25 Questões de Literatura para o ENEM Sem Gabarito

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 23

Questão 1)

Algumas das características presentes na linguagem do simbolismo são:


a) objetividade, clareza e cultismo.
b) dualidade, formalidade e inexpressividade.
c) expressividade, objetividade e clareza.
d) subjetividade, formalidade e conceptismo.
e) subjetividade, musicalidade, imprecisão.

Questão 2)
(FGV-2005) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do Simbolismo:
a) Utiliza o valor sugestivo da música e da cor.
b) Dá ênfase a imaginação e à fantasia.
c) Procura a representação da realidade do subconsciente.
d) É uma atitude objetiva, em oposição ao subjetivismo dos parnasianos.
e) No Brasil, produziu, entre outras, a poesia de Cruz e Sousa e, em Portugal, a de
Antônio Nobre.

Questão 3)
(PUC-PR 2009) Assinale o que for INCORRETO a respeito da estética simbolista e
da poesia de Cruz e Sousa.
a) Os poetas simbolistas se opunham ao objetivismo cientificista dos
realistas/naturalistas.
b) Cruz e Sousa é o maior representante da estética simbolista no país. Porém, nas
primeiras décadas do século XX, observa-se urna grande expansão do Simbolismo no
Sul do Brasil, sendo o Paraná um dos estados com maior número de manifestações
poéticas dessa escola, seja pelas revistas que foram criadas, seja pelos poetas que
foram revelados.
c) Verifica-se na estética simbolista o culto à musicalidade do poema, em sintonia
com a busca pela espiritualidade, um dos temas predominantes na poesia de Cruz e
Sousa.
d) O Simbolismo brasileiro recupera de modo inequívoco os procedimentos e os
temas do Romantismo, valorizando o sentimento nacionalista e as ideias
abolicionistas.
e) Para os simbolistas, a poesia, experiência transcendente, é uma forma pela qual se
alcança o sentido oculto das coisas e das vivências.

Questão 4)
(Enem-2009)
Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,


que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de


Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo
encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são

a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.


b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas
universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens
poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais
em favor de temas do cotidiano.

Questão 5)
(UFV-MG) A ficção romântica é repleta de sentimentalismos, inquietações, amor
como única possibilidade de realização, personagens burgueses idealizados,
culminando sempre com o habitual "... e foram felizes para sempre". Assinale a
alternativa que não corresponde à afirmação acima:
A) Amor constitui o objetivo fundamental da existência e o casamento, o fim último
da vida.
B) Não há defesa intransigente do casamento e da continência sexual anterior a ele.
C) A frustração amorosa leva, incondicionalmente, à morte.
D) Os protagonistas são retratados como personagens belos, puros e corajosos.
E) A economia burguesa determina os gostos e a maneira de ver o mundo ficcional
romântico.

Questão 6)
Escreverei minhas Memórias, fato mais frequentemente do que se pensa observado
no mundo industrial, artístico, científico e sobretudo no mundo político, onde muita
gente boa se faz elogiar e aplaudir em brilhantes artigos biográficos tão espontâneos,
como os ramalhetes e as coroas de flores que as atrizes compram para que lhos atirem
na cena os comparsas comissionados.
Eu reputo esta prática muito justa e muito natural; porque não compreendo amor e
ainda amor apaixonado mais justificável do que aquele que sentimos pela nossa
própria pessoa.
O amor do eu é e sempre será a pedra angular da sociedade humana, o regulador dos
sentimentos, o móvel das ações, e o farol do futuro: do amor do eu nasce o amor do
lar doméstico, deste o amor do município, deste o amor da província, deste o amor da
nação, anéis de uma cadeia de amores que os tolos julgam que sentem e tomam ao
sério, e que certos maganões envernizam, mistificando a humanidade para simular
abnegação e virtudes que não têm no coração e que eu com a minha exemplar
franqueza simplifico, reduzindo todos à sua expressão original e verdadeira, e
dizendo, lar, município, província, nação, têm a flama dos amores que lhes dispenso
nos reflexos do amor em que me abraso por mim mesmo: todos eles são o amor do eu
e nada mais. A diferença está em simples nuanças determinadas pela maior ou menor
proporção dos interesses e das conveniências materiais do apaixonado adorador de si
mesmo.
(MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho de meu tio. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.)

(UERJ) No esquema de prioridades estabelecidas pelo narrador do texto, a primazia


é:
a) do lirismo sobre a objetividade
b) do romantismo sobre o realismo
c) do amor do eu sobre o amor da nação
d) das conveniências materiais sobre os interesses pessoais

Questão 7)
(Enem 2010) Leia o soneto abaixo:
“Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto


Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!”
(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém


configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O
fundamento desse lirismo é:

A) A angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.


B) A melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
C) O descontrole das emoções provocado pela auto piedade.
D) O desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
E) O gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
Questão 8)
(Enem 2007)
O canto do guerreiro

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
Gonçalves Dias.

Macunaíma
(Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.

Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos
dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles
campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos,
tudo era solidão do deserto...
Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera.
Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles
casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade.

A leitura comparativa dos dois textos acima indica que:

A) Ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma


realista e heróica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
B) A abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em
relação aos povos indígenas do Brasil.
C) As perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1.o texto) e “Quem podia saber do
Herói?” (2.o texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira.
D) O texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos
indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil.
E) Os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se
poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença
do narrador, no segundo texto.

Questão 9)
SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje.
Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um
homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se
arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto?
Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje
menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a
palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da
palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão.
Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para
aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões escolhidos. v.2. São Paulo: Edameris, 1965.
No Sermão da Sexagésima, Padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações.
Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais
têm por objetivo principal:
a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado
no sermão.
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas
pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possuir respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.

Questão 10)
Considere as seguintes afirmações sobre o Barroco brasileiro:
I. A arte barroca caracteriza-se por apresentar dualidades, conflitos, paradoxos e
contrastes, que convivem tensamente na unidade da obra.
II. O conceptismo e o cultismo, expressões da poesia barroca, apresentam um
imaginário bucólico, sempre povoado de pastoras e ninfas.
III. A oposição entre Reforma e Contra-Reforma expressa, no plano religioso, os
mesmos dilemas de que o Barroco se ocupa.
Quais estão corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.
Questão 11)
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faró endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
(DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo,
2006.)
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios
barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por:
a) visão cética sobre as relações sociais.
b) preocupação com a identidade brasileira.
c) crítica velada à forma de governo vigente.
d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.

Questão 12)
Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores (...)
(...)
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.
(Tomás Antônio Gonzaga)
Nos versos acima:
a) O eu-lírico, ao lamentar as transformações notadas em seu corpo e alma pela
passagem do tempo, revela-se amoroso homem de meia-idade.
b) Que retomam tema e estrutura de uma “canção de amigo”, está expresso o estado
de alma de quem sente a ausência do ser amado.
c) Nomeia-se diretamente a figura ironizada pelo eu-lírico, a mulher a quem se
poderiam fazer convites amorosos mais ousados.
d) Em que se notam diálogo e estrutura paralelística, o ponto de vista dominante é o
do amante que vê seus sentimentos antagônicos refletidos na natureza.
e) A natureza é o espaço onde o amado se sente à vontade para expressar diretamente
à amada, suas inclinações sensuais.

Questão 13)
Leia o poema abaixo:
O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói o pobre,
Como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
Seguindo da virtude a honrosa estrada:
Ganhei, ganhei um trono,
Ah! não manchei a espada,
Não o roubei ao dono!
Ergui-o no teu peito e nos teus braços:
E valem muito mais que o mundo inteiro
Uns tão ditosos laços.
Aos bárbaros, injustos vencedores
Atormentam remorsos e cuidados;
Nem descansam seguros
Nos Palácios, cercados
De tropa e de altos muros.
E a quantos não nos mostra a sábia História
A quem mudou o fado em negro opróbrio
A mal ganhada glória!
(GONZAGA, Tomás Antônio. A poesia dos inconfidentes. Org. Domício Proença
Filho. Riode Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1996. 5a, 6a e 7a estrofes da Lira XXVII.
pp. 616/617.)

As referências a Marília revelam:


a) a declaração de amor implícita a uma jovem.
b) o uso de pseudônimos da convenção pastoril.
c) a referência a uma dama que devia ficar oculta.
d) o desejo de transformar a amada em objeto poético.
e) a afirmação implícita de que queria casar-se.

Questão 14)
Texto 1
Eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal
pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
meus discos
meus livros
e nada mais.
(Zé Rodrix e Tavito)

Texto 2
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
(Cláudio Manuel da Costa)
Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos aproximam-se, pois o
ideal que defendem é:
a) O uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do homem seus melhores
sentimentos.
b) O desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas naturais.
c) A dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de inspiração dos poetas.
d) o aproveitamento do dia presente - o carpe diem-, pois o tempo passa rapidamente.
e) o sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros urbano

Questão 15)
Questão 2 – (FCC) Assinale a alternativa onde estão indicados os textos que analisam
corretamente alguns aspectos do romance realista.
I – As personagens independem do julgamento do narrador, reagindo cada uma de
acordo com sua própria vontade e temperamento.
II – A linguagem é poeticamente elaborada nos diálogos, mas procura alcançar um
tom coloquial, com traços de oralidade, nas partes narrativas e descritivas.
III – Observa-se o predomínio da razão e da observação sobre o sentimento e a
imaginação.
a) I, II, III
b) I e II
c) II e III
d) I e III
d) II

Questão 16)
1. (Enem PPL 2019) — Não digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma
educação muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e não tem podido, por
conseguinte, escapar à implacável maledicência dos fluminenses. Demais, está
habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o mais caro; em casa arranjam-se ela e a tia
sabe Deus como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que
apenas começas e não tens ainda onde cair morto.
Enfim, és um homem: faze o que bem te parecer.
Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos motivos autorizada, calaram
no ânimo do bacharel. Intimamente ele estimava que o velho amigo de seu pai o
dissuadisse de requestar a moça, não pelas consequências morais do casamento, mas
pela obrigação, que este lhe impunha, de satisfazer uma dívida de vinte contos de
réis, quando, apesar de todos os seus esforços, não conseguira até então pôr de parte
nem o terço daquela quantia.
AZEVEDO, A. A dívida. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20
ago. 2017.

O texto, publicado no fim do século XIX, traz à tona representações sociais da


sociedade brasileira da época. Em consonância com a estética realista, traços da visão
crítica do narrador manifestam-se na:

A) Caracterização pejorativa do comportamento da mulher solteira.


B) Concepção irônica acerca dos valores morais inerentes à vida conjugal.
C) Contraposição entre a idealização do amor e as imposições do trabalho.
D) Expressão caricatural do casamento pelo viés do sentimentalismo burguês.
E) Sobreposição da preocupação financeira em relação ao sentimento amoroso.

Questão 17)
(Enem PPL 2017)
— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é...
— Eu?
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade...
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio:
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei.
Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a
esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma
asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por
cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além
do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não
dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!
(AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008)

Influenciada pelo ideário cientificista do Naturalismo, a obra destaca o modo como o


mulato era visto pela sociedade de fins do século XIX.
Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a:

A) Miscigenação racial desqualificava o indivíduo.


B) Condição econômica anulava os conflitos raciais.
C) Discriminação racial era condenada pela sociedade.
D) Escravidão negava o direito da negra à maternidade.
E) União entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos.
Questão 18)

(Enem 2014) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que
ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os
anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo.
Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a
exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o
saldo que o défict.

Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de
bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência
escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele
só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado
em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse
gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de
um homem o que é puro efeito de relações sociais.

A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos,
e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável,
acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades,
e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da
avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora
juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

(ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992)

Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memória póstumas de Brás


Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia.
Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador personagem Brás Cubas
refina a percepção irônica ao:

A) Acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da


herança paterna.
B) Atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e
torturava os escravos.

C) Considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda


da filha Sara.

D) Menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de


várias irmandades.

E) Insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com


um retrato a óleo.

Questão 19)

(Enem PPL 2019) A nossa emotividade literária só se interessa pelos populares do


sertão, unicamente porque são pitorescos e talvez não se possa verificar a verdade de
suas criações. No mais é uma continuação do exame de português, uma retórica mais
difícil, a se desenvolver por este tema sempre o mesmo: Dona Dulce, moça de
Botafogo em Petrópolis, que se casa com o Dr. Frederico. O comendador seu pai não
quer porque o tal Dr. Frederico, apesar de doutor, não tem emprego. Dulce vai à
superiora do colégio de irmãs. Esta escreve à mulher do ministro, antiga aluna do
colégio, que arranja um emprego para o rapaz. Está acabada a história. É preciso não
esquecer que Frederico é moço pobre, isto é, o pai tem dinheiro, fazenda ou engenho,
mas não pode dar uma mesada grande.

Está aí o grande drama de amor em nossas letras, e o tema de seu ciclo literário.

BARRETO, L. Vida e morte de MJ Gonzaga de Sá. Disponível em:


www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 10 ago. 2017.

Situado num momento de transição, Lima Barreto produziu uma literatura renovadora
em diversos aspectos. No fragmento, esse viés se fundamenta na:

A) Releitura da importância do regionalismo.


B) Ironia ao folhetim da tradição romântica.

C) Desconstrução da formalidade parnasiana.

D) Quebra da padronização do gênero narrativo.

E) Rejeição à classificação dos estilos de época.

Questão 20)

04. (Enem 2014) Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carmificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.


A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição
designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática
presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como:

A) A forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário


requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no
Modernismo.

B) O empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas


como “Monstro de escuridão e rutilância” e “influência má dos signos do zodíaco”.

C) A seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em “carbono e


amoníaco”, “epigênesis da infância” e “frialdade inorgânica”, que restitui a visão
naturalista do homem.

D) A manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do


Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto
existencial.

E) A ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo


filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovadospelos
modernistas.

Questão 21)

(Enem 2019) HELOÍSA: Faz versos?

PINOTE: Sendo preciso... Quadrinhas... Acrósticos... Sonetos... Reclames.

HELOÍSA: Futuristas?

PINOTE: Não senhora! Eu já fui futurista. Cheguei a acreditar na independência...


Mas foi uma tragédia!
Começaram a me tratar de maluco. A me olhar de esguelha. A não me receber mais.
As crianças choravam em casa.

Tenho três filhos. No jornal também não pagavam, devido à crise. Precisei viver de
bicos. Ah! Reneguei tudo.

Arranjei aquele instrumento (Mostra a faca) e fiquei passadista.

ANDRADE, O. O rei da vela. São Paulo: Globo, 2003.

O fragmento da peça teatral de Oswald de Andrade ironiza a reação da sociedade


brasileira dos anos 1930 diante de determinada vanguarda europeia. Nessa visão,
atribui-se ao público leitor uma postura:

A) preconceituosa, ao evitar formas poéticas simplificadas.

B) conservadora, ao optar por modelos consagrados.

C) preciosista, ao preferir modelos literários eruditos.

D) nacionalista, ao negar modelos estrangeiros.

Questão 22)

(Enem PPL 2019) Biografia de Pasárgada

Quando eu tinha meus 15 anos e traduzia na classe de grego do D. Pedro II a


Ciropédia fiquei encantado com o nome dessa cidadezinha fundada por Ciro, o
Antigo, nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação
de adolescente começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em
Pasárgada.

Mais de vinte anos depois, num momento de profundo desânimo, saltou-me do


subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora pra Pasárgada!” Imediatamente
senti que era a célula de um poema. Peguei do lápis e do papel, mas o poema não
veio. Não pensei mais nisso. Uns cinco anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas
mesmas circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao correr da pena. Se há
belezas em “Vou-me embora pra Pasárgada!”, elas não passam de acidentes. Não
construí o poema, ele construiu-se em mim, nos recessos do subconsciente, utilizando
as reminiscências da infância — as histórias que Rosa, minha ama-seca mulata, me
contava, o sonho jamais realizado de uma bicicleta etc.

BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. São Paulo: Global, 2012.

O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a respeito da criação de um de seus


poemas mais conhecidos.

De acordo com esse depoimento, o fazer poético em “Vou-me embora pra


Pasárgada!”:

A) acontece de maneira progressiva, natural e pouco intencional.

B) decorre de uma inspiração fulminante, num momento de extrema emoção.

C) ratifica as informações do senso comum de que Pasárgada é a representação de um


lugar utópico.

D) resulta das mais fortes lembranças da juventude do poeta e de seu envolvimento


com a literatura grega.

E) remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira marcado por desigualdades


sociais e econômicas.

Questão 23)

(Enem PPL 2019) O mato do Mutúm é um enorme mundo preto, que nasce dos
buracões e sobe a serra. O guará-lobo trota a vago no campo. As pessôas mais velhas
são inimigas dos meninos. Soltam e estumam cachorros, para ir matar os bichinhos
assustados — o tatú que se agarra no chão dando guinchos suplicantes, os macacos
que fazem artes, o coelho que mesmo até quando dorme todo-tempo sonha que está
sendo perseguido. O tatú levanta as mãozinhas cruzadas, ele não sabe — e os
cachorros estão rasgando o sangue dele, e ele pega a sororocar. O tamanduá.
Tamanduá passeia no cerrado, na beira do capoeirão. Ele conhece as árvores, abraça
as árvores. Nenhum nem pode rezar, triste é o gemido deles campeando socôrro. Todo
choro suplicando por socôrro é feito para Nossa Senhora, como quem diz a salve-
rainha. Tem uma Nossa Senhora velhinha. Os homens, pé-ante-pé, indo a peitavento,
cercaram o casal de tamanduás, encantoados contra o barranco, o casal de tamanduás
estavam dormindo. Os homens empurraram com a vara de ferrão, com pancada bruta,
o tamanduá que se acordava. Deu som surdo, no corpo do bicho, quando bateram, o
tamanduá caiu pra lá, como um colchão velho.

ROSA, G. Noites do sertão (Corpo de baile). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto afetivo no contorno da paisagem


dos sertões mineiros.

Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma expressividade apoiada na:

A) plasticidade de cores e sons dos elementos nativos.

B) dinâmica do ataque e da fuga na luta pela sobrevivência.

C) religiosidade na contemplação do sertanejo e de seus costumes.

D) correspondência entre práticas e tradições e a hostilidade do campo.

E) humanização da presa em contraste com o desdém e a ferocidade do homem.

Questão 24)

Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica para pensá-la como gênero e
prática. Do ponto de vista dele, cabe ao cronista:

A) criar fatos com a imaginação.

B) reproduzir as notícias dos jornais.

C) escrever em linguagem coloquial.

D) construir personagens verossímeis.


E) ressignificar o cotidiano pela escrita.

Questão 25)

(Enem PPL 2016) A partida de trem

Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena
valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e
encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a
disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que
outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto
— e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-
se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a
antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado.
Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava
que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.

Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

— A senhora deseja trocar de lugar comigo?

Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava
no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado
de ouro, espetado no peito, passou a mão no briche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal
a Angela Pralini:

— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980


(fragmento).

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra


de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)
A) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.

B) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.

C) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.

D) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.

E) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

Você também pode gostar