modernities. Thousand Oaks: Sage.
Ferrera, Maurizio (1996), «The «Southern Model» of Welfare in Social Europe», Journal
of European Social Policy, 6 (1), 17-37.
Boaventura de Sousa Santos 101
Hunter, Allen (1995), «Globalization from Below? Promises and Perils of the New Inter-
Volume I, Parte I, Capítulo 1
Marques, Maria Manuel Leitão et al. (2000), O endividamento dos consumidores. Coim-
bra: Almedina.
McMichael, Philip; Myhre, D. (1990), «Global Regulation vs. the Nation-State: Agro-
Food Systems and the New Politics of Capital», Review of Radical Political Eco-
nomy, 22, 59-77.
McMichael, Philip (1996), Development and Social Change: A Global Perspective.
Thousand Oaks: Pine Forge.
Meeker-Lowry, Susan (1996), «Community Money: The Potential of Local Currency»,
in J. Mander e E. Goldsmith (ogs.), 446-459.
Meyer, John (1987), «The World Polity and the Authority of the Nation-state», in G.
Thomas et al., 41-70.
Meyer, William (1987), «Testing Theories of Cultural Imperialism: International Media
and Domestic Impact», International Interactions, 13, 353-374.
Morris, David (1996), «Communities: Building Authority, Responsability and Capa-
city», in J. Mander e E. Goldsmith (orgs.), 434-445.
Moyo, Sam; Katerere, Yemi (1991), NGOs in Transition: An Assessment of Regional NGOs
in the Development Process. Harare: The Zimbabwe Energy Research Organization.
Murphy, Craig (1994), International Organization and Industrial Change. Oxford: Polity
Press.
Noel, A. (1987), «Accumulation, Regulation and Social Change: An Essay on French
Political Economy», International Organization, 41, 303-333.
Norberg-Hodge, Helena (1996), «Shifting Direction: From Global Dependence to Local
Interdependence», in J. Mander e E. Goldsmith (orgs.), 393-406.
North, Douglas (1990), Institutions, Institutional Change and Economic Performance.
Cambridge: Cambridge University Press.
Nugter, Adriana; Smits, Jan (1989), «The Regulation of International Telecommunica-
tion Services: A New Approach», North Carolina Journal of International Law and
Commercial Regulation, 14, 191-218.
OECD/DAC (2000), «Development Co-operation Report 1999 – Efforts and Policies of
the Members of the Development Assistance Committee», The DAC Journal, 1(1).
Parsons, Talcott (1971), The System of Modern Societies. Englewood Cliffs, N.J.: Pren-
tice-Hall.
PNUD (1999), Globalizing with a Human Face. Nova Iorque: Oxford University Press.
PNUD (2001), Making New Technologies Work for Human Development. Nova Iorque:
Oxford University Press.
Pureza, José Manuel (1999), O património comum da humanidade: rumo a um direito
internacional da solidariedade?. Porto: Afrontamento.
Reis, José (1998), «O institucionalismo económico: Crónica sobre os saberes da econo-
mia», Notas Económicas – Revista da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, 11, 130-149.
Riess, Joachim (1991), «Das europäische Tele-Kommunikationsrecht: Recht zwischen
Markt und Technik», Computer und Recht, 9, 559-561.
104 Os processos da globalização
Ritzer, George (1995), The MacDonaldization of Society. Thousand Oaks: Pine Forge.
Volume I, Parte I, Capítulo 1
Robertson, Roland (1990), «Mapping the Global Condition: Globalization as the Central
Concept», in M. Featherstone (org.), 15-30.
Robertson, Roland (1992), Globalization. Londres: Sage.
Robertson, Roland; Khondker, Habib (1998), «Discourses of Globalization. Preliminary
Considerations», International Sociology, 13 (1), 25-40.
Robinson, William (1995), «Globalization: Nine Theses on our Epoch», Race and Class,
38(2), 13-31.
Rosenau, James (1990), Turbulence in World Politics: A Theory of Change and Conti-
nuity. Princeton: Princeton University Press.
Sale, Kirkpatrick (1996), «Principles of Bioregionalism» in J. Mander e E. Goldsmith
(orgs.), 471-484.
Santos, Boaventura de Sousa (1993), «O Estado, as relações salariais e o bem-estar social
na semiperiferia: O caso português», in B. Santos (org.), 17-56.
Santos, Boaventura de Sousa (org.) (1993), Portugal: Um retrato singular. Porto: Afronta-
mento.
Santos, Boaventura de Sousa (1995), Toward a New Common Sense: Law, Science and
Politics in the Paradigmatic Transition. Nova Iorque: Routledge.
Santos, Boaventura de Sousa (1996), «A queda do Angelus Novus. Para além da equação
moderna entre raízes e opções», Revista Crítica de Ciências Sociais, 45, 5-34.
Santos, Boaventura de Sousa (1997), «Por uma concepção multicultural de direitos huma-
nos», Revista Crítica de Ciências Sociais, 48, 11-32.
Santos, Boaventura de Sousa (1998a), «Participatory Budgeting in Porto Alegre: Toward a
Redistributive Democracy», Politics & Society, 26(4), 461-510.
Santos, Boaventura de Sousa (1998b), Reinventar a democracia. Lisboa: Gradiva.
Santos, Boaventura de Sousa (1999), «Porque é tão difícil construir uma teoria crítica?»,
Revista Crítica de Ciências Sociais, 54, 197-216.
Santos, Boaventura de Sousa (2000a), A crítica da razão indolente: Contra o desperdício
da experiência. Porto: Afrontamento.
Santos, Boaventura de Sousa (2000b), «Law and Democracy: (Mis)trusting the Global
Reform of Courts», in J. Jenson e B. Santos (orgs.), 253-284.
Santos, Boaventura de Sousa; Ferreira, Sílvia (2001), «A reforma do Estado-Providência
entre globalizações conflituantes», in P. Hespanha e G. Carapinheiro (orgs.).
Sassen, Saskia (1991), The Global City: New York, London, Tokyo. Princeton: Princeton
University Press.
Sassen, Saskia (1994), Cities in a World Economy. Thousand Oaks: Pine Forge Press.
Sauveplanne, Jean Georges (org.) (1984), Unification and Comparative Law in Theory
and Practice. Contributions in Honour of J. G. Sauveplanne. Antuérpia: Kluwer.
Schumpeter, Joseph (1976), Capitalism, Socialism and Democracy. Londres: George
Allen and Unwin.
Silverstein, K. (1999), «Millions for Viagra, Pennies for Diseases of the Poor: Research
Money Goes to Profitable Lifestyle Drugs», The Nation, 19 de Julho.
Boaventura de Sousa Santos 105
Singh, Ajit (1993), «The Lost Decade: The Economic Crisis of the Third World in the
1980s: How the North Caused the South’s Crisis», Contention, 3, 137-169.
Sklair, Leslie (1991), Sociology of the Global System. Londres: Harvester Wheatsheaf.
Smith, Anthony (1990), «Towards a Global Culture?», in M. Featherstone (org.), 171-191.
Stallings, Barbara (1992a), «International Influence on Economic Policy: Debt, Stabiliza-
tion and Structural Reform», in S. Haggard and R. Kaufman (orgs.), 41-88.
Stallings, Barbara (1992b), Sustainable Development with Equity in the 1990s. Policies
and Alternatives. Madison: Global Studies Research Program.
Stallings, Barbara (org.) (1995), Global Change, Regional Response: The New Internatio-
nal Context of Development. Cambridge: Cambridge University Press.
Stallings, Barbara; Streeck, Wolfgang (1995), «Capitalisms in Conflict? The United States,
Europe and Japan in the Post-cold War World», in B. Stallings (org.), 67-99.
Stiglitz, Joseph (1998), «More Instruments and Broader Goals: Moving Toward the Post-
-Washington Consensus», The 1998 WIDER Annual Lecture, Helsinky. Disponível
em: <http://www.worldbank.org/html/extdr/extme/js-010798/wider.htm>.
Stiglitz, Joseph; Orszag, Peter (1999), «Rethinking Pension Reform: Ten Myths About
Social Security Systems», World Bank Conference New Ideas About Old Age Security.
Disponível em: <http://www.worldbank.org/knowledge/chiefecon/conferen/ papers/
/rethinking.htm>.
Thomas, George et al. (1987), Institutional Structure: Constituting State, Society and
the Individual. Beverly Hills: Sage.
Tilly, Charles (1990), Coercion, Capital and European States, AD 990-1990. Cambridge:
Blackwell.
Tilly, Charles (1995), «Globalization Threatens Labor’s Rights», International Labor
and Working-Class History, 47, 1-23.
Toulmin, Stephen (1990), Cosmopolis. The Hidden Agenda of Modernity. Nova Iorque:
Free Press.
UNAIDS, Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (2000), Report on the Global
HIV/AIDS Epidemia. Genebra: UNAIDS.
UNICEF (2000), Promise and Progress: Achieving Goals for Children (1990-2000). Nova
Iorque: UNICEF
van der Velden, Frans (1984), «Uniform International Sales Law and the Battle of Forms»,
in Sauveplanne, J. G., 233-249.
Vroey, Michel De (1984), «A Regulation Approach Interpretation of the Contemporary
Crisis», Capital and Class, 23, 45-66.
Wade, Robert (1990), Governing the Market: Economic Theory and the Role of Govern-
ment in East Asian Industrialization. Princeton: Princeton University Press.
Wade, Robert (1996), «Japan, the World Bank and the Art of Paradigm Maintenance: The
East Asian Miracle in Political Perspective», Revue d’Economie Financière, 3-36.
Wallerstein, Immanuel (1979), The Capitalist World-Economy. Cambridge: Cambridge
University Press.
Wallerstein, Immanuel (1991a), Geopolitics and Geoculture. Cambridge: Cambridge
University Press.
106 Os processos da globalização
Walton, John (1985), «The Third «New» International Division of Labor», in J. Walton
(org.), 3-16.
Walton, John (org.) (1985), Capital and Labor in the Urbanized World. Londres: Sage
Publications.
Waters, Malcolm (1995), Globalization. Londres: Routledge.
Whitley, Richard (1992), Business Systems in East Asia. Firms, Markets and Societies.
Londres: Sage.
World Bank (1997), World Development Report: The State in a Changing World. Wash-
ington, DC: The World Bank
World Bank (1998), African Development Indicators. Washington, DC: The World Bank.
World Bank (2000), Global Development Finance. Washington, DC: The World Bank.
Wuthnow, Robert (1985), «State Structures and Ideological Outcomes», American Socio-
logical Review, 50, 799-821.
Wuthnow, Robert (1987), Meaning of Moral Order. Berkeley: University of California
Press.