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Estudos de Ressentimento e

Corrupção da Academia: Como


Publicamos um Capítulo de Hitler
numa Revista Feminista
ELI VIEIRA (TRAD.)

OUT 06, 2018

Por James Lindsay, Peter Boghossian e Helen Pluckrose

Embora esperemos que este ensaio, que é a descrição mais detalhista


dos nossos esforços, seja acessível para todos, ele foi escrito para os
que já têm alguma familiaridade com os problemas do trabalho
acadêmico motivado por ideologia, por ceticismo radical e por
construtivismo cultural.

Parte I: Introdução
Alguma coisa deu errado na universidade -- especialmente em
algumas áreas dentro das humanidades. O trabalho acadêmico que
se baseia menos em descobrir a verdade e mais em denuncismo
social se tornou firmemente estabelecido, se não completamente
dominante, dentro dessas áreas, e os acadêmicos que o fazem cada
vez mais intimidam estudantes, administradores e outros
departamentos a aderir à sua visão de mundo. Essa visão de mundo
não é científica e não é rigorosa. Para muitos, esse problema tem
ficado cada vez mais óbvio, mas faltavam evidências fortes disso. Por
esse motivo, nós três passamos um ano trabalhando dentro do tipo
de trabalho acadêmico que vemos como uma parte intrínseca desse
problema.
Passamos esse tempo escrevendo artigos acadêmicos e
publicando-os em periódicos respeitados com revisão por pares
associados às áreas acadêmicas conhecidas informalmente como
"estudos culturais" ou "estudos identitários" (por exemplo, estudos de
gênero), ou "teoria crítica", porque tem raiz no tipo de "teoria"
pós-moderna que emergiu no fim dos anos sessenta. Como resultado
desse trabalho, viemos a chamar essas áreas de "estudos de

ressentimento",1 como uma abreviação por causa da meta em

comum deles de problematizar aspectos da cultura nos mínimos


detalhes para tentar diagnosticar desequilíbrios de poder e opressão
com raiz na identidade.
Realizamos este projeto para estudar, entender e expor a realidade
dos estudos denuncistas, que estão corrompendo a pesquisa
acadêmica. Por ser quase impossível ter conversas francas e de boa
fé em tópicos de identidade como gênero, raça e sexualidade (e as
partes da academia que trabalham com isso), nosso objetivo foi
reiniciar essas conversas. Esperamos que isso dê às pessoas --
especialmente às que acreditam no liberalismo, no progresso, na
modernidade, na investigação aberta e na justiça social -- um motivo
evidente para ver a maluquice identitária vindo da esquerda
acadêmica e ativista e dizer "não, não vou me juntar a isso. Vocês não
falam por mim".
Este documento é um primeiro vislumbre do nosso projeto e uma
tentativa inicial de lidar com o que estamos aprendendo e o que isso
significa. Por causa da extensão e dos detalhes, o texto é organizado
como se segue, com as informações factuais vindo primeiro e as
explicações mais detalhadas vindo depois.
● Nossa metodologia, que é central em contextualizar nossas
afirmações;
● Um resumo deste projeto desde o seu começo até que fomos
expostos e forçados a vir a público antes de concluir nossa
pesquisa;
● Uma explicação do porquê de termos feito isso;
● Um resumo do problema e de sua importância;
● Uma explicação clara de como esse projeto foi elaborado;
● Os resultados do nosso estudo, incluindo uma lista completa de
todos os artigos que submetemos para publicação, do resultado
final deles, e dos comentários relevantes dos revisores feitos até
aqui;
● Uma discussão da significância dos resultados;
● Um resumo do que pode vir no futuro

Parte II: Métodos


A nossa abordagem é melhor entendida como um tipo de etnografia
reflexiva -- isto é, conduzimos um estudo sobre uma cultura
acadêmica peculiar nos imergindo nela, refletindo a produção dela e
modificando nosso entendimento dela até que nos tornamos
"forasteiros internos" a ela.
Nosso objetivo foi aprender sobre essa cultura e estabelecer que nos
tornamos fluentes em sua língua e costumes ao publicar artigos
revistos por pares em seus mais prestigiosos periódicos, o que só
especialistas na área geralmente são capazes de fazer. Por virmos a
conceituar este projeto como um tipo de estudo etnográfico reflexivo
em que buscamos entender a área e como ela funciona participando
dela, obter os comentários dos revisores dos artigos sobre o que
estávamos fazendo certo e o que precisávamos mudar para tornar
aceitáveis teses absurdas foi o cerne do projeto. De fato, os
comentários dos revisores são de muitas formas mais reveladores
sobre o estado dessas áreas do que a aceitação dos artigos.
Ainda que nossos artigos sejam extravagantes e intencionalmente
falhos de modos significativos, é importante reconhecer que eles se
encaixam quase perfeitamente junto aos outros nas disciplinas sob
consideração. Para demonstrar isso, precisamos que os artigos
fossem aceitos, especialmente por periódicos importantes e
influentes. Esse mero encaixe não poderia gerar a profundidade
necessária para o nosso estudo, no entanto. Também precisávamos
escrever artigos que corressem riscos ao testar algumas hipóteses,
de tal modo que a sua aceitação em si diga algo sobre o problema
que estamos estudando (veja abaixo a seção de artigos). Em
consequência, embora este estudo não se qualifique como
particularmente bem controlado, nós de fato controlamos uma
variável importante: a metodologia abrangente que usamos para
escrever cada um dos artigos.
Nossa metodologia de redação de artigos seguiu sempre um padrão
específico: começava com uma ideia que ressoasse com nossas
preocupações epistemológicas ou éticas com a área, e depois
buscava dobrar a comunidade acadêmica existente a apoiá-la. O
objetivo era sempre usar o que a literatura existente oferecia para
tornar aceitável algum pedacinho de maluquice ou perversidade para
os níveis mais altos da respeitabilidade intelectual dentro da área.
Portanto, cada artigo começava com algo absurdo ou profundamente
antiético (ou ambos) que queríamos passar ou concluir. Depois
fazíamos a literatura revista por pares existente cumprir nossa
demanda na tentativa de sermos publicados no cânone acadêmico.
Esse é o sentido primário do projeto: O que acabamos de descrever
não é produção de conhecimento; é sofisma. Ou seja, é um embuste
de conhecimento que não deveria ser confundido com a coisa real. A
maior diferença entre nós e a comunidade acadêmica que estamos
estudando por imitação é que nós sabíamos que estávamos
inventando coisas.
Esse processo é a única linha que junta todos os vinte dos nossos
artigos, embora tenhamos usado uma variedade de métodos para
inventar as várias ideias postas neles para ver como os editores e
revisores responderiam. Às vezes só pensamos em alguma ideia
louca ou desumana e a apresentamos. E se escrevêssemos um artigo
dizendo que devemos treinar homens como treinamos cachorros --
para prevenir a cultura do estupro? Daí veio o artigo do "Parque dos
Cães". E se escrevêssemos um artigo alegando que quando um
homem se masturba em ambiente privado pensando em uma mulher
(sem o consentimento dela -- na verdade, sem que ela jamais
descubra) ele está cometendo violência sexual contra ela? Essa ideia
nos deu o artigo sobre masturbação. E se alegarmos que a razão pela
qual a superinteligência artificial é potencialmente perigosa é que ela
está sendo programada para ser masculinista e imperialista, usando o
Frankenstein de Mary Shelley e a psicanálise lacaniana? Esse é nosso
artigo sobre "Inteligência Artificial Feminista". E se defendermos que
"o corpo gordo é legitimamente fisiculturista" como um fundamento
para introduzir uma categoria de fisiculturismo gordo dentro do
esporte do fisiculturismo profissional? Você pode ler como isso
funcionou na publicação Fat Studies.
Em outros momentos, esquadrinhamos a literatura de estudos de
ressentimento para ver onde ela já estava indo mal e então tentamos
ampliar esses problemas. Glaciologia feminista? OK, copiaremos isso
e escreveremos um artigo de astronomia feminista que alega que a
astrologia feminista e queer deve ser considerada parte da ciência da
astronomia, que acusaremos de ser intrinsecamente sexista. Os
revisores ficaram muito entusiasmados com essa ideia. Usando um
método como análise temática para dar interpretações enviesadas de
dados? Certo, escrevemos um artigo sobre pessoas trans no
ambiente de trabalho que faz exatamente isso. Os homens usam
"reservas masculinas" para pôr em prática discursos masculinos
moribundos de "macho" de uma forma que a sociedade ao redor não
aceita? Sem problemas. Publicamos um artigo que pode ser

resumido como "Um acadêmico vai ao Hooters2 para tentar descobrir

por que o lugar existe". "Desfamiliarizando-se" com experiências


comuns, fingindo perplexidade com elas e buscando construções
sociais para explicá-las? OK, nosso artigo sobre consolos fez isso
para responder à pergunta "Por que homens heterossexuais tendem a
não se masturbar pela penetração anal, e o que poderia acontecer se
tentassem?" Dica: de acordo com nosso artigo, publicado em
Sexuality and Culture, um dos mais importantes periódicos sobre
sexualidades, eles serão menos transfóbicos e mais feministas se
tentarem.
Usamos outros métodos, também, como por exemplo "imagino se

aquela 'lista progressiva' que apareceu nas notícias3 poderia ser

descrita num artigo que propusesse que os homens brancos na


universidade não deveriam ter permissão para falar em sala de aula
(ou de terem seus emails respondidos pelo instrutor), e, melhor ainda,
que se pedisse a eles para se sentarem acorrentados no chão para
que possam 'vivenciar a dívida histórica'." Esse foi nosso artigo sobre
a "lista progressiva". A resposta parece ser sim, e a revista
importantíssima de feminismo Hypatia foi surpreendentemente
simpática à ideia. Outra ideia dura de engolir nossa foi "será que
publicariam uma reedição feminista de um capítulo do Mein Kampf de
Adolf Hitler?" A resposta para essa pergunta se revelou também um
"sim", dado que a revista de serviço social feminista Affilia acabou de
aceitar o artigo. Conforme progredíamos, começamos a perceber que
mais ou menos qualquer coisa poderia funcionar, contanto que
ficasse dentro da ortodoxia moral da área e demonstrasse um
entendimento da literatura existente.
Em outras palavras, nós agora temos boas razões para acreditar que,
se nos apropriarmos da literatura da área da forma certa -- e sempre
parece haver uma citação ou uma corrente da literatura que torna isso
possível -- podemos dizer qualquer coisa que quisermos que esteja na
moda na política. As perguntas subjacentes em cada caso eram as
mesmas: O que precisamos escrever, e o que precisamos citar (todas
as nossas citações são reais, a propósito) para conseguir publicar
essa loucura como um "trabalho acadêmico" de alto nível?

O Que Fizemos?
Escrevemos 20 artigos e os submetemos para publicação nas
melhores revistas nas áreas relevantes (mais a respeito abaixo) com
sucesso considerável, mesmo tendo de vir a público com o projeto
prematuramente, e assim parar o estudo, antes que pudesse ser
concluído de modo apropriado. Na data em que publicamos esta
explicação, nós temos:
● 7 artigos aceitos.
○ 4 desses foram publicados online.
3 outros foram aceitos e não houve tempo de a publicação
acontecer. (Isso pode levar meses).
● 7 artigos ainda em tramitação que tivemos de abandonar.
○ 2 foram "revistos e ressubmetidos" e estão aguardando
decisão. (O julgamento da fase de "revisão e
ressubmissão" geralmente resulta na publicação após a
compleição das correções pedidas. Um parecer de
"rejeição e ressubmissão" pode resultar na publicação
após correções mais substanciais. É muito raro que
artigos sejam aceitos de imediato.)
1 ainda está sob revisão em seu periódico atual.
4 estão pendentes sem prazo de submetê-los aos
periódicos após rejeição (2), revisão e ressubmissão (1) ou
rejeição e ressubmissão (1).
● 6 foram retirados por serem fatalmente defeituosos para além
de reparos.
● 4 convites foram feitos para que fôssemos revisores de outros
artigos como resultado do nosso trabalho acadêmico exemplar.
(Por razões éticas, recusamos todos esses convites. Se
quiséssemos ter participado por completo na cultura deles
dessa forma, no entanto, teria sido uma oportunidade única de
improvisar para ver quão longe poderíamos chegar com a
hipótese de que o cânone da literatura dessas áreas fica
enviesado em parte porque o processo de revisão por pares
estimula os vieses políticos e ideológicos políticos delas.)
● 1 artigo (sobre a cultura do estupro em parques de cães)
ganhou um reconhecimento especial por sua excelência no
periódico em que foi publicado, Gender, Place, and Culture, um
periódico de alto calibre que lidera a área da geografia
feminista. O periódico premiou o artigo como uma de doze
obras de geografia feminista como parte da celebração do
aniversário de 25 anos da revista.

Em resumo, passamos 10 meses escrevendo os artigos, terminando


cada artigo numa média de 13 dias. (Sete artigos publicados em sete
anos é um número considerado muitas vezes suficiente para ganhar
uma posição estável na maioria das universidades, embora, na
realidade, os requisitos variem por instituição.) Quanto ao nosso
desempenho, 80% dos nossos artigos passaram pela completa
revisão por pares, o que corresponde ao padrão de 10-20% dos
artigos que são "rejeitados de pronto" sem revisão nos maiores
periódicos da área. Melhoramos essa taxa de 0% no começo para
94,4% depois de alguns meses experimentando na produção de
outros artigos fraudulentos. Por termos sido forçados a vir a público
antes que pudéssemos completar nosso estudo, não temos certeza
de quantos artigos teriam sido aceitos se houvesse tempo de
acompanhá-los no processo -- artigos tipicamente levam 3-6 meses
ou mais para completarem o processo inteiro e um dos nossos
estava sob revisão de dezembro de 2017 a agosto de 2018 -- mas
uma estimativa de chegar a ao menos 10 aceitações, provavelmente
até 12, parece garantida no momento em que precisamos encerrar.
Os rascunhos finais submetidos tinham ao todo pouco menos de 180
mil palavras e o projeto inteiro entre 300 mil e 350 mil palavras,
incluindo todas as notas, rascunhos, resumos e respostas aos
revisores das revistas. Os artigos compreendiam ao menos 15
subdomínios do pensamento nos estudos de ressentimento, incluindo
estudos (feministas) de gênero, estudos de masculinidades, estudos
queer, estudos de sexualidade, psicanálise, teoria crítica da raça,
teoria crítica da branquitude, estudos da adiposidade, sociologia e
filosofia educacional. Eles expunham epistemologias radicalmente
céticas e perspectivistas enraizadas no pós-modernismo,
epistemologia feminista e racial crítica enraizada no construtivismo
social crítico e também na psicanálise. Buscamos ser bem
humorados neles todos ao menos de algum modo modesto (e muitas
vezes em grande forma). O projeto, até aqui, gerou mais de 40
relatórios editoriais e de leitores especialistas, constituindo cerca de
30 mil palavras adicionais de dados que fornecem um ponto de vista
singular e interno sobre a área e como ela opera.
Nossos artigos também apresentam metodologias muito fracas,
incluindo estatísticas incrivelmente implausíveis ("Parque dos Cães"),
alegações não sustentadas pelos dados (artigos "CisNorm", "Peitões"
e "Consolos"), e análises qualitativas motivadas por ideologia
("CisNorm", "Pornografia"). (Ver seção de artigos abaixo.)
Metodologias qualitativas questionáveis tais como a pesquisa
poética e a autoetnografia (às vezes chamada pejorativa e
corretamente de "meusquisa") foram incorporadas (especialmente no
caso das "Reuniões Lunares").
Muitos artigos defendiam uma ética altamente duvidosa, incluindo o
treinamento de homens como cães ("Parque dos Cães"), a punição de
universitários homens brancos pela escravidão histórica que consiste
em se sentarem acorrentados em silêncio no chão durante as aulas,
na expectativa de que aprendam com o desconforto ("Lista
Progressiva"), a celebração da obesidade mórbida como um estilo de
vida saudável ("Fisiculturismo Gordo"), o tratamento da masturbação
privada como uma forma de violência sexual contra as mulheres
("Masturbação"), e a programação da superinteligência artificial com
disparates irracionais e ideológicos antes de deixá-la mandar no
mundo ("Inteligência Artifical Feminista"). Houve também tolices
consideráveis, incluindo a alegação de termos examinado
minuciosamente os genitais de pouco menos de dez mil cachorros
enquanto interrogávamos os donos a respeito da sexualidade dos
animais ("Parque dos Cães"), uma aparente perplexidade diante de
homens heterossexuais se interessarem por mulheres ("Hooters"), a
insistência de que há algo a ser aprendido sobre o feminismo ao
botar quatro homens para assistir a milhares de horas de pornografia
pesada durante um ano enquanto respondiam repetidamente ao
Teste de Associação Implícita de Gênero e Ciência ("Pornografia"), a
expressão de confusão sobre por que as pessoas se preocupam mais
com a genitália dos outros quando consideram fazer sexo com eles
("CisNorm"), e a recomendação para homens penetrarem a si
mesmos analmente para se tornarem menos transfóbicos, mais
feministas e mais preocupados com os horrores da cultura do
estupro ("Consolos"). Nada disso, exceto por "Helen Wilson" ter
registrado "um estupro canino por hora" em parques urbanos para
cães em Portland, Oregon, levantou suspeitas em qualquer revisor, até
onde mostram os relatórios deles.
Perto do fim de julho de 2018, uma necessidade urgente de encerrar o
projeto prematuramente surgiu depois que nosso artigo do "parque
dos cães" atraiu atenções incrédulas nas redes sociais geradas pela
conta Real Peer Review, que é uma plataforma dedicada a expor
trabalhos acadêmicos de péssima qualidade. Essa incredulidade
merecida levou pequenas publicações jornalísticas, e mais tarde
maiores, a investigarem nossa autora fictícia, Helen Wilson, e nossa
instituição inexistente, a Portland Ungendering Research Initiative
(PURI), e a não acharem vestígios de nenhum dos dois. Sob pressão,
o periódico que publicou o artigo, Gender, Place and Culture, pediu a
nossa autora que provasse a sua identidade e depois publicou um
termo de preocupação acerca do artigo. Isso despertou mais atenção
e finalmente levou ao envolvimento do Wall Street Journal, e, o que é
bem mais importante, mudou a ética de uso do embuste dentro do
projeto. Com mais jornais e (naquele momento) dois periódicos
pedindo que provássemos as identidades dos nossos autores, a ética
mudou de uma necessidade defensável de investigação e surgiu uma
necessidade de mentir para continuar. Não nos sentimos bem com
essa possibilidade e decidimos que a hora de vir a público com o
projeto havia chegado. Como resultado, nos entendemos com o Wall
Street Journal no começo de agosto e começamos a preparar um
resumo tão rápido quanto possível, embora ainda tivéssemos vários
artigos progredindo com confiança no processo de revisão por pares.

Parte III: Por Que Fizemos


Isso?
Seria porque somos racistas, sexistas, intolerantes, misóginos,
homofóbicos, transfóbicos, trans-histéricos, antropocêntricos,
problemáticos, privilegiados, violentos, de extrema direita, homens
brancos cis héteros (e uma mulher branca que estava demonstrando
sua misoginia internalizada e uma necessidade urgente de aprovação
masculina) que queriam autorizar a intolerância, preservar nosso
privilégio e ficar do lado do ódio?
Não. Nenhuma dessas possibilidades se aplica. Entretanto, seremos
acusados disso tudo, e temos alguma ideia do porquê.
Para muitos que não estão envolvidos com a academia, em particular
aqueles que não acreditam no valor dela em geral, pode parecer que
estamos lidando com mais uma picuinha acadêmica obscura de
pouca relevância para o mundo real. Vocês estão enganados. O
problema que estudamos é da maior relevância para o mundo real e
todos que o habitam.
Por outro lado, aqueles que vêem a academia com bons olhos e
apoiam etica e/ou politicamente a pesquisa em ciências sociais e
humanidades com foco em questões da justiça social podem pensar
que o trabalho que os pesquisadores estão fazendo nesses tópicos é
importante e geralmente tem sanidade. Teriam razão que é
importante, mas não que tem sempre sanidade -- uma parte do
trabalho sendo produzido é com certeza horrendo e surreal, e exerce
uma influência considerável sobre a área e além. Vocês podem
também considerar que há problemas emergindo da pressão da
cultura publish-or-perish [publicar ou perecer], conduzida por modelos
de negócios defeituosos das universidades e que serve para uma
indústria oportunista de publicações tirar vantagem, mas não
acreditar que há problemas sérios epistemológicos e éticos por trás
disso.
Como liberais, reconhecemos que vocês possam ter resistência a
considerar que nossas evidências apontam para um problema
inegável na pesquisa acadêmica em questões importantes relevantes
à justiça social. O trabalho feito nessas áreas alega continuar o
trabalho vital dos movimentos de direitos civis, do feminismo liberal e
do Orgulho Gay. Esse trabalho busca lidar com a opressão das
mulheres e das minorias raciais e sexuais. Sem dúvida, vocês
poderiam acreditar, portanto, que esses corpos de literatura devem
ser essencialmente sãos e bons, mesmo que vocês reconheçam que
há alguns exageros e tolices.
Depois de passar um ano imersos e nos tornando especialistas
reconhecidos dentro dessas áreas, além de testemunhando os efeitos
divisivos e destrutivos quando ativistas e turbas das redes sociais as
põem em prática, podemos agora afirmar com confiança que as áreas
não são boas nem sãs. Além disso, essas áreas de estudo não
continuam o importante e nobre trabalho liberal dos movimentos de
direitos civis; elas o corrompem enquanto abusam de seu bom nome
para continuar vendendo um tipo de curandeirismo social para um
público que fica cada vez mais doente. Para que saibamos qualquer
coisa a respeito da injustiça na sociedade e consigamos mostrá-la
para os que não estão cientes dela ou a negam, o trabalho acadêmico
sobre essa injustiça precisa ser rigoroso. Atualmente, não é. Isso
permite que a área e os problemas de justiça social relacionados a ela
sejam descartados. É um problema sério e preocupante, e devemos
resolvê-lo.

Qual é o problema?
Afirmamos com firmeza que há um problema nas nossas
universidades, e que ele está se espalhando rapidamente para a
cultura. Nisso, é ajudado pelo fato de que é difícil de entender e por
usar intencionalmente palavras emocionalmente poderosas -- como
"racista" e "sexista" -- de formas técnicas que significam coisa
diferente do seu uso comum. Esse projeto identifica aspectos desse
problema, os testa e expõe.
O problema é epistemológico, político, ideológico e ético, e está
corrompendo profundamente o trabalho acadêmico nas ciências
sociais e humanidades. O cerne do problema é formalmente
chamado de "construtivismo social", e seus acadêmicos mais
flagrantes são às vezes chamados de "construtivistas radicais".
Expressar esse problema com precisão é difícil, e muitos que
tentaram evitaram cuidadosamente fazê-lo de forma sucinta e clara.
Essa hesitação, mesmo responsável, dada a complexidade do
problema e suas raízes, provavelmente ajudou o problema a se
perpetuar.
Esse problema é mais facilmente resumido como uma crença
abrangente (quase ou por completo sacralizada) de que muitas
facetas comuns da experiência e da sociedade são socialmente
construídas. Essas construções são vistas como dependentes em
parte ou totalmente de dinâmicas de poder entre grupos de pessoas,
muitas vezes definidos pelo sexo, raça ou identificação sexual ou de
gênero. Todos os tipos de coisas aceitas como tendo uma base na
realidade por causa de evidências são em vez disso vistas como
tendo sido criadas por maquinações intencionais e inadvertidas de
grupos poderosos para manter seu poder sobre os grupos
marginalizados. Essa visão de mundo produz um imperativo moral de
desmantelar essas construções.
"Construções sociais" comuns vistas como intrinsecamente
"problemáticas", e dessa forma com alegada necessidade de
desmonte, incluem:
● o entendimento de que há diferenças cognitivas e psicológicas
entre homens e mulheres que poderiam explicar, ao menos em
parte, por que fazem escolhas diferentes em relação a coisas
como trabalho, sexo e vida familiar;
● que a assim chamada "medicina ocidental" (embora muitos
cientistas médicos eminentes não sejam ocidentais) seja
superior a práticas de cura tradicionais ou espirituais;
● que as normais culturais liberais do ocidente que dão às
mulheres e aos LGBT direitos iguais sejam superiores nesse
aspecto a normas religiosas ou culturais não-ocidentais que não
fazem isso; e
● que ser obeso seja um problema de saúde limitante à vida em
vez de uma escolha de corpo igualmente saudável e bela que é
injustamente estigmatizada.

Por trás dessas alegadas "construções sociais" está a crença mais


preocupante de todas. É a crença de que há uma necessidade urgente
de se "desconstruir" a verdade simples de que a própria ciência --
junto com nossos melhores métodos de coleta de dados, análise
estatística, teste de hipóteses, refutação e replicação de resultados --
é geralmente uma forma melhor de determinar informações sobre a
realidade objetiva de qualquer fenômeno observável do que
abordagens não-científicas, tradicionais, culturais, religiosas,
ideológicas ou mágicas. Ou seja, para os acadêmicos dos estudos de
ressentimento, a própria ciência e o método científico são
profundamente problemáticos, se não flagrantemente racistas e
sexistas, e devem ser refeitos para avançar a política identitária
baseada em ressentimento acima da busca imparcial da verdade.
Essas mesmas questões são estendidas também para a tradição
filosófica "ocidental" que eles acham problemática por favorecer a
razão acima da emoção, o rigor acima do solipsismo, e a lógica acima
da revelação.
Como resultado, os construtivistas radicais tendem a acreditar que a
ciência e a razão devem ser desmanteladas para deixar "outras
formas de saber" terem igual validação como empreendimentos de
produção de conhecimento. Alega-se que esses saberes, dependendo
do ramo de "teoria" invocado, pertencem às mulheres e às minorias
raciais, culturais, religiosas e e sexuais. Não apenas isso, são
considerados inacessíveis a castas mais privilegiadas de pessoas,
como homens brancos heterossexuais. Os construtivistas justificam
esse pensamento regressivo apelando à epistemologia alternativa
deles, chamada de "teoria do ponto de vista" [ou "teoria
perspectivista"]. O resultado disso é um relativismo epistemológico e
moral que, por razões políticas, promove formas de saber que são
contrárias à ciência e éticas que são contrárias ao liberalismo
universal.
O construtivismo radical é, portanto, uma ideia perigosa que se tornou
referência. Propaga a ideia de que devemos, com bases morais,
rejeitar em grande parte a crença de que o acesso à verdade objetiva
existe (objetividade científica) e pode ser ser descoberto, em
princípio, por qualquer entidade capaz de fazer o trabalho, ou, mais
especificamente, por humanos de qualquer raça, gênero ou
sexualidade (universalidade científica) através do teste empírico
(empirismo científico). (Essa crença em particular é às vezes
chamada de "ceticismo radical", embora os filósofos também tenham
outros significados para o termo.) Embora o conhecimento seja
sempre provisório e aberto à revisão, há formas melhores e piores de
chegar mais perto dele, e o método científio é a melhor que
descobrimos. Em contrapartida, os meios oferecidos pela teoria
crítica são demonstravel e fatalmente defeituosos. Particularmente,
essa abordagem rejeita a universalidade científica e a objetividade e
insiste, com bases morais, que nós devemos aceitar em grande
medida a noção de múltiplas "verdades" baseadas em identidade, tais
como a hipotética "glaciologia feminista". Sob o construtivismo
crítico, isso ganha uma motivação política explicitamente radical.
Qualquer trabalho acadêmico que parta de pressupostos
radicalmente céticos sobre a verdade objetiva por definição não
encontra a verdade objetiva, nem pode encontrar. Em vez disso,
promove preconceitos e opiniões e os chama de "verdades". Para
construtivistas radicais, essas opiniões são especificamente
enraizadas num programa político da "Justiça Social" (que
transformamos de propósito em nome próprio para distingui-la do
tipo de progresso social real que está sob o mesmo nome). Por causa
do construtivismo crítico, que vê o conhecimento como um produto
de desequilíbrios injustos de poder, e por causa desse tipo de
ceticismo radical, que rejeita a verdade objetiva, esses acadêmicos
são como curandeiros que fazem um diagnóstico da nossa sociedade
como acometida por uma doença que somente eles podem curar.
Essa doença, como eles a vêem, é endêmica em qualquer sociedade
que promova a agência do indivíduo e a existência de verdades
objetivas (ou cientificamente cognoscíveis).
Depois de passarmos um ano fazendo esse trabalho por nós
mesmos, entendemos por que essa pesquisa fatalmente defeituosa é
atraente, como exatamente está errada em seus fundamentos, e
como é condutiva a ser usada para passar dos limites eticamente.
Vimos, estudamos e participamos de sua cultura através da qual ela
"prova" que certos problemas existem e então defende tratamentos
muitas vezes divisivos, degradantes e nocivos sem os quais todos
estaríamos melhor.
Também sabemos que o sistema de revisão por pares, que deveria
filtrar e remover os vieses que permitem que esses problemas
cresçam e ganhem influência, é inadequado dentro dos estudos de
ressentimento. Isso não é tanto um problema com a própria revisão
por pares quanto um reconhecimento de que a revisão por pares só
pode ser tão imparcial quanto o corpo agregado de pares que são
chamados a participar. Os pesos e contrapesos céticos que deveriam
caracterizar o processo acadêmico foram substituídos por ventos
fortes de viés da confirmação que sopram os estudos de
ressentimento cada vez mais para fora de curso. Não é assim que a
pesquisa deve funcionar.
Embora não pareça imediatamente óbvio -- pois os incentivos
financeiros para os pesquisadores, na maior parte, não estão
diretamente envolvidos (embora as editoras com certeza estejam
lucrando com isso) -- esse é um tipo flagrante de corrupção. Dessa
forma, a pesquisa com viés político que repousa sobre premissas
muito questionáveis ganha legitimidade como se fosse conhecimento
verificável. E então continua a permear a nossa cultura porque
professores, ativistas e outros citam e ensinam esse corpo crescente
de trabalho acadêmico ideologicamente tendencioso e falacioso.
Isso é importante porque, mesmo embora a maioria das pessoas
jamais lerão nem um único artigo acadêmico em suas vidas, os
periódicos revistos por pares são o padrão de excelência da produção
do conhecimento. E esses conceitos vazam para a cultura. Um bom
exemplo disso é o conceito de "fragilidade branca" de Robin DiAngelo,
que postula que as pessoas brancas se tornaram frágeis por causa de
seus privilégios e fazem birra como crianças mimadas se eles forem
desafiados. DiAngelo propôs esse conceito no International Journal of

Critical Pedagogy4 em 2011. Sete anos depois, em 2018, ela

conseguiu um importante contrato de publicação sobre a fragilidade


branca, enquanto os ativistas empurraram o conceito para o
vocabulário comum e começaram a propagandeá-lo em outdoors na
região de Portland, Oregon.
Como sociedade, deveríamos ter a capacidade de confiar nos
periódicos de pesquisa, acadêmicos e universidades para que
defendam o rigor acadêmico, filosófico e científico (porque a maioria
dos periódicos acadêmicos o fazem). Precisamos saber que a
postura linha-dura contra corrupções da pesquisa, adotada em
domínios como os conflitos de interesse de natureza financeira e
pessoal, será estendida aos vieses políticos, morais e ideológicos.
Nosso projeto sugere enfaticamente que no atual momento não
podemos confiar nisso nem saber dessas coisas em áreas que se
curvam aos estudos de ressentimento ou trafegam por eles. O motivo
é que os estudos de ressentimento baseados no construtivismo
crítico (uma classe de descendentes do cinismo da filosofia
pós-moderna e do pós-estruturalismo) corromperam os periódicos de
pesquisa. Reparos são necessários.
É por isso que isso é importante. Mas como chegamos aqui, a esse
projeto específico? E que diretrizes adotamos, e por quê?

Parte IV: O Plano -- Como


Aconteceu
Em maio de 2017, James e Peter publicaram um artigo num periódico
de baixo ranking com revisão por pares argumentando, entre outras
coisas, que os pênis causam conceitualmente as mudanças
climáticas. Seu impacto foi bem limitado, e muitas críticas dele foram
legítimas. A revista era pobre, e sua baixa qualidade foi de longe o
fator dominante do sucesso da publicação (por ter padrões de revisão
muito baixos e cobrar os autores uma taxa para publicar os artigos).
Isso turvou tanto as águas que o artigo "O Pênis Conceitual" não pôde
provar muita coisa sobre o estado de seu alvo pretendido: estudos
acadêmicos de gênero (que se baseiam fortemente em
construtivismo crítico). Para fazer isso, um estudo bem maior e mais
rigoroso era necessário.
Abordamos esse esforço fazendo duas perguntas centrais: Estamos
corretos na nossa alegação de que periódicos de grande prestígio nos
estudos de gênero e áreas relacionadas publicariam fraudes óbvias?
(Por "fraudes" queremos dizer artigos que têm ao menos uma das
seguintes coisas: teses claramente ridículas e/ou ultrajantes,
construção visivelmente amadora, uma transparente ausência de
rigor, e que demonstram claramente pouco entendimento da área.) E,
se não, o que eles publicarão?
Determinamos três regras básicas: (1) nos focaríamos quase
exclusivamente nos mais importantes periódicos com revisão por
pares na área, quanto mais altos no ranking melhor, e no topo de de
suas subdisciplinas sempre que possível; (2) não pagaríamos pela
publicação de nenhum artigo; e (3) se um editor ou revisor (mas não
um jornalista!) perguntasse a qualquer momento se o que
escrevemos era uma tentativa de fraude, nós confessaríamos. Essas
regras foram para assegurar que quaisquer conclusões que
tirássemos sobre a área viessem da própria área, não do problema
não-relacionado mas significativo que também corrompe as
empreitadas acadêmicas: a proliferação de revistas predatórias e
quase-predatórias com muito baixo rigor. Com essas regras nos
guiando, fizemos o compromisso de relatar com transparência os
resultados, com ou sem sucesso.
No ano seguinte, e com a ajuda da Helen, que se juntou a nós em
setembro de 2017, escrevemos vinte artigos acadêmicos para
periódicos nas áreas que viemos a identificar como particularmente
susceptíveis aos estudos de ressentimento e ao construtivismo
crítico. Os resultados mais que satisfizeram ambas as nossas
perguntas centrais.
A primeira pergunta tem uma resposta clara. "Estamos corretos na
nossa alegação de que periódicos de grande prestígio nos estudos de
gênero e áreas relacionadas publicariam fraudes óbvias?" foi
respondida quase inequivocamente até novembro, e a resposta era
negativa. Levamos só alguns meses e alguns artigos para aprender
que, enquanto é possível que algumas revistas nessas áreas possam
cair numa fraude óbvia contanto que ela ressoe com seus vieses
morais e jargão acadêmico preferido, nada como "O Pênis Conceitual"
teria sido publicado num periódico de estudos de gênero de alto
prestígio. Ao acreditar que alguns poderiam ser publicados, e ao
dizê-lo após aquela tentativa, estávamos errados.
Ao buscar responder à outra pergunta ("O que publicarão?"),
aprendemos muitas informações úteis sobre os estudos acadêmicos
de ressentimento. Em primeiro lugar, ao adotar uma abordagem
etnográfica reflexiva, buscar os comentários dos revisores, atendendo
aos pedidos deles, insistindo com mais veemência nos vieses que
nos disseram explicitamente que nos ajudariam a publicar,
tornamo-nos bem versados não apenas no trabalho acadêmico das
áreas que estamos estudando, como também na cultura que os
favorece. Em segundo lugar, coletamos evidências aparentemente
significativas e especialidade suficiente para dizer que estávamos
corretos ao alegar que há um problema de viés nas áreas
influenciadas por abordagens e pressupostos do construtivismo
crítico.

Parte V: Os Artigos Aceitos


para Publicação
(Todos os artigos e pareceres de revisores podem ser encontrados
aqui.)

1 - "Parque dos Cães"


Título: Reações Humanas à Cultura do Estupro e à Performatividade
Queer em Parques Urbanos para Cães em Portland, Oregon

Por
Helen Wilson, Ph.D., Iniciativa de Pesquisa Desfazer Gênero de
Portland (PUR) (ficcional)
Periódico: Gender, Place, and Culture
Status: Aceito e Publicado
Artigo reconhecido pela excelência. O periódico expressou
preocupação a respeito após o interesse jornalístico, o que nos levou
a concluir o projeto precocemente.
Tese: Que parques caninos são espaços de apologia ao estupro e
lugares com uma generalizada cultura do estupro canina, e de
opressão sistêmica contra "o cachorro oprimido", através dos quais as
atitudes humanas em direção a ambos os problemas podem ser
medidas. Isso nos dá um insight a respeito do adestramento dos
homens para que abandonem a violência sexual e a intolerância que
são propensos a ter.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos que
deveriam ser claramente ridículos e antiéticos se esses argumentos
fornecem uma forma (não falseável) de perpetuar noções de
masculinidade tóxica, heteronormatividade e viés inconsciente.
Comentários selecionados dos pareceristas:

"Este é um artigo maravilhoso--incrivelmente inovador, rico em análise


e extremamente bem escrito e bem organizado, dados os conjuntos
de literatura incrivelmente diversos e questões teóricas postas em
questão. O desenvolvimento que a autora faz do foco e das
contribuições do artigo é particularmente impressionante. O campo
de trabalho desenvolvido contribui imensamente à contribuição do
artigo como um trabalho acadêmico inovador e valioso, que atrairá os
leitores de uma ampla gama de disciplinas e formações teóricas.
Creio que este artigo, que é intelectual e empiricamente empolgante,
deve ser publicado, e que a autora deve ser parabenizada pela
pesquisa e texto que produziu."

Parecerista 1; Gender, Place, and Culture.

"Agradeço pela oportunidade de dar meu parecer para este artigo tão
interessante. Penso que ele fará uma contribuição importante à
geografia animal feminista com algumas pequenas revisões, como
descritas abaixo."

Parecerista 2; Gender, Place, and Culture.

"Como deve ser de conhecimento geral, o periógico GPC faz o seu 25º
aniversário de publicação. Como forma de comemorar a ocasião, o
GPC publicará 12 artigos destaque em suas 12 edições de 2018 (e
alguns até em 2019). Gostaríamos de publicar o seu artigo 'Reações
Humanas à Cultura do Estupro e à Performatividade Queer em
Parques Urbanos para Cães em Portland, Oregon' como destaque na
sétima edição. Ele chama a atenção para muitos temas da literatura
acadêmica passada que informa as geografias feministas, e também
mostra como parte da pesquisa atual pode contribuir para reavivar a
disciplina. Nesse sentido, pensamos que é um bom artigo para
nossas comemorações. Gostaria de pedir a sua permissão para
tanto."

Editor(a) de Gender, Place, and Culture.

2 - "Fisiculturismo Gordo"
Título: Quem São Eles Para Julgar?: Superando a Antropometria, e um
Arcabouço para o Fisiculturismo Gordo

Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College (uma pessoa real que
nos deu permissão para usar sua identidade acadêmica para este
projeto)
Periódico: Fat Studies
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que são somente normas culturais que fazem a sociedade
considerar o cultivo de músculos em vez de gordura algo admirável, e
que o fisiculturismo e o ativismo a favor dos gordos poderiam ser
beneficiados pela inclusão de corpos gordos a serem exibidos de
formas não-competitivas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos que são
ridículos e até danosos à saúde se apoiarem argumentos
sócio-construtivistas sobre a positividade corporal e a gordofobia.
Comentários selecionados dos pareceristas:
"O assunto deste ensaio é certamente novo e lida com uma questão
que é relevante para um grupo marginalizado. O ensaio faz referência
ao fisiculturismo como uma atividade estigmatizante contra o corpo
gordo e apresenta o fisiculturismo gordo como uma 'forma de
desfazer o espaço cultural' do fisiculturismo tradicional."

Parecerista 1; Fat Studies.

"Foi um profundo deleite ler este artigo e creio que ele tem uma
contribuição importante a fazer à área e a este periódico. Na maior
parte, concordo plenamente com seus argumentos. É bem escrito e
bem estruturado."

Parecerista 3; Fat Studies.

"Na p. 24, o autor escreve que 'um corpo gordo é um corpo


legitimamente cultivado'. Concordo em absoluto."

Parecerista 3; Fat Studies.

"[O] uso do termo 'fronteira final' é problemático ao menos de duas


formas. Primeira -- o termo 'fronteira' sugere a expansão colonial e a
posse hostil, e o apagamento genocida dos povos indígenas.
Encontre outro termo."

Parecerista 3; Fat Studies.


3 - "Consolos"
Título: Entrando pela Porta dos Fundos: Desafiando a Homohisteria e a
Transfobia de Homens Heterossexuais através do Uso de Brinquedos
Eróticos Penetrantes

Por
M. Smith, M.A., Iniciativa PUR (ficcional)
Periódico: Sexuality & Culture
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que é suspeito que os homens raramente façam
autopenetração anal usando brinquedos eróticos, e que isso se deve
provavelmente ao medo de seres vistos como homossexuais
("homohisteria") e à intolerância contra as pessoas trans (transfobia).
(O artigo combina essas ideias num conceito novo, "trans-histeria",
que foi sugerido por um dos pareceristas do periódico.) Encorajar os
homens a se engajarem em erotismo penetrativo receptivo anal
diminuirá a sua transfobia e reforçará valores feministas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos ridículos
se forem para apoiar alegações (não falseáveis) de que escolhas
sexuais comuns (e inofensivas) feitas por homens heterossexuais na
verdade são homofóbicas, transfóbicas e antifeministas.
Comentários selecionados dos pareceristas:

"Este artigo é uma contribuição incrivelmente rica e empolgante ao


estudo da sexualidade e da cultura, e particularmente da intersecção
entre a masculinidade e a analidade. ... Essa contribuição, por certo, é
importante, vem em boa hora e é digna de publicação."

Parecerista 1; Sexuality and Culture.

"Desculpe-me por fazer tantas perguntas, mas esse artigo é tão rico e
emocionante que estou sobrecarregado por tantas questões novas
que ele abre--o que é um sinal de um artigo maravilhoso!"

Parecerista 1; Sexuality and Culture.

"No geral, este artigo é uma contribuição muito interessante para o


conhecimento."

Parecerista 1; Sexuality and Culture.

"Agradeço por esta pesquisa estimulante. Gostei de ler o seu artigo, e


recomendo que seja publicado após revisões significativas."

Parecerista 2; Sexuality and Culture.

4 - "Peitões"
Título: Uma Etnografia da Masculinidade de Peitaurante: Temas de
Objetificação, Conquista Sexual, Controle Masculino, e Firmeza Masculina
num Restaurante Sexualmente Objetificador

Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College
Periódico: Sex Roles
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que homens frequentam "peitaurantes" como o Hooters porque
têm saudades da dominância patriarcal e gostam de poder dar
ordens a mulheres atraentes. O ambiente fornecido pelos
peitaurantes para facilitar que isso aconteça encoraja os homens a
identificar a objetificação sexual e a conquista sexual, além da
firmeza e dominância masculinas, com a "masculinidade autêntica".
Os dados são claramente disparates e as conclusões tiradas deles
não são permitidas por eles. (Nota: um parecerista expressou
preocupação com o rigor dos dados.)
Propósito: Observar se os periódicos publicarão artigos que buscam
problematizar a atração de homens heterossexuais por mulheres e se
aceitarão metodologia qualitativa de péssima qualidade e
interpretações motivadas por ideologia que apoiem essa
problematização.
Comentários selecionados dos pareceristas:

"Os pareceristas e eu temos uma opinião positiva de muitos aspectos


do manuscrito, e acreditamos que ele poderia fazer uma contribuição
importante à área."

Editor(a) de Sex Roles.

"Concordo que o peitaurante é um lugar importante para a pesquisa


crítica em masculinidades que foi negligenciada pela literatura atual,
e esse estudo tem o potencial de fazer uma contribuição
significativa."

Parecerista 2, Sex Roles.

"Por mais que o autor claramente tenha uma compreensão sólida da


pesquisa relevante e das obras acadêmicas relacionadas aos
peitaurantes e às subculturas masculinas onde formas tradicionais de
masculinidade são aceitas e promovidas, o trabalho não é
apresentado de uma forma que seja fácil de ler e entender."

Parecerista 2, Sex Roles.

"Agradeço aos autores por tratar de uma questão importante e


interessante na pesquisa de gênero, vista através de uma perspectiva
masculina."

Parecerista 3; Sex Roles.

"Após revisão externa do manuscrito, decidimos não publicá-lo. No


entanto, o material a respeito do qual você escreve é certamente
interessante e sem dúvida encontrará um público receptivo em outra
publicação."

Editor(a) de Men & Masculinities.

"Este artigo certamente é interessante de ler e de se pensar, e posso


imaginar que seja de valor para uma aula de graduação ou
pós-graduação sobre masculinidades."
Parecerista 1, Men & Masculinities.

"Em geral, esse artigo é uma contribuição interessante que fornece


muito para se pensar a respeito."

Parecerista 1, Men & Masculinities.

5 - "Sátira das Sátiras"


Título: Quando Você é a Piada: Uma Perspectiva Feminista sobre como a
Posicionalidade Influencia a Sátira

Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College
Periódico: Hypatia
Status: Aceito
Tese: Que pegadinhas acadêmicas ou outras formas de crítica
satírica ou irônica à erudição acadêmica da justiça social são
antiéticas, caracterizadas pela ignorância e enraizadas num desejo de
preservar privilégios.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão um argumento que
dispensa críticas da área acadêmica da justiça social como uma falta
de engajamento e de compreensão, mesmo se alguém se dedicar
totalmente e demonstrar conhecimento das ideias ao ponto de
publicar um artigo sobre elas numa revista acadêmica de destaque.
(Este artigo é também para antecipar e mostrar compreensão dos
argumentos feministas epistemológicos contra o nosso projeto e
demonstrar a precisão da nossa estimativa da área ao publicar numa
revista acadêmica de destaque da filosofia feminista. Isto é, para nos
criticar dessa forma, terão de nos citar.)
Comentários selecionados dos pareceristas:

"Este ensaio tem muito potencial, portanto revisões seriam de grande


ajuda."

Parecerista 1, Hypatia.

"O artigo é bem escrito, acessível e claro, e é dedicado à pesquisa


importante de formas relevantes. Dada a ênfase na posicionalidade, o
argumento claramente toma as estruturas de poder em consideração
e enfatiza a voz dos grupos marginalizados e, nesse sentido, pode
fazer uma contribuição à filosofia feminista, especialmente no
assunto da pedagogia da justiça social."

Parecerista 2; Hypatia.

"O tópico é excelente e faria uma excelente contribuição à filosofia


feminista, além de ser do interesse dos leitores de Hypatia."

Parecerista 2; Hypatia.

"Artigo excelente e muito oportuno! Faz uma conexão especialmente


boa entre a pedagogia e o ativismo."

Parecerista 1; Hypatia (2º parecer).


"Tenho alguns comentários pessoais menores que acrescentarei
abaixo do elogio do parecerista. Apresso-me a acrescentar que gosto
muito do seu artigo também!"

Editor(a) de Hypatia, em carta de aceitação.

6 - "Reuniões Lunares"
Título: Reuniões Lunares e o Significado da Sororidade: um Retrato
Poético da Vivência Espiritual Feminista

Por
Carol Miller, Ph.D., Iniciativa PUR (ficcional)
Periódico: Journal of Poetry Therapy
Status: Aceito (sem pedido de revisões ou comentários)
Tese: Sem tese clara. Um monólogo poético incoerente de uma
feminista amarga e divorciada, grande parte do qual foi fabricada por
um gerador automático de poesia de angústia adolescente antes de
ser editada para algo levemente mais "realista", que foi então
intercalado com reflexões autoetnográficas egocêntricas sobre a
sexualidade e a espiritualidade femininas, escritas completamente
em menos de seis horas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão disparates
incoerentes se forem pró-mulher o suficiente, implicitamente
anti-homem, e profundamente anti-razão, para o propósito de
introduzir formas de saber alternativas e femininas. (Nota: Foi escrito
completamente por James, que é homem.)

7 - "Mein Kampf Feminista"


Título: Nossa Luta é Minha Luta: Feminismo da Solidariedade como uma
Resposta Interseccional ao Feminismo Neoliberal e de Escolha

Por
Maria Gonzalez, Ph.D., e Lisa A. Jones, Ph.D., do Coletivo Feminista
Pela Verdade (FACT) (ambas as autoras são ficcionais)
Periódico: Affilia
Status: Aceito
Tese: Que o feminismo que põe em primeiro plano a escolha
individual e a responsabilidade e agência femininas e a força pode ser
enfrentado por um feminismo que unifica a solidariedade em torno do
status de vítima das mulheres mais marginalizadas da sociedade.
Propósito: Observar se poderíamos usar "teoria" para fazer qualquer
coisa relacionada ao ressentimento (no caso, parte do Capítulo 12 do
Volume 1 de Mein Kampf, obra de Hitler, com palavras que estão na
moda inseridas) aceitável para os periódicos, se misturássemos e
substituíssemos argumentos em voga.
Comentários selecionados dos pareceristas:

"Este é um artigo interessante que busca avançar os objetivos do


feminismo inclusivo ao tratar da questão da aliança/solidariedade."
Parecerista 1; Affilia.

"Ao ler o seu manuscrito, considerei a sua abordagem tanto do


feminismo neoliberal quanto do feminismo de escolha como tendo
bom fundamento."

Parecerista 2; Affilia.

"Tenho muita simpatia pelos argumentos centrais do artigo, tal como


a necessidade de solidariedade e a natureza problemática do
feminismo neoliberal."

Parecerista 1; Feminist Theory.

"Por mais que eu tenha extrema simpatia pelo argumento do artigo e


por sua posição política, temo que não posso recomendá-lo para
publicação com o seu formato atual."

Parecerista 2; Feminist Theory.

"Os pareceristas apoiam o trabalho e notam seu potencial de gerar


diálogos importantes para o serviço social e acadêmicos feministas."

Co-editor(a) chefe de Affilia, em 1ª revisão.

"Os pareceristas foram bastante favoráveis, embora haja alguns


problemas restantes menores a serem resolvidos. Portanto,
convido-as a responder aos comentários editoriais e dos pareceristas
incluídos ao fim desta carta, e a revisar o manuscrito rapidamente
para que possamos passar para a publicação."

Co-editor(a) chefe de Affilia, em 2ª revisão.

Original em Areo Magazine, 2 de outubro de 2018.


1
N. do T.: No original em inglês, grievance studies, o que também pode ser
traduzido como estudos denuncistas / de queixa / reclamação / agravo /
indignação.
2
N. do. T.: Rede de bares famosa por contratar garçonetes sensuais. Hooter
significa buzina e é uma referência aos seios das garçonetes.
3
N. do T.: A lista progressiva consiste numa hierarquia de chance de falar
aplicada em manifestações da esquerda progressista. Quanto mais oprimida
for a identidade de alguém, mais chance essa pessoa tem de falar primeiro.
4
N. do T.: Revista Internacional de Pedagogia Crítica, em tradução livre.

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