Helenalimadacosta
Helenalimadacosta
Helenalimadacosta
JUIZ DE FORA
2013
HELENA LIMA DA COSTA
JUIZ DE FORA
2013
TERMO DE APROVAÇÃO
This study aims to analyze the process of implementation of the inclusion policy from
the point of view of a comparative analysis between the in the city of Quissamã in the
state of Rio de Janeiro. In this research, the policy is described and analyzed relating the
city`s reality the propositions of the official documents from the municipal and federal
sphares. Moreover, are explained in detail the case of the implementation of the
inclusion policy at the School A (1 st half) and School B (2nd half), allowing these two
realities to be utilized as a means of comparison. This research has as theoretical
support authors such as: Lück (2009) in regards to the processes of democratic
management and considerations, on the participation within the school emveronment.
Mantoan (2003), regarding the perception of inclusion in schools, and also the studies
by Mattos (2010) and Cunha and Azevedo (2008) on the matters of school management
and inclusive education. At the end of the field study and bibliographical research, we
present an Educational Action Plan comprisinf the creation off guidelines to adjust the
city`s inclusion policy and bung it closer to the school`s.
INTRODUÇÃO..................................................................................................12
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................82
REFERÊNCIAS................................................................................................86
APÊNDICES.....................................................................................................89
INTRODUÇÃO
1
No município de Quissamã, a nomenclatura utilizada para denominar alunos com deficiências é NEE –
alunos com Necessidades Educacionais Especiais.
13
2
atende ao 2º segmento do ensino fundamental . Diante dessa semelhança, identifiquei
tais instituições como objetos de pesquisa para analisar a política de inclusão a partir
desse enfoque.
Sendo assim, busquei responder às seguintes perguntas: como está sendo o
processo de inclusão nessas escolas? As demandas estão sendo atendidas? Há uma
parceria com a Secretaria de Educação? Como ocorre o monitoramento dessa política de
inclusão nas escolas? Os professores compreendem a inclusão como um desafio ou
como mais uma tarefa que fica a seu? A formação continuada em torno dessa temática
acontece?
Para obter respostas a essas indagações, utilizei como metodologia o Estudo de
Caso e instrumentos de pesquisa como questionários para os professores dessas duas
instituições, bem como entrevistas com os diretores, as coordenadoras pedagógicas das
escolas pesquisadas, a coordenadora de inclusão do município de Quissamã/RJ,
Coordenadora do NAE (Núcleo e Atendimento ao Educando) e com as professoras da
sala de recurso das escolas. Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo
analisar a implementação da política de inclusão do município de Quissamã (RJ) sob o
ponto de vista de uma análise comparativa do 1º e 2º segmento do ensino fundamental,
com foco na gestão escolar dessas unidades.
Para isso, os estudos foram norteados por documentos produzidos pelo
Ministério da Educação (MEC) sobre essa modalidade de ensino, desde a aprovação da
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n° 9.394/96 até os últimos pareceres (em 2011), tendo
como referência a Legislação Educacional do Município de Quissamã/RJ.
De acordo com os documentos citados, houve o interesse em fazer com que
todos os alunos com necessidades educacionais especiais fossem matriculados nas redes
regulares de ensino, a fim de romper com a segregação antes existente. Um ponto
importante nesses documentos se refere à atuação do diretor escolar nesse processo. O
gestor deixa de ter o papel de simples administrador e assume o papel de mediador. O
gestor escolar da atualidade, ainda de acordo com esses documentos, configura-se
2
Escola de 1º segmento se refere à escola que atende do 1º ao 5º ano de escolaridade do Ensino
Fundamental,enquanto que a escola de 2º segmento atende do 6º ao 9º ano de escolaridade do Ensino
Fundamental.
14
como um profissional de articulação nas diversas instâncias do sistema educacional –
Secretaria de Educação, profissionais da escola, alunos e comunidade escolar –
tornando-se personagem essencial na execução de políticas públicas.
Diante dessas necessidades, o gestor precisa desenvolver a capacidade de
mobilização da comunidade escolar como um fator positivo quando o assunto se refere
à inclusão. Assim, por meio da gestão participativa, em que todos os sujeitos envolvidos
com o processo educacional se comprometem e atuam efetivamente nas políticas que
adentram o espaço escolar, o gestor poderá dialogar e coordenar ações que possam
promover reflexões sobre as atitudes dos docentes e funcionários da escola,
incentivando comportamentos favoráveis à diversidade e à inclusão de todos na escola.
Sendo assim, o objetivo central do trabalho é justificado pela necessidade de o
gestor atender às novas demandas que a inclusão traz para a escola, possibilitando o
acesso de todos os alunos a partir da reestruturação do espaço no que se refere às
questões físicas, materiais e mediante as discussões promovidas na escola que permitam
transformar a instituição em uma escola inclusiva.
Para isso, o gestor precisa se encontrar nesse processo de inclusão e reconhecer a
política como instrumento de transformação da sociedade, visualizando os professores e
funcionários como sujeitos que realizam as ações dessa política de inclusão na escola.
Por isso, faz-se necessário também investigar como essa política foi recebida e
implementada por duas escolas investigadas nesta pesquisa.
Para tanto, o trabalho foi estruturado em três capítulos. No primeiro, foi descrito
o caso, a política de inclusão do Município de Quissamã – RJ, levando-se em
consideração as modificações que ocorreram com a sua implementação, além de
relacioná-las com os agentes envolvidos nesse processo.
Já no segundo capítulo, a discussão aconteceu em torno do gestor e em sua
necessidade de perceber o movimento de inclusão na escola. Foi importante
compreender como a política chega até a escola e como é recebida e reconhecida como
uma ação coletiva. Nesse capítulo, observou-se mais detalhadamente a fala do gestor
como sujeito que está na ponta do processo.
15
Além disso, pôde-se, também, observar a percepção dos professores que, possuem o
olhar da prática e da efetividade das ações, o que possibilitou melhor compreender os
desafios e avanços alcançados.
No terceiro e último capítulo, foi apresentado um Plano de Ação com propostas
e estratégias para que as lacunas e problemas observados na política possam ser
superados. Construir um Plano de Ação foi o foco central desta pesquisa, haja vista que
o objetivo deste Mestrado Profissional é produzir estudos que sejam capazes de
transformar a realidade da educação pública.
16
1 A POLÍTICA DE INCLUSÃO DO MUNICÍPIO DE QUISSAMÃ / RJ
Para situar o leitor quanto ao foco desta pesquisa, faz-sei necessário realizar uma
descrição dos movimentos que envolvem a inclusão, tanto em uma dimensão nacional
quanto na realidade municipal. Na dimensão federal, o texto procura explicitar as
modificações e mudanças ocorridas ao longo das últimas décadas que definiram o
atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais.
O ponto de partida é a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), ocorrida em 1996, passando pela publicação de decretos e pareceres a
favor da organização do atendimento a esse público, até a criação da Política Nacional
da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva em 2007.
Na dimensão municipal, esta pesquisa procura analisar a implementação da
política de inclusão do Município de Quissamã (RJ) em estabelecimentos de ensino que
possuem alunos com necessidades educacionais especiais, do ponto de vista de uma
análise comparativa do 1º e 2º segmentos do Ensino Fundamental.
Portanto, neste primeiro capítulo, o texto foi dividido em algumas seções: um
histórico da Educação Especial no Brasil, destacando seus avanços e retrocessos; o
cenário da pesquisa, apresentação dos dados gerais sobre a Política de Inclusão do
Município de Quissamã (RJ) e a descrição de como a política de inclusão está sendo
implementada em duas escolas denominadas Escola A (1º segmento) e Escola B (2º
segmento). Por fim, são levantadas algumas questões de como o gestor se reconhece
enquanto articulador do processo de inclusão no espaço escolar.
Considerando-se que a busca por uma escola que ofereça educação de qualidade
a todos se apresenta como um dos desafios mais instigantes para os
17
educadores, a educação inclusiva contribui para a complexidade dessa discussão. De
acordo com o documento elaborado pela Secretaria de Educação
Especial(SEESP/MEC), a educação inclusiva:
Assim, vemos um conjunto de ideias, políticas e ações que tentam atender a uma
diversidade que não fica mais escondida nas classes especiais ou escolas especializadas.
As primeiras preocupações com as pessoas com necessidades educacionais
especiais no Brasil iniciaram na época do Império, com a criação de duas instituições
que tinham como objetivo atender aos meninos cegos e surdos mudos. A Política
Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL,2007)
traz a informação de que o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto
Benjamin Constant (IBC), foi criado em 1854. Já em 1857, foi a vez de os Surdos
Mudos conseguirem destaque com a criação do Instituto dos Surdos Mudos, atualmente,
denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES).
Na Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2007) ainda encontramos informações que colocam o Instituto
Pestalozzi como contribuinte significativo no processo histórico da Educação Especial,
pois foi uma instituição criada, em 1926, especializada no atendimento às pessoas com
deficiência mental. Para os superdotados, foi criado um atendimento educacional
especializado realizado por Helena Antipoff na Sociedade Pestalozzi. O século XX
trouxe outras novidades, como a primeira Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE), criada em 1954.
Ferreira (2005) argumenta que é na coletividade, nas relações sociais que se
concretiza a aprendizagem. Dessa forma, a escola pode ser concebida como espaço
privilegiado de vivências compartilhadas de atividades humanas. Corroborando a fala
do autor, observa-se que essas instituições queoferecem
18
atividades e atendimentos especializados àa uma determinada deficiência, possuem um
ação limitada no que diz respeito a socialização dessas pessoas com a sociedade em
geral. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB,
Lei nº 4.024/61, a educação no Brasil começa a ganhar novos rumos. Pela primeira vez
surge citação em uma lei que garanta direitos à educação para pessoas com necessidades
educacionais especiais, denominadas, na época, como excepcionais. O art. 81 da LDB
dizia que “a educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no
sistema geral de educação, a fim de integrá-lo na comunidade” (BRASIL – LDB,1961).
Porém, em um processo de avanços e retrocessos, a LDB de 1961 sobreviveu
somente por dez anos e, em 1971, a Lei nº 5.692/71, entra em vigor e modifica a lei
anterior em muitos aspectos. Um desses aspectos se refere aos alunos com
necessidades educacionais especiais. O artigo 9º da lei citada dizia que:
3
Informações retiradas da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2007)
20
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular
(BRASIL, 1996).
4
Informação retirada da Legislação Educacional do Município de Quissamã/RJ
5
Informação obtida através da pesquisa na Secretaria Municipal de Educação de Quissamã.
23
As escolas também possuem estrutura administrativa e pedagógica composta
pelo diretor geral, diretor adjunto, equipe técnica pedagógica (orientadores educacionais
e pedagógicos e supervisor), secretária, professores, auxiliares de secretaria, cuidadoras,
auxiliares de serviços gerais, merendeiras e porteiros.
Para que essa organização funcione, o município criou uma Legislação
Educacional Municipal inspirada na legislação federal que orienta as ações necessárias
na busca de uma educação de qualidade. A legislação contempla os dois níveis da
educação básica, uma vez que o ensino médio fica a cargo do Estado, além da educação
de jovens e adultos e educação inclusiva. Essa última modalidade de ensino, na
estrutura organizacional da secretaria, possui um departamento e uma coordenadora de
inclusão que orienta o trabalho.
Nesse sentido, a política de inclusão do município é implementada por meio da
Secretaria de Educação que possibilita ao Departamento de Inclusão orientar as escolas
na realização das ações propostas nessa política. Sendo assim, a Resolução n° 03/2006
da Legislação Educacional do Município de Quissamã traz as orientações e ações
necessárias para atender à educação especial:
6
Informação retirada da Resolução SEMED n° 07/2006 - Legislação Municipal de Quissamã/RJ.
26
A Coordenadora também sinalizou, ao longo da entrevista realizada para esta
dissertação, que os atendimentos do próprio NAE são rápidos e sem muita burocracia,
mas que as respostas aos encaminhamentos são muito demoradas, o que também faz
com que os tratamentos, não raro, não aconteçam ou ainda que os resultados não sejam
tão positivos quanto poderiam ser.
Já em relação ao acesso à rede regular de ensino, a Legislação Educacional
Municipal garante a permanência nesse espaço. A matrícula de um aluno com
necessidades educacionais especiais na classe regular é contabilizada como duas, pois
os professores precisam de uma dedicação um pouco maior para esses alunos. Os alunos
que já possuem o laudo médico são incluídos no Censo Escolar para que, dessa forma, a
Instituição de Ensino possa participar de programas dedicados ao atendimento aos
alunos com necessidades educacionais especiais.
No entanto, sabe-se que a oferta da Educação Especial nas escolas regulares vai
muito além da matrícula. Toda uma estrutura é necessária para atender aos alunos com
necessidades educacionais especiais e esta precisa ser gerenciada tanto pelo gestor,
quanto pela Secretaria de Educação. O art. 4º da Resolução n° 03/2006 da Legislação
Educacional do Município corrobora essa ideia quando diz que a Secretaria Municipal
de Educação deverá formar parcerias com serviços de saúde, assistência social, justiça,
cultura e esporte no âmbito da iniciativa privada ou do serviço público.
Sendo assim, a Secretaria de Educação, em parceria com a Secretaria de
Transporte, oferece deslocamento a todos os alunos da rede de ensino que necessitam.
Há uma logística que atende aos diversos bairros, com pontos estratégicos. Para os
alunos com necessidades educacionais especiais, há um transporte que busca os alunos
em casa com horários diferenciados, no qual as cuidadoras, que são funcionárias
contratadas pela Secretaria Municipal de Educação, para acompanhar os alunos com
necessidades educacionais especiais, realizam o trajeto com seus respectivos alunos
tanto na ida quanto na volta da escola. Vale ressaltar que o transporte é feito por um
veículo não adaptado, o que atrapalha em alguns casos a utilização de cadeiras de rodas
ou, ainda, o acesso de alunos com dificuldades de locomoção.
27
Outra parceria também acontece com o Departamento de Nutrição que está atrelado
à estrutura administrativa da Secretaria de Educação. Como a alimentação também faz
parte dos componentes estruturais oferecidos pelas unidades escolares, a Secretaria é o
setor que administra as verbas destinadas a essa finalidade. Com o auxílio de
nutricionistas, são criados cardápios adequados aos alunos de acordo com suas
necessidades, pois alguns precisam de alimentação mais pastosa, líquida, havendo,
ainda, os que necessitam de suplementos alimentares. Esse atendimento é realizado por
meio de um alinhamento de informações entre as famílias, a escola e o Departamento de
Nutrição para que determinem o tipo de alimentação adequada aos alunos.
O acesso e a permanência dos alunos nos espaços das unidades escolares
também precisam ser garantidos. Nesse contexto, o próprio Governo Federal criou
decretos e leis que estabelecem que os espaços públicos devam ter acessibilidade. O
Decreto Federal nº 5296/2004, que regulamenta as Leis Federais nº 10.048/2000 e nº
10.098/2000, define em seu artigo 2º que:
Dessa forma, as escolas que possuem no Censo Escolar alunos com necessidades
educacionais especiais têm sido contempladas com o Programa Escolas Acessíveis. De
acordo com o Manual do Programa Escola Acessível (BRASIL, 2011, p. 7),
Cabe ressaltar que toda essa estrutura, que é pensada pela Secretaria de
Educação, acontece na prática nas próprias instituições de ensino. Sendo assim, o
gestor assume o papel de mediador e articulador dessas ações, acompanhando
todo o processo. Dessa forma, o gestor ainda precisa estar atento aos critérios que
precisam ser atendidos para que o processo de inclusão aconteça. No entanto, não é
somente o gestor que está envolvido no processo de inclusão. São muitos atores e
autores que escrevem essa história. O art. 3º do Capítulo I da Resolução n° 03/2006, de
18 de maio de 2006,
da Legislação Municipal afirma que a Secretaria Municipal de Educação de Quissamã
(SEMED) deve manter em sua estrutura um setor responsável pela Educação Especial,
dotado de recursos materiais, humanos e financeiros que viabilizem e deem sustentação
ao processo de construção do atendimento da Educação Especial. Esse é outro agente
importante na política de inclusão do município. Dessa forma, a SEMED criou um
espaço destinado à Coordenação de Inclusão que gerencia as ações relacionadas à
Educação Especial, articulando com as escolas todo o atendimento aos alunos NEE.
A Coordenação de Inclusão relatou em entrevista que seu trabalho está mais
ligado diretamente ao profissional da sala multifuncional e às cuidadoras. Ela enfatizou
também em sua fala a necessidade das informações e decisões estarem alinhadas, para
que as ações ocorram de forma contínua e harmônica. Uma das funções que a
Coordenação de Inclusão também tem é a de realizar reuniões periódicas com sua
equipe para discutir as decisões e estudar
31
sobre as diversas deficiências. Esse grupo de estudo visa formar multiplicadores para
atuarem nas unidades escolares em que trabalham.
Em relação à autonomia das unidades escolares, em especial do gestor, para a
tomada de decisões, bem como a autonomia da própria coordenação, observam-se
alguns pontos a serem discutidos. Apesar de os gestores se posicionarem diante das
questões de conflitos que envolvem funcionários, alunos e/ou pais, percebe-se que a
decisão final fica a cargo da coordenação de inclusão, mesmo que de forma velada. Um
exemplo disso ocorre quando um pai comparece à escola para solicitar a troca de
cuidadoras por algum motivo. O gestor não toma essa decisão sozinho, esta precisa ser
compartilhada com a coordenadora de inclusão.
Outro personagem importante na política de inclusão de Quissamã é o professor
da Sala de Recursos. Esse profissional, de acordo com o art. 81, alínea “b”, do Capítulo
I da Resolução n° 03/2006, de 18 de maio de 2006, da Legislação Municipal afirma que
a Secretaria Municipal de Educação de Quissamã (SEMED) assegura aos educandos
com necessidades educacionais especiais professores com especialização adequada,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados
para a sua inclusão nas classes comuns.
Sendo assim, as escolas que têm sala multifuncional também possuem esse
profissional especializado que trabalha diretamente com os alunos com NEE e que
desenvolve trabalho complementar às atividades de sala de aula, com o objetivo de
desenvolver habilidades e competências que possam contribuir para o processo de
aprendizagem desses alunos.
O professor da sala multifuncional, que também coordena as cuidadoras e zela
pela rotina dos alunos com NEE, mantém contato permanente com os professores das
salas regulares com o objetivo de sanar dúvidas, além de compartilhar experiências
sobre a inclusão.
As cuidadoras, que também desempenham um papel importante nessa
engrenagem, são profissionais que atuam de forma mais direta com os alunos com
Necessidades Educacionais Especiais. De acordo com o Regimento Escolar do
Município de Quissamã, o art. 32 da Resolução n° 03/2006, da Legislação Municipal
regula sua função. Sendo assim, compete à cuidadora:
32
Dessa forma, observa-se que esses atores são os que mais precisam de auxílio e
suporte para se adaptarem ao processo de inclusão. Esse fato pode ser comprovado, a
partir dos questionários realizados com os professores da
33
Escola A (1º segmento) e da Escola B (2º segmento), os quais foram os sujeitos de
pesquisa desta dissertação. Assim, 27 professores de cada instituição, totalizando 54
profissionais que atuam diretamente com os alunos com necessidades educacionais
especiais participaram do questionário. Tal instrumento buscou identificar qual o
conhecimento dos professores sobre a política de inclusão do município de Quissamã;
quais as ideias e concepções que tinham em relação à matrícula e à aprendizagem dos
alunos com necessidades educacionais especiais; quanto ao suporte pedagógico
oferecido pela escola; ao apoio do gestor nesse processo; à relação da família desses
alunos com a instituição; sua reação diante do fato de ter em seu diário um aluno com
necessidades educacionais especiais e a capacitação necessária para melhor atendê-los.
Assim, no que se refere ao sentimento desses professores quando identificam
alunos com necessidades educacionais especiais em sua lista de chamada, foi possível
perceber nos docentes das duas escolas uma apreensão, porém em medidas diferentes.
Os professores da Escola A entendem que a presença desse aluno na sala regular é um
direito, porém aguardam um suporte que poderá vir por meio de formação continuada
para que possam desenvolver um trabalho mais efetivo com esses alunos, acreditando
ser este mais um desafio do docente. Já os professores da Escola B ainda se conservam
em um posicionamento de negação. Dessa forma, atitudes como pedir para trocar de
turma ou ano de escolaridade ou, ainda, não gostar da ideia são, em muitos casos, as
atitudes desses profissionais. Sabendo, entretanto, que nem sempre poderão se eximir
dessa situação, solicitam um suporte que consiga ajudá-los nesse desafio.
Esse suporte que eles mencionam se refere ao aspecto pedagógico oferecido pela
escola que poderia dar maior segurança e direcionamento ao trabalho do professor.
Nessa questão, mais uma vez, percebemos posicionamentos diferentes entre as
duas escolas. A Escola A já passou por um processo de aceitação e sensibilização
quanto à inclusão e já reconhece o direito dos alunos no que se refere à frequência nas
salas regulares, entendendo o suporte pedagógico como fator decisivo no melhor
atendimento a esses alunos, variando quanto à sua praticidade.
34
Já a Escola B, a despeito de indicarem que precisam de auxílio nessa tarefa, não
creditam ao suporte pedagógico a importância necessária. Dos 27 professores que
participaram do questionário da Escola B, 10 professores acreditam que o suporte
técnico-pedagógico poderia oferecer auxílio mais prático, 7 não reconhecem nesse
suporte um fator influenciável no seu trabalho, enquanto 9 afirmam não haver esse
suporte na escola. Esse fato evidencia a necessidade de fortalecer a discussão sobre a
inclusão para que as ideias possam ganhar maior uniformidade, uma vez que a inclusão
é um direito garantido por leis tanto federais, estaduais, quanto municipais. O suporte
oferecido pelas escolas poderia influenciar na maior aceitação desses alunos por parte
dos professores, além de proporcionar maiores oportunidades de aprendizagem para os
alunos com necessidades educacionais especiais.
Da teoria para a prática, há diferenças entre muitos pontos, o que faz com que
nem sempre as ações aconteçam como está descrito, principalmente, porque a política é
implementada por pessoas que possuem culturas, pensamentos e valores diferentes.
Sendo assim, focando o olhar em duas escolas que possuem número de alunos
semelhantes, porém atendem a segmentos diferentes, pode-se discutir uma mesma
política, com resultados e forma de implementação diferenciadas. É o que se percebe
mediante os instrumentos metodológicos aplicados.
1.3.1- A Escola A
A Escola A é uma instituição de ensino de 1º segmento do Ensino Fundamental
que atende do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Possui uma média de 470 alunos
matriculados, sendo a maior escola urbana da rede de ensino do município a atender
esse segmento. A instituição é considerada uma escola nova, possui apenas 7 anos desde
a inauguração. Além de ser a escola com maior número de alunos, também acumula
outras características, por
35
exemplo, é a escola de 1º segmento que possui, desde 2005, a maior nota de
proficiência no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e é também a
que apresenta o melhor rendimento na rede de ensino.
Essas características fazem com que a instituição tenha uma procura muito
grande por matrículas, e apesar de situar-se no centro da cidade, possui alunos de
diferentes localidades. É comum que os pais busquem matricular primeiro seus filhos na
Escola A, não havendo vagas é que procuram outras instituições.
Essa procura também acontece por parte dos pais dos alunos com necessidades
educacionais especiais que, independentemente do local onde moram, procuram a
escola para realizar a matrícula, o que faz com que essa instituição tenha um número
superior de alunos com necessidades educacionais especiais em relação às outras
escolas do mesmo segmento. Assim, como fora anteriormente mencionado, ela conta
com 18 alunos com necessidades educacionais especiais matriculados, todos
diagnosticados com laudos.
É preciso destacar que há um número expressivo de alunos que estão sendo
acompanhados pelo NAE. Ao final de cada bimestre, é emitida uma listagem de alunos
para esse órgão. Essa lista é composta por alunos que apresentaram dificuldades de
aprendizagem que não foram sanadas com as estratégias pedagógicas utilizadas pela
escola ao longo desse tempo. Assim, eles são indicados para participarem da triagem do
NAE. Vale ressaltar que essa lista modifica-se a cada bimestre.
Há ainda aqueles alunos que possuem estereotipias, mas que não possuindo
documentação que comprovem as deficiências, não podem ser contabilizados no Censo
Escolar. Esses também são acompanhados pelo NAE. Atualmente na escola há 13
alunos nessa situação7.
Os alunos com NEEs são distribuídos nas turmas regulares levando em
consideração sua idade e, em alguns casos, seu desenvolvimento. É realizada uma
avaliação considerando os aspectos cognitivos, afetivos, motores e sociais para que,
então, possam frequentar a sala que mais se adéque ao seu desenvolvimento.
7
Informação oferecida pela Escola A.
36
A instituição demonstra estar adaptada à presença desses alunos, visto que não
há registros, principalmente no Caderno de Ocorrência8 da escola e na fala dos
próprios profissionais, de situações de rejeição com os alunos com necessidades
educacionais especiais. Em observação na própria instituição, pode-se presenciar, tanto
nas salas de aula, quanto na sala de recursos e nos espaços de socialização (pátio,
refeitório e quadra), que a relação desses alunos com toda a comunidade escolar é de
cordialidade, não demonstrando situações de conflitos.
O fato de esses alunos possuírem uma cuidadora individual pode ser um
diferencial, pois elas estão a todo o momento com seus respectivos alunos,
acompanhando toda a sua rotina pela escola, estimulando a socialização e o convívio. O
diretor da Escola A evidenciou em entrevista que esse fato traz segurança tanto para o
professor em sala de aula, quanto para ele, pois sabem que há um responsável que se
encarregará das necessidades que esses alunos demandam.
Em relação à gestão escolar da escola A, vale ressaltar que o diretor parece
conduzir a escola de forma a não fomentar conflitos. Observa-se que os professores
seguem uma rotina na escola e que qualquer problema que aconteça é levado direto à
direção que pessoalmente tenta resolver. A escola possui uma demanda intensa de
atividades pedagógicas, no que se refere a projetos, aulas extraclasses, planejamento
duas vezes por semana com os professores por ano de escolaridade e preenchimento de
documentos para envio à secretaria, absorvendo o tempo da equipe técnico-pedagógica.
O diretor atende a todos os pais que chegam à instituição e só quando não
consegue resolver sozinho é que busca auxílio da equipe. Percebe-se, assim, uma
característica de personalismo de gestão. Oliveira (2012, p.101) assim se manifesta
sobre a questão:
8
O Caderno de Ocorrência é um instrumento utilizado pelo Gestor onde são anotados todos casos de
infrações cometidas pelos alunos e tem como objetivo acompanhar as ocorrências que geram conflitos na
escola.
37
da escola sob sua tutela, não delegando aos funcionários atividades
pertinentes às suas atribuições na escola, sobrecarregando a direção e
ao mesmo tempo criando vícios na rotina de funcionamento da
escola.
Interrogado sobre essa postura, o diretor da Escola A afirmou que tenta poupar
os outros setores que possuem muito trabalho. Complementa, ressaltando que precisa
estar a par de tudo que acontece na escola, visto ser a Secretaria muito exigente.
Matos (2007, p. 02), diz que:
Por fim, o que se percebe é que, conquanto a escola está muito envolvida com a
proposta da inclusão, as dificuldades e desafios não deixam de ser aparentes. No
entanto, o diferencial é que há uma intencionalidade na busca de soluções e de proposta
de um atendimento de qualidade aos alunos com necessidades educacionais especiais.
1.3.2 A Escola B
A Escola B é a única instituição no centro da cidade que atende aos alunos do 6º
ao 9º ano de escolaridade. Escola possui cerca de 850 alunos distribuídos no turno da
manhã, tarde e noite. Com essas características, ela é a única no centro da cidade que
recebe os alunos com necessidades educacionais especiais, oriundos das outras
instituições do 1º segmento. Dessa forma, também possui um número expressivo de
alunos com necessidades educacionais especiais matriculados, totalizando 23 alunos.
Esses também são matriculados nas classes regulares. No entanto, a política de
inclusão nessa instituição não é seguida de acordo com o que a lei discrimina. Após a
matrícula, alunos são encaminhados a uma classe especial, intitulada EJA Especial.
Indagado se essa atitude contraria a própria política, o diretor da escola disse em
entrevista que:
os alunos não se adaptam ao ritmo das turmas regulares, por ser vários
professores por dia e os mesmos terem que dar conta dos conteúdos
previstos nas ementas da matriz curricular do município. Sendo assim,
eles não acompanham e não querem permanecer nas salas (Diretor da
Escola B, em entrevista).
Quando questionado sobre a autonomia que a escola teria para tomar essa
atitude, o diretor informou que:
39
essa medida aconteceu de acordo com a própria coordenadora de
inclusão, pois esses alunos são muito comprometidos e não possuem
condições de aprendizagem. Porém, o intervalo ocorre no mesmo
horário, sendo assim, eles possuem momentos de interação e
socialização com os demais alunos da escola (Diretor da Escola B,
em entrevista).
Em relação à Conheço superficialmente, pois Não conheço muito essa política. Como aqui na escola temos 3
Política de trabalhava até o ano passado numa diretores, fico mais com as questões administrativas. Foi a
Inclusão do escola que não tinha alunos portadores melhor forma que achamos para dividir o trabalho. A nossa
município de de necessidades educacionais especiais. diretora pedagógica certamente deve saber mais sobre o
Quissamã/RJ Mas agora que estou praticamente assunto.
numa escola polo de inclusão, preciso
me atualizar.
Em relação à Acho correto que os alunos com Recebemos os alunos com deficiências aqui na escola com
matrícula e à necessidades educacionais maior carinho. Porém, escola de 2º segmento é muito diferente,
presença dos especiais estejam matriculados nas por causa dos professores. Eles possuem somente 1 ou 2 aulas
alunos com escolas regulares. Só acho que a por semana nas salas. Então, não conseguem estabelecer um
necessidades Secretaria de Educação precisa oferecer laço maior de afetividade. Sem falar nos conteúdos. Então, isso
educacionais todo o suporte para que a escola não gerou no início muitos conflitos aqui na escola. Era uma
especiais nas fique sobrecarregada. Aqui na escola os loucura! Os pais reclamavam, os professores nem se fala!
Salas Regulares alunos estão matriculados e Então, em acordo com a coordenação de educação inclusiva,
frequentando as classes regulares. fizemos uma classe denominada Eja Especial, onde os alunos
são atendidos nas suas necessidades sem perder o convívio com
os outros alunos. O recreio acontece no mesmo horário,o que
permite a socialização. Alguns até conseguem permanecer 1
aula ou outra nas sala regulares, mas preferem aquela sala que é
toda preparada para eles.
Em relação às É o nosso suporte aqui na escola. Sem Aqui só temos 3 cuidadoras para toda a escola. Os professores
cuidadoras elas o processo de adaptação dos alunos não gostam da presença delas em suas salas. Acreditam ser
seria muito difícil. A presença delas dá uma interferência. Além disso, nossos alunos já são grandes.
segurança ao professor e claro à própria Possuem autonomia. Acredito ser o suficiente.
direção.
Em relação aos Os professores têm muita aceitação com Nossa equipe técnico-pedagógica é ótima e dá o suporte
professores e do os alunos com necessidades necessário. Nossos professores aceitam a presença dos alunos
suporte técnico- educacionais especiais. Isso até me com necessidades educacionais especiais, só
pedagógico surpreende. Elas rejeitam mais os ainda não conseguem fazer com que eles permaneçam em sala
oferecido aos alunos indisciplinados do que esses de aula. É muito conteúdo para dar conta. Eles
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professores alunos. Porém, estão realmente, sempre ficam sobrecarregados. Mas o que é preciso fazer é feito.
procurando um suporte que dê conta de
atender a esses alunos nas suas
habilidades. Isso é bom. Demonstram
interesse. A equipe técnico-pedagógica
faz o que pode para atender a toda a
demanda.
Em relação à A relação com a família é boa. Sem Os pais vêm à escola sempre que precisam. A escola está de
família maiores conflitos. Os pais comparecem portas aberta para eles. Os professores não possuem muito
pouco. Somente quando solicitados. As contato com a família, pois ficam pouco com os alunos.
cuidadoras fazem todo o restante na
escola e dá o feedback para os pais. É
uma parceria interessante.
Em relação à Muito difícil. Requer muito auxílio para Nas salas regulares não acontece. Os nossos professores ainda
adaptação o professor. Estamos nesse processo não conseguem fazer isso. Muitos alunos com necessidades
curricular dessa adaptação. Mas acredito ser uma educacionais especiais chegam aqui sem saber escrever o
busca eterna, porque cada aluno nome. Como ensinar Matemática, Geografia, Ciência...
especial responde de jeito. Mas vem Mas será uma das metas dessa gestão.
acontecendo na escola. Os professores Porém na EJA especial eles fazem as atividades de acordo com
se preocupam com isso. o seu desenvolvimento. Lá sim, tem adaptação curricular.
Em relação à Essencial, não só para os professores, Muito importante. Desde que fale da nossa realidade. Não
formação mas para todos nós. Essa é a grande adianta fazer cursos só teóricos. Queremos a prática, o passo-
continuada dos busca. a-passo, se é que existe. Depois disso sim, eles podem cobrar
professores um resultado mais positivo da inclusão.
A primeira seção deste capítulo foi dedicada a uma reflexão sobre a questão da
política de inclusão implementada nas escolas em análise, mediante a retomada de
alguns dados relacionados a esse tema já levantados no primeiro capítulo desta
pesquisa, a fim de que esses sejam comparados com outras realidades. Sendo assim,
pelo que foi observado nas escolas, não é realizada, em nenhum momento do ano
letivo, uma discussão mais aprofundada sobre a adaptação curricular necessária aos
alunos com necessidades educacionais especiais.
Como já foi exposto, em que pese o fato de a maioria dos docentes da escola A
buscar atender a esses alunos, ainda, não conseguem realizar efetivamente uma
adaptação curricular que lhes atenda a nas suas necessidades de acordo com sua
deficiência. Um das questões levantadas por esses professores é que se faz necessário
realizar capacitações sobre as diversas deficiências e como desenvolver um trabalho
pedagógico que estimule a aprendizagem desses alunos. Porém, observa-se que os
professores apesar dessa carência pedagógica, realizam um trabalho de
acompanhamento e monitoramento realizado a partir de portfólios individuais de cada
aluno com necessidades educacionais especiais, dentro do que acreditam ser necessário
54
9
para desenvolver as habilidades desses alunos . No entanto, cabe destacar que isso é
feito sem nenhum aporte teórico que respalde essa prática.
A escola B, que, igualmente, não realiza em nenhum momento do ano letivo
uma discussão sobre a adaptação curricular para os alunos com necessidades
educacionais especiais, também não buscam alternativas, mesmo que de forma empírica
para atender a essa demanda. Os professores não identificam ser de sua competência
essa ação, como sinalizado nos questionários e em observação na própria escola. Sendo
assim, os alunos não possuem acesso a nenhum conteúdo do ano de escolaridade que
deveriam frequentar. A escola possui uma classe de EJA Especial, assim denominada
pela própria escola, frequentada pelos alunos com NEEs. Nesse espaço, passam por
diversas oficinas (artes, leitura, artesanato, psicomotricidade, interação com os meios
sociais), além de realizarem atividades pedagógicas, que não estão associadas aos
conteúdos programáticos desenvolvidos pela professora da sala de recursos.
A LDB nº 9394/96 ratifica que as redes de ensino devem assegurar o currículo,
os métodos e uma organização para atender às necessidades especiais dos educandos. A
resolução CNE/CEB nº 2/2001 destaca a grande importância das temáticas ligadas à
adaptação curricular. Assim preceitua o discurso legal:
Diante das ideias elencadas até aqui, pode-se afirmar que a escola B ainda não
realiza uma discussão curricular eficaz, prioritária e compatível com a proposta da
educação inclusiva. Assim, o que se observa é que, conforme anunciado na primeira
hipótese desta seção, a adaptação curricular das escolas analisadas não acontece de
forma efetiva. Na escola A, falta informação e formação que propicie a prática. Já na
escola B, isso se dá por falta de entendimento da política de inclusão e de não se
conseguir pensar a escola como espaço de direito a todos os cidadãos, o que poderia ser
discutido e debatido também em momentos de formação continuada, já que na própria
instituição não há diálogo sobre essa temática.
Sendo assim, o que se observa é que, enquanto os documentos oficiais falam de
uma educação como direito de todos, auxiliando na formação de um cidadão crítico,
consciente, reflexivo e participativo, a instituição que não atenta para a importância de
se promover um currículo inclusivo visa formar outro tipo de cidadão. Isso reforça a
ideia de que é necessário conhecer detalhadamente uma política para dela nos
empoderarmos.
Atendendo à segunda hipótese que se refere à não implementação da política na
Escola B, em entrevista com o diretor dessa instituição, ele relatou conhecer apenas
superficialmente a política, apesar de estar na direção há mais de 5 anos na mesma
escola. O gestor alega que a escola é muito grande, são muitas questões para resolver
e, como a gestão é compartilhada por 3
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diretores, ele se ocupa mais detalhadamente com as questões administrativo-
burocráticas, forma por ele adotada para organizar melhor a gestão da escola. No
entanto, em entrevista com os outros 2 diretores adjuntos da Escola B, a resposta não foi
diferente. Ambos também afirmam saber da política de inclusão de forma superficial,
alegando que a escola apresenta problemas sérios de outra ordem e que, como a
Secretaria de Educação possui uma coordenação de educação inclusiva, fica a cargo
desse departamento as tomadas de decisões, cabendo à escola executá-las, sem muitos
questionamentos, uma vez que não há um envolvimento efetivo.
Em paralelo à escola A, vimos que, a despeito de a escola ter essa política já
implementada, o diretor possui uma postura semelhante ao da escola
B. A diferença é que, quando o diretor da escola A assumiu essa gestão, o processo de
implementação da política já vinha acontecendo. Vale ressaltar que esse diretor já
fazia parte da equipe de gestão do município, porém em outra escola, a qual possuía
apenas 1 aluno com necessidades educacionais especiais matriculado.
Diante desse cenário, vale resgatarmos Palumbo (1994) que discute como é
pensar em uma política e seus meandros:
Contudo, ainda não é a postura que se observa nos gestores tanto da Escola A
quanto da Escola B.
Outra questão que também requer atenção é a relação da Secretaria de Educação
com a equipe gestora da escola de 2º segmento. O fato de a Secretaria de Educação
optar por “dar liberdade para que o gestor implemente ou não uma política” pode
sinalizar para a falta de um acompanhamento das ações e de intervenção junto aos
responsáveis pela instituição de ensino.
No que diz respeito ao trabalho do diretor da escola B, é possível dizer que ele
acredita que a educação inclusiva acontece na escola onde atua mesmo sem
implementar a política de inclusão efetivamente, pois, para ele, os
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alunos estão sendo bem atendidos na classe da EJA Especial. Essa afirmação se
concretiza na entrevista com o gestor, quando ele diz:
Já o diretor da escola A diz que ele até solicita à coordenadora que discuta esse
tema nas reuniões pedagógicas, mas sabe que são muitas as demandas para atender,
como os inúmeros projetos que a Secretaria de Educação solicita. Percebe-se
concretamente esse posicionamento na fala da coordenadora da Escola A:
Após a descrição do caso de gestão que motivou esta pesquisa e sua respectiva
análise, a terceira e última seção desta dissertação tem como objetivo apresentar uma
proposta de ação que seja coerente com os resultados obtidos. Assim, esta última seção
se dedicou a oferecer estratégias e caminhos para que o objetivo desta pesquisa seja
cumprido. O objetivo deste capítulo foi traçar estratégias para que a política de inclusão
do município de Quissamã/RJ seja implementada efetivamente nas duas escolas de 1° e
2° segmento doEnsino Fundamental e que as ações propostas na política sejam
realizadas.
Faz-se mister deixar claro que este projeto de intervenção não pretende ser um
roteiro inédito e inovador, pois se trata apenas de uma tentativa de oferecer subsídios
práticos para a implementação da política de inclusão prevista pelos documentos
oficiais do Município de Quissamã/RJ. Em outras palavras, é possível dizer que as
ações sugeridas aqui não são nada mais que uma tradução daquilo que está previsto
nos documentos oficiais e que, como se pode perceber, nem sempre tem sido realizado
pelas escolas.
A intenção de construir este plano de intervenção se justifica a partir do que foi
descrito e analisado, uma vez que, principalmente a escola B, ainda não implementou,
em sua totalidade, a política de inclusão do município de Quissamã/RJ. No entanto,
salienta-se que os caminhos são diversos para alcançar o objetivo supracitado, pois cada
escola, utilizando-se dos princípios de autonomia e participação, pode traçar rumos
diferentes para cumprir um mesmo objetivo. Nesse sentido, as ações sugeridas neste
trabalho foram escolhidas por se aproximarem mais à realidade das escolas analisadas.
Considerando-se que esta proposta foi pensada mediante a essas duas realidades
específicas (Escola A e Escola B), pode-se afirmar que essa prática poderá servir de
inspiração para outras instituições. Isso ocorre pelo fato de as dificuldades e desafios
que se encontram em ambas as escolas se assemelharem de forma significativa. Mas,
antes de qualquer iniciativa, vale ressaltar que é preciso, assim como foi realizado
neste trabalho, analisar com
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detalhes a realidade de cada escola para se tornar viável a aplicação desta proposta.
É importante dizer também que este plano de intervenção tem como foco
principal a atuação do gestor mediante uma análise comparativa da escola A e B, que
atendem, respectivamente, ao 1° e 2° segmentos. Isso significa que as ações
apresentadas estão relacionadas com as atribuições do gestor inseridas no contexto
escolar das escolas analisadas.
Assim, diante da importância das atribuições do gestor e, levando-se em
consideração o seu papel articulador, pode-se dizer que qualquer ação mais sistemática
em seu trabalho influenciará toda a comunidade escolar, principalmente no que tange à
implementação de uma política educacional. Nesse sentido, se a implementação das
ações se dá de forma eficaz, bem sucedida, como prevê o próprio documento oficial, a
escola tende a melhorar o atendimento e, consequentemente, a qualidade da educação
para todos os alunos.
Diante disso, o Plano de Ação foi dividido em três momentos: o primeiro se
relacionou ao conhecimento e divulgação da política de inclusão de Quissamã, bem
como da legislação federal, estadual e municipal acerca da inclusão. O segundo
momento se dedicou à dimensão relacionada à formação continuada e em serviço com
os professores e o próprio gestor, no intuito de entender sobre as complexidades que
envolvem a inclusão, abrangendo as múltiplas deficiências, as intervenções pedagógicas
que podem facilitar a aprendizagem desses alunos e as possibilidades de
desenvolvimento de habilidades que proporcionem melhor qualidade da educação para
esse público. Por fim, o terceiro momento se voltou a entender quais ações o gestor
deve realizar para possibilitar o trabalho de implementação da política. O capítulo se
encerra com as considerações finais sobre a pesquisa e os apontamentos sobre possíveis
dificuldades, bem como as estratégias a serem adotadas para a superação de tais
problemas.
Apresentar a Divulgação visual Escola A e Fevereiro Representante Zero, uma vez que Conselhos
Política de sobre a Escola B e 2014 da Secretaria de a Secretaria de Escolares,
Inclusão do implementação nos bairros Comunicação, Comunicação em Secretaria de
Município de política de inclusão próximos as Diretor, Vice- Parceria com a Comunicação
Quissamã através de cartazes Escolas diretor e Equipe Escola cederá os e Secretaria de
- RJ à Técnico- cartazes para Educação
Comunidade Pedagógica. divulgação da
Escolar Política
É com base nesse modo de se fazer gestão que se espera que gestores escolares
pensem um modo de mediar a discussão elaboração e execução de uma proposta
pedagógica democrática e, sobretudo, participativa.
Portanto, este projeto visa oferecer aos professores e os próprios gestores um
curso que busca desenvolver habilidades com enfoque na
74
inclusão, para que esses docentes possam se apropriar de um conhecimento teórico e
legal imprescindível para sua prática pedagógica.
Nesse sentido, o projeto de formação em serviço tem como objetivo principal
propiciar aos professores e gestores de Quissamã a oportunidade de conhecer a política
de inclusão do município, repensar sua prática em sala de aula, sua concepção de
inclusão e, ainda, consolidar uma proposta pedagógica que leve em consideração o
aluno de hoje, visualizando, dessa forma, as metas de melhoria do ensino.
Para tanto, a formação terá como foco a promoção da cooperação participativa
através dos seguintes eixos desencadeadores:
Elaborar um Elaborar de acordo Escola A e De Diretor, Vice- Não haverá custo para Secretaria
cronograma de com a realidade de Escola B Fevereiro à diretor e a realização desta de
planejamento cada escola um Dezembro Equipe ação. Educação.
cronograma de de 2014 Ténico-
reuniões de Reuniões pedagógico
planejamento que quinzenais
contemple estudos e
momento de
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compartilhar
experiências
cotidianas
Sistematizar Elaborar de acordo Escola A e De Coordenadora Não haverá custo para Secretaria
um com a realidade de Escola B Fevereiro à de Educação a realização desta de
Cronograma cada escola um Dezembro Inclusiva e ação. Educação.
de reunião de cronograma de de 2014 Diretor
Pais reuniões de com os Reuniões
pais para discutir Bimestrais
sobre as questões
referentes ao
cotidiano escolar
Para avaliar a eficácia dessas ações, elas devem ser analisadas de forma
particular. A formação continuada poderá ser avaliada pela partipação dos professores e
o seu envolvimento nas discussões sobre as temáticas, além das mudanças na prática em
sal de aula. A verificação da produtividade terá como base à participação dos
professores nos planejamentos nas escolas também poderá ser feita mediante a sua
performance nessas discussões. E, por final, as reuniões periódicas com os pais poderão
ser mensuradas a partir da interegração entre os professores e os responsáveis com o
intuito de se proporcionar aos alunos uma qualidade de ensino que garanta o seu
desenvolvimento como ser humano.
Porém, o que se observa é uma totalidade de diretores que são indicados pelo
Secretário de Educação. Contudo, há um fato importante a se destacar e que deve ser
considerado nesse processo de indicação. O gestor precisa ser concursado e ser formado
em Pedagogia com especialização em gestão escolar, que, inclusive, é custeada pela
própria Secretaria de Educação,
80
através do sistema de Bolsas de Estudo para “todos” aqueles que comprovarem
residência fixa e que são eleitores no município10.
Diante desses fatos, pode-se concluir que os gestores escolares possuem tanto
uma formação inicial, quanto uma especialização na área de atuação. No entanto, nem
sempre essa formação garante as habilidades e competências que um gestor precisa
desenvolver para acompanhar as transformações que estão acontecendo no âmbito
educacional.
Nesse sentido, a proposta para amenizar essas questões administrativas que se
estabelecem diante da indicação dos gestores é a viabilização de uma formação
continuada, que ocorrerá ao longo de 1 (um) ano, com o intuito de desenvolver
habilidades e competências necessárias para que os gestores possam realizar um
trabalho mais próximo ao ideal democrático e coletivo.
Assim, o quadro 5 traz a resumo da proposta da formação continuada para os
gestores.
10
Informações obtidas na Secretaria de Educação através da Coordenadora de Ensino na 1ª visita a esse
espaço.
81
No que diz respeito à avaliação dessa ação, cabe à equipe de gestão observar se a
proposta contribuirá com o seu trabalho, aproveitando o momento do monitoramento
para tirar suas dúvidas e implementar as ações para a construção do Projeto Político
Pedagógico.
Dessa forma, a partir do curso de formação permanente que a própria SEMED
realizará com os gestores, poderá fazer um monitoramente e acompanhamento mais
próximo das ações que a ela mesmo solicita. A reformulação do PPP também
contribuirá para que o gestor possa repensar sobre sua atuação na escola. E nesse
exercício democrático na prática profissional irá refletir na própria escola.
82
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Professor(a)!
Este questionário é parte integrante de uma pesquisa de mestrado do curso de
Gestão e Avaliação da Educação Pública da Universidade Federal de Juiz de Fora e
busca identificar qual sua percepção sobre a política de inclusão do município de
Quissamã, entender se os suportes oferecidos pela secretaria de educação e pela escola
são suficientes para a realização do trabalho com os alunos com necessidades
educacionais especiais, e por fim buscar informações sobre as dificuldades e
necessidades no atendimento a esses alunos.
Sua opinião é essencial para a pesquisa!
IDENTIFICAÇÃO
SEXO:
( ) Feminino ( ) Masculino
IDADE:
( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( ) 41 a 50 anos (
) Acima de 50
ESCOLA DE ATUA
( ) Escola A - 1º Segmento ( ) Escola B – 2º Segmento
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FORMAÇÃO ACADÊMICA
( ) Formação de Professores ( ) Superior ( ) Pós-graduação ( ) Mestrado ( )
Doutorado
2) O que você pensa sobre a matrícula dos Alunos com Necessidades Educacionais
Especiais nas Salas regulares?
3) Qual o papel das cuidadoras na escola? Você acha importante cada aluno com
Necessidades Educacionais Especiais possuírem uma cuidadora? Como é a relação
dessas cuidadoras com a escola e em especial com os professores?
5) Qual a relação que a escola estabelece com a família dos alunos com Necessidades
Educacionais Especiais?
APÊNDICE III
6) Há uma relação direta com a família dos alunos com Necessidades Educacionais
Especiais que estão matriculados nas escolas ou somente no período de triagem?
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APÊNDICE IV
3) Você acredita que a Política de Inclusão está sendo implementada por todas as
escolas?
5) Como você avalia o papel das cuidadoras e das professoras da Sala de Recurso ou
Multifuncional?
6) Há uma escola de 2° de segmento que possui uma classe de EJA Especial. O que
você pensa sobre essa classe? A criação dessa classe não vai contra a política de
inclusão?