Documento Sem Título
Documento Sem Título
Documento Sem Título
Parte I: Introdução
Alguma coisa deu errado na universidade -- especialmente em
algumas áreas dentro das humanidades. O trabalho acadêmico que
se baseia menos em descobrir a verdade e mais em denuncismo
social se tornou firmemente estabelecido, se não completamente
dominante, dentro dessas áreas, e os acadêmicos que o fazem cada
vez mais intimidam estudantes, administradores e outros
departamentos a aderir à sua visão de mundo. Essa visão de mundo
não é científica e não é rigorosa. Para muitos, esse problema tem
ficado cada vez mais óbvio, mas faltavam evidências fortes disso. Por
esse motivo, nós três passamos um ano trabalhando dentro do tipo
de trabalho acadêmico que vemos como uma parte intrínseca desse
problema.
Passamos esse tempo escrevendo artigos acadêmicos e
publicando-os em periódicos respeitados com revisão por pares
associados às áreas acadêmicas conhecidas informalmente como
"estudos culturais" ou "estudos identitários" (por exemplo, estudos de
gênero), ou "teoria crítica", porque tem raiz no tipo de "teoria"
pós-moderna que emergiu no fim dos anos sessenta. Como resultado
desse trabalho, viemos a chamar essas áreas de "estudos de
O Que Fizemos?
Escrevemos 20 artigos e os submetemos para publicação nas
melhores revistas nas áreas relevantes (mais a respeito abaixo) com
sucesso considerável, mesmo tendo de vir a público com o projeto
prematuramente, e assim parar o estudo, antes que pudesse ser
concluído de modo apropriado. Na data em que publicamos esta
explicação, nós temos:
● 7 artigos aceitos.
○ 4 desses foram publicados online.
3 outros foram aceitos e não houve tempo de a publicação
acontecer. (Isso pode levar meses).
● 7 artigos ainda em tramitação que tivemos de abandonar.
○ 2 foram "revistos e ressubmetidos" e estão aguardando
decisão. (O julgamento da fase de "revisão e
ressubmissão" geralmente resulta na publicação após a
compleição das correções pedidas. Um parecer de
"rejeição e ressubmissão" pode resultar na publicação
após correções mais substanciais. É muito raro que
artigos sejam aceitos de imediato.)
1 ainda está sob revisão em seu periódico atual.
4 estão pendentes sem prazo de submetê-los aos
periódicos após rejeição (2), revisão e ressubmissão (1) ou
rejeição e ressubmissão (1).
● 6 foram retirados por serem fatalmente defeituosos para além
de reparos.
● 4 convites foram feitos para que fôssemos revisores de outros
artigos como resultado do nosso trabalho acadêmico exemplar.
(Por razões éticas, recusamos todos esses convites. Se
quiséssemos ter participado por completo na cultura deles
dessa forma, no entanto, teria sido uma oportunidade única de
improvisar para ver quão longe poderíamos chegar com a
hipótese de que o cânone da literatura dessas áreas fica
enviesado em parte porque o processo de revisão por pares
estimula os vieses políticos e ideológicos políticos delas.)
● 1 artigo (sobre a cultura do estupro em parques de cães)
ganhou um reconhecimento especial por sua excelência no
periódico em que foi publicado, Gender, Place, and Culture, um
periódico de alto calibre que lidera a área da geografia
feminista. O periódico premiou o artigo como uma de doze
obras de geografia feminista como parte da celebração do
aniversário de 25 anos da revista.
Qual é o problema?
Afirmamos com firmeza que há um problema nas nossas
universidades, e que ele está se espalhando rapidamente para a
cultura. Nisso, é ajudado pelo fato de que é difícil de entender e por
usar intencionalmente palavras emocionalmente poderosas -- como
"racista" e "sexista" -- de formas técnicas que significam coisa
diferente do seu uso comum. Esse projeto identifica aspectos desse
problema, os testa e expõe.
O problema é epistemológico, político, ideológico e ético, e está
corrompendo profundamente o trabalho acadêmico nas ciências
sociais e humanidades. O cerne do problema é formalmente
chamado de "construtivismo social", e seus acadêmicos mais
flagrantes são às vezes chamados de "construtivistas radicais".
Expressar esse problema com precisão é difícil, e muitos que
tentaram evitaram cuidadosamente fazê-lo de forma sucinta e clara.
Essa hesitação, mesmo responsável, dada a complexidade do
problema e suas raízes, provavelmente ajudou o problema a se
perpetuar.
Esse problema é mais facilmente resumido como uma crença
abrangente (quase ou por completo sacralizada) de que muitas
facetas comuns da experiência e da sociedade são socialmente
construídas. Essas construções são vistas como dependentes em
parte ou totalmente de dinâmicas de poder entre grupos de pessoas,
muitas vezes definidos pelo sexo, raça ou identificação sexual ou de
gênero. Todos os tipos de coisas aceitas como tendo uma base na
realidade por causa de evidências são em vez disso vistas como
tendo sido criadas por maquinações intencionais e inadvertidas de
grupos poderosos para manter seu poder sobre os grupos
marginalizados. Essa visão de mundo produz um imperativo moral de
desmantelar essas construções.
"Construções sociais" comuns vistas como intrinsecamente
"problemáticas", e dessa forma com alegada necessidade de
desmonte, incluem:
● o entendimento de que há diferenças cognitivas e psicológicas
entre homens e mulheres que poderiam explicar, ao menos em
parte, por que fazem escolhas diferentes em relação a coisas
como trabalho, sexo e vida familiar;
● que a assim chamada "medicina ocidental" (embora muitos
cientistas médicos eminentes não sejam ocidentais) seja
superior a práticas de cura tradicionais ou espirituais;
● que as normais culturais liberais do ocidente que dão às
mulheres e aos LGBT direitos iguais sejam superiores nesse
aspecto a normas religiosas ou culturais não-ocidentais que não
fazem isso; e
● que ser obeso seja um problema de saúde limitante à vida em
vez de uma escolha de corpo igualmente saudável e bela que é
injustamente estigmatizada.
Por
Helen Wilson, Ph.D., Iniciativa de Pesquisa Desfazer Gênero de
Portland (PUR) (ficcional)
Periódico: Gender, Place, and Culture
Status: Aceito e Publicado
Artigo reconhecido pela excelência. O periódico expressou
preocupação a respeito após o interesse jornalístico, o que nos levou
a concluir o projeto precocemente.
Tese: Que parques caninos são espaços de apologia ao estupro e
lugares com uma generalizada cultura do estupro canina, e de
opressão sistêmica contra "o cachorro oprimido", através dos quais as
atitudes humanas em direção a ambos os problemas podem ser
medidas. Isso nos dá um insight a respeito do adestramento dos
homens para que abandonem a violência sexual e a intolerância que
são propensos a ter.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos que
deveriam ser claramente ridículos e antiéticos se esses argumentos
fornecem uma forma (não falseável) de perpetuar noções de
masculinidade tóxica, heteronormatividade e viés inconsciente.
Comentários selecionados dos pareceristas:
"Agradeço pela oportunidade de dar meu parecer para este artigo tão
interessante. Penso que ele fará uma contribuição importante à
geografia animal feminista com algumas pequenas revisões, como
descritas abaixo."
"Como deve ser de conhecimento geral, o periógico GPC faz o seu 25º
aniversário de publicação. Como forma de comemorar a ocasião, o
GPC publicará 12 artigos destaque em suas 12 edições de 2018 (e
alguns até em 2019). Gostaríamos de publicar o seu artigo 'Reações
Humanas à Cultura do Estupro e à Performatividade Queer em
Parques Urbanos para Cães em Portland, Oregon' como destaque na
sétima edição. Ele chama a atenção para muitos temas da literatura
acadêmica passada que informa as geografias feministas, e também
mostra como parte da pesquisa atual pode contribuir para reavivar a
disciplina. Nesse sentido, pensamos que é um bom artigo para
nossas comemorações. Gostaria de pedir a sua permissão para
tanto."
2 - "Fisiculturismo Gordo"
Título: Quem São Eles Para Julgar?: Superando a Antropometria, e um
Arcabouço para o Fisiculturismo Gordo
Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College (uma pessoa real que
nos deu permissão para usar sua identidade acadêmica para este
projeto)
Periódico: Fat Studies
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que são somente normas culturais que fazem a sociedade
considerar o cultivo de músculos em vez de gordura algo admirável, e
que o fisiculturismo e o ativismo a favor dos gordos poderiam ser
beneficiados pela inclusão de corpos gordos a serem exibidos de
formas não-competitivas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos que são
ridículos e até danosos à saúde se apoiarem argumentos
sócio-construtivistas sobre a positividade corporal e a gordofobia.
Comentários selecionados dos pareceristas:
"O assunto deste ensaio é certamente novo e lida com uma questão
que é relevante para um grupo marginalizado. O ensaio faz referência
ao fisiculturismo como uma atividade estigmatizante contra o corpo
gordo e apresenta o fisiculturismo gordo como uma 'forma de
desfazer o espaço cultural' do fisiculturismo tradicional."
"Foi um profundo deleite ler este artigo e creio que ele tem uma
contribuição importante a fazer à área e a este periódico. Na maior
parte, concordo plenamente com seus argumentos. É bem escrito e
bem estruturado."
Por
M. Smith, M.A., Iniciativa PUR (ficcional)
Periódico: Sexuality & Culture
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que é suspeito que os homens raramente façam
autopenetração anal usando brinquedos eróticos, e que isso se deve
provavelmente ao medo de seres vistos como homossexuais
("homohisteria") e à intolerância contra as pessoas trans (transfobia).
(O artigo combina essas ideias num conceito novo, "trans-histeria",
que foi sugerido por um dos pareceristas do periódico.) Encorajar os
homens a se engajarem em erotismo penetrativo receptivo anal
diminuirá a sua transfobia e reforçará valores feministas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão argumentos ridículos
se forem para apoiar alegações (não falseáveis) de que escolhas
sexuais comuns (e inofensivas) feitas por homens heterossexuais na
verdade são homofóbicas, transfóbicas e antifeministas.
Comentários selecionados dos pareceristas:
"Desculpe-me por fazer tantas perguntas, mas esse artigo é tão rico e
emocionante que estou sobrecarregado por tantas questões novas
que ele abre--o que é um sinal de um artigo maravilhoso!"
4 - "Peitões"
Título: Uma Etnografia da Masculinidade de Peitaurante: Temas de
Objetificação, Conquista Sexual, Controle Masculino, e Firmeza Masculina
num Restaurante Sexualmente Objetificador
Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College
Periódico: Sex Roles
Status: Aceito e Publicado
Tese: Que homens frequentam "peitaurantes" como o Hooters porque
têm saudades da dominância patriarcal e gostam de poder dar
ordens a mulheres atraentes. O ambiente fornecido pelos
peitaurantes para facilitar que isso aconteça encoraja os homens a
identificar a objetificação sexual e a conquista sexual, além da
firmeza e dominância masculinas, com a "masculinidade autêntica".
Os dados são claramente disparates e as conclusões tiradas deles
não são permitidas por eles. (Nota: um parecerista expressou
preocupação com o rigor dos dados.)
Propósito: Observar se os periódicos publicarão artigos que buscam
problematizar a atração de homens heterossexuais por mulheres e se
aceitarão metodologia qualitativa de péssima qualidade e
interpretações motivadas por ideologia que apoiem essa
problematização.
Comentários selecionados dos pareceristas:
Por
Richard Baldwin, Ph.D., Gulf Coast State College
Periódico: Hypatia
Status: Aceito
Tese: Que pegadinhas acadêmicas ou outras formas de crítica
satírica ou irônica à erudição acadêmica da justiça social são
antiéticas, caracterizadas pela ignorância e enraizadas num desejo de
preservar privilégios.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão um argumento que
dispensa críticas da área acadêmica da justiça social como uma falta
de engajamento e de compreensão, mesmo se alguém se dedicar
totalmente e demonstrar conhecimento das ideias ao ponto de
publicar um artigo sobre elas numa revista acadêmica de destaque.
(Este artigo é também para antecipar e mostrar compreensão dos
argumentos feministas epistemológicos contra o nosso projeto e
demonstrar a precisão da nossa estimativa da área ao publicar numa
revista acadêmica de destaque da filosofia feminista. Isto é, para nos
criticar dessa forma, terão de nos citar.)
Comentários selecionados dos pareceristas:
Parecerista 1, Hypatia.
Parecerista 2; Hypatia.
Parecerista 2; Hypatia.
6 - "Reuniões Lunares"
Título: Reuniões Lunares e o Significado da Sororidade: um Retrato
Poético da Vivência Espiritual Feminista
Por
Carol Miller, Ph.D., Iniciativa PUR (ficcional)
Periódico: Journal of Poetry Therapy
Status: Aceito (sem pedido de revisões ou comentários)
Tese: Sem tese clara. Um monólogo poético incoerente de uma
feminista amarga e divorciada, grande parte do qual foi fabricada por
um gerador automático de poesia de angústia adolescente antes de
ser editada para algo levemente mais "realista", que foi então
intercalado com reflexões autoetnográficas egocêntricas sobre a
sexualidade e a espiritualidade femininas, escritas completamente
em menos de seis horas.
Propósito: Observar se os periódicos aceitarão disparates
incoerentes se forem pró-mulher o suficiente, implicitamente
anti-homem, e profundamente anti-razão, para o propósito de
introduzir formas de saber alternativas e femininas. (Nota: Foi escrito
completamente por James, que é homem.)
Por
Maria Gonzalez, Ph.D., e Lisa A. Jones, Ph.D., do Coletivo Feminista
Pela Verdade (FACT) (ambas as autoras são ficcionais)
Periódico: Affilia
Status: Aceito
Tese: Que o feminismo que põe em primeiro plano a escolha
individual e a responsabilidade e agência femininas e a força pode ser
enfrentado por um feminismo que unifica a solidariedade em torno do
status de vítima das mulheres mais marginalizadas da sociedade.
Propósito: Observar se poderíamos usar "teoria" para fazer qualquer
coisa relacionada ao ressentimento (no caso, parte do Capítulo 12 do
Volume 1 de Mein Kampf, obra de Hitler, com palavras que estão na
moda inseridas) aceitável para os periódicos, se misturássemos e
substituíssemos argumentos em voga.
Comentários selecionados dos pareceristas:
Parecerista 2; Affilia.